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História Loki - Amor em Alfheim - Alfheim


Escrita por: reginahiddles e Doidorotto

Notas do Autor


Após um longo hiato, voltamos a nossa programação normal (assim espero!). Este capítulo contém grandes aventuras e várias referências (será que o Capitão América conseguiu entender todas?). Espero que gostem.

Boa leitura!

Capítulo 2 - Alfheim


Em algum lugar de Asgard…

Debaixo de uma árvore, distante do tumulto da cidade, Loki estudava tranquilamente. Prestava atenção a cada palavra do livro que Frigga, sua querida mãe, recomendara, decorando cuidadosamente o procedimento para conjurar ilusões ainda maiores e mais realistas. Fechando o livro, o jovem estendeu uma de suas mãos, respirou fundo e mentalizou uma pequena cobra verde, que se materializou em meio a um clarão e foi ficando cada vez maior e mais assustadora. Loki sorriu, orgulhoso de seu próprio poder, porém, a imagem se dissipou imediatamente quando uma mão pesada caiu sobre seu obro, em um toque firme.

– Irmão, porventura não soubestes de meu regresso?

– Thor?! Como me encontrastes aqui?

– Foi fácil – respondeu o príncipe loiro, abrindo um sorriso repleto de nostalgia… – Quando éramos crianças, você sempre vinha pra cá quando ficava triste. O que te aborrece, Loki?

– Nada que mereça tua atenção. O que fazes aqui em minha deprimente companhia? Não há um banquete em vossa homenagem acontecendo nesse exato momento?

– Não em minha homenagem. É uma comemoração por nossa vitória em Jotunhein. Vim buscá-lo para que se junte a nós, meu irmão.

– O que eu devo comemorar? Não tive participação nessa batalha. Sabes que o pai não permitiu que eu te acompanhasse.

– Não me olhes assim, Loki! Sabes muito bem que nada tive com tal proibição. Às vezes, nosso pai se comporta como um velho tolo… E tu, desde quando és tão obediente? Por um momento, cheguei a pensar que estavas disfarçado de soldado no campo de batalha.

– Estou determinado a fazer tudo certo. Ainda deixarei meu pai muito orgulhoso de mim.

– Ele se orgulha!

– Tem um modo muito peculiar de demonstrar então…

– Loki! – O loiro tomou o rosto de seu irmão em sua mão direita, fazendo-o olhar nos olhos. – Nosso pai tem muito orgulho de ti, estou certo disso. És inteligente, poderoso e pacifista. Quando a hora chegar, será um ótimo…

– Um ótimo o que? Bobo da corte para entreter o Poderoso Thor, rei de Asgard?

– Meu irmão, de novo com isto?! – Thor suspirou baixando a cabeça e envolvendo o ombro de Loki com seu braço musculoso, – Venha! O dia de hoje é para ser celebrado. Esperam por nós no salão.

“Thor pode não ter participação alguma na ordem de nosso pai, mas certamente se beneficiará de minha ausência em uma batalha tão importante. A cada dia, ele fica mais perto do trono de Asgard e eu… Cada vez mais distante do coração de meu pai.”, pensou Loki, olhando para o horizonte enquanto o loiro o guiava.

– Loki? O que se passa? Tem algo que queres me dizer?

– Não é nada, meu irmão. Só estava pensando em meus estudos.

– Se não queres me contar agora, tudo bem. Mas sei que me escondes algo. Te conheço bem.

– Eu nunca minto.

– Hipócrita! – Thor gargalhou. – Mentes o tempo todo!

– Não para ti, meu irmão.

– Sei bem… – Respondeu em um tom irônico.

– Thor… Apesar de nossa rivalidade pelo trono, mesmo que não acredites, quero dizer-te que o estimo muito.

– Sei disso, Loki. É recíproco, meu querido irmão! E quanto a ti, não deverias se preocupar tanto com o trono. Independente de quem for o sucessor do Pai de Todos, estaremos sempre juntos.

– Eu não tenho tanta certeza…

– Por que diz isso?

– Nosso pai disse algo que – ao fitar os olhos de Thor, Loki percebeu um incomum ar de preocupação… – Ora, não se preocupe, meu irmão! Não foi nada. Para ser honesto, nem entendi bem o que ele quis dizer. Como tu mesmo o dissestes, às vezes Odin age como um velho tolo. – O rapaz de cabelos negros sorriu, amigável, e colocou sua mão sobre o ombro do irmão.

Thor continuou olhando pensativo para o irmão, como se tentasse ler seus pensamentos. Dessa vez, porém, o olhar do feiticeiro era indecifrável. O loiro então respirou fundo tentando recuperar o clima festivo em sua voz e em sua alma.

