“Vai ficar bem mesmo?” Pergunto por mensagem pro Brendon, porque eu estava preocupado ué. Era válido certo? E pra ser honesto, também não queria ficar sem ele.
Ele balança a cabeça em resposta, e nossas mãos procuram uma a outra de forma meio escondida, aproveitando o pouco tempo que ainda tínhamos no carro.
Eu beijava ele? Acho que não, não sei, era melhor falar primeiro não é? E não queria comprometer o Brendon também, vai que os pais dele vissem se eu desse um outro beijo de tchau nele… mas acho que ia dar tudo certo.
Brendon e minha mãe conversavam sobre alguma coisa da música que estava tocando na rádio e acho que a Ali estava falando com ele antes, e só tento aproveitar tudo até nós chegarmos.
Quando Brendon não estava mais lá, claro que eu já fiquei com saudade. Tinha sido tão bom ficar lá jogando com ele e tudo o que eu aconteceu e ah cara, sério, eu só estava tão bem que tinha dado tudo certo entre a gente, estava tão feliz que nós estávamos juntos de verdade agora..
— É bom que você esteja aproveitando Ryan...! — minha mãe diz.
— Pois é… é bem legal ficar com o Brendon…
— Você queria tanto ficar aqui por causa das amizades… pareceu até a Ali não querendo vir, mas só que pior. — nós todos rimos — viu só? disse que ia dar tudo certo Ry.
— É… fazer o que.
— Brendon saiu do castigo? Que você me tinha dito. — ela pergunta.
— Ah, eu… sim, é que… ah, não era bem castigo, não sei, quer dizer… eu só estava curioso.
— Esse Ryan é fofoqueiro mesmo, que horror oh seu chato — Ali enche o saco.
— Eu não sou fofoqueiro!
— Ele só queria perguntar umas coisas florzinha — minha mãe diz a Ali. — falando nisso, e o Colin filha?
— Ele foi na casa do primo dele hoje, eles iam andar de kart com a tia e o tio dele — ela responde.
Ah é… tinha isso também. Minha mãe não ligou muito da Ali e do Colin sabe? A reação dela foi basicamente como a minha. Estava feliz por ela estar se dando bem na nova escola, fazendo novos amigos... ela não ficava muito feliz de não conhecer tanto o Colin, mas estava toda disposta e animada pra fazer isso entende? Ela também disse que super levaria eles pra sair quando quisesse, que faria cookies quando eles quisessem vir pra casa depois da escola assistir um filme…
Quer dizer, era o certo a fazer. Deixe as crianças aproveitarem a vida poxa. E a gente nunca deixaria de sabe, fazer parte da vida da Ali. Conhecer os amigos dela, estar com ela… era isso que mães e irmãos faziam não era? Participar e apoiar e estar lá pra ela não importa o que era parte importante da coisa principalmente pra ela porque ela ligava pra isso. Tudo bem que a gente não é lá uma família gigante, mas mesmo que sejamos só nós temos que fazer nosso melhor um pro outro né?
— Que legal! — minha mãe comenta.
— Sim! Eu não gosto, mas parece divertido e acho que ele gosta
— Talvez a gente pudesse ir um dia.
— Eu topo — digo — eu adoro, amava quando a gente ia fazer isso quando eu era criança.
— Pois é, pena que lá em Pine bay não tinha nenhuma pista de kart ou coisa assim por perto… não tinha nem pista de boliche né? Que chato! Nunca tinha percebido como aquele lugar era chato.
— Se vocês querem ir eu vou também mas, eu acho que não ligo muito não.
— É que você era pequena a última vez que foi Ali — eu começo — você provavelmente vai gostar se for agora.
— É, vocês eram bem novos antes, criança geralmente não gosta muito dessas coisas mesmo e aproveita tudo de outra forma… agora com certeza só vai ser mais legal pra gente fazer.
— Verdade né, eu nem conseguia dirigir o carrinho. Lembro que ia no colo da mamãe.
