— Ei, Sehun, você acredita em sorte?
*
Seoul estava frenética mesmo para aquele horário. Plenas duas e quarenta da madrugada e as ruas da capital coreana se encontravam lotadas de carros, motos e pessoas andando de um lado para o outro. A madrugada não parecia ser madrugada, e a Segunda-feira não parecia ser Segunda. Parecia mais um fim de tarde ou algum horário de pico, também tinha cara de Sexta-feira, e a cidade asiática lembrava Las Vegas.
Enquanto o movimento em alguns pontos pela cidade começava naquele instante, em outra parte o movimento do dia anterior nem havia cessado. Em uma rua com hotéis bonitos e luxuosos, um em questão estava sempre lotado. As pessoas entravam e saiam apressadas do local, algumas irritadas e outras animadas. Todos, sem exceção, usavam roupas caras. As mulheres usavam vestidos de seda, cetim ou outros tecidos de alto valor. Os cabelos sempre bem arrumados em penteados 'pra lá de bonitos, a maquiagem bem feita, brincos brilhantes em suas orelhas e jóias enfeitando os corpos curvilíneos de aura dourada. Nos pés, saltos altos, exorbitantes e brilhantes. As mulheres pareciam sempre felizes, mesmo que em algumas situações, em seu mais profundo interior, a raiva lhes tomasse conta do corpo. Já os homens, vestiam ternos mais onerosos do que uma casa, todos muito bem passados e engomados. Os cabelos variavam entre diversos cortes bonitos, os sapatos tão bem engraxados que refletiam a luz dos lustres de diamante. Os perfumes, tanto femininos quanto masculinos, misturavam-se no local, deixando-o ainda mais requintado, se é que fosse possível.
Contudo, o local não era um simples hotel — estava longe de ser —, Louder era o maior e mais famoso Cassino da Coréia do Sul. O mais falado por todos da cidade, do estado, do país e do mundo. Como a Coréia do Sul é um país que não tem uma estatística muito grande de perdedores, o Cassino era o mais procurado por pessoas de cada canto do mundo. Do oriente ao ocidente, norte ao sul, quando o assunto era apostas ou jogos de azar, Louder era um dos mais bem falados e recomendados. Lá dentro você poderia encontrar todos os tipos de jogos, como Slot Machines, Poker, Blackjack, Roleta, Bingo, entre outros. Dinheiro rolava solto ali, as pessoas apostavam tudo o que tinham, e o que provavelmente não tinham, desejando ganhar. No entanto, haveria apenas um ganhador. Com todo esse dinheiro no local, ele se transformou na oitava maravilha do mundo, um estabelecimento onde todos queriam estar, um lugar desejado e almejado por apostadores de todos os cantos. E com toda essa fama, entrar de graça não estava em questão, o mínimo a se pagar para, ao menos, entrar no Cassino, eram exatos W60.000.00. Um preço bastante alto a se pagar, mas que poderia valer a pena se contasse com a sorte.
Sim! A elite do mundo se encontrava ali. Apenas os mais ricos e influentes frequentavam o lugar. Os viciados em (muito) dinheiro faziam suas apostas, cada uma tão alta quanto a outra, e que vencesse o melhor. Todavia, mesmo sendo um local totalmente deslumbrante e luxuoso, o Cassino funcionava de forma ilegal, sem permissão ou fiscalização adequada da prefeitura ou governo. Algo que já estava bem perto de acabar, talvez perto até demais.
Vendo apenas de dentro do Hotel, olhando sem observar, se a pessoa não tivesse a síndrome de Sherlock Holmes, dificilmente desconfiaria que o local era um Cassino. E, muito menos, que para participar o valor seria tão alto. As garçonetes do Louder vestiam pequenas saias, que junto aos corpetes, formavam uma espécie de vestido; a cinta liga nas pernas das mulheres chamavam a atenção dos homens e outras pessoas que sorriam ao ver a cena diante de seus olhos. As jovens de roupas personalizadas em cores vermelhas, brancas, pretas e cinzas serviam calmamente um Private Cuvie aos apostadores, deixando-os pouco a pouco embriagados e instigados a perderem dinheiro.
“Mais alto! Quanto maior a aposta, maior é o prêmio!” era o lema do cassino, que estava bordado no tapete da recepção e na parede de frente ao Salão principal, em letras douradas e bonitas. Ah, a pessoa deveria se considerar sortuda apenas de ver este tapete e parede.
— Mais alto! Quanto maior a aposta, maior é o prêmio! — o moreno trajando um terno cor vinho de uma marca extraordinariamente cara falou ao centro do Salão principal, atraindo a atenção das pessoas que estavam ao redor, no fim, recebendo aplausos e sendo ovacionado pelos frequentadores mais famosos e presentes que já lhe conheciam. Desceu as escadas rapidamente com um sorriso orgulhoso e enorme no rosto, tomou um gole do Brut Rose da marca Boerl & Kroff que tinha na taça em sua mão, notando que uma figura baixa e de cabelos tingidos de vermelho vinha ao seu encontro. — Quanto maior a aposta… — começou, aproximando-se do outro.
— Mais dinheiro para nós — Minseok completou, sorrindo abertamente e arrancando uma risada gostosa de Jongin. — Hoje está lotado… — comentou, agarrando a mão do mais velho e levando ele consigo até o balcão do bar. Assim que se sentaram nos banquinhos disponíveis, pediram um drink qualquer ao bartender.
— Ele é novo? — Jongin perguntou, referindo-se ao rapaz de costas para os dois, que virou-se para eles em seguida, permitindo a Jongin observar o rosto de feição angelical e lábios no formato de coração, entregando os drinks de cor azulada.
— Novo brinquedinho do Chanyeol — o ruivo respondeu, virando o pequeno copo com eficiência, fazendo uma careta após o líquido, ao mesmo tempo ardente e doce, descer por sua garganta.
— Dispenso. — Jongin gesticulou com as mãos. Em seguida, imitou o mais novo, tomando da bebida, mas diferentemente do outro, não se incomodou com o gosto do líquido. — Falando nele, cadê aquele idiota? — Encarou o pseudo ruivo a sua frente com as sobrancelhas frisadas.
— Ele disse que estava chegando. Isso foi há uns vinte minutos... — explicou, olhando o relógio dourado em seu pulso.
— Espero que venha mesmo, não estou afim de ficar aqui o resto da madrugada — comentou, largando-se na cadeira, virando de costas para o balcão do bar e pondo os braços sobre o mesmo. Começou a observar as pessoas que andavam a sua frente, alguns, ao ver o moreno largado, olhavam-no com desprezo. Jongin ignorava os olhares tortos que recebia, pois sabia que a mixaria que eles pagavam para entrar e achavam que era um valor absurdo, Jongin gastava-o com relógios e anéis, esses que de vez em quando dava como presente ou mimo para os subordinados.
Mesmo que Jongin gastasse muito dinheiro com roupas, acessórios e outras coisas — inclusive para o Cassino —, ele acreditava que nunca iria entender a mente dos jogadores. Não se passava em sua cabeça uma razão concreta para tal ato. Jogar nem era tão legal assim. As pessoas apenas perdiam dinheiro e seu tempo com coisas desnecessárias. Contudo, sabia que aquilo era um vício e como qualquer outro, havia um nível de dependência muito alto. Não ousaria julgar, até porque seu ganha pão vinha daquilo.
Vez ou outra observava Minseok e Chanyeol jogarem com o dinheiro do Cassino — uma forma que arrumaram de incentivar as pessoas a jogar, colocando os próprios funcionários para jogarem — e, em nenhuma delas, viu os mais novos perderem. Nem mesmo ele sabia se era trapaça, mas que eles nunca perderam ele tinha certeza.
Ao lado de fora do Hotel, um carro vermelho estacionou e, alguns segundos depois, um cara alto desceu do automóvel. Chanyeol passou uma das mãos sobre o terno cinza e logo após bagunçou um pouco o seu penteado. Andou em direção a entrada do Hotel, passando pelas portas de vidro e seguidamente entrando no elevador. Subiu até o 15° andar, vendo o início do triplex luxuoso mais conhecido como Louder. Sem precisar mostrar uma reserva ou documento, o guarda cumprimentou o homem, vendo-o entrar. Logo o Park foi visto por Minseok, que chamou o mais alto com um aceno.
