De todas as coisas que fiz na vida, e foram muitas, essa é a pior.
Não sei o que achei que fosse acontecer. Que todos sentaríamos à mesa de jantar e eu ia me divertir com o melodrama se desenrolando à minha frente? Que Joohyun de repente ia se abrir, me contar todos os seus segredos e explicar o que exatamente a levou a aceitar um emprego de babá no Maine?
Seria de se imaginar que aprendi minha lição quanto a respeitar a privacidade de Hyun depois de mandar a mensagem para Sehun, mas sou uma cretina. Fiquei ouvindo. A conversa toda.
Joohyun traiu a Menina de Ouro com Sehun. E eu forcei os dois a ficar cara a cara. Achei que eu fosse uma babaca, mas essa palavra nem começa a descrever o que eu sou. Quando percebi o tamanho da desculpa que eu teria que pedir, Sehun já tinha se mandado e Joohyun estava trancada no quarto.
Já passaram duas horas. Sei disso porque estou sentada do outro lado da porta há cento e vinte minutos. E ela está chorando durante todo esse tempo. Não de forma delicada. Estou falando de soluços de partir o coração. Fecho os olhos e apoio a cabeça na porta. A covarde em mim quer ir pro meu quarto, ligar pro meu pai e dizer que afaste Joohyun de mim, de modo que não possa prejudicá-la mais.
Mas cansei de ser covarde. Preciso encará-la.
Devagar, deliberadamente, levanto. Ergo a mão e bato na porta de leve, mas o choro não se interrompe. Bato mais forte. Dessa vez há uma pausa. Um pequeno soluço. Mas ela não abre a porta.
– Joohyun. – Minha voz sai rouca. – Posso entrar?
Estou preparada pra todas as respostas possíveis. Silêncio. Cai fora. Odeio você. Sai. Mas não para a porta se abrindo. E certamente não estou preparada para a dor que surge no meu peito quando a vejo. Mal noto os olhos inchados, o nariz vermelho e o cabelo emaranhado, pois concentro toda minha atenção na dor incomensurável estampada em seu rosto.
Faço a única coisa em que consigo pensar. Abraço Joohyun. E ela deixa. Fui eu quem causou essa dor avassaladora, e ela permite que eu a abrace. E é a coisa mais gostosa do mundo.
Eu a conduzo mais para dentro do quarto só para que possa fechar a porta, então a trago para perto de mim. Joohyun enterra o rosto no meu ombro e chora. Não sei como ainda pode ter tantas lágrimas. Passo a mão em suas costas e em seus ombros do jeito mais tranquilizador que consigo. Então, enfio o rosto em seu cabelo macio.
– Desculpa – sussurro, com os lábios em sua pele. – De verdade.
O desespero passa a um chiado, que passa a soluços fracos, que passam a uma respiração entrecortada. E então, finalmente, finalmente, Joohyun fica em silêncio, e se afasta de leve para me olhar. Fico tensa, pronta para as palavras que sei que mereço. Mas ela não me ataca, não me xinga. Não me diz em todos os detalhes que mereço a pior das mortes. (Mas eu mereço. Sei que mereço.)
Em vez disso, faz a última coisa que eu esperaria. Fala comigo. Descansa a cabeça na minha clavícula e só fala.
– Eu não queria, sabe? – Sua voz sai áspera por causa do choro. – Me perguntei um milhão de vezes se uma partezinha de mim sabia o que Sehun ia me dizer... o que ia fazer... quando fui lá aquele dia. Mas, depois de tanto pensar, eu não iria se soubesse. Não teria me colocado por vontade própria nessa situação e magoado Jennie. Se você tivesse visto o rosto dela...
Joohyun estremece ao soltar o ar. Eu a puxo para mais perto, passando a mão em suas costas. Quero dizer que, em perspectiva, não é nada. Que ela vai superar, que Jennie já superou. Mas sei que, para ela, é importante. Por isso, deixo que continue.
– Fui à casa de Sehun... subi até o quarto dele, pensando que queria falar sobre uma garota, Dalmi, com quem meio que estava saindo. Ele nunca tinha namorado sério, então achei que pudesse estar com medo ou coisa do tipo.
Ela fica em silêncio.
– Mas ele não queria falar sobre Dalmi. – Joohyun balança a cabeça. – Não. Ele estava estranho desde que cheguei. A gente sempre tinha ficado superconfortáveis juntos. Era o que eu pensava, pelo menos. Mas Sehun estava nervoso. Não olhava para mim, ou então me encarava de um jeito intenso por tempo demais, como se estivesse procurando por alguma coisa.
Fico até com pena do cara. Tenho plena consciência do que é se sentir atraído por essa garota, mesmo sabendo que deveria ficar o mais longe possível dela.
– Nem me toquei – Joohyun continua, balançando a cabeça de leve. – Num segundo, eu comentava como estava animada com um estágio em que tinha me inscrito e, no outro, ele pegou nas minhas mãos, com o rosto a centímetros do meu, e me disse que não aguentava mais. Que Jennie era sua melhor amiga, mas ele não aguentava mais. Que não conseguia nos ver juntas sem que eu soubesse...
– Ele disse que te amava? – pergunto. Ela assente antes de levantar o rosto para me encarar.
– Então me beijou. E eu não impedi. Deixei que me beijasse.
A agonia em seu rosto é clara. Quero dizer que não precisa contar tudo, mas sei que quer tirar isso do peito. Pego seu rosto nas mãos com toda a delicadeza.
– Por quê? Você também amava o cara?
Diz que não, por favor.