— Viu. To falando.
— E você Ryan — minha mãe me pergunta — ainda tem dois dias pra ficar em casa praticamente, vai sair com os meninos?
— Eu acho que não, e nossa, as aulas só voltam na terça né? Jesus, amém feriado prolongado, eu achei que voltava amanhã! Mas de qualquer jeito acho que não, eu… todo mundo tá cansado da festa e tudo mais, acho que ninguém vai querer fazer muita coisa e acho que quero ficar em casa. Tá me expulsando é? Se bem que…- — percebo que talvez tenha ficado um pouquinho distraído demais e acabei falando um pouquinho além do que devia, mas agora já tinha ido.
— O que?
— Se o Brendon me chamar pra ficar na casa dele ou ir lá em casa de novo não tem problema né?
— Não, mas… vocês meninos acabaram de se ver. — ela responde, parecendo um pouco confusa e desconfiada (mas talvez não necessariamente no jeito ruim da coisa? Não sei)
— Eu sei… é só que, sabe como é… amizade. — tudo que eu pensava era que eu ia poder ter mais tempo com ele e sendo honesto, que ia poder ter certeza de que ele estava seguro e feliz… nem por mim ou mesmo pela gente sabe, mas o Brendon não merecia ser infeliz, não merecia não ter ninguém que o apoiasse ou lutasse por ele e quem ele era ao lado dele — E aanh... eu queria dizer uma coisa eu acho mãe… anh, basicamente, eu sou gay.
***
— Ry, o que? — minha mãe pergunta, mas surpresa do que não sei o que.
— Huh, é, eu sou gay?... Eu gosto de garotos…? — Minhas bochechas com certeza deviam estar um pimentão e agora que eu já tinha dito eu me sentia bem tímido. Vê se pode — E na verdade, eu… eu gosto do Brendon. Gosto mesmo.
— Você é gay? — minha mãe olha pra Ali, esperando uma reação.
— Ai não me olha assim, eu já sabia, eu descobri sem querer! — ela responde.
Eu coço meu cabelo não sabendo se ficava nervoso ou mais tímido ainda, e minha mãe diz
— Você nunca disse nada...!
— Ah, é que porque pra mim não fazia diferença e eu nem ligava em descobrir ou não… e, não conta pra ninguém de mim e do Brendon, por favor... porque ele gosta de mim também.
— Ryan, meu deus…!
— Tá brava comigo?
— Claro que não filho, mas porque não me disse antes?... Não acredito que você guardou isso esse tempo todo, você e o Brendon podiam ter me dito de vocês…!
— Não tá surpresa sobre mim?
— Por que eu ficaria Ry? Eu acho até que já sabia, mas mesmo assim… eu sou sua mãe seu bobo, eu vou amar você, não importa o que. Mesmo se você gostar de meninos. Você ainda é o mesmo Ryan não é? Ainda é o filho que eu amo tanto. Então.
— Mesmo mãe? Tá tudo bem?... — Pergunto inseguro, porque óbvio que eu estava inseguro. Parecia que eu nunca tinha pensado nisso antes, que simplesmente disse, e isso me apavorava como se eu tivesse dito uma coisa que não devia dizer.
— Claro que está. — ela bagunça meu cabelo rapidinho porque estava dirigindo. — Eu sempre vou amar vocês dois… A gente conversa melhor sobre isso depois mas, o Brendon é um garoto tão doce!
— Eu gosto dele também
— [...] Fico feliz que você esteja com uma pessoa realmente boa Ry… no fundo, é isso que importa.
Ficamos jogando conversa fora depois disso, mas claro que o assunto até chegar em casa acabou sendo eu. E foi legal porque eu queria saber mais sobre tudo.
