Com Ruby ausente naquela noite, Sam se preocupou em preparar a casa para as amigas, que logo chegariam. Já era um pouco mais tarde que o habitual, mas não havia necessidade de se preocuparem com o horário. Amanhã era domingo e não abriria o café.
Andrea havia ligado chateada e pedido se podiam conversar. Como sempre, uma estava lá pela outra.
Colocando alguns petiscos sobre a mesa da sala e a garrafa de whisky logo ao lado, ela recolheu as cobertas que Ruby largou pela sala e os sapatos espalhados.
Com o som da campainha, Sam correu atender e viu Andrea entrar, seguida por Lena. As duas haviam vindo juntas, no carro da morena.
- Oi meninas – cumprimenta Sam feliz de ver as duas.
- Oi Sam – retribui Lena.
Sam abraçou Lena e entraram. Na sala, as duas viram Andrea entornar uma dose de whisky sem gelo no copo e beber um gole. Observando a amiga, Sam suspirou e Lena negou com a cabeça.
- Vá com calma, cariño – pediu a castanha.
- Ah, Sam. Eu não sei como você agüenta – reclama á latina sentando e mexendo o copo, como se o whisky fosse se misturar com algo mais.
Lena serviu um copo para si e outro para Sam.
- Como eu agüento o que? – Indaga Sam confusa sobre o que Andrea falava.
- Namorar uma médica ocupadíssima – Esclarece Andrea emburrada.
- Ta, o que aconteceu com Winn? – Pergunta Lena já entendendo do que se tratava.
- Ele me largou ontem à noite, quando a gente tava quase transando para ir atender uma ocorrência médica. – reclama Andrea. – Eu entendo que ele salva vida. Que são crianças que dependem dele, mas não havia outro médico? Ele precisa atender todas às vezes?
- Ele é um bom homem e um bom médico – diz Sam com um tom de consolo.
- Sim, eu concordo com isso, mas já deve ser a terceira vez desde que começamos a sair que ele me deixa para correr para o hospital. – Explica Andrea demonstrando toda sua chateação.
- Alex as vezes se ausenta também – conta Sam calma – Mas não é porque ela me ama menos. Eu não vou dizer que gostei de ver ela saindo da cama no meio da noite para atender uma emergência. Mas são situações que temos que nos adaptar, minha amiga. Eu e Alex conversamos bastante sobre isso. Ela vai ter as emergências e vai sair para atender, pois são vidas de crianças que estão em jogo. É o trabalho dela e ela ama esse trabalho. É parte dela. Parte do que ela é. Da pessoa que eu me apaixonei – explica Sam com um sorriso leve nos lábios.
- O que Sam quer dizer, Andy é que as vezes Winn vai te deixar na mão, porque ele é um médico e ama o que faz. Ele é um bom homem e quer salvar vidas. Pode achar que é egoísmo, mas na verdade, é o maior ato de altruísmo que ele faz. – Explica Lena ponderativa. – Imagine se ele não atende uma emergência deste porte e no dia seguinte, ao entrar no hospital, ele descobre que o paciente morreu por ele não ter feito nada. Já pensou como ele poderia ficar arrasado?
- Tudo bem, eu até entendo, mas sempre tem que ser ele? – Questiona Andrea ainda um pouco chateada, apesar de estar se colocando no lugar de Winn neste momento.
- Andy, quando começamos a sair com Winn e Alex, nós duas sabíamos que eles eram médicos. Nós sabíamos que eles eram cirurgiões pediátricos e que haveriam ausências, plantões. Eu mesma, quando comecei com Alex, sabia que Ruby viria em primeiro. A questão toda é que não podemos deixar que estas situações nos afastem de quem gostamos. – Fala Sam sabendo o que a amiga sentia, mas a maternidade havia lhe ajudado a ver as coisas de forma diferente.
- Não significa que você é menos importante, Andy – completa Lena sabendo bem o que a amiga protestaria.
- Todo casal tem dificuldades, nunca é perfeito. Perfeição não existe Andy. Com os anos, eles vão reduzir estes plantões e alguém vai assumir os turnos da noite. E quando estas horas chegarem, eles estarão com pessoas que viveram ao lado deles em todos os momentos. São fases da vida. Agora, eles estão construindo suas carreiras também. – diz Sam tomando mais um gole de seu whisky e vendo a latina quase virar o copo de uma vez.
