Andréia Gambino
26 de novembro de 2017, 5 p.m.
Keanus ainda estava vivo, e conseguiu chegar à minha mansão mas não descobriu nada acerca desta armadilha. Tinha passado poucos dias do acontecimento e hoje eu teria um evento formal e eu sei que ainda não recuperei totalmente do rabo.
- Experimenta este! – um vestido preto é jogado na minha cara.
- Obrigada Mona, quanta delicadeza – digo e apanho o vestido no chão.
Hoje seria a gala de beneficência do ano, para ajudar os bombeiros dos Estados Unidos da América, sendo o tema deste jantar e gala o Great Gatsby. Todos os grandes empresários estariam no mesmo espaço para mostrar quem tem mais dinheiro e claro, quem tem uma maior alma caridosa.
Sintam a ironia.
Eu estava numa boutique, os designers seriam Tony Burke e Philip Armstrong de Londres. Eles preparam-me vários vestidos e eu escolheria qual eu gostaria de levar, assim podia ir a este evento com qualquer um que mais ninguém teria igual.
- Esse corpo, meu deus – Gioconda solta um gritinho de felicidade – Tu vais levar esse!
- Não – digo firmemente – Isto parece um fato de banho! – afirmo indignada e estou pronta para arrancá-lo do meu corpo.
O vestido era preto e cheio de brilhantes. A única coisa tapada que tinha era um pseudo fato de banho que porque o resto, da cauda e até nas mangas, era um tecido invisível. Eu gosto de me exibir mas não tanto, não tenho vergonha do meu corpo mas mas não sinto a necessidade de o mostrar para o mundo.
- Ele cobre metade do rabo! Este evento é único, tu vais arrasar! – Gioconda revira os olhos enquanto me interrompe.
- Querida, hoje vamos partir corações. Além disso o Bieber deve lá estar... – Mona lança o mistério e olho-a de modo cansado.
Eu não vivo para ele, porque tudo à minha volta tem que o nomear? Que porra.
- Podemos não falar dele? Por favor – peço a elas enquanto me olho ao espelho.
- Não podemos negar que vocês tiveram uma relação – Mona refere olhando para mim, parece que até está a olhar para a minha alma – Uma relação super conturbada e completamente doida, e nem sei como aconteceu sinceramente mas ele amava-te! E tu também! E vocês nem têm coração, olha as probabilidades!
- Tu sabes o que ele fez.
- Nós nem sabemos! Não temos a certeza! Eles nunca se explicaram, não ouvimos os dois lados! – esbrava e aproxima-se de mim – Ele nunca teve a chance de se explicar.
- Ele não se explicou porque para além das provas todas estarem contra eles, ele culpou-me pela morte do pai, o Jeremy! – esbravo contrariada encarando-a – As provas não mentem!
- Mas não matámos ninguém, e olha que quisemos bastante! Eu acho que ao fim destes anos todos e agora que estás no poder, acho que devias ouvir os dois lados. Para pensares melhor, e só depois poder vingar a nossa família – Mona fala e senta-se no sofá com visível raiva.
- Porque estás contra mim e contra as minhas decisões? Porque tanto o defendes? – grito e uma raiva aparece.
- Porque sabes o que me aconteceu! Porque não deixo que termines o quão raro aparece neste mundo! Por toda esta postura e barreira de uma pessoa sem alma, o que me move é o amor! Nós temos uma vida de merda, somos armas, nascemos para isso! Eu amava-o, ele era tudo de bom que tinha e foi-se! Nós não fomos feitas para amar e aconteceu, algo tão raro! É tão bom ser amada, é tão bom! E tu mereces, pelo menos alguém que sinta a tua falta quando partires! – vejo os olhos da Mona a humedecerem e um pequeno beiço nos cantos da boca enquanto grita.
- Tu sofreste! Isso não é de todo o que eu quero voltar a ter! Por isso não digas que vale a pena esse tal amor! – grito de volta e o meu peito aperta.
- Eu não vou responder mais nada, tu sabes o quanto é bom – Mona desiste e desvia o olhar – Não vale a pena, estás cega de vingança e nada que eu possa dizer pode te influenciar.