— Quem é vivo sempre aparece — Jongin falou, sorrindo ao ver o mais alto.
— Hoje não era o Yifan? O que você está fazendo aqui? — Sentou-se ao lado do Kim mais velho.
— Vim só me divertir — Jongin respondeu com um tom um tanto debochado. — O Kris não vai vir hoje e eu não queria deixar o Xiumin sozinho. Mas já que você chegou, eu vou embora.
— Quê!? Mas por quê? Fica mais um pouco aqui! — Minseok segurou o braço do mais velho, levando o olhar junto com Jongin para Chanyeol, que mirava bobo para o bartender. — Ai que nojo. — Voltou o olhar na direção do Kim mais velho. — Você também tem passado menos tempo aqui. Não deveria ficar mais vezes?
— Você venceu. Só vinte minutos. Depois você arranca ele daqui e vão trabalhar.
— O senhor quem manda! — Prestou continência a ele, sorrindo os dois logo em seguida.
Pelo lado de fora, em média uns dez a quinze carros pretos pararam em frente ao Hotel. Apesar de não parecer, todo o recinto era cercado por seguranças contratados para vigiar o Cassino e por isso a ação da polícia tinha que ser rápida. Enquanto os seguranças começavam a notar a presença dos carros pretos estacionados em frente ao Hotel, nem perceberam que ao mesmo tempo que esperavam pessoas saírem dos carros, outro carro azul marinho estacionou em frente ao local, sem chamar atenção alguma.
Três homens desceram do carro, eles trajavam ternos de coloração azul. Pareceriam até gêmeos, se não fossem tão diferentes fisicamente. Entraram no Hotel, em seguida no elevador. Neste momento, o homem que vestia o terno mais escuro dos três colocou dois dedos sobre sua orelha.
— D.O, a missão está em andamento — o moreno disse, logo após virou-se para os dois homens ao seu lado.
Dentro do Cassino, o bartender escutou a frase do pequeno ponto que tinha na orelha, sorrindo pequeno e deixando Chanyeol todo vermelho. Em contrapartida, Jongin e Minseok fizeram uma cara de nojo.
Quando saíram do elevador, o policial de cabelos loiros pressionou discretamente um pequeno botão que tinha no abotoador do seu terno, e no mesmo momento, começaram a descer vários homens dos carros pretos, todos armados, e há alguns metros, policiais cercavam o perímetro, impedindo as pessoas de entrarem ou saírem da área.
O comunicador no terno do segurança na porta do Cassino fez um barulho, e a frase “eles estão aqui” soou. O homem olhou confuso pela janela de vidro, vendo que haviam muitos policiais ao lado de fora. Suando frio, o homem voltou a sua posição inicial, sendo surpreendido pelos homens com três armas apontadas na altura do seu rosto, e nas mãos que não seguravam as armas, os homens exibiam o distintivo Federal.
Jongin era a sorte em pessoa.
Sempre ganhou coisas que dependiam de sorte. Era como se fosse um ímã. Nasceu em uma família de boas condições. Sempre estudou nas melhores escolas, tinha os melhores amigos que alguém poderia ter. Mas a sua maior sorte foi ter encontrado aquele Cassino, mesmo que naquele tempo ele estivesse caindo aos pedaços e chamasse mais atenção da forma que não deveria. Comprou o local, investindo aos poucos, e em alguns meses, o que era apenas um Cassino pequeno no meio da enorme Seoul, transformou-se em um hotel de luxo, onde Louder estava escondido. Ao que o movimento no Hotel crescia, o do Cassino também. E aos poucos, a rua pacata se transformou em uma das mais frequentadas e visitadas todo o santo dia por causa do desencadeio de hotéis luxuosos.
Todavia, a sorte não dura para sempre e em seu âmago, Jongin sabia disso. Tanto que, não ficou assustado ou com medo quando os policiais invadiram Louder, muito menos quando o bartender e algumas garçonetes sacaram suas armas e apontaram para todos os lados. Não foi surpreendido quando carregado para o lado de fora e centenas de policiais apontavam os fuzis na sua direção e de seus empregados, juntamente aos seguranças. Todos rendidos e a mercê da polícia.
Sabia que algum dia a sua sorte iria se acabar. Não foi a toa que em todas as batidas policiais que o hotel recebia, ele sempre estava em viagens de negócios, resolvendo assuntos sobre Louder e fechando parcerias com outros donos de cassinos, tornando-os seus sócios, e ironicamente, quem sempre estava no comando de seu cassino quando a polícia chegava, era algum sócio desprovido de sorte.
O seu último dia de sorte. Foram quase trinta anos usufruindo de sorte, algum dia ela iria se esgotar. E ao que parece, o dia havia chegado. Agora o que lhe restava era apenas azar. E tinha certeza que seria uma montanha de azar.
(...)
Mesmo que Jongin tivesse pedido mais de umas cem vezes para ser o primeiro a ir para o interrogatório, o delegado negou, dando-lhe a oportunidade de ligar para o seu advogado enquanto um dos policiais que invadiram o hotel e o “funcionário” do Louder — ainda trajando o uniforme do cassino — interrogaram os funcionários juntamente com o delegado.
Apreensivo, o Kim apenas fez o que o delegado aconselhou, ligando para Jongdae, um advogado um tanto quanto novo, mas incrivelmente capaz e eficiente no que fazia. Conheceu Kim mais novo em um dia que estava no cassino, viu que ele não era um jogador regular, e que talvez fosse a primeira vez dele no local. Conversando com o garoto de cabelos tingidos de loiro, Jongin descobriu que o outro Kim era advogado criminalista e que só fora parar ali porque um de seus colegas de função recomendou o local para passar o tempo e jogar um pouco. De todo modo, aquela foi a única vez em que o rapaz de cabelos claros apareceu, mas Jongin teve tempo de sobra para fazer amizade e pedir seu número e manter contato caso precisasse algum dia. Como era madrugada, o celular tocou várias vezes, mas o defensor estava em um sono profundo, tanto que não ouviu o aparelho tocar mais de três vezes a mesma música e vibrar de forma violenta sobre a cômoda, caindo em seguida por causa do movimento e desligando sozinho pela queda. Cansado de tentar ligar, o moreno praguejou baixinho, quase caindo em lágrimas. Mas rapidamente se controlou, sentando em um banquinho acoplado a parede de coloração cinza.
Dois policiais lhe observavam da porta. Com um movimento rápido, o moreno lançou um olhar satânico para eles e os mesmos pareceram assustados por um momento. Com um grito estrangulado, Kim bateu com um dos punhos na parede, não ligando para a dor que sentiu. Estava tudo desmoronando. Aquilo que demorou mais de oito anos para ser consolidado foi destruído em apenas uma noite. O sentimento de inutilidade e impotência tomava conta de si. Por que não investiu mais na segurança? Por que, depois de tanto tempo, não abriu uma filial de Louder em outro lugar e pouco a pouco não mudou a sede do cassino para lá? Estava se sentindo burro, por que não fora mais inteligente? Era esperto, poderia ter pensado na última ideia antes. Mas agora era tarde e, provavelmente, seus empregados estavam contando tudo na mais pura inocência. Tinha certeza que Minseok e Chanyeol não mentiriam, mesmo que fosse para livrar as próprias peles do crime.
— É a sua vez. — Um dos policiais que estava quando lhe prenderam apareceu em sua frente. Quando levantou o olhar, viu que ele tinha um crachá escondido no terno, rapidamente leu o nome, conseguindo ver apenas o sobrenome Byun. Levantou-se da cadeira, seguindo o rapaz loiro. Após alguns segundos andando por um corredor extenso, entraram em uma sala, onde reconheceu o delegado e o rapaz que estava trabalhando de bartender para seu cassino a alguns horas atrás. Sentou-se novamente na cadeira, agora de frente aos policiais e algumas postas sobre a mesma de mármore azulada.
— Olha, sinceramente, eu não quero te tratar como um criminoso de alta periculosidade, porque eu tenho quase certeza de que você não é. Mas diferentemente da minha quase certeza da sua pacificidade, eu tenho certeza de que a justiça não vai achar isso de você. — Junmyeon iniciou, vendo o rosto sem expressão do outro a sua frente.
