História Losing You - Capítulo Único

Doze dias antes

Naquele momento inesperado, ele me convidou para sair da festa de casamento do meu ex, eu sei, eu sei, não devia estar lá. Mas logo que ele veio até mim com o lenço dourado da mesa eu tive um pouco mais de esperança, um sussurro que dizia "seu lugar é aqui".

ー Você é bem bonito pra estar chorando, o que aconteceu?
ー Ele é meu ex.
ー Mas que droga garoto, vamos logo embora daqui. ー disse me arrastando pelo pulso. Aquele garoto que eu nem mesmo sabia o nome estava me levando pra longe da minha dor... Onde será que acaba esse labirinto?
ー Aliás, meu nome é Kris, caso você queira escrever no seu diário que eu te salvei pela primeira vez de morrer desidratado.
ー Suho, devo agradecer meu herói ou só correr pra longe dele?
ー Deve beber com o seu herói. Pronto, acho que estamos longe o suficiente.

Não sabia onde prestar atenção, estávamos em um lugar abandonado cujo o vento nos acariciava a face. Ele tinha expressão tão preocupada porém seus traços eram fortes, o que me fazia questionar se ele era real, ou se havia saído de algum mangá ou algo do tipo.

ー Suho, você está bem?
ー O que?
ー O último cara que me encarou desse jeito foi embora cheio de marcas roxas.
ー Meu Deus você bateu nele?
ー Não, nós transamos.
ー Nossa...ー eu suspirei sentindo meu rosto corar. Ele era realmente bonito mesmo com a fraca iluminação.
ー Bebe vinho?
ー Vai me embebedar?
ー Se for preciso pra você não pensar nessa festa idiota, então sim, eu vou.ー ele sorriu, maldito sorriso. Em menos de cinco minutos eu já estava bebendo.
ー Mas... De onde tirou essa garrafa?
ー Acho que estava tão ocupado chorando que nem reparou na bolsa.

Era verdade, eu nem havia notado aquela bolsa ali, preta com adesivos pela metade e alguns gastos por toda ela. Naquele dia Kris se tornou alguém para mim, alguém que eu deveria evitar, e o único pelo qual quebrei meu dever.

ー Quantos homens você já... ah, você sabe.
ー Acho que isso é bem pessoal pra quem acabou de me conhecer.
ー Me descul...
ー Um só. E ele não era nada atraente.
ー Mas então por que você fez?
ー Ele pagou essa bolsa pra mim e uns equipamentos de produção musical. Não me veja como fácil, mas pra alguém que sonha em cantar já é um bom começo.
ー É, faz sentido. Droga, onde é que estamos?
ー Não se preocupe, eu te levo pra casa depois que parar de chorar.

Onze dias antes

Que dor de cabeça ridícula, onde estou? Em casa? Quando eu cheguei aqui?
ー Bom dia garotinho!ー era Kris parado em frente a minha cama, usando apenas uma das minhas cuecas boxers pretas.
ー O que você está fazendo com a minha roupa?
ー Eu dormi aqui, então precisava tomar algum banho, acho que não se lembra do que fez ontem.
ー O que... Nós...?
ー Não cara, nós só tomamos banho juntos, eu te ajudei a tomar banho porque você estava muito bêbado. Agradeço ter pedido seu endereço quando estava um pouco sóbrio ainda.
ー Ah não...ー cobri meu rosto que estava completamente corado, eu sentia a vergonha pulsar por todo meu corpo.
ー Hey, relaxa, você é muito gostoso sem roupas, sortudo é o cara que puder te ver nú em outra situação.
ー CALA A BOCA VIADO!ー o travesseiro voou de minha mão até acertar em cheio a cabeça de Kris. Eu deveria estar preocupado, mas na verdade estava rindo muito mais do que devia.
ー Aish... Olha só que fala! O pior de tudo é esse sorriso, você é um belo de um desgraçado me torturando desse jeito.
ー Mas eu não fiz nada!
ー Cara, você sorriu. Só o teu sorriso já é um crime contra um pobre coração cardíaco como o meu.ー ele disse com a mão no peito. Parecia um monumento parado em minha frente, o mais bonito que já vi, droga Suho, você não pode se apaixonar agora.
ー Tanto faz, eu estou com fome. ー me levantei da cama e senti uma brisa passando por minhas pernas, quando olhei para baixo eu estava completamente nú.ー MEU DEUS!ー deixei escapar me cobrindo novamente com o cobertor.
ー Eu já vi tudo o que tinha que ver aí. Não precisa fazer alarde.ー Kris se aproximou e beijou minha testa. ー Te espero na cozinha, fiz o café da manhã.

