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História Liberté - A Ruptura


Escrita por: caulaty

Capítulo 21 - A Ruptura


12 de novembro de 3644

 

Eu já li em nossos livros de história que era de costume em nosso país que os mortos fossem velados durante sete dias. Era muito curioso o ritual de passagem da morte. As pessoas levavam comida na casa de quem perdeu um ente querido, tinha toda uma conotação religiosa (cristã, em especial, pelo menos na antiga América). Eu sempre gostei muito de ler sobre o mundo velho, como as coisas funcionavam mil anos atrás. Mas a maior parte desses hábitos se perdeu, junto com a religião. Com a guerra e o grande declínio populacional, já era difícil o suficiente poder enterrar todos os mortos. Os corpos eram queimados em pilhas, eu li uma vez. Me perguntava se também faziam isso com as fatalidades da guerra do Canadá. Acho que isso acabou se tornando um hábito profano para alguns, por conta da guerra, enquanto outros ainda acreditavam que a cremação era o único e inevitável caminho.

Kenny sugeriu que Butters fosse queimado em vez de enterrado, o que fez Stan olhá-lo com certa mágoa nos olhos. No fim das contas, decidimos que esta nem era uma opção viável. Fazer uma fogueira grande o suficiente para queimar um corpo certamente atrairia atenção desnecessária.

É uma conversa muito estranha de se ter; decidir com seus melhores amigos o que fazer com o cadáver de um dos seus. Até então, eu havia chorado. É uma conversa surreal demais, não parecia verdade. Por isso, considero tão importante o ritual de passagem da morte. Você precisa ver o corpo tomando algum rumo para começar a acreditar é entender.

Até então, eu só havia enterrado minha avó e era criança demais para entender o que estava acontecendo em um nível real. Lembro de minha mãe me segurando bem perto, dando um abraço sufocante com seus braços gordinhos, o seu perfume forte invadindo as minhas narinas, e ela dizia: “está tudo bem, Bubble, a vovó vai descansar agora.”

A morte de Butters foi a primeira grande perda da minha vida adulta. Foi o marco do início de todas as perdas que eu ainda viveria, todas as pessoas que eu ainda precisaria enterrar. E não seriam poucas. Eu já podia sentir isso enquanto me colocava de pé sobre o buraco, a vala, o túmulo onde Butters descansaria. Funguei um pouco por conta do frio, ou de um choro que queria surgir.

Meu coração doía. Não de forma metafórica, não como uma expressão tola, ele realmente doía de forma física, como se uma garra estivesse tentando arrancá-lo do meu peito.

Apertei os olhos e deixei escapar um gemido baixo. Senti uma mão quente se entrelaçando à minha. Olhei para o lado e lá estava Kenny, tentando sorrir, mas eu podia ver que seu coração doía também. Apertei sua mão com tanta força que ela poderia ter quebrado. Pelo menos foi essa a sensação que eu tive com os dedos ossudos de Kenny entre os meus. Stan estava logo ao meu lado; ou melhor, atrás de mim, próximo o suficiente para que seu peito tocasse de leve as minhas costas. Olhei de relance para ele. Sua pele tão pálida contrastava lindamente com os cabelos negros, os seus olhos estavam um pouco avermelhados, úmidos, assim como seu nariz. Ele não tirava os olhos de Gregory. Tinha as duas mãos unidas em frente à virilha.

Gregory limpou a garganta, unindo as mãos em frente ao corpo.

Estávamos no quintal dos fundos, tão mal cuidado quanto o da frente. Bem, não havia limites claros entre o terreno da casa e a floresta, era como uma terra sem fronteiras. O solo estava coberto por folhas secas que produziam a ideia de um tapete alaranjado. O cenário era triste e bonito. As árvores nuas, o céu avermelhado e repleto de nuvens. Logo, começaria a anoitecer.

Stan, Cartman, Clyde e Token foram os que cavaram a maior parte da cova. Abrir um buraco no chão mostrou-se uma tarefa surpreendentemente complexa; eu tentei ajudar, bem como muitas outras pessoas, mas no fim das contas parecia melhor que não houvesse um acúmulo muito grande de gente naquele espaço. As pessoas ficam anestesiadas em enterros, buscando quaisquer atividades estúpidas que pareçam ocupar as mãos e a cabeça.

O corpo de Butters estava deitado bem ao lado da cova, envolto num lençol branco sujo e terra, apenas seu cabelo loiro para fora. Era melhor assim. Já não havia mais cor alguma em seu rosto que outrora foi tão rosado e contente. Ele parecia bonito, eu o vi pouco antes de o envolverem no lençol. A imagem continuava fixa em meu cérebro, seu rosto apático e acinzentado, os lábios retos, um dos olhos dilacerados. Não é a última imagem que você deseja ter de um amigo.

