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História Lição de casa - Kiribaku - O olho do furacão


Escrita por: Mimi_imim

Notas do Autor


Gatilho: violência

Capítulo 18 - O olho do furacão


Não tiveram nem tempo de comemorar a captura de Ymir, quando ao fundo ouviram o golpe de Endeavour, Prominence Burn, seguido de um clarão e uma onda de calor sufocante.

— Talvez papai precise de nossa ajuda, vamos lá Shouto! Sero, você pode ir ajudar os meninos contra o Wolverine.

— Por quê você acha que tá no comando? Você tá bêbado — reclamou Shouto.

— A minha licença de herói permanente diz que eu tô no comando, seu zé ruela, e mesmo bêbado eu ainda sou mais forte que você, então é por isso que você e seus amiguinhos vão me obedecer.

 

Vinte e cinco minutos antes, às 22:00.

Endeavour chegou voando com seu jetburn ao centro do caos, vendo tudo de cima, e o que viu descrevia bem o olho do furacão: o lugar mais calmo de uma tempestade é no seu centro. Havia três pessoas paradas no centro de tudo, um raio de 4m livre, e a partir disso uma grande densidade de pessoas amontoadas, gritando caoticamente, pedindo socorro, sem se mexer. Era como se houvesse uma barreira separando a multidão daqueles 3.

Olhou bem para os responsáveis, e seus olhos se arregalaram ao notar a mulher alta de cabelos compridos:

— Rei…

Ele sabia que ela era uma psicopata, mas nunca achou que ela poderia ir tão longe assim. Os anos sem ela tinham sido ótimos, sua família estava tentando se recuperar, mas agora ela tinha decidido flagelar o mundo com suas ideias narcisistas e deturpadas.

Rei olhou para cima e viu uma figura brilhante voando, era o verme de seu ex-marido. Olhou ligeiramente animada, seria muito satisfatório destruir a vida dele e ver o desespero em seus olhos. Fez um sinal para o homem de roupas brancas.

Rei criou uma coluna de gelo sob seus pés, que crescia e crescia, até atingir a altura onde estava Endeavour. Ficou parada como uma estátua sobre seu pedestal a 30m de altura, em pleno ar.

— Que bom que você conseguiu chegar a tempo para ver o seu mundo desmoronar — falou com um sorriso de desdém a rainha do gelo.

— Rei, isso é loucura demais, até para você.

— Não era você que vivia falando “Seja a mudança que você quer ver no mundo”?! Pois eu cansei desse mundo cínico de falsos heróis. Esse mundo de pessoas fracas, que ficam sentadas confortavelmente em suas casas, esperando que os outros façam tudo por eles. A ordem natural da vida é a sobrevivência dos mais fortes, e eu decidi mostrar ao mundo que todos devem se ajoelhar aos meus pés.

— Rei… você não precisa… — tentou argumentar o herói, mas era muito difícil tentar conversar com alguém com ideias tão deturpadas.

— Os seus filhos estão aqui?

Endeavour ficou aliviado por ela ter falado “seus”, não gostava de pensar na possibilidade de ela querer ficar com as crianças.

— Por quê você quer saber?

— Só para saber quem vai assistir à sua derrota. Já temos o mundo inteiro — e apontou para as câmeras e helicópteros — mas também seria muito bom se seus filhos vissem o fracasso que você é em primeira mão.

Falando isso, Rei fez uma rampa de gelo e foi deslizando até o chão para trás da barreira humana. Endeavour a acompanhou.

Rei sabia do cavalheirismo daquele babaca, e sabia que ele não daria o primeiro golpe. Então aproveitou para alongar sua caçada, aproveitando-a ao máximo.

— Melhor ainda, se seus filhos estiverem aqui, eu posso torturá-los na sua frente, enquanto você assiste imóvel e impotente.

Ela não tinha um pingo de emoção em suas palavras. Falava isso com a mesma calma de alguém que fala “hoje eu comi maçã”.

— Você… você já fez estragos suficientes nos MEUS filhos, não ouse encostar mais um dedo gelado neles — falou, partindo para o ataque.

