História Live A Dream - Insegurança.

Clarissa Pov's

Depois de almoçar, eu e Gabriel ficamos na sala. A TV estava ligada em qualquer canal, mas nenhum de nós dois assistia, eu não estava interessada. Nossa conversa fluía normalmente como sempre. A gente conversava sobre as quartas de final da Copa do Brasil, que o Santos havia se classificado e enfrentaria o Figueirense. O primeiro jogo aconteceria na próxima semana, Gabriel viajaria para jogar. Todos estavam empolgados, o Santos estava muito bem na competição e pegamos um time teoricamente "fácil". Em minutos mudamos de assunto.

— Amor, você não vai contar para os seus pais sobre o que aconteceu ontem? — Ele perguntou.

— Eu não sei — Suspirei me ajeitando no sofá — Não quero falar sobre isso com a minha mãe.

— Por que? — Perguntou.

— Porque eu já sei o que minha mãe vai falar, Gabriel — Falei me sentando de pernas cruzadas — Ela vai dizer que nunca quis que eu viesse pra cá. Que é pra eu largar o futebol e ir estudar... Minha mãe nunca me apoiou, isso seria apenas mais um motivo pra ela continuar falando — Eu disse abaixando o olhar.

— E o seu pai? — Perguntou.

— Vai querer vir pra Santos e querer saber de tudo — Eu disse e ri sem humor — Acredite, é melhor deixar como está. Eu não me sinto bem escondendo algo tão sério deles, mas prefiro deixar assim.

Ele não disse nada, apenas me abraçou. Sorri confortável

— Olha, o dia está bonito, vamos sair de casa um pouco?

— Tudo bem — Sorri me levantando.

Fui ao meu quarto e me troquei rapidamente, colocando uma roupa boa e fresquinha. Deixei meu cabelo solto e fiz uma maquiagem simples.

— Acabou? — Ele perguntou quando eu sai do quarto.

— Aham — Sorri.

— Então vamos — Pegou em minha mão.

Ele já estava pronto também. Usava uma bermuda em um tom de cinza e uma camisa preta e um tênis da mesma cor, um boné também em um tom de cinza e um óculos escuro preto. Estava lindo.

Estávamos saindo do AP, quando encontramos Thiago e Soph também. Thiago – que me viu a poucos minutos atrás – veio em minha direção e me abraçou forte.

— Aonde vocês vão? — Ele perguntou.

— Sair por ai — Eu disse dando os ombros — E vocês?

— Também — Ele disse e riu fraco.

— Então vamos todas juntos — Bi disse me abraçando pela cintura.

— Eu acho uma ótima ideia — Soph sorriu animada.

— Então vamos — Falei.

Entramos no elevador e andando mesmo, fomos até algum lugar que Gabriel dizia ser bom e tranquilo.

(...)

Já era noite. Thiago e Soph estavam no AP dela. Eu havia acabado de sair do banho e estava colocando uma roupa confortável, já que não iria sair mais. Depois disso, fui pra sala, aonde encontrei o Gabriel jogando videogame.

— Ei, chega pra lá. Eu também quero — Falei empurrando ele de lado.

Ele apenas riu fraco e chegou mais para o lado. Quando eu ia sentar, alguém bateu na porta. Com certo receio, me aproximei dela. Gabriel estava comigo, estava tudo bem. Olhei no olho mágico e vi ali alguns jogadores do time. Ri fraco e abri a porta.

— Oi meus amores — Sorri pra eles.

— Cla — Zeca foi o primeiro a me abraçar.

— Oi Zequinha — Sorri passando meus braços em torno da sua nuca, lhe abraçando forte.

— Você tá bem? — Ele perguntou e eu apenas assenti.

Desfiz o abraço com ele e logo em seguida, Bueno veio e também me abraçou forte. Sorri com isso. Eles eram tão importantes pra mim, eram uns amigos maravilhosos. Bueno beijou minha testa e se afastou, então quem me abraçou dessa vez foi o Lucas. Ele me disse algumas coisas que serviam de consolo e o melhor é que me trouxe chocolate. Ele riu com a minha empolgação com aquilo. Em seguida quem me cumprimentou foi Lucas Crispim e por último Alison.

Eles entraram e logo já estavam espalhados pela sala. Me sentei perto do Gabriel de novo, que já tinha desligado o videogame e ali iniciamos uma boa conversa. Eles se mostravam muito preocupados, me perguntavam como eu estava e diziam que estariam ali sempre, para o que eu precisasse.

