História Lost In Paradise - I can't handle this!

A minha volta pra casa não foi a coisa mais fácil com a qual eu tive que lidar. Eu simplesmente não queria voltar. E não era somente por causa dele.  Muitos fatores, ao longo do tempo, me levaram á isso. Obviamente o que tivemos havia agravado ainda mais a situação. Ver que ainda havia muitas outras perspectivas pra mim me ajudou a tomar a minha decisão definitiva. Eu não precisava mais ficar. Não precisava mais estar ali, a menos que desejasse isso. E eu já não desejava. Não havia mais nada que me prendesse.

Então eu somente peguei uma boa parte das minhas coisas e fui embora. Mas não sem antes assinar os papéis da separação. Não levei nada que não fosse meu e também não deixei nada que fosse. Eu não estava saindo de um casamento repleto de ódio. De fato nunca tivemos algo em comum. O mínimo de respeito que ainda nos restava precisava ser mantido. Eu já não o amava mais. Não depois de tudo o que eu tinha vivido. Não perguntei a opinião e nem pedi permissão á ninguém. Eu precisava tomaras rédeas da minha vida e ninguém além de mim tinha algo a ver com isso. Pela primeira vez, eu estava decidindo por mim mesma!

Quase um mês depois, eu estava indo morar no Rio de Janeiro com Shay e Sophia. Kylie tinha a vida dela com o marido, mas sabíamos que estaríamos mais unidas do que nunca! Não ia ser fácil pra nenhuma de nós, mas estávamos dispostas a tentar. Era uma vida nova pra nós e pra mim mais ainda! Mas eu sabia que, de um jeito ou de outro, acabaria dando certo. Éramos como irmãs e isso ajudava muito! Eu pretendia começar a dar aulas em alguma escola, aulas particulares ou até mesmo começar em algum outro emprego, não importava onde ou como. Elas já tinham seus empregos, o que não era muito, mas já ajudava. Tudo era um começo. E começaríamos pelas pequenas coisas!

Eu não me sentia nada bem. Além de lidar com todas as mudanças inesperadas, eu me sentia completamente sozinha, embora tivesse o apoio das meninas. Tudo era uma grande novidade, cheia de incertezas e de medos, ainda mais pra uma pessoa insegura feito eu. Era como se eu flutuasse, sendo levada pelo vento, pra onde quer que fosse... Era assim que eu me sentia!

Se eu sentia a falta dele?! Muita! Como sentiria falta do ar que respiro a cada segundo! Eu não conseguia me concentrar em mais nada. Tudo em que eu pensava era nos momentos que tinha passado com ele e em como eu poderia fazer com que acontecessem novamente, mesmo sendo quase impossível... Eu o amava desde sempre e ter me entregado de corpo e alma á esse sentimento, tê-lo concretizado, não havia sido uma decisão sensata. Viver com intensidade toda a paixão, estar com ele, ser dele por inteira, não melhorava em nada, ao contrário.

Durante os dias e as noites eu só tinha vontade de chorar e de morrer. Me meti em um tipo de ciclo do qual eu não conseguia sair. Eu não tinha vontade pra nada. Nada mais fazia sentido pra mim. Tudo o que eu mais queria, eu não podia ter... Se eu não pudesse mais estar com ele, então eu não queria mais viver! Com o passar dos dias, os sentimentos se intensificaram. Eu ficava na cama, chorando o tempo todo, relembrando tudo como se um filme passasse diante dos meus olhos...

As meninas tentavam me animar, mas não tinham muito sucesso. Eu sabia que precisava sair, precisava ir atrás de um trabalho pra continuar vivendo. Sem isso, nada mais seria possível pra mim. Eu não tinha mais com quem contar. Eu estava por minha conta. Elas me ajudavam e muito, mas eu não podia me apoiar nelas. Todas nós estávamos começando e eu deveria fazer a minha parte. Isso acabava comigo... As mudanças, as responsabilidades com as quais eu não estava acostumada a lidar e a falta que ele me fazia. Era como se um grande buraco estivesse aberto dentro de mim, bem rente ao meu peito, me oprimindo, me consumindo totalmente...