Rei ficou surpresa que o herói atacou primeiro. “Então mexer com as crianças é uma linha que ele não quer que eu passe, mais do que mexer com os civis… Hm… Melhor ainda. Espero que eles estejam por aqui também.”

Endeavour voou impulsionado pelo jetburn, tentando desferir um soco flamejante em Rei, que criou uma placa de gelo para interceptar o golpe. Esta luta não seria nada fácil, seus poderes se cancelam então apenas o mais forte seria capaz de subjugar o outro. O gelo iria apagar o fogo ou o fogo derreteria o gelo? Quem é mais forte?

Endeavour continuou indo para cima, desferindo golpes flamejantes, que Rei interceptava com placas de gelo ou simplesmente desviava. 

— Você ficou triste quando eu te abandonei?

Endeavour continuou tentando acertá-la no combate corpo-a-corpo, e ela continuou desviando como se aquilo fosse uma brincadeira de criança.

— Mas você deve ter ficado triste quando viu a foto que eu deixei, né? Eu e minha linda amante tendo noites quentes na sua cama. Ela sempre me satisfez sexualmente, diferentemente de você.

O herói não ia cair naquele jogo sujo, ele sabia que ela se alimentava de tristeza, medo e sofrimento, como um dementador. Continuou sem responder. Um chute. Uma sequência de socos. Cotovelada. Chute meia-lua. Nada a acertava.

— Sabe, Enji — falou com uma voz doce e inocente — o que aconteceu com as crianças foi sua culpa. Você me pressionava tanto para ser uma boa mãe que eu não aguentei. Se não fosse por você, nós poderíamos ter sido uma família completa e feliz.

Era mentira. Se não fosse por Enji, as crianças teriam fugido de casa ou sido torturadas e maltratadas. Os psicopatas são pessoas extremamente narcisistas, que acham que o mundo está ali para lhes servir. Não sentem emoções, são ótimos para contar mentiras e sabem as palavras certas que devem ser ditas para conseguir aquilo que querem, manipulando todos ao seu redor.

Enji não acreditava nas palavras que ouvia. Não era possível que ela tinha acabado de falar aquilo.

— Você se ouve falando?! O meu único erro como pai foi ter mantido você em casa, mesmo quando eu já tinha percebido que você era um monstro. Mas eu achei que podia te consertar, te curar.

— Não existe o que consertar, Enji, eu sou perfeita — falando isso, segurou o punho esquerdo do herói. Ele tentou acertar um direto mas ela aparou o golpe e segurou seu punho direito também.

Parados, frente a frente, o herói colossal de 2m de altura e a vilã esguia de 1,80m se encararam. Rei começou a congelar os punhos do herói, que tentou soltar calor para se proteger. O calor impedia o frio de destruir as suas células, o frio invadia e tentava entrar, como uma onda. Era uma batalha silenciosa de dominância.

Rei apertou as mãos mais forte, ela tinha a vantagem de estar usando as mãos, que são mais habilidosas, do que Enji, que estava soltando calor pelo antebraço. Lentamente o frio começou a ganhar, invadir sua pele. Endeavour sentiu que estava perdendo aquela batalha então tentou dar uma cabeçada na oponente, que contra-atacou com um sopro de gelo que apagou sua máscara de fogo e deixou neve nos cabelos carmesins do herói.

Seu punhos estavam completamente congelados, não sentia suas mãos.

Rei o soltou.

— Eu esperava mais do herói número um, eu não usei nem 20% do meu poder. Mas fazer o quê, você sempre me desapontou, Enji — falou, criando uma coluna de gelo pequena e se sentando sobre ela, cruzando as pernas.

Enji caiu de joelhos no chão, olhando para seus punhos com grossas camadas de gelo. Como fora perder tão fácil assim? Estava se segurando?

Olhou para os lados e notou que quase não havia mais civis em Shibuya. Helicópteros ainda sobrevoavam, agora havia mais de sete. Ao fundo viu um tornado de chamas azuis e vermelhas e ouviu gritos estridentes desesperados. “Meus filhos estão aqui, tenho que dar tudo de mim para protegê-los. Eu. Não. Posso. Perder” pensou, cerrando os dentes.