– Que seja! Não estraguemos nossa celebração com meras especulações. – O guerreiro deu alguns tapinhas nas costas de Loki e sorriu. – Vamos logo antes que o Volstagg acabe com o hidromel.

***

Loki comeu e bebeu até se sentir farto, mas não apenas de comida e de bebida, como também da zombaria e das bravatas vindas de seus amigos e de seu irmão. Ao se lembrar do último episódio que acabara em briga e desperdício de comida, o príncipe decidiu deixar o salão de festas sorrateiramente antes que sua paciência chegasse ao fim e acabasse por fazer algo que trouxesse arrependimento.

Ele precisava encontrar um lugar para sossegar, um lugar onde Thor não pensaria em procurá-lo. No entanto, como o próprio irmão já dissera mais cedo naquele dia, era fácil encontrá-lo, sendo assim, seria inútil se esconder nos lugares usuais. Loki sabia que tinha que improvisar, era preciso pensar diferente ou seu irmão saberia de todos seus passos. Lembrou-se então de um lugar nos confins de Asgard.

Ele mesmo nunca esteve ali, mas lembrava que Odin não os deixava ir até lá quando crianças, pois poderia ser perigoso e raramente havia guardas por perto para proteger os jovens príncipes. Loki sabia que se fosse até lá, nem mesmo Thor o encontraria. Se usasse alguns truques que acabara de aprender no livro de Frigga, talvez nem Heimdall fosse capaz de rastreá-lo. Era o plano perfeito! Um lugar potencialmente perigoso, porém, livre de aborrecimentos e interrupções.

Para chegar a seu destino, seria preciso conseguir uma carona. Claro, uma carona individual. Um dos drakkars de Asgard seria suficiente para chegar ao seu destino. Contudo, somente os soldados de Odin tinham autorização para requisitar um deles. E, esse, realmente não era o caso de Loki.

Então, a melhor maneira de conseguir uma seria usando as habilidades adquiridas nos livros de sua mãe. Seria uma forma de ter um pouco de paz para sua leitura e ainda poderia colocar em prática um pouco do que aprendera. Passou alguns minutos observando a rotina daqueles soldados no grande porto, onde ficavam atracados os drakkars – naves que se se assemelhavam a canoas com asas nas laterais, uma quilha e um guarupé na frente, geralmente adornado com a cabeça de um dragão, serpente ou cavalo.

Para Loki, qualquer um servia (exceto aqueles com cabeça de cavalo, por razões que ele preferia não pensar), então, foi até o porto, concentrando sua energia mágica em transformar-se em um daqueles soldados. Era uma tarefa difícil. Ele tinha que metamorfosear todo seu corpo, roupas, cabelos e voz, para que quem o visse não houvessem suspeitas. Comparado aquilo, criar cobras ilusórias para assustar garçons era fácil.

O flash de luz e o som baixo da magia em ação foram os únicos indicativos que a magia foi conjurada, então, sem saber o que esperar daquilo, caminhou altivo até um dos soldados e parou em frente a ele.

– Sim?

“Sim”?! Não “Vossa alteza” ou “meu príncipe”?! Era um bom sinal. Agora, ele só precisava não parecer muito espantado e manter atitude.

– Ããhn… Odin requisita sua presença – Loki falou a primeira coisa que veio a sua mente… – Imediatamente!

– Minha presença?

Loki apenas acenou positivamente com a cabeça.

– Por quê Odin requisitaria a minha presença? O que eu fiz?

– Eu não questiono a sabedoria do pai de todos… Sou apenas um mensageiro. – Loki deu de ombros. – Devo informá-lo que você se recusa?

Aquilo foi suficiente para que o soldado pegasse seu capacete, vestisse rapidamente e corresse em direção a saída do porto, deixando Loki sozinho com um dos drakkars. Era tudo oque ele queria. Com um pouco de procura, ele foi capaz de encontrar o remo de controle e decolou com o navio. Claro que aquilo atraiu a atenção dos outros soldados no local que berraram para que Loki voltasse.

Algo que não estava em seus planos.

– Parabéns, Loki! – Disse para si mesmo. – Fugiu do salão para ficar longe de encrencas e arrumou uma das grandes!

O jovem manobrou com alguma dificuldade no meio dos altos prédios de Asgard, derrubou algumas pilastras e causou algum tumulto nas ruas enquanto voava baixo demais para despistar seus perseguidores, o que, em sua conta, foi um começo muito bom.

