— Eu acho que não tem muito o que falar… está tudo bem. Claro que está tudo bem. Quer dizer, se foi estranho pra você Ryan, então eu entendo e não precisamos falar disso ou mesmo fingir que aconteceu mas, pra mim, tá tudo certo. - Brendon continua
— Pra mim também, não é isso, é só… que queria ter certeza que não ia ficar estranho. Não sei, posso estar errado mas parece que você se importa com o que os outros pensam ou acham e… se quisesse fingir que nunca aconteceu pra mim tudo bem, eu só ia gostar de saber. Não ser pego naquela babaquice e na surpresa sabe, do “do que é que você está falando?”
— Eu entendo, é, é que, que, sério, eu disse que eu não ligo e eu não ligo. Não vou usar isso contra você, relaxa. Mas você sabe que isso tem que ficar só entre a gente, não é?
— Eu sei, da minha parte também, quer dizer…. não… é isso que eu quero agora e não tem porque a gente falar sobre ou contar pra alguém se não é nada demais. E vai ficar estranho, você gosta da Jenny e… o povo da escola é um babaca. - respondo.
— Eu concordo cem por cento, isso pode ser a nossa coisa, mas somos nós, né? É entre a gente e não tem pra que envolver mais ninguém. E não tem nada demais, você é só um amigo que estava sendo legal e, um beijo é só um beijo.
— Exato — eu digo.
— O que?
— Por um momento achei que você não ia lidar muito bem com isso. Quer dizer, pra mim não tem nada demais, nunca tinha beijado um garoto antes, mas eu sempre soube que tanto faz como tanto fez. É o meu jeito. E eu não sou popular, tô cagando pras pessoas, e se quiserem me encher o saco foda-se. Não vai ser nada que já não fizeram, aliás teriam até mais ‘motivo’ dessa vez se fizessem. E sei lá, não parece ser seu tipo de coisa. Seus amigos provavelmente me zoariam se soubessem que eu fiz, então fiquei pensando que você… não ia querer isso pra você. Seria até pior com você na verdade, eu realmente acho que ligo menos.
— Eles não vão saber, ninguém vai certo? Foi só uma coisa que aconteceu, não vai acontecer de novo, e vai morrer com a gente. Porque alguém saberia ou eu falaria pra alguém ou me importaria com uma coisa que foi só algo pra se divertir?
— Não sei, só queria confirmar mesmo… Se estava tudo bem.
— Está, está sim… com você tudo bem certo?
— Claro.
E eu acho que até o senhor Whiskas percebeu o silêncio estranho entre a gente dessa vez, porque ele ficou olhando pra mim e depois pro Brendon e depois pra mim de novo, como se estivesse vendo tudo que se passava entre a gente.
— Se está tudo bem, então por que as coisas estão… assim? — Eu tinha que falar ou perguntar alguma coisa. Odiava esse clima de coisa não resolvida, eu não conseguia ignorar essas coisas!
— Assim como?
— Não sei... tipo, você está com vergonha de mim. E não é que eu não acredito em você, é só que eu não sinto a mínima segurança nessa coisa toda ‘do eu não ligo’.
— Não quero falar nesse assunto.
— Qual é Brendon, sabe que eu não sou idiota… eu sou seu amigo.
— Eu sei. Não tem a ver com você.
— Seja lá o que for, é só falar… sabe que eu vou tentar entender. E posso tentar te ajudar também, a gente resolve.
— Não tem o que resolver Ryan, é só que… me dá um desconto tá bem? Eu ainda estou meio com vergonha de tudo e…
— Vergonha do que?
— Sério? Quer dizer, eu perguntei se você queria transar comigo e a gente quase fez isso e você ainda pergunta o porquê?
— Ah, se é isso não precisa se preocupar. Disse que não tem problema.
— Eu sei, mas não é como se adiantasse alguma coisa.
— O que tem de mais?
— O que tem? Você não vê nada de estranho nisso? Mesmo?
— Não. Talvez se a gente tivesse feito mas… não fizemos.
— Ainda assim… fatos falam pelos atos, certo?
— Huh, não exatamente, mas, de qualquer forma… Não ligo, mesmo. E se é sobre contar pra alguém, não vou.
— Não é sobre isso.
