Ela perdeu algo que ninguém mais sabia que ela tinha. Seu coração.
POV SKYLAR HILL DUPONT
Estava deitada na minha cama, olhando para o teto havia duas horas. Duas horas que eu havia chegado da casa de Justin. Duas horas que eu havia dito para ele que não o amava mais.
Aquilo havia corroído uma parte de mim que eu nem sabia que ainda existia. Aquilo doía em meu coração e me sufocava aos poucos. Eu estava agoniada e sufocada. Sentia que estava me afogando aos poucos e não teria ninguém lá para me salvar.
Afinal, ninguém pode ser salvo de si mesmo.
Eu havia gritado para todos da casa me deixarem em paz. Eles provavelmente haviam percebido que eu estava transtornada pois não me incomodaram um segundo sequer. Até o imprestável do Jake não havia me incomodado mandando milhões de mensagens e ligando milhares de vezes como ele sempre fazia.
Isso tudo só me fazia pensar nos olhos marejados do Justin quando eu proferi a maior mentira da minha vida.
Eu estava me sentindo uma pessoa horrível. E isso era terrível. Eu não ligava para os outros. Não mais.
Mas Justin não era qualquer um, ele era o cara que tivera meu coração por tanto tempo. E talvez em alguma parte lá dentro, ainda tenha. Meu coração se apertava todas as vezes que eu me lembrava de alguns momentos atrás.
O que eu havia feito?
Eu jurei para mim que não iria chorar de novo. E lá estava eu novamente, chorando, sem saber o que fazer. Exatamente quando Justin desapareceu. Ele estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mas eu o havia afastado. E eu continuaria o afastando para o bem de nós dois.
E eu iria descobrir tudo que havia acontecido durante esses dois anos.
Minha cabeça martelava perguntas que eu não conseguia responder. Perguntas que eu não tinha as respostas. Eu tinha que fazer alguma coisa. Ficar sentada olhando para o teto não iria responder nenhuma das minhas perguntas.
Uma ideia passou pela minha cabeça e eu levantei em um pulo. Peguei meu computador e abri uma pasta. Eu iria recolher informações. Todas as informações que eu tivesse sobre ele, sobre o sequestro, sobre onde ele foi achado, quando e como. Eu não iria perder nenhum detalhe.
Remexer no passado não era uma coisa esperta a se fazer. O passado desperta sentimentos enterrados. Eu já havia provado disso mais de uma vez. Mas o que eu poderia fazer? Havia um sentimento dentro de mim, o qual eu não conseguia descrever, que falava mais alto.
Havia fotos dele por toda internet com cartazes de desaparecido. As notícias mais recentes mostravam que ele havia sido encontrado a pouco, perto de um casebre e uma parte afastada da Califórnia. Eu não esperava por isso. Ele estava perto esse tempo todo e ninguém sabia. Ele poderia estar a 20 quilômetros de mim. Sofrendo sabe-se Deus o que. E eu estava em alguma boate, beijando algum cara. Ou no banheiro da escola, transando com algum cara. E naquele momento, as lágrimas desceram como não desciam em um bom tempo. Os soluços não eram abafados, eles eram altos e ecoavam por todo o quarto.
Havia uma reportagem no jornal local com uma entrevista do Justin.
Na reportagem basicamente dizia que quase todas as informações eram privadas e somente a polícia tinha acesso e que o caso ainda estava em investigação. Nenhum dos sequestradores havia sido encontrado ou preso. O caso ainda estava aberto e segundo o repórter a polícia não tinha nenhuma pista do paradeiro dos sequestradores e de como ou o porquê de como tudo havia acontecido. Havia uma entrevista do delegado falando que o importante era que Justin estava em casa com sua família e amigos. Uma babaquice. Um pouco tempo depois havia uma entrevista do próprio Justin falando que estava feliz de estar em casa finalmente para poder ver a família, os amigos e a namorada.
Um soluço alto saiu da minha garganta com mais uma crise de choro. A cada segundo daquele vídeo eu me sentia mais sufocada. Fechei o computador com força não suportando ver mais nenhum segundo daquela porra.
Eu estava enlouquecendo, perdendo a cabeça. Afundando-me cada vez mais. Eu estava perdida. Sem senso de direção.
O que eu havia feito com a minha vida?
