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História Link - Borboleta Azul


Escrita por: MKimjin e kimiejeon

Notas do Autor


Espero que gostem e boa leitura.

Capítulo 32 - Borboleta Azul


Fanfic / Fanfiction Link - Borboleta Azul

JUNGKOOK ON

Eu estava trêmulo e nervoso na sala de espera, enquanto faziam procedimentos médicos no Tae e no Baekhyun, dentro da ala de emergência do hospital.

Tudo de ruim passava pela minha cabeça. Eu não conseguia colocar os pensamentos em ordem, e eu só estava sentado, porque me obrigaram a tomar um calmante na veia, tal que não fez muito efeito, já que eu mordia com força todos os nós dos meus dedos e tinha um coração prestes a explodir dentro do peito.

– Jungkook? – Jin apareceu perto de mim, com um copo de água nas mãos. – Beba um pouco.

– Não, obrigado. – Falei sério, sem ao menos encarar o ômega, que aparentemente foi o único que teve coragem de se aproximar de mim.

Vez ou outra, eu corria os olhos pela sala e via Jinhong escondido no abraço do Hoseok, Yoongi sendo amparado por Jimin, Namjoon andando de um lado para o outro, enquanto falava no celular com seu pai, tentando contar toda a história sem deixa-lo mais assustado – o que era impossível -, e Jin mantinha seu olhar perdido em qualquer canto, provavelmente pensando nos últimos acontecimentos.

Os demais prisioneiros daquela maldita clínica foram levados para uma outra ala do hospital, para que pudessem fazer exames e procedimentos de curativos nos que saíram feridos; o que de fato era bom, já que alguns pareciam estarem até doentes, por ficarem presos ali por tanto tempo.

A cada vez que um médico aparecia ali, eu tinha vontade de me levantar correndo e socar a cara dele, até que me desse alguma notícia daqueles dois. Sim, eu também queria ter notícias do Baek, já que, se o Tae ficou vivo, foi graças a ele. Apesar de querer muito ultrapassar aquela porta que me separava do meu ômega, eu tinha que manter a postura, já que, eu estava sob ameaças de ser apagado, se fizesse mais alguma coisa por impulso ali – como por exemplo, ser meio agressivo com um dos enfermeiros.

Eu já tinha mordido todos os dedos, já tinha segurado as lágrimas, já tinha arrancado vários fios de cabelo, já tinha tentado chamar o Tae em pensamento, já tinha me oferecido a curá-lo, mas disseram que nesse caso seria em vão; já tinha pensado que definitivamente eu o tinha perdido... mas de repente apareceu um médico.

– Acompanhantes de Kim Taehyung e Byun Baekhyun? – Chamou.

Todos levantamos juntos e esperamos ansiosos para saber o que tinha acontecido.

– Então? – Namjoon perguntou, com o celular ainda no ouvido.

– Eles sobreviveram. – Sorriu soprado. – Nós conseguimos tirar aquela energia do corpo deles e eles estão bem. O senhor Baekhyun já até acordou.

– E o Taehyung? – Perguntei desesperado.

– O quadro dele está estável. Ele ainda está desacordado e não dá sinais de que irá acordar por agora, mas aparentemente, não corre risco de vida.

– E o meu filho? – Sussurrei, ao notar que em momento algum, o doutor mencionou o meu bebê.

– Bem... – Pigarreou. – Eu posso conversar com o senhor em particular?

– Doutor, por favor? – Jin já tinha um tom de voz choroso. – Ele é o pai, mas todos nós fazemos parte dessa família.

– Senhores, o bebê está vivo... – Suspirou. – Mas seus batimentos cardíacos estão muito fracos e se o Taehyung continuar do jeito que está, ele infelizmente não irá aguentar.

– Ah meu Deus... – Yoongi também começou a chorar, coisa que eu nunca tinha visto.

Meu mundo desmoronou com esta notícia. Eu estava acabado.

– Existe a chance do Tae não acordar? – Perguntei.

– Existe. – O médico desviou o olhar e crispou os lábios.

– Eu quero vê-lo... – Falei fraco, sentindo que qualquer coisa faria com que eu me tornasse o alfa mais fraco desse mundo. – Posso?

– Hum, sim. Quarto 305. – O doutor fez menção para que eu entrasse no local e assim eu fiz.

A cada passo que eu dava para perto do meu ômega, eu sentia que iria desmoronar e me quebrar em mil pedaços. Meus passos estavam pesados e eu não sentia vontade de fazer nada.

Caminhei devagar até o quarto indicado e quando eu cheguei no mesmo, tive que respirar fundo, antes de levar minhas mãos trêmulas até a maçaneta e girá-la.

Tae estava ali. Deitado. Ligado a vários aparelhos, que o ajudavam a respirar. Meu coração se apertou e, todas as lágrimas que eu segurei até agora, saíram descontroladas, molhando meu rosto inteiro e minha blusa.

– Tae? – Chamei baixinho quando me aproximei dele. – Me perdoe? – Abaixei minha cabeça para perto da dele e lhe dei um beijo na testa. – Eu estou sentindo tanto a sua falta aqui perto de mim...

Acho que o pior de tudo, é que eu poderia me desculpar das mais diversas maneiras, que ele não iria me escutar e muito menos me responder.

– Te ver nessa cama, tão frágil e indefeso me faz me sentir tão mal... – Segurei sua mão que não recebia soro. – Me perdoe por tudo o que eu te disse? Eu sei que o bebê é nosso e sei que você nunca me trairia, mas... – Funguei. – Eu tenho tanto medo de ser abandonado de novo... – Deixei que o choro saísse sonoramente e escondi meu rosto na sua barriga. – Eu já fui abandonado por amigos e pela minha própria família... mas eu não suportaria ser abandonado por você. Eu te amo demais, Taehyung. Demais. Eu sei que eu fui um tolo por​ fazer aquilo com você, mas quando a gente tem medo, as piores coisas vêm na nossa cabeça e eu simplesmente não consegui me controlar. Eu sabia que você precisava da minha presença e preferi ir treinar do que me dedicar a você...

Dei um beijo sobre sua barriga e acariciei a mesma.

– E você, meu filho, perdoe esse pai idiota que você tem. – Mais lágrimas caíram e molharam a pele desnuda do Tae. – Eu também amo você. Eu amo vocês dois. – Funguei. – Eu quero tanto te ver nascer... quero te pegar nos meus braços quando você der o primeiro choro, quero estar com vocês quando der o primeiro sorriso, quero acompanhar os seus passos... eu quero tanto você. Eu quero tanto cuidar de vocês dois...

Quanto mais eu falava, mais o nó na minha garganta se apertava. Taehyung continuava com a sua respiração em velocidade constante e não fazia menção alguma de que iria acordar.

