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História Lewstale - The Alternative Universe (Undertale AU) - A Cozinheira


Escrita por: Drajur44

Notas do Autor


Olá, meu caros leitores!

Depois de basicamente um mês, eu voltei! E, como eu tinha dito no capítulo passado, esse era para ser o capítulo final, mas eu percebi que o capítulo ficou enorme e tinha ultrapassado uma marca de 23.000 palavras e eu nem havia chegado ao fim.

Eu percebi que ficaria muito grande e cansativo e eu possivelmente demoraria mais para postá-lo, então pensei em dividi-lo para que vocês não tivesse que esperar tanto. Enfim, esse é o penúltimo capítulo e eu sei que ele está enorme também, então me desculpem (ou não, sei lá ksdjkdsj) por isso.

E sim, eu admito que essa foi a capa mais preguiçosa que eu fiz entre todas as outras porque eu tinha programado uma capa para o capítulo final, mas eu dividi ele e não tive a menor ideia do que colocar no lugar, então vai ficar isso por enquanto. Eu tive uma ideia de capa, mas talvez eu demore para colocá-la em prática e não sei se aceitarão que eu a coloque, mas vou dar uma checada nisso depois ksks.

Enfim, eu não sei muito bem o que falar sobre esse capítulo, ele teve muitas cenas tensas no geral e eu fiquei presa durante muito tempo na primeira cena (sim... não fez sentido eu ter ficado presa lá, mas eu fiquei >:( ) querendo tacar fogo em uma certa sacola, mas consegui e cheguei bem perto do fim, dividindo o cap bem no meio e transformando em 18 e 19.

Certo, vou deixar vocês lerem logo e parar de prolongar mais essas notas kjsdkdsjdss-

Boa leitura e bebam água, pessoal (inclusive durante esse capítulo, porque ô bichinho grande.)

Capítulo 18 - A Cozinheira


Fanfic / Fanfiction Lewstale - The Alternative Universe (Undertale AU) - A Cozinheira

 

 — Droga, isto é muito pesado! — Resmungou Muffet enquanto tentava levantar uma enorme sacola de pano cheia de ingredientes para a cozinha, com um arrependimento perceptível em sua voz por não ter aceitado a ajuda oferecida pelo guarda real que vigiava a entrada do castelo em Hotland.

 

 A cozinheira depositou cautelosamente a sacola no chão dourado e brilhante do salão de entrada e passou sua mão por sua testa para limpá-la, soltando um longo suspiro cansado e voltando a encarar a sacola com uma expressão angustiada, que logo foi substituída por uma confusa ao ouvir o som de vários passos vindos da parte de fora do castelo, logo atrás da enorme porta principal, decorada com diversos detalhes e um enorme símbolo da runa delta no topo, que se encontrava fechada.

 

“Guardas? Aqui tão cedo? Mas ainda falta um bom tempo antes da noite cair.” — Pensou Muffet, com uma expressão confusa e desconfiada voltada para o portão, pois o turno da maioria dos guardas passou a durar até tarde da noite, fazendo o castelo ficar quase completamente vazio durante todo o dia, tendo como segurança apenas alguns guardas escolhidos pessoalmente pelo rei e os funcionários do castelo.

 

Muffet deu de ombros e voltou seu rosto para a sacola quando a enorme porta se abriu, indiferente com a fileira de guardas que saiu marchando por ela, e agachou-se para tentar segurar a sacola de um modo que conseguisse levantá-la com mais facilidade, mas sua atenção foi nova e rapidamente puxada para os guardas quando percebeu alguém aparentemente familiar escondido entre eles ao lançar um rápido olhar de relance em sua direção.

 

A cozinheira piscou rapidamente e levantou um pouco mais seu pescoço para conseguir enxergar melhor, pensando que talvez tivesse sido apenas impressão sua, mas a curiosidade em sua face rapidamente se converteu em uma surpresa e abalada quando viu quem era.

 

Um medo a tomou quando ela viu Lew, cuja face estava dominada por uma expressão abatida e cansada, sendo empurrado para frente pelos guardas reais que adentraram o castelo em uma marcha ritmada, indo em direção às celas, fazendo a cozinheira apenas encará-los silenciosamente sem poder mover nenhum músculo para ajudar seu aliado. Não podia fazer nada naquele momento, caso contrário, ambos ficariam na mesma situação.

 

A cozinheira alongou seus lábios e franziu um pouco seu cenho, soltando um suspiro irritado e incomodado, tentando se acalmar, e seguiu Lew com seu olhar até o mesmo desaparecer de sua vista ao entrar em outra sala, a qual possuía um portão tão grande quanto o da entrada. “O que... aconteceu? Isso não estava nos planos... A humana... ela... Será que ela foi...” — Muffet interrompeu seus pensamentos, voltando seu olhar para o chão, sentindo-se um pouco tonta e nervosa, e tentou respirar fundo para recuperar sua estabilidade.

 

A cozinheira cerrou seus olhos, apertando um pouco a alça de plástico da sacola, e voltou a encarar a porta, a qual os guardas haviam adentrado com Lew segundos antes, pensando no que deveria fazer a seguir.

 

 — Incrível, não? — Perguntou uma voz grave e inesperada detrás da cozinheira, a fazendo virar seu rosto imediatamente para trás, surpresa e um pouco assustada, percebendo um guarda real, que possuía um brasão com o símbolo da runa delta em seu cinto e antes vigiava a entrada, a encarando com seu capacete escuro, o qual cobria inteiramente seu rosto, permitindo que apenas um de seus olhos roxos pudesse ser visto.

 

 O guarda real colocou suas mãos em sua cintura e encarou-a um pouco sem jeito por tê-la assustado sem querer chegando silenciosamente sem nenhum aviso prévio, fazendo a aranha forçar um pequeno sorriso gentil, como cumprimento.

 

— Ah, você me assustou. — Disse a cozinheira, fazendo o guarda real fechar seu único olho visível e abaixar um pouco sua cabeça, colocando uma de suas mãos na parte esquerda de seu peito, como um pedido de desculpas.

 

— Perdoe-me, eu não deveria ter chegado dessa maneira... — Retrucou o guarda, voltando à sua posição original e fazendo o sorriso da aranha desaparecer quando a mesma voltou seu olhar inexpressivo para o chão. — O rei vai adorar essa notícia. Quem sabe ele diminua o tempo das jornadas, enfim? — Prosseguiu o guarda, com um tom de voz casual e um pouco mais aliviado, fazendo Muffet soltar um pequeno “é” quase completamente silencioso e virar seu rosto para a sacola com uma expressão distante e receosa em seu rosto.

 

O guarda inclinou um pouco sua cabeça para o lado, confuso com a reação da cozinheira sentada no chão dourado, e soltou seus braços, erguendo sua mão na direção da cozinheira, como se estivesse oferecendo novamente sua ajuda.

 

— Ainda quer ajuda com a sacola? — Perguntou, com um tom de voz gentil, fazendo Muffet retribuir com um pequeno sorriso desanimado e segurar sua mão, levantando-se rapidamente, a puxando como apoio.

 

— Acho que eu vou aceitar sim dessa vez. — Respondeu Muffet, aumentando levemente seu sorriso e empurrando a sacola, com dificuldade, um pouco para frente com um de seus pés, colocando todos seus braços atrás de suas costas, com suas sobrancelhas arqueadas.

 

A cozinheira saiu o mais rapidamente que pôde do salão principal com o guarda, que também parecia estar tendo bastante dificuldade em carregar a pesada sacola, até chegar à cozinha e indicar um balcão onde ele poderia colocá-la, concluindo seu favor e indo embora, recebendo um rápido agradecimento da aranha, que permaneceu encarando a porta da cozinha com um enorme sorriso paralisado, até se certificar de que ele realmente havia saído.

 

Um semblante sério preencheu instantaneamente o rosto arroxeado da aranha, a fazendo desmanchar seu sorriso e virar-se de costas para a porta, encarando um dos longos balcões de madeira escura com portas cor de rosa da cozinha, a qual possuía paredes bege com linhas verticais pintadas com um rosa um pouco mais claro que o dos balcões, sem focar nele.

 

Sua expressão permaneceu pensativa e séria por alguns instantes até que a cozinheira quebrou repentinamente a serenidade do lugar com um rápido sinal com sua mão, o qual atraiu a atenção algumas pequenas aranhas, que descansavam calmamente no teto, as fazendo descer dele com a ajuda de algumas finas  e quase transparentes teias, pousando no balcão lentamente

 

— Sei que estão ocupadas agora, mas só pedirei mais um favor... — Solicitou Muffet, com um tom de voz baixo e tenso em sua voz, tomando todo o cuidado para que ninguém a ouvisse. As pequenas aranhas entreolharam-se por alguns segundos e assentiram ao pedido da cozinheira, a encarando atentamente, prontas para levarem qualquer mensagem.

 

 

Enquanto isso, muitas salas de distância do salão principal, em um andar um pouco mais abaixo da área social do castelo, o esqueleto de bandana recebia vez por outra alguma cutucada de uma lança de algum guarda real, como aviso para que descesse as escadas escuras e comprimidas, feitas com uma espécie desgastada de pedra escura, acinzentada e úmida, provavelmente por culpa de algum encanamento falho, com mais rapidez.

 

Os guardas o guiaram até o fim da escada, que levava para um longo corredor semelhante a um túnel de metrô, com diversas celas dispostas em suas paredes de pedra, o empurrando até o fim do mesmo, com impaciência.

 

Lew andou vagarosamente, analisando com cuidado o cômodo ao seu redor e observando os prisioneiros das celas de relance, na esperança de encontrar seu amigo de fogo azul desaparecido, mas o que Muffet havia dito era verdade. Não havia nenhuma sombra de certeza de que Grillby tivesse sido levado e trancafiado naquele lugar macabro.

 

O esqueleto de bandana arqueou suas sobrancelhas e estremeceu quando o puxaram bruscamente para trás, impedindo que se chocasse contra a enorme parede de tijolos de pedra à sua frente, a qual anunciava o fim da prisão, graças à sua distração. Dois guardas que o estavam segurando lançaram-lhe olhares de desaprovação e afastaram-se alguns passos, o puxando um pouco para trás e abrindo espaço para a chefe da guarda real, que deu um passo à frente, aproximando-se da parede.

 

Undyne retirou um chaveiro repleto de chaves acinzentadas, que provavelmente abriam cada uma das celas daquele calabouço, de seu cinto, destrancou um dos portões reforçados de uma das últimas celas e apontou para ele com sua mão coberta por uma enorme luva metálica e uma expressão séria em seu rosto.

 

— Entre. — Ordenou Undyne, com um tom de voz firme, franzindo levemente seu cenho, fazendo Lew soltar um suspiro cansado e entrar sem nenhum tipo de relutância. Assim que entrou, a chefe da guarda fechou o portão da cela com um movimento forte e brusco, fazendo um alto som de metal batendo ecoar pela prisão. — É bom você torcer para que Flowey não tenha guardado rancor daquela última vez, Lew. — Advertiu, com um tom de voz rude enquanto abaixava levemente sua cauda.

 

— Eu não preciso do perdão daquele psicopata... — Sussurrou Lew, com sua cabeça abaixada, recebendo um olhar cerrado de reprovação da chefe da guarda, que conseguiu escutar a frase do menor e se afastou com seus guardas em seguida, voltando para o andar de cima e deixando Lew trancafiado naquela cela.

 

O esqueleto de bandana esperou até que estivessem longe o bastante e analisou a cela por alguns minutos, procurando algo que pudesse usar como escapatória, mas não havia nada naquele lugar. Nada a não ser uma longa corrente grudada à parede, algumas pedras espalhadas pelo chão empoeirado e um banco de pedra desconfortável, que fez Lew se questionar se aquele lugar era mesmo uma cela permanente, por conta da absurda falta de conforto para os prisioneiros.

 

Lew soltou um suspiro nervoso, encarou o banco por alguns silenciosos segundos, passeando com seu olhar pelas paredes gastas de pedra, e levantou levemente sua cabeça ao sentir como se estivesse sendo observado por algo ou alguém.

 

— É, não é tão boa quanto a em que eu estive, mas acho que dá para o gasto para você. — Argumentou uma voz familiar vinda da parte de fora da cela, que fez o esqueleto voltar imediatamente sua atenção para o dono da voz, assustando-se com a presença inesperada do monstro que surgiu das sombras. — Oi, carinha da pizza. — Cumprimentou Galaze, com um sorriso malicioso em seu rosto, que fez Lew recuar um passo e arquear uma de suas sobrancelhas, desconfiado.

 

— Você... — Disse Lew, com um tom de voz baixo, cerrando seus olhos e relembrando-se do último encontro desagradável que teve com o suposto “Jorge”, morador de Waterfall. “Pelo visto eu estava certo. Por que isso não me surpreende?” — Perguntou ironicamente Lew em seus próprios pensamentos, referindo-se à sua suspeita de que ele era o monstro irreconhecível do mesmo dia em que descobriu os planos de Flowey.

 

O esqueleto de rosto riscado fingiu uma expressão admirada, mantendo seu sorriso e arqueando suas sobrancelhas, e levou uma de suas mãos para a parte de cima de seu esterno.

