História Like a rollercoaster - Regra número 1, você tem que se divertir

Era tarde de sexta-feira e a capitã do time de líderes de torcida convocou os participantes todos para uma reunião. Ainda estavam no começo de setembro, mas a ruiva sabia que tinha muito o que fazer: treinar as meninas novas, coreografar todos juntos e ainda ter de lidar com quatro ou cinco meninos no time. Digamos que a notícia de que um dos garotos mais cobiçados do segundo colegial estaria entrando para o time de torcida desagradou a concorrência, o que fez alguns meninos se candidatarem (mesmo que a notícia do namoro de Charlotte e Jude já tivesse a muito se espalhado). O que eles não paravam pra pensar era que Jude não se importava em ser cobiçado por outras pessoas que não fossem sua adorada Charlotte, mas Angie estava até que feliz por ter mais gente daquela vez. 

– Ok, garotas. E garotos – ela disse mais alto, olhando para Jude e Charlotte e segurando um sorriso. – Nós temos muito o que fazer até outubro, então vou precisar da colaboração de vocês – Angie viu alguns meninos conversando e a ignorando completamente. – Se eu não tiver apoio aqui, vocês estão fora – ela gritou a última palavra e eles pareceram desafia-la por um minuto. 

Mero erro de principiante. 

– Rivers, se puder puxar o alongamento pra mim, serei grata. 

– Sim, capitã – Charlotte respondeu, saindo debaixo do braço de Jude e ficando de pé, indo até onde Angie estava e esperando os outros os acompanharem. – O que é isso? – ela perguntou baixinho para a amiga, vendo-a escrever alguma coisa na prancheta com os nomes das pessoas novas. 

– Só algumas anotações pro treinamento de hoje – Angie ergueu o rosto. – Sinto muito, mas vocês estão ferrados na minha mão hoje. 

– Algum motivo em especial ou puro prazer em nos ver suando? 

– Temos novatos entre nós, Rivers – a ruiva olhou para os meninos que conversavam antes, sorrindo. – E eu acho que terei de provar de novo como sou uma boa capitã. 

Charlotte riu e ditou alguns movimentos para todos se alongarem. Angie escolhia as músicas que iria usar e falava com Sabrina, que estava sentada na arquibancada observando os amigos. Já que ela não poderia dançar, se contentou em assistir e ser uma espécie de ajudante de Angie, já que, assim como a capitã, ela também gostava das coisas bem-feitas. 

Quando Charlotte terminou, Angie pegou seu apito de capitã – perfeitamente personalizado e tingido de azul – e pediu atenção de novo. Então ela mandou que todos dessem dez voltas ao redor da quadra e, em meio a reclamações, gritou para que andassem logo. 

Ela fez com que eles corressem, pulassem, fizessem flexões e o máximo de cambalhotas que pudessem, com uma ou duas breves pausas para água no meio. Deixou que se sentassem apenas quando tinha terminado tudo, vendo um bando de adolescentes quase mortos a sua frente e sorrindo com o resultado. 

– Bem, agora que nós já aquecemos, talvez possamos passar um passo ou dois – ela disse e ouviu resmungos vindos de todas as partes, o que a fez sorrir ainda mais. – Ou Charlotte e Jude podem nos mostrar o que prepararam. Stark, Rivers, no centro – ela fez sinal e foi se sentar enquanto os dois se entreolhavam e ficavam de pé. 

Jude conectou o próprio celular na caixa de som e perguntou a Charlotte se ela estava pronta, vendo a namorada assentir e respirar fundo. Os dois dançaram uma das primeiras músicas que haviam dançado juntos, ainda no casamento, parando só quando ela terminou, sorrindo um pro outro antes de se virarem para Angie, que também sorria mais que satisfeita para o casal. 