Minha mãe disse que ela sempre pensou que talvez é, eu fosse gay, mas ela nunca ligou de perguntar ou me pressionar sobre isso, e eu namorava meninas e tudo mais e ela ficava, “bem, ok, mas se um dia ele me dizer que sua orientação sexual é outra, tudo bem” porque ela disse que pra ela não fazia diferença, ela não tinha que ligar o que eu fazia com a minha vida amorosa.
Eu concordava.
Mas ainda sim ficava meio desconfortável.
E não sei, obviamente estava tudo bem, mas… ainda parecia que tinha algo errado. Não sei se era medo meu, se era ansiedade, mas sabe, eu só me sentia um pouco mais exposto, quase um milhão de vezes mais tímido, imaginando o que estava passando na cabeça da minha mãe sobre mim agora (porque afinal a Ali era um pouco nova pra entender tudo eu acho, eu _acho_) e a ideia de que talvez alguma coisa fosse mudar ou eu… não sei, fosse perder o amor que eu tinha da minha mãe, só me deixava bem mal.
Eu já perdi um pai e tive que lidar com isso, porque teria que acontecer com os dois? Isso ia acabar comigo se acontecesse.
Minha mãe e a Ali eram as coisas que eu mais me importava no mundo.
E não sei, talvez eu não estivesse louco, Tinha mesmo algo “errado” com a minha mãe, e estava com medo do que podia ser mesmo ela honestamente parecendo verdadeira em estar bem comigo e com tudo tudo.
Quando chegamos, nem demorou muito pra Ali ir dormir. Não deu pra gente conversar sobre o Brendon (o que eu sei que ela queria, com certeza) mas acho que tudo bem. Pelo que eu entendi, ela só estava casada mesmo. Caiu no sono que nem viu depois do banho.
Eu inventei que estava cansado também por causa do meu resfriado, já que ainda estava com medo e não sei se queria enfrentar o que poderia vir.
Ai só estava lá no quarto, fui ver os grupos que eu tinha nos aplicativos de mensagens (que tinha tipo, 3 dias de mensagens atrasadas e umas 500 outras mensagens não lidas) e minha mãe entrou no quarto com a aquela cara de “podemos conversar?” uns vinte minutos depois.
Mas no bom sentido, sabe? E ela me trouxe um chá e um pedaço de bolo, então como podia recusar.
— Devia ter levado uma blusa pra festa Ry… nós nem lembramos.
— É, nem passou pela minha cabeça também — eu pego o chá e o bolo — ‘brigado mãe.
— Então, você e garotos né… — ela sorri cruzando as pernas encima da minha cama, como se fosse uma das coleguinhas de 11 anos da Ali — e você e o Brendon!
— É. eu acho que sim… — Eu estava super sem jeito e meio preocupado sendo sincero — Você não liga mesmo mãe?
Ela me dá de olhar super amigável — Não Ry, tá tudo bem... Olha, esse tipo de coisa, eu sei que a gente não escolhe. Eu com certeza não escolhi gostar de homens. Porque você escolheria? Eu acho incrível que você esteja feliz, que esteja com quem ama, que sabe quem você é e que tenha chegado ao ponto de ter coragem de falar sobre isso… significa muito.
— É, eu acho que sim… e valeu mãe…
— [...] mas eu ainda queria falar com você sobre uma coisa.
— Camisinhas? Explicar como os bebês são feitos e dizer que tenho que ter cuidado para não engravidar ninguém? Acho que a gente já teve essa conversa quando eu era criança Dna. Rosalie. — falo brincando, pra descontrair. Às vezes quando eu ficava nervoso, eu começava a me esconder atrás de coisas engraçadas.
— Tão crescido… — ela ri — que nada, eu confio que você é responsável… cabeção.
— O que então? — pergunto nervoso.