Peguei a coisa mais próxima de mim e taquei na parede. Acabou sendo um porta-retrato meu e de Luke. O vídeo estava estilhaçado e minha mão estava cortada pelo vidro. Gritei tão alto que senti a minha garganta doer. Eu não me importava se estava no meio da madrugada ou não. Eu estava confusa, perdida e sufocada.
Sentei-me no chão abraçando meus joelhos, chorando baixinho e soluçando, pedindo alguma solução na minha vida. Fechei meus olhos que ardiam por causa das lágrimas. Pedia por favor a Deus ou qualquer pessoa que estivesse lá em cima. Eu precisava de ajuda.
Não consigo fazer a dor ir embora. Eu não tinha para onde correr e não tinha ninguém para me salvar.
Eu teria que me reerguer sozinha.
Limpei minhas lágrimas e cessei meus soluços aos poucos. Respirei fundo várias vezes tentando me acalmar. E como sempre, eu iria levantar minha cabeça e seguir em frente. Como se esse momento nunca tivesse acontecido. Continuaria sendo forte e dura. Continuaria não ligando para nada e para ninguém.
Eu estava na escuridão, então escuridão eu virei.
Eu tinha um objetivo e iria cumpri-lo. Descobrir o que havia acontecido com Justin. Isso era tudo. Talvez depois disso eu pudesse finalmente descansar em paz, livrar esse peso das minhas costas. Talvez eu finalmente de libertasse dele.
Havia passado dois anos tentando descobrir onde ele estava ou se ele estava vivo. E agora ele estava ali, a alguns metros de mim, em sua casa. E eu poderia finalmente deixar isso para trás. Deixar de carregar esse peso em mim e seguir em frente. Era isso o que eu faria.
Vesti meus coturnos, uma calça jeans preta apertada e uma regata branca e uma jaqueta, já que ventava lá fora. Escrevi um bilhete para Luke dizendo que estava saindo e que não sabia que horas voltaria. Não queria que meus pais se desesperassem e fossem até a delegacia achar que eu estivesse desaparecida ou algo do tipo. Aliás, eles teriam que ficar bem longe da delegacia. Pois era pra lá que eu estava indo.
Iria encontrar mais informações sobre o Justin. Eu iria até o fundo do poço para descobrir tudo que havia acontecido. Não seria uma tarefa fácil, mas eu conseguiria. Havia entrado de penetra em várias casas noturnas. Era madrugada, provavelmente a delegacia estaria vazia e sossegada. Pelo menos, era o que eu esperava.
Sai de casa e estava ventando demais. Me arrependi por não ter pegado nenhum casaco. Virei a esquina da minha casa, estava começando a ficar com um pouco de medo, mas já havia me acostumado com essa sensação dentro de mim. Continuava seguindo em frente. Até me deparar com uma figura conhecida na rua. Ainda estava longe, era apenas um vulto. Mas o jeito de andar era reconhecível em qualquer lugar do planeta. Eu ouvia os soluços de longe. Havia até pensado em me esconder. Mas eu não fugia dos problemas, eu os enfrentava da forma mais fria que fosse e os resolveria.
O vulto se aproximava cada vez mais, formando a imagem de uma garota de cabelos escuros, de baixa estatura, se agarrando ao seu casaco. Parei onde estava e ela finalmente pareceu me notar.
- Heather? – sussurrei quando ela já estava mais perto. – O que você está fazendo aqui a essa hora da noite?
Ela olhou em meus olhos e fungou.
- Eu estava indo para a sua casa. – ela respirou fundo e soluçou – Sky, eu não aguento mais isso. Você é a minha melhor amiga. Sempre foi. Desde que me entendo por gente.
Lutava contra as lágrimas que queriam sair de meus olhos. Eu já havia chorado demais por um dia.
- Eu sinto tanta a sua falta. Das nossas conversas, risadas e piadas. Sinto falta de sair com a minha melhor amiga. Você só se afasta de mim, toda vez que tento conversar com você. Eu sei que você está quebrada por dentro e não quer demonstrar. EU SEI! E eu quero te ajudar, Skylar. Por favor, me deixe te ajudar. Me deixe ser a sua melhor amiga e estar lá pra quando você precisar. – lágrimas escorriam pelo rosto dela – Por favor, não me afaste de novo... Eu te amo, você é a minha irmã! Eu cresci ao seu lado e agora estou vendo você mudar diante os meus olhos e eu não poder fazer nada... Eu sei que em algum lugar ai dentro ainda existe a garota de antes. A minha melhor amiga, a garota que o Justin ama – só de tocar no nome dele uma lágrima desceu de meus olhos e eu a limpei rapidamente – Nós te amamos e só queremos ver você bem.
