Justin Bieber.
Chicago, Illinois.
05:12 p.m, 16/10/2015.
Meus braços apertam forte o corpo de Aurora, que está com a cabeça encostada no meu ombro enquanto esperamos sentados nas cadeiras do corredor do hospital. Fazia pouco menos de quarenta minutos desde que ela recebeu a notícia de que Celeste tinha sofrido um acidente de carro, e fazia muito tempo desde que a mesma tinha entrado na sala cirúrgica. Aparentemente, Aurora estava bastante calma, nós estávamos apenas esperando alguém para nos deixar a par sobre a situação da amiga dela.
Vinte e dois minutos depois, e um cirurgião aparece. O maldito cirurgião que beijou minha Grace.
— Aurora. - ele diz com as mãos dentro dos bolsos. Eu não deixo que ela se afaste, pois aperto com mais força seu corpo contra o meu.
— Ah, oi Jeff. Como está a Celeste? - diz baixo tentando se afastar.
Jeff. Que ridículo.
— Nós acabamos a cirurgia faz dez minutos. Ela já foi levada para o quarto, porém ainda está sob efeito da anestesia. Você pode ir vê-la, se quiser.
Ótimo. Além de filho da puta, ele é cego.
— Ah, oi pra você Justin. - sorri e eu levanto a sobrancelha direita.
— Vou com você. - aviso ignorando-o. Empurro um punhado de cabelo para trás da orelha dela, e aproveito a proximidade para dar um beijo rápido. Aurora me lança um olhar enigmático, e eu analiso sua expressão neutra. Eu não ligo se a situação foi constrangedora para ele.
— Em que quarto ela está? - Grace questiona baixo.
— 237.
Nós não conversamos no caminho até o quarto da Celeste, eu apenas puxei Aurora para mim e caminhei quieto. Antes da porta do elevador fechar, eu vi os curiosos de plantão pelos cantos do Memorial nos encarando.
— Você é irritante quando quer. - ela diz caminhando ao meu lado. - Que no caso, é sempre.
— Você me acha irritante? - pergunto preocupado.
— Não. - ri. - Estou brincando. Mas você não vai pegar leve com ele, né?
Enrugo o nariz negando e rio. Nós estamos quase perto do quarto.
— Talvez não perceba, mas os olhos dele brilham quando olham pra você. Isso é um caso sério, não é?
Meu coração saltita rápido quando ela gargalha alto e me abraça. Não transpareço minha surpresa, apenas a acompanho e giro a maçaneta da porta. A sensação se vai quando ela se afasta, e então eu suspiro.
— Precisamos corrigir suas inseguranças, cara pálida. - diz dessa vez um pouco mais baixo. - Jesus Cristo, Celeste está um lixo.
Olho para a cama e ela tem uma perna quebrada suspensa. Seu rosto está com uma coloração diferente e no canto do olho parece que ela levou um terrível soco. Aurora aproxima-se da cama e respira fundo. Celeste é toda inquieta, e sua reação não seria uma das melhores ao ver sua situação.
— Pelo menos ela tá viva. - respondo e ela me olha negando.
É apenas questão de segundos para que Celeste comece a resmungar e se remexer na cama. Obviamente, ela ainda está grogue, e precisa piscar o olho várias vezes para saber onde estava e o que tinha acontecido.
— Oi, Cê. Você sofreu um acidente e…
— Ainda não terminei de pagar meu carro. - é a primeira coisa que ela diz.
Preciso segurar o riso com a mão, e sou repreendido por Aurora.
— O seguro cobre o estrago. E bom, Jeffrey disse que sua cirurgia não teve complicações. São alguns meses de recuperação e…
— Cirurgia?! Eu não consigo sentir minhas pernas! Eu não consigo mexê-las, Bunny. Eu estou paralítica?! - sua voz saía arrastada, e ela estava sem forças para se mexer, o que denunciava sua dramatização exagerada.
— Não, Cê. Eles fizeram uma cirurgia para realinhar e consertar os seus ossos quebrados da perna esquerda.
— Caras chapados?
— O que?
— An?
— Eu quero água. - diz do nada.
Demora alguns longos minutos para que o efeito da anestesia passe, o que foi algo bem mais tranquilizador. A garota não falava nada com nada, e ainda parecia uma drogada.
Depois de tudo esclarecido, Martin aparece no quarto. Por algum motivo estúpido, eu começo a me sentir mal, então sento na cadeira dali respirando fundo.
— Você está bem? - Aurora pergunta próxima a mim.
— Hm, sim. É que o hospital não é bem o meu lugar favorito. - suspiro. - Mas eu estou bem.
— Certo. Nós precisamos conversar depois.
Observo-a voltar para perto da amiga, e então me perco em meus próprios pensamentos. Olhando vagamente para Martin, e eu me lembro do que falei para ele dois dias atrás. “Acho que estou me apaixonando por ela”. Meu achismo foi puro eufemismo, e na verdade eu estava muito apaixonado por ela. Sem achar, eu tinha a pura certeza disso, só estava levemente confuso em admitir em voz alta. Fazia algum tempo que eu não sentia tudo isso por alguém, e é bem provavelmente que por causa disso eu esteja sentindo tanta insegurança. Insegurança em não guardar tudo para mim e acabar levando um simples e seco “não”, ou então um “eu não amo você”. Seria doloroso. Não sei bem o que aconteceria, porque Grace é uma fodida caixinha de surpresas.