– Tae? – Aproximei meu rosto do dele. – Acorda? Eu te prometo que vou te proteger de tudo. Eu te prometo que seremos uma linda e feliz família. É uma promessa e eu vou cumprir. – Sem nenhum sinal dele. – Eu te prometo, Tae, acorda, por favor? – Apoiei minha cabeça no seu peito e deixei que as lágrimas fizessem o seu trabalho. – O Baek já acordou. Eu vou conversar com ele e pedir perdão por tudo o que eu fiz. Se depois de acordar, você preferir a ele do que a mim, eu prometo que não vou te impedir... eu vou manter a distância necessária para te manter bem e vou assumir o nosso filho... mas eu só quero te ver feliz.

Tudo o que eu queria, era que ele abrisse os olhos, dissesse que estava me ouvindo, dissesse que me amava e que queria a mim.

– Acorda, amor? Volta para mim? – Engoli em seco. – Eu te amo, Tae... eu amo muito você.

– Senhor Jungkook? – O médico apareceu no quarto. – Deixe que os amigos entrem agora e você pode ir ver o Baekhyun. Vocês não podem ficar aqui por muito tempo.

– Me dê só mais cinco minutos? – Implorei e ele apenas suspirou e acenou positivamente com a cabeça.

– Só mais cinco. – Deu as costas e saiu do quarto.

– Tae? – Chamei de novo. – Não me deixe assim, por favor? Se mantenha vivo. Me dê a oportunidade de me desculpar olhando nos seus olhos? Me deixe te mostrar o quanto eu te amo e o quão feliz eu estou por formarmos uma família? – Passei a acariciar seus cabelos, na esperança de que ele pudesse se mexer e abrir os olhos, como se estivesse acordando de uma noite bem gostosa de sono.

Mas isso não aconteceu. Taehyung continuou imóvel. O único som que era presente naquela sala, era o som da máquina que mostrava os batimentos cardíacos estáveis. Sem alteração alguma.

– Eu preciso de você, Marrentinho. – Suspirei. – Você não imagina a falta que me faz. – Falei por fim, dando-lhe um beijo na testa e me afastando dele, para dar oportunidade para que os outros pudessem vê-lo.

Quem sabe talvez, eles não fossem o que ele precisava para acordar? De repente, eu não sou motivo o suficiente para fazê-lo abrir os olhos.

– Podem entrar. – Falei baixo, quando encontrei com meus amigos na sala de espera.

– Vá ver o Baek, Jungkook. – Jin sussurrou no meu ouvido, quando eles passaram a caminhar na direção do quarto 305. – É na porta em frente a do Tae.

Eu poderia brigar, xingar, me transformar em lobo de novo, dizer que ele estava ficando louco; mas eu não queria fazer isso. Tudo o que eu queria, era me desculpar com o alfa que eu quase matei e que agora salvou a vida do meu ômega.

Sem dar uma resposta ao Jin, caminhei até o quarto do Baek e bati duas vezes, esperando permissão para entrar.

– Entra. – Falou baixo lá de dentro, e assim eu fiz.

Diferente do Tae, Baekhyun estava sentado na maca, mexendo num curativo que fizeram no seu braço, prestes a arrancá-lo.

– Vai arrancar o curativo se ficar fazendo isso. – Iniciei a conversa.

– Essa é a intenção. – Sorriu mínimo. – Isso está machucando e eu sou alérgico a esses curativos.

– Quer ajuda? – Perguntei e recebi um aceno negativo com a cabeça, seguido de um sorriso.

Suspirei e mordi o lábio, ao que escondia minhas mãos atrás do corpo.

– Posso ser direto? – Fitei o alfa que levantou as sobrancelhas e acenou positivamente.

– Por favor. – Riu soprado.

– Eu queria... é... – Cocei a cabeça.

– Me deixar avisado que vai me matar quando sairmos daqui?

– Não. – Engoli em seco e me aproximei. – Eu queria te pedir perdão. – Meu coração foi a mil ao dizer isto e aparentemente, o do Baek também, porque ele arregalou os olhos e sua respiração ficou descompassada. – E te agradecer por ter salvo a vida do Tae.

– Não precisa agradecer. – Falou baixo e desviou o olhar. – Antes de salvar a vida dele, eu quase a tirei.

– Mas não foi porque você quis. – Falei sério, me referindo à questão que Hoseok me contou – sobre o cio dele – quando estávamos vindo para o hospital. – Eu não estou pedindo perdão só porque eu fiquei sabendo disso. Estou pedindo perdão porque eu si que eu errei e quero me redimir.

– Não precisa se desculpar, Jungkook. Eu mereci.

– Você mereceu, naquela época, eu te dei o corretivo que você deveria ter levado. Mas depois... – Neguei com a cabeça. – Se o próprio Tae foi capaz de te perdoar, quem sou eu para não fazer isso?

– Ele tem um bom coração. – Sorriu sem mostrar os dentes.

– Ele tem e você também. – Me aproximei mais. – Mesmo depois de tudo, você não o abandonou.

– Eu ainda o amo, Jungkook. – Ele falou sério e fitou meus olhos. – Eu fiz isso, porque eu o amo. Eu quero vê-lo feliz, o que foi motivo o suficiente para eu parar de andar atrás dele, do jeito que eu andava e o deixasse ficar com você, que é a pessoa que ele ama e que é o pai do filho dele.

– Eu sei que você o ama. – Suspirei. – Eu não sou cego.

– Eu não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto.

– Nem eu. – Engoli em seco e senti o nó voltar a apertar a minha garganta. – É por isso que quando ele acordar, eu vou dá-lo a opção de ficar com você, se ele quiser.

– Não faça isso, Jungkook. – Franziu o cenho e me encarou, como se eu fosse um maluco. – Ele te ama. Fazer isso, vai fazer parecer que você não o quer e que está disposto a deixa-lo com qualquer alfa.

– Mas e se for isso que ele quer?

– Não é, Jungkook. Esse tempo que eu tive para me reaproximar dele, eu via o tanto que ele te ama. Taehyung é louco por você. Eu servia mais como ombro amigo, do que para qualquer outra coisa. E eu confesso que para mim, ser amigo dele já está de bom tamanho. Que quero vê-lo feliz e quero que ele seja feliz com você. Porque sei que vocês se amam.

– Eu o amo muito, Baek. Mas ele terminou comigo e se ele não me quiser mais?

– Você vai deixa-lo ir assim tão fácil? – Levantou a sobrancelha direita. – Não vai lutar por ele?

– Eu não sei se ele quer que eu faça isso.

– Ele quer você, Jungkook. – Aumentou o tom de voz, como se quisesse enfiar essa ideia na minha cabeça de todo jeito. – Da forma que for, ele te quer, ele te ama.

– Mas...

– Você não conheceu o Taehyung na mesma época que eu. Eu posso te garantir que ele te ama. O Tae NUNCA ficaria com alguém, só por ficar. Ele seria capaz de lutar contra os próprios instintos durante o cio, só para não ter que atar com um alfa. Ele seria capaz de se matar, se fosse obrigado a conviver com um alfa. Mas agora vocês são uma família. Tem um bebê, ele é marcado por você e vocês se amam.

– Eu não deveria ter feito as coisas tão rápido assim. – Neguei com a cabeça.