Eu deveria expulsá-lo de casa, mas ele me ajudou muito ontem... Apesar de tudo, o que mais teria pra esconder dele? Tendo meu corpo exposto a ele por apenas uma noite e provavelmente ele já sabia de qualquer detalhe meu, qualquer defeito. Não tinha mais o que fazer, apenas aceitei o café e o sorriso piedoso naquele dia tão nublado.

Dez dias antes

Ouço a campainha tocar, era ele do outro lado, aquele que me convidou pra própria vida, me expulsou dela e me chamou para seu casamento. Mesmo depois de tanto meu coração apanhar, ainda podia-se sentir batidas mais fortes quando se tratava do meu ex. Atendi a porta no terceiro toque.
ー Olá Suho.
ー Tao.
ー Não vi você no final da festa ontem, o que aconteceu?
ー Bem eu...
ー Quanto barulho pra uma manhã de segunda-feira!ー era Kris atrás de mim, desprovido de outra roupa além de uma cueca box branca.
ー Oh... Vejo que está muito bemー disse Tao apontando para Kris.ー acho que entendi...
ー Não é bem assim...
ー Eaí Tao, tudo bem com a sua noiva?
ー Oi Kris. Eu e minha esposa estamos muito bem.
ー Vocês se conhecem?
ー Lembra dos equipamentos? Ele que me deu.
ー Eu acho melhor ir embora, já que você está bem.
ー É a melhor ideia que ja teve.

Tao foi embora sem olhar para trás, aquilo doía como na primeira vez que fez isso mas, de repente doía menos pois os braços de Kris estavam em volta do meu peito me apertando contra ele.
ー Não dê bola pra esse idiota, vamos tomar café okay?
ー Okay...

Nove dias antes

ー Ei Suho, você viu meus fones em algum lugar?
ー No sofá, onde você dorme já fazem três dias... Cara, você não tem uma casa?
ー Já está me expulsando? Sim eu tenho uma casa e estou indo pra lá agora.
ー Não, Kris eu não estou te expulsando... Me desculpe...
ー Ainda não sei o por quê não nos casamos ainda.
ー Que?
ー Até amanhã baixinho!ー ele disse fechando a porta atrás de si e indo embora.

Aquele sentimento ruim estava de volta, e parecia pior. Passei a tarde toda encarando aquela porta enquanto continha as lágrimas solitárias em meus olhos. Naquela noite eu não queria dormir mas por um instante meu corpo vacilou no sofá e eu adormeci. Acordei com o toque da campainha, eram 00:00h em ponto. Quem diabos estaria aqui essa hora? Abro a porta com esperança de que seja Kris. Eu estava certo, era ele mas, não do jeito que eu imaginei.
ー Me ajuda com esses ferimentos por favor... Você foi o único que me veio a cabeça.
ー Meu Deus Kris, entra logo.

Kris estava muito machucado, haviam cortes em suas pernas e braços e um corte pequeno no lado direito do lábio inferior. Peguei todos os tipos de anti inflamatórios, bandagens e uma garrafa de álcool. Era difícil ver suas expressões de dor, mas era necessário. Depois de alguns minutos eu tinha terminado os curativos e estava passando uma toalha quente em sua testa, para evitar o frio.
ー Quem fez isso com você?
ー Eu não vi direito, mas um deles era amigo da noiva do Tao, me lembro dele não gostar de mim.
ー Você precisa denunciar ele!
ー Ele não vai parar se eu o denunciar, apenas vai piorar. Talvez eu nem chegue vivo aqui em casa...
ー Kris, por favor não volte para sua casa... Amanhã posso mandar uns caras buscarem suas coisas para cá, mas por favor não me deixe sozinho... Vamos morar juntos, eu deixo você dormir comigo.
ー Gostei dessa parte. De acordo, amanhã eu me mudo oficialmente para cá. Se não se importa, estou louco para dormir um pouco.ー nos sentamos no sofá, então ele me empurrou até eu estar deitado, depois deitou em cima de mim e adormeceu.