Naquele dia, ficou muito claro o quanto as pessoas enxergavam em Gregory uma figura forte, de liderança, mas principalmente de apoio. Pediram para que ele fizesse a fala inicial, mesmo que não fosse um dos amigos mais íntimos de Butters. A verdade era que ninguém, nem mesmo Gregory, sabia o que dizer. Mesmo os que não conheceram Butters estavam presentes para o funeral porque ele representava todos os corpos que nunca poderíamos enterrar.

-Butters foi… - Gregory disse, sugando o ar pela boca. Ele não demonstrava qualquer vontade de chorar, apenas se mostrava desconfortável. Olhava todas as pessoas em torno daquele túmulo, seus olhos cheios de compaixão, por mais que a sua pose continuasse intacta e a expressão continuasse dura. Ficou muito claro que ele estava prestes a dizer algo muito fora daquilo que havia planejado. Sua voz, dessa vez, saiu muito mais honesta. - Ouçam, eu sei que muitos de vocês estão com o espírito quebrado. Sei que muitos sequer estão aqui por Butters, mas sim por aqueles que jamais teremos a chance de enterrar. Quero dizer-lhes uma coisa, Butters ficaria honrado por isso. Por ser a pessoa que, ainda que de forma muito pequena, acalenta o coração de cada um de vocês.

Ele fez uma pausa, fechando os olhos. Os meus se encheram de água antes que eu pudesse me dar conta, então eu trouxe a mão livre à minha boca - usava uma luva cinza que Stan tirou da própria mão para mim - e, com isso, segurei firmemente tudo aquilo que ameaçava explodir. Kenny secava os próprios olhos, chorando baixinho, trêmulo, e foi isso que me segurou. O choro de Kenny. Eu não podia desabar junto com ele.

-Não há problema em sofrer. - Gregory disse em um tom muito mais gentil. - Não aqui. Aqui vocês estão em família. Lambam suas feridas, curem seus corpos, cuidem uns dos outros, porque vocês precisarão disso para se certificar de que Butters, como os outros, não morreu por nada. Honrem esse garoto que estamos prestes a enterrar. Não pensem em vingança. Não percam o foco. Lembrem com carinho dos seus companheiros que se foram, mas deixem que partam.

Pude sentir o nariz de Stan contra a minha nuca, sua testa tocando a parte de trás da minha cabeça. Ele se apoiava contra mim. Eu não precisava me virar para saber que seus olhos estavam fechados e que ele chorava em silêncio, mas sem parar. Seu braço envolveu minha cintura em um abraço de acalento, tímido, mas era tudo de que eu precisava para permanecer de pé. Agarrei seu braço com minha mão esquerda e apertei a de Kenny com a direita. Cartman permanecia próximo a nós, sem nos tocar. Eu não o enxergava, pois ele estava um pouco atrás de Kenny, mas não podia evitar a preocupação com ele. Cartman podia ser comparado a uma panela de pressão. Se ele se abrisse um pouquinho que fosse nesse estado, explodiria completamente. Então ele permaneceu ali, de pé, com as mãos nos bolsos, alto como uma montanha.

-Eu gostaria de propôr que rememorássemos traços de Butters que nos eram admiráveis ou marcantes. Apenas quem quiser compartilhar conosco. - Gregory disse, por fim.

Então, meus olhos se cruzaram com os de Christophe. Ele estava do outro lado da cova, muito mais atrás do que todo mundo, por isso eu não o tinha visto até aquele momento. Trent, o homem loiro gigantesco, segurava seu braço como se tivesse medo de que ele despencasse. Ele não deveria estar fora da cama, mas ninguém convence Christophe DeLorne de nada. Ele se apoiava também em um pedaço de pau fincado na terra, como se fosse uma bengala. Sua expressão era ilegível. Não havia qualquer tentativa de conforto em seu olhar, ele apenas me encarava.

-Eu posso começar. - Wendy disse, pigarreando, e eu fiquei imediatamente grato pela sua iniciativa. Ela tinha os olhos fundos e vazios, os lábios trêmulos, parecia tão abatida e exausta. Certamente não dormiu, nem sequer cochilou. Ficou o tempo inteira acordada ao lado de Butters, ou fazendo curativos naqueles que precisavam, ou suprindo qualquer outra necessidade. Era assim que ela lidava com a dor. Annie estava logo atrás dela. Qualquer rosto familiar que eu encontrasse em torno da cova de Butters era um alívio. Annie tinha a mão posta sobre o ombro de Wendy. Durante alguns segundos, ela não disse nada. Mas seus lábios continuaram abertos, sugando o ar com um gemido baixo de dor, tão baixo que podia ter sido invenção da minha cabeça. Finalmente, com os olhos baixos, ela prosseguiu. - Ele é… Ele era uma das pessoas mais corajosas que já conheci. As pessoas sempre o subestimavam, mas ele era muito mais corajoso do que a maioria das pessoas.

