Acordei assustada. Não me lembrava de ter ido dormir.
Me estico na cama sentindo partes do meu corpo estalarem com o esforço repentino. Me viro na cama, pouco me importando com o horário. A cama estava tão gostosa.
— Hum. — suspiro, abraçando o primeiro travesseiro que vejo na frente.
Eu poderia muito bem ter continuado ali, ignorando todo o mundo a minha volta, inclusive minhas obrigações e aulas, mas quando abro o olho o suficiente apenas para me situar melhor, percebo que não estou no meu quarto, que não abraço meu travesseiro e que os lençóis da cama em que eu estou deitada são azuis escuros, e eu não tinha nenhuma roupa de cama com aquela tonalidade.
Caramba!
— Bom dia. — me levanto num pulo, ficando sentada na cama.
— O que eu estou fazendo aqui? — minha voz sai esganiçada, mas nem isso parece interromper a concentração de Sasuke em seus estudos.
Haviam tantos papéis espalhados no chão, que ele parecia estar acordado há dias.
— Você dormiu enquanto víamos o filme. — sua testa faz uma careta, não sei se por causa da informação que me dá ou por causa da matéria que ele estuda.
— E como eu vim parar aqui?
— Eu te carreguei. — sua voz soa monótona, seu tom se assemelha a algo como: “não é óbvio”?
— Quantas horas?
Estava envergonhada demais e sonolenta demais também. Tinha perdido completamente a noção do tempo, parecia que eu tinha dormido com um caminhão em cima da minha barriga. Acho que a última vez que eu tirei um cochilo tão pesado foi quando eu tinha 10 anos e adormeci na frente da televisão vendo desenho animado.
— 2:40 da manhã. — ele responde cansado, olhando a tela do celular. Em seguida me ignora, colocando seus óculos de grau novamente.
— Você fica uma gracinha de óculos. — tento atrair a atenção dele, mas só consigo um meio sorriso presunçoso, o que me faz arrepender do elogio.
— Karin foi embora? — tento parar de pensar em besteiras.
— Acho que sim.
— Então não faz sentido eu continuar aqui.
— As meninas estão estudando na cozinha. Eu as vi quando fui pegar o energético. — ele balança a latinha para ilustrar, mas ainda sem tirar os olhos dos estudos.
— E daí? Elas são minhas amigas. — elas estarem acordadas na cozinha não era motivo para eu ter vergonha de ir do quarto dele para o meu.
— Você tem certeza disso?
E pela primeira vez ele realmente me dá atenção.
Sasuke me encara como se esperasse uma resposta séria, com argumentos baseados em fatos científicos, ou pelo menos algo convincente. Mas eu não consigo responder nada.
Eu não tinha um álbum de fotos sempre à mão para mostrar às pessoas momentos meus juntos com Ino e Hinata me divertindo no colégio ou nas festinhas de colégio quando a nossa maior diversão era girar a garrafa e torcer para beijar o menino mais bonitinho da sala.
A única coisa que tenho é pessoal demais. Lembranças, para ser mais exata. Tivemos altos e baixos, na verdade. Por causa da doença da minha irmã eu havia me afastado das duas. Fiquei, inclusive sem interagir com Ino por mais de um ano, a única coisa que mantinha nossa amizade ativa era nos raros momentos em que eu comentava algo de seu stories sempre muito movimentado e ela respondia dizendo que não via a hora de eu passar na faculdade para poder ir morar com ela. Eu ria, achava legal mas não considerava aquela uma possibilidade real… Até que eu me vi morando com ela, assim como nossa fantasia de adolescentes.
Com Hinata as coisas eram mais reais. Ela sabia dos meus altos e baixos, sempre me perguntava sobre meus estudos e sobre Moegi. Eu era educada, estendia a conversa quando sentia meu coração apertado e não tinha com quem conversar. Ela sempre me escutou, me deu conselhos…
As coisas não estavam a mil maravilhas. Karin ainda tinha entrado na nossa vida como uma espécie de personagem aborrecido que todo o resto evita interagir ao máximo. Mas de qualquer forma, acho o comentário de Sasuke bastante estranho e ofensivo. Porém meu cérebro ainda estava sonolento, então prefiro ignorá-lo e acreditar que ele apenas estava sendo… Lorde Sasuke, o ser mais intragável do planeta Terra.
— Você tem prova essa semana? — resolvo mudar de assunto, o que o deixa confuso. Talvez ele realmente esperasse que eu desse provas que Ino e Hinata fossem minhas amigas, e bem, eu não tinha uma apresentação do powerpoint preparada para uma situação como aquela.
— Como assim? Não… Mas isso não vem ao caso. — Sasuke boceja, evidentemente cansado de sua rotina que se resumia entre estudar, ser mau, fugir da Karin e estudar mais um pouco.
— Pelo amor dos Deuses, levanta daí! Não, isso não pode continuar assim. Você fala do meu cigarro, mas não deve ter nem mais estômago por conta dos energéticos. — fico feliz pela minha habilidade de mudar de assunto, Sasuke nem tanto.
— Sakura...
— São quase três da manhã. Você precisa dormir.
— Eu preciso acabar isso aqui.
— Sasuke, seus olhos estão vermelhos, nem o energético não faz mais efeito em você. Você precisa parar de estudar tanto assim, não é saudável. — pego sua mão, fazendo-o levantar da cadeira a contra gosto.