– Você duvida do amor dele?

– Eu só tenho medo dele ficar comigo, só porque deixou ser marcado por mim, mas isso não ser o que ele quer.

– Então você duvida do amor dele.

– Baek, você não sabe o que é ser rejeitado...

– Espere... O QUE? Não sei? Jungkook, estamos falando do cara que me rejeitou desde que entrou no alojamento. Ele me rejeitou. Eu sabia que para ele era difícil, mas não deixa de ser uma rejeição.

– Desculpe... – Sussurrei, ao notar que era verdade. – Eu não sei o que eu faço. – Engoli em seco.

– Por que você duvida do amor dele?

– Não é duvidar. É só não ter certeza se eu sou tudo o que ele precisa.

– Jungkook, se a relação amorosa te deixa com dúvida, lembre-se da história dos Merges que tem pares.

– Mas em momento algum, as pesquisas dizem que eles deveriam ser um casal.

– Mas... – Suspirou. – Tá, mas por que você pensa assim?

– Bem... – Comecei. – Tem certeza de que quer saber?

– Sim, fala. – Ele ajeitou na cama e me encarou, esperando que eu começasse a contar a história, e assim eu fiz. Contei-lhe sobre o medo que eu tinha de me apaixonar de novo, contei-lhe sobre a minha família que praticamente passou a me deixar de lado depois que eu ganhei a marca e falei sobre como todas essas coisas me deixaram com medo de perder o Tae. Medo de ser rejeitado por ele – quando descobrimos que eu era um lúpus -, medo de não ser bom o bastante para ele e medo de ser um peso na vida do ômega.

– Eu tenho medo disso tudo. – Fitei o chão e engoli em seco.

– Eu posso te perguntar uma coisa? – O alfa perguntou, com a voz calma.

– Pode.

– O Tae já demonstrou alguma vez, que não gosta de você, que só está contigo por obrigação e que não faz muita questão da sua presença?

– Não, ele nunca fez isso.

– Okay. Agora me diga, quantas vezes ele já demonstrou que tem sentimentos verdadeiros por você?

Eu parei para pensar na pergunta do Baek e tantos momentos nossos me vieram na cabeça, que eu tive vontade de falar sobre todos eles, mas consegui me conter.

– Muitas vezes... – Dei um riso soprado ao lembrar do primeiro beijo que nós demos. Eu estava dormindo e ele veio me acordar para se desculpar por uma coisa que o Baek tinha feito. Como sempre, nós discutimos e eu acabei o prensando na parede e selando os nossos lábios.

Foi mágico.

– E você ainda acha que ele não te aceita do jeito que você é?

– É tão difícil julgar algo que tem a ver comigo. – Sorri sem graça.

– Então julgue pelo lado do Taehyung, oras. – Ele também sorriu. – Vamos lá, quando você entrou no alojamento, como foi a recepção que o Tae te deu, quando viu que você estava no quarto dele?

– Tem alguma palavra mais forte do que “péssima”?

– Talvez. – Deu de ombros. – Mas se foi péssima, não foi com um aperto de mãos e um desejo de boas-vindas, foi? – Neguei com a cabeça e ele levantou um dedo. – Quando ele soube que teria que te treinar, ele foi todo amigo e companheiro para te dar as aulas?

– Nunca. Ele foi um maluco que brigava o tempo inteiro comigo. – Aumentei o tom de voz. – Uma vez eu quase acertei uma flecha nele sem querer, mas ele me xingou demais.

– Segundo ponto. – Levantou o segundo dedo. – Só por esses dois pontos que eu citei, você já sabe como ele era, certo?

– Certo.

– Tudo bem. Eu via o Tae daquele jeito todos os dias, durante dois anos. Eu cheguei a pensar que ele morreria sem alguém. Quando eu me aproximei dele, foi para ter só a amizade, porque eu via que ele sentia medo de muitas coisas; mas aí acabou que a amizade se transformou em outra coisa e eu... enfim. Você consegue ver o tanto que ele mudou depois que vocês ficaram juntos?

– Com você dizendo e me fazendo lembrar das coisas, eu consigo ver.

– O Tae agora é marcado por você, vocês terão um bebê e vocês se amam. – Insistiu. – Ele pode ter um jeito estranho de amar, mas não deixa de ser amor, Jungkook.

– É tão estranho falar disso com você, mas eu também o amo; e é por isso que eu queria deixa-lo escolher com quem quer ficar.

– É mais estranho ainda, ouvir essas coisas de você, acredite. – Gargalhou baixinho. – Mas eu quero parar de te falar que ele te ama. O Tae não gosta de mim, aquele dia que você viu nós dois abraçados, ele estava fazendo a mesma coisa que você veio fazer... apenas me pedindo desculpas.

– E você aceitou as desculpas...

– Claro que sim. Na verdade, vocês nem tinham que me pedir desculpas...

– Baek, você não entende... – Respirei fundo. – Estou aqui pedindo desculpas por tudo de ruim que te fiz e falei para você, depois que você voltou para o alojamento. Aquele episódio que você quase matou ele, eu apenas me vinguei e isso aí, deixa para lá.

– Então eu também devo te pedir perdão por ter falado coisas ruins para você. Do mesmo modo que tenho que te agradecer por vir aqui me pedir desculpas. Isso significa que estamos muito mais maduros.

– Sim. – Acenei positivamente. – Eu não estou fazendo isso por ele, ok? Eu realmente quero me desculpar e quero muito que você aceite minhas desculpas.

– Eu aceito, com certeza. – Ele sorriu. – E você, aceita as minhas?

– Ah, sim, sim, posso fazer algo por você. – Falei de modo divertido e caminhei para mais perto dele. – Obrigado por salvar a vida do nosso Tae e do meu filho... – Toquei seu ombro.

– Não foi nada.

– Você podia ter morrido...

– Eu... eu morri, Jungkook. – Ele fitou meus olhos. – Mas agora nós temos dois Mortem’s no círculo de amizade.

– Eles te trouxeram de volta, então? E os médicos não viram?

– Eu morri na ambulância, vindo para cá. O meu coração parou de bater. Os pais da Minzy e o Minhyuk estavam junto comigo e lá mesmo, eles resolveram o problema.

– E como você sabe que foram eles? – Franzi o cenho.

– Porque eu acordei do nada, com uma forte dor no peito e sentindo meu coração batendo a mil... – Baek tirou os cabelos da testa. – Quando eu olhei de lado, eu pude ver o Chanyeol fazendo sinal para eu ficar calado. Quando eu dei conta do que havia acontecido, eu desmaiei e aí o resto fez sentido para os médicos. Mas só para eles.

– Então se você morreu... significa que o Tae...

– Ele teria morrido, mas isso não vem ao caso. – Baekhyun se ajeitou na cama e apoiou a mão direita no meu ombro. – Ele vai acordar. Eu sei que vai.

– Vai sim... – Respirei fundo e engoli o nó que apertava a minha garganta.

– Quando você for visita-lo, diga palavras carinhosas, e não fique se lamentando. Passe energia positiva para ele e lhe dê motivos para acordar.

