Peter bebia. Bebia, mas com o ódio de não poder ficar bêbado e por um momento extinguir a aflição que havia dentro de si. Aquilo fervia e lhe feria. O ódio de si mesmo. De não ter sido capaz de proteger sua filha. Sua menininha. O que mais lhe afligia é que ele não tinha memórias doces da sua infância. Não tinha memórias de seus primeiros passos, primeiro dia de aula, primeira vez que andou de bicicleta...nada. Corine estava certa, ele não era pai.
Peter era duro. Severo, egoísta e frio. Mas naqueles dias, chorava feito uma criança a cada dia sem notícias de Malia. E a dor dobrava ao saber que havia mais alguém em perigo.
Sua reação ao saber que seria avô, não foi como todos esperavam. Todos pensavam que ele iria, gritar, bufar e bater em Scott até ele perder a consciência.
Mas ao invés disso ele sorriu. Mesmo que por segundos antes do desespero realmente bater. De pensar no que Corine estaria fazendo a sua filha e seu neto. Ou neta. Naquela altura já daria para saber. Se Malia estivesse ali para ser examinada, para fazer exames e enchoval. Ter a gestação que merecia.
Mas agora já fazia um mês que ela estava sumida. Nenhum cheiro, rastro...nada que os levasse a Malia.
- Se você pudesse ficar bêbado - ele ouviu a voz de Derek - Eu me preocuparia com você.
- Não devia estar cuidando da sua filha - disse Peter bebendo todo o líquido do copo com um gole.
- Deixei ela com Lydia - disse Derek - Ela tem um fascínio por crianças.
- Se eu fosse o Stiles me preocuparia - riu Peter.
Derek sorriu. Peter suspirou e voltou a ficar sério com seu rosto cansado das noites mal dormidas e da pouca alimentação.
- Vamos achá-la - disse Derek.
- Sei que vamos - disse Peter - Mas a cada minuto que passa, surgem imagens diferentes de como vou encontrar minha filha e até meu neto. Mortos. Torturados. Desnutridos. Cada imagem me da vontade de morrer. Porque fui incapaz de proteger minha família.
- A culpa não é sua.
- Não? -retrucou Peter - Eu nem lembro se eu queria ela Derek. Eu não tenho memória nenhuma de quando Corine engravidou dela... Sua mãe tirou minhas memórias, mas e se foi porque eu era como a Corine? E se foi porque eu ia ferir a Malia? E se eu não a quisesse...
- Você queria.
- Como sabe?
- Porque eu me lembro - disse Derek levantando os olhos para encarar Peter surpreso - Minha mãe não tirou minhas memórias.
Peter ficou em silêncio.
- E como..como foi que...
- Quando ela descobriu a gravidez... Você ficava com um sorriso bobo de criança. Falava do "seu pequeno lobinho" todos os dias. Até que descobriu os planos de Corine. Você planejou cada passo a partir dali. A única coisa que importava pra você era seu bebezinho. Então no dia em que ela nasceu, amarramos Corine. E depois que Malia estava nos braços da minha mãe, injetamos acônito para ela dormir. E você pegou Malia nos braços chorando... deu um beijo na testa dela e susurrou "me perdoa meu amorzinho... eu te amo mais que minha própria vida. E é por isso que tenho que te entregar, mas eu vou te achar...eu prometo que eu sempre, independente do que aconteça, vou te achar e te proteger...Malia"
Peter sorriu em meio as lágrimas que corriam sem que ele notasse. Ele havia escolhido esse nome. Malia. Ele escolheu o nome de sua filha. Ele a queria. Ele a amava realmente.
- Você sempre a amou Peter... E se você a encontrou uma vez, vai achar de novo. E estamos do seu lado, vamos te ajudar a achar sua filha.
- Porque está fazendo isso por mim? Você me odeia. Eu matei sua irmã.
- Mas depois que Malia entrou na sua vida você mudou... e agora eu sei o que é ser pai. E saber que faria de tudo pra proteger a filha.
****
- Scott- chamou Stiles mais uma vez na esperança de que o amigo o ouvisse.
- Ahn? - disse Scott com seu tom aéreo.
- Está pronto?- disse Stiles ajeitando a gravata mais uma vez. Se não fosse Lydia, ele estava perdido. Jamais soube dar nós em gravatas por mais que tentasse aprender.
- Acha mesmo que isso é...o certo?
- Não temos mais o que fazer Scott... Procuramos por todos os cantos. Com lobisomens, uma banshee, até um cão do inferno. E com um número reduzido, demorariamos séculos pra achar a Malia...pensei que estivesse disposto a fazer o que fosse necessário.