— É sobre o que então?
— Nada.
— É sobre a Jenny?
— Não… — ele quase parece ofendido.
— Sobre eu não ter aceitado?
— Não!
— Sobre o que é então, droga? Preciso saber.
— Por que?
— Porque me importo e quero te ajudar a resolver isso.
— Sei que só está tentando ser legal, mas de verdade, não é sobre nada...
— É por que você ainda quer?
— Não…
Tudo bem que foi o não mais mentiroso que eu já ouvi, mas o que eu ia fazer? Teimar com ele que era isso? Além de ser estranho, talvez ele só estivesse tentando ser legal e não um babaca com os meus sentimentos.
Eu acho que prefiro deixar assim.
— Bom, só pra dizer… não teria problema se fosse isso.
— Você não ouviu o que eu disse antes? Nunca mais vai acontecer Ryan, não precisa se preocupar ou mesmo se lembrar disso depois que for embora. Eu não vou, apesar de ter sido bom e podermos falar sobre isso sempre que quiser.
— Bem… então tá.
— Agora, vem cá senhor o Whiskas. Vem comigo. Vamos pra sua cama um tempinho. Vamos subir Ryan, quer jogar alguma coisa? Acho que tá meio cedo pra piscina e se a gente for sair depois… É que meus pais pediram pra nós esperarmos eles chegarem antes de ir, sabe? Caso a gente decidisse fazer algo fora de casa.
— Por mim tudo bem.
***
Acho que dá pra dizer que as coisas foram melhorando durante o dia, mas isso talvez dependa do ângulo de visão que cada pessoa.
Só que não foi nada ruim apesar sabe?
Foi o melhor fim de semana da minha vida.
Uma das coisas que eu me importava e ainda não sabia bem o porque era ter meu amigo de volta dessa minha “nova vida”, e o fato de que agora eu poder dizer que tinha me deixava mais feliz do que pinto no lixo.
Realmente senti que a minha amizade com o Brendon tinha voltado a como era antes, sabe? E agora eu por algum motivo sentia que o conhecia de novo, quase tão bem quanto antigamente (e talvez isso porque de fato nós não mudamos tannto assim)
Nós rimos, nos divertimos, almoçamos com os pais dele… Fomos andar pela cidade e pelo bairro e comemos lanche até quase passar mal (pegamos uma promoção muitoo doida de tipo, 6 lanches no combo) e nos entupimos de sorvete…
Foi bom sair por ai, tomar um ar, andar um pouco de novo.
Sentamos numa praça onde os garotos geralmente andavam de skates e ficamos brincando e fazendo nada juntos.
Senti falta disso. Andar atoa por esse lugar.
Era bom.
— Quer beber alguma coisa?
— Tipo o que? — respondo
— Uma cerveja, uma ice… uma garrafa de vodca. Sei lá, você quem escolhe.
— Eu, não sei se estou afim.
— Eu estou afim. Ia te levar num lugar super legal, mas acho que eles fecharam agora.
— Que lugar Brendon?
— É meio que um bar noturno mas, não é bem noturno.
— Eu odeio... festas?
— Eu sei, mas não seria festa poxa! Você estaria comigo. Você tem que viver Ryan, parar de ser focado. Eu quero fazer alguma coisa louca.
— Coisa louca?
— É, sei lá. Ah droga, pena que você não gosta muito do pessoal. A gente podia ir na casa do Jake, sempre tem festa e gente na casa do Jake. E potencialmente, cigarros alternativos se é que você me entende.
— Eu não gosto dos seus amigos?
— É ue.
— Tá mais pra eles não gostarem e botarem a gente pra fora se eu aparecer com você. Se não fizerem isso é porque provavelmente seria o suficiente pra matar eles de susto antes, ver tipo, o gato e o rato andando juntos.
— Eu sou quem?
— O gato. Obviamente.
— Não sei porquê. Não tô vendo muita conexão.
— E nem precisa. Moral da história: não daria certo.
— Tá bem, então vamos comprar bebida e alguma coisa pra relaxar.
— Se sua mãe perceber…
— Ela não percebe Ryan, nem meu pai. Não se preocupa, nós somos bons o suficiente pra disfarçar e eles sempre estão ocupados de domingo quando saem. Além do mais, se perceberem, não vai adiantar nada porque vai ser tarde demais.
