1. Spirit Fanfics >
  2. Ligação Eterna - Drarry >
  3. Primeiro dia

História Ligação Eterna - Drarry - Primeiro dia


Escrita por: LegolaSH

Notas do Autor


Capitulo revisado 07/01/19
Por favor comentem o que acharam <3
caso tenha algum erro é só avisar que eu corrijo !
Boa Leitura

Capítulo 2 - Primeiro dia


 

Deitou na cama, tentando dormir, o que era quase impossível, pois as ansiedades e preocupações ocupavam por completo sua mente. Mas aquele abraço, aquele pequeno e quente gesto de carinho dentro da fria família Malfoy o tinha dado esperanças, o aquecendo o suficiente para que conseguisse dormir em meio ao rígido inverno.

E seus últimos pensamentos antes de adormecer eram sobre como sentia falta de Hogwarts, de Snape e suas aulas de poções, dos “colegas” que o seguiam por toda a parte, daquele trio irritante.

Por mais estranho que pudesse ser para Draco, ele estava com saudades do santo Potter.

           ...

Tinham se passado três dias desde que o cio de Draco havia acabado. O loiro deveria embarcar cedo rumo a Hogwarts, mas não estava tão preocupado com isso quanto deveria. 

Quando acordou naquela manhã, a chuva caia forte contra a janela. Suas coisas estavam todas guardadas e as malas mais pesadas tinham sido enviadas pelo correio bruxo. Foi sorte alguns vidros das poções e anuladores, que deveriam disfarçar seu cheiro a partir de agora, já terem chegado. Snape deve ter passado noites inteiras trabalhando para poder enviá-los em tão pouco tempo — o padrinho sempre se esforçava muito quando se tratava de Draco.

O loiro precisaria tomar dois vidros por dia: uma poção que corta o efeito Hormonal para seu cheiro não ficar adocicado ou “feminino” e um anulador que inibe os efeitos dos alfas — a voz de autoridade deles não dói em seus ouvidos e nem o cheiro tira o controle de suas ações.

O problema com poções hormonais é que elas são muito instáveis, todo o tratamento mágico feito para atuar diretamente no organismo não tem efeitos iguais em todas as pessoas. Como essas são as primeiras que testaria, seu efeito poderia ser curto e serviria apenas para a viagem de trem. Assim que Draco chegasse na escola, Severus o avaliaria, anotando os efeitos para que fizesse as alterações necessárias, deixando aos poucos a receita o mais ideal possível.

O loiro permaneceu deitado por um bom tempo, pensando nas poções e seus efeitos e em como iria obrigar Snape a ensiná-lo a fazê-las ele mesmo. Acreditava que talvez existisse uma cura para isso, um antídoto que o tornasse pelo menos um beta, mas o loiro sabia as consequências que esses experimentos podem causar. Tinha visto de perto o estrago que fazem.

 “É só mais uma pedra no meu caminho, posso lidar com isso”

 Sua linha de pensamento foi interrompida quando alguém bateu delicadamente na porta. Pelo cheiro doce e discreto, ele sabia que se tratava apenas de sua mãe. Invejava o odor tão ameno de Narcisa. Quando esteve no cio, Draco cheirou irritantemente como limão. Ele odiava isso.

— Pode entrar. — Disse simples. Se ajeitou melhor na cama, tentando parecer o mais firme possível diante da mãe. Queria que ela visse que ele era capaz de levar aquilo adiante.

— Filho, já terminamos de mandar suas coisas. Você só vai levar uma mala de mão com poções extras no caso de acontecer alguma coisa que te deixe estressado. — Narcisa falava calma enquanto entrava no quarto, se sentando na beira da cama. — Assim que chegar lá, Snape te dará mais remédios e também instruções de como deve agir para que ninguém perceba a sua pequena mudança.

— Está bem, mas chamar de “pequena mudança” não torna isso mais fácil.  

Draco sabia que ela estava fazendo de tudo para tornar aquilo uma verdade e tudo ao seu alcance para que o filho pudesse seguir em frente, com se aquilo realmente não passasse de uma “pequena mudança”. Infelizmente, o mundo não era assim, de um alfa para um ômega tinha uma grande diferença, não somente física ou emocional, mas também em como olham para você. O loiro compreendia isso, se amaldiçoando por estar do outro lado da faca agora.