— Você tem certeza disso Ry?... — ela parecia mais séria agora — Não estou dizendo no sentido pessoa babaca ok? Eu juro. Se você falar “Sim mãe, eu tenho certeza que gosto de meninos” então tudo bem, mas, não sei, se você estiver confuso, meio com dúvidas sobre isso, e não estou dizendo que você está ou que é assim com pessoas LGBT certo, é só que eu… eu me preocupo filho. Não quero que você se machuque e sei que não estou muito aqui… Assim, eu com certeza faço meu melhor e vocês meninos sabem que eu amo vocês, mas… se quiser conversar, se quiser ver alguém que entenda de orientações sexuais pra te ajudar, não sei… alguma coisa assim pra te dar uma força, sabe? Porque sinto eu não estive muito aqui, e você guardou o segredo e lidou com isso sozinho, fico pensando se não quer conversar com alguém, se estive lá o suficiente também pra ser sua mãe e sua amiga, e não necessariamente conversar comigo porque sei que pode ser estranho, mas… alguém. Que vai te respeitar e te fazer sentir aceito não importa o que, sabe?
— Eu certeza mãe… acho que eu tenho desde quando era criança.
— Tudo bem então — e ela pareceu ter falado a verdade, sorrindo pequeno.
— [...] mas não sei, talvez seja legal conversar com alguém.
— É, eu imagino… não te julgaria por isso. E sabe, esse é outro ponto que eu queria falar com você Ry… Eu amo você filho. Você, o Brendon, vocês podem comigo pra tudo, sempre. Quero que vocês sejam o mais feliz possível, mesmo. Não tem nada mais que eu poderia desejar. Vocês sempre vão ter eu, a Ali, mas… sabe que isso significa que muita gente não vai te aceitar como é, não é? A única coisa que eu fico pensando é isso Ry… o bullying, o preconceito pra arrumar emprego ou mesmo comprar algo numa loja ou ir um parque, alguma coisa assim… Eu nunca deixaria ninguém fazer nada contra você ou o Brendon, mas eu nem sempre vou poder estar por perto e fazer isso, e de que adianta meu apoio se assim que você sai o mundo se vira contra você ou quer te colocar pra baixo? Você precisa de amigos, estar perto de gente que vá sempre te respeitar e te tratar com o mínimo de decência não importa o que, e… sei que adolescentes podem ser uns babacas nojentos uns com os outros... Alguém sabe de você na escola?...
— Eu acho que não… só você e a Ali e, bem, o Brendon… — respondo.
— E ligariam se soubessem de você?
— Eu não sei mãe, eu não sei mesmo… eu nunca pensei nisso, porque nunca achei que ia realmente ir tão longe assim um dia e-… quer dizer, acho que alguns dos meninos não ligariam, uma parte das meninas também não, mas… com certeza acho que eu perderia uns vários amigos...
— Entende onde eu quero chegar? — ela pergunta — Eu só… falei tudo o que disse por causa disso. Eu me importo que você seja respeitado e tratado como deve ser, como qualquer outro garoto de quase 17 anos, e quero que se sentia compreendido e que possa ser você livremente e conversar sobre o que quiser livremente e, se isso significa outros amigos LGBT ou não, alguma coisa assim, por mim tudo bem. Melhor do que pensar que pensar que você está sendo machucado pela maioria das pessoas a sua volta… Só não quero que você pague por algo que não é sua culpa…
Balanço a cabeça, entendendo o que ela queria dizer. Me senti bem sabe, em saber que ela pensava assim e que ela super se importava sabe? Eu não tinha muitos planos mas, de fato, eu… nem pensava mais em não ser eu mesmo. Parecia outro mundo, outra vida, outro Ryan… e provavelmente, era mesmo. Era só questão de que eu agora via tudo diferente.
— [...] Na escola, se fizerem bullying com você, precisa me dizer ok? E se qualquer um dos amigos não quer mais ficar por perto, você não precisa deles. Não deixa ninguém te diminuir ou te maltratar pelo que você é, entendeu Ry? Se alguém fizer alguma coisa contra você, o que seja, vai ter que muito se ver comigo. Mesmo se você tiver, não sei, 50 anos. Sempre vou proteger você enquanto você tiver na sua razão.
