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História Llévame Gitano - Su Pelo


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


Aqui estou pra uma atualização!
Peço desculpas pela demora nas respostas dos comentários </3

Capítulo 3 - Su Pelo


Fanfic / Fanfiction Llévame Gitano - Su Pelo

 

Kyungsoo acordara bem cedo naquela manhã, estava prestes a chegar uma nova remessa de cerâmica no porto da cidade e teria que estar presente para recebê-la, já que sua principal função no negócio da família era justamente controlar a quantidade de produtos que entravam no país para suas lojas.

Arrumou-se depressa, saindo de casa sem cumprimentar os pais, apenas avisando que receberia a entrega em algumas horas. Não tivera tempo para tomar seu dejejum, e, morrendo de fome, resolveu correr até a costa. Devia ter acordado ainda mais cedo, mas enrolara por alguns minutos sua estadia na cama quente e aconchegante. Mesmo que gostasse um pouco de seu trabalho, não estava nada disposto para fazê-lo naquela manhã, ainda mais com o estômago vazio.

Já podia sentir o cheiro do mar e um vento forte chicoteando seu rosto antes que sua visão alcançasse a praia, estava cansado por ter acelerado tanto o passo, seu preparo físico não era um dos melhores. O capitão do navio que transportava a cerâmica não estava nada contente quando Kyungsoo finalmente apareceu, aquele homem carrancudo não gostava de atrasos, por mais que recebesse bem por trazer as remessas do produto, ainda era audacioso o suficiente para reclamar de certas coisas.

O burguês sempre era calmo, fazia as contas da quantidade de produtos com certa lentidão, observava praticamente todas as peças para tentar achar alguma parte danificada... Somente com a intenção de certificar-se que tudo viera corretamente. E estava fazendo isso naquele exato momento, com o capitão carrancudo em seu calcanhar, exigindo que apressasse sua inspeção, pois tinha entrega de outros produtos para fazer.

Estava sem certa paciência para aturar tamanha insolência daquele senhor, e amaldiçoava-se mentalmente por ser incapaz de ser grosseiro. Mesmo que soubesse que o homem realmente possuía mais o que fazer, pois também era responsável por fazer entrega de remessas de frutas para alguns feirantes, porcelana era algo delicado... Depois de tantos anos aquele capitão já devia saber que precisava ser cuidadoso antes de aceitar os produtos quebradiços.

Depois de algum tempo finalmente terminara sua inspeção. Contava a quantia de dinheiro para ser entregue quando foi capaz de ouvir vozes alteradas interromperem o som das ondas. Achava que fosse apenas alguns dos feirantes fazendo protestos por sua demora, mas notou que não havia outros ali além dele e da tripulação do navio. Algo estava errado.

Ao entregar o dinheiro, olhou com curiosidade para o local de ondo o barulho parecia vir e, depois de poucos segundos, encontrou um rapaz moreno correndo pelo barco com uma furiosa tripulação perseguindo-o. Kyungsoo surpreendeu-se ao descobrir que era o tal cigano, e sentiu seu coração parar de bater ao vê-lo pendurar-se nos mastros, nas cordas, correndo descalço com uma sacola velha de pano nas costas. Apesar de estar sendo perseguido, apenas ria e debochava dos homens que tentavam captura-lo.

Além de bom dançarino, era incrivelmente habilidoso em fuga... Pois ninguém estava sendo capaz de pará-lo naquele navio. Suas risadas eram altas, seu cabelo estava solto após tanta movimentação, e perguntava-se como era capaz de enxergar algo com aqueles fios negros voando sobre seu rosto cada vez que desviava das mãos dos tripulantes. O capitão gorducho agora corria aos tropeços até seu navio, na intenção de segurar o cigano que fazia tanto alarde no local. O burguês não pode deixar de rir ao ver como dois dos homens trombaram de frente por culpa de um cigano que os confundira de direção.

Mais uma vez, era capaz de admirar o rapaz moreno e descobrir que não era apenas dançando que conseguia ser livre como o vento.

Após alguns minutos de confusão no navio, o cigano pulara para dentro da água, e Kyungsoo sentiu seu coração parar mais uma vez, pois sabia que o local não era tão fundo e que provavelmente uma pessoa podia morrer ao mergulhar daquela altura. Estava prestes a se jogar no mar para socorrê-lo quando viu o nômade emergir, ainda carregando sua sacola, nadando até a margem. Ele colocou-se de pé rapidamente, ofegante, mas ainda com um enorme sorriso de diversão nos lábios. Sua calça preta estava completamente molhada, assim como sua blusa branca e seus cabelos compridos, que agora grudavam em seu rosto e seu pescoço.

