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História Leve Como o Vento - Capítulo 3.


Escrita por: BabyK

Notas do Autor


Entãaaaaaaoooooooooooo, aqui está o capítulo final.
Espero que gostem :)~

Boa leitura <3

Capítulo 3 - Capítulo 3.


Fanfic / Fanfiction Leve Como o Vento - Capítulo 3.

Taemin suspirou.

-A minha sorte é que eu resolvi começar a fazer esse trabalho agora, porque se eu tivesse deixado pra semana que vem, eu tava ferrado – O garoto murmurou, com o rosto apoiado em uma das mãos, os olhos focados no livro de contabilidade.

Lapiseira em uma mão, calculadora em um dos cantos da escrivaninha, e muitas folhas de papel, como de costume.

 

*Toc toc toc*

 

-Entra – Taemin respondeu indiferente, concentrado em seu livro de exercícios. Escutou a porta abrir e fechar, mas sequer desviou os olhos do papel – Caixa de 5.100, Capital é 1.000... Estoque 500... – E o garoto ia anotando dado a dado enquanto recitava os números impressos – Fornecedores... 100... Contas a pagar... 400... Qual é a situação financeira da empresa...? – Repetiu as palavras do livro, como que no piloto automático. Deixou a lapiseira cair sobre a escrivaninha e esfregou o rosto. Suspirou – Ah, eu não aguento mais pensar...

-A situação da empresa é excelente – Jinki trabalhava na parte de vendas da empresa junto como pai do garoto, era de se esperar que ele soubesse coisas desse tipo.

-Jesu-Ouch! – Taemin deu um pulo tão alto na cadeira onde estava sentado que conseguiu bater a coxa na madeira da escrivaninha – Mas o qu – E quando girou o rosto para tirar satisfação com a pessoa que havia entrado, sentiu o corpo amortecer. Perdeu as palavras pelo meio do caminho.

Sentiu-se tão pequeno, de repente. O peso da súbita culpa e dos olhos do mais velho o diminuíram.

Taemin sentiu a urgência de se enrolar como uma bola, com as mãos sobre os ouvidos e os olhos fechados, para se proteger das coisas que temia ouvir.

Ele não fazia ideia de como Jinki estava em seu quarto, mas apenas a presença do mais velho já bastava para que o garoto sufocasse; para que seu sangue corresse frio. Por que Jinki estava lá? Taemin comprimiu os lábios e ficou cabisbaixo, fitando o rodapé ao longe, no mais automático mecanismo de defesa e remição. Engoliu a seco.

-Você veio contar ao meu pai? – Taemin sussurrou num tom de voz quase inaudível e trêmulo. Cerrou as mãos em punho para direcionar o nervosismo para algum lugar. As unhas cavando marcas na palma da mão.

Jinki comprimiu os lábios e balançou a cabeça levemente para os lados.

-Não. Na verdade... – Ele suspirou profundamente – Eu vim porque a gente precisa conversar.

O coração do garoto acelerou.

Não sabia se deveria ficar feliz ou assustado com isso. Por um lado, parecia que Jinki finalmente se importou com ele a ponto de querer discutir o ocorrido; por outro... Não saber como Jinki reagiria o assustava. Muito.

-P-Pode ser outro dia... Por favor? – Taemin sussurrou. Mordeu o lábio brevemente – Meu pai tá quase chegando-

-Eu sei – Jinki baixou os olhos para a ponta dos pés – Sua mãe falou que daqui há pouco ele chega... – Silêncio. Taemin não sabia se deveria responder ou sugerir alguma coisa, ou esperar que o mais velho falasse algo – A Srª Lee... Disse que a gente poderia ir pra outro lugar pra conversar...

-E se eu não quiser? – Ousou perguntar. Taemin não tinha certeza se aguentaria o nó de seu estômago por muito tempo devido ao nervosismo. Até onde sabia, preferia desmaiar ali mesmo e evitar essa conversa. Para Jinki tê-lo evitado por tanto tempo, tinha um motivo, certo?

-Então eu vou ser infantil e te infernizar todos os dias até você aceitar – Jinki falou sério. Correu o dedo pelos cabelos e chacoalhou-os, soltando um suspiro derrotado – A gente precisa, Taemin.

-N-Nós... – A voz do garoto saiu trêmula, manhosa, indicando o choro iminente, mas conseguiu segurar um soluço dentro da garganta – O-Ou você? – Mordeu a parte de dentro dos lábios com força para evitar que tremessem, e segurou o choro o melhor que pôde quando subiu os olhos para o mais velho – P-Porque... Você já sab-be sobre mim...

 

Foi tão estranho para Jinki ver Taemin daquele jeito. Parecia que ele havia voltado para aquele dia, quando tudo deu errado.

-Eu... – Jinki suspirou – É, provavelmente. Mas ainda não muda o fato de que eu preciso falar com você – Ele caminhou até a porta e girou a maçaneta. Voltou os olhos para o garoto – Taemin, por favor.

Taemin mordeu os lábios, e não soube dizer por qual motivo a vontade de chorar aumentou de repente. Afinal, ele nunca chorava. Simplesmente chacoalhou a cabeça para os lados, afundando-se no encosto da cadeira.

-Taemin-

-Eu tô com medo – A voz saiu chorosa. Baixa. Um mero sussurro. Ele já havia desistido de tentar segurar os lábios trêmulos – E-Eu sei que eu me-enti... Mas eu tenho medo...

 

Medo..?

Jinki franziu o cenho.

Taemin estava com medo dele?

Ora, era compreensível que o garoto tivesse medo, claro, mas... Isso soou tão amargo em seus ouvidos...

O mais velho apertou os dedos contra a maçaneta e encostou a testa na porta, soltando um suspiro. O que ele estava fazendo, afinal? Por Deus, era o filho do chefe...

-Por favor... – Jinki sussurrou – Eu sinto que eu vou enlouquecer se eu não conseguir conversar com você – Suspirou – Me ajuda a entender isso – Jinki afastou a testa da porta e olhou para o garoto – Eu não vou fazer nada com você. Só... Ah... Me ajuda a entender.

Taemin mordeu os lábios novamente, dessa vez virando o rosto de lado quando sentiu que as lágrimas transbordariam. Arranhou o pano da calça e o apertou com os dedos.

Tá certo... Jinki queria conversar...

Ele veio até sua casa apenas para pedir que conversassem...

Se a situação se tornasse insuportável, ele poderia muito bem ir embora quando quisesse.

-T-Tá – Taemin se levantou da cadeira e caminhou em direção a Jinki, fitando o chão o tempo todo enquanto passava a manga da blusa no rosto para se livrar dos vestígios de choro. Passou pela porta sem olhar uma única vez para o mais velho e desceu as escadas sem esperar por ele. Não se deu nem ao trabalho de se despedir de sua mãe.

Simplesmente passou pelo portão e parou ao lado do banco do passageiro com os olhos fixos no chão.

 

Sentia-se tão vulnerável...

 

 

• • •

 

 

Era uma situação um tanto quanto estranha. As últimas memórias que Taemin tinha daquela sala não eram das melhores.

Estavam sentados com um lugar de distância um do outro. Taemin cabisbaixo, com as mãos entre as coxas, feito um gato assustado, e Jinki curvado para frente, esfregando as mãos e mordendo o canto dos lábios o tempo todo, sem saber por onde começava.

 

Mina é a torta e Taemin o brócolis, hm...?

 

-Há quanto tempo... Hm... Você faz... Isso...?

 

 

 

“Isso”.

 

 

 

Jinki nem sequer se deu ao trabalho de dar um nome a isso.

E Taemin sentiu seu coração se apertar quando ouviu aquilo. Ele não sabia o que pensar. Não poderia culpar Jinki isso, poderia? É claro que falar daquele jeito feriu seus sentimentos, uma vez que fê-lo parecer algum tipo de animal ou monstro pela falta de um substantivo mais apropriado do que apenas “isso”, mas... Teria Jinki algum conhecimento sobre isso? Ele pareceu tão chocado aquele dia...

E Taemin sabia que a reação que Jinki teve, provavelmente, seria a mesma que seu pai teria se um dia descobrisse; se não, pior.

-Por “isso” você se refere ao fato de eu me transvestir?

A voz saiu baixa, tímida. O garoto parecia exausto de toda aquela situação.

-Transvestir? – Jinki olhou-o, mas o garoto ainda mantinha a cabeça baixa – Oh! Sim, transvestir... Desculpa, eu... Não sabia como chamar... – Esfregou as mãos mais uma vez, passando a ponta da língua pelo lábio.