— Você vai ver. No começo foi horrível para mim também. Eu sempre achei que seria uma beta e meu cio veio tardio, assim como o seu, mas eu sobrevivi a todo o horror que é a mudança. É claro que no meu caso foi bem mais fácil. Por ser mulher, o meu cio trouxe muito mais alegria do que preocupação. Não acho que deveria ser assim, mas é, e, independente do quão difícil seja, nós somos os Malfoy, não desistimos por nada, não abrimos mão do que é nosso. Confio em você para lidar com isso. — A voz firme e a postura neutra quase passavam a impressão de que Narcisa era indiferente, porém Draco a conhecia muito bem, o que era cada nuance em sua voz. Sua mãe estava diretamente emotiva, e isso já era muita coisa se tratando dela.

O loiro não conseguiu deixar de sorrir. Desde criança nada o alegra mais do que ouvir um “nós somos Malfoy”, principalmente quando vinha de sua mãe. Quase compensava todo o resto.

— Eu só preciso de um banho. Desço em vinte minutos. — Falou enquanto pensava em como tudo dali em diante seria uma merda, o que até tiraria o seu ânimo, porém o sentimento de que poderia dar a volta por cima nessa situação o motivou ainda mais.

— Estamos te esperando no saguão. — Ela saiu rapidamente do quarto, e o que o deixou melhor ainda foi não ver mais pena em seu olhar. Narcisa estava realmente confiando nele. Não iria falhar.

Entrou no banheiro e tomou uma ducha rápida para não correr o risco de se atrasar, afinal, Malfoys nunca se atrasam, ou pelo menos era isso que Lucius sempre gritava para ele. Saiu para o quarto com a roupa quase completa, faltando apenas os sapatos e o casaco. Seria inútil ir de uniforme já que seu pai passaria em outros lugares antes de o deixar na estação.

Terminou de se arrumar com um pouco de presa, logo descendo as enormes escadas de mármore. Seus pais o esperavam perto da lareira, Narcisa segurando sua mala de mão.

— Temos compromissos marcados, não podemos sair tão em cima da hora. Contribuidores e sócios são importantes demais para ficarem esperando. Lembre-se de fazer como fazemos todos os anos, educado, cortês e firme. — Lucius o analisava sem o mínimo de descrição, satisfeito ao perceber que o filho não cheirava mais como um ômega.

— Está bem, pai, eu sei como impressionar nossos sócios. Sempre recebo elogios, o senhor sabe disso. — Respondeu, olhando firme em seus olhos. 

Tinha certeza que no fundo o alfa confiava nele, mas o nervosismo confundia a sua mente. Lucius preferia não se arriscar. Apesar de saber que era apenas precaução, ainda ficou chateado. O que mais temia era que seu mais novo “status” afetasse a forma como o pai o tratava.

Ninguém disse mais nada. Sua mãe o puxou delicadamente até a lareira, lhe entregando a pequena mala e enchendo a mão com pó de flu. Em segundos, Draco já não via mais a luxuosa sala da mansão Malfoy.

//////////

Estava quase no limite de tempo, mas Draco conseguiu entrar no trem, depois de cumprimentar várias pessoas pelo longo caminho até a estação. Mesmo com a demora, o loiro ficou feliz de não ter sido excluído dessa tradição. Manter os colaboradores e investidores a par do seu desenvolvimento era essencial para que confiassem nele quando assumisse a empresa.

Draco tentava evitar pensar na possibilidade de que não iria mais acontecer. Lucius ficou muito receoso com isso no começo, mas ele e Narcisa lhe prometeram que irão garantir tudo que era seu por direito. Gostava de lembrar disso, o animava.

Andou pelo estreito corredor até encontrar o vagão com seus colegas, colocando sua mala de mão no bagageiro de cima e se sentando perto da janela. Estavam acomodados Blasio e Goyle no banco da frente, com o assento ao seu lado ainda vazio. O cheiro de alfa estava impregnado em toda a cabine — o loiro estava começando a ter nojo só de pensar que esse cheiro horrível deveria ser atraente de alguma forma.

— Finalmente chegou, achei que não íamos te ver na viagem. — Blasio tentou começar uma conversa, com um sorriso educado no rosto. Fazia o máximo de esforço para parecer simpático, mas não era algo que combinava com ele. A verdade é que Zanbini apenas estava feliz de não ter que aturar os outros colegas sozinho. Considerava todos idiotas.