– Farei isso. – Balancei a cabeça, num gesto positivo. – Obrigado, mais uma vez.

– Que nada.

– Pessoal, agora o Baekhyun tem que descansar. – O médico entrou rápido na sala e veio conferir os batimentos cardíacos do alfa.

– Tudo bem, eu já estou de saída. Tchau.

– Tchau. – Ele sorriu de maneira amigável para mim e eu retribuí o ato, antes de sair da sala.

Eu me sentia um pouco melhor. Um alívio tomou conta do meu ser, por ter me desculpado com o Baek e eu sinto que isso também fez bem a ele.

Quando eu voltei para a sala de espera, meus amigos já estavam lá, aparentemente me esperando.

– Nós vamos voltar para o alojamento. – Namjoon falou baixo. – Você virá conosco ou ficará aí?

– Eu vou ficar. – Respondi no mesmo tom.

– Não vai adiantar nada você ficar aqui, Jungkook. – Jimin se aproximou de mim. – Vá para o alojamento, tome um banho, coma alguma coisa... amanhã você volta...

– Ele tem razão. – Yoongi tocou meu ombro. – Se você ficar aqui, terá que ficar na sala de espera, porque não pode acompanha-lo. Vai dormir mal, vai ficar com fome, frio... vamos para o alojamento, e hoje você organiza algumas roupas para trazer e ficar mais confortável aqui, amanhã.

– E se ele acordar? Ele pode precisar de mim.

– Este é o melhor hospital da cidade. – Namjoon assegurou. – Qualquer coisa, eles terão suporte para ele, até que você chegue.

– Tá, tudo bem... – Realmente, não iria adiantar de nada ficar ali. Os calmantes faziam mais efeito a cada meia hora que passava e eu definitivamente estava faminto e cansado. – Já está quase amanhecendo, eu vou dormir um pouco e volto para cá, mais tarde.

– Isso mesmo, vamos. – Hoseok sorriu e nós caminhamos rumo ao lado de fora do hospital. Quando chegamos na portaria, eu me lembrei dos carros.

– Como vamos fazer? – Cocei a cabeça. – Só eu dirijo e eu estou sob efeito de calmante...

– Eu e o Jimin também sabemos dirigir. – Hoseok sorriu malicioso.

– Mas... – Respirei fundo, quando percebi que tinham me passado para trás.

– Se o Baek não fosse o único, você não o deixaria ir. – Jimin deu de ombros e Yoongi o encarou surpreso.

– Espertos. – Namjoon soltou uma gargalhada. – Mas vamos embora logo, porque eu meu pai vai ter uma séria conversa com a gente.

**

A conversa com o diretor foi bem mais produtiva do que eu imaginei. Quando eu fui visitar o Tae, eu me preocupei tanto em me desculpar, que não parei para analisa-lo direito – como Jin fez. Durante a visita deles, o ômega encontrou uns papéis nos bolsos do Tae, que comprovavam que aquela clínica era uma fachada, na verdade. O diretor ficou tão assustado, que na nossa presença mesmo, ele marcou uma reunião com o chefe dos chefes do alojamento.

Depois de ouvir um belo xingo, depois de me chamar de irresponsável e de me deixar com mais medo de perder os meus amores, ele me abraçou e desabou a chorar, sem dizer uma palavra. Eu sabia que o Tae é muito importante para ele, mas não imaginava que chegava a ser tanto. Todos começamos a chorar e tentamos passar mensagens acolhedoras para cada um, com a promessa de que mais tarde iríamos todos visita-lo e visitar o Baek.

Eu cheguei no meu quarto escuro e silencioso. Me joguei na cama e senti o cheirinho do meu ômega me invadir; foi aí que eu tive um momento sozinho para lamentar por tudo o que eu tinha feito e pedir para todas as criaturas mágicas existentes nesse mundo, que deixassem que ele voltasse para mim.

Eu o amo demais. Eu não posso perdê-lo.

**

Quando eu acordei, me levantei rapidamente, tomei um banho, comi qualquer coisa que tinha na cozinha e já avisei para meus amigos que estava indo para o hospital. Por sorte, minha prima deixou que eu ficasse com o carro dela, para quaisquer eventualidades, o que ajudou bastante na locomoção de todos para o hospital e para o alojamento de volta.

Dessa vez, Ji Yoon e MinHo – o diretor – foram conosco. A beta ficou sabendo bem cedo do ocorrido, e saiu para comprar vários bombons, com o intuito de levar para ele. No meio do caminho, eu passei numa floricultura e comprei um simples buquê de lírios brancos e rosas vermelhas, para deixar ao lado da sua cama, caso ele acordasse; assim como passei numa outra loja, e comprei uma pequena cesta de café da manhã para dar pro Baekhyun.

Ao chegar no hospital, os médicos já sabiam quem éramos nós e, apenas MinHo e Ji Yoon tiveram que fazer um cadastro na recepção.

Todos fomos para o terceiro andar, para visitar os meninos. Deixei que todos vissem o Tae primeiro, enquanto eu dava a cesta para o Baek, já que o diretor teria que ir para a outra ala do hospital, para cuidar da papelada dos outros campistas que lá estavam. Quando eles saíram do quarto do Kim, aí sim eu entrei para vê-lo. Apenas eu.

– Bom dia, meu amor... – Sussurrei ao tocar sua mão. – Eu trouxe algumas flores para deixar seu cantinho mais bonito.

Eu queria muito, mas muito mesmo, chorar; porém, eu me lembrei das palavras do Baek e decidi que prenderia as minhas lágrimas a todo custo.

– Como está o nosso bebê? – Murmurei sobre sua barriga e lhe dei um beijo. – Eu sinto tanto a sua falta... – Fitei seus lábios rosados e eu quis muito beijá-los, mas preferi não o fazer, já que ele poderia não gostar. – Eu vou ficar aqui com você hoje, tudo bem? Posso não poder ficar dentro do quarto, mas eu vou ficar lá fora, esperando me chamarem e dizer que você acordou.

Sem resposta alguma. Sem movimento. Sem alteração nos batimentos cardíacos.

– Eu conversei com o Baek e ele me disse que sabe que você irá acordar. Nós estamos te esperando aqui, tudo bem? A Minzy também. Ela não veio, porque nós achamos melhor resolver todo esse problema primeiro; e ela poderia ficar mal em te ver.

Definitivamente, não tinha o porquê de eu ficar ali conversando e falando essas coisas. Ele estava dormindo e não iria me ouvir. Eu caminhei até um cantinho do quarto e coloquei as flores sobre uma mesinha.

– Eu espero que um dia você possa me perdoar. – Sussurrei. – Eu te amo. – Saí do quarto quando senti a primeira lágrima descer.

Eu teria que ser muito mais forte que isso.

****

Segundo dia do Tae no hospital e já parece que foram semanas ou até meses.

O diretor levou todos os outros campistas para o alojamento, afim de acolher todo mundo, até que fosse resolvida a questão do que fazer com eles; deixar soltos ou não.