— Onde vocês querem chegar com isso? — Sua pergunta foi respondida com o silêncio por alguns segundos.
— Eu sou Kim Junmyeon, estou convicto de que já me conhece, ou pelo menos já ouviu falar muito de mim pela boca dos seus sócios. — Jongin deu um sorriso mínimo e sarcástico. Sabia sim quem era o delegado. Não foram poucas as vezes em que ouviu seus sócios berrarem de raiva do Kim e quererem matar Jongin por ser sortudo demais. — Esses dois são Byun Baekhyun — apontou para o homem que levou Jongin a sala de interrogatório — e esse é Do Kyungsoo. — Involuntariamente, o Kim fez uma careta de nojo, o que realmente estava sentindo do moreno a sua frente. Por mais que não quisesse pensar sobre, ficou com raiva do baixinho por causa de Chanyeol, quem ele pensava que era? Lembrando-se dos mais novos, se pronunciou:
— Eu disse que queria ser o primeiro a ser interrogado — bufou meio impaciente. As pernas começaram a balançar num ritmo frenético.
— Nós te ouvimos.
— Mas não me atenderam.
— Ora, Jongin. Sabemos o porquê de você querer tanto ter sido o primeiro a entrar nesta sala. Mas não se preocupe, você não conseguiria nos enganar. Aqueles garotos são como irmãos mais novos para você e sabemos disso também. Você faria tudo ou pelo menos o que pudesse para mantê-los longe daqui, afinal, eles ainda são crianças, não é? — Junmyeon ditou. Logo após, sentou na cadeira em frente ao outro Kim, olhando bem no fundo dos seus olhos. — E aí, vai contar a verdade ou ainda tentar defender os garotos? Mas saiba, eles já me contaram toda a verdade. — Jongin fez uma cara de deboche, empurrando o corpo com força contra a cadeira em que estava sentado. — Que tal começarmos do início? Onde você nasceu, idade, seus pais… Vamos, compartilhe conosco se tiver algo que queira nos contar. — Ostentou um sorriso desafiador no rosto, esperando que o Kim começasse, contudo, nada veio de sua boca, apenas os lábios cerrados e uma expressão de raiva.
(...)
— Meu Deus, Jongdae! Você é o que por acaso? Uma pedra? Um defunto? — Jongin berrou irritado. Caminhava de um lado para o outro na pequena sala, de vez em quando enxugando a mão que transpirava facilmente pelo nervosismo.
— Desculpa, caras. Eu só consegui dormir a base de remédio, por isso não ouvi o telefone tocar — o outro Kim respondeu meio incerto, coçando a parte de trás da cabeça, vendo que Minseok e Chanyeol estavam calados ao fundo da sala. — E aí, o quê aconteceu? — Direcionou o corpo para dentro da sala, sentando em uma cadeira de frente aos mais novos.
— O que você acha? — ralhou novamente possesso, mirando o olhar para Jongdae.
— Calma, Kai! Ele não tem nada a ver com isso, não deveria descontar sua raiva nele. Muito pelo contrário, deveria agradecer, é ele quem está nos ajudando — Minseok avisou, olhando para Kim com uma expressão séria no rosto. — Agora senta a bunda nessa cadeira e responda ao Chen. — Olhando atravessado para o pseudo ruivo, o Kim, que tinha uma das mãos na cintura e balançava o corpo nervosamente, cessou os movimentos, tentando tranquilizar a si mesmo e sentando em seguida na cadeira ao lado do advogado. Segurou a vontade que tinha de pular no pescoço do homem ao seu lado. A raiva que sentia não era propriamente do advogado, mas sentia que poderia matar alguém, e aí sim a situação estaria ruim.
— Vocês resistiram a prisão? — indagou, olhando para Minseok, que por vezes parecia ser mais velho que Jongin e o responsável pelos três.
— Não. — Com a cara fechada e braços cruzados, Kai respondeu. O braço rodeado por uma de suas mãos já começava a ostentar a marca de suas unhas apertando o membro. Não deveria estar tão nervoso, mas não conseguia controlar.
— Ótimo. Ponto positivo para vocês três. — O rapaz de cabelos loiros sentiu a tensão ir embora do seu corpo, ficando mais relaxado na cadeira e voltando a atenção para os rapazes.
— Mas nós confessamos. — Chanyeol apontou para Minseok, e a julgar pelo nervosismo de Kai pelo telefone quando berrou um “eles foram primeiro” antes de chegar ali, já poderia imaginar o que havia acontecido. Com um muxoxo descontente falou:
— Menos um ponto para Chanyeol e Xiumin.
(...)
Já havia se passado quatro anos desde que Kim Jongin foi preso. Eficiente da mesma forma que era tão novo, Jongdae conseguiu com que Minseok e Chanyeol não ficassem presos, deixando o peso nas costas de Jongin ir embora como o Sol de fim de tarde. Jongdae não entendia o motivo de tanta super proteção com os mais novos, mas descobriu assim que teve uma conversa em particular com o Kim mais velho.
Lembrava-se bem de quando Kai afirmou ser como um irmão mais velho dos dois. Conhecia desde que se entendia por gente as famílias Kim e Park, sendo próximo dos dois garotinhos. No início, em seus exatos vinte anos, quando decidiu comprar o cassino, os mais novos eram apenas adolescentes de quinze anos que queriam trabalhar no Louder. Contudo, Jongin achava que era apenas coisa de crianças em fase de rebeldia. Mas, quando se viu cedendo por tanta pressão que os garotos puseram sobre si, percebeu que não seria apenas algo de momento, e que os garotos queriam sim trabalhar com ele.
Ainda assim, o Kim fez os mais novos prometerem que não fariam nada que metesse os dois — ou os três — em problemas, e se por acaso acontecesse, deixassem que Jongin resolveria. Mas não foi bem assim quando a casa caiu.
Durante o julgamento, Jongdae defendeu com unhas e garras os mais novos. Não deixando de lado, claro, Jongin. Porém, já imaginava que o caso do Kim seria sem solução, e se desse sorte, talvez futuramente tivessem alguma chance de tirar o mais velho dali antes que ele mofasse dentro de uma cela qualquer.
Foram vinte e cinco anos de pena. Somando tudo, com a idade que tinha assim que foi preso, Jongin sairia da prisão com seus cinquenta e três anos. Totalmente apto para assumir Louder novamente, porém, não queria mais. Já havia usado de sua sorte por demais, abusá-la novamente estava fora de cogitação. Planejava para o futuro, sair da prisão, arrumar um emprego, talvez se casar e ter filhos.
Jongin lembrava claramente que, quando foi condenado, a primeira coisa que Jongdae lhe disse foi um belo sussurro “seja pacífico e não se meta em brigas”. Foi o que fez. Quatro anos ignorando os olhares raivosos em cima de si. Os prisioneiros achavam que o Kim era apenas um burguês filhinho de papai. Uma opinião totalmente equivocada, julgada pela boa aparência de Kai e costumes finos. Não sabiam que toda aquela pose de rico não era mais do que costume que tinha depois de tanto se relacionar com a alta sociedade. Então, não foi surpresa que depois de alguns dias naquele lugar, sempre levasse alguns empurrões e tapas, principalmente por homens que eram mais fortes do que si e se achavam superiores apenas pelo fato de não serem riquinhos presos por qualquer coisa. Foram várias as vezes em que Jongin quis esfregar na cara de todos eles que não era filho de pessoas ricas, que foi ele quem fez o seu dinheiro, mas a vontade passava assim que a voz de Jongdae pairava em sua mente avisando-o para que ficasse quieto e apenas ignorasse.