— Você sempre inventa algumas coisas assim do nada mesmo?
— É, não se lembra?
— Sem motivo?
— Tem um motivo, eu quero fazer alguma coisa doida oras! Quero fazer alguma coisa excitante. Tipo correr da polícia ou pular de paraquedas.
— Você exagera um pouco as vezes. Com certeza.
— Você é meu melhor amigo, estamos tendo o melhor fim de semana de todos os tempos depois de décadas sem se ver, e você tá reclamando?
— Mas estamos juntos agora. Curtindo e nos divertindo
— Mas falta só mais umas 5 horas pra você ir embora! A gente tem que aproveitar!
— Você tem noção do quanto dá pra fazer e do quanto acontece em 5 horas?
— Não importa, vou comprar uma vodka, um whiskey, e alguma coisa mais divertida.
— Brendon…
— O que? Você vem ou não vem? Só to tentando aproveitar meu tempo poxa! Ou isso é diferente demais pra você? Passa muito longe do senhor certinho?
— Sabe que eu não ligo e não dou a mínima pra essas merdas.
— Então o que foi? Nunca bebeu antes?
— Claro que eu já bebi antes, não é isso… — Me ouvido doi e eu tento massage-lo, enquanto eu só deixava meu corpo idiota se contraia por instinto. Isso… não me fazia sentir bem. — Só não vamos exagerar, tá bem? Porque… eu tendo a exagerar, eu sou como um viciado… exagero em qualquer coisa que eu vou fazer.
— O que aconteceu? Tá sentindo dor em algum lugar ou coisa assim?
— Não é isso, é que… meu pai e bebidas, e gente bêbada… e eu… tá no meu sangue entende, eu não posso… passar da linha. Eu não quero ser como meu pai.
— Eu… eu esqueci, desculpa. — Ele se senta do meu lado de novo, parecendo amigável — Vamos pensar em outra coisa.
— Não me trata feito criança. Eu estou bem Brendon, de verdade, não é… nenhum gatilho ou coisa assim. Eu só nunca quero ficar bêbado na minha vida e gente bêbada me assusta.
— Você disse que já bebeu…
— Eu já bebi, mas beber não é ficar bêbado. Eu sei o meu limite mas, se eu embalar e ninguém me dizer que preciso dar um basta, talvez eu continue, e se eu ficar bêbado uma vez eu tenho medo do que isso me faça sentir ou faça comigo. Eu não quero ser igual o meu pai pra pessoa que eu amo Brendon.
— E não vai ser. Sei que não. Você é uma boa pessoa.
— Vamos então?
— Não quer fazer outra coisa? Mesmo? Pra mim não tem problema.
— Só não fica bêbado perto de mim e me deixa ficar bêbado que vai ficar tudo bem.
— É disso que eu estou falando! Vamos a caminho da diversão!
Nós fomos em um bar que Brendon parecia conhecer todo mundo, e até que realmente não compramos muita bebida. Pegamos uma vodka e um maço de cigarros.
— Você não fuma mesmo? Nem por esporte? — ele pergunta
— Nah, eu não vejo graça.
— É uma pena. Eu compraria mais, deixei os meus escondidos em casa.
— Por que faz isso?
— Já disse, por que eu quero. Dá uma impressão boa, é legal. E eu gosto de vez em quando.
Não bebemos muito, e até que foi legal. Andamos rindo e brincando pelo caminho, e minha cabeça estava leve mas eu sabia que eu estava e ia ficar bem.
Como sabia?
Porque Brendon já tinha terminado mais da metade da garrafa.
— Relaxa, eu vou ficar bem.
— Não estou dizendo nada demais. E não duvido, quer dizer, pelo tanto que eu vi você bebendo na escola, deve estar acostumado.
— Blablabla tá me julgando blablabla. Achei que tinha provado que estava bem…
— Provou. Não é nada demais. Só disse mesmo. Confio em você. — digo.
— Quer ir pra um lugar doido?
— Qual outro lugar doido brotou na sua cabeça dessa vez?
— Você não vai gostar muito, mas não vai ter pessoas ou música alta. Vulgo, não vai ser uma festa.