Disseram que ele foi torturado. Uma garota ruiva chamada Lexus foi quem o encontrou. Eu só a conhecia como amiga do Butters, e sempre ouvi muitas gracinhas sobre como ele era apaixonado por ela desde a infância e nunca teve coragem de fazer nada a respeito. Talvez fosse só o velho hábito que nossos amigos tinham de tirar sarro dele, porque Butters era magrelo e tímido, as garotas gostavam dele mais como um pequeno bibelô do que qualquer outra coisa. Lexus tinha aquele tipo de beleza forte, com um ar de dominatrix, sempre com um decote cavado e batom vermelho escuro. Bem, exceto agora. Agora, ela vestia uma camisa masculina grande demais para ela e nenhuma maquiagem. Suas mãos cobriam a boca o tempo inteiro e as lágrimas não paravam de escorrer, os olhos inchados e pequenos, desfeita daquela compostura de mulher fatal. Parecia uma menina frágil. Ela tremia.

O que Lexus nos contou foi que os homens de branco o torturaram em plena luz do dia, em um beco. Perfuraram seus olhos e exigiram informações, e quando ele não disse nada, eles o jogaram à calçada como se fosse lixo, pensando que estivesse à beira da morte. “Pensei que eles fossem me matar”, Lexus contou que foram as primeiras palavras de Butters quando ela o encontrou. Ela nos contara isso uma hora antes do enterro. Stan foi ao banheiro vomitar, o quão discretamente quanto pôde, depois de ouvir o relato.

Wendy tinha razão. Butters era muito mais corajoso do que todos nós. Quantos daquele grupo não teriam delatado qualquer um dos companheiros na tentativa de se libertar? Todos nós queremos acreditar que seremos fiéis até a morte, mas se fizessem comigo o que fizeram com Butters… Eu não sabia qual seria a minha resposta. Pelo menos naquela época, eu ainda não conhecia a tortura na minha carne.

-Você poderia dizer qualquer coisa ao idiota e ele sempre rira - Cartman falou em seguida. - Ele não se ofendia com nada. Não encrencava com ninguém. Idiota.

Por mais que Cartman tentasse disfarçar, ele fungava baixinho, encolhendo-se. Estava segurando o seu gorro nas mãos, apertando-o amassado entre os dedos para se conter.

-O meu dia sempre melhorava depois de encontrar com ele. - Lexus disse, e pela primeira vez, houve alguma luz em seu rosto. Lembrar é algo muito poderoso. Ela quase chegou a sorrir, esquecendo-se durante um segundo de que nunca mais receberia um elogio dele.

-Ele daria a própria roupa do corpo se não tivesse outra coisa pra dar. - Stan falou em um tom calmo, tão carinhoso. - Nunca conheci uma pessoa tão altruísta. Ele não tinha um pingo de egoísmo nos ossos.

-Ele era tão confiável. - Kenny sussurrou, tão baixo que talvez só eu e Stan tenhamos escutado. Depois, em uma voz um pouco mais forte. - Daria a vida por quem ele amava.

Tanto que deu. Certamente eu não fui o único a pensar isso.

-Butters não julgava ninguém. - Eu finalmente falei, quase sem pensar. Fechei os olhos por um instante, e o fluxo de lágrimas ameaçava voltar, aquecendo meu rosto nesse ar gelado de outono. Tentei continuar, mas minha voz falhou, saindo baixinha e espremida em um gemido contido enquanto eu cobria meus olhos com as mãos, abaixando a cabeça. Stan quase que imediatamente passou os braços em torno do meu corpo, apertando-me contra ele. Kenny trouxe a mão pelo meu braço e fez um carinho demorado. - Ele… Ele aceitava todas as pessoas exatamente como elas são. Ele era bom demais pra essa merda.

Após longos segundos em silêncio, um pássaro começou a cantar. Não era um canto bonito, era mais como um berro de acasalamento. O som foi estridente e curto. Durante esse tempo, parecia que ninguém mais ia dizer nada. Eu me virei de lado para deitar a cabeça no ombro de Stan, mantendo os olhos fechados, minha mão apertando com força o tecido do casaco dele sem perceber. O seu calor era tão familiar, tão reconfortante. Quase um minuto de silêncio foi feito sem qualquer instrução.

Então, ouvi aquela voz característica, o sotaque francês carregado:

-O cabelo dele era muito amarelo. Era bonito.

E sem querer, eu sorri. Assim como Kenny. Não fomos os únicos, mas eu não quis levantar a cabeça do conforto de Stan pra saber quem mais soltou um riso choroso e baixinho.

Depois disso, enterramos nosso amigo. Diferente da atividade de cavar o buraco, o processo de deitar o corpo dentro da cova e jogar terra era um processo coletivo. Levou mais ou menos uma hora.

Cartman, Stan, Kenny e eu ficamos até o final. Mas logo, a pequena multidão começou a se dispersar. Algumas pessoas entraram para comer, ou dormir, ou apenas se proteger do frio. Outras continuaram por perto, passeando pelo terreno, conversando em pequenos grupos sobre o que seria dos próximos dias ou as pessoas que haviam perdido.

