Narrado por Lucinda Charmin
-Nem fudendo que você vai assim! – Mahogany exclama, assim que vê a roupa que eu escolhi.
-Não precisa usar essas palavras – a reprimo, revirando os olhos.
-Tá, que seja – ela põe as mãos na cintura – Mas eu não vou deixar você sair com o Matt assim. Vamos escolher uma roupa que não inclua calça jeans e vans, ok?
Então, o que aconteceu, basicamente foi: Eu aceitei sair com o Matt. A verdade? Estou começando a distorcer meus próprios princípios, e restabelecer minhas prioridades, o que no caso não é certo.
Mas prefiro pensar que apenas um jantarzinho, não irá ter grandes efeitos em minhas médias finais. Eu espero.
-Não mesmo. Não vou usar isso – cruzo os braços e balanço a cabeça negativamente.
-Ah, qual é Luce? Essa roupa é tão linda! – ela diz, enquanto balança as peças de roupa.
-Olha o tamanho desse decote Mahogany! – exclamo e ela cai na gargalhada.
-Querida, você acha isso aqui grande? Você não viu nada! – ela diz, e eu franzo o cenho – Tive uma ideia!
-Ai meu Deus, lá vem – olho para o teto, procurando calma onde não tinha.
-Acho que você vai gostar – ela diz, entretida demais procurando algo em seu armário.
Então ela tira uma blusa comprida de lá, inteira branca, escrito Awesome em preto. Ela pega uma tesoura, e começa a cortar as mangas da camiseta.
-Lox, você está louca? – pergunto assustada – O que está fazendo?
-Mágica – ela diz, concentrada – Você vai gostar do resultado.
Então ela exagera quando corta as magas, deixando uma enorme fenda ali, para que quando eu vestisse, um pedaço de meu tronco ficasse exposto.
-Agora você põe um top preto por baixo, e usa ela – ela me estende a blusa – Você pode usa sua querida calça jeans, e os queridos Vans. Eu deixo.
-Pelo menos isso né – respondo tirando minha blusa por cima da cabeça, e seguindo suas instruções.
O resultado não fica ruim, afinal. Fica descolado, um pouco ousado. Mas não há decote na frente, apenas nas mangas, o que dá um bom equilíbrio na blusa.
-Gostou? – ela pergunta sorrindo orgulhosa.
-Sim – respondo me olhando no espelho – Não achei que ficaria tão legal.
-Pois é – responde rindo pelo nariz – Você tem que botar mais fé em mim.
-É difícil né – respondo, e logo depois sinto um tapa em minha cabeça.
-Você está linda – ela olha para mim. Sorrio de leve.
-Obrigada – digo – Mas os créditos são inteiramente seus.
-Eu sei – ela bate palminhas – Vamos para a maquiagem agora!
-Ah Mahogany! – reviro os olhos – Não precisa, sério. Não estou com vontade...
-Cala a boca e senta – ela me guia pelo meus ombros até a cadeira de seu escritório.
-Não faça nada muito pesado, por favor. Bem natural, ok? – peço, enquanto ela aplica base na minha pele.
-Pode deixar, madame – ela assente sorrindo.
-Você não vai sair com Jacob hoje? – pergunto.
-Acho que vamos assistir um filme na sala de TV – ela explica com um expressão séria, concentrada em seus pincéis e produtos.
-Ah entendi.
Então ela pede para que eu feche os olhos. Ela diz que não irá fazer nada demais, e que o resultado ficará bem natural. O que de fato, fica.
Quando abro os olhos, vejo minha pele impecável como nunca. Minhas bochechas levam um tom rosa claro, e meus olhos ressaltam como um deliniado bem fino na raíz dos cílios, e um pouco de rímel.
-Eu adorei – respondo, olhando no espelho.
-Eu sou maravilhosa, eu sei – ela sorri orgulhosa novamente – Você tem algum batom que goste?
-Tenho um só. Usei uma ou duas vezes – digo, procurando pelo batom em minhas gavetas.
Como uma peça pregada pelo destino, assim que a terceira gaveta de madeira é aberta, dou de cara com o meu desenho feito por Alex. Suspiro fundo, e vejo o batom ali, em cima do desenho.
Pego o batom e fecho a gaveta. Pisco meus olhos e penso “É hora de por isso para trás. Esqueça Alex”.
-Você está atrasada – Lox comenta, enquanto me observa passar o batom.
-Estou nada – respondo, saindo de seus braços – Ele que combinou de vir me buscar aqui. Mó mané esse Matthew, nem pra chegar na hora esse bocó serve.
-Então acho que Matt está meio...
Duas batidas na porta. Sorriso malicioso de Mahogany.
Vamos começar a rezar a partir de agora.