— Sério, meninos. Muito obrigada — Sorri pra eles — Esse apoio todo de vocês é essencial, vocês são os melhores! — Eu disse.

— Ah, eu sei que sou o melhor de todo, Cla. Pode confessar, eles não vão ficar com ciúmes — Bueno disse nos fazendo rir.

— Na verdade o Lucas é o melhor — Eu disse.

— Só por que ele trouxe chocolate pra você — Bueno revirou os olhos e nós novamente rimos.

— Gordinha — Gabriel disse me abraçando de lado.

— Bem, eu preciso ir. Ainda tenho um jantar hoje — Bueno disse.

— Hummmm — Murmurei e eles riram.

— É, é com a minha garota. Então prefiro não me atrasar — Ele disse se levantando.

— Tudo bem. Obrigada por vir, Bueno — Me levantei para abraça-lo.

— Se cuida, viu? — Ele disse e sorriu. Se afastou e novamente, beijou minha testa.

— Eu vou pegar carona com o Vitor e já vou também — Zeca disse se levantando.

— Claro Zeca, eu te dou uma carona — Bueno disse irônico e nós rimos.

— Valeu irmão — Bateu duas vezes no ombro dele — Tchau Cla.

— Tchau Zequinha. Obrigada por vir — Sorri.

— Vê se cuida dela em Gabriel — Lucas disse também vindo me abraçar — Tchau, Cla. Qualquer coisa pode contar comigo.

— Obrigada — Sorri.

— Tchau, tampinha — Alison disse me abraçando.

— Tchau, chato — Eu ri.

Abracei o Crispim e nos despedimos, então eles se foram e novamente só restou eu e Gabriel.

Dois dias depois...

Eu já estava melhor, mas sim, ainda sentia medo, uma certa insegurança. Não era uma coisa fácil de superar, eu sempre lembrava daquele olhar assustador dele sobre mim, e por mais que não seja bom, eu sempre penso no que poderia ter acontecido se Gabriel não tivesse aparecido. Mas meus amigos faziam de tudo para me ajudar, principalmente Gabriel que passava o dia todo comigo e estava funcionando. Meus hematomas nos braços já praticamente sumiram.

Eu tenho as melhore pessoas na minha vida comigo.

Ah, e não contei para os meus pais. Não queria que eles largassem o seus respectivos trabalhos e se preocupassem com uma coisa que já passou. Fora que minha mãe iria dar todo aquele sermão de sempre, mesmo sabendo que eu não largaria o futebol por nada.

E por falar nisso, hoje é dia de jogo. Caio Couto queria me deixar de fora por tudo o que aconteceu, mas eu não achei necessário. Ao acho justo deixar o time desfalcado por uma coisa que já passou e eu tô bem. Vou fazer o que amo e ajudar o Santos, que é o meu foco desde que cheguei aqui e não vou deixar isso atrapalhar. Eu iria pro jogo na Vila Belmiro. Hoje vamos enfrentar o Internacional e faltavam apenas minutos para o jogo.

Como sempre, dentro do vestiário era um clima totalmente descontraído, mas as meninas se concentravam para a partida. Eu já estava com o uniforme e apenas ajeitava meu cabelo.

— Menos de dois gols hoje eu nem comemoro — Keth disse pulando nas minhas costas. Gargalhei.

É, eu estava com sede de gols, como em todos os jogos.

— Acho que consigo pelo menos um — Falei animada.

— Vou servir um pra você — Ela disse também animada.

Keth sempre que conseguia, me dava uma assistência perfeita. Vários dos meus gols foram com passes dela.

— Tô aceitando — Eu sorri.

— Ei meninas, venham aqui — Alline gritou.

Eu e Keth, assim como as outras do time, caminhamos até o meio do vestiário e fizemos nossa roda. Hoje as palavras ficaram com o professor e apenas ele, que como sempre nos passou muita confiança. Após nossa oração, seguimos para o túnel.

— Oi — Eu disse para a menininha ao meu lado.

Eu amava essa parte. Amava ver o brilho nos olhos das crianças ao entrar nos gramados da Vila, era lindo.

— Oi — A ruivinha respondeu timidamente.

Ela era tão fofinha, tinha seus cabelos alaranjados, amarrados com uma fita branca, que combinava com a camisa do Santos. Ela tinha sua pele bem clarinha e algumas sardas na bochecha.

