História Ligados Pela Liberdade (Imagine Ten) - O Que Nós Somos?

O almoço foi tranquilo e logo depois os meninos foram para para a piscina, enquanto S/n se trancou em seu escritório. Ela tinha coisas da empresa para resolver e Taeyong tinha enviado alguns arquivos sobre a família de seu pai. Eram vários registros de mensagens trocadas com pessoas ameaçando ele de contar sobre ‘’seu filho e sua amante’’, e recibos de contas de hospital e transferências bancárias num valor absurdo. 

‘’Aparentemente ele tem um filho’’, concluiu depois de, com o coração acelerado, analisar tudo. Ainda era difícil para S/n engolir aquela história. Mesmo que Chittaphon tivesse acalmado ela e tivesse tentado fazê-la enxergar as coisas por um ângulo diferente, ainda não conseguia parar de pensar no possível irmão que cresceu longe deles. Se perguntou como ele era, em quais condições cresceu e onde estava. 

Ela se jogou em sua cadeira giratória e massageou as têmporas. Sentiu uma sensação de vazio e amor ao mesmo tempo, e medo. Principalmente medo. E euforia. A possibilidade de ter mais um irmão a assustava muito, mas sentia uma inquietação em seu peito. De qualquer forma, queria saber quem era, mesmo que nunca chegassem a ser próximos.

Ela alcançou seu celular e fez uma chamada de vídeo com Taeyong. Já tinha falado com ele na hora do almoço sobre Hyuck, que voltaria para a escola na segunda feira - já que Taeyong ligou para o diretor e o fez cancelar a transferência do irmão mais novo -, mas ainda tinha assuntos inacabados sobre a história da outra família. 

-Oi - Taeyong atendeu. Estava deitado em sua cama no hotel, sem camisa e aparentemente tomando uísque. Ela diria que o irmão estava entediado, mas sabia que isso nunca acontecia com ele, já que sempre dava um jeito de se distrair. 

-Você acha que nosso irmão é um garoto? - Ela perguntou. 

-Aish S/n, não chame ele de irmão - Taeyong virou os olhos - Se tem uma coisa que ele não é, essa coisa é ‘’nosso irmão’’. 

-Não fale assim, Tae - Ela repreendeu. Ele aparentemente não estava aceitando bem aquela ideia e não fazia questão de esconder isso. Taeyong era a pessoa mais avessa a mudanças que ela conhecia e prova disso foi que ele pareceu sofrer muito mais que ela com o casamento e com a mudança de país.

-Por culpa dele nossa família foi destruída. Não era nem para ele existir! 

- Hey, não foi culpa dele. Você sabe muito bem de quem foi a culpa - Ela soltou o ar com uma expressão frustrada - Talvez ele seja só uma vítima, igual eu e você. E eu duvido que se ele pudesse escolher, teria escolhido essa família.

-Um caralho. Eu não trocaria nossa família por nada - Disse irritado enquanto tragava seu cigarro. S/n sorriu com a demonstração de afeto do irmão. Apesar de estourado, sempre foi muito carinhoso e protetor. Do jeito dele, mas era  - Enfim… É um garoto. Não sei a idade, não sei o nome e muito menos por onde anda, mas vou descobrir. Meus investigadores estão fazendo seu trabalho e amanhã vou conversar com o papai. Vou tentar fazer ele falar.

-Cuidado, Tae - S/n disse preocupada. 

-Fica tranquila - Ele se espreguiçou em sua cama - Hyuck está bem?

-Está. Está na piscina com Mark e os amigos do Ten. 

-Como você deixa ele andar com esses babacas? Era pra você cuidar dele!

-Menos, ok? - S/n virou os olhos. Sabia que Taeyong era orgulhoso e não ia perder o costume de falar mal de Chittaphon e de seus amigos, mas no fundo nem se importava de verdade - E você? Está entediado?

-Olha… Até que estou gostando de ficar aqui - Ele sorriu - Ficar um tempo sozinho me fez pensar num monte de coisas. 

-Ah, é? quais?

-Coisas da vida. Fiquei bravo com o papai, mas estou me sentindo leve por ter me livrado dele e por ter tomado as rédeas das coisas. 

-Você é um líder, Tae. Sei que vai dar tudo certo - S/n sorriu de forma amável. No final, estava feliz pelos dois irmãos, apesar de preocupada. - Preciso desligar. Tenho uma multinacional para comandar. 

-Tá. - Ele tragou seu cigarro novamente e olhou para ela através da tela com um ar autoritário - E trate de arrancar o Hyuck daquela piscina. Daqui a pouco ele vira um moralista chato do caralho. 

-Tchau, Tae - Ela riu e encerrou a chamada. 

S/n se espreguiçou em sua cadeira e se levantou em seguida, indo até o vidro que dava para o gramado. Viu os garotos na piscina se divertindo e Chittaphon apoiado na borda, sorrindo. Ele olhou na direção do escritório, como se pudesse vê-la, e ela sentiu um arrepio passar pelo seu corpo junto com a sensação de déjà vu. 

xxxXxxx

-O que você está desenhando aí? - S/n perguntou com um sorriso desconfiado, sentindo a caneta fazer cócegas em sua pele. Já fazia alguns longos minutos que Ten estava rabiscando as costas dela depois que terminaram de transar e conversaram brevemente sobre a ligação de Taeyong.

-Um golfinho - Ele respondeu concentrado enquanto ouvia a TV falar e a chuva cair calmamente do lado de fora.