– Muito obrigada, vocês dois – ela ficou de pé, indo até eles. – Nada de beijos durante os treinos, Stark, são as regras – Angie disse e bateu nele com a prancheta, virando-se para os outros e não vendo quando Jude fez uma cara surpresa e então a imitou, ignorando o que ela disse e passando o braço pelo ombro da namorada. – Como a maioria aqui já sabe, nas apresentações do final do ano, nós temos mais de uma dança. Assim como no ano passado, decidi dar um solo entre as apresentações e o restante será em grupo. 

– E por que os dois? – uma das meninas do terceiro colegial perguntou num tom arrogante. Angie, Charlotte e Jude a encaram com uma sobrancelha erguida enquanto a ruiva respondia. 

– Porque eu sempre escolho alguém pra fazer um solo e dessa vez escolhi eles. Mais alguma brilhante pergunta? 

– E ninguém mais vai ter o direito de dançar o solo porque a "capitã" decidiu assim? 

Charlotte deu um passo à frente, mas Angie colocou o braço em seu caminho, entregando a prancheta para ela. 

– Fernanda, me corrija se eu estiver errada, o que eu tenho certeza que não vai acontecer, mas ano passado uma das meninas da sua sala e uma do terceiro ano em questão não ganharam um solo cada uma? 

– Ganharam, mas... 

– E para esse solo – Angie a ignorou – eu fiz algum tipo de teste ou simplesmente as escolhi porque dançavam bem e eu confiei nelas pra fazer um bom trabalho? 

– Não é assim que... 

– Já que você parece não ter nada a dizer que seja útil, posso voltar a fazer meu trabalho? Porque tenho três coreografias pra montar, ensaiar e garantir que estejam feitas a perfeição, junto com o solo que dei a Jude e Charlotte. 

– Angie, por que não fazemos disso uma competição? – Charlotte disse baixinho, vendo a amiga se virar. 

– O que? 

– Por que não fazemos disso uma competição? – ela repetiu, com um sorrisinho no rosto. 

– O que é que você está planejando, Rivers? 

– É simples – Charlotte disse, trocando um sorriso com o namorado antes de falar com todos. – Aqueles que quiserem concorrer a um solo, devem escolher um parceiro e nós vamos fazer disso uma competição. 

– Ah, é? Pra você colocar sua amiguinha de juíza e ganhar? 

– Meu amor, eu não preciso comprar ninguém pra ganhar, não se preocupe – ela respondeu sorrindo. – E se eu fosse você, não reclamaria tanto. Só vamos fazer isso se a capitã permitir, do contrário, nem essa chance vai ter. 

– Tem certeza disso? – Angie perguntou. – Não precisa fazer isso. 

– Tenho a semana livre mesmo – ela deu de ombros. – E desse jeito minha mãe não vai reclamar que eu estou passando tempo demais com o Stark ali.  

– Não é minha culpa que eu tenho dificuldade com física e biologia – Jude deu de ombros. 

– Nós não tivemos prova de biologia essa semana – Angie disse. 

– Eu sei, foi só uma desculpa pra eu ouvir ela falando sobre genética e pra despistar os pais dela – Jude respondeu e abraçou a cintura da namorada por trás, beijando seu pescoço e reclamando sobre ela estar suada. 

– Vocês dois são adoráveis – Angie disse e Jude disse alguma coisa no ouvido de Charlotte e ela se desvencilhou dos braços dele enquanto o menino ria. – Bem, então, acho que não temos problemas com isso. Amanhã eu mando mensagem avisando quando e como vamos fazer isso. Por hora, escolham seus parceiros, comecem a ensaiar e fiquem prontos. Preciso das duplas e das músicas até amanhã à tarde. Estão dispensados. 

*** 

Angie mandou mensagens para todos que haviam confirmado dupla para a competição assim que falou com a treinadora. 