— Então me diz.
— Se eu disser, não vai ter graça
Não fazia ideia do que ele ia decidir, e acho que o Brendon ele só queria poder fazer o que desse na telha na telha dele, e de certa forma era animador e divertido pra mim.
Eu queria fazer alguma coisa incrível com meu melhor amigo. Poder criar memórias doidas de novo pra eu guardar pro resto da minha vida, sentir que eu tinha uma pessoa que eu tinha um relacionamento quase tão intimo quanto um relacionamento podia ser...
Sabe, alguém que a gente pudesse falar que fazia de tudo junto. Alguém pra não querer mais ninguém, pra não precisar de mais ninguém.
Um verdadeiro melhor amigo.
Sabe, a pessoa que realmente ia sempre estar lá com você e contar com você e ser como o irmão que eu nunca tive.
Sinto que Brendon e eu éramos assim antes. E uma das coisas que eu mais odiava sobre ter me mudado era justamente sentir que eu não podia ou não ia ter isso de volta.
Pensando agora, isso faz tanto sentido… como não percebi ou cheguei nessa conclusão antes? Quer dizer, eu nunca precisei de muitas pessoas. Eu não sou alguém que se sente bem tendo toneladas de amigos e pessoas na sua casa toda hora, eu sempre fui um cara que só sentiu necessidade de ter poucos amigos.
Um número pequeno pra mim estava ótimo.
Mas eu me importava com isso ser de verdade, com esses amigos estarem do meu lado e poderem contar comigo e eu com eles, e pra sempre sabe? E quando eu era novo, parecia que a opção mais óbvia e segura e quem talvez fosse a única pessoa que eu conseguiria me abrir de verdade era o Brendon.
Qualquer um pensaria isso, qual é. Crescemos juntos, parecia que só… era o caminho das coisas.
Ai eu me mudei e, bam.
Provavelmente por isso me importei tanto em, não sei, ter ele de volta como um dos meus amigos ou pelo menos terminar isso de uma forma certa.
Agora que tudo só parecia tão bem quanto antes, eu… não conseguia evitar o sentimento de que eu queria que ele fosse meu melhor amigo e que ele parecia a minha única e mais segura opção viável.
E eu 100% sou inseguro com conseguir conhecer e criar vínculos de verdade com novas pessoas. Deus, eu sou inseguro até sobre se eu sou legal ou não. A maioria do tempo acho que as pessoas só me aguentam porque são obrigadas ou educadas, por que eu sou um babaca egocentrico idiota que tem um ego grande demais pra sua idade.
E eu julgo e crítico demais as coisas, sempre. Mesmo sem querer. Quando vejo, já falei todas as porcarias que não devia falar.
E eu queria que… Brendon pensasse em mim da mesma forma. Que ele também quisesse que eu fosse o irmão que ele não teve.
Só que o Brendon era legal, conhecia um monte gente, ele podia… me substituir com estalar dos dedos (se ele quisesse, é claro. Se abrir era uma escolha).
Eu não estava confiante sobre isso acontecer, pelo menos não até as coisas derem certo entre a gente de novo.
E agora eu já sentia, embora isso tivesse tipo, 99% de chance de ser ilusão da minha cabeça, que se eu perdesse a minha amizade com o Brendon por algum motivo ia doer mais do que eu ia conseguir lidar.
Pelo menos a curto prazo.
O porque eu já considerava o laço que a gente tinha quase tão forte como antes, como se os últimos 4, 5 anos não tivessem existido? Vai saber, minha cabeça era iludida e adorava sofrer.
— Droga — ele diz, e nem tinha percebido que estávamos andando aleatoriamente até agora. Acho que fiquei preso demais na minha cabeça.
— O que foi?
— Eu… acho que eu peguei o caminho errado sem querer! Droga! Eu confundi-
— Você se perdeu? — Eu rio, pegando um pouco da bebida que estava com ele dando um gole.
— Eu acho que sim?
— Você tem certeza que já não está bêbado?
— Claro que eu tenho, para de tirar sarro de mim tá bem! Saco, a culpa não é minha, eu só tenho saido com os caras da escola no último ano.
— Bom, qual o seu endereço? É só colocar no Google Maps e tá tudo certo.
