História Lonely - Capítulo Único

Você era tudo que eu queria. Sempre foi. Todo e qualquer pensamento que eu tinha te pertencia.

Mesmo depois daquele dia.

Você lembra quando fazíamos aniversário de um ano de namoro e você, sabendo do meu jeito simples, me convidou para ir à praça tomar um sorvete?

Naquele dia de clima estranho, tudo o que eu queria era me arrumar da melhor maneira. Mesmo sabendo que seria exagerado para a ocasião, vesti uma blusa simples branca, uma saia jeans e um coturno marrom.

Você lembra que quando eu apareci em sua frente você me olhou de cima a baixo e depois seu arredor?

"Moça, a agência de modelos é um pouco longe daqui, você se perdeu?", você brincou e eu não pude deixar de morder os lábios, rir junto e ir ao seu encontro com um grande abraço.

"Moço, tem certeza que não está falando com a garota errada? A única a sua frente mais parece um jacu.", eu quis fazer com que meu tom fosse de brincadeira também, mas acabei não o conseguindo.

Me perguntava o que você vira em mim... você poderia ter qualquer tipo de garota mas não tinha. Tudo bem, não é à toa que fui modelo, mas existem tantas melhores...

Você ficou sério e me olhou daquele jeito que pais costumam olhar os filhos quando esses falam algo errado:

"Não faça isso. Eu poderia passar o resto da minha vida te admirando e não seria o suficiente."

Um calor me percorreu o corpo e com ele vieram pensamentos um tanto inadequados. Só você me fazia sentir assim. Me fazia querer abandonar todo e qualquer princípio que eu tinha e... bem... já sabe...

Nós andamos até a sorveteria, escolhemos nosso sorvete - um de Diamante Negro com Baunilha para mim e um de Morango e Charge para você - e nos acomodamos em um dos bancos à sombra de uma árvore.

Encostei a cabeça em seu ombro e tomei meu sorvete. O silêncio reinou como nunca reinara entre nós.

Você lembra que pigarreou para chamar minha atenção e me fazer olhar em seus olhos?

Um calafrio me percorreu o corpo quando você começou a falar.

Logo depois uma lágrima desceu sobre meu rosto ao me dar conta do que você falava; das dúvidas que tinha em relação ao nosso namoro.

Você lembra que confessou que pensava que eu estava com você somente por sua fama - e cada vez mais você se tornava reconhecido, devo admitir - e que aquilo me inflamou o peito?

Depois de tudo que passamos não era possível eu estar ouvindo aquilo. Não passava de um pesadelo. Sim, um pesadelo.

Quem dera se fosse...

Você lembra que eu simplesmente fui fria ao responder sobre a sua declaração? Do momento em que eu levantei bruscamente daquele banco?

"Não seja por isso.", respirei fundo e tomei coragem para falar. Era o fim. "Não estamos mais juntos.", e apertei o passo para longe de você?

Sim. Fui cabeça dura. Mas aquelas palavras eram como as batidas do coração de um beija-flor, ecoando sem sentido cinquenta vezes por segundo. Não me conformava que depois de tanto tempo, ainda não nos conhecíamos o suficiente para você saber que eu não ligo para fama; já a tive, bem antes de você. Abandonei minha carreira para te acompanhar nas turnês. 

"Por favor, espere, eu-", você me seguiu, se enrolando com as palavras e pegou em meu braço. Aquilo doeu, mas eu precisei:

"Não falo com estranhos, por favor me solte, moço.", meu olhar estava indecifrável e vi o seu ficar desolado. Mas por dentro, garanto que eu estava pior que você. Meu peito doía com o chamado coração partido. Se bem que a partir daquele momento, nem coração eu tinha mais.

Mais lágrimas caiam incessantemente e eu soluçava alto. As pessoas ao meu redor me olhavam como se eu fosse um extraterrestre.

Você lembra quando gritou meu nome, automaticamente me fazendo parar e virar para te encarar? 

Você não lembra. Porém eu sim; claramente. E nunca vou me perdoar. 

Você não olhou antes de atravessar a rua e meus olhos se arregalaram ao ver você sendo lançado longe e caindo inanimado no chão.

Gritei inutilmente e corri até você, como o motorista de meia-idade daquele carro fez. Me ajoelhei com tudo ao seu lado, te chacoalhando e gritando em desespero seu nome.

Encostei a cabeça em seu peito e pedi desculpas, dizendo que te amava.

Meu coração disparou quando senti você acariciar minha cabeça do jeito que só você fazia e sussurrar:

"Eu fui um idiota. Não posso expressar em palavras o quanto eu te amo. Espero que me perdoe.", me deu um beijo terno e depois voltou a fechar os olhos, me fazendo gritar como uma louca.

O tempo parou. Eu não pensava em mais nada a não ser o que acabara de acontecer e o que nunca aconteceria conosco. Berrei a Deus, o culpando por aquilo.

Ao menos eu falara que o amava também.

Faríamos três anos de namoro hoje. E como todo ano, estou a me cortar, afundar a cara no pote de chocolate e escrever sobre aquele dia.

Concreto; só sobraram as fotos. Mas nosso amor ficará vivo para todo sempre, em meu coração. E sei que nem a morte é capaz de apagar os rastros que deixamos aqui.

Por você seguirei em frente, pois sei que é isso que você desejaria. Só ainda não consegui amar ninguém, você é único. 

Nada é igual sem a pessoa que me fez descobrir meu melhor lado ao chegar e o pior ao partir...