Eu vi Christophe sentado no chão, em uma parte mais alta do terreno. Só o espiei pelo canto do meu olho, sem encará-lo diretamente. Pude, também, ouvir Token discutindo com ele sobre a inconsequência que era ele já estar fora da cama depois do trauma que seu corpo passou. Achei bonito que Token ainda se desse ao trabalho de discutir com ele, parecia preocupado. Trent estava ao seu lado, mas de pé. Christophe quase parecia pequeno ao lado dele, especialmente ferido e encolhido dessa forma. De qualquer forma, Gregory também tentou convencê-lo a voltar pro quarto algumas vezes, mas Christophe continuava ali em silêncio. Eu também preferia que ele estivesse dentro de casa, deitado, descansando. Mas não falei com ele. Podia sentir seus olhos em minhas costas algumas vezes enquanto a noite caía, talvez em Stan também.

Por fim, minha atenção acabou se voltando para outra coisa. Quando nos demos conta, Cartman havia se isolado de nós. A cova ainda não estava totalmente preenchida pela terra, mas o corpo de Butters não era mais visível. Eu sentia um aperto horrível no estômago ao imaginá-lo ali embaixo, embora soubesse que aquele não era mais Butters. Era só carne.

Kenny umedeceu os lábios, lançando-nos um olhar de dúvida sobre o que fazer quando viu Cartman sentado muito longe do resto de nós, com as costas apoiadas contra uma árvore gigantesca, de tronco grosso, quase completamente seca. Kenny fez um sinal de “deixa comigo”, mas não demorou para que Stan e eu fôssemos atrás. Parecia a coisa certa a se fazer.

Cartman não estava chorando. Talvez fosse menos preocupante se ele estivesse. Estava apático, sentado com as pernas abertas e as mãos sobre as coxas, encarando o chão coberto de folhas secas com os olhos vazios. As folhas quebravam sob nossos passos quando nos aproximamos para sentar junto dele.

Ninguém disse nada durante alguns minutos. Nós só observamos a movimentação, afastados o suficiente para ter uma vista panorâmica do enterro. Clyde e Token continuaram jogando terra sobre a cova, Clyde chorando compulsivamente e Token lhe dizendo para continuar trabalhando. Craig estava próximo deles, mas não pegou a pá uma vez sequer. Fumava. De repente, Cartman disse:

-Clyde nem era amigo próximo do Butters, por que esse veado não para de chorar? Essa bicha dramática. Precisa sempre de atenção.

-Eu acho que não é pelo Butters. - Kenny disse antes que eu tivesse a chance de proferir exatamente as mesmas palavras. - É pelo Tweek.

Cartman soltou um “hm”, mas não pareceu satisfeito. Quando caímos novamente em silêncio, eu ergui o rosto para enxergar os desenhos que os galhos faziam sobre nossas cabeças, tão horripilantemente incríveis. Pareciam vários braços grossos e deformados tentando alcançar alguma coisa. O sol estava quase acabando de se pôr, mas ainda havia luz natural suficiente. Quando endireitei a cabeça, Stan estava me olhando de perto. Estava com as pernas dobradas, despedaçando uma folhinha que catou do chão, a coluna meio torta, os ombros caídos pra frente. Eu pus minha mão sobre a perna dele.

-Olha só o Craig. - Stan observou, como se falasse sozinho. - Eu tô preocupado com ele.

-É, isso fodeu muito com a cabeça dele, parece. - Kenny concordou, assentindo. Ele tinha as pernas cruzadas e os pés unidos, seu tênis surrado se despedaçando. Segurava os próprios calcanhares como um menino. - Ele tá diferente.

-Pelo menos o Clyde chora, sabe? - Stan disse. - É pior quando a pessoa fica apática desse jeito.

Eu podia ver exatamente do que eles estavam falando. Não havia nada de absurdamente peculiar sobre o comportamento de Craig, mas alguma coisa parecia… Estranha. Não parecia ser o tipo de mudança temporária, por conta do choque, algo com o qual ele se acostumaria e voltaria ao normal. Havia um vazio dentro dos seus olhos opacos, uma estranheza na forma com que ele se recolhia, mais quieto do que de costume. Algo em Craig havia mudado. Mas na época, não pensei que fosse algo grave. Todos nós estávamos deformados por tudo o que vimos.

-Eu sei que é horrível o que eu vou dizer agora, mas… - Kenny disse, e as nossas três cabeças se voltaram na direção dele. Mas seus olhos estavam focados em Clyde, Token e Craig. - O que eles devem estar passando agora… Eu não sei o que eu faria. Se tivesse sido um de vocês, eu não sei o que eu faria.