"Ok, é o seguinte. Sexta-feira, depois das duas primeiras aulas, o colegial todo vai ser liberado pra assistir as apresentações. Cada dupla deve escolher uma música, de qualquer gênero, e montar a própria coreografia para apresentar. Além disso, a treinadora sugeriu que todos apresentassem uma única música, com uma coreografia igual pra todo mundo, o que daria algum tipo de balanço, pra não haver briga depois. Os juízes serão sorteados no dia das apresentações e a ordem das apresentações também. Terça-feira, no máximo, já tenho a coreografia geral pronta e teremos ensaios todos os dias, combinando os horários na próxima semana. Os participantes, por favor, enviem os nomes das duplas e a música que irão dançar até amanhã à tarde sem falta porque preciso me programar com a dança em grupo. Perguntas?". 

Durante a semana, enquanto Charlotte, Jude e as outras pessoas ensaiavam, os irmãos da menina já se preparavam para o evento do ano, segundo eles. 

– Gente, nem é tão grande assim – Charlotte disse na quarta-feira, quando estava se assustando com o tamanho das coisas que eles planejavam fazer. 

– Ei, isso é muito importante, ok? Queremos nossa irmã dançando antes de ganharmos daquela outra escola na final – George disse. 

– Obrigado pela parte que me toca, gente – Jude murmurou, mas os dois o ignoraram. 

– E você sabe que, uma vez time Charlotte, sempre time Charlotte – Rupert disse, abraçando a irmã de lado e então parecendo ter uma ideia. – Nós podemos fazer cartazes! 

– E bexigas! – George se animou. 

– Podemos comprar um megafone! 

– Ok, meninos. Eu amo vocês, mas chega! – Charlotte disse, olhando para as amigas em busca de ajuda. – Vocês as vezes precisam controlar eles. 

– Nós vamos é ajudar eles – Astrid disse e se inclinou na mesa. – Nós podemos pegar um tambor e ocupar metade daquela arquibancada! 

Charlotte revirou os olhos e acabou desistindo, encostando-se em Jude e deixando que os outros quatro fizessem seus planos. 

*** 

Na noite de quinta-feira, depois de ter dado um beijo de despedida em Jude e ido tomar banho pra descansar, Charlotte estava deitada em sua cama ainda totalmente desperta. Já havia tomado um remédio, chá e leite quente pra tentar dormir, mas nada parecia adiantar. 

Ela não estava insegura, bem longe disso. Sabia as coreografias de cor e salteado e tinha certeza que Jude também estava mais do que pronto. Tinha confiança na dança dos dois, já que nunca se divertira tanto ao dançar com alguém e os comentários de Angie sobre a sincronia que tinham também lhe dava um grande conforto. Mas, ainda assim, ela não conseguia dormir. 

Pegou seu celular e viu algumas mensagens de um grupo, as respondendo antes de observar a conversa com Jude mais cedo. Será que ele ainda estava acordado? Ela duvidava, sabia que o namorado estava cheio de sono naquele dia, havia dormido mal na noite anterior. Sem querer, ela acabou ligando para ele, mas finalizou antes do segundo toque. Mas cinco segundos depois ela escutou o clássico dos Beatles com o nome dele começar a tocar ao seu lado. 

E havia gente que dizia que ela não tinha senso de humor. 

– Boa noite, Charlie – ela ouviu a voz sonolenta do garoto e sorriu sozinha. – O que foi? 

– Acabei te ligando sem querer, Ju, sinto muito. Pode voltar a dormir, princesinha. 

– A questão é por que a senhorita também não estava dormindo? 

– Acho que estou ansiosa – Charlotte respondeu, virando-se em sua cama. – Sempre fico assim quando tem público envolvido. 

– Mas você sempre se sai bem, meu amor. 

– Meu amor? – ela repetiu, ouvindo a risada fraca do namorado do outro lado da linha. 

– E quem mais seria? 

– Você é ótimo, Ju. Obrigada, amorzinho. 

– Amorzinho? – ele zombou como ela havia feito, o que fez Charlotte rir. – Quer que eu cante alguma coisa pra você dormir? 