— É verdade, o Crabbe queria apostar que você ia se mudar pra um colégio interno pra bruxos. —  Goyle se interessa no assunto, fazendo o loiro rir pela forma infantil e animada com que ele falava. Até mesmo Blásio, que nunca gostava de demonstrar emoções, acabou rindo do comentário.

— Por que apostariam isso? — Draco perguntou sem um real interesse, começando a observar a movimentação no corredor. As pessoas passavam de um lado para o outro, tentando achar uma cabine. Não era a coisa mais empolgante do mundo, mas, na visão do loiro, ainda era melhor que prestar atenção nos próprios colegas.

— Porque... como você sempre diz mesmo? Algo como “Malfoy´s nunca se atrasam”. — Disse Blasio, enquanto Goyle apenas concordava repetidamente com a cabeça. Draco não precisava olhar pra Zanbine para saber que o alfa tinha um sorriso presunçoso no rosto. 

Revirou os olhos antes de responder:

— Nisso eu tenho que concordar, mas não estou atrasado. Que eu saiba, cheguei aqui antes do trem entrar em movimento. — O loiro falava com a atenção ainda fixa no corredor. 

A movimentação de pessoas diminuía gradativamente, isso parecia uma boa rota de fuga. Draco precisava respirar um ar novo, qualquer coisa que não fosse aquele cheiro nojento de alfa.

— Vou dar uma volta. — Falou, ríspido, pegando seu uniforme na mala de mão e se levantando rápido em direção à porta. Assim que conseguiu passagem no corredor, andou até quase chegar na entrada da próxima cabine. Infelizmente, uma voz estridente o fez parar em meio ao seu trajeto.

Draco! Eu estava com tanta saudade! — O loiro até tentou, mas não teve tempo de impedir que ela gritasse daquela forma exagerada, muito menos que pulasse no seu pescoço em uma tentativa de lhe dar um abraço. Draco Malfoy não gostava nem um pouco de abraços.

— Pansy, nós já conversamos sobre isso. Eu já disse que não gosto de demonstrações de afeto, quem dirá em público? — Ela percebeu de imediato seu tom irritado, o soltando na mesma hora. Por mais que soubesse o nível de intimidade que tinha com o loiro, Parkinson não conseguia se impedir de tentar. Mesmo não sendo vista da mesma forma, a ômega o considerava um dos melhores amigos que tinha.

Agora que Malfoy podia olhar direito para ela, notou que estava diferente do ano passado: os seios estavam maiores e o corpo tinha mais curvas, que ficavam bem marcadas no uniforme da Sonserina, porém o cheiro dela não tinha mudado nem um pouco, doce e enjoativo, como o de quase todas as ômegas que já conhecera em sua vida.

— Foi sem querer. Vai falar que não me conhece? Não faço por maldade. — De fato, por mais que não gostasse disso o tempo todo, ele estava acostumado com a personalidade grudenta e persistente da Pansy. Afinal, se conheciam praticamente a vida inteira.

— Te conheço o suficiente para saber você não tem problema de memória. Já disse: sem abraços. Não faça mais isso. 

 Por um momento, enquanto o loiro controlava a própria irritação, seus olhos foram por cima dos ombros de Pansy, vendo o famoso trio de ouro entrando no vagão. Os três escolheram ficar em uma cabine na parte oposta do corredor, quase em frente da que o loiro estava, mas um pouco mais acima no corredor.

— Os meninos estão naquela cabine. — Falou, apontando para o lugar de onde tinha acabado de sair. — Estou indo ao banheiro.

— Não quer companhia? — disse rindo, e Draco acabou rindo também, logo dando as costas para ela. Nunca tiveram nenhum contato romântico e sabiam muito bem que isso não aconteceria. Por mais que nenhum dos dois tivesse interesse naquilo, o flerte dela acabou se tornando uma piada interna.

Draco não diria que tinha bons amigos, talvez nem mesmo que tinha amigos, mas Pansy e Blasio eram o mais próximo que conseguiu ter em todos esses anos, colegas com os quais eventualmente precisava contar. Estava satisfeito com isso.

Caminhou tranquilamente até o banheiro, passando pela cabine onde Harry e seus amigos estavam. “Aposto que estão planejando alguma coisa que chame a atenção. Quem sabe, explodam o teto inteiro esse ano.” Durante todos os anos, na visão do loiro, Harry Potter sempre dava um jeito de se mostrar, conseguindo se envolver em todo o tipo de problema frequentemente.