 

Taemin suspirou, levantando o rosto, e fitou a televisão desligada à sua frente.

-Faz sete anos – Sorriu minimamente, forçando as lágrimas para dentro dos olhos – Desde o meu último ano do fundamental... Mas... Pra ser honesto, eu sempre gostei disso...

Bem, já que era para conversarem e Jinki, aparentemente, estava muito mais calmo que da última vez, Taemin poderia muito bem ser honesto e contar tudo o que o mais velho quisesse saber. Jinki merecia isso, certo? Taemin cobriu-o de mentiras desde a primeira vez que conversaram, de qualquer forma.

-Disso...? Você quer dizer... Se fingir de mulher... ?

Taemin bufou, incrédulo.

-Eu não tô tentando me fingir de mulher. Eu sou um homem.

-É. Um homem que faz balé com vestuário feminino, que usa vestido, salto, maquiagem, peruca e atende pelo nome de Mina.

-Se você vai ficar falando dessa maneira comigo... – Taemin se levantou do sofá – Eu tô voltando pra casa.

-Okay, me desculpa – Jinki segurou o pulso do garoto – Eu tô tentando entender, mas...

Taemin sentou-se novamente no sofá, respirando fundo.

-Mas...? – O garoto esperou uma resposta, mas Jinki não soube o que dizer – Tá tudo bem...  – Taemin suspirou – Se eu pareço tão repulsivo assim pra você pra não conseguir conversar comigo, tá tudo bem, eu entendo... – Sorriu pequeno – É por isso que eu não conto pra ninguém...

 

E aquele foi o tipo de chacoalhão que Jinki precisava para colocar a cabeça no eixo.

O que ele estava fazendo com aquele menino? Era pra conversarem civilizadamente, não para tirar suas próprias conclusões e sair chamando o menino do que bem entendesse. Mas que saco!

Jinki apoiou os cotovelos sobre os joelhos e encostou a testa na palma das mãos. Soltou um longo e pesado suspiro, com os olhos fechados, tentando se acalmar.

-Me desculpa... Eu... Eu nunca...

Taemin sorriu tristonho.

É... Ele sempre soube que não seria fácil fazer com que outras pessoas o entendesse... Mas... Ainda assim... Doía...

Principalmente quando essa pessoa era alguém que, por mais que o tivesse machucado, ele ainda gostava...

O garoto fungou, forçando um sorriso maior e piscando várias vezes para espantar as lágrimas.

-Eu tô te dando muito trabalho, não tô? A gente... – Aumentou ainda o sorriso para tapear os olhos margeados – Devia parar por aqui, sabe? – Fungou novamente – Tá tudo bem – Passou a manga da camisa rapidamente pela lágrima que acabara de escorrer – Tá tudo bem...

-Não, não tá!! – Jinki puxou os próprios cabelos – Meu Deus, eu me sinto um imbecil por não entender o seu lado da história. Eu quero entender o seu lado da história, mas... É tão... Complicado. Tão... Diferente... Por quê? Por que você se veste desse jeito? Por que criou um outro nome?! Por que...

...Não me contou antes?

 

 

Taemin tentou.

Tentou tanto segurar as lágrimas, mas... Ele já estava tão cansado de tudo isso. De precisar esconder quem ele é. Do que gosta.

Tão cansado...

-Porque eu gosto!! – Trouxe as pernas para o sofá e escondeu o rosto entre os joelhos – Eu gosto... – Soluçou – Por que todo mundo diz que é errado?! Por que eu não posso? Eu gosto de saias... Eu gosto de cabelos compridos... Eu gosto de maquiagens... Eu só... – E a voz falhou de tal maneira sofrida que Jinki não suportou mais. Mandou suas dúvidas para o inferno por um momento e abraçou o garoto, encaixando seu rosto na curvatura de seu pescoço, onde Taemin desabou em choros e não demorou a agarrar o pano de sua roupa.

-Sssshhh... Não chora, por favor...

-Por que as pessoas não podem me aceitar desse jeito?! – Apertou o mais velho com mais força. Já não se importava mais como que Jinki pensava de si naquele momento. A dor de seu coração falava mais alto. Precisava de alguém para se apoiar. Taemin não aguentava mais não ter com quem dividir seus medos, além de sua mãe – Po-Po-P-Por quê-ê? Eu ainda sou homem, eu... Só gosto... É tão errado assim?

 

Jinki não sabia o que fazer.

Jamais esperou que Taemin fosse chorar em seus braços de maneira tão sôfrega quanto agora. Cada vez que o garoto gritava trêmulo no meio do choro, seu coração se apertava.

É... Talvez o maldito do Jonghyun estivesse certo.

Talvez ele estivesse mais incomodado com o fato de que... Ele se apaixonou por um homem, do que Taemin se transvestir, e ainda por cima ser filho do chefe...

-Des-Des-Descu-ulpa – Taemin afastou-se do mais velho, cobrindo o rosto com a manga da camisa – Desculpa...

-Ah, para com isso – Jinki puxou o garoto para si novamente, aconchegando-o contra o peito e protegendo-o do mundo – Calma... – Sussurrou, desenhando círculos nas costas do mais novo, esperando acalmá-lo – Ssshh... Calma...

E nenhum dos dois percebeu o beijo automático que Jinki acabara depositando na testa do mais novo.

 

Permaneceram ali, sem pressa.

Taemin chorando todos os seus medos, seus estresses, suas angústias...

Segurou-se no mais velho como se sua vida dependesse disso, jamais afrouxando o aperto dos dedos no pano da blusa do outro, e afundando o rosto cada vez mais em sua curvatura do pescoço. Jinki manteve-se ninando o garoto sutilmente, com um leve balanço de corpo para frente e para trás, tranquilizando-o com sussurros ao pé do ouvido e pequenos carinhos com o polegar em suas costas até que o choro se dissipasse e restassem apenas soluços.

-O-Obrigado... – Taemin sussurrou, ainda com o rosto escondido na curva do pescoço do mais velho.

Jinki não conseguiu conter o riso, incrédulo.

-Por que tá agradecendo? Fui eu quem fez você chorar, seu bobo – Deu um fraco puxão de orelha no mais novo.

-Você não me mandou embora de novo...

-Me desculpa por isso... Foi tão...

-Chocante. Eu sei...

-Então... – Jinki afastou o rosto para poder olhar para o mais novo – Você só-

-Por favor, não – Taemin afundou novamente o rosto em Jinki – Eu não vou conseguir falar se eu tiver que olhar pra você. Não tenho coragem.

Jinki assentiu.

-Okay... Okay, tudo bem. Então... Você gosta de coisas femininas... ?

-Hm... – Taemin assentiu – Eu não quero ser uma mulher, mas... Eu gosto de me vestir como uma, porque eu gosto de roupas assim.

-Até a maquiagem?

-Até a maquiagem. Eu... Não sei porque as pessoas colocam gênero nas coisas.

-E por que balé?

-Porque eu sempre gostei de dançar, mas eu não queria aprender os passos que os homens aprendem. Eu via as bailarinas dançando e elas sempre pareceram tão leves quanto o vento... Foi aí que eu comecei a me vestir...

-E... Desculpa perguntar, mas... Como eu deveria te chamar? Q-Quer dizer...

-Meu nome é Taemin. Mas... Eu não deixo de ser Mina também, entende?

Jinki assentiu, embora não tivesse entendido cem por cento daquela resposta, mas fazia alguma ideia.

-Quando sua mãe descobriu?

-Eu acho que ela sempre soube. Quando eu tinha cinco anos, ela me deixava andar nos sapatos de salto dela – Taemin riu brevemente, quase um sopro, mas ainda assim uma risada. E o coração de Jinki se aliviou um pouco.

-E quanto ao seu pai... ?

Imediatamente, Jinki sentiu os dedos do garoto puxarem ainda mais sua camisa.

-Por favor, não conte pra ele... Eu não sei o que ele faria.

-Não conto se você não contar.

Taemin riu soprado novamente.

-Okay... – Sussurrou, com um pequeno sorriso no rosto.

-Bom... Eu acho que já é hora de eu te levar de volta pra casa, não?

Taemin assentiu, afastando-se do mais velho de maneira cabisbaixa, cobrindo o rosto com as mãos.

-Sinto muito pela sua camisa. Eu encharquei ela...

-Hm – Jinki balançou a cabeça para os lados – Tá tudo bem. Olha pra mim, deixa eu ver como tá seu rosto.

Taemin chacoalhou a cabeça com força em negação.

-Meus olhos provavelmente estão inchados.