— Você é incrível mãe…
— Vão ser babacas com você, isso você entende não entende? Mas se você está certo, está certo. Você não está fazendo nada de errado, eles estão. E mesmo, mesmo mesmo, se precisar, eu sempre vou estar aqui. Só precisa dizer. Trocamos de escola, fazemos o que for possível…
— Tá bem... — tento organizar meus pensamentos — Eu não tenho medo exatamente mãe, acho que saber que de qualquer forma foi ter o apoio de pelo menos você e a Ali é o suficiente, mas é meio que um saco porque eu… eu não sei. Eu nem gosto de pensar nisso para ser sincero, sei que acontece mas, nem gosto de lembrar e tentar achar o porquê, já que não parece ter.
Eu era sortudo. De novo, era um inferno pensar em tudo o que gente como eu passava, coisas que eu podia passar... eu… eu ficava tão mal, eu sentia tanto que nem sabia o que sentir…
E eu tinha certeza que eu era sortudo mesmo agora que eu estava ali. E que droga, não tinha nada diferente em mim, porque… as pessoas não podiam simplesmente ter pelo menos uma família que as amavam pelo que eram, mesmo se isso significava aceitar alguém que gostava do mesmo sexo ou tinha nascido no corpo errado ou algo parecido..
Eu nem precisava ir longe. O Brendon poha, a droga do amor da minha vida, ele era tão bom, incrível, inteligente, ele era uma pessoa bondosa e gentil e cara, o que mudava se ele gostava de mim ou não?
— Quer conversar? Não me importo — ele sorri pequeninho de novo mas bondosa, e acho que ela percebeu que eu estava mal com alguma coisa.
— É que… não é só isso, sabe? Os pais do Brendon, eles meio que… nunca vão deixar ele em paz ou eu em paz… e não é só ele, quer dizer, isso me deixa tão… são pessoas boas, a grande enorme maioria é, são como eu, e eu queria só que elas pudessem ter paz e, que eu também sabe… caralho, isso não é legal mãe, você não devia ter essa conversa comigo. Você sempre está me protegendo mas, ninguém teria que proteger outra pessoa, não importa quem fosse, só pelo fato de que essa pessoa é quem ela é.
— Eu fiquei pensando sobre tudo o que você tinha perguntado sobre o Brendon, e depois que você me disse no carro as coisas fizeram sentido… imaginei que era alguma coisa sobre os pais dele não o aceitarem mesmo… mas isso não dura pra sempre sabe Ry? Isso eu juro. Eu nunca estive no lugar de vocês mas, eu sei como é quando não te aceitam por algo que você não tem controle. Não dura pra sempre. Olha só pra gente, eu foi um saco mas, tem você, a Ali, eu, meu emprego, e claro que eu sinto falta de ter alguém comigo, de telefonar pros meus pais no fim e semana… queria ter criado vocês, sabe, correndo pelo quintal do meu irmão mais velho com os filhos dele e ajudando eu e minha mãe a cozinhar o pernil no natal… mesmo assim, estamos bem não é? Foi uma escolha. Apesar de tudo, eu amava seu pai, éramos bons, e eu amo você e a Ali… nunca colaria vocês do lado de pessoas que tratariam vocês feito um lixo simplesmente por terem nascido.
— Você não mereceria também…
— Então. Não dura pra sempre. Brendon vai ficar bem, um dia. E foi o que eu disse, sempre tem alguém que a gente pode procurar, alguma coisa que a gente pode fazer… tem gente pra tudo no mundo, inclusive gente igual a gente não importa quem a gente seja. Só espero que ele ache pessoas boas, que entendam e apoiem ele e que ele tenha alguém que faça ele se sentir acolhido. Sabe, até por isso fico feliz que vocês estejam juntos. Sei que você vai cuidar bem dele e estar lá pra ele e às vezes, ele pode achar amigos, outras pessoas LGBT que conseguiam entendê-lo e deixar ele ser quem ele é.