- E estou - disse Scott ainda distante - Mas confessar pro FBI que sobrenaturais existem pode acabar nos prejudicando mais ainda, podem sei lá até ficar do lado delas. E o que mais me amedronta é o que fariam com ela se descobrissem... o que fariam com os dois...e...eu.
Scott respirou fundo para conter as lágrimas. A pressão sobre seus ombros no último mês, havia piorado quase o triplo. Braeden em coma,Corey temporariamente paraplégico, Liam e Kira desaparecidos e Malia grávida levada como refém.
O último item assombrava Scott a noite. Assim que as palavras "Malia está grávida" sairam da boca de sua mãe. Algo dentro dele borbulhou. Um misto de alegria, surpresa, euforia e medo, sofimento, culpa. Ele não parava de pensar que a responsabilidade de alfa era menos preocupante quanto a de ser pai. Aquilo ainda o assustava. Saber que a mulher que ele amava e seu filho estavam por aí correndo perigo e ele havia esgotado as opções para resgatá-los.
Às vezes durante a noite, Scott sonhava que tinha um bebê sorridente nos braços. Podia ouvir sua risada iocente e espontânea. Seus murmúrios indecifráveis e sentir sua pele macia e seu cheiro único. Mas quando acordava, o medo de que talvez Corine tirasse aquilo dele o fazia perder o ar e a sanidade. Ele chorava e seus pulmões gritavam por ar em vão.
- Só quero minha família aqui - disse Scott - Então sim, estou pronto.
****
Lydia olhava sorridente para os olhos de Clare. A garotinha sem dentes sorria espontâneamente e abria a boca e fazia caretas como se quisesse falar algo. Embora tivesse apenas um mês, já era visto que seria tagarela.
Lydia amava cuidar da garotinha. Com Braeden ainda em coma e Derek ajudando a procurar Malia, alguém precisava se dedicar a cuidar de Clare. E Lydia se disponibilizava de bom grado.
Lydia estava descalça na cozinha esperando o leite esquentar. Seus cabelos presos num coque bagunçado e suas roupas casuais indicavam que ela não se importava muito com a aparência atualmente.
- Vamos lá - disse Lydia - Me diga, como eram os garotinhos da maternidade? Ahn?
Clare abria a boca como se entendesse cada palavra de Lydia e quisesse responder.
- Sei, vai ser uma garotinha danadinha - disse Lydia beijando a testa da bebê - E logo, logo... Malia vai voltar...é sim! Sua prima vai voltar e você terá um novo priminho, ou priminha de terceiro grau. Alguém para brincar com você.
- Tia - a voz de criança assustou Lydia que ainda olhava para Clare. Ela levantou os olhos e se deparou com um garotinho de cabelos castanhos. Aparentando ter cerca de sete ou oito anos. Ele olhava com um olhar doce. Lydia pensou que deveria temer... mas não temeu. A criança não lhe assustava, lhe dava um ar de carinho e Lydia sorriu para ele.
- Oi - disse ela endireitando Clare no colo para voltar a olhar o menino - Cadê sua mãe?
- Ela está conversando com a vovó- disse o garotinho.
- Sua avó? Vem cá - chamou Lydia. O menino se aproximou ainda sorrindo - Sua vó mora por aqui?
O garotinho colocou o dedo na bochecha pensativo.
- Não sei - disse ele dando de ombros.
- Tudo bem, vou te ajudar a achar seus pais. Mas primeiro, me diga seu nome.
- Meu nome é Érick - disse o garotinho soltando uma risada espontânea.
Lydia sorriu. Ele era encantador.
- Tudo bem Érick, sou Lydia. Vamos achar sua mãe.
****
- Liam!- chamou Kira pela milésima vez.
- O quê?!- resmungou ele debaixo das cobertas.
- Não acredito que ainda está dormindo! São duas da tarde!
- Estou cansado...
- Isso não são férias divertidas no norte do Brasil - disse Kira puxando os cobertores e deixando Liam descoberto - Viemos em uma missão. Eu acordei cedo e te esperei a manhã inteira! Agora chego no seu quarto e você nem acordou!
- Dá um tempo Kira...
Logo ele sentiu uma descarga elétrica atravessar seu corpo. Ele deu um salto e caiu da cama gemendo com a dor.
- KIRA!!
- Da próxima vai ser pior, levanta.
Ele bufou e se levantou fazendo um gesto irrritado de "está feliz agora?".
- Sim estou feliz agora, se é isso que pensou Sr.Molenga.
- Ainda não acredito que chamei justo você pra vir comigo- resmungou ele.
- Em primeiro lugar: eu quem sabia do galpão aqui - disse Kira - Em segundo: sou a ex do seu alfa me respeita.
- Bem como disse ex - provocou Liam.
Logo recebeu um olhar mortal.
