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História Livre-se Da Perfeição - Dia Um


Escrita por: Raujo

Capítulo 1 - Dia Um


Seus passos são tão leves, que parece estar pisando em nuvens, sempre que a vejo dançar me sinto como um pássaro que finalmente está livre da gaiola, não conseguia tirar meus olhos dela

Ao final de sua apresentação pode-se ouvir os aplausos por todas as direções do teatro, um semblante tão calmo em seu rosto e um olhar tão doce enquanto fazia seu agradecimento a platéia, um sorriso tão belo que escondia perfeitamente suas dores

Elogios, críticas, sorrisos sinceros e falsos, tantas pessoas ao seu redor e você aí, mentindo para eles e para você enquanto dança dizendo que é para não se ferir mais, tão inabalável quanto uma montanha... Foi o que você me disse uma vez, mas até mesmo as maiores montanhas tem seus avalanches, e o seu chegou antes que eu pudesse fazer algo, gostaria de ter visto mais de sua dança


- Ei, o que está fazendo aí?


- Seu espetáculo já acabou?


- Sim, não faz muito tempo. Por que você nunca fica até o final?


- Gosto de imaginar que suas danças são eternas, então eu sempre saiu antes de fecharem as cortinas


- Você é um doce, não se preocupa que eu acabe abusando não?


- Claro que não, eu sei que você me ama, então, posso ser o quão meloso eu queria com minha deusa dos palcos


Damos uma breve volta pela praça do teatro, você ficou encantada com um mágico que havia ali e ficou um tempo se divertindo com os truques que ele fazia, parecia uma criança feliz que não se preocupava com nada na vida


- Vamos pra casa ma belle, já está ficando tarde


- Claro, deixa eu só tirar uma..


- O que foi?


- Eu esqueci meu celular


- Pode ir buscar, eu vou buscar o carro e te espero aqui na frente


Depois de quase dez minutos a vejo vindo em minha direção, e em seu rosto moreno a expressão de quem havia sido presa mais uma vez em sua gaiola e de quem não estava pronta para voar


- Tudo bem? Parece que viu algo que não devia


- Estou ótima minou, antes de irmos para casa, podemos passar naquela sorveteria que você me levou da última vez?


- Claro, já sabe o sabor que vai querer? 


Eu sabia que tinha mentiras em suas palavras, assim como tinha ideia do que poderia ter visto, ou melhor, ouvido 


- Você viu aquela solista? Os passos dela foram tão bruscos


- Sim, e ela parecia tão desengonçada, ela é um iniciante por acaso? Que horror


- Ouvir falar que ela já ganhou vários prêmios


- Há, só se for prêmio de consolação, tantos erros em passos tão simples, até uma criança inexperiente se sairia melhor do que aquilo


- Com licença...


-...Oi querida, você arrasou no palco hoje


- Sim! Você parecia um pássaro, tão livre lá em cima


- Ah, obrigada por todos os elogios, vocês também foram maravilhosas


- Que nada, você só está sendo educada. Você parecia de algo aqui?


- Estou procurando um celular, ele tem uma capa azul com detalhes dourado, vocês viram?


- Eu vi sim, o zelador deve estar com ele


- Obrigada, até a próxima meninas


- Tchau querida...


- Como um pássaro? Sério?


- Sim, um belo passarinho manco


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- ...Eu sou tão ruim assim?


- Como? No que você é ruim?


- Eu falei isso alto? Me desculpe eu só estava pensando alto, acho que eu deveria treinar mais


- Treinar mais? Você já treina 12h por dia e quer treinar mais? Como ficaria sua faculdade?


- Eu posso dar um jeito


- Nem pense. Meu bem, você já se esforça tanto. Você é uma das bailarinas mais talentosa e brilhante que temos no país, é uma aluna exemplar em todas as matérias, o que mais você quer?


- Eu não sei


Eu sei o que você queria, queria liberdade não é? Queria se ver livre de todas aquelas críticas, inveja e cobranças... Você queria dançar e nada mais que isso. Naquela noite em nosso apartamento, eu lembro de ter visto você se trancar banheiro, lembro-me de ouvir a água cair ao chão e um som abafado de seu choro, você murmurava algo, talvez lamentações, talvez se cobrando mais uma vez... Quantas lagrimas você derramou naquela curto tempo?


Me dói ainda mais pensar que não poderia abrir aquela porta e ir ter conversado com você, perguntado o que estava acontecendo, te abraçar e acariciar teus  longos cabelos castanhos e olhar em seus olhos escuros e dizer que estava tudo bem, que eu estaria ali sempre ao teu lado, se tivesse feito isso você só se sentiria pior, você sempre foi de esconder suas dores e não contar a ninguém por que achava que era sinal de fraqueza. Tudo que me restou aquela noite foi esperar e assim que nos deitássemos eu te abraçaria e em minha mente eu rezaria para qualquer um que pudesse me atender e pedira por sua tão desejada liberdade, que você fosse eternamente como um pássaro livre de gaiolas, que você encontrasse o palco que jamais te prendesse mais uma vez. E eu estaria lá, assistindo cada uma de suas apresentações.   



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