 

— Oh, o protagonista lembra de mim? Estou lisonjeado. — Debochou o esqueleto, apoiando-se na larga parede ao lado das barras de metal da cela com os braços cruzados, encarando Lew. O esqueleto de bandana cerrou seus olhos com um pouco de irritação e arqueou uma de suas sobrancelhas confuso pelo fato de ele tê-lo chamado de “protagonista”.

 

— O que você quer? — Perguntou Lew, soltando um suspiro cansado e encostando suas costas em uma das paredes da cela, observando o teto com um ar distraído, suspeitando de que seu visitante fosse zombar de sua situação. Galaze se desencostou da parede por um momento e deu de ombros, com seu longo sorriso relaxado em seu rosto.

 

— Ah, nada demais, sabe? Só o de sempre, ver o novo saco de pancadas do mestre ao vivo e convidá-lo para um jantarzinho amigável. Não sabe o quão feliz o Flowey ficou quando soube que o convidado de honra dele veio. — Respondeu a sombra, com um tom de voz tranquilo, que fez o esqueleto de bandana franzir sua testa, confuso.

 

— Jantar amigável? — Perguntou Lew, com um tom de voz irritado com o nível de deboche da flor ao querer convidá-lo para uma espécie suspeita de jantar depois de tudo que fez. — Em que tipo de pedra aquele doente bateu a cabeça para achar que eu aceitaria alguma coisa dele? — Prosseguiu, com um tom de voz áspero, fazendo a sombra soltar uma pequena risada curta com a irritação do menor.

 

— Querendo ou não, você vai. Gostaria de lembrá-lo que aqui você não tem escolha. — Retrucou a sombra, analisando, em seguida, o esqueleto de bandana com um sorriso, que se desfez quando seu olhar bateu em algo prateado, que estava a mostra, mesmo com uma grande parte de sua superfície escondida, dentro do cachecol abaixado dele. — Uuuuhhh... O que é isso? — Perguntou, com um tom de voz repentinamente interessado, assustando Lew quando se desmaterializou em uma sombra, atravessando as barras e adentrando a cela, com uma grande agilidade e velocidade em seu movimento, arrancando um celular de dentro de seu cachecol avermelhado, fazendo com que o de bandana recuasse alguns passos pelo susto.

 

— Espera! Você não... — Lew interrompeu-se ao perceber que a sombra havia pegue o celular que Frisk entregou-lhe mais cedo e que quase esqueceu que estava consigo, arregalando suas órbitas, surpreso.

 

— Um celular? — Perguntou o esqueleto de rosto riscado, cerrando um pouco seus olhos, com uma expressão um pouco séria, segurando o celular entre a ponta de seu indicador e de seu polegar, o deixando instável e prestes a cair. Ele o observou por alguns rápidos segundos, o lançou para cima, assustando Lew, e o pegou novamente com sua mão, a fechando ao seu redor, com um sorriso entretido em seu rosto. — Que luxo para um prisioneiro. Acho que eu vou ficar com isso. — Disse Galaze, com mais um sorriso malicioso em sua face sombria, fazendo Lew investir um pouco na direção do esqueleto para tentar pegar o seu celular com sua magia e falhando miseravelmente por conta do feitiço de cancelamento das algemas, que esqueceu que ainda estavam em seus pulsos. — Ow, calma, amiguinho. Eu não faria isso se fosse você. — Ameaçou a sombra, fazendo Lew recuar ao invocar um espinho negro de uma das sombras da cela escura, o qual ergueu-se rapidamente e parou bem próximo ao pescoço do de bandana, o cortando superficialmente, e fazendo Lew cerrar seus dentes, irritado.

 

O esqueleto de rosto riscado riu um pouco da situação em que o prisioneiro se encontrava e desmaterializou-se saindo da cela e balançando o celular de um lado para o outro, com um tom zombaria em sua ação, desaparecendo em seguida com o celular de Lew.

 

O esqueleto de bandana encarou o lugar onde Galaze encontrava-se segundos antes, com uma expressão frustrada, e voltou suas costas para a porta da cela, andando lentamente por ela, encarando o chão com uma expressão pensativa. Lew parou repentinamente, soltando um suspiro cansado, e se encostou na parede com uma expressão preocupada em seu rosto.

 

Certo, mais um potencial plano meu foi por água abaixo... O que me resta é esperar e torcer para que não façam nenhuma decisão precipitada.” — Pensou Lew, sentindo um medo e uma ansiedade enorme dominá-lo por um momento, fazendo-o  fechar seus olhos com força e imaginar a pior das hipóteses.

 

Vamos, Lew, desista logo. Sabe que nunca vai conseguir proteger todos. Alguma hora você vai baixar a sua guarda e alguém vai morrer.” — A frase que Flowey disse veio à tona à sua cabeça depois de meses enterrada nas profundezas de seu subconsciente, deixando-o mais tenso e fazendo com que abaixasse sua cabeça com uma expressão mais preocupada ainda. “Eu tenho que sair daqui...

 

 

 

Quebra de tempo

 

Zakhary soltou um longo suspiro inquieto e angustiado ao parar de andar em círculos e observar pela janela, frustrando-se pela décima vez por seus amigos ainda não terem chegado.

 

Toriel, que havia acabado de chegar com Napstablook à casa, carregando consigo mais alguns itens de alto valor sentimental encontrados pelas Ruínas, estava na sala de jantar com o fantasma, o médico e o ex-rei. A mulher cabra encarou o pequeno dinossauro, que se aproximou mais uma vez da janela, com um olhar receoso e aflito em sua face peluda e posicionou seus braços ao redor de sua barriga, soltando um suspiro triste, fazendo Napstablook parar de flutuar pela casa, observando as paredes, e voltar sua atenção para sua amiga, arqueando suas sobrancelhas e sentindo-se um pouco triste.

 

A mulher cabra abaixou um pouco sua cabeça e depois lançou repentinamente um olhar de irritação e reprovação para Asgore sentado na poltrona, como se estivesse o convencendo silenciosamente a fazer algo para despreocupar o dinossauro, pois todas as suas tentativas haviam falhado. O ex-rei apenas arqueou suas sobrancelhas, surpreso, e a encarou com um olhar confuso e um pouco amedrontado com o olhar ameaçador que recebeu seguida, como resposta.

 

Napstablook limpou rapidamente seus óculos, recolocando-os em seu rosto e franziu seu cenho com um olhar determinado, tentando imitar o mesmo olhar da humana, flutuando um pouco mais para perto do dinossauro e abrindo sua boca para tentar consolá-lo, mas sua nobre tentativa foi rapidamente interrompida pelo barulho de passos apressados vindo da parte de fora da enorme área, onde encontrava-se a casa de Toriel, que atraiu a atenção todos da casa.

 

M.K levantou seu olhar e encarou a entrada esperançoso, arqueando suas sobrancelhas ao ver Papyrus adentrando a sala rapidamente com Frisk em suas costas. O dinossauro correu até a porta e a chutou com veemência para abri-la, correndo até o esqueleto de armadura e o ajudando a levar a humana de joelho machucado para dentro da casa, com uma expressão extremamente preocupada.

 

Quando adentraram a casa, Papyrus sentou-se em uma das cadeiras de madeira acolchoadas, logo após ajudar a humana a sentar-se na poltrona, com uma expressão exausta, arfando por conta de sua fuga atribulada, enquanto Toriel corria pela casa em busca do kit de primeiros socorros e M.K sentava-se no chão ao lado de Frisk, com uma expressão receosa em seu rosto.

 

Toriel voltou rapidamente de seu quarto segurando uma caixa vermelha com uma cruz branca desenhada em sua superfície a ajoelhou-se perto da humana, abrindo a caixa, com uma expressão muito preocupada, e retirando alguns esparadrapos e gazes.

 

O médico analisou o joelho da humana com uma expressão tensa por alguns instantes e quando percebeu que seu machucado não era tão sério, a aliviou e voltou seu olhar sério para seus arredores em busca de alguém, que aparentemente não havia adentrado a casa com eles.

 

— Onde está o Lew? — Perguntou Gaster, erguendo os prolongamentos de seu terno, com um tom de voz firme, mesmo que estivesse sentindo uma leve preocupação por dentro, temendo a possível resposta que receberia.

 

O esqueleto de armadura e a humana voltaram seus olhares do de terno para o chão, com expressões melancólicas em seus rostos, fazendo William estremecer um pouco e ter quase certeza de qual seria a resposta que receberia.

 

— Eles... conseguiram pegá-lo... — Respondeu Papyrus, quase em um sussurro, fechando seus olhos com força para tentar impedir que algumas lágrimas preocupadas caíssem, fazendo com que Napstablook recuasse um pouco, arregalando seus olhos e deixando as expressões dos outros monstros na sala tensas.

 

A humana apenas manteve silêncio, franzindo sua testa com irritação enquanto encarava suas mãos arranhadas pela queda no chão acidentado de Hotland.

 

— É tudo culpa minha. — Afirmou Frisk, com um tom de voz irritado e cheio de culpa, fazendo M.K cerrar seus olhos em desacordo e Toriel encará-la com uma expressão aflita e boquiaberta.

 

— Não diga isso, minha criança! — Repreendeu Toriel, franzindo seu cenho e apertando sem perceber o pedaço de pano que enrolou no joelho machucado da humana com um pouco mais de força, fazendo Frisk se arrepender de ter dito aquilo, pois sentiu uma pontada de dor aguda no seu joelho, que a fez fazer uma careta, por causa da dor.

 

— Isso poderia ter acontecido com qualquer um, Frisk. — Complementou M.K, com um tom de voz sério, fazendo Frisk encarar o curativo que a mulher cabra fazia, com uma expressão triste. “Mas... Mas ninguém teria sido tão burro quanto eu fui.” — Retrucou Frisk, em seus pensamentos, alongando sua boca e cerrando seus punhos com força, tentando segurar sua vontade de chorar.

 

Quando Toriel terminou o curativo, colocou sua pata peluda no ombro de Frisk, com um tom consolador em sua ação, fazendo-a encará-la com um pequeno sorriso triste por um tempo, recuperando sua expressão abatida em seguida. Após isso, a mulher cabra levantou-se e pegou o kit de primeiros socorros, com a intenção de guardá-lo, mas Zakhary o tomou gentilmente de sua mão com sua cauda, fazendo-a encará-lo um pouco confusa.

 

— Não se preocupe, eu guardo. — Disse M.K, com um ar prestativo, recebendo um sorriso fraco da mulher cabra e saindo da sala rapidamente.

 

— Essa é uma terrível notícia! — Exclamou Asgore, quando o dinossauro se afastou o suficiente, com um tom de voz agitado e preocupado, recebendo um assentimento lento da cabeça de William, que cerrou seus dentes enquanto encarava o chão com uma expressão preocupada e reflexiva.

 

— O que faremos agora? — Perguntou Frisk, quase em um sussurro, voltando vagarosamente seu rosto para a direção do esqueleto de armadura, procurando-o como se fosse um substituto temporário para Lew. Papyrus, por sua vez, fechou seus olhos tentando pensar em algo, por mais que ele achasse que suas ideias não eram tão boas quanto a de seu irmão.

 

O mais alto franziu seu cenho por um tempo até que abriu seus olhos e observou ao seu redor, percebendo que todos estavam encarando-o com olhares esperançosos por sua possível resposta, e sentiu-se um pouco desconfortável por ser o foco das atenções dos que estavam na sala, arrumando sua postura e pigarreando, em seguida, com um pouco de nervosismo.

 

— E-eu conheço meu irmão. Sei que, se estivesse aqui, a última coisa que gostaria era que nos arriscássemos para resgatá-lo. Eu acho melhor continuarmos com o plano original dele, mas... talvez possamos adicionar um resgate de alguma forma.. — Respondeu Papyrus, com um tom de voz trêmulo e aflito, recebendo mais alguns olhares dos outros.

 

A humana soltou um suspiro relutante sobre o fato de deixar Lew mais tempo que o necessário naquele castelo com aquela flor imprevisível, mas assentiu à recomendação do de armadura, voltando seu olhar para seu joelho, que começou a latejar um pouco de dor, possivelmente por conta de a adrenalina daquele momento ter se esgotado, restando apenas um enorme sentimento de culpa em seu peito.

 

— Eu acho que isso seria o mais sensato a se fazer. Flowey não parece ser o tipo de monstro que mataria Lew rapidamente. Talvez ele tente retirar alguma informação dele ou utilizá-lo como uma moeda de troca para obter a alma dessa humana. — Complementou William, aproximando-se de Papyrus com uma expressão mais segura em seu rosto, que, diferentemente das últimas que dera, acalmou o esqueleto de armadura.

 

— Ademais, Flowey deu sua ofensiva ao capturar Lew. — Prosseguiu o médico, franzindo seu cenho, formando, em sua face, uma expressão um pouco mais irritada, mas mantendo seu tom de voz calmo. — Daremos a nossa também. O plano inicial que Lew criou não funcionará nessas circunstâncias, teremos de fazer o que evitamos... É a única forma. — Concluiu, com um tom de voz firme, fazendo com que os outros o encarassem com olhares hesitantes e assentissem mesmo assim.