Mas ainda assim, conseguiu fazer amizade dentro da prisão, principalmente com as pessoas da biblioteca. Em um dia qualquer, encontrou um chinês bem educado, que não não parecia ser presidiário e nem trajava roupas de prisioneiro, e sim roupas despojadas e bem leves. Seu nome era Luhan e Jongin foi descobrindo mais coisas sobre o mais velho. Soube que era ele quem atualizava a biblioteca do presídio de seis em seis meses e que a cada remessa de livros, ele anotava o pedido dos presos para os próximos livros aos quais levaria. Descobriu também que o rapaz de pele alva dava aulas de arte moderna e cênicas para os presidiários. Achando interessante, logo se inscreveu nas aulas, que aconteciam toda sexta-feira a partir das seis horas da tarde. E não demorou muito para que, em cada remessa nova de livros, viessem tudo sobre arte para o moreno. E claro, isso não passou despercebido pelo seu advogado,
Por mais que Jongin achasse que seriam vinte e cinco anos de puro nada, as aulas acabaram tomando um grande espaço do seu passa tempo, e os livros foram suas maiores companhias. De vez em quando, recebia a visita de Minseok ou Chanyeol, e as regulares de Jongdae, com quem acabava contando tudo o que acontecia. Por mais que no começo quisesse sair dali o mais rápido possível, achando que seria uma eternidade naquela prisão, aos poucos foi se acostumando, conseguindo fazer com que seus dias fossem menos chatos e monótonos.
O relógio marcava quatro e meia da tarde quando Jongin chegava, junto a outros presidiários, de uma visita a uma galeria de arte que tinha em um local mais calmo de Seoul. Seu professor — por falta de palavra melhor para descrever o que Luhan realmente era naquele presídio — havia conseguido uma forma de levar os presos que assistiam as aulas de arte para o local. Claro que foi uma burocracia enorme, papéis para assinar, permissões a pedir, escolta de policiais e tudo o que fosse preciso para manter a segurança de todos. Contudo, Jongin e os outros homens puderam sentir um pouco o gostinho de liberdade e admirar a arte moderna. Ao entrar no local e passar pela revistagem, Jongin pode ver a figura de seu advogado. Ele parecia nervoso, até mesmo ansioso. Assim que foi visto, o mais novo acenou rapidamente, caminhando para uma sala onde Jongin presumia ser para a visita. Antes de entrar na cela, um policial chamou pelo seu nome, levando-o para a salinha onde aconteciam as visitações.
— E aí, cara. Como você ‘tá? — Jongin perguntou desconfiado, sempre que Chen ia lhe visitar estava da forma mais calma que o ser humana poderia estar. Então, agir daquela forma deixou Jongin um tanto quanto curioso. Parecia que o loiro ia explodir se não falassem logo.
— Eu estou bem, e você? Espero que esteja bem, e se não estiver vai ficar. Eu tenho certeza disso — afirmou, atropelando as palavras, espalmando o ar com as mãos e socando em seguida a palma de sua mão.
— Calma, fala devagar ou então usa um gravador e reproduz de forma lenta. — Jongin sentou-se na cadeira, vendo que a maneira animada e serelepe que Jongdae estava ele não iria conseguir se sentar nem se quisesse.
— Gravador? Que antiquado. Esperava mais de você, Kai. — Olhou com estranheza, não conseguindo acreditar que seu cliente preso apenas por quatro anos já estava voltando a idade das pedras. — Você aqui está ficando velho mais rápido.
— Obrigado pela parte que me toca. Eu realmente estou ótimo. Trinta e dois anos de pura beleza e gostosura. — Novamente o olhar incrédulo do mais novo pairou sobre si. — Mas você não veio aqui pra me chamar de velho… — concluiu, levando a mão ao queixo. Pensou no que deveria estar acontecendo para Jongdae estar tão energético. Olhou de relance para as mãos desesperadas do Kim, vendo que elas balançavam freneticamente e a aliança em seu dedo brilhava quando refletia a luz. — Já sei! Marcou a data de casamento com Xiumin e veio pedir a minha permissão!? — Tentou adivinhar, vendo em seguida o sorriso esperançoso do outro Kim desaparecer. — Se isso não for bom, eu não sei o que é. — Deu-se por vencido, levantando as mãos em falsa rendição.
— Há quase um ano que você falou que tinha aula de arte moderna e cênicas, não foi? — Jongdae apertava os próprios dedos em ansiedade estalando-os lentamente e causando uma pequena agonia no moreno.
— Bom, não tem um ano ainda, mas foi, por quê? — indagou, reclinando-se um pouco mais na cadeira.
— EU CONSEGUI UMA LIMINAR PARA VOCÊ! — Jongdae berrou animado, literalmente derrubando Jongin da cadeira, que assustado e surpreso, ficou no chão, tentando acreditar na notícia que tinha recebido.
— O que? É sério!? — Sentou-se no chão, o mais novo indo ao seu encontro e sentando no chão de frente para ele.
— Eu não brinco em serviço, meu bem. Consegui uma liminar de regime aberto para você. Você entende, né? — perguntou, recebendo uma resposta positiva do Kim mais velho. — Graças ao seu bom comportamento, eu consegui facilmente uma liminar e sobre suas aulas de artes, você poderá passar tudo o que aprendeu para outras pessoas. Eu sei que você sabe bastante coisas, Luhan me disse que você é um aluno bem participativo. E os livros de artes que você recebeu também são alguns mimos meus. — Por um momento, Jongdae ficou sério. — Você entende que vai ter que dar aula né?
— O quê?
— É. Regime aberto é para trabalhar, e você é bom no que aprendeu e tem conhecimento. Pelo menos se foi você quem decorou Louder, já tem um bom gosto.
— Tá, mas onde eu vou trabalhar?
— Numa faculdade. — Um silêncio tomou conta da sala, e o mais novo pensou que Jongin estava ponderando na ideia. — É por enquanto. Logo logo eu vou conseguir liberdade provisória para você. Eu só preciso que você aceite esse emprego, eu quase vendi meus rins para conversar com o diretor — falou com um sorriso desafiador, esperando que o moreno não desse para trás naquela altura do campeonato.
— Eu topo. — numa comemoração muda, Jongdae levantou os braços e os balançou em felicidade.
(...)
Passaram-se alguns dias até que toda a papelada estivesse pronta. Apesar de não parecer, o advogado de Kai estava quase arrancando os cabelos e andando pelas paredes. Mas não que ele não soubesse que isso iria acontecer, então sentou-se no sofá, cruzando as pernas, uma xícara de café em mãos e alguns artigos que deveria ler para que não fizesse nada errado. Não demorou muito para saber o que deveria fazer, tanto que no outro dia estava diante de um juiz, exercendo todo seu conhecimento e aos poucos fazendo com que o desembargador cedesse aos seus argumentos impostos para tirar Jongin da cadeia. E lá estava ele, com os papéis nas mãos, um sorriso no rosto e indo conversar com o Kim mais velho.
— Cara, você devia se ajoelhar nos meus pés e beijá-los. — O moreno fez uma careta de nojo reprovando a ideia do mais novo. — Mas não vou te obrigar a isso. Enfim, você está tecnicamente livre. É como eu disse, por enquanto eu consigo o regime aberto para você, e para a liberdade provisória é só um pulo — concluiu, estalando as pontas dos dedos e antes que pudesse falar mais alguma coisa, sentiu os braços fortes do mais velho rodear seu corpo. — Uou, por essa eu juro que não esperava.
— Não é um abraço de felicidade seu idiota, tinha um besouro no seu terno. — Afastou-se, mostrando o inseto na mão, rendendo uns gritos assustados de Jongdae.
Poderia não parecer, mas estavam comemorando da maneira que conseguiam, sem abraços e nem bebidas. O que merecia, afinal, estava quase livre e em alguns dias poderia se livrar de vez do lugar.
— Ah, me fala uma coisa. Já mandou arrumar meu antigo apartamento? Eu não vejo a hora de pôr meus pés lá dentro de novo — comentou, suspirando e se afundando na cadeira. — I have new plans. — Cobriu os olhos com os braços, lembrando-se do seu apartamento. Foram quatro anos longe de qualquer coisa sua, casa, família, cassino… — E eu ainda tenho algum dinheiro? — Levantou-se rapidamente, encarando o sorriso sarcástico no rosto do mais jovem, sem saber ao certo o que significava. — Não vai responder? — Apenas o sorriso anasalado do rapaz se fez presente.
(...)
Jongin sentia vontade de gritar. A felicidade não cabia em seu peito. Depois de tanto tempo e ansiedade, finalmente pôde pôr os pés fora daquela prisão. Não poderia se recordar da última vez que ficou tão feliz e animado na sua vida. Aliás, lembrava-se, mas a felicidade de comprar Louder e ter sua liberdade de volta nem se comparava.
Finalmente se sentia vivo novamente.