O que Kenny estava tentando dizer, mas não poderia, não depois de enterrar um amigo e não poder enterrar tantos outros, era: “Eu estou feliz que não tenha sido nenhum de vocês”. Isso ficou muito claro pela culpa que ele carregava nos olhos por sequer pensar algo assim. A pior parte é que eu entendia o que ele estava dizendo. Não é dar mais valor a uma vida sobre a outra, mas é diferente quando algo acontece com uma das suas pessoas. Especialmente agora que nós não sabíamos quando seria a próxima vez que veríamos nossas famílias, nossos pais, nossos irmãos e irmãs. Pensar em Ike fez meus olhos começarem a arder de novo, mas eu já não chorava mais. Agora, tinha ficado aquele gosto estranho de alívio após um choro que estava preso. Eu já conseguia respirar melhor.

Quando me dei conta, a mão de Stan estava cobrindo a minha.

-É um pouco horrível sim. - Stan disse, mas os cantos de seus lábios quase se levantavam. Sutilmente, é claro. Não chegava a ser um sorriso. Respirando fundo, ele continuou. - Eu tô muito aliviado que vocês estejam bem. - Disse baixinho, olhando as folhas secas sob nós, o tapete de folhas que se estendia por metros e cobria a terra úmida.

Cartman cruzou os braços e mordeu um pouco o lábio inferior, pensativo. Eu o observei durante alguns segundos, lembrando da noite anterior, das coisas que ele me disse quando achou que Kenny não fosse voltar. Eu também pensei. Continuava encarando Kenny durante longos segundos só pra ter certeza de que ele estava mesmo vivo e bem. Por outro lado, os medos da noite anterior pareciam tão distantes. Foi a noite mais longa da minha vida, e por outro lado, parecia ter sido há tanto tempo.

-Como é que você pode achar que nós não teríamos voltado por você? - Perguntei, olhando diretamente para Cartman.

Ele não entendeu a minha pergunta, assim como os outros dois, Stan e Kenny, também não. Os três me olhavam com as sobrancelhas franzidas, o rosto levemente de lado, um olhar questionador em cada um deles. Mas logo o de Cartman se desfez, e ele ergueu o queixo, pressionando a língua por dentro da bochecha. Estivera muito bêbado na noite anterior, mas certamente, lembrava-se da nossa breve conversa.

-Você trata a gente que nem merda a maior parte do tempo e ninguém disse que a gente gosta de você. - Eu continuei, e Stan ergueu as sobrancelhas com aquela expressão que sempre dizia “nossa, Kyle, calma aí”, mas nada saiu dos seus lábios. Cartman continuava me encarando, o rosto como uma parede branca, inatingível. - Mas você é família. Qualquer um de nós pularia de uma van por você.

-Pera, o quê? - Kenny perguntou, confuso, mas entendendo que aquilo tinha a ver com o fato de que ele voltou para nos procurar no dia anterior, mesmo depois de já estar seguro a caminho daqui.

-Eu acho que a sua pergunta não é se a gente pularia de uma van por você. A sua pergunta é se você faria isso por nós.

-Você acha que eu não fiquei procurando vocês?! Só que eu tinha um trabalho. Eu tinha que trazer quantos babacas eu pudesse em segurança pra cá. Eu voltei pra procurar você e aquele francês sujo, não voltei? Eu arrisquei o meu rabo pra te procurar.

Ele devia estar muito em carne viva com a perda de Butters pra fazer uma declaração tão honesta, sem tentar disfarçar a preocupação com grosseria. Bem, talvez ele tenha feito isso um pouquinho, mas dentro dos limites de Cartman, aquilo aqueceu meu coração. Em outras circunstâncias, teria me dado vontade de sorrir. Mas nesse dia, não. Apenas assenti com a cabeça devagar, relaxando os ombros.

-Eu só tô dizendo que fidelidade nunca foi tão importante quanto agora. Ninguém vai sobreviver a isso sozinho. - Concluí, e isso pareceu dar fim à conversa. E estar ali com meus três melhores amigos de infância, velando Butters que devia estar nos observando de algum outro plano… Foi reconfortante.

Estar sozinho talvez seja a coisa mais assustadora desse mundo. E naquele momento, não estávamos.

Depois de alguns segundos, Kenny e Cartman começaram a conversar sobre outra coisa. Stan soltou minha mão, se espreguiçou e se deitou no chão, a cabeça apoiada sobre a minha coxa. Fiz carinho no seu cabelo com a mão leve durante um tempinho, antes de perceber uma movimentação nas proximidades da casa.

Christophe dizia alguma coisa a Gregory, alguma coisa muito rude, de onde eu podia enxergar. Mas eu não podia ouvi-los a essa distância. Gregory provavelmente dizia alguma coisa sobre ele não caminhar sozinho nesse estado, segurando a bengala que ele deveria usar, oferecendo-a a ele. Christophe o mandou enfiar a bengala no cu, isso eu pude entender muito bem. Não precisei ouvir o som pra saber. Então, Christophe começou a marchar para a casa em um andar muito mais rigoroso do que ele parecia dar conta, em uma velocidade que podia arrebentar todos os pontos do seu abdômen. Gregory não fez nada a respeito. Ele já tinha PHD em Christophe para saber quando não forçar os limites dele. Eu não tinha.