- Conversou com ele? Ou só o largou lá e saiu batendo portas? – Pergunta Lena conhecendo muito bem o temperamento da amiga.
- Ele chegou de manhã. Deixei ele dormir e fui para casa – conta Andrea. – Não queria discutir, não queria brigar. Não acho que tenho o direito de cobrar nada dela, sabe aquele ditado, os incomodados que se mudem? Pois bem, é mais fácil assim.
- Nunca enfrentará uma crise, Andy? – Instiga Lena vendo a morena a encarar.
- Gosta de casos, pois eles mantêm seu coração seguro e impedem que se envolva, que sinta falta. –Afirma Sam. – Mas esse cara é diferente, pelo visto – conclui Sam solidaria a amiga.
- Ele é – confessa Andrea baixinho.
- E por isso esta com tanto medo de conversar com ele sobre o que te incomoda? – Pergunta Lena também cautelosa.
- Sim – responde Andrea deixando as lágrimas escorrerem soltas agora. Lena e Sam se aproximam da amiga e a abraçam.
Enquanto as lágrimas correm, Andrea finalmente nota que toda a chateação que a atingiu não foi porque Winn a deixou num momento de intimidade, mas o medo de não ser o suficiente, não ser importante o bastante para ele. Ele era importante para ela.
- Sabe que precisa conversar com ele, certo? – Pergunta Sam paciente.
- Sei sim – diz Andrea sorrindo triste para a amiga. – Mas e se ele...
- Andrea Rojas, coragem – chama Lena com a voz mais séria – Esse cara é seu namorado, claro que você não é só um caso. Ele esta bobo por você desde o primeiro dia que te viu. Conversa com ele, Andy – pede Lena diminuindo o tom de voz e sorrindo carinhosa para a amiga.
- E se ele não entender?
- Que esta com ciúmes do trabalho dele? – Questiona Sam sorrindo e vendo Andrea assentir com um jeito culpado. – Andy, ele vai entender, se você for capaz de explicar e dar uma chance a vocês dois. Vocês precisam conversar. Sem conversa, não tem relacionamento que dure.
- Eu falo com ele amanhã – promete Andrea tomando outro gole de seu copo – Se eu não estiver de ressaca.
- Você sabe que vai estar de ressaca – afirma Lena rindo da amiga e indo até a cozinha pegar um copo de água e entregando a amiga.
- Queria ser tão madura quanto você, Sam – provoca Andrea, fingindo ignorar Lena.
As duas riram da provocação de Andrea para mudar de assunto e tirar um pouco o foco de si. Elas sabiam que pela primeira vez em muito tempo Andrea estava realmente se apaixonando por alguém.
- A maternidade faz bem – brinca Sam fazendo as duas rirem.
- Um passo de cada vez, Sra Danvers – provoca Andrea e vê a castanha corar.
- Calma lá você, Sra Schott – devolve Sam fazendo a latina ficar corada. – Eu ainda sou Arias e não quero apressar nada com a Alex.
- Oh, não. Ela apenas passa no café nas manhãs que não dorme aqui e nas que dorme, te leva para o café. Já pegou a Ruby na escola e até mesmo a irmã dela cuida da Ruby agora. Além de já ter conhecido a sogra e passado na avaliação. – comenta Andrea displicente.
- Não é bem assim – diz Sam corando. – Alex e eu estamos vivendo como qualquer casal normal. Fazemos coisas juntas e passamos nosso tempo livre juntas.
- E dormem juntas – insinua Lena maliciosa.
- Claro que sim – concorda Sam sorrindo com um ar de malicia. – Você já viu o quanto a minha namorada é gostosa?
- Então a Dra é boa de cama? – Indaga Andrea entrando na brincadeira.
- Melhor orgasmo da minha vida – confessa Sam corando um pouco, mas sorrindo divertida para as amigas. – Fora o carinho e toda atenção dela. E ainda tem o bônus que ela não ronca.
- Andy, sabe a parte de “Não quero apressar nada com a Alex”, eu só acho assim, que nossa amiga Samantha esta quase chamando a Dra Danvers pra morar aqui – provoca Lena humorada e as outras duas começam a gargalhar.
- Esta de bom humor, Srta Luthor – observa Sam virando para a amiga, muito corada e sem graça.