Não respondo. Dou-lhe costas e sento-me no outro banco longe do dela.
Ela tem razão. Mas a família dele matou-os e eu não consigo ver nada para além disso, é tão claro como a água.
Às vezes só quero correr e atirar-me para os seus braços que tanto me acalmavam. Poder sentir a sua respiração contra a minha enquanto o seu coração batia mais depressa, e cheirar o seu perfume de marca. Porque mesmo eu sendo uma merda e ele uma pior, conseguia achá-lo como a pessoa mais fascinante que já alguma vez tinha conhecido.
Eu queria chorar no entanto não tenho quase lágrimas, prometi que não iria chorar mais por ele mas às vezes o sentimento é tão forte que não me aguento.
Olho para as minhas mãos, também sinto falta daquele anel. Ele afastava as mulheres por mim, porque só me amava. E agora ele transa com várias ao dia. E isso também magoa mas eu já não sou nada dele.
Sempre que o vejo com alguma mulher uma raiva aparece, como se ele não tivesse respeito por mim e pelo que tivemos. Mas somos mafiosos, respeito e compaixão nem existe. Retiro-me dos pensamentos e troco de roupa.
- Vamos levar este – entrego o vestido para a empregada que se retira para o balcão.
Pagamos milhares de dólares e vamos para casa sem conversar.
Entro na minha mansão com o vestido e entrego logo à empregada para o pendurar. Vou calmamente em direção ao meu quarto e retiro toda a roupa que estava vestida no meu corpo, faço um coque no meu cabelo e visto um robe.
Chego à casa de banho e vejo que o meu banho já estava pronto, retiro uns sais perfumados e coloco na banheira, coloco também umas pétalas e toco levemente na água.
Retiro o robe, sem me encarar ao espelho, e entro na banheira, deitando-me. Os meus olhos começam a humedecer e sinto que já não vale a pena andar a fugir dos meus sentimentos. As lágrimas correm com rapidez na minha cara enquanto afundo na minha banheira. A minha maquilhagem borra-se toda e choro.
Sinto novamente uma raiva por estar a ser tão fraca que começo a pontapear a banheira como se melhorasse o meu estado de espírito. Fico cansada e soluço, colocando as mãos à cabeça derrotada.
Como é que eu ainda gosto dele?
Continuo a chorar até passar. Quando paro, saio da banheira e olho ao espelho. Eu estava uma miséria.
Limpo a cara e todos os borrões de maquilhagem existentes nela e coloco o robe, indo para o closet.
Decido que vou ouvir a versão do Justin e depois decido se me vingo ou não, acho que seria o mais sensato a fazer.
Margo já me aguardava com o secador na mão, sento-me e deixo-a no meu silêncio fazer a sua magia. O meu cabelo estava encaracolado e virado para um lado. Estava simples, como eu gosto.
Visto o vestido e com tantos brilhantes do vestido, não era necessário qualquer adereço, e calço os meus sapatos pretos também com brilhantes. Coloco na minha bolsa tudo o necessário e ouço a buzina, mesmo a horas.
Respiro fundo e vou em direção à um Rolls Royce antigo. Quando entro vejo Mona e Gioconda nos bancos de trás e sento-me ao lado delas.
- Então, tu sabes que eu vou-te empurrar para cima dele não sabes? – Mona avisa enquanto coloca o batom vermelho nos seus lábios.
Estava tudo normalizado, como se nada tivesse passado e nunca tivéssemos discutido naquela loja. É algo normal.
- Eu sei – dou de ombros e sorrio fraco.
- Espero que o jantar seja bom, estou cheia de fome – Gioconda refere enquanto inala a erva no baseado – Tomem, a noite vai ser longa e precisamos de estar calmas.
Pego no baseado e fumo, soltando lentamente a fumaça.
Hoje, estava a sentir borboletas na minha barriga.
Queria parar esta sensação mas é impossível.
- Hoje Humberto deu-me milhões para gastar. Vai ser interessante – Gioconda diz enquanto olha pela janela – Espero que haja daquelas viagens para leiloar, preciso de férias.