– Vossa majestade… – Um dos soldados que estava a bordo do drakkar roubado pelo príncipe, olhou de dentro de uma escotilha, surpreso porque estavam em alta velocidade, passando perigosamente perto dos prédios. – Não deveria estar aqui!

– Acaso questionas minha autoridade, soldado? – Ergueu a cabeça enfatizando a última palavra de modo a deixar claro quem mandava ali.

– C-Claro que não, meu príncipe! Eu só… – Respondeu o guarda, pálido como a neve de Jotunhein.

– Então por quê me questionas? Aliás, o que faz em pé?

– Eu… é…

– De joelhos! Já!

– Imploro por seu perdão, majestade! – O soldado caiu de joelhos imediatamente.

– Está perdoado. Mas que isso não se repita!

– Se me permite a ousadia, meu príncipe… Para que precisa da nave, senhor?

– Ahh… estou… “requisitando” esse veículo por alguns momentos, então… Não é nada de mais… – Loki tentava manter a calma enquanto o soldado aproximava-se. – É só isso mesmo.

O drakkar saiu do perímetro urbano e começou a voar sobre o mar. O soldado ainda não entendia o motivo de haver outro navio voador perseguindo o drakkar de Loki. Ele aproximou-se, ainda sem entender nada, e parou ao lado do príncipe de Asgard. Torcia apenas para que Thor não entrasse na perseguição.

– É mesmo senhor? Porque estamos então sendo perseguidos?

– É minha escolta. – Loki deu de ombros. – Sou um príncipe, não?

– Senhor… bom, neste caso… – o homem não parecia convencido. – Então, por que estamos indo tão rápido? A escolta não deveria estar ao nosso lado?

– Me diga, amigo, quem você acha que é o melhor herói? Thor ou Loki?

– Bom… Thor? – o soldado respondeu sem muita confiança na própria resposta.

– E por quê?

– Ah… ele tem um martelo…? E controla raios… E quanto ele bate com o martelo, todos os vilões caem no chão, graça a sua força…

Loki soltou rapidamente o remo de controle e, sem que o homem tivesse tempo para reagir, empurrou o soldado para fora do barco voador, fazendo-o voar para longe e cair na água. O segundo drakkar teve de parar para resgatar o colega que se afogava nos mares de Asgard.

– Viu? Quem precisa de um martelo? – Loki voltou a assumir o comando do barco e falou para ninguém em especial sem tirar os olhos do seu destino. – Empurrei você com as minhas próprias mãos.

Agora, sem os perseguidores, Loki direcionou a nave para a ilha onde poderia finalmente descansar e ler seu livro. Aquilo que deveria ser só um momento de relaxamento e leitura, acabara de se tornar uma aventura muito maior e arriscada. E Loki adorava aquilo.

Chegando em seu destino e desembarcando, após uma longa caminhada, o jovem sentou-se naquela colina árida e começou a ler. Um livro sobre sua disciplina favorita: Ilusões. Tentava fazer uma pequena serpente, ou um pássaro que voaria e, a cada conjuração, fazê-lo voar cada vez mais longe. E, por algum motivo que ele não entendia, ele estava se saindo muito bem.

As ilusões voavam alto e iam em direção a uma determinada montanha naquela ilha. Elas voavam cada vez mais alto e mais longe, sempre convergindo em direção a montanha. As serpentes ilusórias também surgiam cada vez maiores e mais gordas, agressivas e poderosas, rastejando rapidamente em direção as montanhas.

Loki tentava se concentrar em seus estudos, porém, algo o incomodava: aquela sensação estranha tomou conta de seu ser. Era como se uma energia estranha o convidasse a chegar mais perto das paredes rochosas de uma montanha. A mesma para onde suas ilusões dirigiam-se. Cansado de lutar contra aquela sensação, Loki fechou seu livro e caminhou para as montanhas, deixando-se guiar por seus instintos. “Uma pessoa comum não seria capaz de sentir isso. A origem dessa energia só pode ser mágica.”, pensou.

A escalada seria difícil, então voltou ao drakkar e o direcionou cautelosamente ao local onde sua intuição dizia ser a fonte da magia. Cada vez mais perto e mais alto, a sensação crescia a ponto dele poder enxergar as linhas de energia mágicas convergindo para aquele ponto no alto a montanha. Quando chegou até a altura necessária, parou o drakkar e pulou para uma saliência rochosa por onde ele poderia caminhar. Amarrou o barco aéreo nas pedras próximas e lançou sobre ele uma camada de luz refletida como um espelho que poderia enganar alguns observadores a distância.