O vento gélido das seis da manhã invadia seus pulmões, levando oxigênio e causando uma explosão de energia por todo o seu corpo. Respirou fundo, sendo abraçado pelo vento frio, que graças a jaqueta de couro que usava não congelou seus ossos. Fazia tanto tempo que não sentia esse frio, a sensação de acordar cedo e ter uma vida. Mesmo que agora, essa vida fosse enfurnado em uma sala de aula de uma faculdade, quenão era muito grande, sendo frequentada por poucas pessoas, já que possuía poucas opções de cursos, e um deles era Artes.
Apertou forte os materiais que tinha em mãos, subindo o primeiro degrau das escadas que tinha na entrada do local, sentindo em seguida um incômodo pela tornozeleira eletrônica em uma de suas pernas. Fechou os olhos, lembrando que usaria o objeto por pouco tempo. Continuou subindo os degraus, empurrando a porta de vidro da entrada. Felizmente, não havia ninguém, e para sua felicidade, ninguém lhe veria dando aqueles pitis de universitários em seus primeiros dias de aula. Era surreal demais. Enquanto fazia a dancinha da vitória, um homem apareceu no corredor, estranhando a cena e ponderando a ideia de ligar para a polícia. Mas aos poucos reconheceu o Kim, e com um sorriso se pronunciou.
— Kim Jongin? — Bastou apenas chamar pelo nome do moreno que ele, assustando-se, derrubou todos os objetos que tinha em suas mãos.
— Eu! — respondeu enquanto juntava as canetas espalhadas pelo chão e as folhas que saíram do seu fichário. — Sou eu! Kim atrapalhado Jongin. — Arrumou sua postura, vendo o homem de idade mediana se aproximar de si.
— Ora meu jovem, todos nós nos atrapalhamos em algo. Não exagere. — Sorriu amigável para Jongin. — Está tudo bem? — Estendeu a mão para que o Kim apertasse e sendo respeitoso, ele apertou as mãos e curvou-se diante do mais velho.
— Eu estou ótimo. E o senhor?
— Na medida do possível. Já conhece a faculdade?
— Para falar a verdade, eu nunca pisei aqui. E faz tanto tempo que não vejo uma, que nem sei como funciona mais. — O reitor sorriu alto, arrastando o Kim também a uma risada nasalada.
— Eu bem que gostaria de lhe mostrar o que temos a oferecer, mas infelizmente não estou com muito tempo. Mas para não ser mal educado, irei levá-lo até sua sala, lá você pode fazer o que quiser, e se, ao fim do turno, quiser conversar com alguém, é só procurar por algum funcionário. — Colocou um dos braços nos ombros do moreno, levando-o consigo até uma sala, dando algumas dicas e informações antes de sumir pelo corredor.
— Tão de repente apareceu como sumiu — comentou para si mesmo, largando os objetos que carregava em cima da mesa.
Começou a explorar a sala, observando como era bem era organizada. Não era muito diferente do que se lembrava de quando fora um aluno universitário. Na verdade, parecia igual. Iria dar uma olhada do lado de fora quando ouviu um sinal soar e, aos poucos, alunos começarem a entrar na sala, desconfiados e curiosos em relação ao novo professor. Diferentemente do que imaginava, na primeira aula — e nem nas seguintes —, Jongin não ficou envergonhado ou acuado com a presença de tantos jovens, conseguiu conversar calmamente com eles, se apresentar, conhecê-los um a um, especialmente a um rapaz de tatuagens escondidas por debaixo do tecido escuro do moletom enorme que ia até a altura de suas coxas. Descobriu que seu nome era Oh Sehun e que seu maior sonho, algum dia, era ser um artista plástico. Um belo sonho. Jongin só não sabia o que tinha lhe chamado tanto a atenção para aquele rapaz, se eram as tatuagens ou a personalidade que não condizia com a sua aparência.
Ele tinha os cabelos escuros, pareciam ser pintados de preto. Usava alguns anéis grossos nos dedos e nas mãos haviam traços desenhados, não sabia identificar que tipo de tatuagem eram aquelas. Ouvir a voz suave dele ao pronunciar seu nome foi como ouvir um anjo falar. Algo dentro de si dizia para que ele conhecesse mais a fundo o rapaz, contudo, mesmo que tivesse uma facilidade enorme para manter diálogos, preferiu deixar o rapaz quieto. Ele não parecia ser de muitos amigos, principalmente com aquela cara de quem havia matado dez e tinha mais vinte na fila.
(...)
O moreno jogou-se com violência sobre o sofá branco que dava contraste as paredes cinzas da sala. Finalmente em casa, sentia os pés latejarem. Nunca se sentiu tão cansado em toda sua vida. Havia ficado tanto tempo em pé que a única coisa que queria fazer pelo resto da noite, e provavelmente da vida, era ficar sentado no seu sofá macio ou então deitado na sua cama.
Não entendeu ao certo como conseguiu ir para a sua própria casa e nem como ainda possuía todo o dinheiro que ganhou e juntou durante o tempo que foi dono do cassino. Quando questionado, Jongdae afirmou que na lei, sempre há brechas. Continuou curioso, porque não teve mais coragem de perguntar o que aquilo significava.
Tomou um banho e vestiu uma roupa folgada, pronto para comer alguma coisa e logo após ir dormir. Era a sua programação, até que seu celular chamou — celular esse que Jongdae lhe deu assim que saiu do presídio —, denunciando que o Kim mais novo queria falar algo. Sem saber o motivo para receber uma ligação do seu advogado, ele atendeu.
— Oi? — Sentou-se no sofá, apoiando a coluna no acolchoado.
— Já tá em casa? — Pelos barulhos ao fundo, Jongin desconfiava que ele estivesse dirigindo, já que podia ouvir facilmente o barulho de outros carros e motos.
— Sim.
— Ótimo. Se arruma, eu vou passar ai com o Xiumin pra te pegar. Vamos comemorar! Você está longe da prisão! — começou animado, ouvia-se claramente a comemoração de Minseok que provavelmente estava ao lado dele.
— Mas… — tentou intervir, estava cansado demais para uma festa agora. Só queria comer e dormir, a sua cama agora parecia irresistível.
— Mas nada. Você tem mil e um motivos para sair hoje. Eu não aceito um não como como resposta. — O fato era que não tinha como mudar algo que Jongdae quisesse, era sempre assim, todos cediam. O mal da profissão.
— Você venceu… — constatou, pronto para desligar o telefone e ir procurar alguma roupa, fazia tanto tempo que não saia que não sabia que tipo de roupa usar.
— Nós vamos num barzinho aqui da cidade, não use roupa extravagante demais. Chanyeol também vai — disse, parecendo ler a mente do Kim mais velho, e mesmo que Jongin quisesse responder algo, o seu defensor encerrou a ligação.
Derrotado, cansado e atropelado pela impaciência de seus amigos, caminhou em direção ao quarto, pegando a muda de roupa que achou combinar com o local onde iriam. Em poucos minutos, o seu celular tocou novamente, desta vez era Minseok telefonando, pedindo para que ele descesse, pois já estavam na frente do apartamento esperando por ele. Alguns gritinhos animados, braços apertados e sorrisos sinceros rolaram soltos antes de entrar no carro de Jongdae. Fazia muito tempo que não via Minseok e Chanyeol, então por mais que quisesse estar deitado naquele momento, passar algumas horas com seus amigos não seria ruim. Precisava daquilo. Estava livre! Ou, pelo menos, um pouco livre.
Quando chegaram ao bar, sentaram-se numa mesa que tinha no lado de dentro. Felizmente, o local não estava cheio demais, havia um movimento tranquilo, e aquela pequena movimentação trouxe uma nostalgia ao moreno. Não tinha intenção alguma de voltar ao Louder e mesmo que quisesse, teria que reconstruí-lo em outro lugar, pois o governo havia tomado o triplex para outros fins. Observou as garçonetes servirem os pedidos feitos pelos clientes, e com um sorriso mínimo, ele abaixou a cabeça e voltou sua atenção aos amigos. Eles conversavam entre si, até que as bebidas chegaram e aos poucos eles começaram a ficar mais animados. E antes que conseguisse raciocinar, os seus amigos estavam no centro, dançando sem nem ao menos lhe arrastarem ou se lembrarem da sua existência e motivo para saírem. Sorriu confuso, mas não se importou. Ao procurar com o olhar os homens que estavam consigo para vê-los dançando, ele encontrou aqueles olhos brilhantes daquela mesma cara de cu. Como poderia esquecer sendo que uma das mãos apoiava o rosto, evidenciando as tatuagens que possuía no membro. Sehun estava sentado ao balcão, e por um momento, Jongin achou que talvez, só talvez, ele estivesse lhe observando antes de vê-lo. Sem cerimônias, acenou para o seu aluno, chamando-o e vendo o seu rosto se contorcer numa careta confusa, perguntando se era ele quem o Kim estava chamando. O moreno confirmou sorrindo e, lentamente, o mais novo se aproximou.
