1. Spirit Fanfics >
  2. Life Is Strange >
  3. You're Somebody Else

História Life Is Strange - You're Somebody Else


Escrita por: VictorStark

Notas do Autor


It’s like you told me | É como você me disse
Go forward slowly | Avance lentamente
It’s not a race to the end | Não é uma corrida até o fim

You're Somebody Else (Você é alguém)
Flora Cash

Capítulo 9 - You're Somebody Else


E Scott também se afastava. Como as ondas na maré baixa, lenta e gradualmente, até que estivessem longes demais para lhe afogar. E, mesmo assim, continuava com sua rotina de escritor.

Ia às entrevistas, onde sorria, onde respondia aos fãs empolgados pelo último livro e pelo que viria a seguir. Não viria nada, ao menos por algum tempo, estava em um longo hiato criativo. Apenas respondia a todos com os mesmos versos de um dos seus poetas favoritos:

– Pessoal, tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.

Seu dia-a-dia, pré e pós Derek, era igual em tudo na vida: na pouca felicidade, que pouco à pouco se esvaía, na mesma infelicidade, que devagar lhe consumia e na completa desvontade de viver que, tão logo criasse coragem, se iria.

Criava poemas, às vezes, enquanto observava o mar inalcançável em cima de seu cavalo de aço. Não era um atleta, ou um cantor famoso, ou uma estrela de Hollywood para receber muitos fãs em sua porta. Em realidade, apenas um ou outro se aventuravam a lhe encontrar e lhe perturbar por autógrafos, no mais, eram apenas o carteiro e sua agente, que vinha perguntar como estava.

E sempre estava bem, à efeito de não perguntarem demais. A efeito de apenas irem embora e não lhe perturbarem mais. Até a sua psiquiatra conseguira acreditar que se acostumara à vida que tinha agora.

E não contara à ninguém sobre o incidente. Ninguém sabia, apenas ele, Scott e Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Estava com fome, então pediu um lanche, um delivery. Foi rápido e eficaz. Evitava à um bom tempo a televisão, tinha medo de O ver. Tinha medo de ver aquilo que mais lhe metia medo, tinha medo de ouvir alguma notícia Dele. De todas as sensações boas e irreais voltarem ao seu corpo ao mesmo tempo e os pensamentos lhe pressionarem ainda mais.

“Pare”. Pensou. Pois logo que pegava o controle remoto a mão tremia.

E de todos os pensamentos ruins que lhe pressionavam, havia aquela ansiedade que subia do peito até a boca e queria sair, como se tivessem asas, cortando-lhe a própria garganta e escapando pela pele e sangue.

“Pare”. Tentou se distrair com o canal em que revelava as inovações tecnológicas do lar. A boca que se movia do outro ser-humano lhe fazia sentir menos sozinho e isto lhe fazia sentir-se frustrado e ainda mais só.

Mudou de canal. Era um jornal, apenas relatando as desgraças e as excentricidades do mundo. Lá fora as coisas eram muito mais concretas que as suas ilusões porta à dentro.

Mordeu o lanche e engoliu. Não mastigava. A comida descia empurrando a ansiedade que ficava presa a todo custo na garganta.

“Pare, Stiles”.

Para que servia de comer?

E olhou o lanche, como se fosse algo importante e filosófico. Mordido, pela metade, ou quase isso. Queijo, carne (será que era mesmo carne?), picles, algum alface e pão. Deixou de lado no mesmo pacote e se encolheu no sofá. Se encolheu como podia, as pernas jogadas à deus dará, agora mais magras ainda, apesar de que tentava ainda fazer alguns exercícios, mas era cansativo e desnecessário demais.

Para que comia?

Se pudesse entender a velocidade e a racionalidade dos próprios pensamentos... Poderia supor que comia apenas para manter-se vivo. Vivo. Pois os prazeres do paladar já não vinham mais, era como se tudo fosse salobro e estranho. E a angústia voltava a lhe consumir.

