História Little things - Five

Mark voltou para casa aquele dia carregando as bolsas de mercado sem  pensar tanto nos nós dos dedos doendo. Pensava mesmo era no menino de sorriso bonito e em como foi tolo em realmente pagar aquele pacote de balas e nem pegar o número dele para cobrar depois. Quando estavam novamente dentro do metrô, Haechan passou alguns minutos concentrado em outra coisa, mas Mark não viu o que era, pois estava preocupado demais lembrando do leite de morango que Taeyong tinha pedido e que não comprara para poder pagar o maldito doce. Ao parar numa estação anterior a sua, com a agitação local, mal pôde ouvir o mais novo afirmar que precisava ir a outro lugar. Haechan agradeceu pelas balas (inclusive, Mark notou, com três na boca ao mesmo tempo), e acenou apressadamente enquanto descia com dificuldade do trem. Aquele pivete vai me pagar algum dia. Aliás, agora Mark conseguia deduzir mais coisas sobre ele, apesar de deixar esse hábito de lado quando conhecia mais a pessoa em questão.

Sua cor favorita é amarelo, na verdade, porque ele estava usando aquele all-star amarelo todo encardido. Ele tem uma horta no fundo do quintal, mas apesar de toda sua presunção falando das produções agrícolas, não passava de uns dois pezinhos de tomate e talvez um… é, só tomate mesmo, que é mais fácil de cuidar. Realmente, presunçoso define, bem sonhador. Ele escreve, e acredita que tem futuro nisso e… Mark, você parece seu pai falando assim. Enfim, ele é ambidestro, aprendeu a usar a mão esquerda no prezinho, porque quebrou o braço direito e arranjou um jeito para continuar desenhando nas paredes da escola. Isso deixava as professoras loucas (Mark deu um sorrisinho ao pensar nisso). De todo modo…

Quase não notou quando o metrô parou na estação que tinha que descer. Agarrou suas sacolas e saiu correndo como podia para casa. Já era pouco depois de 11h, ele ainda tinha muitas coisas a fazer e tinha certeza que Taeyong já espumava em casa. Como ele iria sequer avisar que não comprara seu leite de morango que tanto gostava? Ainda tinha atrasado o almoço… Como que a manhã passou tão rápido?

Entrou no pequeno apartamento, sentindo o cheiro agradável de limpeza. As paredes e aquele chão estavam tão brilhantes e polidos, que ele se sentiu envergonhado de estar tão desarrumado dentro de sua própria casa. Sabia como seu irmão era esforçado em manter tudo limpo e organizado, tinha sorte porque sabia que por si só, dormia em cima dos sacos de lixo mesmo. Tirou os sapatos, largou-os em cima do tapete e entrou na sala, jogando as sacolas de todo jeito sobre a mesa de jantar.

-Isso são horas, Min-hyung? - Ouviu seu irmão berrar do banheiro. Prendeu um gemer de cansaço. - Tava com quem uma hora dessas?

-Desculpa hyung. Não vai acontecer de novo. Eu encontrei um… amigo no mercado e acabamos perdendo um bom tempo lá.

-Ai tá, tudo bem. - Chegou no cômodo secando as mãos na calça. Ele usava um avental que o mais novo tinha comprado no seu aniversário, havia pouco mais de dois anos. Era um presente escolhido de última hora; ele tinha esquecido a data, e, desesperado, comprou a primeira coisa que viu na rua. Para ser mais preciso, num posto de conveniência, ele viu em promoção numa prateleira uma série de aventais fosforescentes com frases bregas. Pegou laranja um escrito: “Kiss the chef!”; no fim, apesar de ter achado horrendo, Taeyong acabou adorando, e o melhor, pela bagatela de 1500 wons! - Cadê meu leite, sinceramente tô esperando isso a semana inteira. - Começou a vasculhar as sacolas agitadamente. Mark ficou constrangido.

-Não tô querendo dizer que eu esqueci de comprar, mas aconteceu uns imprevistos e eu…

-É, você esqueceu. - Soltou um grito frustrado, jogando a cabeça para trás. Em seguida respirou fundo e deu um olhar totalmente diferente do raivoso anterior para o irmão. - Depois eu fico bravo com você. Deixa eu te dizer… um dos seus professores ligou pra cá. - Sentiu sua espinha gelando totalmente. Taeyong descobriu. - Mark… por que você faltou aquela prova? Era daquela matéria que eu tinha dito justamente para não deixar de estudar?

Em resposta, abaixou a cabeça mais envergonhado ainda. Sabia que os professores sempre ligavam para casa quando o aluno perdia alguma prova, tanto para saber o motivo quanto para marcar uma reposição ou recuperação. Mas Mark esperava estar presente nessa hora para fingir um resfriado qualquer e conseguir esconder isso do irmão; não achava que iriam ligar num sábado de manhã! Ele não pretendia faltar de todo jeito, mas na noite anterior ao dia da prova, ele (por mais que quisesse dizer que estava estudando) ficou jogando online com seus amigos até pouco mais de três da matina. Consequentemente, perdeu completamente o horário, e dormiu até 12h - disso ele de fato não se arrependeu depois. Taeyong já havia saído também quando acordou, então passou o dia comendo porcarias de delivery e fazendo mais um pouquinho de nada. Não que negligenciasse por total a faculdade, muito pelo contrário; tinha até medo que seus pais descobrissem. Mas era, de todo modo, era uma das piores matérias que tinha. Deixou de lado sem pensar nas consequências.

-Mark. O que aconteceu? - Pôs a mão num dos ombros dele, preocupado. Mark achava que isso era o pior. Se estivesse com raiva, ok. Desapontado não era legal, mas era bem melhor que preocupar o irmão, sabia que este se importava muito com sua saúde mental. Essencialmente porque estavam sempre discutindo aquele desgosto dele pelo curso que fazia. Maldita economia, estragando minha vida até aqui. Levantou o olhar, esboçando um sorrisinho leve, fazendo seu melhor.

-Não foi nada de mais. Eu só perdi a hora de sair. Eu não quis matar aquela prova de verdade, não foi a prova que você disse para eu me esforçar direito. - Deu batidinhas na mão repousada no seu ombro. - Depois eu ligo pra lá e peço uma reposição. Acho que esse professor até deixa eu fazer na turma de outro horário.

Taeyong ainda olhou no fundo dos olhos dele por uns segundos, talvez buscando algum sinal de mentira ou algo a mais. Suspirou, virando-se em direção ao banheiro que estava lavando, falando para que o outro guardasse logo as coisas e se adiantasse para preparar o almoço. Aliviado por não ter acontecido nada de mais, Mark correu para dispor as compras no armário.

Enquanto guardava distraído alguns sacos de arroz no armário, tocou em algumas coisinhas pequenas no fundo da sacola. Parou de assobiar e, curioso, virou-se para a sacola para verificar o que eram: um punhado de balinhas de iogurte. Que horas aquele pivete colocou isso aqui? Sorriu, logo abrindo uma. Ofereceria algumas a Taeyong depois, em um pedido de desculpas pelo leite de morango que não trouxera. Sorrateiro e minimamente prestativo não combina com ele. Essencialmente com aquele cabelo colorido e sendo tão bobo. Mas tudo bem; agradeceu mentalmente pelas balas.

Pensou de novo no quão legal seria comer lámen no Rio Han.