— Não, eu não me perdi assim, é..- eu sei voltar pra casa, só peguei o caminho errado pra onde eu queria ir. Confundi os lugares.
— Ah, então não é nada demais poxa. É só a gente achar outro lugar pra ir ou, voltamos pra trás e pegamos o caminho certo.
— Meio que… estamos muito longe agora. Nunca daria tempo. Chegariamos lá e teriamos que sair em 15 minutos.
— O que era?
— Tem um amigo meu que ganhou um apartamento do pai dele e ele transformou num estúdio. De produzir música sabe? E ele falou onde deixa a chave pra todos os amigos. Tipo, temos passe livre pra usar lá quando quisermos. A acústica é ótima, melhor lugar pra beber e fingir estar numa festa enorme. Ele botou um daqueles globos coloridos, mas não igual o meu, aqueles de verdade. Pra imersão sabe, quando for produzir ou alguém brotar lá pra produzir algo que tem uma vibe mais eletrônica/disco.
— Bom, a gente pode ir outro dia. Não me importo, mesmo, vamos pensar em outra coisa. O que tem de legal por aqui?
— Aqui tem, deixa eu ver, tem o bar do Jonathan mas melhor não, tem o clube 88 mas também melhor não e provavelmente está fechando, tem-...
— Gostei desse último. Parece legal. O que é?
— Não…
— Se você pensou ao invés de falar então é porque pode ser legal.
— Sério, não faz isso comigo Ryan — ele ri meio alegre demais, e suas bochechas pareciam mais vermelhas agora. Não vermelhas de vergonha sabe, vermelhas de calor e bebida.
Mas ele claramente não estava bêbado ainda, e ao julgar pelo tanto de álcool que já restava nem ia estar. Acho que Brendon conseguiu acabar com quase tudo só no caminho.
— Que foi? — Rio também.
— Você não quer saber.
— É muito ruim?
— É meio ruim. Coisa dos babacas que andam comigo, acho que você diria.
— Mas você ia gostar de fazer isso?
— Acho que sim, eu… ia.
— Então vamos ué.
— Você não sabe o que é.
— Você não faz muito o tipo perigoso fora da lei Brendon. Não em situações e experiências, pelo menos. Não deve ser tão ruim. E se você acha divertido, provavelmente eu vou também. Sabe como eu sou, e não venho aqui faz tempo. Vai ser legal, se eu não me jogar de cabeça nas coisas ou me abrir pra fazer coisas que não conheço, como vou saber o que tem de bom agora por aqui e aproveitar? Porque as coisas com certeza mudaram desde que fui embora.
— Eu… quero dizer sim. Quero fazer isso.
— Então o que estamos esperando?
— Parece até que trocamos de lugares… enfim, só… você promete que não vai me odiar, não importa o que aconteça? Promete que não vai ser idiota comigo? — Ele parecia quase sério agora, e embora não estivessem lá tão fixos quanto estariam normalmente, os olhos dele só pareceram tão tristes… — Isso é importante Ryan, você precisa me dizer que vai entender, mesmo que seja impossível.
— Huh, parece o tipo de coisa que eu não entenderia?
— Não, você é bom, na verdade eu já sei que você entende mas, preciso que diga. E mesmo se você tipo, não entender e achar ridículo ou sei lá, for demais pra você, só não faz nada também? Só me ignora e me esquece e nunca mais fala comigo se é o que você precisa, mas não faz nada ruim ou fala nada tá bem? por favor.
— Tá, sem problemas. Não acho que ia fazer qualquer coisa mesmo mas, claro. Você sabe que eu sou a pessoa mais de boa do mundo. Juro que faço as coisas que você pediu.
— Não esquece tá bem? E finge que você tem 18 Ryan.
Se eu fiquei confuso? Sim! Mas foi tudo tão meio que rápido e eu estava tentando processar toda aquela coisa nova que eu fui meio que lerdo demais.
Brendon me puxou pela mão até o outro lado da rua, e me arrastou por alguns passos até entrarmos por uma porta de vidro enorme na rua de trás.
Não vi nada mas o lugar parecia bonito e bem chique, com lustres e plantas e um balcão, e mais aquilo pra processar meio que fez minha cabeça travar mais ainda e devo ter só ficado olhando pro nada feito um bobo, quase babando enquanto tentava entender tudo dentro da própria cabeça.