— Tsc. Se eu soubesse que você iria me dar trabalho eu tinha te deixado dormir na sala com a Karin.
— Ela tá dormindo na sala? Você não disse que ela tinha ido embora?
— Eu não sei Sakura. — dentro de quatro paredes, sem testemunhas, ele deixa bem claro o quão antipático ele poderia ser. Não posso deixar de sorrir, ele estava rabugento porque estava com sono, eu tinha certeza disso. Ninguém é fisicamente saudável tomando energético até ignorar o sono acumulado. — Ela pediu para dormir no seu quarto, já que eu tinha te trago até aqui. Então eu não sei se ela acabou ficando por aqui, ou indo embora. Eu só saí do quarto para ir ao banheiro e na cozinha, e ela não estava em nenhum dos dois cômodos.
— Ela fez o quê? — meu bom humor some de cada célula do meu corpo. Ela queria dormir no meu quarto? Com certeza estava pensando em aprontar alguma.
Isso era perigoso.
— Não precisa se estressar, ela está lá fora, a gente aqui. Mais um pouco disso e ela não demora em aceitar que não estou mais solteiro… Vai dar tudo certo. — ele cede aos meus pedidos, tirando os óculos de grau e colocando na escrivaninha. Assim que apagou a luz do abajur, caminhou até a cama, sem se importar nem com a roupa que vestia.
— Vai dormir mesmo? — sei que minha voz soa alegre, mas não me importo com minha empolgação demasiada.
— Vou. — tedioso, ele se deita na própria cama, me obrigando a me acomodar do outro lado, para que nós dois deitemos no colchão.
— Vai dormir com calça jeans?
Não sei porque pergunto aquilo especificamente. Eu já tinha imaginado ele com menos roupa mais vezes do que gostaria de admitir. Já tinha, inclusive, sonhado com ele em cima de um cavalo branco, como se ele fosse um tipo de príncipe encantado, mas eu sempre tentava reprimir toda e qualquer atração que eu tivesse pelos seus olhos estupidamente negros e sorriso torto.
Mas pelo jeito, fazer isso sempre era impossível.
— Como você quer que eu durma, Sakura?
Pelado.
Alguma parte tarada do meu cérebro responde mentalmente à pergunta, e fico aliviada por Sasuke não conseguir ler mentes.
— Não quero que você fique desconfortável por minha causa no próprio quarto, só isso.
— Eu não estou desconfortável. — mentira.
— Você quem sabe.
Nos deitamos um do lado do outro. Duros e incômodos. Como se o outro fosse feio de material radioativo, nós evitamos de nos tocar e de respirar muito profundamente.
Não deveria ter acordado no meio da noite.
— Algum problema?
— Não, nenhum. — eu não conseguiria dormir. Meu cérebro já calculava as horas que eu tinha até acordar e ir para a faculdade novamente. Fecho os olhos com força, abrindo novamente ao ver a silhueta de Sasuke sentada bem do meu lado, tirando a própria blusa.
— O que você está fazendo?
— Você tem razão, eu estou desconfortável com o excesso de roupas.
— E o que você pretende fazer? — minha voz tem um tom desesperado, o que faz Sasuke rir da minha falta de aptidão para agir numa situação como aquela.
— Só tirar a camisa. Relaxa.
— Ah, bom. — suspiro, tentando frear a meia dúzia de pensamentos sujos que inundam minha mente como se fosse um tsunami.
— Você queria que eu tirasse mais alguma coisa? — ele me provoca. Mesmo no escuro sei que ele está tirando uma com a minha cara.
— Não. — repondo rabugenta.
— Certeza? — ele insiste, o que me faz bufar e me virar de costas para ele, com raiva. — Vai ficar brava? Eu só estava brincando. — não respondo. Na verdade, me finjo de morta, mas isso não parece fazê-lo desistir. — Sakura. — sinto sua mão apertar meu braço suavemente, o que me faz assustar e me virar em sua direção.
— O que está fazendo?
— Nada. Você que está pirando. Se você quiser, pode ir para o seu quarto como você queria. Eu não vou te obrigar a ficar aqui.
— Hum. Você não vai fazer nada né?
— Com você? Não. Fica tranquila. Mesmo se eu tivesse alguma atração por você… Estou com tanto sono que, tão cansado, que seria impossível te tocar de qualquer maneira.
— Reconfortante saber disso, Sasuke. — minha voz soa tediosa, num tom de decepção que sei que ele não deixa de notar.
— Hum… Disponha.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Sei que Sasuke ainda não pegou no sono porque sua respiração continua leve, como se não quisesse me incomodar, como se esperasse eu dormir para finalmente fazer o mesmo.
— Sakura?
— Estou dormindo.
— Eu queria te pedir um favor.
— Agora? Sério?
Espero pacientemente que ele prossiga. A curiosidade latente me fazendo ignorar meu sono.
— Você podia fazer aquilo de novo.
— Eu não sei do quê você está falando. Vai ter que ser mais específico do que isso.
Sem verbalizar, sem dizer uma palavra, Sasuke procura minha mão debaixo das cobertas, a puxando delicadamente até o topo da própria cabeça.