 

— Se vai ser assim, tudo bem. Eu prometo que não vou agir imprudentemente como hoje mais cedo. — Assegurou Frisk, com um tom de voz cheio de culpa, franzindo seu cenho e formando uma expressão séria e determinada. A humana cerrou seu punho e o levantou um pouco para reforçar ainda mais sua afirmação e prosseguiu. — Eu vou ajudar com tudo que eu puder. Nós vamos conseguir salvar o Lew, pessoal! De um jeito ou de outro, iremos. Qual o plano? — Perguntou, com um sorriso animado, que levantou, mesmo que levemente, o astral dos monstros que estavam naquela sala, recebendo como resposta um pequeno assentimento do esqueleto de terno, que havia se interessado pela estranha animação repentina da humana.

 

William aproximou-se da mesa, onde Papyrus e Asgore estavam sentados, e retirou uma pequena caneta de um bolso escondido na parte de dentro de seu terno, próximo à sua gravata, a girando agilmente por alguns segundos e apontando para a pilha de relatórios, que Lew havia organizado mais cedo, mantendo sua postura séria.

 

— Muito antes de eu cogitar vir para cá, trabalhei ao redor do plano de vocês, identificando algumas falhas estruturais. Eu gostaria que Lew estivesse conosco para que cumpríssemos esse plano todos juntos, mas como isso não será possível, terei que refazer alguns pontos. A nova estratégia que planejei foi a seguinte... — Gaster começou a explicar o plano calmamente, tomando o cuidado de detalhar cada pequena parte para que tudo ficasse claro para os outros e para que não ocorressem erros graves em seu planejamento que pudessem comprometê-lo.

 

Minutos depois, quando William concluiu a explicação do plano e respondeu algumas perguntas, a grande maioria vinda de Napstablook, que estava extremamente preocupado quanto ao risco que seus amigos correriam, Frisk arqueou suas sobrancelhas, impressionada com o plano, e tentou aproximar-se um pouco, sem se levantar da poltrona, em que estava sentada, por conta de seu joelho dolorido.

 

— Isso tudo? Tem certeza que vai funcionar? — Perguntou Frisk, com um pouco de hesitação e incerteza em sua voz, fazendo o médico soltar um suspiro tenso e se apoiar na mesa com suas duas mãos, ficando de costas para a humana, enquanto analisava superficialmente os relatórios, agora dispersos, pela superfície de madeira da mesa.

 

— É o melhor que temos. — Respondeu William, com um tom de voz baixo, franzindo sua testa enquanto encarava um dos relatórios. Um longo silêncio se estendeu pela sala até Papyrus quebrá-lo ao se levantar e ir até a estante, pegando alguns pequenos papéis em branco e atraindo a atenção do de terno, que o encarou por cima de seu ombro, sem se desapoiar da mesa.

 

— Nyeh... Se vamos fazer isso, temos que avisá-los o mais rápido possível, certo? — Perguntou o esqueleto de armadura, retoricamente, com um pequeno sorriso fraco em seu rosto, largando os papéis na mesa e fazendo William pegar um deles e assentir com os outros um pouco mais confiantes. — Vamos resgatá-lo, irmãozinho, não se preocupe... — Concluiu o mais alto em um sussurro, com uma expressão angustiada em sua face, a qual permanecia voltada para a mesa.

 

O silêncio que pairava pela sala foi quebrado repentinamente pelo dinossauro de capa quando ele a adentrou rapidamente, com uma perceptível agitação em seu rosto e seu andar, preocupando a humana e fazendo com que todas as atenções dos que estavam lá se voltassem para ele.

 

— Lew chegou ao castelo. — Alertou M.K, indo direto ao ponto, como sempre, com sua expressão séria, erguendo um pouco mais sua cauda e mostrando uma pequena aranha, a qual possuía listras roxas em suas patas, sobre ela, justificando o motivo de sua demora para guardar um pequeno kit de primeiros socorros. — E a Muffet quer saber o que deve fazer agora. — Concluiu, aproximando-se da mesa retangular da sala e pousando lentamente sua longa cauda na mesma, permitindo que a aranha pulasse para ela em segurança.

 

Papyrus encarou a pequena aranha com uma expressão receosa junto da humana enquanto Napstablook aproximava-se dela e a encarava, arqueando uma de suas sobrancelhas, confuso, sentindo uma sensação de familiaridade, pois podia jurar que já havia visto muitas iguais a ela passeando pelas Ruínas.

 

— Agora nós iremos pôr o plano do cara de terno em prática. — Respondeu Frisk, franzindo seu cenho, determinada, fazendo M.K encará-la com um olhar um pouco confuso, pois havia perdido a parte em que eles haviam decidido algo sobre um “plano”.

 

William aproximou-se da pequena aranha e entregou-lhe um pequeno papel, que continha uma mensagem para Muffet, escrita rapidamente há cinco minutos atrás pelo de terno.

 

— Chame suas amigas. Precisamos enviar mais mensagens. — Pediu Gaster, em seguida, com um tom de voz rígido, inclinando-se um pouco mais para frente. Como resposta, a aranha deu alguns pulinhos, confirmando seu pedido, e se afastou após colocar o papel em suas costas, pulando na parede e entrando por uma pequena fresta, próxima à janela, por onde saiu da casa.

 

 

Enquanto isso, em Hotland, Mettaton encarava a porta automática da entrada direita do laboratório de Alphys há alguns minutos, com hesitação, forçando-se a não lembrar do diálogo que teve meses atrás com os irmãos esqueleto, temendo que sua programação a atacasse novamente, mas falhando em sua tentativa fajuta.

 

Blooky... Eu...” — A robô balançou sua cabeça, tentando interromper sua preocupação, e voltou seu olhar irritado para o chão alaranjado, cerrando seus punhos e mudando seu pensamento, se perguntando o motivo de Alphys querer vê-la tão repentinamente. “Provavelmente essa porcaria avisou sobre aquilo para ela.” — Pensou, encarando seu cinto duplo, com uma expressão de repulsa e irritação, como se apenas seu ódio pudesse livrá-la da programação assassina, mas, infelizmente, não podia.

 

Mettaton fechou seus olhos, tentando encobrir seus sentimentos negativos, e deu um passo à frente, ativando, finalmente, a porta automática, que se abriu, revelando Alphys, sentada em sua cadeira, encarando o seu computador, com uma expressão preocupada, enquanto batia frenética e involuntariamente seu pé no chão.

 

A cientista voltou seu rosto para a robô e sua expressão murchou ainda mais, deixando Mettaton confusa e a fazendo se aproximar um pouco mais preocupada com sua amiga.

 

— Alf? Você está bem? Que cara é essa, querida? — Perguntou Mettaton, esquecendo momentaneamente todos os pensamentos ruins que a afligiam e focando-se na cientista inquieta à sua frente, com uma expressão receosa em seu rosto robótico.

 

A cientista real abaixou um pouco seu rosto, ficando em silêncio por alguns segundos, até que finalmente levou sua mão até seus óculos redondos, os ajeitando em sua face e abrindo sua boca para falar algo.

 

— Eu quero que te pedir uma coisa... — Respondeu Alphys, fazendo uma expressão séria surgir no rosto da apresentadora, que se aproximou um pouco mais e colocou sua mão no ombro de sua amiga.

 

— Quem te machucou, Alphys? Eu o farei pagar com sua vida. — Disse Mettaton, com um tom de voz ameaçador, cerrando seus olhos, sentindo sua programação assassina sendo ativada lentamente, mas sua expressão amenizou-se um pouco quando a cientista negou com um rápido movimento de sua cabeça e parou de bater seu pé no chão.

 

— Ninguém. — Respondeu a cientista, com um tom de voz acelerado, fazendo a robô arquear uma de suas sobrancelhas e esticar seus lábios, confusa. Alphys limpou sua garganta e prosseguiu, com um tom de voz hesitante. — Eu queria... te pedir desculpas... — Concluiu, fazendo Mettaton retirar seu braço do ombro dela e soltá-lo, como um pedaço flácido de corda, apoiado apenas pelo seu ombro.

 

— Me... pedir... desculpas? — Perguntou Mettaton, sem conseguir entender a aleatoriedade daquele assunto repentino, fazendo sua expressão relaxar um pouco, mas mantendo a confusão estampada em sua face metálica.

 

A cientista se levantou da cadeira em que estava sentada e andou até uma bancada cheia de equipamentos e peças desconectadas de máquinas, retirando de lá um pequeno CD sem nome de baixo de alguns papéis rabiscados e o entregando para a robô, que o segurou e analisou em sua longa luva roxa.

 

— Esse CD possui os códigos para eliminar a programação assassina que coloquei em você sem sua permissão... — Esclareceu Alphys calmamente, sentindo uma grande sensação de remorso em si, fazendo a robô arquear suas sobrancelhas, com sua boca entreaberta, surpresa.

 

De todos os motivos que Mettaton havia imaginado que poderiam ter feito a cientista chamá-la, aquele foi o único que jamais teria passado por sua cabeça, algo que a deixou ainda mais confusa sobre a mudança de opinião de Alphys, que abaixou um pouco sua face, soltando um curto suspiro angustiado.

 

— Eu... Eu arranquei você da sua família porque queria pôr em prática um de meus experimentos com almas de monstros em corpos artificiais e, esse tempo inteiro, todas as escolhas que fiz, desde o dia em que te trouxe das Ruínas para cá, até hoje, foram ruins... Todas em prol dos meus objetivos egoístas... Você tentava me alertar sobre Flowey, mas... Eu já sabia... Apenas virava meu rosto para a ilusão do lado bom do caminho, querendo proteger meu passado. Eu não sou melhor que aquela flor... Talvez seja até pior... Eu não merecia ter alguém tão boa quanto você ao meu lado... E-eu... Sinto muito... Sinto muito por ter sido tão cruel com você, Met-Mettaton. — Desculpou-se Alphys, com sua voz trêmula e angustiada, aliviada por ter desabafado, mas infeliz por tudo o que fez com ela, fazendo a robô encará-la incrédula, segurando o CD com mais firmeza, como se sua vida dependesse daquilo.

 

A cientista levou uma de suas mãos até seu rosto, tentando enxugar algumas lágrimas que desciam lentamente, fazendo Mettaton desviar seu rosto, agora sério, para o lado oposto de onde Alphys estava, com um ar pensativo sobre tudo aquilo que foi dito.

 

Um silêncio desconfortável dominou a sala enquanto Alphys soluçava um pouco e Mettaton alisava o CD entre seus dedos, com cuidado. A cientista respirou fundo, acalmando-se e limpando seus óculos manchados, e prosseguiu, ainda com sua voz trêmula, fazendo a robô encará-la com um olhar sério.

 

— Eu quero que você escolha dessa vez, Mettaton... Por isso dei-lhe esse CD. Quero que você seja feliz... E também... Quero me redimir por tudo o que te fiz passar. — Concluiu Alphys, encarando o CD com uma expressão séria.

 

Mettaton ergueu um pouco sua mão, deixando o disco brilhante, que possuía alguns feixes com as mesmas cores que tingiam os arco-íris, por conta do reflexo da luz que incidia nele, à altura de seus olhos e esboçou um pequeno sorriso com suas sobrancelhas unidas em seu rosto metálico.

 

— Alf, você não me arrancou da minha família... Eu a abandonei. Eu queria conhecer mais além das paredes daquelas Ruínas. E eu agradeço por você ter me dado essa chance, mesmo que eu ache que não tenha saído da melhor maneira. — Consolou Mettaton, com um tom de voz um pouco triste, aumentando seu sorriso e inclinando-se um pouco para frente, colocando sua mão na cabeça da cientista. — Aliás, não se rebaixe ao ponto de se comparar com aquela erva daninha, querida! Você se arrependeu, não se arrependeu? Aquela flor é um ser asqueroso e desprezível. Você só cometeu um erro. Todo mundo comete erros. — Concluiu Mettaton, franzindo seu cenho, com um tom de voz um pouco irritado, mas depois mudando sua expressão para uma aliviada, acariciando a cabeça de sua amiga e voltando à sua posição original.

 

A cientista deixou um pequeno sorriso envergonhado surgir em seu rosto, desviando seu olhar com um pouco de arrependimento, tendo algumas memórias amargas de seus experimentos passados, que Mettaton não conhecia, voltando para atormentá-la.

 

Alphys abriu sua boca para responder a robô, mas a fechou imediatamente quando ouviu o barulho de algo caindo de cima de uma das cômodas do laboratório, próximas à entrada, dando alguns giros no chão até parar.

 

As duas voltaram suas atenções para o jarro listrado, que havia sido derrubado no chão e agora permanecia parado, com olhares tensos, os quais focaram-se em uma pequena aranha que pulava freneticamente em cima de alguns papéis, tentando atraí-las e conseguindo com sucesso.

 

A cientista aproximou-se da aranha com sua expressão séria e viu um pequeno bilhete dobrado ao lado dela. Alphys arqueou suas sobrancelhas, com um ar de surpresa, e o pegou, abrindo-o e lendo rapidamente, fazendo sua expressão transformar-se aos poucos em uma receosa, franzindo sua testa.