-É exatamente por isso que eu queria ver como eles estão – Jinki se levantou, indo em direção à cozinha – Se eu devolvo você pra sua mãe assim, ela arranca o meu couro e coloca de tapete na sala de visitas! – Brincou, obtendo sucesso em arrancar uma risada do mais novo. Voltou com um pano morno nas mãos – Aqui – Ofereceu o pano – Coloca nos olhos.

 

Bem... No final daquela noite, Jinki se sentia incomparavelmente mais leve.

E quando ele estacionou na guia oposta à casa de Taemin para não alertar os pais do garoto, fez uma proposta.

-Pra ser sincero, me incomoda que as coisas fiquem desse jeito – Jinki comentou, olhando para a rua a sua frente – Sabe, se eu provei a torta de brócolis e gostei, por que não provar apenas o brócolis? – E quando Jinki girou o rosto para o garoto, se deparou com um Taemin confuso – Q-Quer dizer... Se Mina era você o tempo todo, e eu gostava dela... Você sabe...

Por que de repente pareceu mais difícil do que nunca dizer aquele tipo de coisa?

-Jinki...?

O mais velho respirou fundo. Coragem!

-Se eu gostava dela... Quando ela, na verdade, era você... E-Eu... Gostaria de tentar, sabe? Eu... Não vou me perdoar se eu simplesmente deixar as coisas assim. Eu queria tentar... Da mesma maneira que foi com Mina... Do começo... – Mordeu os lábios – Qual é a sua resposta?

 

Petrificado era como Taemin estava. Aquilo, definitivamente, era a última coisa que o garoto esperaria daquela conversa.

Jinki não havia simplesmente cortado relações com ele. Jinki tentou entendê-lo e estava disposto a... Dar uma segunda chance?

-Você tá falando sério? – O mais novo sussurrou.

-Hm, estou.

-E-Eu... – Taemin piscou várias vezes, ainda perdido. Não havia se preparado para isso – O-Okay... – E mesmo a contragosto, suas bochechas coraram.

E... Eram borboletas que Jinki sentiu em sua barriga ao ver aquilo?

 

 

E Jonghyun, mais uma vez, no fim das contas, talvez estivesse certo.

 

 

• • •

 

 

É. Taemin levou uma bronca leve quando chegou em casa vinte minutos depois do estipulado, mas nada muito sério. Claro que seu pai o interrogou por onde andava, e claro que ele inventou alguma desculpa sobre amigos da faculdade.

Já sua mãe apenas lhe lançou o tão conhecido olhar de “depois a gente conversa”.

O garoto jogou o celular na cama e a si mesmo logo que entrou no quarto. Virou-se de barriga para cima, fitando o teto. O que havia acabado de acontecer?

Taemin ainda estava entorpecido. Quer dizer que Jinki estava disposto a entendê-lo? Sorriu feito bobo, com pequenos cristais de lágrimas de felicidade nos olhos. Era bom saber que a pessoa pela qual ele nutria sentimentos não havia desistido dele.

Levou as palmas das mãos aos olhos, espantando as lágrimas e dando pequenas risadas.

 

*Brrrrrrr*

 

A tela do telefone acendeu.

 

Preguiçosamente, Taemin esticou o braço e desbloqueou a tela para se deparar com uma mensagem de Jinki. Franziu o cenho, mas abriu assim mesmo.

 

Jinki-hyung ❤: Oh! Esqueci de perguntar. Você vai voltar pro balé, certo?

 

Por um momento, Taemin se perguntou como o mais velho sabia daquilo, mas imaginou que não fosse tão difícil de deduzir isso, uma vez que ele não aparecia não balé já fazia duas semanas.

 

Tae/Min-ah: Acha que eu deveria?

Jinki-Hyung ❤: Hm. Pondo nossos assuntos de lado, você dança muito bem.

 

Taemin corou furiosamente. Jinki estava falando sério?

 

Tae/Min-ah: Okay...

 

 

• • •

 

 

Bem... Mina saiu acanhada da sua primeira aula de balé naquela semana.

Ela não sabia exatamente como agir perante Jina. Não sabia nem se poderia chegar pert-

-Unnie!! – E a garotinha veio correndo em direção a ela, abraçando-lhe a cintura.

-Ji-Jina..!!

-O tio Jinki disse que você ficou doente de novo. Tá melhor?

 

Jinki havia dito aquilo? E Jina acreditou?

Bem... Okay, então.

 

Mina agachou-se até a altura da menina.

-Tô melhor, sim – Sorriu – Eu preciso me cuidar mais – Riu consigo mesma.

-Coma coisas saudáveis, unnie!

-Comerei.

-Hm, parece que já tão pondo o papo em dia, huh?

-Tio! –A pequena bailarina correu até ele – Ela disse que tá melhor!

-Oh? Ela disse? – Perguntou, pegando-a no colo – Isso é bom – Sorriu acanhado.

 

Nem Mina, nem Jinki, sabiam como agir, portanto, ela se curvou brevemente com um pequeno “hey”, o qual Jinki respondeu da mesma forma.

-Você... Hm... – Jinki piscou os olhos várias vezes – Quer... Tomar um café comigo? – O coração da garota acelerou – Posso te levar pra casa, se quiser...

 

Bem, já não tinha mais problema Jinki fazer isso, agora que ele já sabia de seu segredo, certo?

 

-Okay...

-Mas... Você sabe... Com...

-Ele?

-É-É...

Mina assentiu.

-Okay... Mas eu preciso ir pra casa, primeiro.

-Eu te levo, se não tiver problema.

-Tá certo. Vou ligar pra minha mãe, então.

 

 

• • •

 

 

-Whoooaa, whoaa, whoa,whoa! Pra que tanta pressa de se trocar assim? E por que o carro do Jinki tá estacionado na frente de casa... Com o Jinki obviamente te esperando lá embaixo?! – Ela olhou de maneira acusadora para o garoto.

-Ah, mãe...! – Taemin revirou os olhos – A gente não pode ter essa conversa quando eu voltar?

-Nananinanão, mocinho – Ela cruzou os braços, batendo a ponta do pé no chão – Resume. Anda.

Ele suspirou, derrotado. Sabia que não sairia dali tão cedo enquanto não dessa a ela o que ela queria.

-Tá... – Bufou e sentou na cama – Da última vez a gente conversou sobre... Você sabe... – Ele gesticulou entre si e a roupa de balé ainda jogada na cama – Eu chorei... Ele me acalmou... E a gente conseguiu conversar civilizadamente... Ele... Quer me conhecer. O Taemin, entende? Porque... Se na verdade, a Mina sou eu, e ele gostava da Mina... Por que não gostar de mim... ? Então... É... É estranho. Bastante desconfortável, mas... – Ele fitou os polegares com os quais brincava – É alguma coisa... Certo?

 

A mãe do garoto suspirou.

-Bem... Na verdade é muita coisa, mas... É uma boa iniciativa. Tem certeza que quer ir?

-Tenho.

-Okay... – Correu o dedo nos cabelos – Cuide-se, querido. Não quero ver esse rosto tristonho de novo, tá bem?

-Tá... – Ele sorriu.

 

E com um abraço e um beijo no rosto, despediram-se.

 

 

• • •

 

 

Muito bem... Lá estavam eles!

 

Taemin com as mãos entrelaçadas em seu colo, brincando os polegares.

Já Jinki olhava de canto para a janela enquanto brincava com um fio de linha solto de sua calça.

 

...

 

E Taemin continuou brincando com os polegares.

E Jinki continuou brincando com a linha.

 

-Talvez devêssemos pedir...? – Jinki murmurou incerto, como se estivesse com medo de fazer algo errado.

-É-É... Talvez devêssemos... – Mas Taemin ainda não levantou o rosto para o mais velho.

 

Okay, okay. Muita calma agora.

Devia Jinki fazer o pedido no lugar do garoto? Bem, Mina gostava de café com leite e canela, mas... Bem, não era como se os gostos dele mudassem de uma hora para outra, certo? ...Ou talvez mudassem?

Seria possível que Mina gostasse de uma coisa e Taemin de outra?

Muito bem, Jinki, alto lá. Não é uma dupla personalidade, não saia falando besteiras. Não é como se Taemin tivesse mudado... p-por dentro. Quer dizer...

Bem, na verdade sim, porque Mina, na teoria, seria uma garota... E-Enfim!!

O próprio Taemin, de certa forma, disse que ele continuava sendo ele mesmo, me-mesmo se fosse Mina, certo?

-Ca-Café com leite e canela, o-ou... ?

-S-Sim! – Ele corou – Ainda é o meu preferido...