Ele queria cafuné? Eu não acredito! Esse tempo todo eu tentando seduzi-lo com quase beijos e insinuações e ele só queria cafuné?
— Não dá pra fazer carinho, vou ficar numa posição ruim, você é mais alto do que eu. — sei que soo rabugenta, mas era verdade. Para aquilo dar certo, ele teria que deitar no meu peito ou coisa parecida.
Penso que isso é o suficiente para ele desistir, mas ele se mexe na cama, como uma criança inquieta que está tentando se acomodar de uma maneira melhor.
Sasuke tinha pego seu travesseiro e se acomodou mais pra baixo e mais perto de mim.
— Pronto.
Não acredito em tamanha ousadia.
— Vou cobrar depois. — não pude deixar de sorrir com o ato do Lorde. Eu não sabia que ele gostava tanto assim de cafuné.
— Pode cobrar. — ele disse simplesmente, o que faz meu coração quase sair pela minha boca. Nossa.
Não resisto, e acabo enroscando meus dedos nos cabelos de Sasuke. Fazer cafuné nele me relaxava também. Não demora muito e eu ouço a respiração dele ficando mais pesada. Beijo seus cabelos e continuo ali guardando seu sono. Me assusto quando suas mãos substituem seu próprio travesseiro e me abraçaram. Seu rosto se afunda em meu peito e cuidadosamente continuo com a carícia e não demoro muito pra pegar no sono.
#Sasuke
Sim, eu tinha sérios problemas para dormir. Desde que minha mãe morreu, eu tinha pesadelos. Muitos pesadelos, então eu tentava ficar o máximo de tempo acordado e isso envolvia o excesso de energético. Mas eu tenho que admitir que aquilo me fazia muito mal, Sakura no final das contas tinha razão.
O vício dela era os cigarros, o meu ficar acordado, evitando os pesadelos.
Sakura... Eu devo ter tido essa ideia sobre o namoro falso num momento em que meu cérebro estava desprovido de sono e puto da vida com a Karin.
Eu conhecia Naruto desde que eu me entendia por gente, e Karin foi um brinde.
Não que fôssemos amigos de verdade, eu e Karin, no caso. Ela estava sempre ali, presente na mesma escola, nas festas em família e, mais tarde, no mesmo ciclo social meu e de Naruto, então eu a considerava uma amiga.
Eu e Naruto éramos do time de vôlei, e ela era líder de torcida. Se eu ia comemorar com Naruto seu aniversário, nas fotos eu estava a sua direita e ela a sua esquerda. Se eu tivesse dificuldade em literatura e Naruto em geografia, ela ajudava.
Mas em algum momento, provavelmente na puberdade, o companheirismo começou a virar outra coisa. Os nossos encontros não eram mais casuais, eu sabia que ela gostava de mim e comecei a me afastar.
Saí do time de vôlei para me dedicar aos cursinhos no ensino médio e ela, por coincidência, também deixou de ser líder de torcida. Depois da morte da minha mãe, fiquei praticamente um ano em casa. Naruto se tornou uma espécie de melhor amigo e irmão. Ele tentava me distrair, e eu não ligava de sair com ele ou fazer qualquer coisa mais elaborada, mas eu insistia em apenas jogar vídeo game ou ver algum filme quando ficava sabendo que Karin ia nos acompanhar.
No começo ele levou numa boa. Achou que eu estava de luto e por isso não queria me envolver com mais pessoas que não fosse ele. Afinal, Naruto era fácil, simples:
Quer vir ficar aqui em casa sem fazer nada? Sim.
Quer jogar vídeo game a tarde inteira até os olhos doerem? Sim, claro!
Quer ir à praia? Óbvio.
Quer ir pular do telhado da minha casa? Por que não?
Mas não demorou muito até ele perceber que eu corria de Karin como o diabo foge da cruz. Não que ela fosse feia, inclusive Naruto me perguntou se esse era o problema. Mas não, não era.
Nem de longe, na verdade.
Karin era a garota popular do colégio, inteligente, amável, bonita e sempre feliz. Mas tinha alguma coisa nela que me incomodava, e eu não sabia o que era.
O fato de sempre querer estar perto de mim, inclusive, me aborrecia profundamente.
Com dezesseis anos ela começou a me enviar cartas de amor. Todas com exatas 30 linhas de algum assunto escrito, todo dia 9 do mês, e absolutamente todas assinadas do mesmo jeito, com seu nome e um coração no pingo da letra “i”.
Eu nunca correspondi às suas investidas e o que me preocupava, é que eu nunca vi ela ficando com outra pessoa. Era como se sua vida amorosa girasse em torno de mim e de minha falta de interesse por ela… E aquilo não era saudável, nem para ela, nem para mim.
Quando eu fiquei com outra menina na sua frente, já que estávamos na mesma social, ela fez um escândalo. Subiu em cima da mesa e dançou como se fosse tirar a própria roupa. Pronto. Foi o suficiente para ela ter a minha atenção e de todos na festa. Foi só nesse dia que Naruto entendeu que a prima tinha uma fixação incomum por mim e passou a entender o porquê eu tentava me manter o mais afastado possível dela.
Mas as cartas continuaram vindo.
Os olhares, as "coincidências", a insistência continuaram…
Até que eu passei no vestibular. Mudei de cidade, conheci novas pessoas e comprei minha moto.