Seria o suficiente para manter ladrões ou piratas afastados, mas não enganaria quem estivesse procurando ativamente por ele ou mesmo Heimdall, então, seja lá o que ele tivesse de fazer naquele lugar, deveria apressar-se. Examinou cautelosamente cada rocha daquela parede até que sentiu um vento forte puxando o livro de sua mão. Magia reagindo a magia. Com cuidado, colocou o livro no chão e, para sua surpresa, a força mágica começou a puxar o tomo.

Sorrindo confiante em sua própria astucia, Loki seguia o livro de perto, para que não o perdesse de vista, contudo, um vento mágico poderoso tragou o livro para dentro de uma fissura na montanha, antes mesmo que o príncipe de Asgard pudesse reagir e segurá-lo com as mãos, então, antes que o objeto sumisse completamente, Loki lançou um feitiço telecinético e conseguiu agarrar o objeto.

Porém, por mais que tentasse segurá-lo, o livro voou para longe e desapareceu através das pedras. Loki amaldiçoou sua sorte e, determinado a encontrar o objeto que sua mãe lhe confiara, continuou examinando a parede da caverna, até que achou uma fresta, grande o suficiente apenas para que ele pudesse atravessar rastejando. Hesitante m aproximar-se mais, o rapaz sabia que, de alguma forma, aquela abertura tinha relação direta com o vento mágico que sugara seu livro.

– Nesse momento bem que eu poderia ter um martelo comigo… – Loki observou a fresta e, muito a contragosto, deitou-se no chão e colocou o braço primeiro, tentando pegar o livro, mas não encontrou nada. – Alguém realmente me detesta…

Por fim, decidiu atravessar para o outro lado. Deu um inpulso com os braços e arrastou a barriga para dentro da fresta, e ao fazer isso, teve a sensação de cair, observando curtos e rápidos flashes de luz multicolorida vindo em sua direção. Uma coisa tão rápida que mal teve tempo de assimilar o que acontecia. Por fim, sentiu o corpo batendo no chão.

No interior das rochas, havia mais espaço. Tratava-se da continuação da caverna. Demorou uns segundos para que seus olhos se adaptaram a escuridão e o príncipe começou a procurar o livro. Não demorou até que ele visse uma saída do outro lado da caverna. Parecia o lugar de onde os ventos aparentemente mágicos se originavam. Ao caminhar em direção à luz, Loki voltou correndo, assustado, para dentro da caverna.

Guardas, usando um uniforme desconhecido examinavam algo no chão, cutucando com lanças e por fim, pegando o objeto e erguendo-o no ar. O seu livro. Eles olhavam para o livro e para a caverna, sem entender como aquele tomo havia chegado ali. Falaram algo e, com cautela, foram caminhando em direção a entrada da caverna.

Loki tentou esconder-se, mas os soldados conseguiram vê-lo, antes que ele pudesse se camuflar. Eles entreolharam-se e apontaram suas lanças para a entrada da caverna e começaram a gritar algo que Loki não compreendia. A língua deles era incompreensível e certamente eles não eram guardas asgardianos. Suas armaduras eram diferentes, embora valorizassem o dourado tanto quanto Odin, a pele de seus rostos era literalmente pálida, como a neve, e os rostos finos e delicados tinham neles pintados runas em uma tinta negra cujo significado o asgardiano desconhecia. Não fazia ideia de onde estava.

Sem a resposta de Loki, as palavras dos guardas ficavam mais altas e alternavam em tons que pareciam mais amistosos para brincalhões e, por fim, ameaçadores. Loki certamente não os entendia, mas conhecia um feitiço que conseguia identificar as intenções das palavras. Isso permitia que ele se comunicasse com criaturas de todos os nove reinos (pelo menos, enquanto Thor não começasse a distribuir marteladas e toda a tentativa de negociação fosse por água abaixo).

Ele murmurou algumas palavras e uma luz esverdeada emanou de suas mãos, formando runas e desenhos no ar e, após alguns segundos, os sons emitidos por aqueles guardas passaram a fazer algum sentido.

– Esse livro é seu? – Um dos guardas disse. – Venha buscá-lo… Vamos devolvê-lo a ti…

– E depois eu quem sou o mentiroso… – Loki pensou com um riso no rosto.

– Apareça, invasor! Se nos der o trabalho de encontrá-lo, ficaremos irritados. – Gritou o outro dos guardas. – E se ficarmos irritados, sua execução será muito, muito dolorosa!

Estava encurralado. Não havia opção para ele. Tinha que sair de lá e descobrir como voltar a Asgard. Claro, sua curiosidade natural o fazia querer descobrir onde estava, então, a prioridade era investigar sobre o que era aquele mundo e, só depois disso, como voltar a Asgard.