O dia poderia estar o mais belo do lado de fora das suas cortinas e janelas, mas tudo era cinza, tudo fora pintado de negro. Era como Shakespeare já dissera: Até mesmo o mel mais doce é amargo em sua própria doçura. E assim era o amor, de que acreditara ser maravilhoso e fiel, mas fora apenas uma armadilha da sua própria ilusão.

Fechou os olhos enquanto o noticiário informava algumas ondas de crime pelo país e como o presidente faria para resolvê-lo.

Queria morrer.

E esse não era seu primeiro pensamento, não sobre a morte. Mas era o primeiro sobre o desejo de querê-lo com tanta ênfase e necessidade. Acabou adormecendo: dormir sempre ajudava, já que, na maior parte das vezes, a insônia lhe crucificava pela noite e apenas remédios lhe silenciava a alma.

Passou rápido. Sem sonhos.

E o dia não amanhecera, mas a noite que chegara. A TV ainda ligada revelava sombras por toda sua sala. Sombras de tudo que conhecia. Não tinha medo do escuro de qualquer forma, mesmo assim acendeu o abajur próximo.

Precisava tomar banho, iria desligar a TV e ir ao banheiro. Mas algo lhe intrigou e tomou a atenção, aumentou o volume da apresentadora.

“E esse garoto vem ganhado destaque nas ligas universitárias” Falava a voz, a imagem era de alguém conhecido: Scott. Surpreendeu-se por vê-lo. Mesmo que fizesse pouco tempo, ele já estava em uma liga universitária! A família que o adotara já o colocara em uma faculdade! E ele já estava sendo visto jogando futebol... Tudo estava dando certo para ele!

Deu um sorriso confortável e amoroso, estava feliz por ele, ao menos ele estava conseguindo ser feliz.

E a imagem cortou para o estúdio de fofocas, uma mulher loira falava:

“Ninguém sabe o que anda se passando na cabeça do Hale: primeiro o escritor deficiente, agora, se aproximando desse outro adolescente e adotando”, falou a mulher, em um tom ácido.

O coração de Stiles quase parou, havia naquela frase tanto que nem conseguia explicar o quão sem ar estava. O controle remoto estava firmemente preso entre os dedos e apertava-o com tamanha força que de alguma forma acreditava que iria quebra-lo.

A raiva era grande, a raiva era imensa. O peito pulsava com certa intensidade no peito. A raiva se tornava em uma grande frustação e tristeza. Os sentimentos tornavam-se uma massa pulsante e única de tudo que vinha sentindo e a ansiedade subia-lhe novamente pela garganta.

– Scott... – Murmurou, tristemente, a voz ecoando pela casa tão vazia. Olhou ao redor, sentindo-se idiota demais por fazer isso, por murmurar e chamar um nome que já não viria.

Por que Derek estava fazendo isso? Por quê estava lhe tirando o único amigo que ainda tinha? Que espécie de psicopata ele era?

Chorava de uma forma incrível.

“Primeiro o garoto deficiente, agora adotando...” A voz da mulher loira parecia se repetir em sua cabeça.

Lançou o corpo violentamente contra a cadeira de rodas, que rangeu fracamente, cansada dos maus-tratos de seu portador. Stiles deixou a TV ligada e falando sozinha e saiu rodando até o seu banheiro, onde violentamente tirou as roupas e ficou nu. Entrou dentro do box do chuveiro e ligou a água: ela estava quente, muito quente, a respiração ficara imediatamente pesada pelo vapor que enchia o lugar.

Se esfregava de olhos fechados sentado na cadeira-de-rodas. O sabonete líquido adocicava sua pele com um cheiro que subia pelo lugar.

“Eu te odeio...” Pensava, a angústia subindo novamente à própria garganta. A angústia era o pior de tudo.