Minha vida parecia nos eixos. Karin era um capítulo complicado que eu havia deixado para trás. Continuei tendo problemas com mulheres. Minhas decisões não pareciam ser corretas em nenhum momento. Ino era meu exemplo mais recente, minha decisão precipitada e inocente de morar com ela em “república” sem perceber o que ela queria ficar comigo, era prova disso.
Então eu tinha colocado como meu objetivo de vida me formar para só depois me preocupar com o sexo oposto.
Mas Karin voltou e mudou as coisas, e pior, Sakura tinha mudado um monte de coisas também.
O universo sabia o quanto eu tinha postergado aquele pedido indecente, aquele pedido infantil de namorar de maneira fingida. Mas eu não podia aguentar viver aquele joguinho com Karin. Minha vida girava em torno da minha futura carreira, e eu não queria colocar tudo a perder.
Então fiz o pedido para Sakura, felizmente ou não, ela aceitou. Era uma jogada desesperada e imatura, mas eu não tinha pra onde ir, não tinha dinheiro para me bancar sozinho e não queria acabar com minha amizade milenar com Naruto por causa da aproximação da prima. Então Sakura me pareceu um bom plano… Mas por mais que eu fosse um dos melhores da turma de medicina, parecia que em matéria de lidar com outros seres humanos eu não fosse assim tão bom, já que nem assim Karin parecia sair do meu pé.
Ela conseguia a proeza de fazer Ino parecer uma garota sensata e meu curto relacionamento com ela um paraíso, quando, na verdade, o pouco tempo que passamos juntos fosse apelidado por mim como “tempos sombrios”. Ino era excessivamente ciumenta e narcisista e aparentemente ficava furiosa se alguém falava isso na cara dela.
Nosso quase namoro não durou muito tempo e agora eu estava ali, fingindo um relacionamento, morando com minha “ex” e fugindo da prima do meu melhor amigo.
Antes de dormir um monte de cenas se passam dentro da minha cabeça.
Respiro fundo. Sei que estou abraçado à Sakura e acho a sensação boa.
Me vejo quase desfalecido de sono, mas antes de realmente me deixar levar pelo cansaço, me lembro da breve conversa que tive com Karin, quando, depois de levar Sakura para cama, precisei de ir ao banheiro.
— Sasuke! Para com isso. Eu sei que você me quer! Já me contaram, tá legal. Então, pode parar de fingir que você é esse bad boy sem coração. Só me aceita.
— Quem te falou que eu te quero? — lembro-me de eu achar aquela parte da conversa especialmente estranha.
O que Karin queria dizer com aquilo?
— Ah, aposto que foi você! Você é louca o bastante para pintar o cabelo de rosa, fazer uma atrocidade dessas é o de menos.
Os gritos vinham de longe. Eu conhecia aquela voz… Busco o celular na mesinha de cabeceira pra ver as horas, mas estou tão entorpecido que deixo o aparelho cair no chão antes de conseguir acender a tela.
Droga.
Não eram nem 8 da manhã e a república já parecia infernal. Eu tinha que mudar o mais rápido possível de casa.
— Karin? — saio do quarto a contragosto. Por mim eu hibernava por três dias inteiros em posição fetal enterrado pela pilha de cobertas da minha cama. Mas a confusão era tanta, que assim que saio me deparo com Sakura de toalha, Naruto saindo do seu próprio quarto, e Ino sentada no chão rindo. — Mas que merda?
— Olha o que a sua “namoradinha” fez comigo! — Karin me mostrava o corte de cabelo que não parecia ter sido feito por um profissional.
— Sakura?
— Não, não fui eu. — ela tentava segurar sua toalha e o riso. Ambas as coisas de maneira falha.
— Cara, isso tá errado. — Naruto murmura do meu lado. Ele estava meio sem saber o que fazer, ou o que falar. Aquilo podia ser engraçado, as risadas de Ino eram contagiantes, mas ainda sim era errado, e Naruto ainda era primo dela, o que deixava as coisas mais complicadas.
— Olha, quem gosta de fuder com o cabelo dos outros é o Sasuke, não eu! — Sakura grita com os olhos esbugalhados e uma das mãos apontando para mim.
Ino ainda continuava tendo um ataque epilético de risadas no canto da sala, deixando tudo bastante desconfortável.
— Jogando a culpa pra cima do namorado? Que coisa feia Sakura. — Neji apareceu fazendo mais um de seus comentários desnecessários. Talvez dentro da cabeça dele aquilo tivesse graça, mas naquele momento, era completamente inoportuno.
Karin estava puta da vida, com um punhado de cabelo ruivo na mão e na outra a tesoura, que devia ser a “arma do crime”. Neji queria ver o que? Sangue?
Esfrego meus cabelos em sinal de nervosismo.
— Ela é o que sua? — Karin gritava em minha direção com a tesoura apontada pra mim.
A cena toda era pavorosa.
— O que está acontecendo aqui? — Hinata tinha finalmente acordado. Pelo jeito tinha dormido no quarto de Ino, já que as duas ficaram estudando até tarde da noite.
Vi seus olhos duplicarem de tamanho quando analisou a cena. Qualquer imbecil diria que aquilo era perigoso. Karin era o tipo de pessoa que não poderia nem brincar com uma tesoura sem pontas, muito menos ter uma em suas mãos em um momento de frenesi.