Não que o loiro se importasse, apenas não conseguia acreditar em como o Potter conseguia ser tão irritante, sendo praticamente insuportável quando estava junto de seus amigos. Draco riu do pensamento, dando mais um passo em direção ao banheiro. Estava quase na porta quando sentiu um cheiro diferente, uma fragrância forte e que tomava facilmente conta do ambiente.

Sabia que não era de ômega, não tinha nada de doce ou enjoativo,  apenas um perfume amadeirado e cítrico, tão forte e intenso que poderia ser confundido facilmente com uma poção de ervas. Logo se dissipou no ar, fazendo com que o loiro se recuperasse da confusão, continuando seu caminho como se nada tivesse acontecido. Agradeceu mentalmente pelo movimento no corredor estar bem baixo, a ponto de ninguém reparar no fato de ter ficado alguns segundos parado procurando a origem do perfume. “Seria patético se alguém comentasse sobre isso”

Quando finalmente entrou no banheiro, aproveitou para lavar bem o rosto e  trocar a roupa formal pelo uniforme. Ainda era cedo para isso, mas não queria ter que ir até ali de novo durante a viagem.

Voltou para cabine um bom tempo depois, sendo o resto da viagem extremamente tranquila. Goyle tinha trocado de vagão para dividir os salgadinhos com o Crabbe, que estava na parte mais à frente do trem. A pequena mudança tinha alegrado muito Draco, pois isso tinha deixado o cheiro de alfa bem mais fraco. O que mais realça o cheiro é o suor, e Blasio praticamente não suava, além de se entupir de colônias que, na opinião de Malfoy, eram baratas e bregas. Se perguntava como alguém com tanto dinheiro se submetia a usar aquilo.

//////////

— Alunos do primeiro ano, me acompanhem. Esse ano o passeio será feito antes do jantar!

Assim que chegaram ao salão de entrada da escola, Draco teve dó do pobre professor que tentava reunir os alunos do primeiro ano. Eles estavam tão entretidos com as decorações e itens mágicos que mal ouviam o velho. Era quase patético.

— Eu não sabia que a escola estava fazendo isso com os alunos novos, achei que o passeio seria apenas pra ver onde fica o próprio dormitório. Por que da mudança? — Malfoy perguntava curioso a Blasio e Pansy, que estavam ao seu lado, bem mais entretidos em secar os outros alunos do que no que acontecia ao seu redor. Logo todos caminharam em direção ao grande salão, a não ser pelo pequeno grupo de crianças baixinhas, que seguiam distraídas por outro caminho.

— Você não ficou sabendo, Draco? —  Era a voz Pansy, que se aproxima mais ainda de dele, entrelaçando seu braço ao do loiro. — Tiveram muita desistência de alunos “especiais”, então estão tentando deixar a escola mais receptiva. Sabe como é, a maioria que entra no cio acaba indo embora, porque nem todos os ômegas podem continuar os estudos. Bem-vindo ao século vinte e um! — A última parte ela falou em tom irônico, irritada com a própria situação em que se encontrava, pois, como ômega, aquilo a afetava também. Mesmo sendo tão direta, Malfoy não entendeu completamente o que ela queria dizer. 

Nessa hora, passaram por um corredor com uma fileira inteira de quadros só de antigos alunos da sonserina. Parkinson os olhou com orgulho, sendo a casa com mais diversidade, por isso que ela a amava tanto. Para Salazar, Sonserina não importa se você era um ômega, alfa ou beta, mas o poder que você tem. Pensar que um bruxo defendia essa tese há tantos séculos atrás a enchia de esperança. Talvez o mundo um dia mudasse, afinal, pessoas tão poderosas concordarem com a igualdade de status não deveria ser algo tão inalcançável assim. 

— Como assim “especiais”? Pansy? Está me ouvindo? — Draco estava quase sem paciência. A ômega ao seu lado andava com o olhar perdido, mal percebendo que chamava por ela. Foi a vez de Blasio responder.