O choro vinha em seguida. Imaginava-se sangrando ali naquele banheiro à meia luz. O rosto contra o vidro, o corpo paralisado e estático enquanto apenas o tronco se movia: eram as longas e intensas vontades de chorar.

Imaginava-se saindo dali, quebrando o banheiro, derrubando tudo. Imaginava destruindo a própria casa e gritando. Imaginava-se saindo da sua casa, atirando-se no meio-fio e chorando por horas.

Mas era só sua imaginação.

O fato era que ali a água caía, tão silenciosa quanto podia.

E o mar, o mar estava ali perto, tão silencioso quanto podia. E, se o visse, trar-lhe-ia recordações Dele.

Derek estava ajudando Scott. Não tinha problemas com isso. Mas era o que ele fazia para lhe machucar de uma forma profunda.

Enfiava em si, lentamente o arpão de metal. Pegava seu coração e o destruía.

– Te odeio... – Murmurou lentamente contra o vidro, enquanto chorava.

Derek tirara-lhe o único amigo que tinha. Não tinha opções além da solitude da sua casa à meia-luz.

Arrastou-se para fora, cadeira-e-corpo. O barulho molhado, o chão pingando enquanto as rodas marcavam o carpete com marcas de água, que, logo secavam as rodas novamente.

Deitou-se na cama, nu e sem esperanças.

Era engraçado, era como a gente nascia: nu e sem qualquer esperança.

Mas a diferença era que agora, estava sem qualquer expectativa.

 

oOo

 

– Stiles?! – Scott chamava o amigo do lado de fora. Tinha agora um carro, tinha um cartão de crédito com seu nome nele. Não que pedira tudo à Derek, mas ele era seu tutor, e estava abrindo possibilidades no meio do futebol, provavelmente ganharia dinheiro da forma que estava se desempenhando.

Sentia-se levemente culpado por ter deixado o rapaz por tanto tempo. Era ele quem lhe cuidava, mas, com todos os treinos... E o cansaço... Derek vivia lhe dizendo que tinha que ir ver Stiles, mas apenas agora conseguira.

E o rapaz dificultava. Esquivava-se de todas as conversas nas redes-sociais. Já faziam alguns dias que o escritor não publicava nada em seu Twitter. Apenas compartilhando comidas no Facebook.

A questão era que o rapaz estava acabado depois que descobriram que Derek quem lhe atropelara. Scott apenas não conseguia imaginar como Stiles podia estar por tanto tempo com ódio do jogador de futebol americano, o qual fizera tudo ao seu alcance para ajudar o escritor.

– STILES! – Gritou, indo até o lado, seu lado moleque lhe ajudando a saltar a cerca baixa de madeira. Olhou através das janelas.

Andou lentamente, a janela da sala apenas estava vazia, abanou a cabeça: Stiles esquecera a TV ligada, mas não estava ali assistindo.

– Tudo bem, onde você está...

Não poderia estar muito longe. Deu a volta e procurou a outra janela, Stiles estava em cima da cama, em seu quarto. Parecia dormir.

Dormir demais.

Não que estivesse com a aparência de quem se suicidara. O corpo estava só imóvel demais, mas tinha uma coloração rosada. A cadeira de rodas parecia longe da cama, como se houvesse se esquivado de perto do rapaz.

– Stiles! – Scott bateu na janela com um sorriso, querendo que o rapaz acordasse, pegasse seu ‘veículo’ e fosse, todo sorrisos, até a porta.

Mas suas expectativas acabaram quando o Stilinski lhe fitou e virou-se como podia, dando-lhe as costas machucadas.

O corpo deixava-se ver as costelas de uma forma assustadora. A pele, provavelmente desidratada, lhe dava uma aparência ainda mais cadavérica. Aquilo assustou Scott de uma maneira irracional. O jogador forçou a janela que não abriu. Olhou ao redor e quebrou um dos vidros.

Nem mesmo aquilo era motivo para Stiles voltar a lhe olhar.

