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História Linger. - Nem tudo como antes.


Escrita por: futfics

Capítulo 6 - Nem tudo como antes.


Minha relação com meu pai sempre foi complicada. Não havia melhor palavra para defini-la do que essa. Houve um tempo em que eu me esforçava muito para recordar de momentos que passamos juntos na minha infância, mas eu nunca consegui. As primeiras lembranças que tenho dele já são dele jogando futebol e eu o assistindo, ora pela tv, ora no estádio. Com o tempo, parei de tentar puxar essas memórias da lembrança, me conformando que esses momentos foram tão raros que eu nem sequer me lembrava deles. No final, acho que ele sempre foi muito mais John Terry do que meu pai.

Já as memórias negativas, essas sim, estavam bem vivas pra mim. Os tantos aniversários, apresentações na escola e eventos importantes que ele perdeu. As brigas sempre frequentes com a mamãe, as diversas vezes que eu o esperava voltar pra casa e não voltava. Lembro como se tivesse sido ontem a primeira vez que tive idade o suficiente para entender o que realmente acontecia com o casamento dos meus pais. Eu tinha por volta dos 12 anos quando acordei em um dia e imediatamente notei minha mãe com um comportamento diferente, estranho. Ela estava abatida e tentava disfarçar de todas as formas, mas eu percebia. Logo no café da manhã, me proibiu de ler jornais ou assistir televisão, avisando que em poucas horas eu iria pra casa dos meus tios no interior da Espanha e que ficaria algumas semanas lá. Ela não me deu nenhuma explicação e aquilo já foi o suficiente pra eu desconfiar que alguma coisa estava muito errada. Perguntei pelo papai e vi o rosto da minha mãe ficar vermelho quando ela gaguejou uma resposta baixa, dizendo que ele não voltaria a tempo de se despedir de mim. Foi naquele momento que eu soube que fosse lá o que estivesse acontecendo naquele dia, era relacionado a ele. Assim que fiquei sozinha, joguei 'John Terry' no google. O resultado foi um turbilhão de notícias relatando um caso do meu pai com a esposa de um companheiro da seleção inglesa.

Seria cômico se não fosse trágico a forma como uma simples pesquisa que não demora nem 1 minuto para ser feita pode destruir tanta coisa. Quando li aquelas notícias, a imagem do meu pai pra mim se quebrou em mil pedaços. Nem sequer tive dúvidas, sabia que tudo que estava escrito ali era verdade. Acho que isso era o mais triste de tudo. Naquele momento, minha cabeça virou um turbilhão e todo o resto começou a se encaixar. Imediatamente associei todas as faltas que meu pai cometeu comigo aos seus casos extraconjugais. Quantos aniversários meus ele perdeu pra estar com outra mulher? Quantas vezes ele deixou eu e mamãe o esperando enquanto a traia? Quantas vezes ele havia mentido pra nós duas? Muito além de uma filha profundamente machucada, eu era uma fêmea que tomava e vestia as dores de outra sem nem pensar duas vezes. Aquilo foi só o princípio do fim. Depois vieram muitas outra brigas, discussões, palavras duras trocadas. Mas foi naquele dia, na primeira vez que tive consciência do tanto que ele machucou minha mãe e do tanto que me magoou, que eu comecei a sentir repulsa por John Terry e deixei de vê-lo e chamá-lo de pai.

Eu gostaria muito que as coisas fossem tão simples ao ponto de que "não o vejo como pai, então ele não é" fosse suficiente, mas essa não é a realidade. John nunca aceitou minha recusa e nunca desistiu de mim. Mas eu também não poderia mantê-lo longe, pois herdei dele meu amor por futebol e meu amor pelo Chelsea. Eu tinha que conviver com ele. E não era fácil. Não era fácil porque me incomodava estar perto dele, me incomodava as tentativas de aproximação que ele fazia. Eu precisei de um pai a minha vida toda e tudo que ele me deu foi um lugar vazio a espera enquanto ele estava muito ocupado com as amantes que ele arrumava por aí. Agora ele queria exercer seu papel de pai? Me parecia patético. Eu não precisava mais.

Minha mãe sempre fez um esforço enorme para que eu me entendesse com meu pai, mas ela sempre foi infinitamente melhor do que eu. Meus amigos preferiam não se meter nessa questão, pois sabiam que era delicada pra mim. David Luiz fazia o mesmo, ele jamais deu sua opinião sobre meu relacionamento com o John, as vezes parecia até que ele não nos considerava pai e filha. Já Eden não faz questão de esconder o que ele pensa sobre e expressa sempre que tem a oportunidade. Para ele, eu devo perdoar o John e tentar reconstruiu uma relação com ele. Isso já foi motivo pra diversas brigas nossas, e desconfio que continuará sendo. Nesse momento, a única relação que eu gostaria de ter com John Terry era a de trabalho.

Toda vez que eu discutia com o John, era inevitável repassar toda a nossa história, como havíamos falhado com pai e filha. E isso me deixava demasiadamente mal, meu humor ia todo embora e o estresse me dominava. E aquele definitivamente não era um bom dia pra se estar assim.  Aquele era um dia de evento do Chelsea, uma gala com patrocinadores e representantes do Clube. Não tinha como faltar.