— Eu odeio que tenham que passar por isso, principalmente o Brendon. Ele realmente não merece, droga.
— Nada é pra sempre Ry… acredita em mim.
Eu queria ter falado com ela sobre tudo, parecia (e já estava) sendo tão bom colocar tudo isso pra fora, mas eu não consegui fazer.
Não era meu segredo. Eu não queria invadir a dor do Brendon ou os segredos dele. Quando eu o visse, ia perguntar como ele estava sobre isso e dizer sobre falar pra minha mãe o que acontecia e aconteceu com ele, e se ele estivesse bem então faríamos.
Mas não era meu segredo pra contar. Eu odiaria que fizessem isso comigo, era tão pessoal e tão dolorido… só a pessoa saberia se ela estava pronta e pra quem ela queria contar sobre.
Então não falei dos machucados, do tio dele, dele ter ficado longe… só disse que era bem ruim e depois, ficamos conversando sobre coisas boas. Acho que essa pra ser uma conversa séria, não triste, sabe? Então só ficamos conversando sobre bobeiras, sobre o que no Brendon me fazia feliz, sobre como isso era importante pra mim e eu queria ser uma pessoa melhor cada dia mais para estar com ele e fazer isso funcionar, sobre como agora eu entendia de verdade o que significava amor…
Minha mãe disse que eu estava diferente, mas no bom sentido. Que estava feliz porque era bom ver que eu queria ter uma vida ao lado de alguém, que eu amava alguém agora… isso era saudável. Eu estava bem e feliz e forte e olhando pro futuro ao invés de pro passado e pro pessimismo e, que isso era tudo o que ela queria pra mim. Ver que, tudo bem, talvez os obstáculos estivesse estado lá e nossa vida não tenha sido das mais fáceis ou mais normais, mas que mesmo assim a gente ainda era tão feliz quanto a pessoa com a vida mais normal do mundo.
Acho que minha mãe ainda não entende muito bem que na verdade, a gente entende ela e que ela não precisa ser perfeita pra ser a mãe mais incrível do mundo. Tudo bem, isso era bom, porque sempre podíamos estar lá pra lembrar ela disso, afinal, ela também era… uma pessoa normal.
Nem nos preocupamos com a hora ou coisa parecida. Sinceramente, falar com ela estava sendo tão bom, me fez sentir tão bem, porque… eu nunca tinha… acho que sido quem eu era antes. E falar e ouvir e estarmos lá juntos um com outro quando eu praticamente não tinha nada pra esconder sabe, e pensar que estava tudo bem nisso, que ela até realmente gostava de mim de verdade mesmo, como eu sou, foi só… bom demais. Ai era eu que provavelmente estava parecendo uma das amiguinhas da Ali super animadas pra conversar.
Minha parte favorita foi quando ela disse que ela sempre ia tentar ser melhor pessoa possível pro Brendon também e que ele podia contar com ela. Ela falava dele como falava de mim sabe, isso me fez sentir tão, tão bem, porque eu acho que ela já via ele com parte da família e eu estava tão feliz pela gente sabe, poder contar com ela….
— Meu Deus, nós temos que dormir! — ela diz.
— Que horas são?
— Quase meia noite, mas amanhã o Miles vem tomar café com a gente!
— Eu esqueci disso. — respondo.
— Mas é tão bom falar com você Ry, você tava tão distante nesses últimos tempos… Saudades de coisas assim. Sei que você está crescendo e que nem sempre vai ser o meu garotinho, mas… sinto falta do menininho quietinho que morria de rir vendo desenho na tv que nunca desgrudava da minha saia.
— É toda a coisa eu acho… mudança, Brendon, ser gay... não me afastei de propósito. E eu não era assim tá bem! Talvez eu fosse mas, é porque você sempre me protegia… me sentia seguro quando estava com você. E eu cresci, não virei um babaca.