 

— O que é isso, Alf? — Perguntou Mettaton, colocando uma de suas mãos em sua cintura, com um tom de voz interessado. A cientista virou-se na direção da robô e mostrou o bilhete, fazendo Mettaton arquear uma de suas sobrancelhas.

 

— Precisam da nossa ajuda. Você... já se decidiu quanto a isso? — Respondeu Alphys, com um pouco de hesitação, lançando um olhar para o CD, fazendo a robô observá-lo por alguns instantes e franzir seu cenho, agora certa de sua decisão.

 

— Pensei que isso já estava claro, querida. — Disse a robô, com um tom de voz relaxado, abrindo uma espécie de compartimento em seu cinto e colocando o CD dentro, executando, dessa maneira, o programa que desativaria, enfim, a programação assassina, fazendo Mettaton abaixar sua cabeça, soltando seus braços, como se estivesse se reiniciando.

 

 

Quebra de tempo

 

Algumas horas se passaram, anunciando que a noite finalmente havia chegado ao subsolo, deixando-o mais escuro do que já era naturalmente, mas com algumas luzes de casas, cujos donos ainda estavam acordados, iluminando-o.

 

Lew permanecia analisando as paredes daquela cela há um bom tempo, colocando suas mãos, que ainda estavam unidas pelas algemas, nas paredes úmidas e as passando por ela, sentindo cada rachadura e elevação das pedras ásperas. O esqueleto ergueu seu olhar até pará-lo no alto teto, que possuía alguns canos acinzentados, os quais aparentavam não receber manutenção há bastante tempo, permitindo que algumas lentas gotas de água caíssem vez por outra deles.

 

Lew soltou um suspiro frustrado enquanto ainda observava os inalcançáveis canos e voltou seu olhar rapidamente para o portão da cela, assustado com o surgimento repentino do barulho de passos, os quais quebraram o silêncio assustador daquela prisão.

 

O esqueleto correu rapidamente até o banco de pedra e sentou-se nele, abaixando sua cabeça, como se estivesse dormindo, bem na hora em que os guardas chegaram ao seu portão, os observando pelo canto de seus olhos entreaberto.

 

Um dos guardas trajava uma armadura comum de guarda real, mas possuía um brasão com a runa delta em seu cinto e seu capacete mostrava apenas um de seus olhos roxos enquanto a única coisa que diferenciava a armadura do outro monstro ao seu lado da de um guarda real comum era uma pequena abertura em seu capacete, que revelavam duas orelhas caninas peludas, com algumas manchas pretas.

 

— Ele dormiu? — Perguntou o guarda real de orelhas peludas, observando o esqueleto “desacordado” de fora da cela, com um tom de voz confuso e um pouco agudo. O guarda real de olho roxo aproximou-se um pouco da cela e soltou um suspiro.

 

— Pelo visto... — Respondeu, com um tom de voz frustrado, fazendo o outro abaixar um pouco suas orelhas, indignado.

 

— E o que a gente faz agora, Aiko? — Perguntou, colocando uma de suas patas na barra de ferro da cela. Aiko, como foi chamado pelo seu colega, cerrou o seu olho visível por alguns instantes, pensativo.

 

— Flowey nos mandou levá-lo. Ele não especificou se deveria ser acordado ou desacordado. — Respondeu Aiko, com um tom de brincadeira em sua voz, fazendo o outro guarda revirar seus olhos irritado e abrir a cela, ignorando seu companheiro.

 

— Vamos, acorda, esqueleto. — Ordenou o guarda, balançando Lew, que levantou sua cabeça e o encarou com uma expressão fechada. — Olha só, ele tá vivo. — Exclamou, com um tom de voz irônico, levantando um pouco mais suas orelhas peludas e recuando um pouco para deixar Lew, que continuou em silêncio, levantar-se. — Vamos lá, ô da camisa bonita. Você tem um encontro com o rei. — Concluiu, fazendo Lew encarar o chão com um olhar hesitante e os guardas se entreolharem confusos com a lentidão do esqueleto.

 

— Hmm... Você está se sentindo bem? Se quiser, podemos levá-lo para a enfermaria. — Perguntou Aiko, com um tom de voz sério, tentando demonstrar um pouco de empatia. Como resposta, o guarda real recebeu um olhar surpreso do esqueleto de bandana, que não esperava a preocupação dele, e um olhar de reprovação de seu companheiro, que o encarou furioso, abaixando suas orelhas peludas.

 

— O que deu em você, Aiko?! — Repreendeu o guarda de orelhas peludas, com um tom de voz irritado e agudo, fazendo Aiko fechar seus olhos e dar de ombros, indiferente com a irritação de seu companheiro.

 

— Estou sendo gentil, nada além disso, Zander. — Respondeu, com um tom de voz tranquilo, fazendo seu companheiro abaixar ainda mais suas orelhas, irritado.

 

— Com um inimigo! — Completou Zander, com o seu tom de voz mais agudo ainda, erguendo sua pata e depois a passando pelo seu capacete decepcionado, soltando um longo suspiro irritado. — Você quer nos meter em problemas, isso sim. Vamos logo antes que queime o filme para o nosso lado. — Reclamou, empurrando Lew, que saiu da cela lentamente, sem se importar com a impaciência de Zander.

 

— Estou bem, obrigado. — Agradeceu Lew em um sussurro, sorrindo um pouco ao passar perto de Aiko, que estava ao lado do portão aberto da cela, o fazendo arregalar seu olho roxo visível, surpreso com o agradecimento inesperado de seu “inimigo”.

 

Aiko afastou-se da cela, acompanhando Lew de um lado, com seu parceiro de trabalho, Zander, andando do outro, ambos atravessando o corredor daquela prisão e subindo a comprimida escada helicoidal feita de pedra.

 

Os guardas levaram o esqueleto para uma sala, que ficava dois andares acima daquele calabouço, a qual era ligada a um longo corredor com as paredes pintadas de um roxo claro, tendo alguns pilares dourados como decoração em quase todos os cantos daquele castelo colossal.

 

Ao fim do corredor, havia uma enorme porta, que ocupava quase toda a parede em que se encontrava, repleta de decorações douradas, semelhantes às da porta de entrada do castelo. Os guardas guiaram Lew até ela e a abriram, fazendo-o atravessá-la e ver uma grande sala, onde pareciam que as refeições eram realizadas.

 

No âmago da sala, havia uma longa mesa retangular de madeira, que possuía diversas comidas sobre ela, algumas com decorações e outras com formatos de aranhas, além de diversas cadeiras dispostas ao redor da mesa, com pratos e talheres de quantidades diretamente proporcionais ao número de assentos, excelentes para aconchegarem muitos convidados, mas apenas um deles estava ocupado.

 

Lew ergueu ainda mais seu olhar, parando de analisar a mesa à sua frente e arregalou suas órbitas quando seu olhar bateu em uma flor de pétalas rosas, as quais possuíam um formato semelhante ao de corações fictícios.

 

Flowey não parecia ter percebido o esqueleto, então se mantinha conversando, com um sorriso gentil estampado em seu rosto, com um dos funcionários do castelo, que possuía um pelo azulado, longas orelhas, semelhantes às de coelhos, e trajava uma roupa de faxineiro: uma blusa preta com listras brancas apenas nas mangas e as calças com o mesmo padrão.

 

O esqueleto de bandana parou sua caminhada, recuando e, consequentemente, puxando os dois guardas, que o estavam segurando pelos braços e que o encararam confusos quando parou. Lew cerrou seus olhos e franziu sua testa com irritação, desprezo e, por mais que não demonstrasse, medo do que aquela flor dissimulada estava planejando.

 

Aiko inclinou sua cabeça um pouco para a esquerda, confuso, e o guarda de orelhas caninas ao seu lado puxou o Lew para frente com força, o forçando a prosseguir e soltando um alto “Anda!” irritado, que chamou a atenção da flor, a qual virou lentamente seu rosto para o esqueleto e arqueou suas sobrancelhas, desmanchando seu sorriso instantaneamente e esboçando uma expressão séria em seu rosto, fazendo Lew estremecer.

 

— Lew... — Sussurrou Flowey, cerrando seus olhos, com um tom áspero em sua voz. A flor virou seu rosto para o funcionário ao seu lado, falando algo que o esqueleto não conseguiu escutar, por conta da distância, e fazendo com que fosse até os guardas, sussurrasse uma mensagem para o Zander e fosse embora da sala de jantar.

 

O guarda real de orelhas peludas puxou Lew até uma cadeira, a poucos assentos de distância da flor, e o obrigou a sentar, afastando-se com Aiko até ficarem cada um de um lado da enorme porta, o vigiando, com uma expressão séria e firme, para que não fizesse nada perigoso contra o rei.

 

Um silêncio desconfortável instalou-se na sala de jantar. Lew encarava um pequeno prato de cristal sobre a mesa, recusando-se a olhar para o rosto do psicopata que havia começado todo aquele inferno para conseguir uma alma humana e exterminar todos os monstros e humanos do planeta enquanto Flowey levava sua pequena xícara com decorações de cipós, a mesma xícara que utilizou no dia em que Lew e ele lutaram meses atrás, até sua boca e engolia um gole do chá lentamente.

 

O esqueleto de bandana remexeu suas mãos abaixo da toalha de mesa discretamente, tentando arranjar alguma falha naquelas algemas que pudesse ajudá-lo a escapar, mas não importava o quando tentasse, as algemas não apresentavam nenhum defeito, algo que o fez franzir seu cenho e soltar um suspiro frustrado.

 

Alguns segundos depois, Flowey terminou seu longo gole e pousou calmamente sua xícara sobre o pires, lançando um sorriso estranho para Lew, que manteve seu olhar desviado.

 

— Lew, quanto tempo que não nos vemos, não? Desde aquele dia, você esteve me causando alguns problemas... Digamos que... um pouco irritantes de se lidar. — Disse Flowey, com um tom de voz casual e aparentemente amigável, mesmo não sendo realmente, mantendo seu sorriso em seu rosto, analisando meticulosamente o esqueleto de cabeça baixa, que apenas ocultou sua raiva e não respondeu nada para a flor, pois sabia que era melhor assim. Quanto menos revelasse para ele, melhor.

 

— Mas finalmente encontramos você! É isso que importa no fim. Por que não apressamos logo as coisas e você me diz onde está aquela humana? Você perdeu, Lew. Me diga onde ela está e finalmente poderei libertar os monstros dessas vidas infelizes nesse subsolo apertado. — Instigou a flor, com um tom de voz nobre, fazendo os guardas presentes associarem ao sentido bom da palavra, mas Lew sabia o que aquele “libertar” realmente significava.

 

O esqueleto cerrou ainda mais seus olhos, com irritação, sem retirar seu olhar do prato, e continuou em silêncio, fazendo Flowey começar a ter sua curta paciência sendo esgotada.

 

 Lew sabia que não adiantaria de nada perder sua calma. Ele estava preso sem o auxílio de seus poderes, no meio de um castelo muito afastado de sua base, repleto de guardas preparados para matá-lo a qualquer instante. Ainda não era um bom momento para agir.

 

O sorriso da flor se desmanchou após alguns segundos esperando pela resposta do esqueleto cabisbaixo, que não veio, deixando-a um pouco irritada com isso.

 

— Aaaahh... Que silêncio todo é esse? — Perguntou Flowey, esboçando um sorriso debochado em seu rosto, fazendo um de seus cipós surgir do chão abaixo de Lew, erguendo-se e segurando a face do esqueleto, obrigando-o a olhar para o rosto do rei, que cerrou seus olhos, ainda mantendo seu sorriso. — Vai me dizer que ficou tímido nesse meio tempo em que não nos falamos? — Atiçou, com o intuito de receber alguma resposta do esqueleto, que continuou o encarando, mas dessa vez com um olhar ameaçador, que fez o sorriso de Flowey novamente se desmanchar, fazendo com que a flor o fitasse com o mesmo olhar.

 

— Ok, isso está começando a ficar chato. Por que você não fala nada? — Perguntou Flowey, cerrando seus olhos, irritado, e soltando o rosto de Lew, com um movimento brusco, fazendo o esqueleto recuar um pouco sua cabeça, por causa da força com que foi empurrada.

 

— Não tenho nada para falar com você. — Respondeu, enfim, Lew, com um tom de voz rude, que fez a flor arquear uma de suas sobrancelhas, com uma expressão cheia de desprezo.

 

A boca de Flowey, que se mantinha com os cantos abaixados, por conta de sua expressão séria, formou aos poucos um largo sorriso torto, que deixou o esqueleto de bandana confuso com a mudança repentina da face, agora macabra, da flor, que soltou uma curta risada cheia de escárnio.

 

— Muito pelo contrário, meu caro Lew... — Retrucou Flowey, com um tom de voz áspero e sarcástico, fazendo um de seus cipós surgirem perto de si, apoiando seu próprio rosto nele, com um movimento relaxado. — Na realidade, temos muito o que conversar... Você tem muito para me contar... Começando por... Onde está a humana? — Perguntou, falando cada uma das palavras de sua última frase com um curto intervalo de tempo entre elas, desmanchando seu sorriso e fazendo o esqueleto soltar um suspiro nervoso.

