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História Lilac - Gi-hun, 2016


Escrita por: oddgirl

Capítulo 10 - Gi-hun, 2016


São duas da manhã e você está dirigindo pelo centro de Seul. Esse não é o seu padrão, desde que você começou a trabalhar como motorista geralmente você tenta voltar para casa antes da meia-noite. 

E isso teria sido o que teria acontecido se as coisas tivessem sido um pouco melhores nas corridas de cavalo, se você não tivesse perdido mais do que você devia. Mas você acha que talvez dê para recuperar as suas perdas com algumas horas mais de trabalho, geralmente as corridas da madrugada rendem mais. O aplicativo que você usa mostra que têm um passageiro por perto precisando dos seus serviços e você aceita imediatamente. Só após aceitar você vê as informações e você quase aperta em cancelar quando você vê o nome do passageiro. Mas acaba decidindo melhor não. 

Quase dez milhões de pessoas estavam vivendo agora em Seul de acordo com um dos passageiros que você levou até o aeroporto na semana passada, e Sang-woo é um nome relativamente comum. 

Você para na frente do prédio de escritórios sentindo um certo frio na sua barriga, a porta de trás abre e em um instante lá ele está sentado no banco traseiro do seu carro. 

“Oi” Você diz. 

“Oi.” Sang-woo diz. 

“Parece que eu vou ser o seu motorista hoje a noite.” 

Ele então sai do carro, te deixando bem confuso, então ele abre a porta da frente e se senta ao seu lado. 

Percebendo sua confusão ele diz: 

“Sente estranho andar no banco de trás quando você anda na frente. Eu ainda vou te pagar, mas me deixe sentar ao seu lado.”

“Okay.” 

Isso é meio doce você acha, mas você gostaria que ele tivesse permanecido no banco de trás, cada centímetro de distância era um centímetro de segurança que você não faria algo estúpido de novo. 

Você aprendeu duas coisas muito importantes na sua festa de aniversário de 40 anos. A primeira é que se você fosse tomar shots de soju você não deveria tomar também shots de tequila e aí jogar um pouco de cerveja em cima de tudo porque essa combinação no seu fígado quadragenário resultou na pior ressaca que você teve na sua vida inteira. A segunda é que você tem bem menos autocontrole do que você costumava acreditar que você tinha, ou pelo menos esse era o caso quando se tratava dele. 

Essa não é a primeira vez que você o vê, apenas uns três meses depois da festa você o viu longe falando com a mãe dele na rua em um dia em que você estava andando pela vizinhança, e ao invés de ir atrás dele para falar um pouco você apenas se escondeu atrás de um poste até ele ir embora, o que apesar de bem diferente das suas reações anteriores a ver Sang-woo inesperadamente, não sentiu muito como um progresso. 

Você começa a dirigir e o silêncio entre vocês é tão estranho como você sempre temeu que seria. Você tenta pensar no que você diria pra ele se ele nunca tivesse ido para a festa, se você nunca tivesse contado para ele que ele foi o grande amor da sua juventude, se você nunca tivesse mostrado para ele o quão facilmente ele conseguiria te fazer parar de se importar com as coisas que deveriam ser mais importantes para você só para ter um pouco mais dele. 

“Então aquele era o lugar onde você trabalha certo? Você sempre fica trabalhando até tão tarde?” 

“Acontece às vezes, hoje foi porque eu e algumas pessoas da firma tivemos que fazer uma videoconferência com algumas pessoas do Canadá.” 

Você não consegue pensar em algo para dizer em resposta então você procura um tópico diferente. 

“Você mudou de prédio?”

“Não, porque?”

“Porque o lugar que eu estou te levando não é o endereço que você costumava morar. Ou eu to lembrando errado?”

“Não, você se lembra direito. Eu não estou indo para casa, eu vou visitar o apartamento de outra pessoa.” 

"Porque você vai visitar alguém às duas da manhã?" 

Você só percebe o quão estúpida essa pergunta é após as palavras estarem fora da sua boca. 

Então você está levando Sang-woo para fazer sexo com outro homem. Ótimo. Realmente essa é uma daquelas semanas em que o universo parece ter te escolhido para ser o seu saco de pancadas pessoal. 

"Meu namorado mora no endereço em questão." ele diz desnecessariamente. 