Rei também notou o tornado carmesim-cerúleo, e viu a expressão de Endeavour mudar de derrotado para obstinado.

— Então os seus filhos estão aqui??? Que rude você não me contar — falou indo em direção ao tornado de chamas.

— Não. Ouse — falou o herói pausadamente com os dentes cerrados e olhos queimando de ódio.

Endeavour começou a soltar uma aura de fogo, que descongelou seus punhos. O calor começou a ficar mais e mais intenso, as chamas foram aumentando em tamanho e intensidade. Precisava elevar sua temperatura ao máximo.

— PROMINEEEENCEEEEE BUUUUURRRRRNNNNN!

Gritou, e uma explosão de calor engolfou um raio de 40m do herói. Ele continuou a queimar e queimar, aumentando a temperatura ao máximo. “Preciso proteger o mundo. Preciso proteger as pessoas. Preciso proteger os meus filhos dessa vez.”

As chamas vermelho-alaranjadas do herói ficaram tão quentes que se tornaram brancas, ultrapassando 5.000 graus Celsius.

A bola de fogo que os envolvia queimava tudo ao redor, chamuscando o asfalto e derretendo os carros.  Os vidros dos prédios no entorno também começaram a derreter, como uma pintura de Salvador Dali.

O herói queimou até não ter nada mais para dar, estava exaurido. Seu core estava superaquecido.

As chamas se dissiparam e ele mal se aguentava de pé. Quando olhou para frente viu Rei, suas roupas estavam um pouco queimadas, sua pele e cabelo um pouco chamuscados. Ela tinha muito ódio no olhar.

Endeavour caiu para trás, enquanto Rei permaneceu de pé. Andou vagarosamente até o herói caído e o olhou com desdém.

— Eu deveria acabar com sua vida miserável aqui, mas não vou te dar tanta misericórdia. Antes, eu vou matar nossos filhos na sua frente. Você vai se arrepender por ter se oposto a mim.

Criou uma estaca de gelo, estava prestes a enfiá-la na mão de Endeavour, quando um chicote de fogo azul acertou sua mão, fazendo-a derrubar.

Virou-se para olhar seus filhos, e se deparou com penas vermelhas afiadas, pingando sangue, levitando como pequenas facas a poucos centímetros de seu rosto.

— APUD! — exclamou a rainha do gelo — segure a galinha voadora, eu tenho assuntos de família a terminar — falou, congelando as penas de Hawks.

O homem de túnica branca prendeu Hawks e Tokoyami em uma barreira em formato de bolha, invisível. Hawks e Tokoyami tentaram atacar e quebrá-la, mas sem sucesso.

 

— Nem mais um passo perto do papai — Falou Touya, muito sério — você tem sorte que eu não sou vingativo, se não eu iria querer retribuir as marcas que você deixou em mim e no Shouto… Mas, vejo que papai já se adiantou e fez isso por nós.

— Isso? Isso não é nada — falou olhando para as queimaduras de terceiro grau nos braços.

— Chega de papinho, Rei. Se entregue logo, senão... — falou Touya, ameaçando-a com um estalar do chicote azul.

Aquilo já estava se estendendo por muito tempo, já estavam sendo pressionados pelos heróis. Mercúrio havia sido derrotada pela galinha de delineador, Ymir provavelmente tinha sido derrotada pelos seus filhos. R2 não servia para lutas, e Apud estava ocupado segurando a galinha intrometida. Wolverine parecia ainda estar de pé, lutando contra uns pirralhos. Rei precisava agir rápido. Estralou os dedos e pescoço.

Shouto agiu mais rápido, congelou o  corpo de Rei até o pescoço, ela se assustou mas rapidamente quebrou o gelo. Foi o tempo de Shouto correr para as costas dela, agora empunhando um chicote de chamas vermelhas. Os dois irmãos começaram a orquestrar os ataques, e pouco a pouco, foram acertando mais e mais golpes na rainha do gelo. Os três estavam cansados de suas batalhas, Rei tinha usado quase todos seus poderes para sobreviver ao prominence burn de Endeavour. 