– Quero – ela concordou e Jude se esforçou bastante para continuar acordado e cantar uma rápida música lenta para Charlotte. E acabou dando certo, afinal. A voz dele a acalmava e quando ele já estava no fim, ela já estava bocejando.  

– Deu certo? 

– Deu sim – Charlotte respondeu. – Mas tem um problema. 

– O que? 

– Sinto sua falta, idiota. 

– Deuses, Charlie, eu também – Jude respondeu, derretendo-se todo ao ouvi-la dizer aquilo com a voz sonolenta, não conseguindo pensar em algo mais adorável. – Acho que ver você todos os dias não é suficiente. 

– Sei como é – ela respondeu, respirando fundo e resmungando. 

– O que foi? 

– Amanhã. Competição. 

Jude quase xingou baixinho quando ela disse isso, pensando rapidamente em alguma coisa para dizer. 

– Sei de algo que vai te deixar calma. 

– O que? 

– Só vai poder saber amanhã. 

– Mas assim eu não consigo dormir, Jude. 

– Ah, Charlie, quero fazer uma surpresa. Acha que consegue esperar? 

– Só se prometer que vai comprar algum docinho pra sua namorada antes das aulas. 

– O que você quiser, coisa linda – Charlotte sorriu, olhando a hora. 

– Obrigada. Agora vai dormir, Stark. Temos um dia cheio amanhã. 

– Vai conseguir dormir agora? 

– Vou sim, meu bem.  

– Então tudo bem. Boa noite, Charlie. 

– Boa noite, Ju. Amo você. 

– Amo você também, encrenca. Até amanhã. 

Charlotte desligou o celular e virou para o outro lado, não tendo certeza se conseguiria mesmo dormir, mas não haviam se passado nem dois minutos direito e ela já estava no mais profundo dos sonhos. 

*** 

Charlotte estava esperando Jude no banquinho em frente à sua casa, terminando de ajeitar a pouca maquiagem que havia feito para o dia. Estava pronta pra ligar para o namorado quando viu o carro dos padrinhos dele virando a esquina. 

– Astrid? – ela perguntou, vendo a loira sair do carro com sua bolsa. 

– Bom ver você também, meu amor – ela ironizou e Charlotte revirou os olhos. – Como certas pessoas quiseram sair mais cedo e mentiram pros meus pais dizendo que iríamos comer na escola, eu vou ficar por aqui mesmo pra não morrer de fome. Até mais tarde e juízo, crianças. 

– Sim, senhora, mamãe – Jude respondeu, dando a volta no carro e esperando a prima entrar para puxar a cintura de Charlotte para mais perto. – E um muito bom dia para você, Rivers. 

– Bom dia, senhor Stark – ela ergueu a mão até entrelaçar os dedos por seus cabelos. – Pode me contar agora pra que tanto segredo? 

– Só depois do meu beijo de bom dia – Charlotte balançou a cabeça e se inclinou até beijar o namorado rapidamente. – Agora, se fizer a gentileza de entrar no carro, encontrará sua surpresa em poucos minutos. 

– Sabia que não ia ser tão fácil – Jude sorriu e pegou a bolsa dela, abrindo a porta para a namorada se sentar e guardando sua bolsa no banco de trás. – Essa surpresa por um acaso vai demorar? Nós meio que temos que ir pra escola hoje. 

– Não se preocupe, princesa, já tenho tudo planejado. 

– Desenvolva esse planejado e não me chame de princesa. 

– Bem, minha general, é simples – Charlotte riu com aquela menção e colocou o cinto de segurança. – Nós vamos sair e, dependendo do quanto você gostar da surpresa, iremos chegar a tempo para a competição. Se eu perceber que meu plano deu certo, é só ligar para a capitã McLean e inventar uma mentirinha ou duas. 

– Você é horrível, Stark. 

– Aprendi com a melhor – ele respondeu, ligando o carro e pedindo para Charlotte colocar algo para eles ouvirem enquanto dirigia. 

Os dois foram quase que em silêncio o caminho todo, ouvindo a música, cantando as vezes, e rindo vez ou outra quando pegavam o outro fazendo isso. 