– Droga Stiles! – Gritou Scott, colocando a mão através do vidro quebrado, destrancando a janela e a erguendo. Entrou rapidamente e se aproximou da cama como um furação.

O toque lhe assustava mais, Stiles estava muito quente, estava febril.

– Stiles... – Falava, respirando profundamente.

– Embora – Falou a voz de Stiles, que parecia simplificar o que queria dizer, tamanho era sua desidratação.

– Droga Stiles... V-você está deitado aqui há quantos dias?! – Scott arregalava os olhos, o rapaz parecia estar algo delirante, pois os olhos se fechavam facilmente.

O rapaz levou a mão ao pulso de Stiles. Como diabos ninguém viera lhe ver?! Sua assessora literária?! Sua psiquiatra?! Ele mesmo!?

A culpa era tão grande que chegava doer a barriga do rapaz que, tremendo, procurava o celular e o primeiro número:

– Derek – Falou ao telefone. Nem mesmo o nome de Derek fizera Stiles voltar o olhar para Scott – É... É o Stiles. Ele... Ele parece estar mal cara. QUANTOS DIAS FAZ QUE VOCÊ NÃO SAI DA CAMA STILES?! – Gritou Scott, que observou a cama, estava molhada. Engoliu em seco. Deduzindo que ele não se levantara da cama por opção, estava se matando de inanição. – Você está fazendo isso por conta do Derek, Stiles?! Para cara! Ele é só um cara! Você é melhor que isso! – Scott tentava falar.

“Você não está ajudando Scott”, respondeu Derek do outro lado da linha. “Consegue levar ele ao carro? Leve ele ao hospital, estou indo”.

– Stiles... – Scott tentava pegar o rapaz, que parecia ficar dez vezes mais pesado do que realmente era.

– Me deixe aqui! – Respondeu Stiles, que queria gritar, mas estava tão sem forças que não conseguia.

“Ele é só um cara”. Realmente, não estava desistindo da vida por culpa de Derek, mas por culpa da vida em si. Tudo era apenas um catalizador.

Ninguém se mata por amor.

O Amor é apenas um catalizador da miséria humana. E a morte, é apenas o desfecho do espetáculo da vida. Queria apenas ter tido a coragem de ter posto algum disco de música e morrer feliz.

Mas apenas escutava as conversas de Scott, sentia-o lhe suspendendo da cama, como um peso de papel que era pego e levado a uma outra mesa.

Foi colocado no passageiro, Scott lhe passou o cinto de segurança. Uma pitada irônica ao seu desfecho. Seria curioso se ainda batessem o carro e morresse de acidente de carro.

Evitou-se olhar no espelho do retrovisor. Mas o reflexo de seu próprio rosto no vidro do carro era impossível evitar. Então virou o rosto e viu um preocupado Scott, com seu rosto definido e bronzeado, sua estúpida cara. Ele lhe olhou.

– Stiles... Como pode fazer isso, cara... – Disse o rapaz, sem saber como conversar com alguém que tentava o suicídio dessa forma – Você estava tentando se matar, cara?!

– Não, só estava com sono – Respondeu em um tom soturno, o sarcasmo sendo merecido naquela hora.

Fechou os olhos, sentiu-se movimentar-se. Sentiu o carro andar rapidamente e depois parar. Dormiu um pouco. Um sonho sem sonos e rápido.

Era a segunda vez que acordara e havia muita luz entrando nos seus olhos.

Ele estava ali, de braços cruzados e bem acordado. Ele parecia ainda maior do que se lembrava. Os músculos pareciam irromper na roupa apertada, provavelmente a primeira que ele pegara no guarda-roupas. Mas nunca parecera tão lindo.

– O que você estava pensando!? – Exclamou Derek, se levantado e se sentando na cadeira ao lado da cama – Droga Stiles!