“Você ainda está com aquele advogado?" 

“Sim, dois anos mês passado.” 

“Isso é bom, eu estou feliz por você.” 

Isso não era exatamente verdade, mas você queria que fosse, e isso é o que conta certo? Você não gosta da idéia de ser o tipo de pessoa que não consegue ficar feliz pela felicidade dos outros, especialmente alguém com quem você se importa tanto quanto ele. 

“Então vocês fizeram alguma coisa especial para o aniversário de vocês?”

“Não, ele nem estava no país. Ele teve que ir pra Itália pra um negócio do trabalho dele." 

"Ele poderia ter te levado com ele." 

"Sim ele sugeriu isso, mas eu tinha umas reuniões importantes no trabalho." 

"Mas sabe é Europa, não é todo dia que você tem a chance de deixar o país. Embora talvez essa seja apenas a minha experiência, você já esteve lá muitas vezes?" 

"Não, nunca. Na verdade eu nunca saí do país." 

"Mesmo?" 

"Sim, porque a cara surpresa?" 

"Eu não sei, às vezes eu costumava imaginar a sua vida, os lugares onde você ia e as coisas que você fazia. Eu costumava te ver indo para todos os tipos de lugares." 

Você acha que talvez você tenha dito demais. Porque sim ele sabe dos seus sentimentos, mas talvez ele não gostaria desses pequenos lembretes. Você olha para ele temendo encontrar embaraço no seu rosto, ou irritação, mas tudo que há lá é melancolia e talvez um pouco de afeição. 

"Eu temo que minha vida seja bem mais interessante na sua imaginação do que na realidade." 

"A maioria das coisas são provavelmente." 

"Sim." 

"Então quando ele voltou da Itália vocês fizeram alguma coisa?" 

"Ele me trouxe uma garrafa de vinho, nós bebemos." 

"Dois anos juntos merecia uma celebração um pouco melhor.”

“Você fez algo pro seu aniversário de dois anos de namoro com a sua esposa?”

“Sim, no nosso primeiro encontro eu levei ela nesse parque de diversões, então pro nosso segundo aniversário eu levei ela de novo para o mesmo parque e quando nós estávamos no topo da roda-gigante eu pedi para ela casar comigo.” 

Você estava tão nervoso naquele dia, você mal tinha curtido andar nos brinquedos, com tanto medo que ela fosse dizer não. Ela disse sim imediatamente, e a sua felicidade ao ouvir aquela palavra parecia grande o suficiente para cobrir o mundo todo. 

Ela não diria sim hoje, você tem certeza disso. 

“Você se importa se eu fumar?” ele pergunta. 

“Não, vá em frente.” 

Ele pega o maço do bolso da calça e você vê que é da mesma marca barata que você mesmo tem fumado desde que você era um adolescente. Isso te surpreende, você achou que ou ele fumaria uma marca mais cara, ou que ele teria parado de fumar nesse ponto. 

Ele abre a janela e deixa sair um pouco de fumaça sair dos seus lábios após dar uma tragada. E parte de você acha que é uma das coisas mais sedutoras que você já viu. A outra parte começa a pensar em câncer de pulmão. 

Sua mãe, e mais recentemente sua filha, sempre estavam falando como fumar fazia mal a saúde e como você provavelmente acabaria com seus pulmões apodrecendo por dentro. 

Todas essas coisas que não lhe faziam você sentir nada quando você pensava nelas acontecendo com você mesmo, quando você pensa acontecendo com ele parecem horríveis tragédias. 

“Como eu disse você pode fumar aqui, mas você não deveria em geral. Você um homem inteligente, você sabe que é ruim para você.”

“Eu sei, e eu já tentei parar um monte de vezes, em 2007 até eu fiquei o ano inteiro sem fumar. Mas aí 2008 aconteceu.” 

“O que aconteceu em 2008?”

“A crise financeira para começar.”

“Eu achei que isso fosse algo que tinha afetado mais os Estados Unidos. Algo relacionado ao mercado imobiliário, eu nunca entendi direito.”

“Não, as coisas ficaram bem ruins por aqui também. Sabe como é os Estados Unidos espirram e o mundo todo pega um resfriado. Muitas pessoas foram demitidas na firma onde eu trabalhava.” ele diz, e você pode sentir um pouco de amargura na voz dele. 