Lágrimas escorriam do rosto de Heather, ela chorava e soluçava sem parar.
- Por favor, Sky. Por favor.
E então ela me abraçou. Me abraçou tão forte que eu achei que ela fosse me derrubar. Seu abraço era desesperado e reconfortante ao mesmo tempo. Eu me sentia em casa e ao mesmo tempo como se tudo tivesse mudado entre nós. Me deixei derramar algumas lágrimas. Mas eu não poderia perder meu foco. Eu não poderia me distrair dos meus objetivos. Isso só me afastaria deles. Eu não poderia deixa-la entrar mais uma vez. Porque assim que eu a deixasse entrar, ela nunca mais sairia. Eu precisava voltar a ser forte. Ser fria. Me agarrei aquele abraço como se fosse o último – o que de certa maneira era. Me afastei de Heather que me olhava chorando e soluçando, mas com uma cara de alivio, como se finalmente a tempestade tivesse passado. Mal sabia ela que estava apenas começando.
- Eu sinto muito Heather. Mas essa Skylar que você quer de volta está morta. Ela não vai voltar. Você tem aceitar isso. Ela está morta, assim como a nossa amizade.
Disse aquelas palavras da forma mais dura que eu poderia dizer. Eu me sentia uma vadia dizendo aquilo. Eu estava magoando todos aqueles que se importavam comigo e uma parte de mim sentia que essa não era a coisa certa a fazer. Mas era o que eu precisava. Eu não voltaria a sofrer nunca mais. Não deixaria ninguém mais entrar, assim ninguém mais sairia.
Heather me olhava perplexa, engolindo o choro. Ela já não carregava uma expressão triste, ela carregava uma expressão decepcionada, de dó e eu até diria um pouco de raiva.
- Sabe, quando o Justin voltou, tudo o que eu conseguia pensar era que ele te traria de volta com ele. Tudo voltaria ao normal. Mas você não mudou. Você continua a mesma vadia de antes. Você não o deixou entrar e não vai deixar. Você está se sufocando os poucos e ninguém irá te salvar, Skylar - ela cuspiu as palavras em minha cara.
Aqui havia doido e me afetado de um jeito que ninguém havia conseguido me abalar antes. Mas mesmo assim ainda um pouco surpresa com as palavras dela, reuni coragem e respondi.
- Eu não preciso ser salva, Heather.
Sai andando deixando ela para trás. Mais uma parte de Skylar Hill Dupont sendo deixada para trás. Eu estava matando mais uma parte de mim para o bem de todos. Tudo que havia sobrado era a minha dor. E eu até que começava a gostar dela.
Continuava meu caminho até a delegacia em silêncio, até o meu celular tocar, me despertando.
Era Pattie. Franzi o cenho. O que Pattie queria aquela hora da madrugada?
- Alô? – atendi o telefone com a voz um pouco tremula, por causa do frio e do nervosismo.
- Skylar? – Pattie falou afobada no outro lado da linha. – Justin acordou tendo pesadelos e chamando por você. Eu não sei o que fazer Skylar. Ele está tão desesperado e perdido. Por favor, por favor, você poderia vir para cá e conversar com ele? Eu sei que está tarde eu espero não ter te acordado, mas nós precisamos de você.
Levei um choque e demorei alguns segundos para assimilar o que ela estava me dizendo.
- C-claro. – respondi e a chamada foi finalizada no segundo seguinte.
Um turbilhão de emoções vagava por dentro de mim. Eu não sabia de que forma eu encarava tudo isso. Quer dizer, ele estava precisando de mim? Isso era estranho, porque geralmente era eu quem precisava dele. E o que martelava em minha mente; eu não sabia se deveria ir. Eu havia dito para ele, que ele não tinha de me procurar mais. Eu estava cansada dele querendo esconder tudo isso de mim.