Stiles não respondeu, sabia por experiencia própria que tirar os olhos dele e olhar para a parede vazia, fechar a boca e ficar em silêncio poderia ser melhor do que qualquer palavra de ódio.

– Por favor Stiles, me fala... Me fala o que eu posso fazer?! Me fala! – Derek quase gritava, segurava seu rosto como se fosse a bola de futebol americano.

Poderia até lhe machucar. As veias saltavam de seu pescoço, tamanha a agressividade de seu olhar. Engoliu em seco e soltou o rosto do rapaz. Apenas abaixou o rosto na cama e chorou silenciosamente.

Todo aquele tempo. Dera espaço para Stiles, dera o espaço que o escritor precisava. Pensou que seria perdoado. Sabia que o que fizera não tinha perdão. Mas, o precisava.

De uma maneira egoísta, amara o rapaz. À princípio, o salvara e ficara com ele com a culpa do que fizera, mas, logo, a culpa do que fizera se tornara pior do que um castigo: pois o amava.

E por o amar, jamais conseguiria conviver com a culpa daquele segredo.

– Por quê você tirou Scott de mim? – A pergunta veio certeira e sem floreios.

– Stiles, eu não o tirei de você. Eu só pensei... Que... Eu gostava dele te cuidando, mas ele precisava de ajuda. Não podia ficar lhe ajudando para sempre – Derek tentou ser cuidadoso com as palavras. – Digo, eu... Eu gostaria de te ajudar também.

Stiles revirou os olhos em deboche. Suspirou e voltou a fitar o teto.

– Por favor... Me desculpa – Pediu o maior, engoliu em seco. A voz estava afinada devido a pressão daquele momento. Só se dava ao luxo de ser daquela forma com ele. Ninguém jamais vira o agressivo e sério Derek Hale daquela forma – Eu não sei... eu não sei o que fazer. Eu não quero te perder. Eu não vou me afastar de você.

– Eu estou bem – Falou monocromaticamente o Stilinski.

– Você quase se matou, Stiles!

– Acontece – Respondeu o rapaz.

Derek não sabia o que fazer. Sentia-se desesperado e a médica de Stiles entrou. Ela tinha a aparência cansada, mas logo checou a ficha e pediu para que Derek se retirasse.

E Derek saiu, rapidamente, nem a pior das temporadas fora daquela forma. Era um dos Quarterbacks com mais tempo em jogo, com mais ligas jogadas, e olha que sua posição no agressivo esporte, costumava ter uma carreira curta devido à violência do futebol americano.

Nada se comparava ao que estava enfrentando com Stiles, sentia-se cansado e com pouca energia, sentia-se incapaz de lutar, derrubar e enfrentar esses problemas. Não sabia, realmente, o que fazer. Nunca passara por isso.

Era bem mais fácil machucar, derrubar e ganhar do que enfrentar aqueles problemas emocionais. E o álcool sempre funcionara como um método de escape à todos esses problemas.

A maneira fácil de escapar.

A médica saiu do consultório, uma enfermeira entrou e parecia cuidar das feridas que Stiles adquiria por ter ficado muito tempo em uma posição. Entrou e o observou. Por um instante viu o Stilinski virar o olhar, sentia-se envergonhado por ser visto daquela maneira.

E o compreendia.

Ele estava nu.

Nu de uma maneira expositiva e debilitada. Deus sabia como Derek odiava estar na mesma posição. Então, apenas sentou-se ao lado dele e, em silêncio, coabitaram.

 

oOo

 

– Você não vai embora, não é mesmo? – Perguntou o escritor, em um tom nervoso, depois de um longo período de ficarem juntos, depois de reposto o soro, depois de limpado seu corpo fraco.

– Não vou.

Era singela e calada aquela resposta. Porém decidida.

Derek estava decidido à ficar, embora Stiles recusasse a lhe cruzar o olhar mais que algumas vezes e, a mera vontade lhe fazia chorar.