Rei esticou as mãos para o alto:

— Está bem, vocês venceram. Eu me rendo.

 

Os dois não acreditaram naquela encenação nem por um segundo. Touya foi se aproximando com cuidado.

Quando estava a um passo dela, a mulher segurou uma mão no pescoço do filho mais velho, e uma mão no seu estômago, pronta para congelá-lo por dentro em um piscar de olhos.

Shouto reagiu rápido e a enrolou com o chicote de chamas, prendendo seus braços colados ao corpo.

Touya esfregou o pescoço, tentando esquentá-lo.

— Valeu maninho, eu fui muito idiota por ter me descuidado.

Rei olhou para o lado e viu que Endeavour estava recuperando a consciência. O herói se sentou, ainda parecendo atordoado.

Parou de lutar contra o chicote que a segurava, endireitou a postura e começou a concentrar suas forças. Aos poucos sua pele começou a excretar uma camada de gelo, que começou a aumentar e aumentar, cada vez mais grossa. O chicote de chamas se apagou e, num estalar de dedos, surgiram de sua pele dezenas de estacas de gelo apontando para todas as direções, com ela protegida no centro da estrutura..

Touya quase foi empalado, mas conseguiu pular para trás a tempo. Shouto estava mais longe, mas ainda assim uma estaca quase lhe furou o ombro — conseguiu reagir a tempo.

Endeavour tentou levantar, mas lhe faltavam forças. Touya viu o esforço do pai e gritou:

— Fica de boa aí coroa, a gente dá conta da megera.

 

Ao fundo, ouviram um grito desesperado:

— NÃÃÃÃÃÃÃO, KIRISHIMAAAAAAAAAAAAA!

 

Os dois irmãos se olharam preocupados. Precisavam acabar logo com aquilo.

— VOCÊ SABE, SHOUTO! AGORA!

Mirando no bloco de gelo entre eles, os dois irmãos começaram a soltar chamas, com os braços levemente orientados para a esquerda. Um fogo azul e vermelho começou a circundar o iceberg, rodopiando.

Com um sobressalto nas chamas, uma nova porção, de chamas brancas, se juntou e começou a dar fôlego para o tornado tomar forma.

— Acharam mesmo que iam fazer isso sem seu velho? — falou Endeavour.

Os dois garotos sorriram, aumentaram a potência de suas chamas e gritaram:

— HELL FLAME TORNADOOOOOOOOOOO.

Os três lutavam para se manter de pé, concentravam todas suas forças em aumentar a temperatura e lançar as chamas, cada vez mais fortes. O tornado começou a subir, aumentar e aumentar, suas três cores o tornavam uma obra de arte belíssima e assustadora. Podiam ver entre as chamas que o gelo no meio já tinha derretido, uma figura esguia se mantinha orgulhosamente de pé, mas caiu de joelhos, pressionada pelo calor infernal.

Quando o tornado atingiu as nuvens, causando uma mudança nas zonas de pressão dos céus e, com isso, quase derrubando todos os helicóperos, os heróis começaram a diminuir as chamas. Suando, pingando, o fogo se dissipou.

Rei estava no centro de um chão chamuscado, ofegava, de joelhos. Finalmente aquele inferno tinha acabado. Tinha concentrado todas as suas forças em sobreviver. Conseguiu. Tudo ficou preto. Caiu de cara no chão, apagada. Ainda respirava.

 


Notas Finais


1o: Quero salientar que a dinâmica Enji x Rei aqui não tem nada a ver com a dinâmica canon, porque não quero minimizar o sofrimento que a “Rei real” passou - por isso que meus personagens têm backgrounds diferentes dos originais.
2o: Também acho bem insensível (pra dizer o mínimo), ter cenas de luta de um homem e mulher, ainda mais com o vídeo que “viralizou” essa semana. Tentei deixar as cenas o menos traumático possível, porque afinal é um desenho de heróis, vilões e pancadaria - então isso faz parte e não se qualifica como violência de gênero ou doméstica.
3o e mais importante: Todo meu apoio e solidariedade às vítimas de violência doméstica/ de gênero e outros crimes de ódio.


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