Eu tive a certeza de tudo durante os dias em que passamos afastados. Eu não estava bem comigo mesmo depois de estarmos longe um do outro, e irritados. Aurora consegue fazer com o que meu coração sinta-se aquecido e agitado a cada ato carinhoso. Ela demora, mas quando me abraça ou me beija por livre e espontânea vontade, é maravilhoso. Me apaixonei por Grace porque ela é sublime, ela tem uma singularidade própria peculiar. A forma como ela encaixava perfeitamente bem debaixo dos meus braços era incrível. Eu podia vê-la sorrir a todo momento, assim como podia sentir seu perfume agridoce todas as noites depois de transarmos, e eu não enjoaria. Juro que não. E seria satisfatório se a maior parte dos seus sorrisos fossem por causa de mim, ou então para mim. Espero que com o tempo, nossos gestos tenham mais eloquência, e que algum dia ela possa dizer que me ama.
Não a culpo por muitas das vezes não demonstrar o que sente, talvez seu antigo relacionamento tenha influenciado em muita coisa, e por isso estou sendo paciente. Eu serei paciente por ela.
— Você pode ajudar, Justin? - ela pergunta.
— O que?
— Pode ajudar a levar Celeste para casa amanhã?
— Uhum. - assinto e ela agradece.
Por algumas semanas, ela e Martin ficariam na casa da Aurora, isso por conta do processo de recuperação. Grace não poderia ajudá-la todos os dia, então seu amigo estaria lá para isso. Na tarde seguinte, ela saiu do hospital em uma cadeira de rodas, recebendo olhares curiosos por onde passava. Kristen, a tal enfermeira chefe, não fez questão de saber como ela estava, e disse que mal via a hora de vê-la trabalhando novamente.
Martin passava o aspirador de pó enquanto Aurora dava banho em Celeste no andar de cima. Eu estava sentado no sofá, sendo totalmente improdutivo.
— E aí.
— Que? - digo sem entender.
— Como vai a sua saga apaixonado-por-Aurora-Grace? - ironiza passando o aparelho pelo tapete.
— Você é engraçado pra caralho. - reviro os olhos.
— Quem diria, o fodido Bieber mundialmente conhecido apaixonado pela minha princesinha Aurora.
— Princesinha Aurora? - rio.
— Você já decidiu quando vai contar?
Entorto a cabeça e nego, então ele desliga o aspirador.
— Não. Acho que vou esperar um pouco.
— Bem pouco? - questiona sentando ao meu lado.
— Não sei. Vou esperar e ver com o decorrer do tempo.
— Hm… Bom soldado.
E então ouvimos o grito dela lá em cima. Nós subimos e carregamos Celeste para a sala, colocando-a na cadeira de rodas. Como já estava no fim da noite, eu sugeri que nós fôssemos jogar boliche, o que não foi uma sugestão ruim. A mulher irritante nega, e diz que estava cansada e sem condições para sair, e Martin também nega, dizendo que estava cansado por conta do plantão.
— Podem ir se quiser. Cattell fica comigo. - ela avisa e Aurora me olha.
— Não, nós podemos deixar para outra hora e…
— Não precisa, mesmo. Martin já, já dorme, e eu do mesmo jeito, estou cansadíssima. Vocês podem ir, nós marcamos outro dia.
Aurora hesita, mas concorda e sai comigo. Aperto sua cintura fraco enquanto entramos no local, e ela se encolhe quando as pessoas começam a olhar para nós. Eu digo a mesma coisa que disse no dia do jantar, que se ela começasse a se incomodar, nós iríamos embora.
— Já avisando, eu não sei jogar.
— Mentira? - franzo o cenho tomando um gole do suco.
— Sério. Se algo quebrar, você vai pagar. - avisa e eu rio.
— Você não vai quebrar nada, relaxe.
Eu começo, e peço que Aurora me veja jogar para “aprender”. Eu fiz strike de primeira, e isso fez com o que ela revirasse os olhos e me desse língua. Nós ficamos conversando ali uns quinze minutos.
— O que você queria falar comigo ontem? - pergunto voltando a sentar na cadeira.
— Hm… Era sobre a cirurgia. - diz baixo e eu bufo. - Martin. Ele pode fazê-la. Nós conversamos uns dias atrás. Você só precisa fazer os exames para vermos com tudo anda e....
— Aurora…
— Por favor, Justin. - suplica. - Por mim e por você, huh? Aliás, por você e por todas as suas fãs.
— Você joga bem baixo.
— Eu te dou cinco dias pra pensar. - diz sugestiva tomando seu suco de abacaxi com hortelã.
— E se a minha resposta for não?
Ela me olha e puxa uma mecha do cabelo para trás. Aurora levanta tirando sua jaqueta de couro, e a coloca na cadeira.