No caminho até o hospital, eu comprei algumas trufas e as levei para o Tae e para o Baek. Baekhyun estava cada vez melhor e me prometeu que cuidaria do Tae enquanto eu não estivesse presente no local.

Taehyung estava do mesmo jeito, mas o médico me assegurou que ele estava um pouco melhor. Ele não tinha acordado, mas ele já estava mais corado e aparentemente mais saudável, assim como o meu filho, que agora tinha os batimentos cardíacos mais nítidos e mais rápidos.

**

Quatro dias se passaram e todo aquele trajeto até o hospital era sempre o mesmo. Nós íamos, comprávamos presentes para os dois que estavam internados, conversávamos com eles e depois os outros voltavam para o alojamento, me deixando lá, até que o dia escurecesse e eu voltasse para dormir.

Eu cantava para o Tae, acariciava seu rosto dizia que estava com saudades, mas em momento algum, ele dava sinal de que iria acordar.

Seus pais foram avisados e eles passaram a visita-lo por um tempo rápido – horário de café -, mas mesmo assim, fazíamos o possível para mantê-los avisados de tudo.

Hoje, nós recebemos a notícia que ele teve um avanço na melhora e que foi transferido para o quarto que poderia ter acompanhante, o que de fato me deixou muito feliz, já que eu poderia ficar lá com ele, passando todo o meu suporte e dando a minha presença completa, para que isso fizesse bem a ele e ao bebê.

**

Mais dois dias se passaram e, mesmo com a garantia do médico de que ele estava melhorando, eu tinha receio de ele não acordar. Eu queria gritar e fazer ele abrir os olhos, mas me contive apenas com os carinhos e palavras acolhedoras.

**

Oitavo dia...

Hoje eu acordei especialmente triste. Eu tinha uma sensação forte dentro de mim, mas eu não conseguia distinguir o que era e apesar de tudo, eu já estava mais do que angustiado pelo fato de que o Taehyung ainda não tinha acordado.

Como de costume, nos reunimos e fomos para o hospital. Desta vez, eu comprei um pedaço do bolo de chocolate com morangos da Alice Table e aproveitei para dar notícias para minha sogra.

Eu percorri todo o caminho em silêncio. Fiz uma visita rápida para o Baek – que aparentemente percebeu que eu não estava bem – e depois eu fui para o quarto dele.

– Bom dia, meu amor. – Disse como de costume. – Hoje eu te trouxe bolo de chocolate com morangos da Alice Table.

Ajeitei todos os presentes que estavam ali, antes de me sentar no sofá que ficava ao lado da cama.

– Eu quero te contar uma história hoje. – Falei, quando me aproximei do mesmo. – Para vocês dois. – Acariciei sua barriga. – Era uma vez, o mundo das fadas, onde o mal tinha tomado conta dele todo. As fadas boazinhas foram aprisionadas por uma terrível bruxa e foram escravas dessa bruxa por muito tempo. Quando as pequenas fadinhas, que tanto cintilavam, já tinham perdido as esperanças de serem libertas e terem seu brilho de volta; apareceu uma rainha Borboleta Azul. Essa rainha invadiu aquele reino e lutou com todos os ajudantes da bruxa, inclusive com a própria bruxa. Muitas fadinhas foram obrigadas a lutarem também, porque além de serem servas da bruxa, elas tinham medo de que essa tal de Borboleta Azul fosse só mais uma que queria governar aquele local e destruir o mundo mágico de uma vez por todas. Depois de tanto lutar e tanto demonstrar que ela era do bem, as fadinhas passaram a ajuda-la e assim, elas ficaram mais fortes e conseguiram derrotar a bruxa. Dessa maneira, o mundo delas voltou a ficar colorido e as fadinhas ganharam o brilho de volta. A Borboleta Azul ficou ali com elas, e ao invés de se tornar líder, ela se juntou à família de fadinhas e finalmente encontrou um lar em que todos a amassem.

Uma lágrima escorreu e eu respirei fundo, para tentar fazer com que minha voz não ficasse falha.

– Esse mundo mágico que se tonou sombrio é o meu coração, Tae... – Engoli em seco e segurei sua mão livre de agulhas. – E você é a minha Borboleta Azul, que apareceu na minha vida para trazer o meu brilho de volta. Eu sou as fadinhas que ficaram aprisionadas e que tinha medo de se apaixonar de novo, mas você provou que era a minha salvação, provou que era tudo aquilo que eu precisava, me ajudou a sair desse buraco e eu te recebi no meu coração, como aquele que te ama de verdade. – Desta vez eu me permiti chorar. Eu não estava suportando sentir toda essa dor e guardar tudo para mim, de algum jeito, eu tinha que colocar isso para fora. – Não me deixe, por favor? Volta para mim? Acorde?

Me levantei do sofá e me aproximei do seu rosto, onde eu fiquei acariciando com minha mão livre.

– O Baek me disse para dizer coisas boas a você, mas eu não aguento mais vir aqui e ficar falando como se tudo estivesse bem. Você não me responde, não dá sinal de vida e eu não estou suportando te ver assim... – Me inclinei e deixei meus lábios tocarem bem de leve nos dele. – Eu amo muito você. – Fechei os olhos e finalmente eu pressionei minha boca na sua.

Ele estava imóvel e seus lábios ressecados, mas não deixou de ser bom. Era ele. Independente do jeito que estivesse, era o meu ômega ali comigo. O meu amor.

Quando pensei em me afastar, senti um aperto leve na minha mão que estava junto a dele. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro e quando eu abri os olhos, encontrei aquelas orbes castanhas me encarando.

Ele havia acordado.

Me afastei rapidamente e sorri.

– Tae, você acordou. – Mais lágrimas saíram e ele apenas ficou me encarando, sem falar nada. – Tae...

– Jeon Jungkook? – O médico entrou no quarto.

– Doutor, ele acordou. – Falei animado.

– Acordou? Nossa, que ótima notícia. – Ele se aproximou de nós. – Vamos agora fazer uns exames e ver como está esse papai.

– Eu posso ir junto? – Perguntei. – Eu quero acompanha-lo.

– Bem, nós teremos que levá-lo para uma área mais restrita, então eu não posso deixar que vá junto.

– Mas...

– Deve demorar uns dez minutinhos apenas. – Respondeu de maneira animada. – Olá Taehyung, eu estou realmente muito contente por ver que você acordou.

– C-como está o meu f-filho? – Foi a primeira coisa que ele perguntou.

– Pelos exames que fizemos enquanto você estava desacordado, ele está bem. Está fraco, mas está se recuperando. Mas agora, vamos fazer novos exames, incluindo ultrassom e assim, poderemos dizer com mais clareza.

– Nem o ultrassom eu vou poder ver? – Perguntei.

– O ultrassom você terá permissão porque é o pai, mas ele será o último que iremos fazer. Até lá... – O doutor caminhou até um canto da sala e pegou uma cadeira de rodas. – Vamos, vamos?