— Ela quis dizer que muitos alunos saíram não só porque eram ômegas que foram obrigados a se casarem, mas sim homens ômegas. Não é uma coisa rara e, francamente, não acho nada demais, porém tem uma onda conservadora muito forte vindo e provavelmente pode voltar a ser uma coisa vista como incomum em breve. — O alfa foi simples e direto, não se interessava realmente pelo assunto. Ao seu ver, era um problema que não o afetava e por  isso não tinha importância. — Para você, deve ser algo bom. Não disse há alguns anos atrás que não gostava de “homens femininos” ou algo assim? — disse em tom de piada, fazendo Pansy soltar uma risada abafada, logo o dando um tapa de censura. Ela não gostava daquele tipo de comentário, mas tinha rido da cara de surpresa de Draco, que apenas soltava risos secos, sem saber como reagir. 

Malfoy não era nada feminino e nunca seria.

Parkinson ficou chateada com eles por um bom tempo, sem perceber que Malfoy se sentia tão incomodado quanto ela pelo comentário que Blasio havia trazido à tona, mas por motivos completamente diferentes.

Draco Malfoy não havia mudado durante esses anos. A ideia de um homem ômega ainda lhe parecia estranha, mas, quando ouviu da boca de Blasio, aquilo realmente pareceu ofensivo, porque pela primeira vez aquilo servia para ele, embora sem intenção. O loiro não era assim, não importava o quanto seu corpo mudasse, nunca seria alguém delicado, carinhoso... submisso. O loiro era alguém que se orgulhava de se olhar no espelho e ver um líder.

— Mas não é só por isso que tem poucos alunos esse ano. — Pansy começou a tagarelar. Na verdade, Draco descobriu que ela já estava fazendo isso há algum tempo. — Os da Sonserina, por exemplo, a maioria do último e penúltimo ano encontraram seus parceiros, fizeram suas marcas e se mudaram para região do noivo. Vou sentir falta da Regina, ela está em Montreal agora. Para mim, duas escolhas horríveis: entrar no cio e ser tirado da escola ou se casar e sair por vontade própria. Não que Hogwarts seja perfeita, mas eu ainda quero um diplo-...

— Já chega disso! —  Com uma voz autoritária, Draco encerrou o assunto. Sua cabeça doía, e não era apenas pelo efeito da nova medicação: a voz da ômega soava mais estridente do que o normal em seus ouvidos. Pansy se calou na mesma hora, fazendo Blasio soltar um “amém”. O loiro tinha que concordar com ele, em alguns momentos ter Parkinson quieta era um milagre. — Vamos nos sentar logo, estou com fome.

Tinham finalmente chegado ao grande salão, indo direto até a mesa da sonserina e se sentando na parte da mais próxima da porta. Malfoy queria privacidade para poder fazer mais perguntas a Blasio e Pansy, mas também tinha um grande interesse em ser um dos primeiros a ir embora. Estava cansado.

Passaram então a conversar, enquanto os alunos do primeiro ano eram enviados para suas respectivas casas. Draco ficou irritado quando novamente o assunto da saída de alunos veio à tona — aparentemente, eles tinham se interessado muito nesse tema.

— E como você tem tanta certeza, Pansy, sobre os alunos da sonserina terem encontrado um parceiro? Eu conheço a maioria dos alunos da nossa casa e nenhum deles pretendia marcar alguém. — Blasio observava a ômega atentamente, tentando manter a voz baixa na esperança de que Malfoy não se estressasse de novo.

— Meu pai fez uma reunião só para discutir isso. Parece que a diminuição dos alunos em Hogwarts está afetando os negócios, pouquíssimos livros foram vendidos. Eu acho engraçado, fazem de tudo para tirar os ômegas de todos os setores importantes, da própria escola! Mas reclamam quando a renda cai. — Tinham muito rancor em sua voz, o suficiente para acalmar Draco. Deixaria que conversassem em paz, Pansy provavelmente estava furiosa com o pai e iria desabafar com Blasio mais tarde. Os dois eram realmente próximos, apesar de completamente opostos um do outro.

Depois que a cerimônia do chapéu seletor acabou, os alunos finalmente puderam comer. Durante toda a refeição, Malfoy não participou uma vez sequer da conversa. Sua mente estava atordoada demais para isso.

Após o jantar, o trio se separou. Blasio e Pansy foram direto para o dormitório da sonserina, enquanto o loiro foi sozinho procurar por Severus. Precisava falar com ele sobre as poções e perguntar onde seria seu dormitório novo — dormir com outras pessoas no mesmo cômodo estava fora de cogitação, ainda não tinha estabilidade para isso.