“Você foi uma delas?”

Ele parece hesitar por um momento, então diz:

“Sim, eu fui.”

“Isso é uma droga. Eu sinto muito que isso tenha acontecido.”

“Foi há anos atrás.”

“Sim, mas ser demitido sempre é uma droga. Até hoje eu fico meio triste quando eu penso sobre a fábrica. O trabalho não era divertido como no restaurante, mas eu tinha bons amigos lá, e era bom ter aquela segurança de um pagamento todo mês.” 

“Então o que aconteceu com o restaurante?” 

"Bem, as coisas não deram certo e eu não tinha mais dinheiro para pagar meus funcionários e fornecedores então eu tive que fechar. Eu ainda acho que a minha comida era boa, bem melhor do que a de muita gente por aí. Mas acabou que eu não era tão bom na parte de administrar tudo.” 

“Você poderia ter pedido pela minha ajuda com a parte de administração, eu teria te ajudado se você tivesse dito algo.”

Você na verdade tinha considerado essa possibilidade. Você até ficou animado por um minuto por ter uma boa desculpa para falar com ele e talvez passar algum tempo com ele, até você se lembrar de todos os motivos porque você não deveria. 

“Talvez. Mas agora já passou, não vale a pena ficar pensando no que poderia ter sido. Esse tipo de coisa só te deixa triste no fim.” 

“Sim.” 

“A jaqueta do seu terno ainda está lá caso você queira de volta.”

“O quê?” 

“O restaurante está fechado mas o meu contrato estipula que eu tenho que pagar aluguel até o final do ano e você deixou a parte de cima do seu terno lá, no dia da festa.”

A parte que eu tirei de você e joguei no chão enquanto eu te beijava, Você acrescenta mentalmente. 

Você passou semanas esperando e temendo que ele fosse aparecer para pegar aquele objeto esquecido, mas ele nunca apareceu. E por mais de um ano ficou pendurada atrás de uma das cadeiras como um lembrete pessoal de que marido horrível você era. Agora a cadeira tinha ido, assim como a maior parte dos móveis que costumavam encher aquele lugar. Mas a jaqueta do terno continuava lá. 

Às vezes quando as coisas estão muito ruins em casa você vai dormir naquele lugar vazio em um colchão inflável, e usa a jaqueta como um travesseiro ou para te cobrir nas noites mais frias. 

“Você pode ficar com ela, eu tenho muitos ternos.” 

“Certo...ei eu acabei de perceber algo.” 

“O que?”

“Eu servindo como o seu motorista, te levando para lugares, como antigamente.”

“Sim, e bem mais confortável agora do que a sua bicicleta.” 

“Do que você está falando? Minha bicicleta era super confortável.”

“Para você que estava pedalando, pra mim bem menos. E também era péssimo de se equilibrar quando você acelerava. Eu passava a maior parte da jornada rumo à escola achando que eu ia cair de cara no chão.” 

Você ri. 

“Se você apenas me segurasse enquanto eu pedalava provavelmente teria sido bem mais confortável e fácil de se equilibrar.” 

“Sim, eu deveria ter feito isso.” 

Você estaciona o carro. 

“Sr. Cho nós chegamos ao seu destino.” 

“Já?”

“Sim, não tem muito trânsito às duas da manhã.” 

Ele revira os bolsos e coloca algumas notas na sua mão. 

“Você pode ficar com o troco.” ele diz. 

“Obrigado.” 

Ele devia abrir a porta do carro. Ele devia sair. Ele não devia continuar lá olhando para você sem dizer nada. 

“Hum, eu posso ir ou você quer mais alguma coisa?” Você diz tentando quebrar a tensão. 

“Não, nada. Você pode ir.” ele diz e saí do carro. “Boa noite Gi-hun, foi bom te ver.” 

“Foi bom te ver também.”

Ele sorri após ouvir isso, mas parece um sorriso meio triste. 

“Tchau.”

“Tchau.” 

Você dirige para longe e propositalmente você não olha para o espelho retrovisor. 

Igualmente temendo e esperando que essa seria a vez em que você veria ele ainda parado lá te vendo ir embora. 

 


Notas Finais


Obrigada por ler, comentários são sempre apreciados.


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