Com um pouco de dificuldade, o Tae conseguiu se sentar.

– Você quer ajuda? – Perguntei.

– Não precisa... – Falou baixinho.

O médico então o ajudou a se sentar na cadeira e o levou na direção da porta.

– Aproveite e conte para os amigos que o nosso mocinho acordou. – Sugeriu, sorridente e eu apenas assenti.

Enquanto o Tae ia junto com o médico, eu abri o grupo de conversas que fizemos e mandei a notícia. Todos ficaram felizes e desesperados para vir vê-lo logo. Como ele estava no quarto separado, os horários de visitas eram mais flexíveis do que da área restrita de observação, o que faria com que todos pudessem vê-lo direito – até seus pais que trabalhavam o dia todo.

Praticamente os dez minutos se passaram, e uma enfermeira chegou no quarto e me chamou para ver o ultrassom. Eu saí daquele quarto como se estivesse apostando corrida com alguém. Rapidamente, eu cheguei na sala do ultrassom e encontrei o Tae já deitado na cama, apenas me esperando.

– Cheguei. – Falei ofegante.

– Aah, então podemos começar. – Ele sorriu e abriu a camisola que o Tae vestia, despejando uma boa quantidade de um gel incolor sobre a barriga do ômega, logo começando a passar o aparelhinho do ultrassom.

– Nossa, como ele cresceu. – Meus olhos lacrimejaram e eu ouvi o Tae fungar.

– Hum... – O médico gargalhou. – Da primeira vez que vocês o viram ele estava bem pequenino?

– Ele parecia um feijãozinho... – Comentei, com a intenção de fazer o Tae sorrir, mas ele apenas limpou uma lágrima que escorreu.

– Ele está bem? – Perguntou.

– Está sim. Muito melhor do que estava quando chegou aqui.

– Que bom. – Falou por fim.

– Vou mostrar para vocês, algo que eu tenho certeza que estavam esperando... – O doutor mexeu em alguns botões da máquina e quando eu menos esperei, o som do coração do nosso filho se fez presente na sala. – Ainda está fraquinho, porque ele é muito pequeno e está um pouco faco... mas sobreviveu, e agora se seguirmos com um tratamento correto, ele vai nascer forte e saudável.

– Eu mal posso esperar por isso... – Funguei e segurei a mão do Tae, que apenas me encarou, mas não tirou sua mão dali. – É o nosso filho. – Sussurrei e ele assentiu levemente.

– Bom meninos, então, vamos voltar para o quarto, e já, já os exames estarão prontos.

Mais uma vez, nós colocamos o Tae na cadeira de rodas e voltamos para o quarto. O médico então, nos deixou a sós e eu me aproximei dele.

– Como você está? – Perguntei calmo, para evitar que ele sentisse medo da minha aproximação.

– Eu estou bem, e você? – Respondeu no mesmo tom, enquanto brincava com a cordinha da sua camisola.

– Agora que você acordou, eu estou bem. – Fiquei encarando seu rostinho mais magro e eu quis muito tocá-lo. – O Baek está muito bem, sabia?

– Uhum... – Acenou positivamente. – Eu desconfiava que ele estava bem.

– Como?

– Intuição. – Deu de ombros.

– Eu posso te dar um abraço? – Perguntei.

Taehyung me olhou e repuxou os lábios levemente para o lado, mas antes que pudesse me responder, a porta do quarto foi aberta e revelou nossos amigos ali, cheios de coisas para ele; como comidas, balões, flores, plaquinhas de mensagens de humor.

– Taetae? – Jin veio correndo e se enfiou no meio das pernas dele, para abraça-lo. – Nós viemos o mais rápido que pudemos. Eu coloquei todo mundo louco, nós enchemos os balões no carro, compramos esse tanto de coisa no meio do caminho e viemos a mil por hora.

– Ei Jin. – Ele sorriu, animado, ao ver todos ali.

Nossos amigos o abraçaram, o cumprimentaram e assim, nós começamos a conversar. Em meio àquela conversa descontraída, os pais do ômega chegaram e foi aí que ele se derramou em lágrimas e se agarrou nos braços da mãe.

– Que saudades, mãe... – Falou choroso, ao que segurava forte a mãe pela cintura. – Fica aqui comigo?

– Oh meu filho, eu não posso. – Ela também chorava, enquanto acariciava os fios castanhos do filho.

– E você, pai?

– Taetae, nós não podemos deixar de ir no trabalho... – Respondeu baixo. – Ainda mais agora que nós teremos um netinho, temos que ajudá-los com o que precisarem.

Ouvir aquilo fez um nó enorme me deixar entalado. A família do Tae era tão humilde e doce. Eles estavam dispostos a nos ajudar, enquanto a minha família esbanjava dinheiro e não estava ligando para o fato que eu seria pai.

Eu não queria que eles me sustentassem, junto com o Tae e com meu filho; mas nem uma palavra de apoio eu recebi dos meus pais. Meus tios e minha prima fizeram muito mais empenho em saber da gravidez do ômega, do que minha própria família.

Eu fiquei arrasado por não ter apoio para nós, enquanto aqueles que agora eu posso chamar de sogro e sogra, estão fazendo o possível para nos ajudar; como no dia que ofereceram que nós morássemos com eles, enquanto não conseguíssemos um cantinho para nós.

– Vamos deixá-los um pouco a sós? – Namjoon tocou meu ombro. – Eles precisam ter uma conversa de pais para filho.

– Tudo bem. – Assenti e me juntei a eles, para sair da sala.

Depois que Jin fechou a porta, nós fomos para a cantina afim de tomarmos um café.

– Vocês conversaram? – Jin perguntou, enquanto soprava seu chocolate quente.

– Ainda não. – Falei simples. – Ele acordou meio perdido e já foi logo fazer alguns exames.

– Ele está perdido mesmo. – Yoongi mordeu seu pão de queijo. – A gente conversa com ele, parece que ele demora para processar a informação.

– Ele ficou uma semana dormindo. – Jimin falou como se fosse óbvio. – Tem vez que eu durmo por três horas de tarde e quando acordo, fico parecendo um zumbi, porque eu não processo informação alguma e ainda tropeço em todos os móveis que se enfiam a minha frente.

– Isso é verdade. – Hoseok gargalhou. – Quando o Jimin acorda, ele fica perdidão. Uma vez ele caminhou na direção da minha cama e caiu em cima de mim. Quando isso aconteceu, já morávamos no alojamento.

– Se ele fizer isso comigo, eu mato ele. – Yoongi sorriu de lado. – Detesto que me acorde.

– Então cuidado. – Cutuquei Jimin e ele fez uma cara de assustado.

– Eu fico que feliz que ele esteja bem. – Jinhong finalmente falou alguma coisa. – Eu fiquei bem preocupado.

– É, eu também fiquei... – Engoli em seco. – Eu não faço ideia de como vou iniciar uma conversa com ele.

– Você saberá. – Hong deu de ombros. – O assunto vai fluir. Só tenha paciência com ele, independente de qualquer coisa.

