Ela sempre foi imprevisível.
Muitos diziam que ela não fazia sentido, que suas palavras eram aleatórias e suas colocações não passavam de frases soltas jogadas ao vento. Sem significado, levianas.
Ele soube que aquilo era mentira desde a primeira troca de palavras.
— Oi, me chamo Felipe.
— Oi, eu odeio abóbora.
Bastou aquela única conversa para que ele a compreendesse, pois a lógica por trás de seus pensamentos não era difícil. Uma informação por uma informação, era assim que ela funcionava, e para cada pergunta mal formulada, uma resposta sincera, apesar de incomum.
— Como você está?
— Com fome.
Ela era peculiar.
Jurava ter o coração duro, dizia não se importar com o cenário político e falava para quem quisesse ouvir o quão ruim era a música brasileira, mas se derretia sempre que avistava qualquer cachorro pelas ruas, era capaz de discursar horas a fio sobre os malefícios do atual governo e, em seu celular, trazia as discografias do Los Hermanos e de Caetano.
Afirmava não se importar com a opinião alheia e que queria um estilo de vida saudável, mas seu rosto ficava vermelho sempre que recebia uma crítica e ela jamais recusava um hambúrguer e refrigerante.
Era formada de contradições, manias e imperfeições e Felipe amava cada um daqueles traços.
Amava o formato engraçado de seus dedos dos pés, sua mania de deixar os sapatos espalhados pela casa e sua propensão para exageros.
Amava sua risada escandalosa, seu humor ácido e sua falta de paciência. Amava até mesmo seu mau gosto para livros e filmes.
— Eu amo você, – disse Felipe um dia.
— Eu sei, – ela respondeu com um sorriso dos mais radiantes. – Quero adotar um gato.
Uma informação por uma informação, era assim que ela funcionava e Felipe não queria que ela fosse de outra maneira, pois, então, não seria ela.
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