- Sim, estou sim – responde Lena sem esconder o sorriso. – Mas nem adianta fugir do assunto. Vai convidar ela para morar aqui?
- Ainda é cedo – diz Sam com seriedade. – Temos que pensar na Ruby também. Tem toda a questão das rotinas e namorar é tão bom. Não quero perder isso das flores que ela me da, as horas que ela dedica a passar no café porque me vê e esta com saudades. São momentos tão maravilhosos. – confessa Sam um pouco tímida. – Não sei se quero abrir mão desse romantismo todo ainda.
- Acha que Alex vai se acomodar?
- Não sei, mas acho que sim – confessa Sam insegura. – Eu ainda não quero falar sobre morarmos juntas, pois acho cedo. Não estou pronta para isso ainda. Com o tempo, estarei com toda certeza. Mas não queria uma rotina daquelas que falam que o casal se acomoda, perde o romantismo e o sexo vira um evento mensal.
- Sam, vou te dar o mesmo conselho que me deu: Conversa com ela quando for a hora – diz Andrea encerrando a provocação.
- Farei isso sim – diz Sam assentindo e vendo a tela do celular aparecer o nome de Alex.
A castanha estava checando a mensagem de Alex, quando notou que Lena também mexia no celular e sorria bobamente. Reparando um pouco mais, notou o brilho nos olhos da morena. Reparando melhor, Sam notou algo que haviam deixado passar a noite toda: A felicidade de Lena.
- Lena, vem cá – fala Sam chamando a atenção da morena para si. – Quem foi que colocou esse sorriso bobo e esse brilho de mulher apaixonada nos teus lindos olhos verdes? – Indaga Sam provocando a Luthor. Andrea então vira para Lena e a observa. E ali estava, as bochechas coradas de quem foi pega no flagra e o sorriso e brilho que Sam notou.
- Pode ir falando, Leninha. Nós te conhecemos muito bem para saber que alguém esta te beijando do jeitinho que você gosta – acusa Andrea se divertindo com a amiga ganhando um tom avermelhado nas bochechas.
Lena sorri divertida ao pensar em Kara e então balança a cabeça em negativa.
- Deixa eu adivinhar, é uma loira que atende por Kara Danvers ou Linda Lee quando esta escrevendo poemas para você e mandando flores? – Aponta Sam lembrando de como Ruby contou tudo a Lena alguns dias antes.
- Sim – confirma Lena feliz.
- E como foi isso que eu nem to sabendo de nada – se manifesta Andrea indignada de ter perdido a fofoca.
- Ruby descobriu que Linda Lee é Kara Danvers, a irmã da Alex – explica Sam situando Andrea. – E bem, contou tudo pra nossa amiga. Pelo que parece, a pequena Danvers foi quem cuidou de Lena naquela noite que a maluca sumiu e foi parar no pub que o Lex achou ela. E depois começou a escrever poesia para ela, mas preferiu usar o apelido daquela amiga dela, Olivia. Enfim, Ruby soube pela própria Kara a história toda das flores.
- Oh Dios mio – reage Andrea surpresa. – E eu mandei ela ficar longe de você.
- Ainda bem que ela não ficou – ri Lena pensando nos beijos da mulher. – Estamos nos conhecendo ainda, mas ela é incrível. – diz Lena.
- Como foi que isso aconteceu? – Pergunta Sam sem esconder a curiosidade.
- Eu resolvi ir procurar ela na quarta depois do horário de trabalho dela. Ruby me contou da chave reserva sobre a porta e que ela sempre fechava a loja e cuidava das flores na estufa dela antes de ir. Eu me arrumei como deu e fiquei esperando ela fechar a loja. Quando ela fechou, me enchi de coragem e entrei. – conta Lena suspirando. – Ela estava regando as plantas e achou que era uma amiga dela que havia ido lá, mas quando ela me olhou, ficou toda sem graça. Podemos dizer que eu a beijei na estufa dela ao por do sol, com direito a borboletas voando.
- Isso foi romântico – declara Sam vendo a amiga sorrir. – Mas duvido que tenha ficado nisso, Lena.
- Fomos para a casa dela, acabamos enrolando o máximo que deu para conversar. Acho que estávamos com medo, sabe? Então, cozinhei para ela. A neve ia fazer qualquer coisa chegar fria e eu estava com vontade de comer uma boa massa. Pois ela abriu um daqueles vinhos que tomávamos na época da faculdade, lembram? Aqueles mais frutados? – Indaga Lena com a nostalgia dos momentos vividos.