– Eu terei. – Assenti.

**

Depois que todos visitaram o Tae, o Baek e logo foram embora, eu resolvi voltar para o quarto. Taehyung estava deitado na cama, lendo um livro que Jin tinha lhe dado de presente. Quando me viu, ele se ajeitou e fechou o mesmo, deixando seu olhar colado em mim.

– Você está melhor? – Me aproximei da cama e afaguei seus joelhos.

– Eu estou meio avoado, mas estou melhor.

– Está com fome?

– Não... tá tudo bem.

– Eu vou deixar você ler seu livro então. Vou ficar sentado ali no sofá. Qualquer coisa, me chame, ok?

– Você não quer ir para o alojamento e descansar um pouco?

– Não. – Falei rápido. – Eu estou incomodando você por ficar aqui?

– Não, eu só... – Ele balançou a cabeça negativamente. – Fico preocupado com você aqui sem descansar e sem comer direito.

– Eu estou bem, Tae. Não se preocupe. – Sorri mínimo e caminhei até o sofá, afim de me sentar.

– O diretor deixou eu ir na minha casa antes de voltar para o alojamento. – Ele falou sério e desviou o olhar.

– E você pretende ficar lá por quanto tempo? – Suspirei e tentei disfarçar a minha inquietação.

– Apenas uns três dias. Não posso voltar a morar lá, enquanto não for liberado do alojamento.

– Pelo menos você poderá ficar um pouquinho com seus pais.

– É verdade. – Tae engoliu em seco e voltou a dar atenção para o livro.

O clima entre a gente não estava tenso, mas sim, sem graça. Eu queria muito me sentar e conversar com ele. Eu queria pedir perdão pelas coisas que aconteceram, queria falar do nosso filho; mas eu estava sem graça o suficiente para achar que estava muito cedo para isso.

Eu fiquei um tempo sentado no sofá e vez ou outra eu via de relance o seu olhar se prendendo a mim por alguns segundos. Em alguns momentos, eu retribuía o olhar e nós trocávamos sorrisos fracos, ou ele apenas desviava os olhos, como se estivesse o tempo todo lendo.

****

Aquele clima esquisito se prolongou entre a gente por mais três dias.

O Baek foi liberado do hospital um dia depois que o Tae acordou. Todos os dias seguintes, os nossos amigos vinham nos visitar, assim como os pais dele e o diretor – que aparecia todo bobo e ficava falando que toda vez que passava na porta de uma loja de roupas de bebê, se lembrava da gente e tinha vontade de comprar tudo.

Taehyung e eu conversávamos o mínimo possível, mas sempre assuntos como “Você não quer descansar um pouco?”, “Você está com fome?”, “Aquele bolo de chocolate com morangos que você me trouxe estava ótimo”, “Você está com frio? Quer que eu feche a janela?”, “Quem ajuda para se levantar?” ou até mesmo “Preciso lavar os cabelos”. Eu não podia reclamar, afinal, ele não estava me ignorando ou me maltratando, o que já me deixava extremamente feliz.

Depois de três dias naquela luta contra o clima sem graça, o médico apareceu no quarto, especialmente feliz, para anunciar que o Tae estava de alta. Segundo ele, os exames estavam cada vez melhores, assim como o Taehyung e o meu filho; o que não tinha motivos para mantê-lo ali.

Depois de várias e várias recomendações – desde alimentação até hábitos como tomar sol pela manhã -, finalmente já estávamos arrumando todas as coisas para sairmos dali.

Taehyung ligou para seus pais e avisou que ia para casa, o que de fato deixou todos felizes – inclusive os chefes de sua mãe, que o adoravam e acabaram por liberá-la do dia de serviço, além de enviarem um pedaço de bolo de chocolate com morangos para ele.

Nós arrumamos tudo, guardamos todos os presentes e bolsas no carro e finalmente estávamos livres daquele lugar.

– Você tem certeza de ficará bem aqui? – Perguntei, quando parei o carro em frente a sua casa.

– Jungkook, é a minha casa. – Ele respondeu como se fosse óbvio.

– Mas você ficará sozinho o tempo todo em que seus pais estiverem trabalhando... – Abaixei o olhar. – No alojamento...

– Você pode ficar comigo se quiser. – Me interrompeu e eu tomei um susto. Tanto por ser interrompido depois de tempos, quanto por saber que ele estava me oferecendo de ficar ali.

– J-jura? – Perguntei, nervoso.

– Sim, não... não tem problema.

– Ah, tudo bem, então. – Sorri. – Assim, eu posso te ajudar quando precisar.

– É... – Respondeu cabisbaixo. – Vamos entrar. – Ele abriu a porta do carro e eu o segui.

Rapidamente, minha sogra apareceu no portão e foi nos ajudar a pegar todas as coisas que estavam dentro do carro. Eu levei o Tae para dentro e recomendei que ele ficasse apenas sentado lá, enquanto eu e sua mãe dávamos jeito em tudo.

Finalmente, todas as coisas já estavam dentro da casa, e a ômega já levava todas as roupas para a área de serviço, afim de lavar tudo.

– Eu vou fazer um cafezinho para nós. – Ela sorriu bastante animada e foi para a cozinha.

– Saudades de café dela... – Taehyung sussurrou e juntou as mãos sobre o colo.

– Agora ela vai fazer um fresquinho para você.

– Vai sim. – Ele se levantou e passou a caminhar até uma porta de vidro que dava para o lado de fora da casa. – Vem cá? – Me chamou e eu fui.

Kim se sentou num balanço que ele tinha ali e mexeu as pernas devagar, para dar movimento ao brinquedo. Ele fechou os olhos e respirou fundo.

– Tae, eu posso te perguntar uma coisa? – Me sentei ao seu lado e ele assentiu, antes de abrir os olhos novamente. – Você ainda prefere morrer do que ter a mim?

Sua feição mudou na hora e o castanho abaixou a cabeça, mordendo o lábio e começando a chorar.

– Não chore, por favor? – Me senti péssimo. – Desculpa por te perguntar isso... mas eu preciso saber. – Meu coração foi a mil. – Se essa ainda for a sua vontade, eu vou embora.

– Para onde? – Falou fraco e aumentou o choro.

– Para qualquer outro país. Eu vou embora e te deixo livre. Mesmo sabendo que você é marcado por mim, eu não quero te obrigar a viver ao meu lado, se essa não for a sua vontade.

– Não vá? – Balançou a cabeça negativamente e eu me senti um pouco aliviado com isso. – Me desculpe...

– Tá, tudo bem, não é hora para isso. – Sem me importar com o que ele iria falar ou fazer, eu me aproximei e o envolvi com meus braços, dando um abraço muito desajeitado, porém sincero. – Eu não vou...

Tae não se afastou; pelo contrário, ele se aninhou ao meu peito e ficou ali, até o choro cessar e sua mãe vir avisar que o café estava pronto.

Nós caminhamos para dentro da casa e encontramos o café posto sobre a mesa. Minha sogra havia colocado xícaras para nós três e biscoitinhos de polvilho com queijo.