-Ei, eu já volto. - Disse a Stan, e ele ergueu a cabeça para que eu pudesse me levantar. Ele viu a direção para a qual eu caminhei (os três viram), mas não disse nada a respeito.

Conforme eu me aproximava, Trent tentava segurar o braço de Christophe para ajudá-lo a caminhar, mas Christophe o empurrou com repugnância. Instintivamente, quando percebi que Trent não pretendia insistir mais, eu o segui. Para um homem baleado, ele continuava extraordinariamente rápido. Eu tentei chamar seu nome, mas ele continuou trotando feito um cavalo ferido, fingindo que não me escutava. Ou abertamente me ignorando. E eu estava muito ciente do que isso significava, teria que ser imbecil para não saber: ele queria ficar sozinho, ou pelo menos, não queria falar comigo. Mas isso deixava de ser importante quando ele colocava seu corpo fragilizado em risco. Trent era capaz de respeitar essa decisão, mas eu não era.

Ele andava mergulhando os pés nas poças de lama sem qualquer cerimônia, fazendo um caminho reto até a porta dos fundos da casa. Eu tentava desviar das poças, mas quando a distância entre nós começou a crescer – porque eu não queria literalmente persegui-lo – eu deixei de me importar com os sapatos que já estavam imundos e a barra daquela calça que nem era minha. Quando adentramos a casa, Christophe ainda estava alguns metros na minha frente. Chamei seu nome de forma mais enfática, quase agressiva, respirando de maneira irregular. As quatro paredes que nos cercavam tornaram o som da minha voz muito mais forte. O eco reverberando nos azulejos da cozinha chegou a machucar os meus ouvidos, mas ele já estava entrando na sala. Não queria falar com ele omo se estivesse brigando com uma criança, mas vê-lo trotando dessa forma me assustava. Até o dia anterior, eu tive certeza de que iria perdê-lo. E agora ele estava de pé, tão pálido, tão trêmulo, com olheiras profundas, aparentando tanta dor. E ainda assim, continuava se movendo de forma tão brusca. Eu tinha medo de que ele desmaiasse e eu não seria capaz de segurá-lo. Nós estávamos sozinhos agora.

-Christophe!

-O que é? - Ele gritou, virando-se na minha direção. Eu não esperava que ele parasse de andar de repente.

-Deixa eu te ajudar, pelo menos. - Pedi encarecidamente, estendendo a mão para tocar seu braço, finalmente próximo o suficiente para isso.

Mas a resposta imediata dele foi se encolher feito um bicho erradio, empurrando minha mão com, aparentemente, toda a força que tinha. Só então eu me dei conta do quão fisicamente fraco ele estava. Em seu porte normal, se ele me empurrasse com tamanha raiva, eu teria cambaleado para trás.

-Não encosta em mim. - Ele murmurou com uma voz rouca, mas carregada de ódio.

Em outras ocasiões, eu teria sentido medo dele. Christophe já intimidava normalmente, mas quando havia esse brilho furioso em seus olhos, era muito pior. Eu nunca tinha sido a pessoa a receber esse tipo de olhar dele antes. Já o vi com tanto ódio na expressão no dia em que fomos encurralados por aqueles dois homens de branco que Tweek matou, e mesmo naquela situação, Christophe parecia muito mais calmo. Isso aqui era mais pessoal. Ser o motivo do transtorno dele me deixou com as pernas bambas, e não daquela maneira gostosa que costumava ser.

Mas eu não tive medo. Não com ele assim tão encolhido, tão machucado, sem cor nenhuma no rosto, suando frio. Ele mal teve força para empurrar minha mão, estava castrado daquela força física que costumava intimidar qualquer pessoa em sã consciência. E era doloroso demais vê-lo dessa forma. Olhando para trás, vejo que foi aquele o momento em que minha relação com Christophe começou a mudar. Desde que eu o conheci, desde aquela primeira troca de olhares na cafeteria, o que me fascinou sobre Christophe DeLorne foi a sua força. Ele parecia esse ser quase não-humano, tão selvagem e resistente, mas acima de tudo, indestrutível. No dia anterior, eu descobri que ele não é. Bem, eu já sabia racionalmente que qualquer pessoa poderia morrer se levasse um tiro na barriga, mas ele era diferente. Através dos meus olhos, ele era diferente. Porque ele não sentia medo quando lhe apontavam uma arma. E porque ele nunca, nunca errava um tiro. Porque ele tinha uma casca tão grossa que o protegia do mundo inteiro e, pelo menos durante alguns meses, insistentemente, senti que ele me deixou entrar na concha dele. Pelo menos um pouquinho.