— Craig! Fala cara! Tudo bem?
— E ai Brendon! Como sabia que era eu aqui hoje?
— Turnos de domingo certo? Os do Michael são de sexta e sábado. Só você tem permissão de cuidar desse lugar maravilhoso nos domingos e segundas. Quem mais teria capacidade pra esse papel incrível?
— Garoto esperto… e o que temos pra hoje? Onde estão os outros?
— Ah, sabe, os outros… já estão ocupados. Festa, sabe como é… e meio que não queríamos ficar de fora mas a casa já estava cheia se é que me entende, então eu e meu colega aqui decidimos vir pra cá. O hotel-motel mais incrível da cidade.
— Ah cara, eu entendo. Quer um daqueles quartos duplos?
— Você leu minha mente! Tem como arranjar um pra mim?
— Claro! — Brendon entrega um documento que parecia uma identidade pra ele, mas eu podia jurar que vi outra identidade na carteira dele também.
— Sabe como é, talvez a festa fique mais legal e, ele é novo aqui, esse meu amigo. — Brendon sussurra — veio da Austrália. É que meio que meu primeiro de 4 grau. Viveu com a avó desde criança. Quero fazer o cara viver a vida e criar coragem e preciso ficar de olho, porque vai que ele se perde.
— Totalmente entendo. Vou pegar o quarto 708 pra vocês. E, ele tem mais de 18, certo?
— Claro que ele tem mais de 18. Você tem mais de 18, certo Ryan?
— Ah-, uhuum.
— Maravilha. Divirtam-se. É só subir. — ele entrega um cartão magnético
— Quando as garotas chegarem não vai estragar nossa festa fazendo elas se apaixonarem por você, hein? Estou de olho, Craig.
— Fica esperto, menino Roscoe.
Quando chegamos no elevador, acho que eu ainda estava tentando entender o que estava acontecendo mas pelo menos meus sentidos e caminho entre cérebro e boca pareceram destravar.
— A gente veio pra um motel? Brendon, como é que você conhece e sabe onde fica o-
— Sssssh. E eu só sei tá bem, os caras costumam vir aqui o tempo todo. E eu também.
— Como você entrou? E… Porque ele te chamou de Roscoe?
— Identidade falsa. Angelo arranjou pra mim no começo do ano passado. E você acha que eu usaria meu nome verdadeiro? Dois Brendons podem existir e ser uma coincidência legal se forem parecidos, agora dois Brendon Urie? E se alguém descobrisse?
— Porque um monte de garotos de 16 anos viriam pra um motel?
— Sério? Você não consegue pensar em nada? Todo mundo tem pais e casas problemáticas, ai as vezes a gente saia de um lugar e todo mundo tinha um par, então…- Acho que foi por isso que do nada eles ficaram tão preocupados em arranjar identidades falsas do nada.
— Você disse que-
— Não é porque eu vinha que eu fazia alguma coisa, Ryan. Só queria me sentir normal, e se eu fingisse fazer igual então… e ninguém repara, mesmo. A maioria das vezes ou eu assistia TV com alguma garota e ela nunca mais nem olhava pro meu lado, ou então inventava que estava começando a ter ressaca com uma dor de cabeça horrível ou que estava bêbado demais pra parar acordado numa cama. Dava certo.
— Você nunca pensou em tentar?
— Eu tentei tentar fingir que queria tentar. Não deu certo. Foi estranho. Acho que ficou óbvio que eu não queria e não estava confortável. Ela deu uma desculpa qualquer e fingi que ela tinha acertado, mas ai só precisei ficar na tortura de fazer parecer que eu tava gostando de ver ela
— Os outros caras….-
— Eles só querem se divertir. Foram o que, só algumas vezes… acho que todo mundo teve sua primeira vez aqui. Eles, no caso. Estavam curiosos, tinham a garota, e a ideia é sexy poxa. Se não fosse isso provavelmente nunca teriam conseguido, e não dá pra julgar a curiosidade. E acho que eu sou o mais novo. A maioria deles já fez 17 ou vai fazer 18 esse ano.