– Chegamos – Jude disse, saindo do carro e dando a volta para abrir a porta para ela. 

– Ok. E onde é que chegamos? 

– Se olhar para aquele lado – ele segurou os ombros dela e a virou para o outro lado da rua – vai reconhecer o lugar onde nosso primeiro encontro começou. Vamos? 

– Fazer o que, exatamente? – Charlotte perguntou e viu Jude ir até o porta-malas, tirando uma cesta dali e um pano. 

– Um piquenique, é claro. 

– Você é incrível, Stark – ela disse, segurando a cintura dele. – Obrigada. 

– Não faço mais que minha obrigação – Jude respondeu e retribuiu ao beijo dela, erguendo o braço para que a namorada entrelaçasse o dela. 

Os dois atravessaram a rua e Charlotte tirou os calçados para se sentar ao lado de Jude, observando-o colocar as coisas que trouxera pela toalha e sorrindo ao ver morangos com chocolate. 

Ele não esquecera seu doce, afinal. 

– Você fez tudo isso sozinho? – ela perguntou, cruzando as pernas e ajeitando o vestido entre elas. 

– Minha madrinha me ajudou, eu disse que você não estava muito bem e precisava relaxar – Jude terminou de organizar as coisas, deixando os guardanapos ao lado de tudo e se virando para a namorada. – Agora, a pergunta que não quer calar, não acha que estas roupas estão indevidas demais, mocinha? 

– O que? – o sorriso de Charlotte sumiu, dando lugar a uma expressão confusa. 

"Deuses, por favor, não". 

– Nós vamos dançar daqui a algumas horas, bebê. E embora eu ame a ideia de poder ver sua linda bundinha por mais tempo, acho que a direção não ia gostar tanto disso. 

Charlotte riu e baixou a cabeça, mentalmente agradecendo por só ter interpretado aquilo errado. Ergueu o rosto novamente e ia vira-lo em direção ao namorado, mas Jude havia aproximado o rosto para dar um beijo em sua bochecha por acha-la adorável demais fazendo aquilo – rindo sozinha no caso – e beijou o canto de sua boca. Ainda que os dois estivessem namorando, ainda que não houvesse uma única alma viva por aquelas ruas naquele horário, os dois riram envergonhados quando ele fez isso. Ele ergueu a mão para o rosto da menina enquanto a observava. 

– Você é maravilhosa, Charlie – Jude disse, ainda acariciando o rosto dela e vendo Charlotte ficar séria. – Não precisa ficar nervosa pra esse desafio, é uma dançarina incrível e sabe que Angie não a teria escolhido se não acreditasse em você. 

– Ela acredita em nós, Jude – a morena respondeu, beijando-o antes que ele retrucasse. – Eu posso ser incrível, mas nós somos ainda mais. Não existe dúvida sobre isso. 

– Espera até os outros saberem disso, senhorita escorpiana – Jude riu. 

– Você não se atreveria, Stark – Charlotte o desafiou. – Lembre-se que eu sou basicamente seu inferno astral e ainda preciso me acalmar antes da competição. 

– Ah, não existem dúvidas que você é meu inferno astral, morena – Jude disse, pegando um morango com chocolate, um dos favoritos dela, e erguendo até sua boca. – Não faz ideia de quantos pecados capitais quero cometer quando estou perto de você. 

– Sabe que não pode falar isso quando estamos em público – ela murmurou, inclinando-se para frente e o beijando. – Me dá logo esse morango antes que eu morda você. 

Jude riu, deixando que Charlotte mordesse o morango e reclamando quando ela deixou o final – quase sem chocolate – para ele. 

– Ah, porque eu tenho que ficar com a parte azeda – ele disse. 

– Você quer me agradar ou não? – Charlotte perguntou e o moreno desistiu de argumentar, comendo o doce. A menina não resistiu em beija-lo novamente, concordando com ele sobre o morango estar mesmo azedo e vendo Jude rir em satisfação. 