Mas não tinha sido ele quem fora me procurar, e sim Pattie. Eu não podia fazer isso com ela. Ela sempre me ajudou.
Por que tudo tinha de ser tão confuso? Por que as coisas simplesmente não podiam acontecer do jeito que eu desejava? Talvez porque eu não merecesse ser uma pessoa feliz?
Respirei fundo tentando achar a paz interior. Era quase impossível, mas eu precisava disso. Era tarde, as ruas estavam escuras e quietas. Tudo o que se ouvia eram as ventanias junto com os barulhos das folhas das árvores. O vento que se chocava com o meu corpo era gelado e causava arrepios no meu corpo, por eu não estar vestindo casaco algum.
Primeiro tinha sido Heather, e agora Justin.... Acho que o destino queria me deixar mais confusa do que eu estava. Abracei meus braços tentando me aquecer e segui para a casa do Justin, que por sorte não estava tão longe.
Toquei na porta duas vezes assim que avistei a linda e grande casa branca. Em poucos segundos, Pattie estava lá. Seu semblante era cansado, o que indicava que ela realmente estava preocupada com o Justin. Aliás, que mãe não estaria preocupada? Depois de perder o filho por dois anos, todos entenderiam se ela quisesse desparecer do mundo junto de Justin só para poder ter ele mais perto de si.
- Me perdoa por ter lhe incomodado essa hora. Eu não sei o que deu nele. – Ela abaixou a cabeça tentando conter as lágrimas.
- Não tem problema. Ele está só assustado. – Sorri para Pattie. Pela primeira vez não tinha sido arrogante com alguém. Acho que eu não conseguia ser assim com ela; pois ela foi uma das únicas que sofreram mais do que eu, com o desaparecimento de Justin. A dor que eu senti, não chegava nem os pés a dor que ela e Jeremy sentiram.
O mesmo se encontrava na sala, sentado com o mesmo semblante que Pattie; cansado. Os dois precisavam de uma boa noite de sono.
- Eu vou ir falar com ele. Vocês dois precisam dormir. Vão deitar, qualquer coisa eu chamo vocês. – Sorri e eles sorriam de volta em resposta.
Eu entendia o que era perder noites de sono por conta de um garoto. Como eu entendia.
Subi as escadas vagarosamente e segui para o quarto do Justin. Respirei fundo antes de abrir a porta e assim que fiz, me deparei com ele. Ele estava sentado na ponta da cama com os cotovelos apoiado em suas coxas. Sua cabeça baixa demonstrava sua fraqueza.
- Skylar? – Ele disse assim que eu fechei a porta de seu quarto, fazendo um pequeno barulho.
- Oi... – Sorri fraco.
Tentava me controlar. Não podia ser grossa com ele. Ele precisava de mim. Eu sabia que ele estava assustado. Eu iria deixar tudo de lado, todos esses segredos que ele insistia em não me contar, eu iria tentar esquece-los. Justin não merecia nada do que ele estava passando.
- O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou assustado, mas o sorriso de canto em seu rosto demonstrava que ele estava feliz em saber que eu estava ali.
- Sua mãe disse que você começou a ter pesadelos e a chamar pelo meu nome. Ela disse que você estava meio descontrolado. – Ri fraco e me sentei ao lado dele. – Ela me ligou e perguntou se eu podia vir aqui, sei lá... Falar com você. – Dei de ombros
- Você não se importa, Skylar. – Ele disse em um tom meio abalado.
- São praticamente três e meia da madrugada. Eu sai nesse frio sem casaco algum, com frio, pra vir na sua casa porque você estava tendo um pesadelo chamando por mim, e você realmente acha que eu não me importo? – Ele riu abafado e eu fiz o mesmo. – Eu me importo, Justin. No fundo você sabe disso.
- Mas você esquece de mostrar isso, não é? – Ele me olhou de canto, agora já com a cabeça levantada.
- Isso tudo é muito complicado para mim... Talvez um dia você entenda as minhas razões. Não vamos valar sobre mim, vamos falar sobre você. – Ele negou com a cabeça antes mesmo de eu terminar a frase.
- Por favor, Sky! – Ele olhava nos meus olhos. – Não me pergunta sobre o que aconteceu naquela noite. Por favor! – Respirei fundo tentando manter a calma
- Não vou perguntar sobre aquela noite. Não hoje. – Ele soltou um riso pelo nariz. – O que você tem? – Perguntei logo em seguida me arrependendo por isso. Se ele soubesse obviamente eu não estaria aqui.
