História Long Fic Jungkook - Paper Hearts - De um jeito que faça valer...

Gradativamente, enquanto os dias transcorriam eu passava o tempo explorando Seul na companhia dos meninos. Percorrendo as ruas movimentadas, conhecendo os pontos turísticos. Passamos horas e mais horas reunidos jogando conversa fora, ou vendo filmes. Cada dia era maravilhoso, e eu não queria que aquilo acabasse.

Os meninos eram uma constante surpresa. Tratavam-me com uma preocupação e uma ternura que, junto a eles dissipava qualquer preocupação que eu pudesse ter com relação à minha volta e antes que eu pudesse me dar conta do que estava acontecendo já era o fim de semana antes da minha partida. Já era madrugada de sexta-feira e eu iria embora na segunda pela manhã. Três dias e eu iria voltar para o Brasil. Meus últimos três dias com os meninos. Meus últimos três dias com Jungkook.

Permaneci acordada muito tempo durante aquela madrugada. Minha mente estava povoada por pensamentos que eu não podia me permitir ter. Encarava o teto e me revirava na cama sem conseguir dormir. A vontade de chorar constante em meu ser, mas eu relutava. Por fim, depois de não aguentar mais a sensação sufocante que o aquilo estava me causando me levantei e caminhei a passos leves e silenciosos até a cozinha.

Fiz um café, coloquei-o em uma xicara e fui até a janela da sala, encarando a rua deserta lá fora. O café praticamente intocado esfriou enquanto eu permaneci ali, parada no escuro pensando em Jungkook. Queria desesperadamente conversar com alguém, apenas ter alguém ali do lado. Talvez devesse ligar para Milena.... Olhei para o relógio na parede, eram três e cinquenta e cinco da manhã. Não! Não iria acordá-la, odiaria ter que fazer isso.

Sentia-me sufocada por tudo o que estava sentindo, empenhava-me dizendo a mim mesma que tudo iria ficar bem, que aquela dor iria diminuir com o tempo, que Jungkook e os meninos iriam ficar bem, mas minha mente estava dominada demais por aquele turbilhão de sentimentos e eu não conseguia os organizar. Aquela era uma péssima noite para não conseguir dormir, pois eu sabia que no dia seguinte a mãe de Tae viria para o apartamento com Eunjin e passaria ali o fim de semana.

- Não consegue dormir? – a voz doce chegou aos meus ouvidos, e levei um susto quando Jin surgiu do corredor escuro, saindo das sombras que preenchiam o apartamento, andando em minha direção.

- Não. – Respondi olhando pra ele por cima dos ombros, e depois voltando a olhar pela janela.

- Você está bem? – Jin perguntou postando-se ao meu lado, observando-me com um sorriso preocupado nos lábios, como se buscasse em meu semblante a resposta.

- Acho que você sabe a resposta pra essa pergunta, não é Jin? – Respondi em voz baixa, encarando a xicara de café gelado em minhas mãos.

O mais velho acomodou-se melhor ao meu lado, passou seu braço por meus ombros e me puxou para um abraço confortante, sorrindo pesarosamente. Não disse uma palavra sequer, continuando o silêncio deixado por seu sorriso triste de quem sabia das coisas e que lamentava que tudo estivesse da forma como estava, senti o bolo em minha garganta surgir deixando um gosto amargo e a vontade de chorar aumentando.

Funguei baixinho, torcendo pra que Jin, não notasse, porém falhei, Jin voltou seu olhar para mim, tirou a xicara da minha mão e a colocou na mesa de centro, depois voltou-se novamente pra mim.

- Não precisa se segurar Vaah... – ele sussurrava carinhosamente. – Pode soltar! Coloque tudo pra fora...

Eu estava pronta pra abrir a boca e dizer que não havia nada para soltar, mas acabou transbordando e eu realmente coloquei. Solucei inúmeras vezes até que não consegui mais me manter em pé e então cai de joelhos no chão, me abracei, deixei as lagrimas e o desespero tomarem conta de mim. Três dias. Jin se agachou na minha frente, me joguei nos braços dele e por fim me permiti fazer algo que adiava desde que havia contado a eles que iria embora. Eu chorei, chorei tudo que estava guardado lá no fundo, chorei como uma criança. Deixei-me mergulhar entre as lagrimas colocando pra fora todo aquele amontoado de sentimentos, chorei por mim, por Jungkook, pelos meninos, pela minha raiva, o medo, a incerteza.... Doía profundamente dentro de meu peito e eu só queria encontrar um jeito de aliviar toda aquela pressão, soluçava, abraçava a mim mesma...

