Lola adorava escrever em seu diário, isso não era novidade para ninguém. A qualquer momento do dia, a garota poderia ser encontrada com sua caneta preta junto de seu pote de biscoitos, perdida nas infinitas palavras que sua mente montava.
Esse hábito começou desde cedo, com um pequeno empurrão de sua tia madrinha em seu décimo aniversário.
Com seu casaco de pele felpudo e um sorriso animado estampado em seu rosto longo, entregou o caderno sem embrulho algum para a garota. No dia, Lola teria considerado aquele como o pior presente que já recebeu em toda sua vida, visto o tanto de brinquedos que ganhara de seus outros parentes.
— Sério tia? — Lola folheou o caderno de capa de couro, esperando encontrar algumas notas de dois euros. — um caderno?...
Sua tia então riu anasalado, visto a clara decepção nos olhos de sua sobrinha. Sua mãe por outro lado, logo tratou de repreender Lola. "Agradeça sua tia, menina!" Lola se lembra do beliscão que recebeu em seu braço até os dias de hoje.
Sua tia balançou seus cabelos desgrenhados esbranquiçados e bateu em seus joelhos gordos, chamando a criança para se sentar em seu colo.
— Não é apenas um caderno, querida. Você saberá como usá-lo. — Lola levantou a sombrancelha esquerda e franziu seu cenho. — Pode começar a escrever sobre como foi seu dia, ou então, como está se sentindo. É um ótimo *hobby.
A garota quis retrucar novamente, todavia, o olhar de sua mãe queimando em sua nuca para que ela apenas agradecesse a fez repensar na ideia.
— Obrigada, tia. — Sorriu gentilmente e encostou seus lábios gordinhos na bochecha macia da maior, dando um curto beijo. — Vou tentar usar ele.
Se Lola soubesse, não teria sequer indagado sobre reclamar daquela preciosidade. Mesmo depois de sete anos, as folhas parecem nunca acabar, embora passasse boa parte do dia com o papel em sua mão. As folhas amarelavam, rasgavam e manchavam, mas nunca acabavam.
Na primeira vez que Lola escreveu no livro, fora após longos três anos, quando organizou mais uma vez o fundo de seu guarda roupa e encontrou-o lá, com a capa escura amassada pelas pilhas de roupas desorganizadas. Se sentiu culpada por apenas jogar o presente no final do armário após sua tia ir embora de sua casa, então resolveu naquele dia, apenas o deixar ao lado de sua cabeceira.
E naquele noite, sua mente cansada em meio a um longo sonho, lhe deu seu primeiro resquício de Levi Ackerman, aquele que mais tarde, seria dono de grande parte de sua mente. Um sonho estranho e extremamente longo, que pela próxima manhã viria em sua mente como uma memória.
Lola vira um homem que parecera cansado, sentado em frente a uma mesa amadeirada de escritório, concentrado em assinar alguns papéis; isso parecera durar horas. Sentira o aroma de chá pairar pelo ar. O sonho ficou estranho quando de relance, as orbes acinzentadas rolaram preguiçosamente até seu ponto de visão, e então piscaram três vezes seguidas assustadas. Após aquilo, Lola voltou a realidade, e de alguma forma, sua mente estava tão dolorida com o sonho, que jurou nunca mais dormir com a barriga cheia de biscoitos.
No dia seguinte, se rendeu a tentação do caderno que mais parecia a chamar. Pegou uma caneta jogada em sua mesa de estudos e escreveu sobre o sonho. Lola sempre teve um talento bizarro em redações, mesmo não admitindo, adorava escrever. A garota contou detalhadamente sobre o sonho em seu ponto de vista como se fosse uma história, e sem perceber, já haviam se passado dias em que estava dando continuidade aquele devaneio.
As primeiras palavras correram tão bem para a mente da adolescente, que duraram até os dias atuais.
Durante anos, Lola o idealizou. Imaginou como seria ou quem seria aquele sentado á sua frente. Levi Ackerman, vinte e cinco anos. Essa parte foi fácil, difícil foi montar o arredor do homem.
Não demorou muito para montar completamente aquele mundo. Escreveu tanto sobre seu sonho, que acabou perdendo-se em meio a realidade. A vontade de voltar para aquele mundo, de forma sorrateira a invadiu e quando se viu, percebeu-se perdidamente encantada com o universo que havia criado.
Lola não percebeu quando desandou de suas poucas amizades, ou quando acabou apenas trancando-se em seu quarto a maior parte de suas próximas férias de verão, mas nunca, em hipótese alguma, se arrependeu. Viu-se perdida, e quando notou, estava começando a se apaixonar por quem ela mesmo havia inventado.
Era tarde de mais para Lola. Outras garotas de sua escola escolhiam colegas ou até mesmo professores, mas com dezesseis anos, seu primeiro amor era alguém que ela mesma tinha inventado.
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