— Oi — Sehun falou baixinho e antes de responder, Jongin bateu de leve na cadeira ao seu lado e Oh, todo envergonhado e sem jeito, sentou-se na cadeira indicada.
— Oi. Como você tá? — Jongin ingeriu um pouco da bebida. Preferiu tomar refrigerante, já que no outro dia cedo da manhã estaria de volta à Universidade.
— Eu estou bem e o senhor?
— Pelo amor de Deus, eu não estou tão velho para me chamar de senhor. — Começou a rir e o mais novo foi levado pela risada engraçada do Kim. — Então me chame de você. Falando nisso, qual a sua idade, Sehun?
— Eu tenho vinte e dois — respondeu, vendo Jongin lançar lhe um sorriso psicótico. — Qual a sua? — Um sorriso brincalhão tomou conta do seu rosto.
— Trinta e dois… — revelou, fazendo drama. — Trinta e dois anos de pura gostosura! — completou, arrancando uma risada gostosa do Oh, vendo seus olhinhos quase fecharem. O moreno era lindo e não precisava de muita coisa para perceber isso.
— Jongin. Posso chamar Jongin, não é? — indagou, curioso, pois mesmo que o Kim fosse um cara bem comunicativo, ele ainda era seu professor.
— Pode sim. — Sugou um pouco de refrigerante do canudinho.
— O que o… Você — enfatizou a forma de como se dirigiu ao Kim — anda fazendo por aqui? Esse lugar não é muito conhecido — observou o rapaz mais a fundo, percebendo que a gola alta daquele suéter cobria uma outra tatuagem.
— Bom, eu vim arrastado pelos meus amigos, que a esse ponto já estão dançando como se não houvesse amanhã. E eu vou ser o motorista agora. — Sorriu meio derrotado, fazendo com que o Oh soltasse outra gargalhada gostosa. — E você?
— Eu só não tinha muito o que fazer. Na verdade, tenho muita matéria para colocar em dia, mas preferi vir perder meu tempo aqui — respondeu.
— Com quem você faz essas tatuagens? — Jongin mudou completamente o assunto, deixando Sehun meio confuso, frisando as sobrancelhas. — Suas tatuagens. São bonitas. Gostaria de saber até onde vão e porque você esconde — comentou sem se importar muito, mas ao ver o rosto do mais novo corar, ele que bebia um gole do refrigerante acabou se engasgando e tossindo. — Desculpa! Eu não tinha a intenção de falar algo assim. Só pensei alto demais.
— Não tem problema. — Sehun sorriu pequeno. — É que ninguém gosta muito de ficar perto de mim, acho que é por causa das minhas tatuagens. Acham que sou bandido. — Sorriu, apesar de estar falando de si mesmo.
— Ou medo dessa sua cara de assassino. — Sorriram sem se importar se estavam zoando a cara de um deles próprio. — Você é um rapaz bonito, deveria sorrir mais. Talvez as pessoas se aproximem. — E, novamente, o rosto do mais jovem se coloriu num tom vermelho, dessa vez até suas orelhas queimaram em rubor. — Ai meu Deus! Me desculpe! Eu não tinha a intenção, de novo!
E assim a noite se passou. Sempre que Jongin elogiava algo em Sehun, o mais novo corava de uma forma surreal. Jogaram conversa fora, falaram sobre qualquer tipo de assunto, que para a felicidade de Jongin, Sehun também era do tipo que se empolgava e falava bastante. Conseguiu, aos poucos, quebrar a barreira que havia entre ele e Sehun, descobrindo que o rapaz era realmente único. Uma jóia rara.
Passaram-se alguns dias e a aproximação que aconteceu foi inevitável. Tanto como aluno quanto como um amigo. Continuaram se encontrando no mesmo bar e foram essas viagens que fizeram Jongin tirar seu carro da garagem. Ele era de um modelo já antigo, porém ainda bem cuidado. E todas as noites o Kim deixava o Oh na porta de casa. Uma noite, quando estavam conversando, Sehun chamou o mais velho para que fossem ao parque de diversões, e desconfiando que o mais novo estivesse bêbado, ele apenas confirmou. O problema é que Oh estava sóbrio, e alguns dias depois, lá estava ele cobrando o passeio. Jongin não poderia imaginar que atrás daquela cara enjoada, existia um jovem tão espontâneo, e foi essa característica que lhes aproximou. Sehun também era um cara muito legal, uma personalidade que aos poucos o Kim ia descobrindo.
(...)
Era sábado a noite. O vento frio soprava em toda Seoul. As luzes da cidade acesas mesclavam aos faróis dos automóveis. O movimento começava a cair e, enquanto fazia o percurso até a casa de Sehun, Jongin lembrou-se de como era antes de ser preso. O cassino era sua maior paixão, e há uns cinco anos atrás, nesse mesmo dia e horário, ele estava dentro de Louder. Sentia saudades do movimento e de alguns de seus clientes, mas não do cassino. Não queria voltar tão cedo para uma cela, então esperava ansioso a liberdade provisória que Jongdae estava empenhando-se para conseguir. E a única coisa que não falou para Sehun sobre si mesmo, era que ele era um ex barra ainda presidiário. Não estava em seus planos contar agora. Aquele assunto era um tabu, não sabia como o Oh iria reagir e nem se ia continuar falando consigo, por isso, na Universidade onde estava dando aula, combinou com os Chefes que não diriam nada sobre de onde ele vinha.
Estacionou o carro e buzinou de leve. Logo o mais novo apareceu, entrando dentro do carro branco. Cumprimentou Jongin e seguiram caminho para o parque. Estranhamente, naquela noite, estava fazendo um frio incomum, porém não seria o frio que os impediria de sair. Quando já estavam no local, Sehun começou a arrastar Jongin de um lado para o outro, mostrando os brinquedos que eles poderiam ir, e cada um deixava o Kim mais assustado do que o outro.
— Calma aí, Sehun! Eu sou velho. Tipo, mais velho. — Agachou um pouco e colocou as mãos sobre os joelhos.
— Larga de drama, Kai! — chamou-o pelo apelido. Só começou a chamá-lo assim por causa de Chanyeol, que relembrou o antigo apelido de Jongin. — Vamos na montanha-russa!
— O QUÊ?! — berrou assustado. — Não! Qualquer outro brinquedo, mas a montanha-russa não. Ainda não estou pronto pra colocar meu almoço e lanche da tarde pra fora.
— Desnecessário. — Ficou alguns segundos em silêncio, observando ao redor os brinquedos. — Vamos. Eu quero ir em todos. Esse por último, vamos na roda-gigante.
— Eu sei que você é alto e não tem medo de altura. Mas eu tenho tá? Tanto que eu preferia nem crescer muito. — Sehun sorriu gostoso, arrastando novamente o Kim consigo em todos os brinquedos disponíveis.
Assim como era a vontade de Sehun, foram em todos os brinquedos que tinham no chão, já que Jongin não entrou de forma alguma nos brinquedos que passagem dos três metros de altura. A não ser claro, a roda-gigante, que só entrou porque Sehun prometeu segurar sua mão enquanto estivessem lá dentro. E lá estavam. Jongin sentado ao lado de Sehun, o mais novo observava afoito a paisagem da cidade de cima. Enquanto uma mão estava no vidro da cabine, a outra segurava forte a mão do Kim.
— Hey, Kai. — Apertou sua mão, chamando-a atenção do mais velho. — Hoje foi legal. Me senti uma criança de novo.
— Esfrega na cara que você é mais novo, seu pirralho. — Sehun sorriu e Jongin virou o rosto para o outro lado, fazendo um biquinho nos lábios.