 

Oh, Santo Deus, Jinki quase soltou o maior suspiro de alívio em sua vida. Não queria se passar por um idiota novamente.

 

É isso aí. Jinki chamou o garçom e fez os pedidos no lugar de ambos, mas logo que o garçom deu as costas, aquele clima estranho retornou. Não era para estar assim. Afinal, não era assim com Mina.

-Ji-Jinki? – E o mais velho levou os olhos até o menino que o chamou, dando-lhe toda sua atenção – Eu gostaria de fazer uma pergunta...

-Vá em frente.

Sem quebrar o ambiente daquela nova conversa, o garçom, sutilmente, trouxe os pedidos de ambos e se retirou com destreza. Taemin envolveu a xícara nas mãos e a trouxe para perto do rosto, embora ele apenas tivesse inalado o aroma da bebida.

-O-O que você m-mais gostava em Mina...? – E imediatamente o mais novo tomou um gole do café com leite, na intenção de esconder seu rosto por detrás da xícara e, quem sabe, com sorte, Jinki acharia que o fraco rubor de suas bochechas era proveniente da fumaça morna da bebida.

-Desde quando você gosta de mim? – Jinki olhou nos olhos, levando a xícara de café à boca.

-Bem... – Taemin sorriu fraco, observando o líquido em sua xícara – Desde logo depois que eu entrei no balé-

 

*SSPRRRGGHHHH*

 

Oh Deus...

 

Taemin estava petrificado, com os olhos fechados, sentindo o líquido quente escorrer pelo rosto e molhar a gola da camiseta.

-A-Ah-Aaahh meu Deus, meu Deus, meu Deus, meu Deus!! – Jinki freneticamente começou a puxar os guardanapos e a amontoá-los na mão. Curvou-se por cima da mesa, levou-os ao rosto molhado do garoto e começou a enxugá-lo. Inutilmente, por sinal – Desculpa, desculpa, desculpa!!

-S-Sabe... – Abriu um sorriso acanhado em meio aos guardanapos que ainda se movimentavam em seu rosto – Você ainda é bonitinho quando entra em pânico – Escondeu o sorriso com a mão. Imediatamente, Jinki parou de se mexer e fitou o garoto com os olhos arregalados e coração acelerado. Aquela mesma frase... Saiu daquela mesma boca... E o fato de ser Taemin, e não Mina, quem as pronunciou, causou sensações esquisitas no estômago do mais velho.

E Taemin sentiu a mudança de atmosfera rapidamente.

-E-Eu... Vou me limpar... – Baixou a cabeça e saiu em disparada para o banheiro.

 

Jinki se desmontou na cadeira, com os braços caídos ao lado do corpo e o olhar perdido na xícara de café a sua frente. Tapou o rosto com uma mão, escondendo o súbito rubor que sentiu.

 

Mas aquilo fê-lo pensar.

Afinal, o que ele mais gostava em Mina?

 

 

• • •

 

 

-Hyung – Eles andavam lado a lado pela calçada no breve percurso entre o café e o local onde Jinki estacionara o carro – Você tá bem com isso?

-Hm? – Jinki piscou algumas vezes. Não havia prestado atenção no que Taemin dissera.

-Você tá bem com isso tudo? – Repetiu o mais novo.

-“Isso”? – Jinki arqueou as sobrancelhas e tombou a cabeça para o lado.

-É... – Taemin desviou os olhos para o chão, chutando a primeira pedrinha que encontrou pelo caminho – A gente... Sair... Sabe? Você ficou calado o tempo todo depois que eu perguntei aquilo... Sinto muito se te deixei desconfor-

Jinki tomou o queixo do garoto de súbito entre os dedos e fê-lo se virar para ele. Naturalmente, o coração do mais novo acelerou. Esse era o tipo de coisa que se fazia quando roubavam um beijo, não era? Entretanto, Jinki permaneceu encarando, analisando seu rosto, como se procurasse alguma coisa.

-Os olhos – Jinki soltou.

-U-Uh?

-O que eu mais gostava na Mina... Era quando ela me olhava com olhos sorridentes... – Ah, sim... Aqueles mesmos olhos castanhos grandes, amendoados e brilhantes, com resquícios de delineador e cílios volumosos – B-Bem – Jinki soltou o rosto do garoto e continuou a dar os últimos passos até a porta de seu carro – I-Isso fisicamente...

-Fisicamente?

-É... Você sabe... – Ele abriu a porta e sentou-se, esperando para que Taemin fizesse o mesmo do lado do passageiro – Quanto à personalidade... – Ele olhou para o volante, pensativo.

-Quanto à personalidade...? – Taemin insistiu, curioso.

-E-Eu não sei, e-eu... Não tenho certeza...

 

Bem, não era a resposta que Taemin esperava, mas tudo bem. Afinal, isso era sinal de que Jinki estava sendo honesto com ele.

Além disso, não era como se ele não soubesse de nada...

Jinki disse que gostava de seus olhos quando ele sorria...

 

 

• • •

 

 

Decidiram não apressar as coisas, da mesma forma que não apressaram quando existia apenas Mina no cenário. Desta forma, a próxima vez em que os dois passaram um tempo juntos veio a ser três semanas depois, quando Jinki ganhou uma folga bem na quarta-feira, quando Taemin não tinha aula de balé.

 

-Ahn... Bem... Na verdade eu não planejei nada pra hoje... – Jinki admitiu ao volante, completamente perdido, parado no primeiro sinal vermelho que encontraram.

-A-Ah... Bom... A gente pode só conversar, eu não me importo. O-Ou se você tiver algo importante pra fazer, a gente deixa pra outro dia, também não tem problema...

-Não. Deixa eu pensar... Hm... T-Tem alguma coisa que você goste que Mina já não me tenha dito...?

-Bom... – Taemin baixou os olhos para os polegares com os quais brincava em seu colo. Mordeu o lábio – Já faz um tempo que eu não vou ao fliperama...

-Você joga?! – Jinki olhou-o surpreso – Quer dizer... Você... Gosta de vídeo games?!

-Bom... Eu ainda sou um homem no fim das contas – Deu de ombros – Eu também gosto de “coisas de menino” – Fez aspas com os dedos.

Não que o fato de ele ser um homem implicasse que ele devesse gostar de jogos, mas... É... Ele gostava.

-O-Oh, certo! Desculpa!! – Jinki voltou os olhos para o trânsito, levemente corado – Eu continuo fazendo perguntas idiotas, droga.

Taemin riu brevemente.

-Tá tudo bem. De qualquer forma, você não sabia.

 

O resto do caminho se seguiu num estranho silêncio, mas um que não era desconfortável.

-Ah, whoa! – Jinki exclamou quando saiu do carro e parou na calçada, de frente ao fliperama, observando o grande letreiro em neon – Agora eu me toquei em quanto tempo faz eu não venho mais aqui. Tá quase tudo diferente.

-Você vinha aqui?! – Taemin curvou uma sobrancelha com um pequeno sorriso desconfiado de lado, surpreso com a informação, mas bastante satisfeito também.

-Quê? Eu tive meus tempos de colégio e faculdade também – Jinki olhou para dentro do estabelecimento – Eu tinha o maior recorde de Street Fighter na época. Será que ainda tá lá?

Taemin tapou a boca, tentando segurar a risada; em vão.

-Não acho que esteja... – O garoto olhou-o pelo canto dos olhos, com um sorriso convencido no rosto – Porque da última vez que eu chequei, o recorde era meu~! – Cantarolou, caminhando para dentro do fliperama.

-QUÊ?! Mas era um recorde tão alto!! – Jinki gritou da calçada – Yah! Lee Taemin!! Espera!! – E então ele correu atrás do garoto.

 

De fato, o lugar havia mudado muito desde a última lembrança que Jinki tinha dali. Claro que tudo estava mais moderno. O lugar agora era escuro, iluminado por luzes negras e letreiros em neon de propaganda que se destacavam na parede, e apenas um ou outro lugar com luzes florescentes, sendo estes a lanchonete, as portas do banheiro, e o jogo de disco de mesa.

Era tanta nostalgia dos seus tempos de escola, quando ele vinha jogar com os amigos nos finais de semana ou logo após alguma prova de Cálculo II, mesmo que a maioria tivesse certeza que havia bombado.

-Hyung!! – A voz do garoto, em meio aos efeitos sonoros dos outros jogos, chamou sua atenção. Taemin estava acenando para ele ao lado do velho jogo de arcade de Street Fighter que o fliperama ainda não jogara fora – Olha só isso – Ele sorriu, depositando uma ficha na máquina.

Jinki franziu o cenho.

-Quando foi que você comprou essa ficha?!