Chegando na sala de Snape, Draco bateu duas vezes, esperando pacientemente que o professor abrisse a porta. Sabia que o padrinho precisaria de uma boa desculpa para explicar o porquê de precisar de um dormitório individual, se perguntava o que o Snape teria inventado. Só de imaginar, já podia ouvir as reclamações futuras de Blasio: “Mas por que só você ganha um quarto privado? Eu tenho que dividir o meu com idiotas”. Seus pensamentos foram interrompidos por Severus.

— Você demorou, achei que não viria mais. — Disse assim que abriu a porta. Ele nem ao menos deu passagem para que Draco entrasse, apenas pegou uma bolsa que estava do lado e saiu de sua sala, não sem antes avaliar o afilhado de cima a baixo, contente por ver que as poções que enviara tinham dado certo. O cheiro de Draco era praticamente inexistente, o que significava que tinha feio um bom trabalho.

— Eu tive que jantar com meus colegas, pensei que sumir logo na chegada ao castelo poderia ser mais suspeito. — Tentou se justificar da melhor forma que pôde, mas a verdade era que o loiro queria ter um pouco de normalidade antes de aceitar que tudo mudaria. Um jantar com Pansy e Blasio parecia familiar o suficiente para o acalmar.

— Está bem, não fez de todo o mal. Será mais discreto assim. Agora, me siga. 

O professor começou a andar rápido pelos corredores, passando por algumas curvas até chegar em um que ficava mais afastado, levemente mais estreito que os outros. 

— Tem muitos caminhos para chegar aqui, esse que você fez é o mais longo. Não é exatamente prático, mas vai ser simples ir às aulas e ao refeitório.

— As pessoas vão reparar que eu não durmo mais no dormitório da sonserina. — Falou, enquanto Severus parou na frente de uma porta branca de madeira. —  O que eu digo quando perguntarem algo?

— Muitos alunos não dormirão nos dormitórios das casas esse ano. Conversei com Dumbledore sobre o seu caso e ele me prometeu sigilo total. Nós estamos com poucos alunos, então foi fácil separar algumas salas e reformá-las como quartos. —  Havia ficado extremamente aliviado por Severus dizer que ele não seria o único, a ideia de chamar atenção desnecessária o deixava nervoso.

Severus abriu a grande porta, dando ao loiro passagem para entrar. 

Malfoy começou a observar. O quarto era muito bonito e bastante espaçoso; em uma das paredes tinha pinturas de árvores e montanhas. As cores predominantes eram o verde e o prata. Havia uma enorme cama de casal perto da janela, com uma mesa em cada lado. No canto da parede oposta à cama, havia uma porta entreaberta. Draco podia ver que ali era um banheiro.

— Precisamos conversar, Severus. Me diga exatamente o que falar pros meus colegas. Não posso ser pego mentindo sobre isso.

— Sim, Draco, precisamos conversar. — Snape colocou a bolsa que trazia em uma escrivaninha, logo percebendo que o afilhado se mantinha parado na entrada do quarto. —  O que está esperando? Entre direito no quarto e feche a porta!

A voz autoritária de Snape fez com que Malfoy quase se assustasse, fechando rapidamente a porta antes de andar mais pra perto do padrinho. O professor começou a mexer na bolsa, retirando vários vasos de lá de dentro. O loiro apenas o encarava, esperando uma explicação.

— Esse é um dos melhores quartos. As paredes são feitas de pedra pura, seu cheiro vai ficar contido apenas aqui, poderá ficar à vontade. Essas plantas são pra você, vai me ajudar a cultivá-las. — Foi tudo que disse antes de voltar a tirar mais potes da bolsa, como se aquilo pudesse responder todas as perguntas de Draco.

— E por que tem tantas? — Perguntou, curioso, sem acreditar na enorme quantidade de vasos que seu padrinho não parava colocar na mesa. Eram de todo o tipo de material e tamanhos, alguns já com plantas floridas e outros que pareciam conter apenas terra. Malfoy já havia ajudado Snape com suas plantas antes, mas nunca havia trabalhado com tantas espécies diferentes.