Há dias já que eu somente me levantava pra ir ao banheiro. Já passava das 20h quando Kylie chegou. A ouvi entrar, conversando com Shay e Sophia e logo elas estavam invadindo o meu quarto sem cerimonia alguma!

- Geminha linda!- Kylie beijou meu rosto demoradamente- O que tais sentindo, hein?! Por que não quer se levantar?!

- Ah, eu não tô muito bem, mas não é nada- menti descaradamente.

- Foram muitas mudanças né, amiga?!- Shay pegou na minha mão- A gente entende!

- É, mas ela tá assim por causa dele que eu sei- Sophia me olhou pelo canto dos olhos- Kevão!

Não disse nada. O que eu poderia dizer?! Mentir justamente pra elas que me conheciam tão bem?! Não ia adiantar de nada!

- Por que eu não posso ser normal como vocês?!- choraminguei, já deixando as lágrimas caírem- Por que eu não posso simplesmente superar isso?! Eu só queria ser... Normal!

Desde o começo de tudo, desde o primeiro segundo em que o vi há quase 20 anos, eu sabia que ia dar muito errado. Era um sentimento grandioso, único e maravilhoso, mas que, uma hora ou outra, acabaria me destruindo! E eu mesma havia me jogado pra essa destruição .

- Mas me conta, o que tu tá sentindo?!- Kylie me perguntou.

- Nada demais- respondi- Só não quero mais sair daqui, sabe?! Bom, eu quero, só não consigo fazer isso...

- Pois então pegue tuas coisas- Kylie se levantou, pegando minha bolsa em cima da cômoda- Vou te levar pro hospital!

- É bom mesmo ela ir- Sophia se meteu- Ela não quer falar, mas ela tá passando muito mal. Dor de cabeça, náuseas e enjoos!

- Deve ser o estresse!- Shay concordou- É muita coisa pra ter que lidar em tão pouco tempo, minha gente!

Não tinha jeito, eu tinha que ir. Troquei de roupa, colocando a primeira que puxei da gaveta e saí de carro com Kylie em direção ao hospital. O movimento do táxi fazia meu estomago revirar a ponto de eu ter que respirar fundo pra não vomitar ali mesmo!

- Ain geminha, tu tá branca feito uma parede, visse?! – ela me olhou assustada- O que tá sentindo agora?! Anda, me diga!

- Meu estomago tá... Embrulhado- falei- Me sinto tonta, minha cabeça dói muito...

- Isso deve ser virose por conta desse calor dos infernos! – ela revirou os olhos.

Demoramos pouco mais de meia hora pra chegarmos ao hospital mais próximo. Fomos direto pra emergência. Kylie entrou comigo assim que nos mandaram entrar. Uma médica bastante simpática me fez várias perguntas, sobre o que eu vinha sentindo e tudo. Contei detalhadamente, não omitindo nada.

- Sua menstruação está atrasada?!- ela me perguntou, anotando na minha ficha.

- Eu... Não sei- tentei me lembrar- Acho que está. Há quase um mês ou algo assim...

Eu não conseguia entender qual era a relevância disso e estranhei o modo inesperado como ela formulou a pergunta. Kylie olhou pra mim com a boca aberta, fechando-a em seguida. A médica me encaminhou pra fazer alguns exames, entre eles o de urina e o de sangue. Fomos pra uma sala aguardar o resultado assim que colheram as amostras.  Esperamos durante uma hora. Voltaram a nos chamar e entramos de volta na mesma sala.

- Tudo certo com a sua saúde- a médica sorriu- Nada grave!

- Graças á Deus!- ouvi Kylie dizer, levando as mãos ao peito.

- Os exames de urina e de sangue deram positivo- ela me passou os papéis contendo os laudos- Você está grávida de aproximadamente cinco semanas!