E não era um choro comum, não era nem mesmo de ódio.

Era só choro.

Lágrima salgada que amargava os lábios já secos.

Scott entrou no quarto, ficou próximo à maca em silêncio. O quarto de hospital estava demasiado lotado. Três pessoas naquele ambiente limpo. Scott olhou para seu tutor por um instante, Derek mantinha o olhar sereno de quem estava decidido.

– Se eu quiser que você vá embora, eu posso pedir – Disse Stiles, sem olhar para Derek.

– Então peça, porque eu não vou. – Respondeu Derek, em um tom quase rude.

Era a mesma forma com que tratava seus colegas de time, com a mesma brutalidade que derrubava e atacava outros jogadores no perigoso esporte.

– Por favor Scott, tira ele daqui... – Stiles pediu, com a voz embargada de cansaço e estresse.

Scott olhou para Derek, que tinha as sobrancelhas arqueadas. O mais novo suspirou, pegou a mão de Stiles, que se contraiu, tinha medo de ser tocado. Não queria ser tocado.

– Eu só quero ir para casa – Disse, os olhos se umedecendo – Por favor, me leva para casa, me deixa sozinho.

O cuidador mordeu os lábios, ver o escritor naquela situação lhe dava uma pitada de culpa, uma profunda e suntuosa pontada de culpa. Abandonara-o?

Talvez. Mas, talvez em sua inocência, jamais pensou que Stiles pudesse chegar àquela situação. Nunca pensou que aqueles sorrisos pudessem ter guardado em seu âmago uma suntuosa tristeza.

– Você tem que melhorar – Murmurou Scott, desconcertado, não sabia como lidar com a situação.

Stiles apenas se emburrou, apenas virou de costas e abanou a cabeça.

– Odeio vocês dois, não os quero aqui – Falava, de costas. Mostrando a cadavérica coluna que, em sua falta de nutrientes, ficava mais suntuosa.

Aquilo macerava qualquer pontada de esperanças ou felicidade de Derek. Aquilo era a morte em sua mais singela demonstração.

E como a culpa lhe tornara cativo daquele rapaz?

Sim, confessava que no começo não o amava, que, apenas a culpa lhe fizera ficar com ele no começo. Mas, a beleza delicada de Stiles lhe cativara mais que qualquer coisa. Uma beleza que ia muito além do físico.

Vê-lo daquela forma... Tinha vontade de o segurar na mão como quem segura um recém-nascido, e o colocar contra o peito e lhe acolher para sempre, deixá-lo crescer e se fortalecer.

Uma mulher loira entrou na sala, ela usava um vestido vermelho, um decote sutil e um jaleco branco sobre o vestido. Tinha um rosto sereno e de paz.

Derek se levantou e se aproximou dela, a mulher o seguiu para fora, Stiles notou isso e suspirou. Não o queria ali, mas, a falta dele agora lhe causava certo desconforto.

Scott ficou ali onde estivera Derek, e Stiles se virou sutilmente para o fitar, como ele parecia uma versão adolescente de Derek. Talvez não na fisionomia, não, de fato não se pareciam assim, mas talvez naquele olhar perdido e sereno quando nada os perturbava e, mesmo assim, estivessem preocupados.

A doutora entrou e Scott viu que tinha que sair, então saiu.

Fora da sala, a porta se fechou.

– Ela é a médica do Stiles? – Questionou Scott, curioso.

– Sim, é uma ótima psiquiatra – Respondeu Derek, suspirando, indo até a janela.

– Tudo vai dar certo... – Murmurou Scott, tocando o ombro de Derek, mas logo se afastou, sabia que Derek não gostava muito de toques.

– Está tudo bem... – Suspirou Derek, observando a janela do corredor de vidro do caro hospital. O corredor da ala estava vazio – Eu fiz merda, eu caguei com tudo – Fechou os olhos, sentindo o peito apertar.