Será que posso rouba-la pra mim?!

— Qual é o seu nome?

— Anna — Ela disse.

— Que nome lindo — Eu sorri.

Ela sorriu fofa e pegou em minha mão. Mais alguns breves segundos ali, e a entrada para o gramado foi dada início. Era noite e a Vila tinha um público bom. As organizadas como sempre nos setores atrás do gol, apoiando o time. Foi tocado o hino nacional brasileiro e após isso, me despedi de Anna e cumprimentamos as jogadores do Inter.

Olhei para as tribunas e consegui ver Gabriel e Dhio. Sorri pra eles, que sorriram de volta e acenaram. Que sorte eu tinha de ter eles comigo sempre.

Suspirei voltando a me concentrar no jogo e me posicionei entre a bola. Em minutos, o árbitro da noite deu início a partida. A marcação do Inter era forte, isso dificultava a saída de bola do Santos. O ataque delas tinha muita velocidade e numa jogada rápida a defesa do Santos não conseguiu acompanhar, Inter abria o placar logo aos quinze minutos.

O jogo esquentou mais após isso e serviu para acordar o nosso time. A bola estava nos pés da Alline e mesma tocou pra mim. Já estava muito próxima da área, então cruzei pra Maurine que já estava lá e era alta, então conseguiu marcar um gol de cabeça, empatando o jogo.

Assim se encerrou o primeiro tempo, com o placar tudo igual. Era um jogo difícil, mas a gente ainda visava a vitória, assim como elas. Então teríamos que voltar ainda mais fortes para o segundo tempo. Os minutos de intervalo se passaram rápido, e logo voltamos para o campo.

O segundo tempo começou ainda mais pegado. Os dois times queriam levar os três pontos, só a vitória interessava. Aos vinte e um minutos do segundo tempo, Keth invadiu a grande área, isso me fez correr pra lá também. Ela cruzou a bola na segunda trave, mas foi muito fechado e a goleira do Inter acabou tirando, mas no rebote, ela parou nos meus pés. Limpei a zagueira que vinha pronta para tirar a bola de mim e chutei forte.

2-1 para o Santos. Conseguimos respirar mais aliviadas, porém ainda tomávamos cuidado.

Gabriel Pov's 

— É incrível ver a Cla jogar — Dhio comentou sorrindo — Ela nasceu pra isso.

A dois minutos tinha saido um belo gol da Cla, virando o placar para o Santos. O jogo estava bom, as meninas estavam jogando super bem, mas o Inter também pressionava.

— Eu concordo, ela é muito boa — Eu disse sorrindo.

— Você é meio suspeito pra falar, Gabriel. Sua opinião não conta — Ela disse me fazendo rir.

— Não é verdade — Eu disse.

— Tá — Ela disse irônica e soltou uma risada nasal.

Estava próximo dos trinta minutos de jogo, quando Clarissa estava novamente perto da grande área, quando foi atingida em cheio em seu tornozelo. A jogadora do Inter foi punida com um cartão amarelo, mas Cla ainda continuava no chão. Era o tornozelo que ela lesionou a algum tempinho.

Os médicos do Santos entraram em campo e foram ver ela. Eu estava apreensivo, ela parecia estar mesmo com muita dor. Em minutos, ela se levantou, mas ainda mancava. De qualquer forma, aquilo era um alívio para todas.

Ketlen foi pra cobrança de falta e Cla foi para área. O árbitro sinalizou a cobrança e Keth conseguiu um cruzamento perfeito bem na cabeça da Clarissa.

3-1 para o Santos. Mais um dela.

Sorri orgulhoso enquanto eu via ela comemorar feliz. Após isso, ela foi substituída para evitar lesões, saiu ainda mancando, mas aplaudida pela Vila. Antes do jogo acabar, Inter conseguiu marcar mais um, mas já era tarde demais, Santos venceu por 3-2.

— Vamos esperar a Cla? — Dhio perguntou enquanto a gente saia das tribunas.

— Vamos — Falei e ela assentiu — Quer comer alguma coisa? — Eu perguntei lhe abraçando de lado.

— Quero. Mas depois, assim vai nos três — Ela disse.

— Tudo bem — Falei.

Seguimos para o estacionamento e entramos no carro. Enviei uma mensagem pra Cla dizendo aonde estávamos e esperamos até que ela chegasse.