— Eu vou precisar quebrar nosso contrato, então. Você sabe, não teria lógica você continuar me pagando por um trabalho que eu não estou fazendo.
Nego rápido em desespero, e ela me olha séria. O fato de ter Aurora longe de mim, talvez para sempre, me deixava em um estado de alerta. Isso não podia acontecer.
— Onde você vai?
— Jogar? - diz o óbvio e eu assinto.
— Coloca o polegar no furo maior da bola e o anelar e o médio nos outros dois. - aviso e ela concorda. - Pega impulso e joga.
Quando eu paro para olhá-la, vejo que outros homens também observam ela. Alguém tenta tirar discretamente uma foto minha, mas eu acabo vendo e ela guarda o celular. Aurora não derrubou nenhum pino. Silabo um “você consegue” com os polegares pra cima, e ela vira pegando mais uma bola irritada. Dessa vez, ela derruba apenas um pino. “Isso está com problema”, ela diz alto e eu nego rindo, respondendo que o problema era ela. Com irritação, ela pega a bola de qualquer jeito e joga com violência, fazendo com o que ela vá para o teto e depois para o chão. O barulho chama a atenção de todos, e então eu vejo o estrago que tinha feito. Um burraco no teto e no chão.
— Achei que você estava mesmo brincando quando disse que podia quebrar algo. - zombo me aproximando. - Que grande estrago em… - Grace me olha, e eu vejo que seus olhos estão marejados. - Você não precisa chorar por isso, sério. Não chore. Eu vou pagar, tá legal?
Aperto-a em meus braços, e olho para o lado, vendo que muita gente nos olhava.
— Você quer que eu mande todos se foderem? - digo sério e ela nega levantando a cabeça. - Não me agrada te ver chorar.
— Odeio quando as pessoas riem de mim. - bufa afastando-se.
— Posso dar um jeito neles, se você quiser. - tento amenizar a situação e Grace ri voltando para a mesa.
— Eu fico muito agradecida pela sua gentileza, mas não. Nós podemos dar um volta, ao invés disso?
Aurora coloca sua jaqueta de couro no corpo, e eu digo que sim, mas antes tenho que conversar com o gerente. Tive que pagar uma boa quantia para resolver o problema que ela tinha causado. Nós saímos com o carro pela cidade, iluminada e muito vazia por sinal, e depois de dez minutos sem rumo, resolvi leva-la para um lugar que eu tinha descoberto em uma das minhas caminhadas. Seria longe se estivéssemos à pé, mas como estávamos de carro, não demoramos tanto assim. É uma vista bem agradável daqui de cima, nós temos a visão da cidade inteira lá embaixo.
— Você andou tudo isso? - ela questiona fechando a porta do carro e me acompanhando.
— É. Eu estava disposto nesse dia. - rimos.
— É um lugar bem agradável para quem quer relaxar. O único problema, é que se não fosse pelos faróis do seu carro, nós não enxergaríamos nada além das luzes da cidade e da lua.
— Chega perto.
— Eu tô perto.
— Perto de mim, Grace.
Aurora fica bem próxima, e eu a puxo para um abraço. Ela respira o perfume impregnado em minha camisa preta, e eu acaricio seus fios macios sentindo seus braços me rodeando. A única coisa que podemos escutar agora, é a nossa respiração pesada, e pra ela, o meu coração. Talvez ele esteja um pouco agitado, mas nada muito diferente do habitual.
— Crux. Ali. - aponto para o céu e ela se distancia olhando. - O cruzeiro do sul.
— Tenho aqui um conhecedor de constelações, então? - faz graça e gargalho.
— Eu fiquei interessado durante um tempo sobre as estrelas e suas constelações, e acabei lendo um livro sobre. São muito interessantes.
— Ah… Crux é tipo a sua tatuagem do peito?
— Tipo ela. - assinto. - Ali, você está vendo? Ela se chama Centaurus. - eu preciso desenhar no ar para que ela perceba.
— Sabe todas elas?
— Não. Tem umas que eu não consigo reconhecer. Aquela ali, se chama Lupus. As três sempre ficam próximas. Lupus, Centaurus e Crux.
— Lupus? Como aquela doença?
— O nome é semelhante, Grace. - respondo rindo e ela assente devagar.
Nós não falamos nada depois disso, e então ela volta a me abraçar forte. O farol do carro desliga por algum motivo desconhecido, e nós acabamos ficando no escuro. Preciso apertar Aurora forte para dizer que estava tudo bem e que não precisava ter medo. O máximo que podia aparecer, era algum animal inofensivo.
— Você já amou muito alguém, Grace? - questiono em um sussurro fraco.
— Acho que sim. Nos meus primeiros meses de namoro com Sloan eu o amei muito.
— Muito mesmo? Como uma miríade de estrelas?
Não a vejo, mas sinto quando ela levanta a cabeça como se pudesse me ver.
— Uma miríade de estrelas?
— É. Tipo, uma quantidade indeterminada, mas considerada imensa. - explico. - Você já sentiu algo assim? Você já sentiu algo em vastidão por alguém?
— Não. E você, já sentiu?
Demoro alguns longos segundos para responder.
— É. Eu senti sim.
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