— Cada uma delas é um ingrediente fundamental pra suas poções, e eu não tenho espaço suficiente pra cultivar todas elas na minha sala, então metade do estoque deve ficar com você. Aliás, isso vai ser muito bom, combina com sua nova função. Vão servir muito bem. — O professor novamente não fez questão de soar explicativo, falando o mínimo possível, apenas para se concentrar na tarefa de retirada das plantas. Draco só conseguia pensar em como odiava bolsas com o feitiço de contas. Mal podia imaginar quantas peças o padrinho havia posto ali.

— Minha nova função? Será que pode falar direito comigo? Não entendo nada. — Draco tinha chegado ao seu limite, tendo que pegar rápido um dos vasos que quase caiu da escrivaninha de tão cheia que ela estava. Snape finalmente parou de colocar mais plantas na mesa, fechando sua bolsa.

— Eu ainda não te expliquei isso, mas é algo muito simples. Já estava pensando em recrutar você mesmo antes de tudo isso. Agora, não seja impaciente e muito menos levante a voz para mim, não sou seus pais! — Severus puxou uma das cadeiras perto da mesa e indicou com o braço para que o loiro fizesse o mesmo. Colocando a sua cadeira em frente a do padrinho, Draco logo se sentou, ansioso pela explicação que viria.

— Esse ano começa um projeto de treinamento de alunos para que ajudem os professores com a preparação das aulas, tarefas e trabalhos. Serão como monitores, mas cada disciplina elegerá um aluno. Ele será o aprendiz dessa matéria pelo resto de seu último ano em Hogwarts. — Tentava ser o mais didático possível, gesticulando uma hora ou outra com as mãos. — É claro que o meu assistente será você. Com ou sem cio, ainda é o melhor em poções do último ano. 

Malfoy ficou aliviado em saber que, de fato, não iria receber nenhum destaque anormal. É claro que sempre ganhava algum, mas era o esperado, pois se esforçava em ser o melhor. Gostava de merecer a atenção que recebia. 

O loiro continuou olhando Snape em silêncio, esperando o restante da explicação.

 — Esse projeto só iria começar no ano que vem, mas quando eu expliquei a sua situação o diretor se comoveu com o fato de você não querer abandonar Hogwarts. Não se preocupe, Alvo não vai contar a ninguém sobre o seu... estado. — Dentre todas as pessoas Snape, era o que mais o entendia. Sabia muito bem o que era ter mudanças indesejadas no corpo e já sentiu na pele o quão perigoso era tentar alterá-las.

— Tudo bem, me passe o que tenho que fazer e eu faço. Vai ser bom ter algo pra me distrair de disso tudo, ainda mais algo que eu gosto. — Falava com toda a honestidade que conseguia ter. Durante as férias tinha sentido muita falta das aulas de poções. Para ele, era quase um sonho ter a oportunidade de não só assistir, mas também ajudar a organizar as matérias.

— Aqui tem um resumo. — Ele abriu novamente a bolsa para retirar um amontoado de folhas, entregando-as a Draco. — As primeiras páginas são explicações do que é o projeto, mas acredito que você já entendeu. Depois vem as funções básicas de como montar resumos e cultivar experimentos práticos. O resto vai ser um trabalho ou outro, nada que não possa fazer.

— Então, basicamente, tenho que resumir sua matéria e suas aulas enquanto cultivo plantas para você? E em troca eu ganho um quarto só pra mim? Não parece uma troca justa. — Malfoy não estava querendo reclamar. Estava perfeito, sempre gostou de fazer resumos das matérias para estudo. Alguns a mais não seria um problema.

Só não conseguia entender por que tanta recompensa para pouco trabalho. Não parecia algo normal.

— Não seja ingrato, Draco! Todos os aprendizes ganham um quarto individual para que aprendam responsabilidade e que tenham espaço o suficiente para realizar experimentos e cultivos. Você não sabe o quanto tem sorte. — A decepção era clara na voz de Snape. Na visão dele, Draco deveria estar, no mínimo, agradecido.

— Sorte? Não acho que seja a palavra certa pra descrever as coisas nesse momento. — Olhou para o chão por um instante, segurando a risada sem humor que veio em sua garganta. Observava o piso de madeira escura e também os próprios sapatos. Não queria olhar Severus nos olhos. Não queria que ele o visse parecendo fraco.