- Não sei. Sinceramente eu não sei. – Ele balançou a cabeça. – Quando eu fecho os olhos eu me sinto bem. Mas em questão de segundos, tudo começa. Eu lembro de tudo. E principalmente de você. Você se tornando outra pessoa sabe? E no fundo eu sabendo que a culpa... – Ele hesitou em falar. – Que a culpa é minha. – Ele abaixou a cabeça mais uma vez. – Eu vejo você sendo arrancada de mim, como se isso fosse uma tortura. Um pesadelo. – Sua voz começa a ficar chorosa.
Meu coração se despedaçou por completo – e nesse momento eu pensei que talvez ele tivesse voltado a existir dentro de mim.
- A pior coisa dentro disso tudo, é saber que eu perdi você. – Ele funga o nariz
- Nos seus pesadelos? – Indago curiosa
- Não só neles. – Ele dá um sorriso fraco e falso.
Seus olhos se encontram com os meus e eu sinto tudo vagar dentro da minha mente.
- Eu me sinto culpado por tudo, Sky. Meus pais não tem uma noite de sono boa, há praticamente dois anos. As pessoas ao meu redor têm medo de falar comigo e me machucarem. Todo mundo me trata como se eu fosse uma criança, o que de fato não é verdade. Mas eu sinto medo de tudo. Tudo me assusta.
Sem pensar duas vezes, passo meus braços gelados em volta de seu corpo. O aperto com a maior força que eu consegui depositar naquele momento. Seu cheiro invade minhas narinas e eu sinto o choro se aproximar. Mas eu tenho de ser forte, por ele. Nesse momento, é tudo isso o que importa. Ele parece assustado, mas me abraça de volta.
- Vai ficar tudo bem... – Sussurrei em resposta. A única resposta que eu tinha. E parecia que eu estava dizendo aquilo mais para mim mesma, do que para ele.
Me afastei de Justin e olhei dentro dos seus olhos. Vermelhos e molhados. De tanto chorar. Limpei suas lágrimas, fazendo de tudo para que as minhas não caíssem.
Quando minhas mãos tocaram seu rosto, um sorriso se formou em seus lábios. Eu não via aquele sorriso há muito tempo.
- Você precisa descansar, Justin. – Falei respirando fundo.
- Eu não consigo dormir, Sky. – Ele suspirou como se fosse a milésima vez que ele dizia aquilo em um dia só.
Tirei meus coturnos ficando apenas de meias e me sentei na cama de Justin encostando meu tronco na cabeceira e deixando minhas pernas esticadas.
- Vem aqui. – Bati a mão do meu lado e ele sorriu fraco e assentiu.
O quarto estava com as luzes acesas. Sem precisar levantar da cama, eu apaguei ela pelo interruptor que tinha perto da cabeceira da cama, e acendi uma luminária que estava ao lado da cama de Justin.
Ele realmente estava sendo tratado como uma criança agora.
Ele se sentou ao meu lado, da mesma forma que eu, e eu comecei a rir.
- Para de ser bobo. – Revirei os olhos. – Se você vai dormir, você tem que deitar. – Ele sorriu.
Bati minhas mãos nas minhas coxas, para que ele deitasse sua cabeça na mesma, e assim ele fez. Por impulso, uma de minhas mãos foram de encontro ao seu rosto que estava gelado e eu comecei a acariciar o mesmo.
- Você não tá com frio? – Ele me olhou sem sair da posição que estava. – Sua mão tá gelada.
- Não... Eu estou bem assim.
- Não, eu vou pegar um casaco pra você. – Ele se levantou e foi até seu closet e voltou com um moletom cinza com alguns detalhes pretos e jogou em mim e começou a rir. – Coloca esse.
Coloquei o casaco e ele voltou a se deitar, se cobriu, mas dessa vez deitou no travesseiro.
- Não, deita aqui. – Coloquei a mão em minhas coxas e ele sorriu. Acho que ele estava receoso. – Você lembra, quando a gente ficava brigando pra ver quem iria escolher o filme que a gente ia assistir? – Indaguei enquanto o observava e acariciava o seu rosto.