Vendo Andrea e Sam assentirem, a Luthor cora pelo olhar que encontra nas amigas. Ela sabia que estavam querendo lhe zoar, mas com medo de perder o resto da história.
- Vamos, podem falar – autoriza Lena esperando.
- Nada, não vamos falar nada, afinal estou sem palavras de ver Lena Luthor cozinhando para uma mulher – alega Sam sorridente e divertida. Andrea apenas gargalha.
- Olha, deixa eu cozinhar aqui uma lasanha e depois a gente conversa, porque esse vinho é muito bom e precisa de uma massa que nem reclamo de fazer para minhas amigas - imita Andrea fazendo Sam gargalhar e Lena emburrar.
- Estava frio, estávamos com fome e qualquer coisa chegaria frio. Lembram como nevou na quarta? – Se defende Lena com a sobrancelha arqueada.
- É que ver a grande Lena Luthor preparando uma massa e improvisando um primeiro encontro, bem isso é inédito – diz Sam provocadora.
- Não só comemos massa. Dançamos também e ela beija muito bem. – Confidencia Lena maliciosa.
- É Andy, pelo visto a pequena Danvers tem outros talentos além de escrever poemas e criar flores para nossa amiga aqui – especula Sam com um ar malicioso.
- Parem vocês duas, estamos apenas nos conhecendo – argumenta Lena se defendendo das provocações.
- E como esta sendo esse “apenas nos conhecendo”? – Pergunta Andrea gesticulando as aspas.
- Bem, se me deixarem terminar, eu conto. – propõe Lena de braços cruzados e a sobrancelha arqueada ao que as amigas assentem. – Marcamos um encontro sexta e jantamos na floricultura mesmo. Achei idéia interessante depois que eu reli o primeiro poema que ela me mandou, mas a noite tava chuvosa para minha varanda. Falei com Rick e ele me ajudou a montar tudo lá. Foi perfeito o encontro – conta Lena dando detalhes de sua noite com Kara.
- Lena Luthor, a senhorita esta se saindo uma bela de uma romântica. – elogia Sam suspirando.
- E hoje cedo, ela me ligou só para tomar café comigo e ir a livraria porque estava com saudades – revela Lena corando. – E eu aceitei pelo mesmo motivo.
- Oh God, isso é possível? Lena Luthor sentindo falta de alguém? – Provoca Andrea.
- Era ela no telefone? – Indaga Sam curiosa.
- Sim, era ela me dando boa noite – confessa Lena ignorando a provocação de Andrea. – Ela é divertida, alegre, romântica e uma pessoa maravilhosa.
- Esta se apaixonando? – Questiona Sam vendo a amiga se abrir como não fazia a muito tempo.
- Acho que sim, ainda não sei – admite Lena, ainda confusa. – Estamos nos conhecendo ainda.
- E neste só nos conhecendo, como ela é na cama? – Questiona Andrea com malicia.
- Ainda não chegamos lá – diz Lena corada. – Estou deixando acontecer. E bem, estou praticamente deixando ser no tempo de Kara. Ela parece um pouco desconfortável ainda. – revela Lena deixando as amigas curiosas. – Ela retribui e me rouba beijos deliciosos, mas quando eu meio que me perdi nos toques na sexta e quase tirei a blusa dela no carro perto da casa dela, ela deu aquela paralisada. Eu achei melhor parar e ir para casa.
- Tudo tem seu tempo, Lena – aconselha Sam observando a amiga.
- Eu sei e vou esperar o nosso tempo, Sam. Acho que é até melhor assim. – declara Lena insegura – Faz muito tempo que eu não sei como é sentir isso que estou sentindo. É assustador, na verdade.
- Então, só aproveita Lena. O tempo é o melhor amigo de vocês duas agora – aconselha Sam carinhosa com as amigas e vê Lena e Andrea concordarem.
Elas ainda ficaram conversando por muito tempo antes de acabarem por adormecer cada uma largada em um canto da sala. Sam retirou os pratos vazios de petisco e a garrafa de Whisky. Cobrindo as amigas, ela subiu para seu quarto e dormiu.
Continua...
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