– Não – ela sussurra, nervosa, passando a língua nos lábios. – Eu me perguntei um milhão de vezes por que, e acho... acho que deixei que me beijasse porque sabia que era uma saída. A coisa com Jennie estava cada vez mais séria. Era a única mulher com quem tinha ficado na vida, e todo mundo, inclusive eu, agia como se fôssemos ficar noivas a qualquer momento...
– E não era o que você queria.
– Não – ela diz, soltando o ar. – Achei que quisesse. Queria querer. Amava muito Jennie. Mas em algum lugar, lá no fundo, tinha algo errado. As coisas estavam boas, mas eu queria mais.
– E Sehun era mais? – O rosto dela se contorce.
– Não. Assim que seus lábios tocaram os meus eu soube que não daria certo, mas então o beijei de volta, com força, querendo sentir alguma coisa, qualquer coisa. Não foi... quer dizer, não dormi com ele. Nem cheguei perto disso. Mas também não foi só um beijinho, depois, quando acabou, o empurrei e dei um tapa em seu rosto. Mas fiquei tentando me perder no beijo, então a coisa ficou intensa. E foi aí que Jennie entrou.
Nem preciso perguntar o que aconteceu depois.
– Nunca achei que seria essa garota – Joohyun continua. – A que trai a namorada com o melhor amigo dela. Mas agora sei que ninguém planeja essas coisas. Não é algo que a pessoa planeje, tipo "Quer saber? Acho que vou ser que nem as meninas malvadas dos filmes de quem todo mundo odeia". Você sempre imagina que vai ser a mocinha por quem todo mundo torce. Até que é tarde mais.
Continuo segurando seu rosto, então começo a acariciá-lo com toda a delicadeza, levantando seu queixo para que tenha que me olhar.
– Você é uma boa pessoa, Joohyun – digo, baixo. – Só cometeu um erro. Um grande erro, um erro idiota, com certeza. Tá, você traiu Jennie. Tá, talvez você tenha usado Sehun. Mas o fato de estar se matando por causa disso mostra que não é isso que você é. Foi um erro ocasional. Você vai cometer mais erros no futuro, mas não esse. Vai aprender com ele e seguir em frente. – Joohyun fecha os olhos.
– Você não viu o rosto de Sehun. Jennie tem Jisoo, e acho que até já me perdoou, mas Sehun...
– Ele vai superar – digo, com firmeza. – Quantos anos o cara tem, vinte e cinco? Se vocês foram melhores amigos durante todos esses anos, só pode ser um cara legal. Só se apaixonou pela pessoa errada.
Ela não diz nada. Seguro seu rosto com um pouco mais de firmeza.
– Sehun vai ficar bem. Você vai ficar bem.
Quando Joohyun abre os olhos, estão carregados de lágrimas, mas não acho que sejam de desespero. Ela parece esperançosa.
– Obrigada. – Devagar, ela apoia a mão no meu ombro. – Obrigada.
Dou uma risada amarga, tentando ignorar o que seu toque faz comigo.
– Você não deveria me agradecer depois do que fiz.
– Bom, em termos de planos malignos, foi muito engenhoso. Não acredito que Sehun veio até aqui.
– Ele se importa com você. – Meu polegar passeia por sua bochecha. – E talvez eu tenha passado a impressão de que você estava em uma situação dramática.
– Isso é verdade – ela diz, brincando com os botões da minha blusa. – Fazia semanas que você não falava comigo. Nem vi você esses dias.
– Está preocupada de não fazer jus ao salário? – pergunto, tentando manter o tom brincalhão, e não acusatório.
– Não tem nada a ver com isso. – Meu coração para.
– Não? – Ela levanta seus olhos castanhos.
– Senti sua falta. Não sei por que, já que você é terrível. Mas não entendo por que não consigo parar de pensar em você, considerando como é irritante, e se fecha toda vez que uma coisinha não sai do jeito que espera, e você provavelmente vai me machucar muito mais do que qualquer outra pessoa, mas...
Minha boca interrompe o fluxo incessante de palavras dela com um beijo forte e desesperado. Fico esperando que me impeça, porque sei que mereço ser rejeitada. Mas seus braços envolvem meu pescoço e sua língua doce procura a minha, enquanto joga o corpo contra o meu.
– Quero você – ela sussurra, se afastando só um pouco.
Perco o controle. Giro meu corpo em torno do dela para pressioná-la contra a porta. Minhas mãos descem do seu rosto para seus braços, que levo para cima da sua cabeça. Ela geme enquanto a beijo repetidamente, até que nossas respirações se confundam. Até que não consigo mais me impedir de passar minhas mãos por seus braços, seus quadris, a lateral de seu corpo. Quero me perder nela.
Procurando qualquer pingo de bondade que ainda possa existir em mim, eu me forço a parar, a fim de lhe dar espaço para pensar a respeito. Olho para seu rosto vermelho e sua boca inchada. Estamos ambos arfando.
– Preciso saber o que você espera disso – digo, bruscamente. – Preciso saber qual é o limite.
Joohyun aperta os lábios, e eu me preparo para a rejeição. Quase posso ver as engrenagens girando dentro da cabeça dela, como se tentasse descobrir se sou um erro, como Sehun, ou se valho o risco. Pela primeira vez em muito tempo, quero valer o risco. Os dedos dela param acima da cintura do meu jeans. Sinto as pontas quentes através do tecido da blusa. Ela se inclina para a frente e beija a concavidade da minha garganta.
– Não quero que haja limites – Joohyun diz, e sinto seu hálito morno em minha pele. – Esta noite, não.
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