-Acho que o nosso mané chegou – ela corre para abrir a porta, enquanto eu dou uma última checada no espelho.
~*~
-Eu gostei da sua blusa – ele comenta, enquanto dirige o carro.
-Obrigada – sorrio de canto – Mahogany que fez.
-Imaginei – ele sorri pelo nariz, me olhando brevemente.
-Não vai me contar onde estamos indo? – insisto na pergunta, e ele sorri vitorioso.
-Não. Mas garanto que irá gostar – ele explica, virando o volante em uma curva.
-Espero mesmo – cruzo os braços e olho para Matt, que sorri tipicamente debochado.
-Chegamos – ele estaciona o carro em frente ao lago.
-Não tenho muitas boas lembranças daqui – comento, enquanto lembro da brincadeira ridícula que Margot fez comigo e Lox. Matt dá a volta no carro para abrir porta para mim.
-Relaxa, não será aqui – ele diz, enquanto abre o porta malas e tira de lá uma cesta de vime – Será ali no carvalho
-Nossa que cavalheiro. Vai até fazer um piquenique noturno – comento sorrindo, me referindo à cesta – Não sabia que você era do tipo “encontros fofos”.
-Ah Lucinda – ele me olha descrente – Você não sabe de tanta coisa.
-Estou começando a ficar curiosa.
Então subimos o morro com certa dificuldade. Assim que chegamos no pé da grande árvore, Matt se ajoelha e eu faço o mesmo. Ele tira uma toalha branca e a estende sobre a grama bem aparada.
-Sou um cavalheiro, porém não sei cozinhar – ele se explica enquanto tira embalagens de papel de dentro da cesta.
-E por isso, você comprou hambúrgueres na lanchonete do campus – completo, sentindo o cheiro de carne grelhada. Ouço meu estômago roncar.
-Comprei batatas fritas, frangos fritos, e refrigerante também – Matt ri e tira ambas da cesta, enquanto eu coloco o canudo nos dois copos de coca-cola.
-Isso está cheirando muito bem – respondo, pegando um hambúrguer da caixinha.
-Sabe... – Matt engole um pedaço de seu lanche – É legal poder fazer esse tipo de encontro com você. Porque, há muitas menininhas mimadas nessa academia, que jamais aceitaria um piquenique de fast food.
-Sorte sua que não sou uma delas – digo enquanto pego uma batata.
-Mesmo você sendo uma Charmin – ele completa, e eu jogo minha batata nele.
-Não começa Matthew – respondo brava, e posso ver ele se segurando para não rir - Porque eu poderia estar dando um escândalo nesse momento. Se eu fosse tipo a Margot, que não come nada disso.
-Cruz credo – Matt balança a cabeça – Aquela menina é horrível.
-Nem me fale – assinto rindo.
-Sabe Luce, para uma patricinha da socialite de Los Angeles, você é até que normal – ele diz, e eu estreito meu olhar – Mesmo para uma Charmin.
-Oh, cale a boca – começo a rir – E eu não sou patricinha.
-Não mesmo – ele concorda.
~*~
-Medos? – ele pergunta.
-Baratas – respondo rápido –Tenho pavor de baratas.
-Eu não quis dizer fobias. Perguntei sobre medos mesmo – ele levanta as sobrancelhas.
-Bom, vai ter que esperar, porque agora é a minha vez – sorrio sem mostrar os dentes e ele bufa.
Matt está deitado na toalha, ao meu lado. Estamos fazendo algo extremamente clichê, mas é tão relaxante: Observando as estrelas. Minhas mãos repousam em cima de meu umbigo, e as de Matt estão por cima jogadas em algum lugar próximo a ele. Estamos brincando de fazer perguntas um para o outro, uma forma legal e infantil de nos conhecermos melhor.
-Manda – ele ordena em um tom retórico.
-Metas? – pergunto, olhando para as infinitas estrelas.
-Ser um grande ator... Ou diretor – ele responde – Desde sempre. Quando eu era criança, meu pai costumava me chamar de senhor Hollywood, porque eu sempre estava procurando por uma maneira de atuar ou algo do tipo.
-Você morou sua vida inteira em Los Angeles? – pergunto sem querer.
-Minha vez, terá que esperar a sua – ele adverte e eu assinto rindo pelo nariz.
-Tudo bem. Qual é sua pergunta?
-Quais são seus medos, os reais? Os seus maiores medos? – ele pergunta.
Viro minha cabeça para o lado para encará-lo, e me surpreendo quando dou de cara com seus olhos redondos, ansiando por uma resposta.
-Meus maiores medos... – olho para a copa do carvalho, e volto meu olhar para o dele – Perder as pessoas que eu amo. Esse deve ser meu maior medo.