-Enquanto você ficava lembrando da sua adolescência 500 anos atrás – Respondeu sem rodeios.

-Yah! – Ele o estava chamando de velho?! Da onde surgiu essa atitude?!?

-Hyung, olha – Taemin apontou com a cabeça para a tela da máquina, na qual aparecia o placar com as dez maiores pontuações, das quais as três primeiras tinham as iniciais “TAEM”, e o maior placar entre elas passava dos dezessete milhões; já a quarta colocação era de um jogador intitulado “ONEW”, com uma pontuação pouco maior que catorze milhões – Tá vendo? – Sorriu convencido – Os três primeiros sou eu.

-Dezessete milhões?! Como conseguiu isso?!

-Hm... Um truquezinho aqui e ali...

-Quer dizer que você roubou? – Levou as mãos na cintura, arqueando a sobrancelha.

-Eu não disse isso – Ergueu as mãos em sinal de rendição – Você quem disse.

-É – Jinki caminhou até a máquina, colocando o dedo sobre o nome do quarto lugar – E esse aqui sou eu.

Taemin franziu o cenho.

-Onew? Que diabos é isso?

-Isso é o que a adolescência te faz – Respondeu ironicamente.

-Eles te chamavam de Onew?!

-É... Era meu apelido.

-É sério?! – Taemin levou as duas mãos à boca para abafar a risada.

-É melhor que não esteja rindo, Lee Taemin...

-N-Não! Não estou. Com certeza não estou – Parou ao lado de Jinki, posicionando-se na máquina – Topa jogar?

Jinki respirou fundo, observando as letras pixeladas escrito “novo jogo” piscar.

-Claro – Sorriu – Por que não?

 

Jinki estava feliz. Aquele clima estranho entre os dois estava se dissipando e, finalmente, eles conseguiam conversar mais naturalmente um como outro. Quem diria que achariam algo do tipo em comum, huh?

Entretanto, tal felicidade fora logo esquecida quando Jinki se viu perdendo para o mais novo nos primeiros dez segundos de jogo com um resultado quase perfeito. Jinki mal conseguiu dar quatro golpes no personagem adversário!

 

-O que foi que acabou de acontecer? – Jinki perguntou entre os dentes, incrédulo com o que acabara de ver, e levemente irritado com as risadas que escapavam do mais novo – Melhor de três!

-Tuuuudo bemm~! – Taemin cantarolou, inserindo outra moeda – Você tá com aquele bico de novo, sabia? – Riu consigo mesmo, fazendo o mais velho corar e as borboletas em seu estômago alçarem voo.

 

E mesmo que ao final Jinki tivesse perdido as três partidas sem um pingo de misericórdia do mais novo, ele estava feliz. Sentia-se bem consigo mesmo, primeiro por toda a nostalgia que estava sentindo, e segundo por finalmente ter acertado em um ‘encontro’ com o garoto.

Taemin estava rindo! Com certeza isso categorizava como uma vitória para o mais velho depois de tê-lo visto chorar aquele dia. E não era como se Jinki também não risse dos comentários nerds e brincalhões que faziam ao longo da partida, soltando uma piada aqui e ali.

-Tá!! – Jinki exclamou por fim – Eu vou comprar mais fichas e eu escolho o próximo jogo.

Taemin deu de ombros.

-Como preferir.

 

Tanta intimação no final não lhe serviu para nada.

Jinki chegou a ganhar algumas partidas em outras máquinas, mas na maioria das vezes, Taemin ganhava de lavada.

-A gente vai é naquele ali! – Jinki rumou para a máquina de dança sem sequer consultar o mais novo. Taemin, por sua vez, apenas o seguiu.

 

Jinki colocou a ficha na máquina e deixou Taemin escolher a música. Billie Jean do rei do pop começou a tocar e Jinki empenhou-se em acertar as setas com os pés.

Para frente.

Para trás.

Diagonal direita para frente.

Diagonal esquerda.

Direita e esquerda.

Frente.

Diagonal direita para trás, esquerda, direita e esquerda, frente e trás, trás, trás, direita e esquerda, diagonal esquerda para trás e frente...

 

E quando Jinki, no auge de sua falta de fôlego, olhou de relance para o lado, esperando por um Taemin em pânico, deparou-se com o garoto dançando tranquilamente sobre as setas... De olhos fechados.

-O QU-OUCH!

E, claro, não demorou muito para que o mais velho tropeçasse nos próprios pés e caísse de costas.

-Hyung! – Taemin assustou-se como barulho que o tombo fizera e ajoelhou-se ao lado do mais velho – Hyung? Machucou?

-Auch... – Jinki sentou-se, massageando o canto do quadril – Tá tudo bem. Eu só esqueci que eu tenho dois pés direitos... Como consegue dançar isso com tanta facilidade?

-Hyung... – Taemin segurou o riso – Eu faço balé, esqueceu?

 

Oh... Jinki, seu idiota...

 

-Além disso, eu amo Michael Jackson – Deu de ombros, e no mesmo instante, apareceu o placar da partida – E... Mais uma vez, eu ganhei.

Jinki grunhiu.

-Táaa... – O mais velho revirou os olhos, levantando-se – Tá. Eu te pago um sorvete. Vem.

E sem nem perceber, Jinki enrolou os dedos no pulso do garoto e o puxou para fora da loja.

 

Jinki fizera isso de maneira tão natural que causou um tremendo rubor nas bochechas do mais novo. E Taemin não teve coragem de chamar a atenção do mais velho por isso; alertá-lo dos poucos olhares que se voltaram na direção dos dois por onde passavam. Apesar da atenção indesejada, Taemin não podia negar que gostou daquele gesto.

Mas apenas foi necessário que passasse em frente a uma loja de roupas para que aquela sensação fosse jogada em segundo plano. Bastou que ele pousasse os olhos em uma peça de roupa em específico por puro reflexo, que seus pés travaram no chão no mesmo instante, puxando Jinki de volta para trás.

-Whoa! – Jinki olhou-o – O que aconteceu?

Taemin piscou duas vezes, enfim, percebendo o que havia feito.

-N-Nada – Forçou um sorriso no mesmo momento em que Jinki levantou os olhos e percebeu a vitrine da loja de roupas – Não é nada – Taemin repetiu – Vem – Puxou Jinki consigo – Vamos – Mas, dessa vez, foi Jinki quem travou em seu lugar.

-Você viu algo que gostou? – Perguntou, vasculhando as peças de roupa em busca de alguma que talvez julgasse ser do gosto do garoto.

-Nã-Não. Vem, Jinki – Taemin puxou-o de leve.

-Foi aquele vestido branco que você viu?

Taemin arregalou os olhos no mesmo instante, sentindo as bochechas se aquecerem.

-Não. Vem, vamos – Puxou-o novamente.

-Tem certeza? Taem, eu tô me esforçando pra te entender o melhor que eu posso. Se quiser... E-Eu não sei, a gente pode entrar e você pode experi-

-Tenho. Vamos, por favor...

-Hm... – Jinki assentiu relutante. Não estava muito convencido.

 

 

• • •

 

 

O encontro seguinte fora no parque.

E mesmo que os dois estivessem se divertindo atirando nos alvos, comendo algodão doce, brincando nos carrinhos de bate-bate, vez ou outra, Jinki flagrava Taemin sutilmente observando a montanha-russa ao longe; e o que mais o incomodava, era que em momento algum, Taemin comentou sobre o brinquedo. E Jinki sabia que ele era o culpado por isso.

-Hyung, por que não vamos na roda-gigante? – Sugeriu o mais novo com um sorriso maravilhoso no rosto, com a melhor das boas intenções.

-Eu tenho uma ideia melhor – Jinki cortou-o sem rodeios, dessa vez segurando-o pelo pulso intencionalmente e arrastando-o até o outro lado do parque. Ele sabia que se arrependeria dessa decisão, mas pelo menos estaria arrependido de algo que fez, do que culpado por algo que não fez.

-Mas, hyung, é a montanha-russa?!

-Exatamente.

-Você odeia isso.

-Exatamente.

-Mas-?!

-Eu sei que você quer vir aqui, então, por favor, cala a boca antes que eu me arrependa e mude de ideia.

E dessa vez, Taemin conseguiu segurar a risada quando sentiu o aperto em seu pulso ficar mais forte, sabendo que isso era um dos jeitos de Jinki conter seu medo.

-Obrigado – Taemin sorriu largo.

 

Valeu a pena Jinki quase colocar os pulmões para fora de novo quando ele viu o sorriso radiante do garoto.