 

— Você está errado se acha que eu vou abrir minha boca para falar alguma coisa sobre a localização de Frisk. — Retrucou Lew, com uma expressão séria, encostando suas costas no encosto da cadeira, enquanto analisava os movimentos lentos que o cipó da planta fazia, o deixando um pouco mais nervoso.

 

A resposta de Lew fez Flowey arquear suas sobrancelhas com um interesse repentino, um pouco mais satisfeito pelo seu “convidado” ter revelado uma informação, não muito importante, mas que já era um começo. Um começo ótimo para conseguir fazer a flor aproveitar-se disso.

 

— Frisk...? Hehehaha! — Riu Flowey, lançando sua cabeça para trás, com um tom de deboche, que fez Lew arquear uma de suas sobrancelhas, sem entender o motivo de seu riso debochado. — É sério que vocês deram um nome para aquela coisa? — Perguntou Flowey, aproximando seu rosto, com um largo sorriso malicioso estampado nele, atingindo precisamente onde queria, fazendo o esqueleto franzir seu cenho, sentindo um enorme ódio da flor por estar falando de Frisk como se não passasse de uma ferramenta para seu plano, que pode ser descartada facilmente.

 

— Frisk vale muito mais que uma flor dissimulada como você e esse seu genocídio maquiado de gentileza. — Retrucou Lew, com um tom de voz frio, imaginando como estaria sua amiga e seu irmão. “Será que eles conseguiram fugir? Não apareceram na prisão, então talvez sim, mas... E se os guardas os...” — O esqueleto abaixou sua cabeça, escondendo um pouco da parte de baixo de seu rosto no meio do tecido vermelho de seu cachecol, tentando se focar na flor à sua frente, que o observava entretido com sua irritação, ao invés de se focar nos pensamentos ruins que iam e vinham por sua mente.

 

Flowey sorriu um pouco mais e começou a balançar vagarosamente sua cabeça de um lado a outro estalando sua língua, como se estivesse decepcionado com o esqueleto, fingindo uma cara triste propositalmente mal feita.

 

— Ah, Lew. Você é uma criatura tão medíocre e decepcionante. Você traiu a sua própria espécie e enganou seu ingênuo irmão para proteger uma humana. A mesma raça que destruiu tantos de nós no passado... — Disse Flowey, aumentando um pouco mais seu tom de voz para que os guardas o ouvissem melhor e soltando um suspiro decepcionado. — Logo quando eu estava cogitando em fazer um acordo com você.

 

— Seus acordos não me interessam. — Interrompeu Lew, antes que a flor pudesse continuar seu falatório irritante, mas Flowey ignorou o esqueleto e inclinou sua cabeça para o lado, ainda com seu sorriso sarcástico.

 

— Não? Tem certeza, Lew? Você quer paz, não é isso? — Perguntou, fazendo o esqueleto arquear ambas suas sobrancelhas, com uma expressão desconfiada, e manter-se calado, permitindo que a flor prosseguisse. — Eu posso deixar você e seu irmão em paz, Lew. Deixá-los fazer parte do novo mundo que quero construir. Sem mais perseguições, sem mais esse inferno. Você poderia criar uma nova vida na superfície com ele, tudo isso, é claro, por um pequeno preço. É só você me dizer onde está essa... Frisk. — Instigou a flor, fazendo o esqueleto encarar seu prato com um pouco de repulsa sobre o que ele estava dizendo.

 

— Mesmo que isso não fosse mentira, eu jamais trairia meus amigos como você faz com os seus. — Sussurrou Lew, com um tom de voz cansado, ainda alto o suficiente para que a flor ouvisse e esboçasse um meio sorriso cheio de desprezo e irritação em sua face. — Pode me matar, se quiser. Prefiro morrer aqui e manter todos em segurança a viver para ver todos os monstros morrerem porque entreguei Frisk a você. — Concluiu, levantando seu rosto e encarando a flor com um olhar firme, fazendo Flowey encará-lo com um olhar distante por um momento, como se não estivesse lá. Momentos depois, a flor balançou sua cabeça para voltar à realidade, cerrando seus dentes com uma expressão irritada.

 

— Não se preocupe, Lew. Com certeza vou matá-lo... Mas existem coisas piores que a morte. E eu vou fazer você falar, de um jeito ou de outro... — Ameaçou Flowey, com uma expressão sombria em seu rosto, com um tom de voz cheio de desprezo. A flor voltou seu olhar para Aiko e inclinou um pouco seu rosto para cima, chamando sua atenção. — Levem-no daqui. Ele não merece essa comida, de qualquer forma. — Ordenou Flowey, fazendo Aiko e seu parceiro, Zander, se aproximarem e levarem Lew, que, por mais que estivesse com receio sobre a ameaça da flor, estava um pouco mais tranquilo sobre poder sair finalmente daquela sala infernal.

 

Quando os guardas e o esqueleto de bandana se afastaram da sala, uma criatura humanoide saiu das sombras de detrás da cadeira acolchoada de Flowey, era Galaze. O esqueleto de rosto riscado não estava com seu sorriso relaxado de sempre, em seu lugar possuía uma expressão preocupada, algo o afligia, e a flor sabia muito bem o que era.

 

— Nada? — Perguntou Galaze, abaixando suas sobrancelhas, preocupado, fazendo Flowey negar com sua cabeça enquanto tomava mais um gole de seu chá e pousava a xícara no pires com força, emitindo um barulho agudo de duas superfícies de vidro se batendo, com uma expressão irritada.

 

— Nada... Vou tentar visitá-lo novamente mais tarde. Quem sabe aquela perseverança ridícula dele enfraqueça? — Respondeu a flor, sem voltar seu olhar para a sombra, que analisou a porta por onde Lew saiu, soltando um suspiro cansado e temeroso, fazendo Flowey revirar seus olhos. — O que é? Agora você está com essa mania chata de ficar fungando no meu pescoço, é?! — Resmungou, com um tom de voz irritado e agudo, que fez Galaze rir um pouco da vozinha que seu superior usou.

 

— Eu só estou preocupado que tenhamos que usar “aquele” plano. — Respondeu Galaze, com um pequeno sorriso triste em seu rosto, dando ênfase na palavra “aquele” que disse, fazendo Flowey voltar seu olhar para o líquido esverdeado em sua xícara, com um olhar distante, o qual desmanchou-se um tempo depois, quando ele cerrou seus olhos e virou-se para seu subordinado.

 

— Eu já disse, seu cabeça-oca, que aquele plano é uma última opção! Não sou idiota ao ponto de utilizá-lo ainda. Aliás, porque está tão nervoso? Nem vai ser a sua vida que vai ser posta em risco. — Repreendeu Flowey, irritado com a preocupação “ilógica” do mais alto, que desmanchou seu sorriso, desviando seu olhar, com uma expressão sombria, para o chão ao seu lado.

 

— É, mas vai ser a sua, mestre... — Retrucou Galaze, quase em um sussurro, com um tom de voz sério e relutante quanto ao plano de Flowey, fazendo a flor arquear suas sobrancelhas e arregalar seus olhos, surpreso com a preocupação que o esqueleto de rosto riscado tinha por ele. Ele não esperava por aquela resposta.

 

Flowey ficou calado por alguns instantes e voltou seu olhar do esqueleto em pé para o chão, o qual possuía pisos com diagonais de granitos brancos cruzados com pretos. A flor soltou um suspiro curto e voltou seu olhar para a xícara, com hesitação.

 

— Eu ainda tenho algumas cartas na minha manga, Gal. Não se preocupe. — Disse a flor, tentando tranquilizar a sombra e, logo em seguida, pegando a faca, que estava em cima da mesa, a apontando para o esqueleto quando o mesmo estava prestes a fazer um trocadilho sobre o fato de a flor não possuir mangas. — Não... ouse... Galaze... — Ameaçou Flowey, fazendo o esqueleto rir um pouco e se desmaterializar na sombra em que estava em pé, afastando-se da sala de jantar.

 

 

 

Uma hora depois, quando Muffet havia terminado de auxiliar o faxineiro de pelo azulado, mais conhecido pelos outros funcionários do castelo como Nice Clean Guy, a limpar e arrumar a enorme mesa de jantar e empacotar as sobras do jantar para dividir entre os guardas, foi até a cozinha para terminar de colocar os últimos pratos e talheres sujos, com a ajuda do faxineiro, na pia.

 

— Pode deixar aí, que daqui a pouco eu limpo, chefe. — Avisou o faxineiro sorridente, fazendo Muffet esboçar um sorrisinho em seu rosto, arqueando uma de suas sobrancelhas, enquanto terminava de pousar os pratos na pia.

 

— Vai terminar o turno cedo hoje, Louis? — Perguntou Muffet, com um tom de voz interessado, fazendo com que o faxineiro, que estava com suas mãos erguidas, guardando uma pilha de pratos de cristais no armário alto grudado na parede, a encarasse com uma expressão curiosa, empurrasse os pratos para dentro do armário e o fechasse cuidadosamente, antes de respondê-la.

 

— Ah, sim. É que eu havia marcado um encontro para hoje, hehe. — Respondeu Louis, com sua face um pouco corada enquanto coçava a parte de trás de sua cabeça, com um pequeno sorriso sem jeito estampado em seu rosto azulado, fazendo a aranha esboçar uma expressão surpresa em seu rosto e depois se aproximar de seu colega, apoiando seus cotovelos na bancada e o encarando com seus olhos brilhando e um sorrisinho interessado.

 

— Um encontro? Sério? Não é com a Catty, é? — Perguntou a aranha, fazendo o faxineiro rir um pouco da expressão interessada que ela estava fazendo e negar lentamente com sua cabeça, encarando os pratos na pia com um olhar apaixonado.

 

— Não, na verdade... É a Marien. — Respondeu Louis, com um tom de voz baixo, rindo um pouco mais quando o brilho no olhar da Muffet aumentou, mas seu sorriso logo se desmanchou, deixando a cozinheira confusa com a sua mudança repentina de humor. — Ou seria... É que... eu pedi para o rei para que ele me liberasse mais cedo hoje e ele permitiu, mas disse que eu só poderia sair se eu encontrasse alguém para me cobrir na lavagem das colchas de cama, mas até agora não encontrei ninguém. — Concluiu, apoiando sua cintura na bancada, cruzando seus braços, com uma expressão chateada.

 

Muffet arqueou suas sobrancelhas e retirou seus cotovelos da bancada, ficando em pé igual ao seu colega de trabalho, e esboçou um sorriso despreocupado em sua face.

 

— Eu te cubro. — Respondeu, fazendo o faxineiro encará-la com uma expressão incrédula.

 

— Sério? Muffet, você não... — Louis foi interrompido antes de conseguir terminar sua frase quando a cozinheira pegou uma muda de roupas casuais, pertencentes ao faxineiro, que estavam em cima de uma bancada afastada, a colocou nos braços do de pelo azulado e o empurrou para dentro de uma salinha, onde os funcionários se trocavam, com uma força e velocidade absurda.

 

— Eu já te disse que posso te cobrir, Louis. Não tenho nada melhor para fazer essa noite também. Não quero que você perca essa chance por causa do trabalho. Fique tranquilo, eu cuido de todas aquelas cobertas! — Anunciou Muffet, fechando a porta da salinha e recebendo um agradecimento abafado do faxineiro, que riu um pouco lá de dentro com a reação de sua colega. — Mas você cuida da louça! — Avisou a cozinheira, saindo a cozinha e soltando uma risadinha ao ouvir um baixo resmungo de brincadeira vindo da sala, onde Louis estava.

 

 

Algum tempo depois, Muffet estava caminhando pelo longo corredor de paredes bege cheio de portas de madeira escura, as quais levavam para os quartos, grande maioria de hóspedes, do castelo, enquanto segurava uma enorme colcha verde com alguns detalhes marrons quando parou na frente de um quarto que possuía uma porta diferente das outras: o quarto do rei.

 

Muffet a encarou por alguns instantes, com uma expressão cheia de repulsa, respirou fundo, tentando recuperar uma expressão mais serena, e bateu na porta, esperando que a flor abrisse.

 

Alguns segundos se passaram, mas a aranha não recebeu nenhuma resposta, algo que a deixou confusa, pois jurava que Flowey estava em seu quarto, mas aparentemente estava errada. A cozinheira decidiu bater na porta mais uma vez para ter certeza, não queria arriscar a abri-la e receber uma chamada da flor.

 

Enquanto esperava mais alguns segundos, o olhar da aranha passeou pelas paredes do corredor até bater em um enorme quadro antigo da família real com Asgore, Toriel e Asriel juntos. Por todo o corredor encontravam-se diversos quadros de reis e suas famílias de gerações passadas, desde o começo da monarquia.

 

 Havia até mesmo uma pintura da família real que tinha ligações com humanos de séculos e séculos atrás, a mesma família de monstros que fundou as aldeias com a ajuda dos humanos e que viveram em paz por muito tempo. Acontecimento que ocorreu muito antes do nascimento de Asgore e da época em que os monstros e humanos passaram a se afastar cada vez mais, quebrando muitas famílias, por causa do ódio e do preconceito.

 

Muffet saiu repentinamente de seus pensamentos contemplativos e voltou sua atenção para a porta, impaciente, decidindo abri-la, pois queria concluir o seu trabalho o mais rápido possível para tentar passar as instruções de Papyrus, que havia recebido de uma de suas aranhas mais cedo, para o esqueleto de bandana.