— Draco, eu sei que esse momento é difícil para você, mas olhe para mim. — Levantou o olhar para encontrar os olhos esperançosos de Severus, uma coisa um pouco rara, ver esperança nos olhos de Severus Snape. — Eu sei melhor do que ninguém o que é ser um ômega, sei também o peso que isso vai jogar em suas costas, mas acredito que possa lidar com isso.

— Obrigado, isso é muito importante para mim. — Draco pôde ver que o padrinho deu um leve sorriso, uma coisa ainda mais rara. —  Não teria conseguido nada sem sua ajuda.

— É meu dever proteger você. Agora eu tenho que ir. Qualquer coisa que precisar, entre em contato comigo. — Levantou-se, indo até a porta. Draco apenas o acompanhou. 

Antes de ir embora, Snape o ensinou uma passagem para chegar mais rápido ao corredor do dormitório da sonserina, algo que acreditava ser útil. Malfoy observou Severus se afastando, logo parando quando se lembrou de uma última coisa. Ele se virou em direção ao loiro e perguntou com toda a naturalidade em sua voz:

— Draco, você já teve algum sonho... “diferente”? — O afilhado não havia entendido pergunta.

— Como assim “diferente”? — Draco o encarava, visivelmente confuso. Não sabia o que aquela pergunta queria dizer, porém estava bem mais curioso com que intenção ela havia sido feita. Snape não perguntava sobre sua vida pessoal.

— Sonhos envolvendo alfas. — Novamente sua voz soou com tranquilidade. Toda aquela calma estava deixando Draco irritado.

“Onde ele quer chegar com isso?”

— Não, nunca tive sonhos eróticos, e não é da sua conta! — Falou, ríspido, querendo ao máximo cortar o assunto, mas, pela expressão de Severus, aquilo não iria acabar ali.

— Na verdade, é sim, porque sua mãe me pediu para te ensinar tudo sobre sua nova natureza, tudo sobre como é ser um ômega. Não sirvo só para fazer poções mágicas. Você vai aprender como se comportar feito um alfa, como fabricar seus próprios anuladores e a lidar com os cios. Tudo isso sem me questionar. — Severus agora lhe respondia no mesmo tom irritado. Já havia avisado Draco para não levantar a voz contra ele. — Se eu te faço uma pergunta, então você responde, entendeu?

— Eu queria não pensar nisso hoje. — O assunto sobre poções o tinha deixado tão animado que a dura realidade doeu: teria que lidar com os cios, com poções e hormônios. Não era uma boa hora para começar a se preocupar, queria ao menos uma noite de paz.

— Tudo bem, não falaremos disso hoje. É seu primeiro dia, arrume suas coisas e vá falar com seus amigos. Conte as novidades, mas não fale demais. — A ênfase na última parte foi bem clara: não estrague o disfarce. Não era como se Draco pretendesse realmente ser tão franco com Pansy e Blasio.

Com esse último aviso, ele saiu novamente pelo corredor. Dessa vez, sem se interromper, deixando Draco sozinho no quarto e cheio de malas pra arrumar. Se perguntava se os colegas já teriam terminado de arrumar suas coisas.

Em menos de quarenta minutos todas as suas roupas e equipamentos estavam guardados dentro do grande guarda-roupa do quarto. Assim que terminou, foi direto para o salão da sonserina, aproveitando para falar com os alunos que já estavam lá. A maioria só o parabenizou por ter sido o escolhido de Snape — aparentemente, o padrinho tinha espalhado a novidade por toda a casa.

Blasio e Pansy desceram, e os três começaram a conversar sobre as novas matérias e passeios. O tempo passou, e a maioria dos alunos já tinham se retirado para suas camas, mas eles ainda ficaram ali um bom tempo conversando. Só quando faltavam dez minutos para o toque de recolher, Malfoy se despediu, indo direto até seu novo quarto.

Chegando lá, tomou um banho longo e se deitou na cama, exausto. Olhava para janela quando percebeu que sua coruja estava na gaiola, deixada no chão, embaixo do vidro. Esticou seu braço, ainda deitado na cama, e abriu a pequena porta de ferro para que ela pudesse voar pelo quarto.

“Amanhã eu coloco ela de volta antes de ir para as aulas”

Antes que conseguisse pensar em todas as coisas que aconteceram no dia, pegou no sono, só se lembrando de sonhar com aquele perfume do trem, um aroma forte e dominante. Ácido, mas também suave. Amadeirado, mas também cítrico. Um cheiro muito bom.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...