– Eu amo biscoito de polvilho. – Comentei sorridente.

– Eu também. – Tae atacou a tigela e pegou logo uns três.

– Que educação foi essa que sua mãe te deu? – A ômega arregalou os olhos.

– Mãe, eu estou comendo por dois, não me julgue.

Depois desses dias intensos, pela primeira vez, eu o vi brincar. Aquele gesto acalmou meu coração e eu me senti muito feliz por ele estar bem e em casa.

**

O restante do dia se passou com nós dois assistindo a algum filme ou jogando alguns dos jogos de tabuleiro que ele tem. Depois daquele momento no balanço, ele pareceu que ficou um pouco mais aliviado e passou a conversar mais comigo, sobre assuntos aleatórios e até divertidos.

Quando anoiteceu, eu disse que voltaria ao alojamento para pegar alguma roupa limpa e dar notícias sobre ele para todos. Tae disse que eu poderia dormir lá, mas eu não me senti muito bem com isso, porque eu não queria incomodá-los.

– Amanhã bem cedo eu volto e a gente vai dar umas voltas, pode ser? – Perguntei quando chegamos no portão.

– Tudo bem. – Sorriu mínimo. – Me avise quando chegar lá.

– Pode deixar. – Lhe dei um beijo na testa, antes de entrar no carro e seguir o meu caminho.

****

No dia seguinte eu acordei bem cedo para ir na casa do Tae. Chegando lá, ele veio mais feliz para me receber, o que me deixou bobo.

– Como vocês estão? – Perguntei, acariciando sua barriga.

– Tirando o fato de que eu acordei duas da manhã para comer biscoito de polvilho, estamos ótimos. – Aquele comentário me fez rir abertamente.

– Seu filho já controla o que você come. – Dei de ombros.

– Pra você ver...

– Então, vamos?

– Vamos. – Tae fechou o portão e nós fomos caminhar pela rua.

No meio do caminho, tinha um carrinho vendendo pipoca, algodão doce e balões.

– Você quer?

– Quero. – Respondeu corando.

Eu fui até o carrinho e comprei dois algodões doce, dois saquinhos de pipoca colorida e um balão em forma de coração. De longe eu o vi sentar num banquinho, para tomar o sol matinal que o médico havia recomendado.

Quando ele me viu com o balão, corou imediatamente.

– Eu não acredito que você comprou esse balão... – Sorriu.

– Eu quero te dar mais um coração. – Entreguei as guloseimas para ele, juntamente com o coração flutuante. – Se o meu não for o suficiente, eu junto mil corações para te dar.

– Kook? – Respirou fundo.

– Eu só quero te ver feliz.

– Mas eu sou feliz. – Ele encheu a boca de algodão doce. – Apenas esse aqui, é o suficiente para mim. – Tae tocou meu peito e meu coração parecia que ia fugir pela boca.

– Eu te amo. – Sussurrei e ele sorriu, sem me dar uma resposta.

Nós ficamos ali na praça conversando por mais um tempo, até que o sol começou a esquentar demais.

– Você já quer ir pra casa? – Perguntei.

– Não, vamos andar mais um pouco?

– Tudo bem. – Voltamos a andar pelo bairro e tudo o que eu via e pensava que pudesse agradá-lo, eu lhe oferecia, mas ele recusava – nitidamente por vergonha.

Ao andar mais um pouco, avistei uma loja de artigos de bebê e o puxei para lá.

– Vamos comprar o primeiro presente do nosso bebê? – Perguntei.

– Jura? – Ele arregalou os olhos.

– Sim, venha. – Nós entramos na lojinha, e dentre as pequenas coisas fofas que tinham ali, meus olhos se prenderam num par de sapatinhos de lã azul. – Adorei esse.

– Eu também. – Seus olhos brilharam. – Mas e se for menina?

– Não tem problema se for menina. Meninas também usam azul. Você gostou?

– Eu adorei.

– Então vamos comprar o primeiro sapatinho do nosso bebê. – Sorri e fui pagar pelo presente, antes de voltarmos a andar pelo bairro.

Tae parecia bem animado com o presentinho e toda hora ele ficava o tirando do pacotinho e o olhava.

O tempo foi passando e rapidamente chegou a hora do almoço. Nós decidimos voltar para a casa e cozinharmos alguma coisa.

Tae abriu o portão e entrou todo animado, com a sacolinha na mão.

– Você gostou mesmo? – Perguntei, terno.

– Muito. Achei lindo. Imagina o nosso bebê com os pezinhos aqui. – Corou rapidamente.

– Eu mal posso esperar por esse dia. – Me aproximei do ômega e toquei sua barriga. – Estou louco para ver sua barriga crescendo, louco para vê-lo nascer, louco para tê-lo nos braços...

– Você acredita agora que ele é seu? – Me perguntou com um olhar triste.

– Eu sempre soube que ele é meu. Tae, me perdoe pelo que eu te falei, pelo que eu te fiz...

– Tudo bem.

– Não, é sério. – Segurei seu rosto e o fiz olhar para mim. – Me perdoe por tudo?

– Eu já perdoei.

– Você me perdoou aquele dia na sala de música, mas depois...

– Jungkook, eu não estou falando daquele dia. – Seus olhos lacrimejaram e os meus também. – Eu estou te falando que já te perdoei por tudo o que aconteceu...

– Mas eu não te pedi perdão por tudo, Tae...

– Pediu sim. – Uma lágrima escorreu dos seus olhos e eu fiquei sem entender. – E agora sou eu que tenho que te pedir perdão por tudo. Me perdoe por te deixar sozinho e me aproximar mais do Baek, me perdoe por não conversar com você...

– Tae?

– Deixa eu falar? – Engoliu em seco e passou a chorar de verdade. – Me desculpe por não saber demonstrar meus sentimentos por você e me desculpe por fazer parecer que você não é o bastante para mim...

– O Baek foi fofocar para você?

– Que Baek, Jungkook? Ele não tem nada a ver com isso. – Fungou. – Eu não quero te deixar para ficar com ele e com nenhum outro alfa. Eu te prometo que vou me esforçar para te fazer feliz e demonstrar... – Ele respirou fundo. – E demonstrar que eu te amo. Eu prometo e eu vou cumprir.

– Não se preocupe com isso, amor... – Me senti confortável para chama-lo assim. – Eu sei que você tem o seu jeitinho e...

– Jungkook? – Me interrompeu de novo.

– Oi?

– Obrigado pelos sapatinhos e por estar aqui comigo. – Tae tirou os sapatinhos da sacola e me fitou. – Sapatinhos azuis... – Sussurrou e me abraçou muito forte, bem forte mesmo.

– Eu é quem devo te agradecer... – Deixei minhas lágrimas descerem pelo meu rosto e retribuí o abraço.

– E tem mais uma coisa. – Falou sério e me olhou bem nos olhos.

– O que?

– Obrigado por ser a minha Borboleta Azul.


Notas Finais


Twitter: @kimiejeon
Beijos.


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