 

Quando a cozinheira de roupa avermelhada abriu a porta, encarou de primeira a grande cama de tamanho casal, a qual ficava centralizada próxima à parede do quarto, com uma enorme janela logo acima dela.

 

Havia também, no canto esquerdo daquele cômodo, uma espécie de área de leitura, com duas poltronas amarronzadas dispostas em cima de um tapete da mesma cor, com alguns detalhes verdes e amarelos, e uma larga estante repleta de livros de todos os tipos, desde mágicos a livros de histórias.

 

A cozinheira deu um passo à frente e analisou o quarto em busca de Flowey, mas o lugar estava estranhamente vazio. “Hmm... Bom, é melhor assim. Não aguento mais ter que fingir um sorrisinho amigável para aquela flor.” — Pensou, um pouco mais aliviada.

 

Muffet adentrou o quarto com cuidado, analisando-o com uma certa admiração pela decoração meticulosamente planejada daquele lugar, no qual nunca havia posto seu pé antes, e colocou a colcha limpa em cima de uma das poltronas marrons, arrancando a suja, que estava na cama, e a amassando no formato de uma enorme bola para depois lançá-la na outra poltrona.

 

Quando a aranha se aproximou novamente da área de leitura para pegar a colcha verde limpa e colocá-la na cama, parou ao ouvir um som incrivelmente baixo, mas alto o bastante para ser escutado, vindo da estante. Muffet virou seu rosto vagarosamente em sua direção, a encarando com uma expressão curiosa e séria, sentindo um pouco de medo do que havia escutado.

 

Seu olhar passeou pelos livros, que descansavam na estante, por alguns segundos, lendo inconscientemente alguns títulos enquanto buscava o que emitiu o barulho que havia escutado, mas o silêncio do quarto havia sido recuperado, fazendo a cozinheira franzir sua testa, confusa.

 

— Vossa Majestade? — Perguntou Muffet, com um tom de voz hesitante enquanto encarava a estante, sentindo-se meio idiota por estar falando com um objeto. A aranha esperou por mais alguns segundos, até que novamente ouviu o barulho, o identificando melhor e percebendo que parecia algo semelhante a uma voz. A cozinheira arqueou suas sobrancelhas, assustada. Agora ela tinha certeza de que havia algo ali.

 

Com um pouco de hesitação, Muffet aproximou-se cautelosamente da estante e colocou uma de suas mãos na mesma, chegando perto dela com seu rosto, em busca de escutar algo mais, mas um estranho silêncio dominou aquele lugar, fazendo um mau pressentimento passar pelo corpo da aranha, que se arrepiou e afastou-se da estante, esticando seus braços à sua frente, como se estivesse se alongando, e foi para o lado da mesma, a empurrando com força para a direita.

 

A cozinheira usou toda a sua força para empurrar a enorme estante, fazendo um pouco de sujeira cair de seu topo e da parede, conseguindo arrastá-la pouco, mas o suficiente para que pudesse passar se se espremesse, revelando o que parecia ser um botão camuflado com a mesma cor da parede. Muffet encarou o botão com uma expressão surpresa em seu rosto arroxeado e o tocou de leve, retirando a poeira sem apertá-lo.

 

— Asgore falou de passagens secretas naquele dia... Será que... Essa é uma delas? — Perguntou Muffet para si mesma, com uma expressão distante, sentindo um pouco de hesitação sobre apertar o botão.

 

A aranha cerrou seus olhos e foi até a porta do quarto real, a fechando por precaução e girando a chave para trancá-la por dentro. Depois disso, voltou sua atenção para o botão e o apertou de uma vez, fazendo uma parte da parede tremer por alguns segundos e se arrastar lenta e automaticamente para o lado, graças a uma espécie de tecnologia antiga, revelando um corredor longo e escuro de pedra.

 

A aranha encarou o corredor com uma expressão surpresa e temerosa. Ela não entendia por qual motivo havia uma passagem como aquela em um quarto. Talvez fosse uma saída de emergência para se caso algum incêndio ocorresse ou algo do gênero, mas a cozinheira não possuía nenhuma certeza sobre aquilo, e isso lhe incomodava.

 

Preciso entrar e saber para onde isso leva... Talvez ajude o plano de alguma maneira, mesmo que... Mesmo que possa me levar para um lugar perigoso.” — Pensou Muffet, tentando se convencer. Ela encarou o corredor hesitantemente por mais alguns segundos e olhou, em seguida, para trás, observando o quarto por uma última vez e voltando seu olhar para o corredor.

 

Muffet cerrou seus punhos, sentindo uma onda de medo atingi-la, mas apenas fechou seus olhos, respirou fundo e entrou, cobrindo a porta da passagem, que estava encolhida na parede, com teias, para que não fechasse sozinha de modo a deixá-la trancada.

 

A cozinheira adentrou um pouco mais o corredor escuro, passando suas mãos pelas paredes de pedras úmidas e escuras, temendo se perder de alguma forma, mesmo o corredor sendo de via única, e, após alguns passos, viu uma luz fraca, vinda de uma sala à sua frente, a fazendo engolir em seco, com medo de que fosse alguém.

 

A aranha aproximou-se lentamente, tentando emitir o mínimo de barulho possível, e quando se aproximou o bastante do fim do corredor, o qual possuía uma tênue luz azulada, ergueu suas mãos à altura de sua cintura, como se estivesse se preparando para se defender de qualquer algo ou alguém que estivesse escondido na escuridão sinistra daquela sala adiante.

 

A cozinheira aproximou-se um pouco mais do arco, que ligava aquele corredor à uma sala maior, colocou sua cabeça para fora e arregalou seus olhos, levando em seguida suas mãos à boca, ao ver o que havia na sala.

 

Um monstro, que trajava uma roupa de garçom com mangas pretas e a parte do tórax branca, encontrava-se deitado no chão com alguns arranhões em seu corpo, buracos de sementes em diversas partes de sua roupa e seus óculos escuros estavam um pouco tortos, como se alguém os tivesse acertado com força. Além do fato de o fogo azul de seu corpo aparentava estar muito fraco, como se o monstro estivesse quase morrendo.

 

— Grillby! — Exclamou Muffet, com uma expressão assustada, afastando-se rapidamente do corredor, sem se importar se alguém tivesse ouvido ou não seu grito. A aranha ajoelhou-se ao lado do corpo abatido do garçom e colocou suas mãos no rosto dele, colocando sua cabeça, cujo fogo estava fraco, em seu colo, com uma expressão extremamente preocupada. — Grillby? Grillby, me responde! — Pediu a cozinheira, com sua voz e suas mãos trêmulas, colocando sua cabeça no peito dele, tentando ouvir algum batimento de seu coração. O monstro de fogo azul abriu lentamente seus olhos, com uma fraqueza e dor claras em sua ação, mantendo-os cerrados o bastante para conseguir enxergar.

 

Grillby virou lentamente seu rosto para a aranha, a encarando com sua cabeça um pouco confusa e sua vista embaçada, tentando focar sua visão na imagem da cozinheira assustada, com dificuldade.

 

  — Mu... ffet? — Perguntou o garçom com um tom de voz baixo e fraco, como se o simples fato de falar já fosse dolorido para ele. A cozinheira levantou imediatamente sua cabeça, encarando Grillby, com uma expressão assustada, porém aliviada por ter recebido uma resposta dele.

 

— Grillby! Meu deus... Quem fez isso com você?! — Perguntou a aranha, com um tom de voz nervoso e agitado, respirando pausadamente, com um pouco de dificuldade, por causa de seu nervosismo. O monstro de fogo azul, percebendo a agitação da cozinheira, virou um pouco mais sua cabeça para poder vê-la melhor e tentou levantar um pouco sua mão.

 

— Muffet... — Chamou novamente, fazendo-a parar de encarar a sala com nervosismo, em busca de algo que pudesse melhorar seus machucados, e encará-lo, prestando atenção em cada palavra que saía de sua boca, temendo perdê-lo se parrasse de ouvi-lo.

 

— O-oi? — Perguntou Muffet rapidamente, com sua voz travada e repleta de nervosismo. Grillby franziu levemente sua testa e ergueu seu braço com dificuldade, colocando sua mão no rosto da aranha, fazendo o calor, produzido por seu corpo quase inteiramente feito de chamas, e que agora estava menos quente que o normal, aquecer o rosto gelado e pálido da aranha, a acalmando, mesmo que apenas um pouco.

 

— Muffet... Obrigado... por... voltar por mim. — Completou Grillby, com um tom de voz fraco, tentando sorrir com seus olhos com dificuldade, fazendo Muffet segurar sua mão azulada contra seu rosto, fechando seus olhos, que escondiam algumas lágrimas de medo, inspirando lentamente uma grande quantidade de ar, tentando acalmar-se.

 

— E-eu sempre voltarei... — Respondeu Muffet, franzindo sua testa, com uma expressão séria em seu rosto e um tom de voz um pouco mais calmo, fazendo o monstro de fogo assentir, aliviado, e fechar seus olhos lentamente. A cozinheira encarou o corredor com um olhar determinado, inclinou-se para segurar o garçom, apoiando-o em si, colocando um de seus braços de fogo em seus ombros, e ergueu-se com ele desacordado. — E eu vou te tirar daqui...

 

 

Um tempo depois, salas abaixo do corredor em que se encontravam os quartos, um barulho de gotas de água, caindo lentamente de um alto cano com defeito e chocando-se contra o chão, espalhando-se em diversas gotículas menores ainda, e voltando novamente ao ciclo repetitivo, preencheu o silencioso espaço daquela prisão subterrânea.

 

Lew, que estava sentado, com seus braços apoiados em suas pernas, no frio e desconfortável banco de pedra, encarava o chão, com uma expressão cheia de receio e medo sobre a situação de seus amigos.

 

O esqueleto inclinou um pouco sua cabeça para frente, para apoiá-la em suas mãos presas, mas a recuou ao sentir um leve ardor em seus pulsos. Ele inclinou um pouco suas mãos para o lado e viu, em um pequeno espaço vazio entre seus pulsos e a algema, um pequeno arranhão avermelhado. Aquela ferramenta já estava há tanto tempo em si, que estava começando a machucá-lo.

 

Lew abaixou suas sobrancelhas, preocupado, e soltou um suspiro ansioso, fechando seus olhos sem conseguir dormir, mesmo estando de noite. Aquele lugar escuro lhe passava uma sensação sinistra, tão sinistra que não conseguiria dormir nem se estivesse mais de dois dias direto acordado.

 

Eles devem estar bem... Papyrus é inteligente. Não deixaria Frisk arriscar tudo se entregando ao Flowey por mim...” — Pensou Lew, tentando se convencer, enquanto inclinava-se para trás, encostando sua cabeça, cansada e pesada de tantos pensamentos ruins, na parede dura de pedra atrás de si, fechando seus olhos e mergulhando mais uma vez em seus pensamentos.

 

Mais alguns segundos silenciosos se passaram, o esqueleto parecia já ter desistido completamente de tentar fugir daquela cela, aliás, sem seus poderes não teria força para quebrar aquelas barras reforçadas, muito menos para se defender dos guardas, que se encontravam espalhados por todo o castelo.

 

O esqueleto de bandana abriu lentamente seus olhos e viu uma pequena rachadura, mais ou menos do tamanho de uma moeda de dez centavos, no chão à sua frente, e arqueou uma de suas sobrancelhas, com desconfiança e confusão. Ele jurava que ela não estava lá há alguns segundos atrás.

 

Lew rapidamente arregalou suas órbitas quando a rachadura no chão aumentou repentinamente, permitindo que um longo cipó saísse de dentro dela e investisse contra ele, o atingindo, antes que tivesse chance de desviar, e enrolando-se em seu pescoço, o erguendo um pouco acima do chão.

 

— Olá, saco de ossos estúpido. Aproveitou a noite? — Perguntou Flowey, aparecendo de debaixo da terra, com um sorriso mais assustador que o que fez na sala de jantar, como se estivesse segurando toda a sua fúria naquele momento para soltá-la agora.

 

Lew cerrou seus olhos, sentindo um pouco de dor pela força com que a flor segurava sua garganta, tentando segurar o cipó que o erguia para se soltar, mas suas mãos, as quais estavam presas, não lhe foram muito úteis.

 

— Terrível? Ah, pois ela vai ficar ainda pior se você não cooperar comigo, “amigo”. — Completou Flowey, com um tom de voz grave e sinistro, fazendo o cipó que segurava o esqueleto lançá-lo com força contra a parede, a rachando um pouco pelo impacto, sem soltá-lo. A flor aproximou-se do rosto de Lew, que grunhiu um pouco de dor, e apertou um pouco mais o pescoço do prisioneiro. — Onde está ela? — Perguntou Flowey, encarando os olhos quase fechados do esqueleto, que cerrou seus dentes, respirando um pouco quando Flowey diminuiu a força de seu cipó, permitindo que pudesse falar.

 

Lew respirou pela sua boca por alguns segundos enquanto encarava o rosto demoníaco da flor, cujos olhos haviam deixado a escuridão dominá-los, e franziu seu cenho, tentando manter sua firmeza, mesmo sentindo seu corpo dolorido sendo dominado pelo medo.