- E se houver leilões de pessoas? Eu vou leiloar num homem que seja gato, preciso de sexo urgentemente – Mona afirma enquanto lhe passo o baseado.
- Eu ainda te vou inscrever Andréia, talvez o Bieber faça as suas apostas para te levar a jantar – Mona solta um sorriso sapeca enquanto fuma novamente e Gioconda solta uma gargalhada.
Estas as duas só me querem mal, só pode.
- Seria muito interessante! – Gioconda junta-se a Mona na minha destruição.
- Além disso não podias reclamar, é para a caridade – Mona solta enquanto me sorri maliciosamente.
Retiro urgentemente o baseado da sua mão e fumo duas vezes seguidas para me bater forte. Eu estou em más mãos.
- Sem comentários. Eu mato-vos – solto enquanto abro um bocado mais a janela. Estava a ficar calor.
- Nós também te amamos Andréia, que querida que estás hoje – Gioconda solta cinicamente e a limusine pára.
Hoje Francesco não viria porque tinha “negócios” para fazer, como ele disse.
Um empregado abre a porta e os flashes acertam nos meus olhos, paparazzis disparavam as suas câmeras fortemente enquanto nós saíamos da limusine. Uma senhora alta e loira e bem vestida aproxima-se de nós enquanto pega no seu microfone e ajeita o cabelo com um sorriso gigante.
Credo.
- Muito Boa noite, eu chamo-me Hillary McCain e estamos aqui com as senhoras Gambino, este evento é um dos mais importantes deste ano! Como se sente Senhora Andréia, ao ser uma das convidadas VIP’s deste ano?
O microfone é colocado à frente da minha boca e a mulher olha para mim esperançosa. O homem da câmera foca a lente na minha direção e abro um sorriso falso, porém aos seus olhos verdadeiro.
- Muito boa noite Hillary, é uma honra estar aqui presente nesta gala tão importante para os nossos bombeiros que necessitam do nosso apoio mais que tudo. Farei de tudo a que está ao meu alcance para os ajudar!
- A senhora é tão caridosa!
- Por favor, trate-me por Andréia, até parece que sou velha!
- Claro! Obrigada pela sua atenção! Agora está a entrar...
Continuo a sorrir com Gioconda e Mona enquanto passo a passadeira vermelha até à entrada de umas escadas. Subimos e somos cumprimentadas por diversos empregados, que nos acompanham a uma porta preta e dourada com “Great Gatsby” em letras douradas.
A porta abre-se e olho admirada, estava tudo decorado como no filme.
Mona entra e pega no champanhe que está a ser distribuído pelos empregados e somos encaminhadas para uma das inúmeras mesas espalhadas pelo salão. O salão tinha até uma fonte. Cada mesa estava decorada com flores e arranjos amarelos, os candeeiros eram enormes e cheios de brilho e cada peça da mesa era constituída por diversos detalhes feitos à mão.
- Eles esmeraram-se este ano – Gioconda afirma enquanto se senta – Estou impressionada.
Eu assinto com a cabeça enquanto as pessoas iam entrando no salão.
Muitas delas olhavam para nós, para nós as três era normal sentir a inveja dos outros.
Acerca das pessoas, muitas já as conhecia das empresas milionárias espalhadas por Nova Iorque, políticos e socialites também compareciam. A meu ver ainda só faltava uma família da Máfia.
Ficamos numa mesa com mais três membros da família, mas era como se estivéssemos só nós as três.
- Ele ainda não chegou, devias acalmar esses olhos de falcão – sinto a mão de Mona no meu ombro e olho para a frente como se tivesse sido apanhado em flagrante.
- Olhem para a porta – Gioconda diz e o meu olhar direcciona-se para a porta instantaneamente.
- Aquele Ryan é um gato, nossa senhora me ajude a controlar as hormonas – Mona encosta-se na cadeira enquanto abana um leque contra a sua cara.
Tenho que admitir que Bieber sabe seduzir e vestir-se bem. O terno salientava o seu corpo, e o gel dava um toque de delicadeza no seu cabelo.
Desviei os olhos quando o seu olhar encontrou o meu.
Ele trouxe uma acompanhante. Será que está comprometido? Eu vou matá-lo.
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