Controlando sua respiração, Loki conjurou uma de suas ilusões mais realistas: uma cobra verde que saiu rastejando da caverna, passando sorrateira pela grama em direção aos soldados. O feiticeiro sorria, satisfeito, pois a ilusão era tão realista que aqueles guardas poderiam sentir até sentir corpo frio da serpente. Então, ele deixou que a cobra fosse fazer o seu trabalho.

A criatura rastejante foi silenciosamente até os soldados que continuavam gritando e chamando pelo suposto invasor. E, quando eles perceberam que não adiantava mais chamá-lo, resolveram que entrariam na caverna e o tirariam de lá a força. Porém, no primeiro passo, a serpente pulou da grama e enroscou-se na perna do soldado que ameaçava com mais raiva.

Loki pode aproveitar para rir um pouco dos gritos de pânico, que curiosamente eram iguais em qualquer língua, enquanto ordenava mentalmente que a sua ilusão mordesse e chacoalhasse ameaçadoramente o seu chocalho ósseo na ponta de sua cauda. Uma interpretação digna dos palácios de Asgard.

Os soldados por sua vez, gritavam e gesticulavam loucamente pela cobra presa em seu pé. Enquanto um berrava de dor (uma dor que só existia na mente dele) o outro gritava para que ele ficasse calmo enquanto ele tentaria atingir a cobra com sua lança. Quando ouviu o grito de dor do soldado, Loki soubesse que aquela lança havia atingido a perna do desconhecido guarda e que sua ilusão saiu melhor do que ele esperava.

Enquanto o caos estava instaurado entre aqueles dois soldados, Loki tirou seu elmo, com um movimento estiloso de jogá-lo para o ar e fazê-lo girar, antes de golpear a nuca de um dos guardas e girar o corpo para atingir o outro no queixo, deixando-os inconscientes.

– Bom trabalho… – Ele sorriu para sua pequena cobra ilusória que respondeu com uma rápida tremida de língua antes de desaparecer. – Bem melhor do que o desses dois…

Respirando aliviado, o rapaz pegou o corpo dos guardas e os arrastou para dentro da caverna, deixando-os deitados lado a lado, antes de pegar suas lanças e jogar longe na mata, para que eles não as encontrassem com tanta facilidade. Estudou por alguns segundos as feições deles até decidir que conseguiria fazer uma ilusão convincente sobre o seu rosto. Tirou o capacete e a capa de um dos guardas e vestiu sobre seus trajes asgardianos.

– Eu sinto muito, tá? – ele pegou o livro de Frigga das mão de um dos guardas e deu dois tapinhas em seu ombro. – A propósito, isso me pertence.

Então, deixou a misteriosa caverna pelo mesmo caminho por onde os desconhecidos guardas entraram. Seus olhos ficaram deslumbrados pela formosura da paisagem, tão colorida, repleta de árvores e espécimes de animais nunca antes vistos por ele. Florestas encantadas e rios com uma água cristalina que refletia a luz dourado do sol e dava a água a impressão de ser champagne.

O lugar era fascinante demais para que ele apenas escapasse. Decidiu então explorar. Ao partir, o mago usou uma de suas ilusões para garantir que ninguém encontrasse a passagem, afinal, se ia guardar segredo sobre aquele lugar, cabia apenas a ele proteger Asgard dos habitantes daquele reino desconhecido.

Desceu por uma estrada de terra batida, passando por mais paisagens que pareciam ter saído de um sonho infantil. Rios de vinho, milhares de belos jardins, árvores de folhagem rosa como algodão-doce e, eventualmente, um pequeno brilho colorido que passava voando próximo a ele. Curiosamente, o brilho parecia rir. Rir dele ou rir para ele.

Quanto mais andava, mais ele aproximava-se do que parecia ser um centro urbano, com cada vez mais pessoas circulando. Tantas pessoas e tantas tão diferentes que ele mal podia garantir que tratavam-se da mesma espécie. A única coisa que eles pareciam partilhar eram as orelhas pontiagudas e os rostos alongados.

Haviam alguns que vestiam-se e trajavam-se de forma similar a Farandral, com roupas e armas leves em suas cinturas. Outros, tinham pele azul e emitiam uma aura gelada, similar aos gigantes de gelo, porém, sem a agressividade destes. Outros, lembravam mais os habitantes de midgard, em uma época bem primitiva, usando vestes que pareciam ser feitas com folhas e vegetação, além de carregar armas e arcos de madeira.