 

 

• • •

 

 

Taem :D : hyung, e se a gente for no cinema esse final de semana?

Jinki-hyung ❤: não é nada de terror, é?

 

A essa altura, Jinki finalmente entendeu que os gostos de Mina eram os mesmos de Taemin, e parou de se envergonhar com certas perguntas.

 

Taem :D : -_- você realmente não tem graça, não é?

Jinki-hyung ❤: negativo. Nada de terror. Mas se quiser ver filme, a gente assiste aqui em casa

Taem :D : Eeeewwww, aquelas comédias românticas de novo não!!

Jinki-hyung ❤: *revira os olhos*

Jinki-hyung ❤: Tá. A gente vê alguma coisa de ação, pode ser? Mas sem terror

Taem :D : Tá... Mas sem essas comédias românticas!

 

E foi assim que ambos foram parar na sala de Jinki, mais uma vez, logo depois da aula de balé de quinta-feira. No entanto, neste momento, Taemin era Taemin, e não Mina.

Entretanto, embora estivessem sentados com um lugar de distância entre eles, aquela ainda era uma situação estranha.

Não eram dois completos estranhos, mas também ainda não retomaram a intimidade de antes.

 

Talvez, dessa vez, Taemin devesse quebrar o gelo. Das outras vezes, fora Jinki quem se manifestou primeiro, e ele se mostrou muitíssimo disposto a entender o lado de Taemin, e, além disso, a relação deles já havia progredido muito desde aquele declive. Talvez Taemin devesse arriscar mais...

-Hy- Mas o garoto fora surpreendido com uma súbita risada abafada do mais velho. De início, ele pensou que talvez fosse por conta de algo engraçado que acontecera no filme, e, uma vez que ele não havia prestado atenção, imerso demais em seus pensamentos, levantou os olhos para a televisão, mas se deparou com uma chata e monótona festa de gente rica, num grande salão, com roupas de gala, champanhe e tudo mais. Taemin ergueu uma sobrancelha. Afinal, Jinki rira de quê? – Hyung... ? – Arriscou – Tá tudo bem?

Jinki riu novamente, antes de responder.

-Sim! Eu só... – Abafou outro riso – Me lembrei daquele dia na festa da empresa que você ficou bêbado e derrubou champanhe em mim.

 

E Taemin jamais imaginou que ele pudesse alcançar um vermelho de um tom tão escuro quanto o que pintou suas maçãs do rosto.

-Yah! – Por puro reflexo, segurou a primeira almofada que sentiu em seus dedos e bateu no mais velho com ela – Eu não tava bêbado!!

E Jinki riu ainda mais.

-Não?! – Ele ergueu os braços para se defender de outro ataque. A essa altura, nenhum dos dois prestava mais atenção no filme – Tem certeza? Que eu me lembro de algumas coisas bem vergonhosas que você falou.

E se fosse possível, Taemin teria corado mais ainda.

-Yah!!! Para com isso! – Taemin cobriu o rosto com as mãos e o escondeu entre as pernas – Meu Deus, como eu queria que abrisse um buraco no chão e me engolisse aquele dia... Como eu queria que abrisse um buraco no chão e me engolisse agora!!

Jinki tombou a cabeça para trás, segurando o estômago com uma das mãos de tanto que ria.

-Por quê diz isso?

Taemin bateu uma última vez no mais velho com a almofada

-Se você soubesse o quão em pânico eu tava aquele dia, você ia entender – Bufou.

-Pânico? – Jinki levantou uma sobrancelha.

-É... – Taemin revirou os olhos, cruzando os braços – Foi a primeira vez que eu te vi fora do balé... Eu não sabia que meu pai tinha um assistente até então. E de repente descobrir que você era o assistente dele me fez suar frio. Eu morri de medo que você me reconhecesse.

-E então você bebeu? – Jinki o provocou com um sorriso de canto.

Taemin apenas olhou-o com o canto dos olhos.

-E então eu bebi... – Confirmou entre os dentes – E fiz um monte de merda... Incluindo derrubar champanhe em você.

-Beeeem... – Jinki assentiu, divertindo-se com aquilo – Foi bom descobrir isso.

Então era por isso que das primeiras vezes que se encontraram, Taemin sempre pareceu tão nervoso, uh? Hm... E, no final, ele não estava errado em achar Taemin familiar, só foi lerdo o suficiente para nunca perceber a quem.

Jinki olhou o garoto com o canto dos olhos. Ele ainda estava levemente corado, com um bico sutil nos lábios, abraçando uma almofada. Por que eles ainda estavam tão distantes, afinal?

 

-Ah... Que se dane – O mais velho murmurou.

 

E Jinki, sem pensar duas vezes, arrastou-se para o lugar vago que os separavam, e sentou-se confortavelmente ali, recebendo um olhar confuso do mais novo, o qual respondeu com um sorriso brilhante, e voltou os olhos para a televisão. Taemin afundou o rosto na almofada que segurava, mas por detrás dela, escondia um pequeno sorriso.

Jinki, bem no fundo, sabia que se dependesse do mais novo, não progrediriam da maneira que gostaria; sabia que o mais novo ainda se sentia culpado por ter escondido a verdade si, portanto, decidiu que estaria tudo bem se ele tivesse que quebrar o gelo todas as vezes daqui pra frente.

-Tsk – Taemin estalou a língua de repente, chamando a atenção do mais velho.

-Quê? Que “tsk” foi esse? – Perguntou empurrando levemente o ombro do outro com seu próprio para que ele não demorasse a responder.

Taemin corou ao perceber que não fora discreto o suficiente.

-A-Ah, é que... Ahn... É só que na última cena... Tinha umas bailarinas no fundo, e elas não dançavam muito bem... Quer dizer, se você é escolhido pra aparecer num filme dançando, mesmo que por três segundos, no mínimo você tem que dançar bem, certo...?

-Foi?! – Jinki piscou várias vezes – Ah, desculpa, eu me distraí e não prestei atenção. Cadê o controle?!

-Não! Não precisa voltar só pra isso! Era, tipo, três segundos, não era nada importante. Foi só um comentário idiota-

-Achei!! – Jinki exclamou, assim que se levantou do sofá e achou o aparelho em seu assento.

-Jinki, é séri- Mas os protestos do mais novo simplesmente entraram em uma orelha e saíram pela outra, pois o mais velho já havia se aconchegado em seu lugar novamente e já estava rebobinando o DVD para a dita cena – É aqui?

-É... É sim... – Taemin respondeu num murmúrio, com o rosto quase escondido por completo atrás da almofada por tamanha vergonha.

Na cena, a câmera passava brevemente por uma sala de alunos dançando passos de balé em sincronia. De fato, eram meros três segundos que as bailarinas apareciam, mas podia-se notar uma espécie de rodopio nesse tempo.

-Whoa... Com três segundos você conseguiu ver defeito nisso? – Jinki fitou o garoto, surpreso – Oh... Você realmente deve ser um ás do balé pra conseguir notar isso.

-Quê?! Não! – E Taemin sentiu as bochechas queimarem violentamente.

-O que é aquilo que elas faziam?

-Ahn... – Taemin piscou algumas vezes, correndo os dedos pelo cabelo e jogando os fios da franja para trás – Bom... No balé, a gente chama aquilo de Fouetté. É tipo... Um movimento de chicoteamento da perna usado pra impulsionar o dançarino ao redor. É que em Fouettés, você fica parado no mesmo lugar, e eu vi muita gente bambeando – Taemin riu consigo mesmo – E tem posturas também, entende?

-Posturas?

-É – Taemin assentiu com o cenho franzido – Você nunca conversou com a sua sobrinha disso?

-Ahn... – Jinki desviou os olhos para o chão – Bom... Eu tentei... Mas... Não dá pra esperar muita coisa de uma criança de oito anos, né?

Taemin riu descontraidamente.

-Bom, a gente tem uma série de regras pra postura. No final, a gente até acaba tirando sarro de tanta coisa. Mas... Basicamente são coisas como... Hmm... – Taemin analisou o mais velho de cima abaixo, antes de se levantar do sofá e estender a mão a Jinki, para que ele levantasse também – Ombros pra trás – Taemin colocou-se atrás do mais velho, arrumando a postura dos ombros – Pescoço alongado. Estômago pra dentro – Deu um pequeno tapa na barriga do mais velho – Cabeça empinada, cotovelos pra cima, braços pra fora, pernas retas, coxas alongadas, quadril pra dentro, coluna reta...

-Isso é impossível!!

-E sorria! – Taemin ironizou, por fim.

Jinki curvou-se para frente, apoiando-se em seus joelhos e relaxando o corpo.