— Ainda acha que terça dos filmes uma coisa legal? Podiamos voltar a fazer isso. Eu nem sempre vou conseguir mas… pra mim não mudou nada também Ry.
— Claro que eu acho mãe, nossa, foi tanta correria, tanta coisa, mas claro que eu gosto. Porque paramos de fazer?
— Não sei... E não vai fugir ok? Vamos passar mais tempos como esse, ainda mais agora. Tenho que conhecer o Brendon mais de perto né?
Nós rimos juntos, eu com certeza sentindo minha bochecha quente.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, e eu decido perguntar
— O seu amigo, que você disse que vai vir aqui… é amigo mesmo ou,... você gosta dele?
— É complicado Ry… — ela parece sincera, mas sorri feliz — ele é um amigo que eu quero conhecer melhor. E que quer me conhecer melhor. Faz um tempo já, desde… antes da gente se mudar daqui, mas era complicado. Tinha vocês e… bem, tínhamos muito pouco tempo. Ai a gente, tá tentando de novo agora que tudo está mais certo. Mas acho que gosto dele sim, e ele gosta de mim. Ele é ótimo, acho que você e ele vão se dar super bem...
— Como a Ali está com isso?
— Hm… acho que a Ali de sempre. Você sabe como ela é.
O que significa que ela não devia estar muito feliz, bem como não estava sobre mudar pra cá ou sobre ir pra quinta série ou basicamente qualquer coisa. Ela ela não gosta de mudanças e é desconfiada quase igual a mim e 11, 12 anos é uma idade chata pra caralho pra ter, porque tudo na sua vida começa a mudar e você não é mais visto como a criança, mas ainda é muito novo pra ser visto como adolescente também e tudo mais, mas eventualmente da certo. É só questão de dar tempo e espaço pra pessoa se adaptar.
— Eu não sei se gosto disso… — falo — E se ele, sabe… não gostar do fato de eu ser gay? Não quero conhecer alguém que depois vai me odiar. É perda de tempo. E eu... não quero uma outra... pessoa ruim — meu tom triste surpreende até a mim mesmo.
— Ele com certeza ainda vai amar você Ry... Mesmo quando souber que você é gay.
Minha mãe parecia tão bem e certa disso (aliás depois eu com certeza ia querer saber mais de tudo) que eu não quis voltar atrás. É, eu estava com medo, não queria conhecer alguém e depois perder de novo ou ter alguém novo em casa que eu não ia saber se era de confiança ou não, que eu não soubesse se ia _sempre_ ser bom pra minha mãe e pra Ali ou não… Mas acho que essas são certezas que eu não nunca teria não é? E se fazia bem pra minha mãe, eu podia pelo menos conhecer o cara antes de pular pra fora se fosse preciso.
Foi tão bom saber que estava tudo bem e sentir que na verdade, acho que isso tudo só me aproximou de novo da minha mãe e da Ali e de ter esperanças que sabe, minha vida fosse ser completa com elas também (o que era um medo meu, porque ok, seria feliz com minha própria vida se fosse possível, mas eu amava elas então me importava de te-las por perto como a parte da minha vida que elas eram).
Eu dormi feito um bebê pouco depois de tudo e da minha mãe ter ido também.
Acordei com o meu celular. Mensagens e o despertador.
Já eram 9 horas?
Estava preguiçoso, com certeza, mas não cansado. Depois do Brendon e tudo, eu tinha dormido realmente um dos melhores e mais relaxantes sonos da minha vida.
Coloco uma roupa qualquer que eu acho mas que eu não usava como pijama (minha mãe me mataria) e me preparo pra sair sentindo uma impressão que já deviam ter me chamado e eu não ouvi, pra abrir a porta dando de cara com uma menininha de uns 3 anos correndo em direção ao fundo do corredor.
Quem drogas ela era, da onde ela veio?!
O amigo da minha mãe tinha uma filha??!!!!
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