Disse a ele que suas roupas estavam na mochila e os dois continuaram ali até terminarem de comer tudo. 

– Jude, acha que podemos passar mal por comer tudo isso antes de dançar? 

– Talvez – ele respondeu, mas continuou comendo mesmo assim, e Charlotte o acompanhou. 

Perderam a noção da hora, terminando de guardar as coisas na cesta antes de se lembrarem que precisariam ligar para Angie caso fossem se atrasar. 

– Digamos que nós já perdemos toda a primeira aula e metade da segunda – Charlotte disse, olhando a hora no celular e o erguendo para que Jude visse, já que ela estava deitada com a cabeça em seu colo. – E pelas mais de vinte mensagens que Angie mandou, talvez nós estejamos encrencados. Trinta agora e aumentando. 

– O que vamos dizer pra ela? – Jude perguntou, ainda fazendo carinho em sua cabeça. 

– Liga pra ela e diz que nós estamos no hospital. 

– Ela não vai ficar mais calma com isso, Charlie. 

– É só dizer que, assim que nós dois saímos de casa, eu passei mal e você resolveu me levar pro hospital pra tomar alguma coisa. Ela não vai fazer muitas perguntas, eu acho. 

– Tudo bem, mas nós temos que ir se quisermos chegar a tempo pra competição. 

– Sim, senhor – Charlotte se sentou e esperou Jude ligar para Angie. Ele observou o celular alguns segundos e estava pronto para discar de novo, mas a amiga retornou sua ligação, dizendo que havia saído da sala pra ir ao banheiro atender.  

– É, então eu vim direto pro hospital com ela. Sabe que ela já é branca que dói, agora imagina isso dez vezes pior. Eu sei, por isso vim pra cá – Charlotte bateu no ombro dele e ficou de pé. – Só estou esperando ela ser liberada e já estamos indo. Ela está ótima, Angie, não se preocupe, só precisava comer alguma. Eu entrei em pânico, o que esperava que eu fizesse? 

– Jude... – Charlotte sussurrou e o menino também ficou de pé, levando a cesta consigo.  

– Angie, tenho que ir. Vinte minutos e nós estamos aí, ok? Beijos, até mais – ele desligou. – Ok, agora nós temos dez minutinhos de descanso antes de ter que sair daqui. 

– Você é inacreditável – Charlotte riu e segurou a mão livre dele enquanto iam até o carro. – Nossa amiga, e provavelmente o restante de nossas famílias, estão morrendo de preocupação. 

– Astrid provavelmente vai convencê-los de que nós mentimos, ela nos conhece – os dois riram, guardando as coisas no carro. – O importante é saber se a senhorita está melhor – Jude perguntou e abriu a porta do lado do passageiro. – Minha surpresa funcionou? 

– Muito – Charlotte respondeu e ergueu a mão até o rosto dele. – Acho que eu devo uma pra você agora, Stark. 

– Sabe que não tem que... 

– Jude... – ela reclamou e então o menino riu, abraçando-a pela cintura. – Você realmente estraga todas as minhas tentativas de dar em cima de você sendo fofo. 

– É um dom – Charlotte revirou os olhos e ficou na ponta dos pés para beija-lo.  

– Agora nós temos mesmo que ir. Se não aparecermos no horário marcado, Angie vai pessoalmente atrás de nós em todos os hospitais da cidade. 

– Tem razão – Jude riu e fechou a porta quando a namorada entrou no carro. 

Os dois não resistiram e perderam alguns minutos namorando dentro do carro, mas Charlotte disse que Angie realmente colocaria fogo nos dois se não aparecessem na escola, o que foi incentivo suficiente para Jude dirigir – e rápido. 

Chegaram no colégio assim que o sinal bateu para o intervalo e trocaram olhares antes de entrar. 