-Como vocês conseguem dançar assim?!

Taemin deu de ombros.

-Você se acostuma.

Jinki riu brevemente.

-Não dá pra acreditar – Endireitou-se – Me mostra como as bailarinas deveriam ter feito.

-Quê?! Aqui? Agora?!

-Exatamente – Jinki alongou as costas – Hm... É melhor te dar espaço – E ele simplesmente começou a afastar o sofá.

-Jinki, mas eu preciso por a sapatilha pra isso!

-Então vá colocar.

-É sério mesmo?!

-Siiiimmm! – Jinki respondeu enquanto afastava a mesinha de centro.

E, rapidamente, havia um Taemin acanhado, de bermuda e sapatilha, no centro da sala.

-Tá tudo bem?

Taemin apertou os dedos de uma mão no braço oposto.

-Eu me sinto exposto – Respondeu cabisbaixo, tentando esconder um dos pés com sapatilha atrás do outro – É Taemin com uma sapatilha, não Mina...

-Não se preocupa – Jinki sorriu – Não tô julgando você. Não vou julgar você.

-E quanto ao seu vizinho de baixo? Isso vai fazer baru-

-Ele tá viajando. Pelo menos eu acho que ele tá.

-Jinki-

-Tá tudo bem – O mais velho repetiu.

Taemin suspirou.

-Tá... Tem... Tem como por alguma música pra mim?

-M-Música? Que tipo de música? – Jinki puxou o celular o bolso, já abrindo o youtube.

-Qualquer sinfonia, eu acho. Tchaikovsky seria bom.

-E-E como é que eu escrevo isso?!

Taemin revirou os olhos, limitando-se em estender a mão para que Jinki lhe entregasse o telefone e o deixasse escrever o nome do compositor. Por fim, optou por uma versão em piano de uma das sinfonias que acabou encontrando.

E mesmo com todas as roupas no corpo, sentiu-se nu quando começou a dançar na frente de Jinki. Se antes ainda havia alguma dúvida de que Taemin era Mina, agora ela já não existia mais, pois o garoto que dançava era a cópia perfeita da bailarina que Jinki pensou que ele fosse anteriormente.

 

A melodia do piano soou, e Taemin, na impecável postura que mencionara antes, começou a dançar. Moveu a perna para o lado, num passo contínuo, criando a ilusão de um deslize.

-Isso é glissade – Taemin informou. O pé sempre em ponta, mesmo a milímetros de tocar o chão – Isso é pas de chat. Passo do gato – O mais novo saltou para o lado no ar, trazendo os pés para cima como um gato. E foi impossível para Jinki não observar as longas e torneadas pernas do garoto – Isso é fouetté en tournant – E assim como explicara anteriormente, ficou em ponta com um único pé, enquanto a outra perna o impulsionava a girar; e sempre, ao final de cada pirueta, o pé da perna que o impulsionava tocava o joelho suporte, concluindo o movimento de novo e de novo.

Mas havia uma pequena coisa que Taemin não contou a Jinki quando se faz Pirouettes: é que quem quer que esteja fazendo pirouettes vai sempre escolher um ponto fixo a sua frente para se localizar e não ficar tonto enquanto rodopia. Neste caso, tal ponto ocasionalmente acabou sendo o próprio Jinki. E a cada pirueta que o garoto dava, os olhos de ambos se encontravam.

Jinki conseguia ver claramente Mina em Taemin. Conseguia até descrever como os cabelos dela se movimentariam se a peruca estivesse ali. E, ao mesmo tempo, ele via Taemin. Girando e girando. Dançando tão esplendorosamente como se tivesse sido feito para isso.

 

E pensar que ele passou anos dançando assim escondido...

Ele era extraordinário.

 

-Por que não tenta uma carreira? – Jinki soltou antes que pudesse segurar a própria língua quando a música acabou.

Taemin sorriu tristonho.

-Se eu quisesse tentar balé pra valer, eu teria que ter feito teste nas grandes academias quando eu tinha catorze anos, e não começar a aprender balé com catorze – Deu de ombros – Fora o fato de que eu precisaria do apoio financeiro da minha família pra sobreviver e comprar sapatilhas uma vez por semana, mas eu não tenho muita certeza de que meu pai apoiaria... Sapatilhas são bem caras – Riu consigo mesmo.

Jinki, por outro lado, continuou encarando-o ao se aproximar. Tocou a bochecha do garoto com a palma da mão.

-Eu tenho essa vontade de fazer uma coisa, mas eu não sei se isso pode te machucar – Jinki falou, pouco acima de um sussurro.

Por um momento, Taemin realmente pensou se o mais velho conseguiria ouvir seus batimentos.

-Tá tudo bem. No final, tem só duas opções, e uma delas vai acabar doendo de qualquer jeito, então eu acho que eu posso muito bem aproveitar agora, certo? – Ele deu de ombros.

 

Taemin tinha razão.

Já não era mais questão de Jinki aceitá-lo como Mina ou não, porque ele já aceitou. A questão era Jinki entrar em um acordo consigo mesmo e entender se ele gostava da essência da pessoa que Mina era, ou apenas da casca chamada Mina.

Concordando em fazer o que Jinki tem em mente, Taemin pode estar apenas criando falsas esperanças e se machucar no final, caso Jinki escolha a casca; mas se isso acontecer, ele irá se machucar de qualquer jeito, não vai? Então, por que não aproveitar?

 

E assim como da primeira vez, Jinki reparou nos olhos castanhos amendoados que o fitavam, reparou no mesmo perfume de shampoo; na pele branca e nos mesmos lábios carnudos entreabertos. Fechou os olhos, e deixou-se levar pensa sensação macia em sua boca e o arrepio pelo corpo.

O mesmo toque. Os mesmos dedos curtos e finos enroscando no pano de sua camisa. Exatamente igual.

Mas dessa vez, quando se separaram do simples toque de lábios, fora Jinki quem procurou pela boca do garoto uma segunda vez, rapidamente entrelaçando as línguas; Taemin envolvendo os braços no pescoço de Jinki, e o mais velho enlaçando sua cintura. Inclinaram o rosto para o lado em uma posição mais confortável; tão naturalmente, Taemin roçava levemente as unhas na nuca do mais velho no mesmo ritmo que suas línguas se enroscavam, e Jinki penteava os cabelos do mais novo com os dedos.

Separaram-se com um suspiro, encostando suas testas e narizes, embora de olhos fechados.

-Quer tentar uma segunda vez? – Jinki sussurrou alto o bastante apenas para o menino ouvir. Em resposta, Taemin balançou a cabeça em afirmação duas vezes rapidamente, e abraçou o mais velho de súbito, afundando o rosto na curvatura do pescoço e abafando um fraco soluço.

 

De alguma forma, agora, sim, as coisas pareciam certo.

Agora aquela sensação de algo faltando sumiu.

 

Jinki sorriu e abraçou o garoto de volta.

Enterrou o nariz no cabelo do mais novo, inalando o perfume do shampoo que tanto conhecia.

E sorriu.

 

 

• • •

 

 

Um mês depois, Jinki acabou apresentando o garoto ao seu círculo de amigos, e também foi apresentado ao conhecido, nem tão conhecido assim, Kibum.

 

 

Os dois estavam no sofá da sala de Jinki, vendo algum programa de televisão qualquer. Já não importava mais se era algum filme que acabara de ser lançado nos cinemas, ou se era algum programa aleatório de culinária, porque, agora, era apenas pela pura intenção de passarem um final de tarde juntos, aconchegados um ao outro, como estavam agora. Jinki tinha suas costas apoiadas no encosto de braço do sofá, e Taemin estava deitado entre suas pernas, abraçado por seus braços.

Preguiçosamente, Jinki roçava o polegar na cintura do garoto e, vez ou outra, enterrava o nariz nos cabelos do garoto apenas para sentir o perfume do shampoo.

 

 

Jinki precisou aguentar calado a todo o discurso de “eu sabia” proferido por Jonghyun, e não escapou de uma breve bronca que o tal de Kibum resolveu lhe dar com tanta vontade.

 

 

Taemin trouxe a mão que o acariciava até seus lábios e beijou-a com carinho, logo depois aconchegando-a em sua bochecha e fazendo o mais velho rir brevemente.

Jinki envolveu o garoto em seu abraço com força, e, com um sorriso nos lábios, deu um beijo estalado no pescoço do mais novo, fazendo-o rir também. Continuou a distribuir beijos estalados e a arrancar cada vez mais risadas do garoto. Por fim, Taemin virou o rosto na direção de Jinki, e, finalmente, trocaram o primeiro beijo sério daquela tarde.