Todos, porém, tinham como traços em comum as orelhas pontudas.

Além dos habitantes incomuns, a arquitetura do lugar também parecia estranha aos olhos de Loki. Ele já havia visitado diversos mundos e vira coisas que eram difíceis para a compreensão de mentes mais simplórias, porém, mesmo para ele, aquele lugar parecia muito diferente de tudo o que ele já tinha presenciado.

O mundo daquelas criaturas parecia ser feito de folhas e árvores. Enquanto Asgard valorizava o dourado e altos prédios, com colunas poderosas, ângulos retos e construções grandiosas, aquele local parecia feito de árvores moldadas em forma de casas e cabanas. Como se tudo fosse construído em volta da natureza local e não substituindo ela.

– Pegue! – Alguém gritou para Loki, tirando-o de sua contemplação e forçando-o a agir para agarrar algo no ar. – Tem mais de onde veio essa, se quiser.

Era uma simpática vendedora. Uma daquelas de pele clara usando roupas de folhas, em frente a cestos de palha com diversos tipos de frutas maduras e bonitas. E, nas mãos de Loki, uma suculenta e grande maçã (ou pelo menos, parecia-se muito com uma maçã). O príncipe de Asgard sorriu e agradeceu a vendedora, voltando a caminhar. Mordeu o fruto e, para sua surpresa, era mesmo apenas uma doce maçã.

Quando parou de procurar as diferenças, Loki passou a encontrar as semelhanças com seu próprio mundo. Haviam, em alguns locais, símbolos e marcações que podiam ser entendidas sem muita dificuldade. Hospedarias e mercados estavam sempre carregados de gente, entrando e saindo com mercadorias e tecido em mãos.

As pessoas caminhavam de forma organizada, havia música no ar e, eventualmente, alguma coisa maior do que uma carruagem passava voando por cima dos prédios. Algo bem similar aos drakkars dos asgardianos, mas, parecia rústico e muito mais barulhento. Talvez a tecnologia daquele povo estivesse alguns milênios atrás de Asgard, mas, certamente, a magia era muito mais intensa.

Loki terminou sua maçã e resolveu voltar até a vendedora de frutas. Ela recebeu o rapaz com um sorriso sincero e deixou que ele inspecionasse sua mercadoria.

– Deseja outra?

– Não tenho dinheiro comigo agora… – Loki disse. – Vim apenas agradecer.

– Agradecer? Não. Esse é o mínimo que podemos fazer por vocês nos manterem seguros.

– Seguros?

– Você faz parte da nossa guarda, não é? – ela apontou para a túnica roubada. Foi aí que Loki percebeu um erro fatal para seu disfarce. – Então, o que é uma maçã em troca da nossa paz.

– É claro… – Loki sorriu um pouco nervoso. – Mas, eu procuro um lugar onde posso adquirir um pouco de conhecimento…

– Tenho certeza que as barracas têm livros, não?

– Certamente! – Loki soltou mais uma risada constrangida. – Eu busco algo mais… específico… Sobre mágica, talvez… Não tanto conhecimento militar. Algo mais… Entretenimento?

– Bom, nesse caso, talvez em nossos centros comunitários… – a mulher pareceu um pouco pensativa. – Lá tem livros… mas, mágica? Acho que isso não é um conhecimento tão simples de conseguir, pois é restrito aos praticantes dela.

– Irei me arriscar. Claro, é algo mais para minha distração… – Loki afastou-se da banca. – Agradeço a sua generosidade.

Loki passou a seguir as pessoas mais comuns e que iam na mesma direção. Pareciam os mais inclinados a irem para um lugar comunitário. E seu palpite estava certo. Ele chegou a uma praça larga, com fontes de águas cristalinas, aquelas pequenas criaturas brilhantes que, após ver algumas mais de perto, entendeu que se tratavam de fadas. Fadas de verdade, como aquelas que ele só ouvira falar em histórias infantis.

O tal centro comunitário estava bem cheio e por isso ele precisou manter o disfarce mágico o tempo todo. Por sorte, o ar carregado de magia facilitou que ele mantivesse a ilusão sem muita dificuldade. Também não foi difícil para que ele encontrasse os livros e pergaminhos daquele lugar. Contudo, ele esbarrou em outro problema; Não conhecia o idioma local.

Seu feitiço podia identificar as intenções por trás das palavras ditas pelos estranhos habitantes daquele lugar, mas, palavras em livros ou papel? Aquilo não carregava nenhuma intenção identificável pela magia, então, seria necessário que ele aprendesse da forma mais antiquada. Com livros e principalmente ouvindo as conversas ao redor.