 

— E-eu nunca vou te contar, Flo-wey. — Respondeu o esqueleto, com um tom de voz rouco e fraco, fazendo Flowey franzir seu cenho, mais irritado ainda, e apertar o pescoço de Lew com mais força, o fazendo ficar sem ar mais uma vez.

 

— Resposta errada! — Retrucou a flor, fazendo outro de seus cipós surgirem, dessa vez um rodeado por espinhos vermelhos, o apontando para o rosto de seu prisioneiro. — Olha só, se não é uma obra de arte... — Prosseguiu, voltando seu olhar sinistro para a rachadura, que havia feito com seu ataque mágico meses atrás, no rosto do esqueleto, o fazendo estremecer um pouco, enquanto tentava inutilmente se soltar. — Já que você não pretende me contar sobre onde aquela humana estúpida está, por que não brincamos um pouquinho com essa sua rachadura? — Perguntou, alongando seu sorriso sinistro e fazendo Lew fechar o seu olho mais próximo do cipó cheio de espinhos, tentando afastar seu rosto dele, mesmo não conseguindo.

 

Flowey atravessou a rachadura do esqueleto com seu cipó, com força, a fazendo aumentar um pouco mais, crescendo para todos os lados, e fazendo Lew fechar seus olhos, sentindo uma dor terrível espalhar-se inicialmente pela sua rachadura, avançando pelo seu corpo, uma dor pior que a que sentiu no dia em que ela foi formada.

 

— Desista, idiota! Essa sua perseverança ridícula não vai salvar seus amigos! Não importa se você está lutando por eles, eles virão e todos morrerão de qualquer maneira. Sempre foi assim, não é? Sempre! Eu estou tentando consertar o que os estúpidos seguidores do Asgore não conseguiram consertar! — Disse Flowey, com um tom de voz áspero, avançando ainda mais com o seu cipó, fazendo os espinhos perfurarem o rosto de Lew, cuja rachadura estava ampliando-se cada vez mais, fazendo um pouco de sangue sair por ela, acompanhado de uma dor agoniante.

 

— Nun... ca... — Sussurrou Lew, com dificuldade, quase sem conseguir se manter acordado, por causa da dor extrema que estava sentindo, fazendo a flor cerrar seus olhos ainda mais irritada.

 

Quando Flowey estava prestes a fazer outro de seus cipós surgirem do chão para finalmente atingir a alma do esqueleto, agora inútil para ele, por causa de sua perseverança em manter a localização de Frisk em segredo, e dar o golpe final que o mataria, um guarda chamou sua atenção da porta da cela, o fazendo soltar Lew, que caiu no chão quase completamente desacordado, e recuar lentamente, com um olhar cheio de ódio e desprezo.

 

— O que você quer, Aiko? — Sibilou Flowey, virando rapidamente sua cabeça, com uma expressão séria em seu rosto e um tom de voz firme e sombrio, fazendo o guarda, que possuía um brasão da runa delta em seu cinto, fazer uma rápida reverência e voltar à sua posição original.

 

Lew ergueu um pouco sua cabeça, respirando fundo e com dificuldade, analisando o guarda que impediu a flor de matá-lo, com sua vista um pouco embaçada, sentindo um pouco de alívio e tremendo por causa da dor vinda de sua rachadura.

 

— Vossa Majestade... Um grupo de guardas encontrou uma passagem secreta violada em seu quarto. Mandaram-me para avisá-lo que alguém o adentrou sem sua permissão. — Respondeu Aiko, com um tom de voz sério, olhando para o esqueleto de relance, sentindo-se mal pelo jeito como foi tratado. Ele entendia que era um inimigo, mas não gostava daquele tipo de tratamento nem com os piores criminosos.

 

Flowey soltou um suspiro irritado e encolheu seus cipós, saindo da cela, com uma expressão mais amena em seu rosto.

 

— Era o que me faltava... Vamos, então. — Ordenou Flowey, saindo do campo de visão do esqueleto, seguido por Aiko, que encarou Lew por mais alguns segundos, com um olhar triste, e afastou-se, fechando a cela e virando-se para seguir a flor.

 

O esqueleto tentou se levantar, erguendo seu corpo dolorido, com dificuldade, mas apenas conseguiu apoiá-lo na parede atrás de si, onde fechou seus olhos, tentando voltar a respirar normalmente e soltando um suspiro aliviado e cheio de dor, sentindo um líquido quente e avermelhado escorrendo de sua rachadura.

 

 “Isso não importa... se vocês ficarem bem...” — Pensou Lew, fechando seus olhos e permitindo que seu corpo desmaiasse naquele mesmo canto duro e desconfortável da cela fria e úmida.

 

 

Enquanto isso, Aiko escoltou Flowey até o seu quarto, para que a flor pudesse analisá-lo por alguns minutos, andando de um lado a outro do grande cômodo bem decorado, sem falar nada para o guarda de olho roxo, que se manteve em pé ao lado da porta de entrada, o observando com sua postura estática.

 

A flor parou sua investigação e encarou por alguns instantes a passagem secreta, a qual agora estava aberta, aproximando seu rosto da porta encolhida na parede e finalmente soltando um grunhido de surpresa, que atiçou a curiosidade do mais alto.

 

— Achou algo, Majestade? — Perguntou Aiko, com um tom de voz formal, arrancando repentinamente a flor de seu surpreendente foco na busca, a fazendo encolher-se um pouco.

 

— Digamos que... — Flowey aproximou um pouco mais seu rosto da porta da passagem encolhida, a tocando com seu cipó e retirando um pouco de teia dela, a mesma teia que se espalhava por toda aquela área, deixando a porta emperrada, e franziu seu cenho, com uma expressão séria. — Eu encontrei uma pista bem promissora... — Completou a flor, com um tom de voz sério, afastando-se repentinamente da passagem e virando seu rosto para o guarda, que assentiu, com um movimento de sua cabeça, como se já soubesse o comando que aquele olhar representava.

 

 

 

Quebra de tempo

 

Algumas horas se passaram, e todo o castelo mantinha-se em um silêncio confortável da madrugada, anunciando que apenas alguns guardas mantinham-se de vigia, trocando vez por outra com seus parceiros quando seus turnos acabavam, e que todos os funcionários que trabalhavam no castelo estavam dormindo. Todos, com exceção de Muffet.

 

 A aranha estava caminhando silenciosamente pelos corredores do castelo, segurando alguns pequenos potes tampados de plástico com um formato quadrado, rumo à escadaria espiral que levava para o conjunto de celas dispostos na prisão subterrânea.

 

A cozinheira desceu pelas comprimidas escadas, tomando cuidado para não escorregar e nem emitir algum ruído, e parou no último degrau de pedra, analisando os arredores antes de prosseguir em seu percurso.

 

Seu olhar passeou pelo longo corredor de celas e focou-se em uma alta guarda real sem capacete, que estava observando a parede à sua frente, com um olhar distante e distraído, fazendo Muffet observá-la, com uma expressão confusa, sem conseguir reconhecê-la.

 

Hmm... Deve ser a novata que contrataram recentemente...” — Deduziu a aranha, com uma expressão um pouco tensa em sua face arroxeada. A cozinheira respirou fundo e deu um passo à frente, chamando a atenção da guarda, que virou imediatamente seu rosto para ela, com um olhar atento e motivado de quem havia acabado de começar sua jornada como membro da guarda real.

 

Muffet esboçou um sorriso gentil e estranhamente tranquilo em seu rosto, mesmo sentindo suas mãos que estavam ocupadas suadas de nervosismo, e ergueu os potes de plástico um pouco mais para frente de seu corpo, aproximando-se da guarda real a passos silenciosos, a fazendo retribuir o sorriso com outro.

 

— Olá, querida, espero que a noite esteja tranquila hoje. — Saudou a aranha, aproximando-se mais da guarda real e parando perto dela. A guarda, a qual possuía um curto cabelo branco meio acinzentado e uma pele azulada, a analisou por um momento e soltou, em seguida, uma arfada cheia de surpresa, fazendo Muffet arquear uma de suas sobrancelhas, confusa com aquela reação inesperada.

 

— Ah, você deve ser a senhorita Muffet! Muito prazer, sou a recruta Conny Roux do esquadrão quatro! — Apresentou-se a guarda real de cabelos prateados, fazendo uma reverência com sua mão, esboçando um sorriso em seu rosto, que rapidamente transformou-se em um envergonhado ao lembrar-se de que era madrugada e que os prisioneiros estavam dormindo. — A-ah, creio que não deva me conhecer, pois faz somente um mês que entrei na guarda, mas eu já a vi muitas vezes. Suas comidas são muito boas. — Elogiou Conny, com um tom de voz mais baixo, fazendo a cozinheira, que a estava encarando com uma expressão confusa, sorrir com seu elogio, colocando uma de suas mãos em sua boca e soltando um curto risinho.

 

— Muito obrigada, e é um prazer conhecê-la, Conny. — Agradeceu Muffet, com um tom de voz mais tranquilo, voltando seu olhar para os potes que estava segurando. — Bom, eu vim aqui para trazer esse jantar para os prisioneiros e para avisá-la de que, no caminho para cá, ouvi alguns guardas tentando decidir sobre quem sairia do posto para avisá-la que Sua Majestade a estava chamando no andar de cima para ajudá-lo com algo, mas não tenho muita certeza. — Mentiu, fazendo Conny arquear suas sobrancelhas, surpresa e um pouco desamparada, pois não sabia como prosseguir.

 

— O-o rei está me chamando? — Perguntou Conny, com um pouco de hesitação em sua voz travada, recebendo um assentimento da cabeça de Muffet, a fazendo levar sua mão enluvada à sua cabeça. — Mas... Eu não posso deixar esse posto. E se algum prisioneiro fugir? — Indagou mais uma vez, recebendo um sorriso tranquilo da aranha à sua frente, que deu de ombros, com um ar relaxado.

 

— Não se preocupe, eu posso ficar aqui vigiando enquanto você resolve esse problema. Acho que ele só quer que você o ajude com algo bem simples e rápido, aliás, eu tenho mesmo que ficar para alimentar os prisioneiros. — Esclareceu, tranquilizando a guarda real, que encarou a parede por alguns segundos, com um olhar pensativo, e fechou seus olhos por um instante.

 

— Hm... Tudo bem, então... Ah, mas só uma coisinha. O guarda que estava aqui antes de mim disse que o rei não queria que alimentassem aquele ali. — Avisou Conny, apontando para a última cela do corredor, a mesma cela em que Lew estava preso, fazendo Muffet encarar as barras com uma expressão séria. — Eu não sei o que aquele coitado fez para ficar sem jantar, mas é melhor não questionar nossos superiores, né? — Perguntou retoricamente a guarda real de cabelos prateados, piscando um de seus três olhos para a cozinheira, que assentiu, com um sorriso.

 

— Certo, entendi. Obrigada pelo aviso, querida. — Respondeu Muffet, colocando os potes de plástico na pequena mesinha, que ficava próxima ao canto esquerdo do fim da parede do corredor, onde não havia nenhuma cela para completar o par de cômodos para prisioneiros, formando uma pequena área onde os guardas poderiam descansar e vigiar tranquilamente.

 

A guarda real afastou-se de Muffet, andando rapidamente enquanto tentava conter seu nervosismo, até a escada em formato de espiral e subiu-a com velocidade, deixando a aranha sozinha naquele corredor cheio de celas.

 

Assim que a guarda real sumiu de seu campo de visão, Muffet voltou seu olhar da escadaria de pedras para a parede ao lado da mesa, onde havia um longo chaveiro de madeira grudado nela com várias chaves, cada uma com um pequeno número no topo, indicando de qual cela era.

 

A cozinheira deu uma volta rápida no corredor e, ao se certificar de que não havia nenhum guarda real por perto, voltou-se para a mesa, pegando a chave correspondente, desempilhou os potes de plástico, que aparentemente estavam vazios, e pegou um deles, o balançando para checar o peso e sentindo que era mais pesado que os outros.

 

A aranha aproximou-se da cela do esqueleto, segurando o único pote que possuía algo dentro, e colocou uma de suas mãos livres na barra de ferro, a deslizando um pouco por ela e observando a cela, onde o esqueleto de bandana encontrava-se sentado com suas costas encostadas na parede e com sua cabeça abaixada.

 

— Lew? — Chamou Muffet, em um sussurro, batendo levemente na barra de metal com o nó de seu dedo indicador, tentando chamar sua atenção, mas o esqueleto não respondeu ao seu chamado, a fazendo franzir seu cenho, incomodada com o fato de ele parecer estar dormindo em um momento crítico, como aquele.

 

— Pssst! Lew! — Chamou outra vez, tentando não fazer muito barulho e aproximando seu rosto do portão da cela, mas novamente não recebeu uma resposta do monstro cabisbaixo.

 

A aranha cerrou seus olhos e os forçou, tentando analisar o esqueleto, por alguns segundos, afastando-se das barras de ferro ao perceber que algo não estava certo com ele. Muffet ergueu a chave da cela, que estava segurando com um de seus braços, e a inseriu na fechadura, girando-a e abrindo a porta.