— Eu queria te dar um apelido… — comentou baixinho, chamando a atenção do mais velho novamente.
— Mas eu já tenho um. Kai. Não gosta?
— Gosto… — Sorriu mínimo.— Mas eu queria que fosse um exclusivo. Só eu que te chamasse assim. — E diferentemente do comum, foi a vez de Jongin corar, mas não mudou muita coisa, pois logo após Sehun também corou.
— Sinta-se a vontade para me dar um apelido, Sehun-ah. — Apertou a mão do mais novo, olhando no fundo dos olhos dele.
— Então… Pode ser Nini?
— Por que “Nini”?
— Eu não sei. Só achei legal.
— Pode ser, então… — Mais alguns segundos em silêncio, até que Kim decidisse quebrá-lo. — Você quer ir para minha casa?
(...)
A porta do apartamento foi aberta, e logo Jongin convidou Sehun para entrar. O mais novo observou cada detalhe do apartamento, da cerâmica bonita ao teto impressionantemente branco. Sehun questionou-se como que Jongin conseguia se manter naquele apartamento sendo que era apenas um professor de uma universidade.
— Quer algo pra comer ou beber? — perguntou, tirando a jaqueta e ligando o aquecedor.
— Ah, eu aceito água — respondeu sendo educado e tirando assim como o mais velho, a jaqueta, porém ainda usando a camisa social preta.
— Senta aí — Jongin mandou, o mais novo obedeceu e alguns segundos depois o moreno apareceu com um copo de água na mão entregando o mesmo a Sehun.
— Obrigado. — Começou a beber a água, quando ouviu o outro falar algo:
— Você bebe água de um jeito engraçado… — Sehun tentou segurar o riso, acabando por derramar água na própria camisa. Achou a situação tão nada a ver que nem percebeu que o mais velho estava lhe observando demais.
— Como assim? — Afastou o copo da boca, observando a sua camisa molhada. — Eu vou embora todo molhadinho. — E corou ao perceber a frase que havia dito.
— Não prefere ficar todo molhadinho aqui, não? — Um sorriso libidinoso tomou conta de seus lábios e antes que Sehun pudesse responder, o Kim se aproximou, pegando o copo e colocando sobre a mesinha de centro. — Você se lembra, Sehun, do que eu disse na nossa primeira conversa? — Rapidamente se pôs em frente a ele, passando os braços por cima dos ombros do mais novo e prendendo-o em frente a si. Com a cabeça, Oh respondeu com um “não”, o olhar preso ao do Kim vendo a pele morena do outro brilhar em frente a si. Não podia negar que seu professor era bonito e muito atraente. Cada detalhe físico seu era tão perfeito, tão alinhado, que Sehun poderia pensar até que o Kim era, na realidade, um príncipe. — Eu quero ver onde começam e até onde vão as suas tatuagens — revelou, levando uma de suas mãos os botões da camisa preta molhada, desabotoando um a uma de forma lenta. — Eu quero ver cada detalhes com meus próprios olhos. Tocá-las com meus dedos e senti-las de outra forma — falou, vendo que o olhar de Sehun alternava entre seus olhos e sua boca. — Mas você sabe, Sehun, eu não quero ver apenas as suas tatuagens. De preferência… — Aproximou o rosto ao do mais novo — Todo o seu corpo — sussurrou, cerrando os lábios contra os de Sehun, em seguida, levando a mão que estava livre até o queixo dele, puxando-o para um beijo afoito e faminto. Ansiava sentir a maciez dos lábios alheios, visto que sempre que conversavam eles pareciam sempre convidativos e macios. E pôde comprovar naquele momento.
— Então porque não faz um catálogo delas, Nini? — Jongin sorriu entredentes, negando com a cabeça. Por trás daquela cara de cu, personalidade contradizente, ainda havia um rapaz safado. Até onde será que Sehun poderia chegar? Não demoraria muito tempo para descobrir.
— Então vamos ao meu quarto, quero analisar cada uma delas minuciosamente. — Sorriu cafajeste, parando de desabotoar a camisa alheia e agarrando a mesma, puxando meio impaciente o mais novo, ainda com o sorriso no rosto.
Enquanto caminhavam para o quarto de mãos dadas, eles se olhavam e mordiam os próprios lábios, ansiosos pelo o que viria a seguir. O dono do apartamento abriu a porta do quarto, puxando Sehun pelo punho e impaciente, jogou o mais novo em cima da cama, subindo lentamente na mesma, debruçando-se sobre o Oh, beijando seus lábios, descendo a boca pela epiderme branca e indo até seu pescoço, beijando a tatuagem que havia do lado direito, olhando para os olhos do maior, vendo que ele suspirava e contia os gemidos.
— Onde ela começa eu sei, mas não sei onde ela termina — comentou, mas Sehun não entendeu muito bem, estava inebriado pela sensação dos lábios macios sobre sua pele e as mãos do mais velho apertando de maneira firme a sua cintura. — Ei Sehun, não segure seus gemidos. A sua voz é bonita demais para se calar. — Levou os dedos até a boca dele, passando os dedos suavemente pelos lábios, pressionando-os levemente e empurrando um dos dedos para dentro da cavidade, fazendo com que Sehun chupasse seu dedo. — Promete não esconder nada? Eu quero tudo que venha de você — proferiu, empurrando e puxando levemente o dedo que estava na boca do outro. — Você entendeu? — indagou, olhando de forma superior ao mais novo.
— Sim… — Apertou levemente o dedo do mais velho com a boca.
— Que bom. — Voltou a atenção aos botões da camisa preta, desabotoando-os rapidamente, olhando novamente para a tatuagem e puxando o tecido. Após retirar a veste, pôde olhar mácula na pele alheia, observando o que parecia ser uma raposa-vermelha, mas não teve certeza, pois o desenho ia até as suas costas, e aproveitando a situação, rapidamente virou o corpo do mais novo, passando os dedos sobre a marca, constatando ser realmente uma raposa. Sorriu ao ver onde ela terminava, o rabo ia exatamente até a região sacral. — Estratégica, não? — Continuou descendo os dedos sobre a tatuagem, e quando finalmente chegou ao final, desceu mais um pouco e apertou as nádegas salientes do Oh. — Hoje eu vou te mostrar o que uma raposa faz a noite, Sehun.
(...)
Mais de seis meses haviam se passado. Jongin continuava dando aulas na universidade e agora, diferente de antes, não era apenas o professor de Sehun, eram namorados. Algo que surpreendeu muito a todos, e que deixou Jongdae preocupado. Em uma conversa com o Kim mais velho, indagou o que ele faria caso tivesse que voltar para a cela da prisão, já que não havia contado para o mais novo que era um presidiário. Aquilo estava matando Jongin por dentro. Ponderava entre contar, correndo o risco de ser rejeitado por Sehun, e não contar, deixando a bola de neve ainda maior. A ansiedade lhe corroía, e mesmo que eu seu âmago algo lhe dissesse para contar a verdade, morria de medo de Sehun lhe abandonar. Não estava preparado para isso. E, do outro lado, temia que se o Oh descobrisse por conta própria, as proporções da situação ficaria pior. E eram tantas as vezes que pegava pensando nisso que nem percebia o agora platinado a sua frente falando.
— De terra para Nini. — Bateu de leve na testa do moreno, despertando do transe em que estava. — Você 'tá bem? — indagou, bebendo do suco em seu copo.
— Oi? Eu tô bem, tô bem — respondeu, concentrando-se ao seu redor. — Chelsea marcou um gol? — indagou confuso.
— Não, ainda não. — Comprimiu os lábios, desconfiado de Jongin. — O que 'tá acontecendo com você?
— Nada? — Olhou confuso para ele.
Estavam sentados no chão da sala, as janelas abertas denunciavam o fim de tarde, e aos poucos podiam ver o sol se pondo. Não aguentando o calor de domingo, sentaram no chão enquanto tomavam suco para refrescar e assistiam ao jogo do time preferido de Jongin. O Kim estava com a cabeça sobre o colo do mais novo, e antes de se perder em pensamentos, assistia ao jogo.
— Tem certeza?
— Sim — respondeu e sorriu pequeno para o platinado. Quando Sehun pediu sua opinião sobre a cor que iria colorir suas madeixas, o Kim não hesitou em recomendar cinza. E a cor havia caído perfeitamente em si. — Ei, Sehun, você acredita em sorte?