- Eu sempre ganhava as discussões. – Ele se gabou e eu dei risada.
- Nada a ver, eu sempre deixava você ganhar! Você que não sabia. – Gargalhamos
- A gente nunca assistia os filmes. – Ele riu fraco – E no final, você sempre me acordava querendo ir pro jardim ver a lua.
- Eu sempre gostei da lua.
- Eu sei... Você falava isso todas as vezes em que a gente via ela. – Ele riu
- E você nunca ligou pra isso. – Usei um tom meio abalado
- Posso te falar uma coisa? – Ele mexeu um pouco a cabeça, conseguindo ter a visão do meu rosto por completo. Eu apenas assenti. – Quando eu estava... Você sabe, desaparecido... Eu sempre dava um jeito de observar a lua todos os dias. Eu me sentia mais perto de você. – Ele sorriu de canto. – Eu já cheguei até a conversar com ela, chamando ela de Skylar. – Gargalhei.
- Tem um motivo para eu gostar tanto assim da lua.
- Qual?
- Você. – Dei de ombros.
- Quando a gente se conheceu, você me disse que já gostava muito da lua.
- E eu gostava. Mas depois que eu te conheci, eu passei a gostar mais ainda. – Olhei nos olhos dele.
- Por que você é tão confusa? – Ele riu
- Eu não sou confusa. – Fiz uma voz de brava
- Claro que é. Uma hora você está toda brava comigo, falando que não quer mais olhar na minha cara, e na outra você age como se ainda me amasse. Quer dizer, você mesma disse que não me ama mais.
Ele havia tocado meu ponto fraco.
- Justin, você é um lado de mim que é muito confuso. Eu nunca vou conseguir explicar o que eu sinto. Não depois de tudo.
- E como nós ficamos? – Ele voltou a olhar nos meus olhos.
- No momento... Eu só preciso pensar. No melhor pra você. – Confessei e ele assentiu.
Movi meus lábios de encontro as bochechas dele e depositei um beijo ali mesmo.
O silêncio dominava local. Eu ainda acariciava o rosto de Justin, e com a outra mão, afagava os seus cabelos.
Ele era como um dilema. O meu dilema.
Como eu havia dito, ele era a minha confusão. E talvez isso fosse amar alguém. Mas o que martelava dentro de mim era a pergunta. Eu o amava?
Exatamente, eu não sabia. Talvez eu ainda o amasse, mas o que fazer? Eu não queria machucar mais ninguém dentro dessa história, mais do que já tinha machucado. Eu precisava dele perto de mim, mas de que forma eu não sabia.
Porém, o pior dentro disso tudo, era saber que Justin precisava que eu permanecesse em sua vida. Uma parte de mim, queria fugir, queria desaparecer de todo esse pesadelo que também tinha um toque de sonho. Mas por outro lado eu queria deixa-lo feliz. Eu me importava com a felicidade dele, mas talvez não fosse isso o que eu quisesse ser para ele; sua felicidade.
Eu não sabia explicar. Era tudo muito confuso. E ficar perto dele, me deixava mais confusa ainda.
Continuei a acariciar seu rosto e afagar seus cabelos enquanto observava algumas coisas do seu quarto que conseguiam ser vista com pouca luz.
Em poucos minutos, Justin dormia. Encarei sua face; ele parecia uma espécie de anjo enviado do céu, e era isso o que ele era. Por mais que eu tentasse esconder, era inevitável. De certa forma, ele trazia a parte boa de mim. Aquela Skylar de dois anos atrás. Dentro desses dois anos, eu nunca tinha tentado ser boa com alguém, nunca tentei deixar meu lado obscuro de lado para mostrar que uma parte de mim ainda tinha aquela certa preocupação com todos os que eu amava.
Talvez isso fosse todo o medo que eu sentisse de perder o Justin mais uma vez. Eu não o tinha da forma que eu queria – até porque eu não sabia o que queria em relação a ele – mas só o pensamento, de ter que ficar longe dele mais uma vez, de ter que ver ele partir sem poder mover um dedo para que isso não aconteça... Essa ideia me corroía por dentro.
Eu queria que ele se sentisse seguro, queria que ele pudesse voltar a ser o antigo Justin, aquele que era sorridente, aquele que não tinha medo de nada.