— Eu perguntei: o que ela é sua? — Karin ignora todo o cenário à sua volta. Até o cabelo cortado parece ser o menor dos seus problemas quando ela ouve Neji se referindo a Sakura como minha namorada. Pausadamente ela me pergunta qual era a real interação minha com Sakura e isso é capaz de calar todos na sala.
Até a Ino para de rir, mas ainda segura a barriga e limpa as lágrimas atenta a tudo que acontecia conosco mais perto do banheiro.
Karin virou a tesoura para direção da Sakura, não para atacá-la, mas para dar ênfase a sua pergunta. Mesmo assim, meu coração vai a mil com aquilo. A distância entre as duas era boa, mas qualquer um que se metesse no que pudesse acontecer ali poderia sair gravemente machucado.
Sakura estava nervosa. Muito nervosa. Eu nunca vi os olhos dela daquela maneira. Bom, só quando eu falei com ela que eu teria que levá-la ao hospital no dia que ela caiu da minha moto.
Talvez ela achasse que Karin fosse capaz de alguma coisa e, mesmo ela nunca tendo feito nada parecido com aquilo, eu não sabia até onde a sua obsessão por mim poderia levá-la.
— Namorada. — Sakura não gagueja, mas sua voz saiu baixa, fina e rápida.
— Isso é verdade, Sasuke? — pensei que essa pergunta viria de Karin, mas fico surpreso por ser Naruto a perguntar isso.
Só concordo com a cabeça. Parecia que eu e Hinata éramos os únicos que enxergavam aquela tesoura na mão da ruiva com um corte extremamente exótico no meio da sala, como uma ameaça.
— Karin, larga essa tesoura. — a voz de Naruto alcança uma seriedade maior do que a minha.
Ela apenas ajeita sua postura e deixa a tesoura cair do seu lado de maneira dramática. Uma. Duas, três lágrimas escorreram pelo seu rosto.
Nada mais é dito por ninguém.
Ninguém sabia que Naruto poderia ter uma autoridade tão grande assim, ainda mais em cima de uma pessoa tão descontrolada como Karin.
— Vou te levar no cabeleireiro. E Sasuke, quando eu voltar a gente conversa.
Observo confuso Naruto vestir uma camisa qualquer e levar a prima para fora do apartamento.
Aparentemente ele achava mais importante o fato de eu estar “namorando” Sakura do que todo o episódio da tesoura.
— Foi você, não foi? Me fala que foi você amiga que vou te amar pelo resto da minha vida. — Ino reage de modo infantil.
— NÃO! Não fui eu. — Sakura olhava para todos desesperada como se procurasse ajuda.
— Isso foi meio pesado. — Neji comenta, sem mais resquícios de sarcasmo e ironia na voz.
— NÃO FUI EU! — Sakura grita apertando desesperada a toalha contra seu corpo.
— Tsc. — resolvo afastá-la deles. — Mas que merda? — não poderia ser ela, poderia? Ela tinha dormido comigo. Ela não seria tão idiota assim. A gente tinha um plano, fazer aquilo com Karin só iria piorar a situação.
— Não fui eu. — agora ela se debulhava em lágrimas.
— Sakura...
— Nem você acredita em mim.
— Calma, cacete.
— Ela é louca! Louca!
— Sakura, para! — seguro seus ombros com força, a obrigando olhar para mim. — Você começou uma guerra, você sabe né?
— Não. Fui. Eu. — ela sibila bem devagar como se eu fosse uma criança pequena.
Não posso deixar de acreditar nela.
— Tudo bem. Não foi você e não fui eu. — concluo rapidamente. — Nosso maior problema nem é esse.
— E qual seria? O aquecimento global? — ela falava ironicamente abraçando mais ainda sua toalha.
— Naruto. — respondo tentando focalizar meu olhar apenas nos olhos verdes de Sakura.
— Naruto? Por quê? E Por que você está me olhando assim Sasuke? — ela me pergunta mudando de assunto.
E pior, acabo respondendo sinceramente, sem filtrar qualquer palavra antes de abrir minha boca: — Porque você está de toalha.
Suas sobrancelhas pintadas de rosa se juntam na testa, sua expressão deixava nítida sua confusão sobre a mudança de tema da nossa conversa.
Eu tinha fugido completamente do ponto central, usando o estado de semi nudez dela como desculpa.
Eu era um idiota.
— Sasuke, a gente não está na frente de ninguém, você não precisa me beijar.
— Quem disse que eu vou te beijar? — não posso evitar de sorrir. Eu ia beijá-la.
O cheiro de sabonete em sua pele era exótico, gostoso como se fosse o perfume mais caro de Paris.
Ela não tinha se secado direito, duas gotinhas lambiam sua pele branca no ombro, e minha língua quase dói por querer fazer o mesmo.
— O que você está fazendo então? — ela me pergunta, parece zombar do fato de eu estar hipnotizado por sua presença. Ela sabia do efeito que causava em mim naquele momento e eu lutava tanto contra isso que era ridículo.
Sakura dá dois passos para trás, se encurralando contra a parede.
Não posso deixar de sorrir com aquilo. O momento não era propício, mas ela tinha me tentado durante um tempo bom já, dar o troco não seria má ideia.