Naquele momento, eu começava a desconstruir a imagem desse homem idealizado, o Toupeira, o Forte, o guerrilheiro. Eu acredito que já o amava, embora não soubesse disso plenamente naquela época. Desconstruir esse ideal foi o primeiro passo para isso, talvez, conhecê-lo e amá-lo da sua maneira peculiar. Parar de desejar uma fantasia, passar a enxergá-lo como o homem falho de carne e osso que era, em todas as suas fragilidades. Você só pode amar uma pessoa de conhecer o que ela tem de mais feio, ou pelo menos era nisso que eu acreditava. Mas com Christophe, eu redescobriria esse “mais feio” diversas vezes. Toda vez que eu pensava já ter visto todas as suas facetas, ele me surpreendia.

Bem, eu nem consideraria esse um aspecto feio, essa raiva reluzindo dentro das suas íris. Pelo contrário, chega a ser bonito vê-lo transbordando mágoa genuína como todas as pessoas, vê-lo se permitir demonstrar sentimentos. Demonstrar que estava magoado.

Magoado.

E eu era responsável por isso. Eu, de alguma forma, sem perceber, entrei sob a pele grossa dele e o feri de uma maneira muito mais desonesta do que as armas de fogo e as lâminas são capazes de fazer. Isso me perturbava.

Quando entramos no quarto, parei na porta. Era como se aquela zona fosse proibida, íntima demais para ser invadida. O quarto estava abafado, as cortinas fechadas. O colchão onde nos deitamos juntos há poucas horas continuava ali, com uma coberta enrolada e um travesseiro fora de lugar, parecendo estranhamente aconchegante nesse quarto escuro. O abajur no chão estava desligado, naturalmente. Meus olhos percorreram o colchão enquanto Christophe adentrava o quarto e caminhava, mancando, até a parede oposta. Era como se ele sentisse necessidade de estar o mais longe possível de mim. Eu sabia que era egoísta sentir esse aperto no peito por pensar que ele não me abraçaria daquela forma de novo, não tão cedo. Mas aquilo me entristecia.

Então eu engoli qualquer possível sentimento que tentasse transbordar dentro de mim e fiquei ali, parado, respeitando os limites dele. Ou talvez fosse só covardia da minha parte.

-Christophe… - Chamei baixinho, tocando o batente da porta.

-Sabe. - Ele disse de repente, para a minha surpresa. Virou-se na minha direção com seu jeito brusco, os movimentos limitados pela extensão do ferimento no abdômen. Seus pés vacilaram, ou talvez tenha sido a falta de força nas pernas para sustentar o próprio peso. Ele precisou se apoiar na parede, as costas levemente curvadas, a respiração intensa. - Eu não sei se você está tão acostumado com a cegueira do Stan ou o quê, mas eu vejo as coisas exatamente como elas são. Então pode sair da merda do meu quarto, eu já entendi. Não fala nada.

-Por favor. - Pedi, sem compreender direito o que é que eu estava pedindo dele. E eu nem tinha esse direito. Podia jurar que minhas bochechas estavam ardendo de vergonha. - Não vamos entrar nisso agora. Nós acabamos de enterrar um amigo… E você devia estar na cama, é muito cedo pra você estar andando.

Ele encostou a testa na parede assim que ouviu a minha voz, e eu pensei que as duas coisas estivessem relacionadas, que a minha voz estivesse lhe maltratando quase que fisicamente, mas não. Quando ele se ajoelhou, envolvendo o braço em torno da região do estômago, eu entendi que a dor física, literalmente física, devia estar insuportável. Era difícil ver a expressão em seu rosto, mas eu podia perceber que seu rosto inteiro estava franzido, contorcendo-se em uma careta tão vulnerável de dor. Ele grunhiu baixo. Respeitar qualquer barreira se tornou desimportante; apenas adentrei o quarto sem pensar e corri até ele, estendendo a mão para tocá-lo no ombro. Foi o tempo de eu me ajoelhar ao seu lado que Christophe espalmou as duas mãos no chão sujo e se curvou para frente, vomitando apenas líquido. Parecia mais ácido estomacal e água, como se ele nem tivesse algo no estômago para pôr pra fora. Meu coração queria pular pela boca, batendo forte na minha garganta enquanto eu procurava algum sinal de sangramento no seu abdômen, a região por onde a bala havia entrado. Era difícil enxergar alguma coisa com ele curvado desse jeito e com pouca luz. Christophe grunhiu forte mais uma vez, sugando o ar pela boca entre uma gorfada e outra. O vômito se espalhava pelo chão de madeira, respingava na minha perna, mas eu nem percebi na hora. Escorriam lágrimas dos seus olhos e nariz, mas não era choro, e sim ardência do vômito. Pelo menos foi o que pareceu.