E Jin podia ver e ouvir a dor que Valéria estava sentindo, ele não podia conter a própria dor. De todas as poucas vezes que ele havia visto alguém chorar, nunca havia sido tão triste e tão doloroso. O coração do rapaz se apertava a cada soluço da garota, fechou os olhos com força. Quis chorar junto com ela.

- Eu não quero deixa-lo... deixar vocês... – Minha voz saia embargada e eu tentava a todo custo impedir os soluços fortes de chacoalhar meu corpo. Meu desabafo era desesperado e direto.

- Eu sei Vaah, eu sei! – Jin sussurrou calmo. – Ele observava a figura da garota tremula, chorando desamparada. Ele engoliu em seco, não sabia como lidar com aquilo. O coração do rapaz se apertava à cada soluço da menina. Como ele queria poder dizer que tudo ficaria bem e daria certo. Mas ele não podia. Não quando não tinha certeza do que aconteceria dali para frente.

Ficamos abraçados por um longo período. Parecia que eu nunca chorava o suficiente. E Jin realmente não se importava de me amparar. Quando eu finalmente consegui me recompor já havia passado quase uma hora.

- Desculpe... – Murmurei em voz baixa, me afastando dele. Jin me olhou preocupado, secando as lagrimas do meu rosto.

- Você vai ficar bem? – Jin perguntou delicado, provavelmente não querendo que eu chorasse mais.

- Eu vou ficar... – Consegui responder entre um soluço e outro. – Obrigada.

E de repente me peguei envergonhada pelo que havia acabado de acontecer, estava horrorizada na verdade. Eu havia perdido completamente o meu controle emocional na frente dele. O que será que Jin estaria pensando? Como se lesse meus pensamentos, Jin falou.

- Não precisa ter vergonha dos seus sentimentos, Vaah. Todo mundo tem seus momentos de fraqueza.

- Por favor não conte aos outros meninos. – Implorei. – Muito menos ao Jungkook.

- Fique calma, não vou trair sua confiança, pode contar comigo. – Ele fez uma pausa, sua voz embargada, os olhos marejando. - E quero que lembre que mesmo depois que você for, poderá contar.

- Obrigado! – Sorri pra ele, ainda meio tremula e o abracei novamente, ele retribuiu me abraçando fortemente. – Vou sentir sua falta.

Agora as lágrimas escorriam novamente, tanto na minha face quanto na de Jin. Passamos mais um longo período abraçados. Até que se afastou num suspiro.

- Também vou sentir sua falta, muito! Mas agora chega de lágrimas, está quase de manhã e tenho certeza que não quer que te vejam assim. – Jin sorriu tristemente. – Por que não vai para o quarto, toma um banho pra relaxar um pouco e depois volta para me ajudar com o café da manhã?

Jin levantou do chão, pois ainda estávamos largados de qualquer maneira ali e me ajudou a fazer o mesmo. Enxuguei o que restara das lagrimas sobre meus olhos.

- Boa ideia. – Concordei levemente com a cabeça.

Jin sorriu, apertou minha mão levemente transmitindo segurança e depois se afastou indo em direção a cozinha. Seguindo o conselho dele, me dirigi ao quarto com a intenção de tomar um bom banho.

A água escorria por meus cabelos enquanto eu mantinha a testa no azulejo frio do banheiro. Não queria pensar, não queria chorar, só queria que tudo pudesse ficar bem sem que ninguém precisasse se machucar. Fazia meia hora que eu estava parada na mesma posição sentindo a água lhe escorrer sobre meu corpo.

- Três dias... – Disse pra mim mesma pelo que pareceu ser a milésima vez, antes finalmente desligar o chuveiro e escorregando o corpo molhado pela parede gelada sentei no chão frio. Ri sem humor ao encarar a situação em que me encontrava. Não sei o que virei, não sou mais eu. – Não!

Repreendi a mim mesma. Não quero viver esses três dias sem ter motivos pra dormir em paz e sem medo de me arrepender. Esse tempo é muito curto pra deixar qualquer coisa pra depois. Não posso me enganar.... Vou gastar esses três dias de um jeito que faça valer, se a vida é pra se viver... vou viver!