“Mas ora, veja só quem eu encontrei dando um passeio pela praia.” O rapaz branco assustou-se ao perceber que o cigano andava rapidamente em sua direção ao dizer tais palavras. “Certamente é uma pena não poder lhe cumprimentar devidamente, estou um tanto ocupado, como pôde notar.” Kyungsoo não sabia o que responder, e não fora capaz, pois o mais alto dava passos para trás, abrindo sua sacola e tirando uma bela maçã avermelhada. Então era isso que havia tomado do navio...

O moreno deu uma grande mordida naquela fruta, cravando seus dentes com vontade, e, antes de se afastar completamente, jogou a maçã que segurava na direção de Kyungsoo, que, por reflexo, a agarrou com certo susto. “Devia provar, está deliciosa!” Gritou o cigano, antes de virar-se completamente de costas e correr para longe, tão rapidamente que nenhum membro da tripulação foi capaz de alcança-lo.

Não sabia se era certo rir daquela situação, mas não conseguiu prender seu riso ao ver tantos homens cansados e irritados levando diversas broncas do capitão, que gritava indignado, perguntando como apenas um homem conseguiu roubar um bocado de maçãs e ainda fugir ileso. 

Voltou sua atenção para a fruta mordida em suas mãos. Era realmente muito vermelha, e parecia ainda mais suculenta com toda a fome que sentia no momento. Não devia comê-la, sabia disso, fora roubada, mas não valeria a pena devolvê-la daquela maneira. Não seria pecado devorar aquela maçã, certo? Já não havia o que fazer a respeito dela, jogar fora poderia ser ainda mais errado. Aproximou sua boca da fruta e a mordeu praticamente no local onde o cigano cravara seus dentes. Era realmente deliciosa, tão deliciosa que a devorou em poucos minutos, com um sorriso enorme no rosto e agradecendo mentalmente por ter ganhado aquela maçã, mesmo que de uma forma não muito correta.

Após sua pequena refeição e ter alugado umas carroças para o transporte da cerâmica, voltou para sua casa ainda com um sorriso no rosto. Tudo aquilo fora realmente divertido, era tão difícil sentir-se assim...

“Por que tanta felicidade nesse rosto, Kyungsoo?” Perguntou a mãe no momento em que colocou os pés em casa, com um tom meio irônico e rabugento. Não fez questão de responder, então apenas retirou a expressão alegre que possuía e entregara as anotações sobre a nova remessa de produtos nas mãos da mulher. Obviamente algo iria estragar seu curto momento de divertimento. Nada naquela casa o deixava feliz, muito menos voltar para ela...

•••

 Kyungsoo estava apreensivo.

Enquanto caminhava em direção às suas aulas de celibato, questionava-se como seria sua recepção. Nunca havia faltado um dia sequer, mas na noite anterior deixara de ir apenas para aventurar-se nas tendas ciganas... E certamente não poderia contar suas descobertas para o Frei. Pensou em criar uma desculpa, mas sabia que seria uma mentira, e mentiras também eram pecado...

Começou a ficar confuso. Não queria dar-lhe explicações, mas também não queria mentir ou contar a verdade, e sabia que assim que colocasse os pés no local seria recebido com perguntas do motivo de sua primeira ausência em uma das aulas.

O medo de estar pecando e o medo de confessar o que havia feito o influenciara a tomar outro rumo.

Seus passos aceleraram, mas não em direção à paróquia, e sim, para as cabanas que estava um pouco mais a frente, na entrada da floresta... Apesar de ainda possuir certo receio com relação aos ciganos, queria escapar de alguma forma de sua aula... E conversar com aquele moreno sorrateiro.

Mas nesse dia não havia festa alguma em torno da fogueira, apenas algumas pessoas em torno da mesma... Alguns trabalhando em algo artesanal, outros mexendo em seus instrumentos, outros preparando comida... Estavam calmos, e isso o fez lembrar-se das palavras do moreno que procurava, que nem sempre eles festejavam.

Assim que colocou os pés no local, a mesma garota que o recebera da primeira vez aparecera, com um rosto cansado, porém ainda alegre. “Veio para uma nova consulta? Hoje estou disponível para atendê-lo!” Alertou, segurando-o pelo braço levemente para levá-lo até uma das tendas. Mas Kyungsoo apenas tentou desvencilhar de suas mãos, acanhado. “Desculpe-me, mas... Vim procurar o homem que me antedeu da última vez...” 