-Shh. Tudo bem. - Sussurrei, fazendo carinho em suas costas. Durante um sólido minuto, ele segurou meu pulso como se fosse a única coisa disponível e ele precisasse se agarrar a alguma coisa. A raiva, o orgulho, a mágoa, tudo isso se diluiu até que ele tivesse colocado para fora tudo o que seu corpo rejeitasse. -Vamos te botar no colchão. Pode ser?

Christophe jamais admitiria isso, mas senti em seu corpo o alívio por ter outra pessoa com ele nesse momento. Foi precisamente por isso que eu o segui, para estar com ele no momento em que despencasse. Era uma questão de tempo, pela forma que ele forçava o próprio corpo abatido. Instintivamente, usei minha própria palma para limpar o resto de vômito que escorria da sua boca. Ele recuou em um movimento curto, mas preciso, virando a cabeça para o outro lado. Parecia grogue, não chegou a ser violento. Ele nem tinha forças para isso.

Lidar com Christophe era muito semelhante a lidar com um bicho selvagem. Eu não o digo de forma pejorativa, muito pelo contrário. É a sutileza dos movimentos, a sua capacidade de cheirar o medo em alguém e de construir confiança com aqueles que soubessem, com calma e sem forçar nada, oferecer alguma forma de conforto. Talvez eu tenha passado do limite ao limpar seu vômito com a mão, mas apesar do recuo, ele pareceu relaxar em seguida.

É engraçado. Vômito sempre foi uma das coisas que mais me incomodou, mas não naquele momento. Eu não tive nojo, não relutei a tocá-lo, não passei mal com o cheiro. Porque nada disso era mais importante do que segurá-lo.

Quando tentei fazê-lo levantar, da forma mais gentil que pude, ele não se moveu. Continuou de cabeça baixa, as mãos no chão, a respiração desregulada.

-Você está sangrando? - Perguntei baixinho.

Ele também não me respondeu.

Talvez tenhamos passado pelo menos dez minutos assim, em silêncio, Christophe tentando se recuperar gradualmente e eu apenas lhe fazendo companhia, assegurando de que havia alguém com ele sem ter que dizer nenhuma palavra.

-Kyle. - Ele murmurou baixinho, virando o rosto para me olhar, mas seu cabelo já estava longo o suficiente para cair sobre os olhos. Tudo o que eu podia ver eram aqueles olhos mais brilhantes do que de costume, quase amarelados, cansados e abatidos, encarando-me de perto. - Por favor. Me deixa em paz.

Havia um traço de súplica no que ele me dizia. Não era uma ordem, um latido grosseiro facilmente ignorável. Era um pedido. Olhando nos meus olhos, tão próximo de mim, vindo de um homem que mal conseguia se levantar sozinho. Mas não havia resposta para aquele pedido. Não havia maneira de negá-lo, de impôr a minha presença mais do que eu já havia imposto. Porque para um homem tão orgulhoso se obrigar a pedir, baixinho, que eu lhe desse o espaço necessário para respirar… Talvez só então eu tenha sentido realmente o peso do que eu fiz com ele.

Tudo o que eu não queria era me levantar e deixá-lo sozinho, sentado no próprio vômito, sem condições de chegar até o colchão. Mas era o que ele queria. Eu podia ver em seus olhos, porque pela primeira vez ele me olhava de frente: me ter ali era muito pior do que qualquer dor física. A humilhação era pior.

Eu não podia mais ser a pessoa por quem ele chamava ao acordar. Não podia mais ser eu a segurá-lo pelo braço, a ajudá-lo, não podia mais ser seu companheiro, seu amigo, não podia mais ser seu íntimo. Porque agora nós éramos outra coisa. E eu não sabia o quê. Sabia que machucava. Não só a ele, também me machucava ter consciência de que, se fosse para convivermos na mesma casa e não nos tocar, nós não poderíamos nem mesmo ser... Amigos? Nós já fomos amigos em algum momento? Eu não sabia dizer.

Não, acho que nós sempre fomos alguma outra coisa. Alguma outra coisa que nenhum de nós teve a oportunidade de entender completamente, e agora havia acabado, porque eu escolhi Stan. Não precisava dizer em voz alta, ele sabia. Christophe soube antes de eu mesmo saber.

Tirei minha mão de seu ombro lentamente e me levantei, esfregando a palma da mão na lateral da minha coxa, sobre o tecido da calça. Senti meus olhos ensaiando lacrimejar quando o olhei uma última vez, o coração pulsando tão apertado em meu peito que poderia muito bem explodir. Eu não me permiti chorar porque não era direito meu.

-Eu entendo. - Falei baixinho. - Me desculpa.

Não sabia se estava pedindo perdão por me impor, por forçá-lo ou por simplesmente não ser dele. Por não poder ser dele. Ele também não reagiu.

Deixei o quarto e fui chamar o Gregory. Ele sim era a pessoa certa para recolher Christophe, sempre foi.



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