– Ele vai...

– Me perdoar? – Disse Derek – Eu o deixei em uma droga de cadeira de rodas, garoto. Eu menti, eu fingi me importar.

– Mas você se importava? – Perguntou Scott, Derek arqueou as sobrancelhas, sem reação – Sim, se importava! Você o ama agora.

Derek sentou-se na cadeira e encostou a cabeça no vidro, talvez a sessão com a psiquiatra fosse demorar muito, então apenas fechou os olhos e Scott sabia que seria inútil falar qualquer outra coisa com o complicado jogador.

– Scott – Falou Derek de olhos fechados – Vá no nosso apartamento, ligue para Maria limpar a casa e abastecer de mantimentos.

– Tudo bem... – Respondeu Scott, pegando a chave que o futebolista lhe estendera, era do carro de Derek – Me ligue... Quando eu precisar lhe buscar.

Derek não respondeu nada e Scott se foi.

 

oOo

 

Havia silêncio no quarto.

Já fazia quase uma semana que estava ali.

Já fazia quase uma semana que Ele estava ali.

Era noite e estava levemente escuro, a luz fraca de um abajur criava sombras amareladas em todos os cantos do quarto e Derek repousava no sofá cama do hospital. Stiles acordou e ficou observando o corpo de Derek, depois a expressão moldada na luz fraca, como a barba sem fazer crescera de forma irregular e tomava-lhe o rosto de forma mais bruta.

E, todos os dias a psiquiatra lhe visitava, todos os dias ela dizia-lhe coisas e, ele era quem mais acabava falando ao final.

Era doloroso, e ela soubera que fora Derek quem lhe atropelara (contara à ela!), mas, não havia nada que ela pudesse fazer, não cabia a ela julgar o homem ali.

Stiles podia fazer o que quisesse, podia processar Derek, lhe poderia tirar qualquer indenização que quisesse (e ele certamente pagaria!). Mas estava cansado demais para isso e apático demais para qualquer coisa.

O rosto dele estava quase desbotado pela luz e, por um instante parou de o observar como quem era: o cara que lhe causara todo o dano. Parara de o analisar como indivíduo e o analisou em sua forma mais descritiva como escritor.

A curvatura de seu corpo, como se encolhia como uma criança na cama pequena demais para o seu corpo grande. Como o rosto barbado lhe deixava com um aspecto agressivo, apesar da face de tranquilidade e serenidade de um anjo.

Anjo.

Derek era seu próprio demônio e, ao mesmo tempo, o anjo.

E, por fim, cabia-lhe aceitar que Derek lhe fizera tudo.

“Você ama ele?”, perguntara a psiquiatra em uma das consultas.

A primeira resposta fora “Não!”.

De fato, havia uma ampla e grande possibilidade de não o amar. Mas o ódio mitigava qualquer possibilidade de amor.

Mas, tirando o ódio e, o observando naquela posição tão infantil, pensava.

Realmente amava ele?

A resposta era um amplo e sonoro “Não?”.

Atentava-se que agora era uma dúvida, uma dúvida a uma questão binária. Amava ou não amava Derek Hale.

– Derek – Chamou.

Era estranho chamar o nome dele, a voz saia seca da garganta. Depois das sessões da psiquiatra, era quase ausente o número de palavras que usava, de forma que aos poucos esquecia da própria voz. E, principalmente, esquecera-se da própria voz chamando o nome Dele. E ali estava.

– Derek Hale – Chamou mais uma vez.

Os olhos abriram-se, e tinham um sutil brilho. Os olhos de Derek eram azuis. Mas, azuis em qual tom? Qual era a cor daqueles olhos que já fitara tantas vezes?

Derek talvez tivesse em um sonho, era a melhor explicação para ter escutado o próprio nome ser chamado. Fitou Stiles, em uma primeira fitada acreditava que ele estivesse dormindo, mas, olhou-o novamente.