– Acha que conseguimos ir até a sala sem sermos percebidos? – Jude sussurrou e Charlotte pensou rápido, segurando a mão dele e começando a andar em direção a quadra. Quando encontraram uma funcionária, disseram que iam deixar suas coisas na sala de balé antes das apresentações e ela concordou, o que os fez prender o riso enquanto saiam de sua vista. 

Quando encontraram Angie, seus sorrisos sumiram, vendo a cara da amiga.  

– Ela quase teve um ataque do coração, guardem o sarcasmo – George os advertiu e os dois pediram desculpas, dizendo que estavam no hospital. 

– Vocês realmente acham que nós acreditamos nisso? – Angie perguntou e os dois se entreolharam, dando de ombros. 

– Nós estávamos num piquenique, ok? – Charlotte se defendeu e viu a ruiva revirar os olhos e lhe dar as costas, puxando a mão do namorado enquanto saia resmungando sobre irresponsabilidades. Rupert foi atrás deles para comprar um lanche e Astrid ficou conversando com a amiga e o primo o restante do recreio, sentados nos sofás do pátio. 

– Vocês não ouviram de mim, mas certos competidores estavam dando graças a Deus que vocês dois não haviam vindo – a loira disse, com as pernas cruzadas em cima do sofá e observando as expressões dos outros dois. 

– Sério? – Charlotte riu. – Quem mais vai competir? Angie não nos falou. 

– Nem pra mim – Astrid fez uma careta, agradecendo a Rupert quando ele lhe ofereceu um pedaço de seu lanche. – Mas devem ser mais umas duas ou três duplas, eu não sei se os outros meninos se arriscariam a um solo, ninguém pode competir com o prodígio da família. Certo, Jude? 

– Ok, Foster, o que está tramando? – Astrid abriu a boca e se sentiu completamente ofendida por aquilo, só revelando ao final do recreio que queria que Jude a levasse no shopping para ela e Alaska fazerem compras. 

Assim que o sinal bateu, Jude, Charlotte e Angie desceram até a quadra, vendo os outros competidores indo atrás deles.  

– A treinadora vai mandar chamar os outros em pouco tempo – Angie disse assim que todos estavam dentro da sala de balé. – Se troquem, alonguem e se preparem. Faremos o sorteio depois da apresentação geral. Boa sorte pra todos – ela sorriu e deu um tapinha na bunda da amiga antes de sair. 

– Por que é que ela pode em público e eu não? – Jude sussurrou e Charlotte lhe deu uma breve cotovelada, pegando sua bolsa e tirando as roupas de lá. Esperaram os outros desocuparem os banheiros e se trocaram, saindo da sala para alongar. 

– Ok, quanto ódio você sentiu naquela sala? – Charlotte perguntou, segurando os braços e se alongando enquanto observava as arquibancadas ficarem cheias e os irmãos ajudando Angie a montar uma mesa para os juízes. 

– Bastante. E também vi olhares curiosos pra você quando saiu com a barra do shorts levantada sem perceber – Jude sorriu. – O meu era um deles, mas acho que eu posso fazer isso, certo? 

– Você é tão fofo por achar isso engraçado e não morrer de ciúme e sair brigando com os outros – ela respondeu. 

– E quem disse que eu não morro de ciúme? – Jude disse. – Eu quero socar a cara de cada um deles por fazer isso, mas posso aproveitar melhor o meu tempo. 

– Fazendo o que, por exemplo? 

– Beijando você, talvez – ele deu de ombros, terminando de se alongar e a observando. – Ouvindo você falar sobre biologia ou apenas observando esse rostinho lindo – Jude apertou o rosto dela entre as mãos e Charlotte riu. – E a verdade é que, mesmo que eu tenha ciúme, mesmo que não goste das outras pessoas olhando você, não tenho com o que me preocupar. Confio em você. 

– Você é uma gracinha quando quer – Charlotte sorriu envergonhada e olhou para o lado, vendo que a treinadora os chamava. – E eu também confio em você. Mas acho que pode se preocupar comigo um pouco mais. 