 

 

E por mais que lhe doesse admitir, o filho da mãe do Jonghyun estava certo em tudo.

 

 

Jinki desceu os beijos pelo pescoço do garoto, arrancando-lhe o primeiro suspiro quando sua língua tocou a pele do pescoço do outro. O mais velho sentiu, debaixo dos dedos, o mais novo arrepiar-se por inteiro. E, para a sua surpresa, os dedos finos e curtos do garoto enrolaram-se em seu braço, encorajando-o a seguir em frente.

-Posso? – Jinki sussurrou no pé do ouvido do menino. Taemin apenas respondeu com um aceno de cabeça.

E, finalmente, Jinki se aventurou por debaixo dos panos que Taemin vestia sem medo.

O mais novo era tão magro, tão acinturado... De pele tão macia...

Arranhou as unhas levemente pelo rastro dos dedos, prazerosamente fazendo o garoto arrepiar-se novamente enquanto continuava beijando seu pescoço com calma. Entre os suspiros, o garoto emitiu um breve e baixo som mais agudo quando Jinki tocou-lhe os mamilos.

Taemin escutou o baixo grunhido que escapou pela garganta do mais velho, e decidiu que talvez já fosse tempo de cruzar certos limites.

Mesmo ainda um pouco apreensivo, com os lábios entre os dentes, Taemin pegou a mão vaga do mais velho na sua, e começou a descê-la por seu corpo. Mesmo antes de chegar ao destino que Taemin tinha em mente, Jinki tomou a dianteira e esgueirou a mão por debaixo das cuecas do menino. Foi linda a maneira com a qual Taemin arqueou as costas com o contato inesperado.

Jinki não precisou olhar. Ele sabia que estava endurecendo.

-Jinki – Taemin chamou entre suspiros – Não... Não aí...

Jinki franziu o cenho, mas não se opôs quando o menino retirou sua mão de dentro da cueca. Mas ficou claro que Taemin tinha a intenção de parar por ali quando escondeu o rosto na curvatura do pescoço do mais velho ao colocar a mão do outro dentro da parte de trás de sua calça.

-Aqui? – Jinki sussurrou incerto.

Taemin acenou duas vezes com a cabeça.

Calmamente, Jinki desceu os dedos pelas nádegas do garoto, e pressionou de leve quando se deparou com o ânus do garoto.

Nenhuma grande reação.

Experimentou tirar e por a ponta do dedo médio algumas vezes, até que, por fim, conseguiu colocar o dedo inteiro dentro do garoto. Foi que Jinki teve certeza que estava duro feito uma pedra; foi quando sentiu o quão quente e apertado Taemin era por dentro; quando ouviu aquele gemido tão baixo, mas ao mesmo tempo tão sexy.

Por um momento, viu estrelas, e não conseguiu segurar o grunhido que lhe escapou pela garganta quando Taemin apalpou seu pênis sem avisos. Não soube dizer se deveria se sentir envergonhado por estar tão duro, ou orgulhoso.

E diante do garoto que mexia a mão acanhadamente em seu membro, Jinki pensou que talvez fosse justo fazer o mesmo com seu dedo dentro do garoto. Logo percebeu que talvez não tivesse sido a melhor das ideias fazer isso quando escutou o gemido que Taemin fez. Jinki estava completamente perdido, com o coração acelerado, e duro. Ótimo.

Não sabia o que fazer. Não sabia nem se podia fazer alguma coisa-

-Hyung... – Taemin chamou rouco, contido – Você... Quer... ?

 

Oh.

Meu.

Deus.

 

Taemin perguntou aquilo.

Taemin realmente perguntou aquilo.

-V-Você... Tem certeza?

-Uhum... – Taemin assentiu.

 

 

É, Jonghyun estava certo em tudo.

Inclusive...

 

 

-Ahnngghnn, Jinkinngh! Ahn! Ah, ah!

E Taemin o abraçava tão forte com as pernas, e enroscava os dedos com tanta força em seus cabelos, que seu ego inflou para fora da estratosfera.

Surpreendia-se toda vez que o garoto arqueava a cabeça para trás e soltava um gemido mais alto que os outros.  Ou nas vezes em que tomava seu tempo observando a expressão de êxtase naquele rosto corado e suado, com os olhos lacrimejando; a boca úmida e avermelhada, proferindo os mais lascivos sons e seu nome sendo chamado de forma arrastada no meio deles.

Jinki jamais achou que pudesse fazer um homem se sentir tão bem assim.

E jamais achou que ele mesmo se sentiria tão bem estando com outro homem.

Estando com Taemin.

 

Era... Reconfortante a maneira que o mais novo se agarrava a ele. Sentia-se importante. Querido.

Amado.

Mesmo depois de tê-lo machucado.

E sentia-se mais feliz pela vontade de retribuir todo esse carinho ao garoto.

 

-Jinki! Jinki! JINKI!!

-Taemin... Nie... Nhhnng!

Fora o clímax perfeito, um nos braços do outro, abraçados fortemente. O mais próximo que conseguiam. E permaneceram assim até suas respirações voltarem ao normal; até a camada de suor evaporar o suficiente para que as peles parassem de brilhar, e o cabelo parasse de colar à testa.

-Eu andei pensando... – Jinki iniciou a conversa vagarosamente, confortavelmente demais nos braços do garoto enquanto ele penteava seus cabelos com os dedos.

-Hm?

-Será que eu devia tentar um dia?

-Tentar o quê?

-Roupas femininas. Saias... Eu não sei...

Taemin sorriu.

-Não acho que deva. Não se force a gostar de algo que não gosta. Eu gosto. Tudo bem se você não gostar. Só basta me aceitar...

-Oh!! – Jinki apoiou-se nas mãos de súbito, saindo de cima do garoto rapidamente – Lembrei de uma coisa! – Saiu de cima da cama e correu em direção ao guarda-roupa, revirando o fundo.

-O quê? O que foi?!

-Achei!! – Jinki retirou uma caixa branca grande com um laço cetim cor creme. Caminhou em direção à cama e sentou-se ao lado do garoto – Toma – Ofereceu a caixa a ele.

-É pra mim?! – Taemin olhou desconfiado para a caixa – Que isso?

-Abre – Jinki respondeu com um sorriso alegre e tranquilo, acomodando-se ao lado do garoto.

Taemin olhou para a caixa mais uma vez; chacoalhou-a de leve, mas não ouviu barulho nenhum. Desfez, então, o laço de cetim e retirou a tampa. Deparou-se com um vestido branco com bordados em dourado. O garoto, de início, não entendeu porque Jinki estava dando aquele vestido a ele, mas bastou encarar a peça, que logo ele se lembrou.

-Aquele dia-

-Hm – Jinki assentiu. Esfregou um dos braços com a mão, encabulado – Já tem um tempo que eu comprei ele. Na época não tinha entendido direito porque eu fiz isso, e acabei guardando por achar ousado demais da minha parte dar isso pra você tão cedo.

Taemin fitou o vestido novamente, passando a ponta dos dedos pelos bordados. Não conseguiu segurar o sorriso que brotou em seus lábios. Colocou o vestido por cima do corpo e o abraçou.

-Obrigado... – Agradeceu sorrindo, fazendo beicinho com os lábios para que Jinki o beijasse.

-Sabe – Jinki correu os dedos pelos cabelos do mais novo – Você devia deixar crescer. Acho que combinaria com você.

-Meu cabelo? Não acho que meu pai vá permitir isso – O mais novo tocou alguns fios – Heeeeyy! – Deu um soco de leve no braço do mais velho – Dando vestidos... Sugerindo que eu deixe meu cabelo crescer... Você não tá tentando me transformar numa mulher de verdade, tá?!

-Quê?! Eu tava só sugerindo! E eu acabei de levar um soco?? Me devolve esse vestido que eu vou devolver pra loja!

-Já faz quase dois meses que você comprou isso. Eles não vão querer isso de volta – Taemin afastou o vestido do mais velho e mostrou a língua.

-É, mas a etiqueta ainda tá nele! Eles ainda podem aceitar. Me devolve, seu diabinho!

-Não mesmo!!

 

E na primeira investida que Jinki tentou para pegar o vestido, Taemin fora mais rápido, jogando a peça longe e colocando-se no meio do caminho. O que Jinki conseguiu, em vez disso, fora um delicioso e apaixonado beijo, do qual não conseguiu escapar.

E nem queria~

 

 

Ainda havia um importante fato o qual precisavam resolver:

Taemin ser filho do chefe.

Mas isso é uma história para outro dia~

 


Notas Finais


<3


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