Mais perto dela...
Mais perto...
Mais...
— Sasuke?
— Hum.
— O que está fazendo? — sua voz raspa em sua própria garganta. Quando percebo que posso sentir isso, vejo que estou absurdamente perto dela.
— Nada. — minto.
— Sasuke, não me provoca, acabei de ser ameaçada com uma tesoura.
— Não estou fazendo nada. — não resisto e acabo beijando as duas gotas que insistem em deixar seu ombro molhado.
Aquele cheiro, a textura… Não, eu não sei o que estava acontecendo comigo.
Tento me relembrar o porquê de eu ter prometido para mim mesmo não me aproximar de nenhuma mulher. Nomes piscam dentro da minha cabeça como holofotes de uma boate, dentre eles Ino e Karin, mas ouço Sakura suspirar e isso tudo cai por terra.
Mordo sua pele fria, chupando forte sua carne do pescoço.
— Sasuke. — ela fala meu nome num sussurro, o que é suficiente para fazer meu coração bater mais rápido.
Suas mãos começaram a acariciar meus cabelos - talvez eu estivesse tão encurralado quanto ela, ou até mais -.
Ah, como eu adorava quando ela deixava suas mãos percorrendo cada fio do meu cabelo, eu não sei o porquê exatamente, mas aquilo me acalmava.
— Você está me devendo uma. — ela ainda tentava manter um diálogo comigo. O que de certa forma era irritante, especialmente naquele momento.
— Agora? — murmuro contra sua pele ainda colada a minha boca.
— Me beija. — seu pedido soa sôfrego. Como se ela tivesse carência de mim, necessidade.
Encaro seus olhos. Seus grandes olhos verdes.
Sinto uma pressão feita por sua mão em minha nuca como se me incentivasse, e no segundo seguinte estava com os lábios mergulhados nos dela.
Não era pra ser assim.
Nossas cabeças se moviam para nos encaixarmos melhor. Seu gosto era de pasta de dente de hortelã, e aquilo me fez quase rir no meio do beijo. Eu queria comê-la ali, naquele exato momento, e Sakura tinha cheiro de sabonete e creme dental.
Não era para chegar naquele ponto se estávamos sozinhos.
Fiquei faminto. Só beijá-la já não era o suficiente. Porém eu não sabia quais seriam os limites.
Minha mão passeia por sobre sua pele desnuda da coxa e a puxo para cima, fazendo seu corpo se encaixar no meu.
Se eu olhasse para baixo podia ver o sexo de Sakura, uma vez que a toalha era bem curta e por causa do movimento, provavelmente deve ter subido mais. Então continuo com o beijo, concentrado, de olhos fechados saboreando os lábios que faziam questão de me responder a altura, como se aquela fosse a única chance de me beijar.
Eu esperava que não. No meio do beijo eu já imaginava outro e outro…
Porra.
— Sasuke. — ouço a voz manhosa de Sakura ao pé do meu ouvido e volto ao pouco de sanidade que me restava.
O namoro era pra ser de mentirinha, mas ambos estávamos ali, atracados um no outro com a respiração falha. Minhas mãos ainda segurando suas coxas descobertas no lugar e suas pernas envoltas da minha cintura numa tentativa de se equilibrar melhor.
— Sakura você sabe que...
— Isso foi o pagamento pelo cafuné. — ela me olha com seus cabelos rosas desgrenhados e grudados ao rosto. Sua respiração estava ofegante e seu olhar sem brilho.
Não desvio o olhar enquanto ela desce suas pernas para ficar de pé.
— Não sabia que seus cafunés custavam tão caros assim. — tento descontrair, mas ela não parece muito feliz com o que acabamos de fazer.
— Tenho que me trocar.
— Hum, claro.
Saio do quarto dela explicitamente excitado.
#Sakura
Coloco minha calcinha com raiva, meu sutiã com raiva, e um vestido com raiva.
Penteio meu cabelo com mais raiva ainda. Posse sentir meu couro cabeludo gritar para eu parar de puxar meu cabelo com excesso de força bruta. Acabo prendendo o cabelo de qualquer jeito, um rabo de cavalo molhado e esquisito, e calço o tênis com tanto ódio que levo mais tempo do que preciso par fazer uma tarefa simples.
Depois de conferir meus materiais, abro a porta do meu quarto com um puxão desesperado. Eu ainda estava com raiva, mas minha alma quase sai do corpo quando encontro Gaara parado ali, do outro lado, como se estivesse prestes a bater na porta.
— Você é minha heroína!
Levo um segundo para raciocinar sobre o que ele estava falando. Quando a ficha caí, estou com mais raiva ainda, o que não parece abalá-lo.
— Já disse, não fui eu. — minha voz soa rude. Sei que perdi o que me restava de paciência.
— Ei, você não vai... — nem esperei Sasuke terminar de perguntar. Não, eu não iria de carona com ele. Eu não suportaria a presença dele nem mais um minuto na minha vida aquele dia.
Coloquei meus fones de ouvido e preferi ir de metrô, de ônibus, a pé, de canoa ou patinete para a faculdade.
Tentei organizar as perguntas que insistiam em brotar.
Por que eu pedi para ele me beijar?
Por que todos duvidaram de mim?