– Por que? – ele perguntou enquanto a seguia até perto da mesa principal. 

– Eu sou escorpiana, meu bem. E tenho certeza que meus desejos de arrancar os olhos de quem fica olhando demais pra você são bem maiores que os seus e eu posso ser presa por isso – Jude riu, segurando a mão dela. – Mas acho que consigo me controlar. 

Jude riu alto daquela vez enquanto se aproximavam e os dois ouviram as instruções da treinadora mais uma vez, assentindo e esperando enquanto ela acalmava a plateia e anunciava a primeira música.  

Os seis competidores – as três duplas no caso – foram até o centro da quadra e esperaram a música começar (ainda que estivesse demorando graças a dificuldade dos professores em lidar com a tecnologia).  

– Uma última pergunta antes de começarmos – Jude cochichou para a namorada. – Onde estão seus sapatos? 

– Eu esqueci meus tênis – Charlotte deu de ombros e ajeitou o short. – E não ficaria bem com meu shortinho.  

– Ah, claro – Jude riu e tirou os próprios tênis, jogando-os para o lado de dando de ombro. – Não fica bem com a minha bermuda. 

Charlotte riu e a música começou, pegando os seis desprevenidos, mas eles conseguiram se virar. Dançaram até o final e voltaram para a mesa dos juízes, esperando que eles sorteassem a ordem. Jude e Lotte iriam por último e se sentaram no chão ao lado dos juízes. 

O menino segurou a mão da namorada e ela sorriu com o gesto, acordando de seu breve devaneio quando ouviu o namorado chamando seu nome e dizendo que era a vez deles. 

– Ei – ele segurou os lados do rosto dela enquanto a música anterior terminava. – Você está bem? 

– Estou sim – Charlotte sorriu. – Vamos dançar, Stark. 

– Divirta-se, Charlie – Jude respondeu e encostou os lábios nos dela rapidamente, puxando sua mão até o centro da quadra.  

– Não me deixe cair, Jude. Eu posso realmente me machucar dessa vez – ela disse e Jude riu. A música dos dois começou e eles viram algumas expressões de surpresa no meio da plateia e até mesmo entre os juízes.  

Depois de três músicas completamente agitadas, Jude e Charlotte trouxeram algo mais calmo pra apresentar. Haviam tido a ideia depois de Angie dizer qual música dançariam primeiro e tinham alguns palpites sobre as escolhas dos outros. Juntaram as aulas de balé de Charlotte (que poucos ali sabiam que ela fazia) com uma das músicas que Jude mais gostava e daquele jeito cativaram a atenção de todos. Não só pelos movimentos ou pelas diversas vezes em que seus rostos ficavam perto o suficiente para se beijarem, mas também por seus olhos, que raramente se desconectavam. 

Terminaram a música e ouviram os aplausos, indo até onde os amigos estavam e agradecendo quando eles lhes estenderam água e disseram mil vezes como estavam ótimos. A treinadora chamou Angie e os juízes para que fossem até a sala de balé para fazerem a contagem de votos. 

Longos dois minutos se passaram antes deles voltarem, todos com expressões sérias e que não deixavam transpassar nenhuma dica do que estava por vir. Quando olhou para os amigos, Angie permaneceu neutra e pegou o microfone com a treinadora, chamando a atenção de todos. Ela agradeceu aos participantes e deixou que a professora de biologia, uma das juízas, desse o resultado. 

– E os vencedores são – ela ainda fez um suspense, mas Angie entregou o resultado quando sorriu em direção aos amigos, não se aguentando mais – Charlotte Rivers e Jude Stark, parabéns! 

Angie gritou e correu em direção aos dois enquanto Rupert, Astrid e George se encarregavam de abraça-los, junto aos gritos da multidão. Eles não se importaram com os diversos resmungos e xingamentos que vieram junto, não se importavam com aquilo. Angie estava certa, no final das contas, e eles tinham que fazer um bom trabalho.