– Derek Hale – Stiles voltou a repetir, Derek sentou-se de súbito.

– V-Você chamou meu nome – Disse, de forma embargada, estava com um misto de sono e dúvidas.

– Eu chamei – Falou Stiles, respirando lentamente – Nem sei o porquê. Talvez seja para o ofender mais um pouco e lhe fazer desistir de ficar aqui.

Derek iria responder isso, mas apenas se controlou, soltando um leve rosnado de desgosto. O sono lhe fazia pressão, a falta de exercícios lhe deixara ansioso. Queria bater em alguém, morder alguém e por céus, tinha vontade de devorar Stiles. Tinha vontade de lhe bater até ouvir seus gritos...

– Eu o acordei porque quero saber a cor dos seus olhos.

Tinha vontade...

Engoliu em seco. A cor dos seus olhos? Eram azuis. Era isso que sempre ouvira. Azuis. Olhos azuis de um príncipe encantado. Era isso que já ouvira de outras garotas.

Como Stiles tinha a capacidade de capar seus pensamentos mais violentos. Se aproximou. Andou e se abaixou até a altura da maca do escritor, o rosto de Stiles estava um pouco mais corado, um pouco mais reabilitado, a magreza desaparecera ao menos de seu rosto.

Como poderia querer bater naquele rosto?

– São azuis – Falou Derek, o olhar fixo no rosto de Stiles.

– Não – Respondeu Stiles – O que você sabe da cor dos seus olhos além do que lhe disseram. Pessoas são idiotas, não sabem descrever algo.

Derek mostrou de leve os dentes.

– Pessoas veem o azul, porque a gente tá acostumado a enxergar o azul – Explicou Stiles – Eu vejo... Eu vejo você Derek.

Abaixou o olhar, os olhos umedecidos.

– Eu estou com raiva Derek. Eu estou com raiva da mentira, eu estou com raiva do mundo e da medicina. Estou com raiva de não poder andar, da dor. Estou com raiva de querer me matar.

– E de mim, você está com raiva?

E um silêncio surgiu. Não do tipo constrangedor, mas do tipo necessário.

– Me pega – Pediu Stiles – Me tira dessa cama, eu estou cansado. Estou exausto – Falou, com a voz triste.

Derek levou a mão ao corpo debilitado do outro. Tinha medo de o quebrar. Sentiu as mãos dele lhe tocarem o pescoço, como quem se agarra demais à algo e o levantou com uma facilidade tremenda.

Felizmente já não tomava mais soro, nem estava ligado à nenhum medidor.

O levou até o sofá-cama apertado. Deitou-se ali e o deixou perto de si.

Estavam em silêncio,

um silêncio bom.


Notas Finais


Então.
Pessoinhas.
Desculpem pela demora :(
É, tá difícil escrever esses dias. E, todos que me conhecem sabem como essa fanfic é complexa para mim. Ela é muito, mas muito difícil de escrever. Hoje, por exemplo, consegui terminar esse capítulo!
Um capítulo chave, um capítulo cheio de mudanças e níveis de sutileza.

Como isso é uma história, tive que ir um pouco rápido demais. (Desculpem por isso!), mas, mesmo assim, sintam que não é tão rápido assim.
Não, de fato jamais seria.
E não vai ser, não é.

Agora, agradeço à todos os que estão me acompanhando! Sério, vocês são incríveis, e os comentários são estímulos sempre presentes! As vezes me surpreendo como faz um tempo enorme que estou sem atualizar algo e tipo, BUM, um novo comentário, uma nova favoritada ou seguidor da história.

Está bem tarde, amanhã cedinho respondo os comentários! =3
Para os madrugadores, obrigado por terem lido, haha. Não vão chorar! =3 (Eu chorei, por isso, espero que vocês tenham, ashasuhasu =3) Apesar de eu ser um caso aparte, sou uma manteiga derretida! xD


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...