— Mas você também disse…-
— Eu sei, mas eu fico sozinho, ok? Eu venho para cá quando quero ficar sozinho e fugir de todo mundo e quando quero relaxar. Eu só finjo que estou esperando alguma garota. Ninguém nunca repara, e são treinados pra não reparar. Seria rude e meio, não sei, nojento. Pra pessoas normais pelo menos. E eu gosto, quando preciso ficar sozinho me ajuda muito, tem TV e uma cama e banheira com hidromassagem e chuveiro a gás. Dá pra pedir comida e não tem contato com ninguém, tem internet… não tem melhor lugar pra matar a bad. E não é tão caro. Sem contar o Craig sempre é bonzinho e dá vários descontos e comida de graça.
— Você vem pra um motel pra ficar sozinho?
— É. E eu não pensei que você acima de todo mundo fosse ser tão idiota sobre isso.
— Não estou sendo idiota sobre isso, só… estou processando. Na verdade eu, achei… bem legal e interessante e bem… eu.
A porta do elevador se abriu, e estávamos num corredor quase tão luxuoso quanto o hall, mas só com uma porta.
— Pensei que isso seria tipo, um hotel também?
— E é. É um hotel e motel ao mesmo tempo. A parte de hotel é no outro lado do prédio, que o outro elevador leva. A partir daqui ninguém vê a gente, ouve a gente, ou vai procurar a gente.
— Isso é legal mas, o que a gente veio fazer aqui mesmo?
Tantas coisas estavam se passando pela minha cabeça agora, mas eu com certeza eu não tinha bebido o suficiente (mesmo sentindo a bebida no meu sangue) pra lidar com isso e não ficar nervoso.
Porque eu pensei sabe, no elevador, em perguntar pro Brendon se ele era gay ou coisa do tipo. O jeito que ele falou, o jeito que ele usou as palavras… e sabe, era no bom sentindo, quem era eu pra falar, só queria perguntar pra ele poder se sentir bem e caso fosse isso eu dizer que isso não mudava nada entre a nossa amizade.
Mas ai agora, eu só conseguia lembrar da noite anterior, do que ele tinha pedido, e eu tinha escapado de alguma forma brilhante mas mesmo assim eu sabia que não seria tão fácil. Não tinha tinha fechado muitas coisas ainda pra eu ter certeza que esse assunto nunca voltaria
E agora, bem, conhecendo o Brendon como eu conhecia, ele provavelmente acharia que já fazia tempo o suficiente pra eu não achar que isso não era um simples capricho do destino ou ele estava animado demais pra estar fazendo aquilo porque queria de verdade.
Mas era mesmo? Claro que não. Eu acho que não, não pra mim, mas talvez seja porque essencialmente eu… só quero que seja qualquer outra coisa.
Porque eu estou nervoso sobre isso, nervoso sobre como isso faz eu me sentir, eu quero, eu quero demais, mas é justamente isso que me faz sentir nervoso.
E eu não quero machucar ninguém e nem sair machucado.
Eu, eu não sei, se for que ele quer, bem, ficar comigo, eu quero, eu realmente quero, mas eu não sei se consigo porque isso me deixa tão nervoso porque e se ele não gostar? E se for só uma forma dele usar nossa amizade e depois me deixar sozinho? E se eu me apegar e isso não for nada pra ele? Porque vai significar alguma coisa pra mim, já significa, e ele tem aquela garota e...
— Ryan?... Você tá legal? Não tá bêbado, tá?
— Não, não, eu to bem, é só-
— Eu só queria ficar você... Quero que você me beije. Quero que você transe comigo.
— Brendon… — Ele passa os braços dele envolta do meu pescoço juntando nossos olhares e fazendo nossos corpos quase se abraçarem, e eu conseguia sentir as mãos e braços quentes e quase suados contra a minha pele. Ele não estava bêbado, mas ainda parecia vermelho e meio quente.
— Eu sei, eu sei o que vai dizer, “já falamos sobre isso” mas ontem não é hoje tá bem? E pode ter sido hoje de madrugada mas não importa, porque eu acho que eu gosto de você e acho que se não for hoje e não for assim nunca vai acontecer, e eu quero que aconteça. Realmente quero. Nem que se for uma só vez, eu acho.
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