- GRÁVIDA?!- Kylie praticamente gritou.

- Não- me levantei depressa- Isso não pode estar certo- comecei a rir descontroladamente- NÃO!

- Se acalme, por favor- a médica me pediu- Você está com algumas faltas de vitaminas também então vou prescrever algumas delas e seria bom que você começasse o pré natal o quanto antes...

Não esperei que ela terminasse. Abri a porta do consultório, correndo pelo imenso corredor até chegar á saída. Eu não conseguia pensar em nada. Era como se minha mente não funcionasse corretamente. Tudo parecia um sonho irreal, um pesadelo do qual eu fosse acordar a qualquer instante... Senti as mãos de Kylie me segurarem, me amparando.

- Vai ficar tudo bem, geminha!- ela beijou meu rosto, chorando.

Vê-la chorar me fez explodir no choro contido até então. Me sentei na sarjeta, as mãos sobre a cabeça, tentando raciocinar... Eu só sabia de uma coisa: minha vida estava ACABADA! Ela me ajudou a pegar o táxi de volta pra casa. Fui o caminho todo de olhos fechados, me obrigando a não pensar em nada. Eu não podia surtar dentro de um táxi. Eu poderia esperar pra chegar em casa e me atirar do quarto andar do prédio!

Assim que entramos, Shay e Sophia vieram saber, extremamente preocupadas. Não disse nada, somente caminhei até o meu quarto e me joguei na cama. As ouvi conversando entre si por um bom tempo... Eu só queria ser capaz de morrer ali mesmo, simplesmente desaparecer, como em um passe de mágicas. Ouvi passos e deduzi que elas estavam vindo falar comigo. Eu não queria falar. Não queria ter que falar sobre isso nunca mais.

- Sis- Sophia se deitou ao meu lado na cama, chorando muito também.

Shay e Kylie fizeram o mesmo, se amontoando em cima de mim. Ficamos chorando durante minutos a fio. Eu as amava muito! Minha única família agora e as únicas pessoas com as quais eu podia realmente contar.

- Olha, vamos dar um jeito!- Shay disse secando minhas lágrimas com as mãos- Eu sei que vamos!

- E seu ex marido vai ter que te ajudar. Ah, vai sim!- Sophia disse bastante exaltada- Você não vai criar essa criança sozinha!

- Ele vai ter que arcar com as consequências!- Kylie concordou- Vocês dois fizeram esse bebê!

Fiz um sinal pra que elas parassem de falar. Minha cabeça parecia prestes a explodir ao meio e meu estomago dava voltas. Me sentei com dificuldade, embargada pelo choro que não cessava.

- Ele não tem... Não tem que me ajudar- falei baixo.

- COMO NÃO?!- Shay meio que gritou- É CLARO QUE TEM!

Neguei  com a cabeça veemente, esperando que elas entendessem o que eu estava querendo dizer.

- Ele não tem- voltei a repetir.

- Geminha, como assim?!- Kylie riu- Não diga um absurdo desses!

Elas ficaram me olhando, esperando que eu continuasse e dissesse algo que fizesse sentido.

- Ele não... -  respirei fundo- Ele não é o pai.

- OI?!- Sophia se levantou, dando um pulo e se colocando de pé- VOCÊ DISSE QUE ELE NÃO É O PAI?!

Neguei novamente, com os olhos fechados e tendo que encarar a vergonha e o medo de ser julgada por elas, pelas pessoas que eu amava.

- Amiga quem é o pai então?! Nos diga!- Shay parecia a mais calma entre nós.

- Geminha- Kylie se levantou também- Por favor, não me diga que é o que tô pensando que é... – ela me olhou nos olhos- Por que você não inventaria algo assim ou...

Caí no choro de novo, me afundando na cama entre os travesseiros. Chorei convulsivamente, quase que até perder o ar. Eu não tinha a mínima ideia do que seria da minha vida agora.