 

A cozinheira se aproximou de Lew e agachou-se ao seu lado, observando-o silenciosamente por mais alguns segundos, com uma expressão séria, porém um pouco mais preocupada, em seu rosto, e colocou sua mão na parte esquerda da face do esqueleto, virando-a levemente para o lado e percebendo que sua rachadura estava maior que o normal, com algumas linhas vermelhas de sangue seco prolongando-se até o fim de seu rosto.

 

— Lew? Ei, garoto, acorda. — Sussurrou Muffet, dando alguns tapinhas leves no rosto dele, o fazendo abrir lentamente seus olhos vazios, sentindo um pouco de tontura e permitindo que a aranha soltasse um suspiro aliviado. — Você está vivo... Isso já é um bom começo.

 

O esqueleto levantou suas mãos presas e colocou uma delas em seu crânio, fazendo uma careta cheia de dor e voltando seu olhar lentamente para a cozinheira ao seu lado, aliviado, mas sem conseguir expressar isso em sua face, pois a mesma estava dolorida

 

— Muffet? O que você... — Lew calou-se quando a cozinheira puxou suas mãos algemadas e pressionou três travas, soltando-as e fazendo o esqueleto sentir um alívio repentino quando uma onda de ar passou por seus pulsos, esfriando seus machucados. — Ah... Obrigado. — Agradeceu o esqueleto, com um tom de voz um pouco fraco, esfregando seus pulsos com suas mãos, sem acreditar que finalmente estava solto, recebendo um assentimento da aranha, que manteve uma expressão séria em seu rosto.

 

— Eu trouxe algumas notícias, Lew. Notícias de seu irmão. Ele e a humana conseguiram chegar em casa seguros. — Disse Muffet, sorrindo um pouco, fazendo Lew arquear suas sobrancelhas, surpreso, e se arrepender logo em seguida, por causa da dor aguda, que se espalhou rapidamente pelo seu rosto, o fazendo se encolher um pouco, preocupando a aranha, que arqueou uma de suas sobrancelhas. — O que aconteceu com você? — Perguntou, com um tom de voz baixo e confuso, fazendo Lew soltar um curto suspiro travado.

 

— Nada demais... Estou bem. — Mentiu o esqueleto, fazendo a aranha franzir seu cenho, irritada pela omissão fajuta do esqueleto, pois era claramente visível o quão mal ele estava. — Eles... não estão vindo para cá... estão? — Perguntou Lew, com um pouco de hesitação em sua voz, mudando rapidamente de assunto e encarando os olhos da cozinheira, que se desviaram por um momento.

 

— Essa é a outra notícia, garoto... Seu irmão mandou instruções para vários monstros pelo subsolo. Eles atacarão ao amanhecer. Por isso estou aqui, vim te soltar. O doutor William acredita que seria muito arriscado fazer uma missão de resgate apenas para salvá-lo, então ele pôs todas suas cartas na mesa. Eles pretendem salvá-lo assim que derrubarem as defesas do castelo, então você terá que continuar nessa cela até alguém vir te buscar ao amanhecer. — Esclareceu Muffet, fazendo Lew ficar boquiaberto por uns instantes, tentando não demonstrar sua desaprovação para que seu rosto não doesse novamente.

 

— Já? Eles vão atacar tão cedo assim? Aquele plano foi criado para ser feito daqui a alguns meses. Eu vi esse castelo de perto, eles não vão conseguir derrubar as defesas dele agora. — Retrucou Lew, com um tom de voz assustado, que fez a aranha soltar um suspiro cansado e se sentar com suas pernas cruzadas, encostando também suas costas na parede, ao lado de Lew.

 

— É... Vamos ter que contar com a sorte nesse aspecto. — Respondeu Muffet, encarando o teto com um olhar distante. — Era isso, ou deixaríamos você morrer para podermos prosseguir calmamente com o plano. — Completou, fazendo o esqueleto voltar seu olhar para o chão, sentindo-se mal por ser um fardo. A aranha virou sua cabeça para o esqueleto e franziu seu cenho. — E você conhece muito bem seu irmão, Lew. Ele jamais aceitaria a segunda opção. Aliás, você é uma parte vital para esse plano dar certo. Você foi quem teve mais contato com a verdadeira forma do Flowey até agora. Sabe melhor que nós como aquela flor agirá. — Argumentou, fazendo Lew fechar seus olhos e franzir seu cenho, deixando a aranha confusa.

 

— Eu sei menos do que você pensa sobre aquele maníaco imprevisível. — Sussurrou o esqueleto, abrindo seus olhos novamente e encarando o chão com um olhar pessimista e cansado de tudo aquilo. Cansado de todos os desastres que aconteceram desde o dia em que aquela flor surgiu nas Ruínas e cansado de ter que ver os seus amigos se machucarem.

 

Muffet o encarou com uma expressão incomodada por causa seu pessimismo por alguns segundos, até que soltou um suspiro cansado e voltou sua atenção para o pote que estava segurando, o erguendo na direção de Lew.

 

— Toma. Come isso. — Pediu a cozinheira, ainda com um tom de voz baixo para não atrair nenhum guarda, puxando o de bandana de seus pensamentos e fazendo-o encarar o pote tampado por uns instantes, com uma expressão curiosa.

 

— Obrigado por se preocupar, Muffet, mas eu perdi o apetite. — Respondeu Lew, com um tom de voz cansado, fazendo a aranha fitá-lo com outra expressão irritada em sua face arroxeada e colocar mesmo assim o pote no colo do esqueleto, o surpreendendo.

 

— Você tem que comer para recuperar suas forças, Lew. Não acredito que você vai dar o gostinho da vitória para aquela flor. Ele mandou ninguém te alimentar porque queria que você definhasse até a morte, quer dar esse prazer para ele? — Perguntou Muffet, com um tom cheio de irritação bem visível em sua voz, fazendo Lew alongar sua boca, com um pouco de hesitação por um momento, e ceder ao pedido da aranha, abrindo a tampa do pote e sentindo um cheiro maravilhoso saindo da comida de aparência apetitosa feita pela cozinheira.

 

Lew segurou uma colher de inox, que estava dentro do pote, e pegou um pouco da comida com ela, colocando-a em sua boca e sentindo-se um pouco desconfortável pelo fato de Muffet estar observando atentamente cada mínimo movimento e expressão que fazia.

 

O esqueleto surpreendeu-se com o sabor da comida, arqueando levemente suas sobrancelhas, mesmo que estivesse sentindo dor, e recebendo um sorriso da aranha, como resposta.

 

— Gostou? — Perguntou Muffet, soltando uma pequena risadinha ao receber um assentimento da cabeça do esqueleto, que fechou seus olhos, fingindo estar comendo a melhor comida do mundo, com um tom de brincadeira para aliviar a tensão daquele lugar. — Que bom que pelo menos você gostou. O Grillby disse que eu não caprichei muito no cozimento das ervas. — Retrucou a aranha, que levou uma de suas mãos ao seu queixo e encarou o pote com seus olhos cerrados, fazendo Lew arquear uma de suas sobrancelhas, confuso, e engolir rapidamente sua comida, voltando seu rosto para ela.

 

— O... Grillby? — Perguntou Lew, com um tom de voz travado, querendo saber se ouviu direito o que a cozinheira de roupa vermelha disse.

 

Como resposta, Muffet assentiu com um lento movimento de sua cabeça, fazendo o esqueleto arregalar repentinamente suas órbitas, com uma grande animação em sua reação, sentindo mais uma onda repentina de dor surgir de sua rachadura, mas a ignorando, pois estava focado demais na excelente notícia que recebeu.

 

— Você encontrou o Grillby? Como ele está? Espera... Onde ele está? Ele está escondido, certo? — Perguntou novamente, com um tom de voz baixo e esperançoso, porém agitado, querendo se assegurar primeiramente de que o seu amigo de fogo azul estava seguro.

 

— Sim, não se preocupe. Eu o escondi em um lugar seguro na cozinha enquanto ele se recupera. — Respondeu Muffet, com uma expressão neutra e tranquilizadora em seu rosto, que logo deu espaço para uma irritada e sombria. — E... Eu... o encontrei quase morrendo em uma passagem no quarto do Flowey. Você sabe o que isso significa, certo? Por isso não o encontrei durante todo esse tempo... Aquele canalha o manteve trancafiado lá por meses, provavelmente o torturando para conseguir alguma resposta. — Esclareceu, cabisbaixa, sentindo uma vontade enorme de socar a parede, imaginando uma imagem da flor nela, mas, mesmo assim, conteve-se. Se fizesse um barulho sequer, seria pior para os dois que estavam sentados naquela cela obscura.

 

Lew observou a parte mal iluminada do cômodo de pedra por alguns instantes, tentando absorver aquela informação, até que abaixou sua cabeça, com um pouco de irritação, fazendo a aranha desviar seu olhar para o pote de plástico por alguns segundos.

 

Lew respirou fundo, tentando diminuir um pouco sua raiva e cerrou seus olhos, pensativo. Flowey havia machucado outro de seus amigos, e, por mais que Grillby tivesse sido forte e conseguido manter seu segredo a salvo, o esqueleto sabia que a flor iria machucá-los ainda mais até conseguir o que queria. Mesmo estando cansado e com medo de tudo aquilo, Lew não poderia desistir de protegê-los depois de ter chegado tão longe. Não podia se dar ao luxo de fazer isso e não iria.

 

— Certo... — Lew sussurrou ainda olhando para baixo, com um tom de voz levemente ansioso, fazendo Muffet voltar a encará-lo. Ele levantou sua cabeça, encarando a cozinheira ao seu lado com um olhar um pouco mais motivado e franziu seu cenho, formando uma expressão séria. — Vamos fazer isso. Eu ficarei aqui até alguém chegar, como planejaram. Espero que o plano de William funcione... Eu farei o melhor que eu puder para que ele dê certo, Muffet. E... Obrigado novamente por se arriscar por mim. — Concluiu o esqueleto, fazendo a aranha arquear ambas suas sobrancelhas por um instante, esboçando em seguida um curto sorriso tranquilo em seu rosto, feliz pela mudança de opinião dele.

 

— Estou fazendo isso por todo mundo. Eu confio em você, garoto, tanto quanto Grillby. — Respondeu Muffet, colocando uma de suas mãos no ombro do esqueleto, que retribuiu com um pequeno sorriso dolorido. Logo em seguida, a cozinheira desmanchou seu sorriso e voltou seu olhar para o pote ainda cheio sobre o colo dele, retirando sua mão de seu ombro. — Agora coma tudo e depois tente dormir um pouco. Amanhã vai ser um dia complicado. — Sugeriu, com um tom de voz hesitante sobre o imprevisível amanhã, fazendo Lew assentir e voltar a comer, com um pouco mais de velocidade, a deliciosa comida de sua aliada.

 

Alguns minutos bastaram para que Lew terminasse de comer e devolvesse o depósito para a cozinheira, que se despediu rapidamente, saindo da cela e deixando sua porta encostada, quase como se estivesse fechada.

 

A cozinheira ficou um tempo na prisão e arrumou tudo do jeito que estava antes, deixando a chave em seu lugar original e empilhando os potes de plástico em cima da mesa, esperando até que a guarda real, Conny, voltasse e explicasse que talvez Muffet tivesse realmente escutado errado e que não havia encontrado Flowey em lugar nenhum do enorme castelo.

 

— Hm? Ah, desculpe-me pelo meu engano, querida. — Desculpou-se Muffet, sentindo-se um pouco temerosa pelo fato de a guarda real não ter conseguido encontrar Flowey. — Não queria tê-la feito andar por todo o castelo em vão. — Prosseguiu a cozinheira, com uma expressão triste em seu rosto, fazendo a guarda real arquear suas sobrancelhas.

 

— Não se incomode com isso, senhorita Muffet, qualquer um poderia ter escutado errado. E eu estava precisando esticar um pouco as pernas mesmo, obrigada por vigiá-los por mim. — Retrucou Conny, com um sorriso extremamente aliviado em seu rosto por não ter precisado lidar com seu nervosismo na frente da realeza. A guarda real voltou seu rosto para uma das celas da prisão por um momento, com um olhar distraído, e depois despediu-se da cozinheira, que se afastou da prisão, levando os potes de plástico consigo, e subiu a escada comprimida, deixando a guarda sozinha.

 

Após chegar ao fim da escada, Muffet parou sua caminhada e lançou um olhar tenso por cima de seu ombro para a escadaria helicoidal, apertando um pouco os potes de plástico contra sua barriga.

 

Onde ele se meteu? Provavelmente já descobriu que eu encontrei o Grillby... Droga, deveria ter fechado a passagem, mesmo sendo arriscado ficar mais tempo por lá.” — Pensou a aranha, virando sua cabeça na direção oposta da escadaria, com uma expressão fechada em seu rosto, franzindo um pouco sua testa.

 

Quer saber? Tanto faz de qualquer forma. O que importa é que eu o tirei daquele inferno. Preciso me apressar... Ainda tenho que concluir mais algumas coisas antes... Antes daquilo.” — Concluiu Muffet, soltando um suspiro nervoso e finalmente voltando a andar para longe da escadaria, tomando cuidado para não fazer nem o mais leve dos barulhos.

 



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