Loki então cancelou o seu feitiço de entendimento e passou a ouvir as conversas. Passou a prestar atenção nos gestos, nos olhares e na forma que as pessoas se comportavam enquanto falavam e, ao mesmo tempo, olhando para os livros e letras, para que pudesse compreender o contexto de toda aquela cacofonia que acontecia a sua volta.

Em pouco mais de duas horas e graças ao seu grande intelecto, Loki já tinha conhecimento o bastante para ler os livros e entender as conversas sem o auxílio de seu feitiço. E, com mais dua horas de leitura, ele já sabia o bastante para se comunicar e já conhecia o bastante da história daquele lugar e de seus habitantes. Os lendários elfos.

Aprendeu tudo o que poderia naquela simples biblioteca, então, voraz em aprender cada vez mais, buscou caminhos para outros locais em volta, onde poderia aprender mais e mais. Estudou a cultura do local, aprendeu sobre Ljosalfgard, a capital daquele mundo, e sobre sua rainha, a elfa da luz, Aelsa Featherwine de Fay, que governava o local a séculos e conseguiu, inclusive, montar em um dos lendários Gatos Alados de Montaria.

As horas se passaram sem que o Príncipe de Asgard se desse conta. Claro, embora ele não se desse conta de quanto tempo se passou, em sua casa, alguém, certamente percebeu.

– Consegue encontrá-lo? – Thor, o príncipe de Asgard, caminhava impaciente de um lado para o outro no Observatório da Bifrost, enquanto Heimdall, o Vigia da Ponto do Arco-Íris, mantinha os olhos em todo cosmos. – Consegue vê-lo, Guardião?

– Ele escapa de minha visão, sob a proteção de uma mágica que desconheço. – Heimdall respondia com sua tranquilidade habitual. – Não vejo e nem ouço Loki.

– Como ele pode escapar de sua visão? Se ele escapa, significa que outros podem fazê-lo?

– Loki não é como os outros… – Heimdall respondeu. – Há muito que nem mesmo eu compreendo sobre sua natureza. E nem sobre seu futuro.

– Encontre meu irmão, custe o que custar, Heimdall. – Thor respondeu. – Apenas aponte a direção e eu irei buscá-lo.

***

A noite caiu sem que Loki percebesse. Apenas quando os responsáveis pelo centro comunitário vieram lhe alertar que o local estava para fechar as portas, é que ele se deu conta do horário. Ele teria de voltar a caverna e… E se deu conta de que não fazia ideia de como a passagem para Asgard poderia funcionar. Se era um caminho sem volta e, se ainda haveriam guardas lá.

Preferiu então afastar-se daquela cidade e ir até um canto mais isolado, longe da população que poderia não entender o que aconteceria a seguir. Loki olhou para os céus.

– Heimdall, abra a Bifrost…

E nada aconteceu.

– Heimdall… abra a Bifrost… – Ele esperou alguns segundos e nada. – …por favor?

O céu continuava com sua cor azul brilhante repleto de estrelas. Uma visão linda, mas, para Loki, naquele momento, a visão dos céus não era o mais importante.

– Heimdall – Loki sorriu nervoso… – Eu realmente imagino que o Pai de todos está furioso comigo, mas, tenho certeza que não é um motivo para banimento. Apenas, abra a ponte e… Eu resolverei com ele…

Nada acontecia. Nada. Nem um brilho. Nem um flash. O céu continuava o mesmo.

– HEIMDALL… OUÇA-ME! EU SOU LOKI, PRÍNCIPE DE ASGARD, E ORDENO QUE ABRA A PONTE!

Nada aconteceu novamente. Frustrado, Loki xingou e caminhou novamente em direção a cidade. Não tinha dinheiro, mas, com um pouco de sorte, poderia alugar um quarto em uma das hospedarias. Não havia nenhuma ali com a pompa necessária para abrigar um príncipe, mas, considerando que ele faria o estalajadeiro aceitar pedras como pagamento…

No dia seguinte, bem cedo, ele voltou para a caverna, pensando que poderia sair daquele mundo, mas, para sua surpresa, havia uma movimentação grande de soldados em frente a sua rota de fuga. Ele se escondeu, apenas para que não o vissem, mas, podia enxergar claramente o que eles faziam.

Além da quantidade exagerada de guardas no caminho, a entrada caverna havia sido bloqueada por uma enorme rocha. Para Loki, aquilo era um problema. Mesmo que conseguisse distrair ou derrotar todos os soldados naquele lugar (algo que seria bem complicado), ele não tinha forças para mover a rocha. Naquele momento, o príncipe estava preso e precisaria pensar em alguma outra forma de sair.