- Ele... - respondi baixo- Eu tô grávida dele!- olhei pra cada uma delas, pedindo um pouco de compreensão.

- PUTA MERDA!- Sophia levou ás mãos á boca.

- Tem certeza disso?!- Shay me perguntou assustada.

Vi Kylie pegar algo na bolsa, atirando os papéis em cima da cama.

- Cinco semanas- ela disse- Tá escrito aqui!

- Então... Não tem como dar errado. Tem?!- Shay questionou.

- Você não fez sexo com mais ninguém?!- Sophia me olhava- Com seu ex antes de terminarem... Com o George ou sei lá?!

Eu não sabia como convence-las da minha triste e dura realidade. Como convencer alguém de algo tão absurdo e surreal?!

- Eu não fiz sexo com mais ninguém depois... Depois dele- contei em meio a meu desespero- Ele foi o ultimo homem com quem estive, há exatamente cinco semanas atrás! E eu não sei o que fazer além de querer morrer... – desabafei.

- Não diga isso! – Kylie me cortou- A gente vai dar um jeito!

- Tenho certeza de que Kevin vai assumir- Sophia tentou me encorajar, mas eu via nos olhos dela que ela não tinha tanta certeza assim.

- Se ele é mesmo tão maravilhoso como dizem, então ele vai ser homem o suficiente pra lidar com o que vocês fizeram!- Shay era da mesma opinião.

- Eu acho que... Que não quero ter... – falei- Seria melhor se eu não...

- PARA!- Sophia tapou minha boca- GAROTA, VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE NÃO QUER TER UM FILHO DO ÚNICO HOMEM QUE VOCÊ JÁ AMOU NA VIDA?! –ela riu absurdamente alto.

- Eu acho- Kylie se meteu- Eu acho não, eu tenho certeza de que você deve falar com ele. Ele precisa saber antes que você tome uma atitude. Você não pode simplesmente ir lá e... E fazer isso. Não pode!

- Vamos arrumar um jeito de falar com ele, gente- Shay andava pelo quarto, de um lado pro outro- Primeiro passo é contar á ele. Depois vemos o que pode ser feito. Ou o que não pode... Não adianta nada ficarmos aqui sofrendo por algo que já aconteceu!

- Vocês pelo menos usaram camisinha?!- Sophia me questionou.

- SOPH!- Kylie ralhou com ela.

- Que importância tem isso agora?!- Shay ficou perplexa.

- Vocês dois – ela me olhou seriamente- E você!- disse apontando pra minha foto em um dos meets, no porta retrato ao lado da minha cama- Vão dar um jeito nisso! Você mais ainda, Kevin Richardson!

Não dissemos mais nada. Estávamos preocupadas demais. Eu não sabia nem por onde começar a pensar. Aliás, eu sabia. As duas únicas opções viáveis pra mim eram: interromper a gravidez ou me matar. Qualquer coisa fora disso não era uma opção. Eu não queria contar á ele, não queria que ele soubesse. Não queria que ele me odiasse pelo resto da vida...

Eu não sabia como tinha acontecido. Como podia ter acontecido?! Isso não fazia parte da realidade que eu havia criado pra mim. De repente, eu estava dentro daquelas histórias escritas por fãs, aquelas que me faziam sonhar alto, suspirar e imaginar coisas que, vivendo agora, não me pareciam nada lindas ou encantadoras. Eu havia me tornado uma daquelas personagens!

Parecia que, a minha imaginação, meus desejos e sonhos haviam sido levados á sério por alguém. Não era pra ter acontecido, mas estava acontecendo bem ali, diante dos meus olhos, comigo... E eu sabia que não ia acabar bem, nunca acabava. A minha vida toda, nas menores coisas, eram extremamente difíceis pra mim. Nós dois havíamos feito aquilo. E ao que tudo indicava, estávamos sendo castigados. Eu por ter sonhado demais, me apegado demais á alguém que estava fadado a não me pertencer. E ele por não ter respeitado o que ele tinha de mais sagrado, uma família! (...)