Oito dias antes

A luz da janela na sala me acordou, batia nos fios avermelhados dos cabelos de Kris me fazendo acreditar que era algum tipo de sonho.
ー Kris? Kris acorda, tenho que ir fazer café.
ー Hm...ー ele disse ainda sonolento levantando e sentando.
ー Bom dia, está melhor?
ー Acho que estou, parece que fui atropelado por um boi...
ー Vai se sentir melhor depois de um café, eu vou fazer.ー disse me levantando mas ele me puxou novamente para o sofá, me abraçando por trás e beijando meu pescoço.
ー Obrigada por ontem, você é muito confortável.
ー Não pense que eu vou ser o seu colchão para sempre, nós vamos dividir a cama... Agora eu vou fazer o café.ー me levantei rindo.

Era uma das melhores sensações que eu tive na vida, fazer o café observando o olhar de Kris em cima dos grãos. Ele parecia esperançoso e por um momento eu esqueci o que havia acontecido na noite anterior, talvez esse foi o problema. Eu ignorei tanto aquela lembrança dele machucado em minha mente que de repente, quando ele sumiu dentro da casa, meu cérebro entrou em pânico. Eu deixei o café já pronto em cima da pia e saí pela casa toda o procurando, quase chorava quando o encontrei no quarto, bem e nú.
ー Mal comecei  a morar aqui e você já está aproveitando pra me ver desprovido de roupas?
ー M-me desculpe, eu me preocupei, achei que não estava mais em casa.
ー Hey, eu juro não sair de casa sem te avisar antes okay? Agora que já deu o troco, pode me dar umas roupas pra eu vestir?
ー Não sei não, eu gosto do que vejo.
ー Mas que ousadia, pena que estou com frio.

Peguei uma camiseta, calça e blusa de frio para ele e desci para servir o café. Ele se sentou do meu lado, mesmo sentado ele era alto. Bebia o café me contando sobre suas músicas e com um dos braços me abraçava a cintura.
ー Quando eu instalar os equipamentos, te mostrarei algumas músicas.
ー Tudo bem, vou contratar os caras pra buscar suas coisas.

Cinco dias antes

Foram três dias arrumando e limpando todo o escritório para a instalação do equipamento acontecer. Quando finalmente terminamos Kris me mostrou algumas músicas.
ー São muito boas... Você tem futuro com isso. Quero o primeiro CD autografado e com dedicatória.
ー Como devo escrever a dedicatória? "Do herói para o amor da minha vida"? Me parece bom.
ー Você é complicado de entender, mas eu gostei.

Ele sorria quando dizia meu nome, sorria ao me acordar e também quando eu estava triste e ele tentava me animar. Eu não queria deixar me levar outra vez por meu coração, mas já estava tão mergulhado em seu labirinto que não conseguia achar mais uma desculpa para não me afogar. Era um herói que não tinha poderes, mas me encantava em cada uma de suas melodias. Eu poderia mantê-lo por perto, então teria mais tempo para me decidir.
ー O que quer de almoço hoje baixinho?
ー Me surpreenda.
ー Okay.

Mais tarde a pizza chegou, o que eu estava esperando?
ー Wow, surpreendente... Você cozinha muito bem.

Quando me virei Kris me beijou, apertando cada vez mais meu corpo contra o dele, meu corpo e mente se entregavam à ele mais e mais como se fosse algum tipo de vício escondido. Depois de algum tempo, ele me soltou.
ー Eu não disse que a pizza era a surpresa. Agora posso comer em paz, caramba Suho você parece um tipo de droga do qual meu corpo precisa...
ー E-eu... ah.ー não resisti e o puxei para um segundo beijo, um pouco mais rápido que o outro.

Mesmo depois de dois beijos meu corpo precisava dele como um alcoólatra precisa de sua bebida, me controlei durante o almoço e me descontrolei durante o banho. Eu não tinha esses tal desejos sexuais, mas admito que era muito bom ter o corpo de Kris em mim no banho.

Quatro dias antes

Eu não fazia ideia de onde Kris estava e onde ele poderia ter ido. Ainda era de manhã, mas ele não tinha me acordado. Tentei ligar mas ele não atendeu. Maldito celular, não parecia ter qualquer sinal quando Kris estava fora de casa. Fui até a cozinha e engoli um pouco de café, discando sem parar o número dele. A campainha tocou, corri para atender mas, dessa vez não era o Kris machucado.
ー Bom dia baixinho, me desculpe eu fui buscar pó de café pra casa e não queria te acordar.

Era tão bom ter ele de volta que não consegui ficar irritado ou bravo com aquela situação, apenas o recebi com um abraço caloroso.
ー Não faça mais isso... Eu vou enlouquecer se algum dia você sumir.
ー Eu amo você baixinho, por quê eu sumiria?