A cigana pareceu murchar os ombros ao soltar um suspiro quase inaudível. Tentou alertá-lo que quem procurava não estava disponível, mas o burguês apenas insistiu, fazendo-a desistir e levá-lo até um local um pouco mais distante das tendas e das carroças. Um pouco mais adiante foi capaz de localizar alguns cavalos presos às árvores, e ao lado de um estava o rapaz moreno.

Aproximou-se vagarosamente após a mulher se afastar, estava um tanto envergonhado e continuava com um pouco de medo por não conhecê-lo muito bem. Mas como sua curiosidade era sua maior dádiva e defeito...

Parou com alguns metros de distância do cigano, que parecia perdido em seu próprio mundo ao acariciar um cavalo de pelos completamente negros. Podia ouvir cochichos baixinhos, deduzindo que o maior estava tendo uma pequena conversa divertida o animal. Tentou se aproximar mais alguns centímetros, mas fora pego de surpresa por aquela voz grave. “Acho que já lhe disse que é um péssimo espião, certo?” O tom risonho do moreno fez o burguês exaltar-se, levando uma das mãos ao peito, sentindo seu coração acelerando pelo susto. “Por que veio me procurar? Não estou fazendo consultas hoje, como pode notar.”

Kyungsoo admirava o fato de ter sido visto, já que o nômade ainda admirava e acariciava o cavalo em sua frente. Parecia tão cuidadoso, tão gentil... Resolveu aproximar-se e deslizar uma de suas mãos sobre os pelos negros do animal, imitando os gestos do maior. “Quando eu era menor meus pais me compraram uma égua...” Suas memórias tomaram conta de sua mente naquele momento, a lembrança de quando seus pais obrigaram ele e seu irmão a aprender a cavalgar... Apesar de sempre ter odiado fazer tudo o que era imposto, aquele aprendizado fora completamente agradável.

Sua gentil égua tornou-se sua melhor amiga... E para um garoto de doze anos, cujo o irmão não lhe dava atenção, e que mal tinha contato com outras crianças de sua idade, aquele animal fora o melhor presente de sua vida. “A adorava... Era a criatura mais dócil e amável. Lembro-me de quando ia até o estábulo alimentá-la. Sempre era recebido com alegria por ela...”

Percebeu como o cigano que o notava daquela vez, apenas calado, observando e escutando com atenção sua história. “Talvez compartilhasse dos mesmos sentimentos que eu, pois a presença de meus pais a incomodava bastante... Para dizer a verdade ela só permitia que eu a tocasse. Era uma menina temperamental!”

O cigano soltou uma leva risada ao ouvi-lo se referir à égua daquela forma. Kyungsoo retribuiu a risada, mas sua expressão mudara segundos depois. “Quando completei quatorze anos ela quebrou uma das patas... Ah, como foi terrível! Tentei convencer meus pais de chamar ajuda, para tentar curá-la de alguma forma, mas disseram-me que um cavalo que não incapaz cavalgar era um peso inútil. Foi um luta para me tirar de perto dela antes que a sacrificassem...”

O moreno havia parado de acariciar o animal quando voltou seu olhar para o burguês, que retribuiu a mirada.

Não havia sorrisos, apenas dois rostos pensativos, analisando as expressões um do outro. Mas o cigano mexeu-se primeiro, segurando o burguês pela cintura e levantando-o com certa facilidade, assustando-o mais uma vez. “O que está fazendo?!” Gritou, sendo obrigado a montar na cela do cavalo que antes estavam mimando. “Este é Khan*!” Bravejou o maior, observando como o rapaz branco tentava endireitar-se sobre o animal depois do susto repentino. “Cuido desse menino desde novo... E acredite, ele também é temperamental, então tente não puxar nenhum pelo.” Kyungsoo não estava entendendo o porquê daquele alerta e muito menos o motivo de estar montado naquele cavalo. Segurou-se com força na cela ao ver que o outro havia dado sinal para que começasse a correr.

Estava prestes a gritar com mais outro susto que tomara, porém parou ao notar que o cigano o acompanhava em outro cavalo. “Acho que ele gostou de você!” O rapaz de pele bronzeada abriu mais um de seus sorrisos arrebatadores, deixando Kyungsoo ainda mais atrapalhado do que estava.

Há muitos anos não montava em um cavalo, e não tinha certeza de que conseguiria manter-se sobre aquele por muito tempo... Mas surpreendeu-se pela forma que foi capaz de se manter cavalgando até chegarem à praia, onde desaceleraram os animais, que passaram apenas a caminhar lentamente na fina areia.