– CIDADÃOS DE DOLMEINS!! – um grito vindo da praça atraiu a atenção de todo naquela manhã. – Temos um invasor entre nós e os Guardas de Dolmeins oferecem uma generosa recompensa a qualquer um que puder nos dar informações que nos levem a captura desse invasor.

Aquilo complicava em muito a situação de Loki, que apenas vestiu o capuz e caminhou em direção a saída da cidade. No caminho, seu olhar cruzou com o da simpática vendedora e frutas com quem tinha conversado há alguns dias. Ele pode ler em seu olhar que ela estava começando a juntar algumas peças e, por isso, apressou-se em sair daquela cidade. Seria melhor que ele se arriscasse a ficar mais próximo da caverna, esperando uma oportunidade de entrar ou, na melhor das hipóteses, encontrar um segundo caminho para entrar.

Embrenhou-se na floresta, procurando um lugar onde poderia ficar escondido, porém, havia uma incômoda sensação de que estava sendo observado. Um arrepio que não lhe deixava concentrar-se, fazendo-o constantemente virar-se para trás, para ter a certeza de que estava sozinho. Algo que, em poucos minutos, provou-se verdade.

A lâmina que surgiu de lugar algum passou perto da orelha direita de Loki e cortou alguns dos fios louros do disfarce mágico que se tornaram negros no ar enquanto caiam. Com um movimento de pulso, o príncipe conjurou uma adaga e começou a trocar golpes com o soldado que surgiu na floresta.

Como um balé, Loki aparava os golpes do estranho, porém habilidoso, lutador que investia contra ele. Ele girava o corpo, saltava e tentava atingir Loki com os pés, passando-lhe uma rasteira, ao mesmo tempo que investia com a lança, estocando seguidas vezes, então, girando e tentando atingir ele com o cabo.

Loki arremessou as facas para o ar, girando-as e as segurando pela lâmina, para que pudesse arremessá-las contra o adversário, mas, o soldado foi bem mais rápido e conseguiu atingir as armas no ar, mandando-as para longe, deixando Loki indefeso. E, enquanto Loki tentava entender o que havia ocorrido, o guarda girou e derrubou o príncipe com o cabo da lança atingindo dolorosamente os seus joelhos.

No chão e rendido, Loki não pensou duas vezes.

– Pegou o cara errado…

Ele conjurou uma ilusão dele mesmo, vindo por trás do soldado com suas facas, que deveria desviar a atenção da guarda, mas apenas por uma fração de segundos, o soldado vacilou e deixou que a ilusão passasse através dele, desaparecendo no ar logo em seguida. Quando o príncipe correu para o lado oposto, foi rapidamente ao solo após uma investida da mesma guarda que tentara enganar. Imobilizando o corpo do moço, ela o virou de frente para si, ainda jogando todo seu peso sobre ele e apontou sua lança para o pescoço do jovem de cabelos negros.

– Como você… – Loki tentou formular uma pergunta, ainda perplexo e sem fôlego.

– Suas ilusões não funcionam comigo, feiticeiro! De onde veio e como chegou até aqui? – Disse a guarda, revelando sua voz feminina. Após um longo silêncio, ela empurrou sua lança um pouco mais, pressionando sobre a garganta do rapaz – Se não me contar, sua execução será mais…

– … Demorada e dolorosa! – Completou Loki, em tom jocoso. – Eu sei, acredite, já ouvi isso antes!

– Responda, magrelo! – Replicou sem paciência, pressionando ainda mais a lâmina e, dessa vez, quase perfurando o fino e delicado pescoço do príncipe.

– As-gard… – Foi apenas o que Loki conseguiu pronunciar. Os grandes olhos negros da guarda se arregalaram.

A oficial retirou o elmo da cabeça revelando sua real aparência. Uma jovem mulher. Uma elfa.

Sua pele era tão branca quanto a dos outros guardas e seu rosto igualmente pintado com runas. Diferente dos outros que tinham cabelos louros médios, os dela eram platinados e tão longos que, mesmo preso em um rabo de cavalo, ainda chegavam quase até a metade das costas. Seu rosto era fino e delicado, porém, seus grandes olhos negros eram agressivos e intimidadores. Ela recolheu a lança e olhou confusa para o rapaz.

– Um asgardiano? Aqui? Como?


Notas Finais


E aí? Gostaram? Pegaram todas as referências? Shiparam?
Críticas, sugestões, angústias... Comentem tudo aqui embaixo!

Beijos!
Regina.


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