Passei o dia fazendo unha/cabelo/maquiagem e todas essas coisas chatas que me entediavam ao máximo, mas eu já era acostumada. Conversei com Eden só por mensagens, ele tentava me animar já sabendo que meu humor não estava dos melhores. Escolhi um vestido preto pra aquela noite. Ele era longo com cauda de sereia, sem nenhum detalhe, mangas compridas e decote em forma de V. Looks extravagantes nunca foi popular entre os meus gostos. Meu cabelo estava apenas preso nas laterais, de uma forma que realçava meu rosto e minha maquiagem. Meu batom era vermelho de tons parecidos com os do meu cabelo e as sardas do meu rosto. Discreto mas suficientemente elegante. Pronta, só me restava aguardar Eden me buscar e seguirmos para o evento, o que não demorou muito.

Já na Gala, toda aquele momento de inúmeros flashes no seu rosto quase te cegando, várias pessoas gritando por você ao mesmo tempo e jornalistas falando de uma vez só, já fizeram minha cabeça começar a doer. Contrastando com meu estado de espírito, Eden era só sorrisos e simpatia pra todos ali, como sempre. Impecável em seu terno azul-quase-preto, eu poderia olhar pra ele a noite toda enquanto pensava em como aquele belga era bonito. Juntos, cumprimentamos amigos, alguns sócios e patrocinadores presentes na festa. Paramos pra falar com John e o saudei com um abraço frio, sentindo os flashes sedentos por fotos que estampariam as capas dos jornais do dia seguinte, seguidas por manchetes questionando a quantas andava nosso relacionamento. Sempre igual.

Após um tempo, a festa foi restrita aos patrocinadores, membros do Clube e alguns sócio-torcedores. Os jornalistas foram embora levando os fotógrafos juntos e automaticamente todos relaxaram mais. Eden e eu estávamos em uma roda de conversa com Oscar e Diego Costa com suas respectivas esposas, e Azpi, que tinha ido sozinho.

- Com todo respeito, Eden - Azpi começou, virou-se pra mim - Mas você hoje tá mais sensacional do que de costume, Liz - sorriu.

- O "com todo respeito" deveria ser dirigido à mim, e não ao Eden, você não acha? - arqueei as sobrancelhas.

- Ah não, por favor - ele colocou a mão no peito - Não fica brava, porque aí eu me apaixono de vez.

- Força menos, César. - Eden disse, rindo.

- Depois de uma cantada tão barata como essa, vou até procurar uma bebida. Com licença. - falei rindo alto.

Comecei a caminhar entre as pessoas, deixando Eden e os meninos entre risos. Eram comum brincadeiras assim entre eu e os meninos que eram mais próximos de mim, nos divertíamos e nunca passava do limite. Cheguei no bar do local e lá estava cheio, então esperei até que pudesse ser atendida. 

- Qual sua bebida, senhora? - o barman finalmente se virou pra mim.

Eu apenas fiz menção de responder, já que uma voz vinda de atrás de mim falou antes.

- Sex on the beach.

Não precisava me virar pra saber a quem essa voz pertencia. David Luiz estava parado logo atrás de mim, com um blazer despojado e cabelos volumosos, como sempre. Um sorriso inseguro no rosto antes de perguntar:

- Ainda é o seu preferido, certo?

- Sim. - confirmei vendo-o pedir 2 desse drink.

- Como você está, Elizabeth?

Era estranho vê-lo me chamar pelo meu nome. Ele nunca me chamava assim antes, ele sempre usou os mais variados apelidos. Ele estava claramente pisando em ovos. Estávamos um de frente para o outro, no canto do bar esperando os drinks ficarem prontos. Eu me sentia desconfortável, não sei como explicar, com uma sensação estranha.

- Estou bem. E você, David? - sorri sem mostrar os dentes.

- Bem. Me adaptando de volta. - ele colocou as mãos nos bolsos e abaixou a cabeça.

Parecia só mais uma conversa informal e cotidiana como tantas outras que preenchiam o ambiente, mas ambos sabíamos que era mais do que isso. De uma forma estranha e ainda não identificada, nós dois sabíamos que aquilo era diferente.

-  Bom - suspirei, pegando meu drink que acabara de chegar. David fez o mesmo com o dele - Vai dar tudo certo. As coisas voltarão a ser como antes. - falei me preparando pra sair.

Só depois me dei conta do que eu havia acabado de falar. Claro que eu me referia que ele voltaria a ser como antes no Chelsea, mas minha frase ficou bem ambígua e poderia muito bem ser referida a nós dois. Me arrependi imediatamente. David Luiz deu um longo suspiro triste, coçou a nuca e soltou um sorriso amarelo antes de dizer:

- Gostaria muito que fosse assim. Mas acho que não.

Só quando olhei para trás e notei Eden se aproximando de nós que entendi o que ele quis dizer.



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