Sim, porque faria isso? Me senti melhor depois de ouvir ele dizer isso tão tranquilamente. Até a ligação chegar. Era um produtor, ele tinha ouvido falar no talento do Kris e pediu uma demo das suas músicas.
ー Acha que vai precisar ir embora para assinar contrato?
ー Talvez, mas eu vou ligar para você todos os dias de hora em hora.ー disse beijando minha testa.

Aquilo não me agradava, tampouco me animava, mas se era o sonho dele eu não podia impedir. Além do mais, ele voltaria pra mim.
ー O que quer fazer hoje?
ー Jogar conversa fora por enquanto?
ー Ou podemos jogar video game enquanto jogamos conversa fora.
ー Parece ótimo para mim, mas vamos tomar café antes.

E então tudo parecia se unir com o pó do café e a água fervendo. O pó era eu, a água o Kris e quando ele se despejava em mim o que nascia de nós era o puro e amargo amor. Nascido do mesmo ex, na mesma festa, com as mesmas bebidas e agora, vivíamos a mesma vida.

Dois dias antes

Esse celular maldito, funcionou tão bem quando precisou tirar ele de mim... Era de manhã quando o produtor ligou para Kris dizendo ter um contrato irrecusável.
ー Então você vai precisar viajar é...
ー Parece que sim, mas só amanhã de manhã.
ー Finalmente seu sonho vai se tornar real...
ー O sonho mais real que tenho é você. Eu já disse, ligarei de hora em hora. Deixe esse seu celular ligado.
ー O que quer fazer hoje?
ー Podemos não sair da cama o dia inteiro e ficar abraçados?
ー Podemos...
ー Então vai ser assim, vamos fingir que essa ligação não chegou e vamos ficar abraçados aqui.

Foi o que aconteceu, exceto pela parte de esquecer a ligação, por mais que eu tentasse aquilo me incomodava e me deixava muito mal.

Um dia antes

Acordei sem ele do meu lado. Já havia deixado o café pronto e um bilhete que dizia: fui para o alto mas voltarei para o meu baixinho. Pela primeira vez eu me senti realmente feliz por Kris, imaginei seu sorriso ao voltar para casa, depois de fazer um show lotar em menos de duas horas.

Tentei não pensar em nada durante o dia e aproveitei para limpar a casa, nenhuma ligação de Kris no meu celular mas eu não estava chateado ou algo do tipo, afinal não se pode usar o celular no avião.

Separei mais roupas, que eram minha e dele. Continham meu cheiro no dele então resolvi não lavar uma delas. Joguei o resto dentro da máquina de lavar pensando em sujá-las de novo em um abraço na chuva ou uma transa na cozinha. Arrumei as camas e achei embaixo do travesseiro o CD com a dedicatória escrita a mão.

Me lembrei do dia em que ele falou eu te amo, acho que eu não retribuí... Mas porque não o fiz, eu não sei, de repente me bateu uma necessidade de dizer... Liguei para ele, tentei mais de uma vez mas não tive respostas.

Quando eram 18:00h da tarde ele me ligou.
ー Como está indo aí?
ー Bem, já limpei a casa agora eu vou descansar.
ー Vou precisar desligar também, a aeromoça está me vigiando.
ー Kris.
ー Baixinho?
ー Eu te amo.
ー Eu também te amo.

A ligação caiu logo depois, mas eu me sentia bem então apenas fui descansar.

Losing you

Era de manhã, uma das melhores manhãs da minha vida até aquele maldito momento em que meu celular tocou. A agencia de voos me ligava logo de manhã para informar que o amor da minha vida havia virado pó junto com as cinzas do avião. Foi o pior dia da minha vida, Kris havia morrido sozinho e eu estava sozinho também. Comecei a chorar desesperadamente, o dia inteiro. Eu não me lembro de ter comido nada, ou bebido nada. Apenas chorei. Foram sete dias inteiros chorando nos cantos de minha casa solitária. Uma clínica me visitou, me levaram para uma sala branca e Kris estava lá, mas eu não podia tocar ele, apenas conversava. Ouvia a chuva correr lá fora sem razão e via o sol nascer também. Mas nunca vi o sol se pôr, eu tomava o chá calmante antes dele se pôr e acabava dormindo.

Seis meses depois

Os médicos me deram alta, mas eu não tenho uma razão para voltar para casa. Durante seis meses eu vi o Kris se desfazer em pó na minha frente de pouco a pouco ele sumiu completamente. No fim eu cumpri o que jurei. A partir do momento que Kris sumiu, eu enlouqueci. Continuo louco, mas louco de saudade.