Por que Sasuke duvidou de mim?
Por que ele agarrou minha coxa daquele jeito? Ô meu deus, me senti tão exposta. Foi tão bom.
Ouvi a voz irritante da mulher indicando o nome da parada e desci do metrô sem pressa alguma.
Fui pra sala mesmo antes de começar a aula. Deitei minha cabeça na carteira sentindo o frio contra minha bochecha.
Por que ele tinha que me pegar daquele jeito?
Fechei os olhos apreciando cada pedaço de minhas memórias.
— Teste surpresa! — acordei de meu mundinho pornô particular com a voz do professor Kakashi anunciando a avaliação surpresa.
É, meu dia ia ser longo.
#
— Dia difícil?
— Muito. — respondo com os olhos fechados. Não preciso abri-los para saber que quem fala comigo é Gaara.
E lá eu estava sentada debaixo da nossa árvore de novo.
— Imagino. — ele diz simplesmente fazendo companhia pra mim em seguida. — Hoje eu comprei um pra você. Achei que precisaria.
— Obrigada. — agradeço dando uma longa puxada no canudo que continha a bebida doce.
— Olha, eu acredito em você, acredito que não fez aquilo com Karin, mesmo querendo muito que fosse você.
— Você é maluco, Gaara. — rio tentando não ficar ofendida com a parte que ele queria que fosse eu quem tivesse feito tal coisa com Karin. — Obrigada pelo milk shake. É gostoso...
— Eu disse que era bom. — não tão bom quanto o milk shake de Sasuke, mas era gostoso.
— Obrigada por confiar em mim.
— Disponha.
#
Decidi voltar de ônibus sozinha. Gaara até ofereceu companhia e foi na minha frente, mas eu queria ficar mais um tempo apenas comigo mesma.
Cheguei em casa exausta. Precisava de um banho.
Porém, meu dia ainda não tinha acabado.
— O que é isso?
— Precisamos conversar com você Sakura. — Ino disse com a voz dramática.
Todos estavam reunidos no sofá, até Karin e sim, isso era preocupante. Preocupante pra caramba.
— O que aconteceu?
— Karin precisa de um lugar pra ficar. — meus olhos foram direcionados para o loiro. — A Ino concordou que ela ficasse, mas a gente sabe se a cena de hoje de manhã não pode voltar a acontecer. — Naruto falava com cautela, ele não queria me machucar, mas eu via dentro dos seus olhos que ele tinha, no mínimo, dúvidas de quem tinha feito aquela atrocidade com o cabelo da sua prima.
Cara, não fui eu! Eu estava ficando tão puta com aquela situação que estava até pensando seriamente em pintar o que sobrou de azul. Pelo menos assim eu poderia levar a culpa por uma coisa que eu realmente fiz.
— E onde ela vai ficar? — perguntei com a paciência mais curta do que meu vestido já.
— Aqui. — Hinata respondeu baixinho. — Com vocês...
— Essa parte eu entendi, mas em que parte da casa? — perguntei temendo a resposta.
— Sakura, o único quarto... — Ino começou a falar, mas uma raiva tomou posse de mim.
— Escuta aqui Naruto. Pelo menos olhe na minha cara. Não. Fui. Eu.
— Sakura... — Karin tenta interromper e isso me faz perder a gota de paciência que me tinha sobrado depois dos acontecimentos daquele dia.
— Olha, eu não me importo da Karin ficar. O que me incomoda é você achar que eu sou mentirosa. — falei olhando dentro dos olhos do loiro e depois bati a porta da sala com força.
Escutei a voz da Ino me chamando, mas por sorte o elevador ainda estava no meu andar, então, desci rapidamente.
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— Você não seguiu meu conselho, não foi? — a loira me olhava com uma cara divertida.
— Não, e acabei me apaixonando por uma pessoa que não pode se apaixonar.
— Por que ele não pode se apaixonar?
— Porque tem uma pedra no lugar do coração. Ele me tortura e era pra eu torturá-lo. — desabafei virando mais uma dose de tequila.
— Vai com calma, Rosinha.
— Calma é o caramba!
Minhas bochechas infladas e soluço temporário são mais do que o suficente para fazer Temari rir da minha cara.
— Tá, confesso, meu conselho aquele dia foi uma droga. Mas se você gosta desse tal de Sasuke...
— Eu gosto, mas eu não posso gostar! — tentava gesticular pra ela. — Então eu tenho que parar com isso.
— Mas me conta, esse tal de Sasuke tem pegada? — a bargirl se debruçava no balcão a fim de mais detalhes.
— Não fiz nada com ele, mas já deu pra perceber que tem. Ele faz mais o tipo romântico, mas homem másculo sabe? Ele te pega da maneira certa. Ai! — me desespero com a lembrança do nosso último beijo. — Mas o pior de tudo é que ele se faz de difícil.
— E por que você não tenta se fazer de difícil também?
— Porque é impossível, amiga. — falo balançando os ombros em sinal de derrota. — Mais uma dose?
— Acho que chega por hoje, Sakura. Daqui a pouco os homens vão te confundir com uma das dançarinas.
— Tanto faz, aposto que o pinto de qualquer um aqui ainda é maior do que o do Sasuke.
— Você é hilária. — Temari me observava enquanto limpava o balcão num gesto que devia ser automático. — Olha, tá ficando tarde, vai começar o horário de pico, acho melhor você ir embora.