S/n virou a cabeça e analisou Chittaphon. Ele estava perfeito sem suas roupas e com os cabelos bagunçados, deitado de bruços enquanto desenhava algo nas costas dela. Aquele momento seria o de maior paz em sua vida se não fosse pela incerteza que sentia. Tudo estava perfeito, mas S/n sabia que, assim que se afastasse dele, sua cabeça ia começar a buscar respostas para suas perguntas.

-Ten…

-Hmm..?

-O que nós somos? - Ela perguntou. Chittaphon parou de desenhar e a encarou.

-Somos casados... - Disse como se fosse óbvio, porém estava confuso com a pergunta repentina. Na cabeça dele estava claro que ficariam juntos por toda a eternidade.

-Eu sei, mas… O que você quis dizer quando falou pro Hyuck que queria me namorar?

-Quis dizer que agora estamos juntos de verdade - Ele sorriu e se arrastou na cama pra mais perto dela. 

- Mas o que nós somos de verdade? - S/n insistiu, imaginando que Ten não tinha entendido a pergunta dela. - Assim, só entre eu e você, sem papel, sem ser público?

-Você é minha e eu sou seu - Ele deu um selinho rápido no canto da boca dela, sorrindo. Para ele, o que tinham transcendia o plano terreno, mas entendia que era preciso definir algumas coisas - Eu quero ficar com você. Como casados de verdade.

-Um casamento de verdade é muito sério, você sabe disso, não é?

-Não imagino o que vá mudar - Ele deitou a cabeça no colchão e começou a brincar com os fios de cabelos dela. Chittaphon teve a impressão de que talvez S/n estivesse insegura sobre o que queria, ou talvez não quisesse que as coisas fossem sérias e rápidas demais, caso contrário não estaria fazendo aquelas perguntas cheias de rodeios - O que você quer?

-Quero levar o casamento a sério. Eu não teria falado que te amo se eu não quisesse ficar sério com você. Por muito tempo - S/n pensou que a sua resposta já fosse óbvia no momento em que disse que o amava. 

-Eu também - Ele sorriu - Você é minha esposa. E eu quero que seja assim de verdade. 

-Você quer dizer que vamos tomar decisões juntos? Vamos dormir no mesmo quarto? É isso mesmo que você quer? - S/n perguntou, insegura. Queria saber exatamente o que os dois tinham. Era a segunda vez em sua vida que tinha um relacionamento sério com alguém e não queria deixar pontas soltas. Talvez estivesse sendo paranóica e possessiva, mas ela não queria passar dos limites com Chittaphon e queria saber quais eram os seus também. Estava mais do que disposta a se entregar totalmente, porém só faria isso se ele estivesse disposto a se entregar também.

-Claro - Ele levantou a cabeça novamente, rindo. S/n sempre parecia tão confiante, e agora ele a achava simplesmente adorável por mostrar sua vulnerabilidade - Eu me mudo para o seu quarto ou você se muda para o meu? O meu é maior.

-Meu closet é maior - Ela pensou enquanto sorria. Ficou aliviada por ele querer a mesma coisa que ela e falar para dormirem juntos, como um casal de verdade. Nunca esperou ter esses momentos com Ten ou planejar algo com ele, mesmo que a mudança de quarto pudesse ser um problema - Minhas coisas não vão caber aqui, e nem as suas lá. 

-Podemos reformar, o que acha? Xiaojun é arquiteto, eu ligo amanhã para ele. Eu quero dividir um quarto com você o quanto antes.

-Ok - S/n tentava conter o quanto estava feliz. Ela e Chittaphon nunca escolheram nada juntos, nunca planejaram nada, e aquele simples quarto parecia muito para ela e simbolizava algo especial, como uma nova etapa no relacionamento de ambos.

-Ok - Ele disse com um sorriso bobo, aproximando seu rosto do dela - Posso dormir no seu seu quarto hoje?

-Pode - Ela selou rapidamente seus lábios nos dele, acariciando seu rosto enquanto encarava os traços delicados.

-O que você acha de não ir trabalhar amanhã cedo? Quero ficar aqui na cama com você. 

-Mas vamos ter bastante tempo até o horário de trabalhar. São nove da noite ainda. 

-Mas eu já sei que não vai ser suficiente - Ten segurou o rosto da garota carinhosamente e selou os lábios dos dois. Ele iniciou um beijo calmo e carinhoso e S/n aproximou mais o seu corpo do dele. Ten correu sua mão livre pelas costas dela e contornou seu quadril, fazendo círculos com os dedos na parte de trás de sua coxa. S/n sentiu cócegas e riu entre o beijo, fazendo Chittaphon se afastar com um sorriso.

-Faz cócegas. 

-Eu sei - Ele franziu o nariz, colando as testas dos dois - É que eu adoro ver você rindo. Eu já te disse o quanto você é linda?

- Na verdade, não - E S/n não estava mentindo. Ela não se lembrava de Chittaphon ter dito alguma vez que ela era linda e achava estranha a sensação de ele sempre ter deixado claro isso, mesmo nunca tendo dito com palavras. O jeito como ele a olhava já dizia tudo para ela. 

-Você é a pessoa mais linda que eu já vi. 

-Você também - Ela beijou a ponta do nariz dele. 

Ten alcançou o travesseiro e se deitou, puxando S/n pela cintura para se deitar também. Eles ficaram de frente um para o outro, se encarando por longos minutos, com as mãos entrelaçadas, ouvindo o barulho da chuva lá fora.