Não trocavam palavras, somente encaravam a extensão da costa, o mar e alguns pequenos barcos que apareciam de forma intrusa no meio da paisagem natural. O som da brisa atingia seus ouvidos e se misturavam com os sons dos passos dos cavalos. Era um silêncio cômodo, mas Kyungsoo queria ser capaz de ouvir aquela voz grave novamente... Ainda desconhecia o motivo da fixação que estava tendo com o moreno, e certamente aquilo ainda o assustava, por mais que o medo tivesse diminuído de forma considerável.

Lembrou-se de quando o vira naquela manhã... Correndo pelo navio, rindo, brincando com o fato de ser habilidoso demais para ser apanhado. Rapaz sorrateiro.

Encarou-o, analisando como sua postura era correta, tentando imaginar como aquele corpo bronzeado era capaz de ser tão cheio de vida e tão independente. Capaz de soltar-se ao dançar, ao correr, ao pular... Até nadando e cavalgando era capaz de humilhar qualquer homem com tanta disposição e força física. Nunca conhecera ninguém assim... Ele era tão cheio de mistérios quanto seu povo, dando jus ao sangue quente que pareciam possuir.

“Hoje mais cedo... Estavas a furtar?” Perguntou o branco, sem tirar seus olhos do cigano de cabelos lisos. “Estava.” Respondeu, sem seu alegre tom de voz.

Apesar de roubar ser um crime e com certeza um pecado, Kyungsoo não se sentia no direito de julgá-lo, ou dizer que era um erro e que podia ser castigado por isso. Aquele nômade possuía o poder de fazer com que todas suas ações não parecessem tão errôneas...

“Meu povo... Nem sempre tem o que comer. E por mais que eles não apoiem e até bravejem comigo, tomar algumas frutas em um navio abarrotado delas não me parece tão errado assim, se analisarmos que meu objetivo é apenas alimentar aqueles que chamo de família.”

Mais uma vez as palavras do cigano o pegaram de surpresa. Kyungsoo admirava-se cada vez que ele proferia frases, pois sempre, tudo o que ouvia, o deixava pensativo sobre sua vida e sua família... Talvez todos estivessem errados sobre a visão que tinha sobre o povo nômade a qual aquele rapaz pertencia.

Afastaram-se da cidade sem perceber, já estavam próximos às pedras que indicavam o final da praia. Foram levados por suas distrações, e agora desciam dos cavalos, prendendo-os nas árvores mais próximas.

O burguês gostava de observar o maior por algum motivo que insistia em descobrir. Sabia que era curioso, mas sua curiosidade pelo homem que o acompanhava o deixava, de certa forma, intrigado até demais. Viajava em seus devaneios quando o mesmo rapaz que observava passava a se aproximar de si, voltando a sorrir daquela forma tão encantadora. “Por que tu procuraste por mim?” Sua voz era serena, assim como sua expressão. Seus cabelos estavam soltos e esvoaçavam quase que minimamente com a brisa vinda do oceano. Ele não parecia se importar com o fato de alguns fios estarem atrapalhando sua visão.

Nunca vira um cabelo tão belo... Apesar de o seu ser um tanto liso, não se comparava com o peso e o brilho do que possuía os do cigano. “Pode tocar.” Disse, fazendo Kyungsoo arregalar seus grandes olhos com a permissão que recebera do nada. Era possível que estivesse lendo sua mente?

“Estás curioso, certo? Pois vá em frente.” Insistiu, aproximando-se do corpo do menor. O burguês não questionou muito a situação em sua mente, então resolveu apenas tocar as pontas do cabelo do moreno, que roçavam sobre os ombros do mesmo. Eram pesados, extremamente macios e escorridos... Era um toque acanhado, envergonhado, mas certamente era agradável. Seus dígitos deslizavam quase de imediato por entre os fios escuros. Até nisso ele era diferente de todas as pessoas que já vira...

“Acho que nunca nos apresentamos... Chamo-me Kyungsoo.” Ousou falar, tentando quebrar o clima vergonhoso, mas sem tirar sua atenção do local que explorava com os dígitos, ainda perdido nos cabelos do moreno. “Creio que pode me chamar de Kai, por enquanto... É um prazer, finalmente, conhecê-lo, Kyungsoo.”

Não havia entendido o motivo do ‘finalmente’, já que se conheceram há alguns dias, entretanto não estava disposto a questionar. “Kai... É realmente teu nome?” Recebera apenas um sorriso silencioso como resposta e uma aproximação maior. “Meu povo apelidou-me dessa maneira.”