— Isso mesmo, eu vou embora e vou descobrir qual o tamanho do pinto do Sasuke!
— Não foi isso que eu disse.
— Toma, fica com o troco.
— Sakura. — ela me chama carinhosamente, enquanto guardava o dinheiro no bolso. Me viro para trás, a encarando por cima do ombro. — Manda um alô pro Gaara por mim.
— Claro.
Temari era neutra. Já devia ter ouvido histórias muito piores do que a minha, e mesmo assim me aconselhava, ou pelo menos me ouvia.
Depois de ter saído do apartamento eu fiquei sem lugar para ir, então acabei seguindo para onde Neji tinha me levado o dia que eu tinha ficado dopada de remédio.
No clube de strip acabei desabafando com a irmã de Gaara, Temari, e, como boa amiga/ouvinte, ela acabou concordando comigo. Então, em suma, ela também achava que Karin era uma vaca, que Sasuke um pedaço de mal caminho, e que eu estava ferrada, completamente ferrada.
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Quando cheguei em casa já era 1 da manhã. Confesso que eu tinha extrapolado e ficado muito tempo conversando com a irmã de Gaara no bar.
Tiro meus sapatos e como uma criminosa ando até meu quarto, pé ante pé.
Abro a porta com cuidado e vejo um corpo deitado lá, um corpo ruivo com um novo corte de cabelo.
Ignoro o ódio de ver suas coisas espalhadas pelo quarto e seu corpo deitado na minha cama e sigo pro quarto ao lado.
Bati na porta algumas vezes não obtendo resposta.
Vadio. Eu sabia que ele estava acordado só pela luz que seu quarto emitia por debaixo da porta, portanto ele me ignorava de propósito.
Tento achar meu celular na bolsa, mas era uma tarefa impossível. Volto até a sala e disco o número do meu querido namorado do telefone fixo da casa. Graças aos Deuses que mantínhamos ali a lista do número do telefone celular de todos, porque eu nunca lembraria um telefone de cor.
Esperei chamar uma. Duas. Três vezes... Na quarta já estava xingando baixo.
— Quem é? — ouço sua voz rouca do outro lado da linha.
— Eu, seu imbecil, agora abre a porta logo, estou morrendo de frio.
Ouvi Sasuke destrancar a porta e caminhei arrastando meus pés até lá.
— Pensei que fosse a Karin. — ele se justifica bagunçando seus próprios cabelos como para se manter acordado. Talvez ele tivesse pegado no sono enquanto estudava. Pela sua cara parecia que estava mais cansado do que eu. — Sakura, você bebeu?
— Não, eu afoguei minhas mágoas no álcool, é completamente diferente. — respondo ignorando seu olhar sobre mim e tirando meu sutiã, mas sem tirar o vestido.
— Que sexy. — ele soa irônico.
— “Que sexy” — imito sua voz num tom jocoso.
— Por que você está com raiva? Por que foi beber no meio da semana?
— Por que você me pegou daquele jeito? Por que aceitaram numa boa Karin morar aqui e ainda por cima dormir no meu quarto? — rebato suas perguntas com mais perguntas, mas não tenho nenhuma resposta.
— Quer saber, chega, você fica ai arrumando namorada de mentirinha. Negando uma mulher relativamente bonita que se oferece sempre para você. Nega uma loira linda que nem a Ino e pra arrebatar eu de toalha. Fala que não é de pegar muitas, que tem problemas com relacionamento e o caralho a quatro. — fui falando e falando observando o rosto de Sasuke se contorcer numa careta. — Isso tudo ai é culpa do seu amiguinho, aposto que ele é minúsculo. Isso explicaria muita coisa na verdade, inclusive seu mau humor diário Lorde Sasuke.
Despejei tudo em cima dele.
Eu estava ofegante e encarava Sasuke sem saber o que fazer. Eu sabia que 90% do meu discurso era idiota, mas não me arrependia de ter falado as coisas que eu havia falado.
Seu rosto estava fechado com as duas sobrancelhas unidas. Seus braços desnudos estavam cruzados em seu peitoral.
— Pinto pequeno?
— Minúsculo. — sibilo em tom de deboche olhando diretamente em seus olhos ônix.
— Pequeno? — ele repete, seu tom de voz provocativo, como se estivesse me desafiando.
— É. — confirmo, observando suas mãos alcançarem o elástico da calça de moletom. Assim que entendo suas intenções, não consigo não sorrir. — Se vai abaixar as calças, espera eu pegar a lupa.
— Ah, Sakura, você não vai precisar.
— Então tira. — o meu tom de desafio deixando claro o quão interessante aquilo estava se tornando.
— Você quer ver mesmo?
Aquilo tinha se tornado um jogo insano.
— Quero.
Ele não teria coragem, teria?
Percebo que ele tem assim que puxa as próprias roupas para baixo me deixando ter a visão dele completamente nu. Assim, do jeito que ele veio ao mundo.
Sem escrúpulo algum, meus olhos tentam gravar cada parte do corpo do Sasuke antes dele se vestir novamente.
— Pequeno? — ele repete a pergunta como se quisesse realmente uma resposta.
Não era pequeno, nada pequeno.
E também não era fino.
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