Com cuidado, tirei sua cabeça de meu colo e coloquei ajeitada no travesseiro. Sai de sua cama e calcei meus coturnos.
Aproximei meus lábios de seu rosto e depositei um beijo em seu rosto.
- Tudo isso vai passar, eu te prometo. – Fitei ele pela última vez e deixei o quarto.
Desci as escadas e a sala de estar estava silenciosa. Não tinha ninguém. Era apenas iluminada por uma luminária em cima do hack que me dava a visão fraca do local, e de alguns papéis.
Me aproximei. Poderiam ser alguns papeis que envolviam o caso do Justin.
E eu estava certa. Mas eram papéis lacrados, eu não podia simplesmente violar eles.
Peguei o grande envelope em minhas mãos e observei. Eu tinha de abrir; mas se isso não fosse o que eu estava pensando?
Respirei fundo e o coloquei de volta no lugar. Eu não iria encontrar nada que pudesse me ajudar aqui.
{...}
Seguia meu caminho em direção à delegacia, se eu fosse esperta encontraria alguma coisa lá. Eu não sentia frio, pelo contrário. O casaco de Justin me aquecia. Seu cheiro viciante estava impregnado nele, fazendo com que cada vez que eu inspirasse o ar gelado, uma tonelada de lembranças me invadisse. Avistei a delegacia a pouca distância de mim.
Passei pela recepção, estava tudo silencioso. Apenas um guarda descansado que não se importou em saber o que eu iria fazer. Talvez eu tivesse uma face inofensiva. Isso era bom.
Adentrei o local, e tudo estava como o esperado; praticamente vazio. Eles descansavam com os pés nas mesas e os corpos nas cadeiras. Huntington era uma cidade calma na maioria das vezes, então acho que por conta de ser três da madrugada, não tinha tanto problema eles estarem fazendo o que faziam. Caminhei por perto deles e observei a tela dos computadores. Pesquisas sobre o Justin. Então eles estavam trabalhando no caso dele.
Meus olhos correram pelo local e eu avistei uma porta.
“Apenas pessoas permitidas”
Eu não estava permitida a entrar ali, mas a essa hora não teriam muitas pessoas então apenas uma desculpa básica resolveria.
Caminhei até ela, e a abri adentrando o corredor largo preenchido por várias portas.
Ninguém poderia me ver aqui.
Respirei fundo e comecei a caminhar observando todas as salas. Talvez uma delas me desse respostas. Algumas delas estavam vazias, outra com poucos policiais. Andei até o fim do corredor e avistei uma sala aonde tinham vários policiais. Um deles estava em pé falando em frente a um quadro aonde várias coisas estavam coladas. Outros apenas ouviam e falavam coisas que provavelmente seriam teorias.
Me encostei na parede e me escondi em um vaso grande de forma que ninguém pudesse me ver, mas eu conseguisse ouvir o que eles diziam.
- Os sequestradores não devem ter tanto dinheiro assim para fugir do país em poucos dias. Eles devem estar vagando pelas ruas de Huntington. É perigoso tanto para o garoto, e tanto para os habitantes.
- As informações que nos ajudariam a localizar eles, estavam naquele pen-drive das gravações que localizavam o casebre.
- E vocês não tem o mínimo de ideia de aonde vocês deixaram ele? – Ninguém respondeu.
- Precisamos achar isso o mais rápido possível.
Por um descuido, acabei me mexendo fazendo com que as plantas se mexessem causando um barulho incomodador em meio ao silêncio. Droga.
Sai de lá com cuidado sabendo que todos agora poderiam estar pensando que tinha alguém dentro da delegacia, e de fato tinha; eu.
Respirei fundo e caminhei em passos pequenos. Eles não iriam me ver saindo, mas com certeza me veriam se eu continuasse ali parada.
Caminhei em passos largos, mas alguns passos se aproximaram e eu não tive o que fazer, abri a primeira porta e dei sorte por não ter ninguém. Me joguei no chão por conta do nervosismo. Tinha um grande vidro que dava uma visão perfeita de quem estava dentro daquela sala, caso a pessoa estivesse de pé.
E no momento em que eu cai, eu senti que o mundo estava ao meu favor. Exatamente debaixo de um dos armários aonde ficavam os arquivos, achei um pen-drive.
Xeque-mate.
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