Então não era seu nome real... E ele não parecia disposto a dizer seu nome de batismo, pelo menos não no momento. Consideraria um ultraje, se não fosse pela capacidade que Kai -como passaria a chamá-lo- possuía em deixá-lo extremamente admirado e curioso. “És muito diferente, Kyungsoo... Já lhe disseram tal coisa?”

Diferente? O burguês estranhou o adjetivo, pois seu encanto pelos ciganos, e principalmente por Kai, eram justamente frutos da grande diferença que possuíam do resto da sociedade espanhola. Ele era apenas mais um rapaz de boas condições, nascido e criado lá, como todos os outros espanhóis do local. Como poderia ser diferente? E pior, como poderia parecer diferente para o cigano?

“Devo considerar um elogio? Pois nunca fui chamado dessa forma. E também creio que devo enfatizar que não sou elogiado com frequência, por isso não estou certo de como interpretar...” O moreno apenas encarou a confusão em seu rosto, que tinha certeza que deixava transparecer. “Posso assegurar que é um elogio. Perdoe-me por fazê-lo confuso.”

Kyungsoo apenas moveu sua cabeça negativamente, acenando que não era necessário pedir desculpas. Afinal de contas, abrira um sorriso ao ter sido alertado de que acabara de ser elogiado...

Seus pais não costumavam a cumprimentar ou elogiar seus feitos e seus dons, muito menos seu irmão, que provavelmente invejava qualquer diferença boa que podia possuir. Os únicos elogios que recebia provinham do Frei, em suas aulas de celibato, e mesmo assim eram apenas cumprimentos por ser um bom estudante. E com certeza, depois de ter faltado mais uma vez, não receberia elogios tão cedo.

Apesar de não ter soado como um cumprimento, aquilo o deixara feliz...

Seu sorriso tornou-se seu agradecimento, e sabia que Kai havia notado isso. Pois retribuíra a expressão alegre ao dar pequenos e leves tapinhas na cabeça do burguês, quase como um carinho, fazendo-o encolher o corpo. “Obrigado por não temer minha presença, Kyungsoo. ” Após abaixar sua mão, o cigano caminhou até uma das pedras, sentando-se sobre ela e voltando sua visão para o mar.

Cada vez mais o rapaz de pele clara questionava tudo aquilo. Sua curiosidade sempre o levou para um mundo novo, mesmo que apenas imaginário... Mas sentia que daquela vez realmente estava descobrindo algo que nunca vira em sua vida... Algo real.

Sentou-se ao lado de Kai, abraçando as próprias pernas. Ele não o encarava, continuava a mirar o mar, como se lesse alguma coisa nas ondas, como se tentasse descobrir seus segredos misteriosos. Aproveitou da distração do rapaz para voltar a analisá-lo.

Deitou sua cabeça sobre os joelhos, redesenhando em sua mente todos os traços diferentes exóticos que o cigano possuía. Tinha medo de parecer estranho, caso fosse pego em admiração tão profunda, mas arriscou... Voltando a tocar nos cabelos soltos de Kai, que nem ao menos se exaltou com a ação, permanecendo parado.

Kyungsoo sorriu mais uma vez, explorar todo aquele verdadeiro mundo novo o tirava da monotonia, o tirava da realidade de sua casa. Era aconchegante, de fato, estar ao lado de um dos homens que a sociedade dizia ser um herege. Já começava a deixar de se importar com tais palavras, e até a discordar...

Não sabia se era certo o que estava fazendo, mas não parecia ser.

Desligou-se de sua realidade naquela noite, focou apenas naquela quase nova amizade que havia formado e em tudo o que descobria aos poucos. Fez questão de não se preocupar com as horas que se passavam, afinal de contas, ninguém realmente se importaria com seu atraso e muito menos sentiria sua falta em casa. Resolveu ficar por lá por horas, conversando com o cigano, recolhendo conchas, acariciando os cavalos... Aos poucos podia sentir o sentimento de monotonia sumir de seu coração...

Fugir daquelas aulas aborrecedoras nunca fora uma ideia tão boa. 


Notas Finais


Mais um capítulo finalizado! Desculpe a lentidão que está... Prometo que já, já ela começa a dar mais emoção!

* Khan - Em Romani/Romanês (A língua dos ciganos) significa Sol.
Devo ressaltar que não é 100% certo que seja assim, pois é realmente difícil encontrar a escrita correta do romani e também é difícil achar um dicionário seguro. Estou apenas me guiando pelo que eu consegui encontrar em minhas pesquisas.

Meu twitter: @tiinkerbaek com dois "i"s


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