-Sentimental – ele comenta e eu faço uma cara de tédio.
-Você morou sua vida inteira em Los Angeles? – retorno à minha pergunta.
-Não – ele suspira, e vira sua cabeça, para poder olhar para o céu. Faço o mesmo – Há mais ou menos cinco anos atrás, meu avô por parte de pai morreu. Nós morávamos em Woodbridge, na Virgínia, e tivemos que nos mudar porque meu pai tinha que assumir a direção da universidade.
-Mas e quanto a você, e seus irmãos? – pergunto.
-Seria contra as regras do jogo mas... – ele me olha novamente – Vou responder sua pergunta extra.
-Tudo bem – digo, esperando por sua explicação.
-Kristen já tinha começado a faculdade de nutrição em New Heaven, em Connecticut.
-Ela está na Universidade Yale? – pergunto lisonjeada. É uma ótima universidade.
-Sim – ele responde sorrindo – O orgulho da família. Por pouco não ingressou em Harvard.
-E o que aconteceu depois? – sou muito curiosa. Ele me olha e deixa escapar um sorriso lindo. Ai meu Deus, o que está acontecendo comigo?
-Então ela ficou em Connecticut, e meus pais, eu e Dylan nos mudamos para a Califórnia. Dylan tem dezoito anos, e Kristen vinte e seis. Terminará a faculdade esse ano.
-É uma história interessante. Queria conhecer seus irmãos – conto, e ele suspira.
-Aposto que eles adorariam te conhecer também – ele diz e eu sinto minhas bochechas queimarem.
-É a sua vez – eu digo de súbito – Faça uma pergunta.
-Sua vida. Quero saber mais sobre ela.
-Nada muito emocionante – estalo a língua – Apenas uma deslocada na socialite de Los Angeles.
-Ah, vamos Luce. Estou curioso – ele revela e eu acabo cedendo, como sempre.
-Tudo bem. Bem, eu nasci aqui e minha casa fica em Bervelly Hills. Desde pequena sou apaixonada por música. O ensino fundamental e infantil inteiro eu e meu irmão fizemos com um tutor particular em casa, porque meu pai não achava seguro nós irmos pra escola.
-Está brincando, não é? – ele pergunta segurado o riso e eu reviro os olhos – Ok, vou tentar não te zoar por isso. Mas não garanto nada.
-Enfim. No ensino médio, eu finalmente pude ir para a escola. Eu estava maravilhada com tudo, mas depois que terminei o colegial, fiquei um ano na Europa.
-Fazendo o que lá? Em que país você ficou? – ele está comicamente animado.
-É contra as regras do jogo, mas vou responder sua pergunta extra – imito ele, que ri – Fiquei oito meses em Veneza, na Itália com a minha vó por parte de mãe. Depois fiquei quatro meses em Benevento, uma cidade no interior da Itália, estudando gastronomia.
-Presumo que saiba falar muito bem italiano – ele profere com calma. Tudo tão tranquilo – E cozinhar muito bem.
-Di sicuro – respondo e ele me olha incrédulo – Significa com certeza, em italiano.
-Você é incrível – ele comenta suspirando, e eu não posso deixar de sorrir.
~*~
-Entregue – ele diz quando abre a porta do carro para mim, novamente.
-Obrigada – sorrio para ele.
Caminhamos em silêncio até a porta do Instituto de Música. Sei exatamente o que ele está esperando.
-Hoje foi... – ele olha para baixo.
-Muito legal – eu completo – Você é um pouco menos irritante, insuportável e extremamente chato agora que me levou para jantar.
-Fico feliz então – ele diz rindo, com as mãos enterradas nos bolsos da calça.
-Certo – eu digo, com um meio sorriso nos lábios.
-Certo – ele repete.
-Acho que já vou subindo então – comprimo os lábios e giro meus calcanhares – Boa noite Matt.
-Luce, espere – ele me puxa de volta.
-Sim? – dou um passo a sua frente. Isso realmente aconteceria.
-Tem uma coisa... – ele se aproxima de mim – Uma coisa que eu estou doido para fazer.
Seu olhar se mantém fixo em meus lábios. Então, gentilmente eu levanto seu rosto pelo queixo, com as pontas de meus dedos e seus olhos encontram os meus:
-Cosa stai aspettando? – sussurro, alienada demais para pensar em algo a não ser duas coisas: seus lábios tão perigosamente macios e convidativos, e os poucos centímetros que separam nossos corpos.
-Tradução? – seu hálito se choca contra minha pele, e eu sinto a necessidade de fechar os olhos. Mas obviamente, disfarçar minha tentação à sua pessoa, os abrindo logo em seguida.
-O que está esperando? – digo bem baixinho, enquanto me arrepio com a ousadia de minhas palavras.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.