- Vai tomar banho e se vestir - disse ela apontando para o banheiro.
Ele revirou os olhos, mas obedeceu. A asiática mandava pelo jeito." Entendi porque o Scott trocou ela" pensou ele "quem aguentaria uma vida com ela?!".
*****
- Caros agentes - disse Stiles assim que viu que todos estavam presentes na sala de reuniões - Reuni todos aqui, para pedir um imenso favor.
Todos observavama atentos e Scott se perguntava desde quando Stiles tinha aquela eloquência ao falar e aquela seriedade.
- Há cerca de um mês, alguns de meus amigos mais íntimos - "exeto Theo" aceescentou mentalmente - Foram gravemente atacados por duas mulheres que queriam matá-los, unidas a um exercíto de assassinos treinados.
Um homem levantou a mãos e Stiles fez um sinal para que falasse.
- Por qual motivo?
Stiles olhou para Scott que acentiu positivamente. Ambos concordaram que era o que devia ser feito.
- Cavalheiros...e damas - disse ele ao receber um olhar mortal de uma mulher sentada a mesa - Precisam saber...que o mundo, não é como o conhecemos. Existem seres, criaturas que...desafiam a lógica humana. Mas não é por suas habilidades que devem ser tratados como animais...
- O que quer dizer agente Stilinski? - perguntou a mulher.
- Lobisomens são reais - disse Stiles - Não só eles...
- Estamos perdendo tempo aqui com isso? - disse um homem.
Todos se levantavam para sair quando Stiles acentiu para Scott.
Ele soltou sobre a mesa com os olhos vemelho vivo e as garras e presas a mostra. Todos correram aterrorizados.
- Isso...é uma aberração!- gritou a mulher.
- Ele não é menos humano que qualquer um de nós - gritou Stiles -Uma mulher, noiva do meu amigo aqui, foi sequestrada, ela está grávida. Me digam... será, que eles não merecem o que todos merecem...uma família feliz.
Todos pareceram aflitos. A dúvida permanecia no ar. Até que a mulher avançou.
- Eu sou mãe - disse ela - Tenho dois filhos. E acho que nenhuma mãe deve passar pelo que essa mulher deve estar passando... por mais bizarra que seja sua natureza. Esse bebê merece a mesma proteção que todos os outros.... porque como todos os outros, ele também é humano.
****
- É esse galpão?- susurrou Liam.
- Esse mesmo - respondeu Kira.
- Jamais vamos conseguir entrar aí - disse ele ao ver as dezenas de soldados armados até os dentes.
- Não queremos entrar - disse Kira - Só descobrir, o que tem lá.
- Deve ser algo bem importante - disse Liam - Pra guardarem desse jeito.
- Porque esse galpão foi tão reforçado?- perguntou Kira - Se o arsenal delas é em Beacon? O que pode ter aí?
- Seja o que for, não deve ser boa coisa...
****
- Tudo bem - disse Lydia - Porque não me diz, como era o lugar onde sua mãe estava?
- Era escuro - disse o pequeno menininho- Não vi direito, tinha umas correntes.
Essa avó deve ser sinistra -pensou Lydia.
- Mas lembra de mais alguma coisa?
- Sim- disse ele - Uma bandeira...
- Ótimo - disse Lydia colocando Clare adormecida no bebê conforto - Que bandeira era?
- Não sei o nome...
- Mas pode me dizer como era?
- Verde...amarela...tinha azul...e umas estrelinhas brancas.
- Brasil - susurrou Lydia- Já ouviu falar no Brasil?
- Não - disse ele ainda sorrindo.
- Tá legal - disse Lydia batendo na própria testa - Qual o nome da sua mãe? Devia ter perguntado isso a um tempão...
- Malia...
Sua voz sumiu no instante em que disse esse nome. Lydia cambaleou ao ouvi-lo. Seus sentidos falharam e ela ficou paralisada. Malia. A voz doce e infantil do garotinho de repente não passava de uma lembrança.
- Lydia!- chamou Natalie balançando a filha.
Lydia voltou a realidade e ouviu o choro esganiçado de Clare. Sua mãe estava em sua frente, entre ela e o bebê conforto. Lydia ainda estava em estado de choque.
- O que houve filha?- perguntou a mulher ao ver o estado da filha.
- Eu só...eu...acho que sei onde a Malia está...
****
O volume de sua barriga havia crescido. Agora, Malia não esconderia nem se quisesse. Ela passava grande parte do dia, ou noite...Não tinha como saber. Passava seu temp cantando e acariciando a barriga. Pensava se a essa altura já dava para saber se era menino ou menina. Pensava em seu rostinho. Cada detalhe. Ela só queria uma coisa: que salvassem seu bebê. O que ia acontecer com ela, não importava mais.
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