— Eu acho que sorte é algo de momento, ou seja, não acho que alguém seja sortudo, ele só obtém algumas coisas por causa do momento, mas não deixando de ser sorte. Entende?
— Não. — Sorriram.
— Mas por que isso agora? Você acredita?
— Sim. Porque eu ganhei na loteria quando te conheci. — Um rubor sobrenatural tomou conta do rosto branco de Sehun e Jongin sorriu bobo ao ver o namorado daquele jeito.
— Ai, Nini. Não fala essas coisas. ‘Cê me deixa sem jeito.
— Então deixa eu te dar um jeito. — Sentou-se, chegando a frente do mais novo e encaixando as pernas dele sobre seu colo, aproximando seus rostos com as mãos. — Você é perfeito, Oh Sehun. Eu te amo mil milhões. — Novamente sorriram, e antes de ficarem sérios, o Kim encostou sua testa ao do mais novo. — Sério, por você eu faço qualquer coisa.
— Qualquer coisa? — perguntou, fazendo-se de inocente.
— Sim…
— Então me beija — pediu e não demorou muito para sentir os lábios do Kim sobre os seus. — Céus, você fala que eu sou perfeito, e mesmo assim não consegue deixar de ser tão… Porra, Kim Jongin, não há palavras que descrevam o que você é!
— Eu sei. Às vezes eu me olho no espelho e penso que eu sou tão lindo, mas tão lindo, que desconfio que o espelho tá tentando me enganar porque sou feio e ele não quer mostrar a realidade.
— Vai se foder seu convencido do caralho.
— No caso, eu que fodo você. — Ostentou um sorriso cafajeste.
— Eu te odeio na mesma proporcionalidade que te amo. — Jongin iria lhe beijar novamente, quando sentiu a bola de pelos brancos e macios pular em cima do colo de ambos. — Ai Vivi! — exclamou surpreso com o próprio cachorro.
— Esqueci que nossa criança tá em casa. — Sorriu divertido, afagando os pelos do cachorrinho branco.
— Quem te viu quem te vê. Quase chutou minha cria quando viu ela pela primeira vez. — Sehun olhou para o mais velho com um sorriso debochado no rosto. — Seu hipócrita.
— A culpa foi dele. Quem mandou vir pulando em cima de mim, achei que era o que… Sei lá. Eu me assustei!
— Ah tá bom. Mas ainda não entendi o porquê de você me perguntar se eu acredito em sorte.
— Você não vai querer saber.
— Acredite, eu quero. Fala, Nini — pediu fazendo um bico. — Eu não conto pra ninguém.
— Você venceu. — Sorriu baixinho. — Eu costumava me achar a pessoa mais sortuda do mundo. Eu sempre ganhava tudo que dependia de sorte, as pessoas diziam que eu era um ímã. Foi assim por muito tempo, mas teve um dia que tudo acabou. Não tinha mais sorte, nem azar. As coisas apenas ficaram neutras. Mas aí, aconteceu algo muito bom e, 'pra ganhar de vez na loteria, eu conheci você.
— Quero detalhes.
— Acesso negado.
— Eu hein. Cheio de segredinhos.
— O único segredo que tenho, é a chave do meu coração, que no caso é você.
— Meu Deus! — exclamou corado, beijando o moreno em seguida na tentativa de esconder o rosto vermelho.
(...)
Jongin caminhava apressado no meio das pessoas, desviando rapidamente e evitando bater em alguém e derrubar suas coisas para não se atrasar mais ainda. Enquanto andava, olhou a hora em seu celular, constatando que em mais alguns minutos estaria no local na hora certa. Quando finalmente viu a cafeteria, pôde ver que Sehun já estava lá. E pela sua cara — a mesma que tinha todos os dias — não poderia decifrar se o platinado estava com raiva ou não.
Tudo começou quando naquela manhã o Oh não compareceu a aula. Desconfiou que o namorado só estivesse debaixo das cobertas, aproveitando o friozinho daquele dia para dormir um pouco mais. Porém, em um dos intervalos de aula, recebeu uma mensagem do mais novo, que pedia para ele lhe encontrar numa cafeteria perto da Universidade. Ficou curioso, não sabia o que tinha acontecido. Temia que Sehun tivesse se cansado de si, o mau de ser uma pessoa insegura, por mais que não demonstrasse.
Assim que viu o mais novo sentado a uma mesa que ficava na frente do local, todo coberto por roupas grossas, suas mãos começaram a suar. Se aproximou da mesa, depositando seus materiais em cima da mesma e sentando de frente a Sehun. Não falaram uma única palavra, mas pelo rosto e expressão mais fechada que o comum, Jongin teve certeza que ele estava com raiva. Tentou achar em sua memória algo que tivesse dito no dia anterior, mas duvidou que ele tivesse ficado com raiva dele por causa da outra noite.
— Então, Kim Jongin... — Sehun iniciou com um tom de voz carregado de raiva, os lábios eram comprimidos e mordidos a todo momento e, a julgar pela forma que se dirigiu a ele, algo de muito sério estava acontecendo. — Quando planejava me contar que é um ex presidiário? — Sentiu o coração falhar uma batida e o medo que sentia pesar sobre todo seu corpo.
— Como você…
— Achou mesmo que eu não ia descobrir? Sério, cara! O que custava me falar?! Todo esse tempo e você não teve a mínima consideração por mim. Eu confiei em você, te contei tudo o que uma pessoa pode contar pra outra, me abri, e você só me contou o superficial. Eu tive que ficar sabendo por causa da papelada que Chen mandou pra você, falando da sua liberdade provisória.
— Ele mandou?
— Mandou sim cara, mas você estava tão concentrado em manter a mentira que nem se concentrou no que rolava ao seu redor.
— Mas, Sehun.
— Mas nada, Jongin! Eu não consigo acreditar que você me escondeu isso por tanto tempo! Eu só queria que tivesse me contado que você já foi preso por causa de uma porra de um cassino. Eu não iria te julgar! Até porque, você já foi, não é mesmo? Agora eu entendo o porquê de tanto luxo na sua casa, você ainda tem muito dinheiro, não é? Afinal, Louder era conhecido por todo mundo e quatro, cinco anos não seria o tempo suficiente para você gastar tudo. — As orelhas de Sehun começavam a ficar vermelhas nas pontas, algo que acontecia sempre que ficava com raiva.
— Eu temia que isso fosse acontecer. Eu juro que pensei muito em te contar, mas não sabia como você iria reagir, então pensei que se você não soubesse, seria melhor. Mas se eu soubesse que iria ser desse jeito, eu teria contado antes.
— Pois é, Jongin. Deveria ter contado antes. Só que não contou, não é mesmo? Eu realmente espero que você aproveite a sua liberdade. Mas bem longe de mim. — Bateu forte na mesa, levantando-se. Jongin foi atrás dele e agarrou seu pulso, tentando fazer com que ele parasse.
Nesse momento, uma movimentação estranha começou dentro da cafeteria e gritos assustados preencheram o local. Em questões de segundos, pessoas estavam saindo correndo de dentro do estabelecimento. Confusos, olhavam para dentro da cafeteria tentando entender o que estava acontecendo, até que viram policiais empunhando armas e homens armados saírem. Assim como as outras pessoas, eles começaram a correr, Sehun segurando a mão do Kim corria o mais rápido que podia, e barulho de tiros foram ouvidos. Alguns segundos depois, assim que conseguiram achar um local para se esconder, Sehun puxou Jongin para que se abaixasse junto a ele, escondendo-se atrás de uma mureta de aço que tinha em outro estabelecimento. O platinado levantou um pouco a cabeça, vendo que os policiais e os bandidos ainda trocavam tiros.
— Nini, você está bem? Teve um momento que achei que você estivesse cansado. Você está velho. — Sorriu baixinho tentando afastar o medo que sentia, mas era praticamente impossível e, ao olhar para o moreno, assustou-se imensamente, praticamente pulando em cima dele. — Jongin?! — O sangue quente do moreno escorria pelos tecidos grossos das roupa que ele usava. Enquanto corriam, o Kim foi atingindo por uma bala perdida, a cápsula atingiu a região de suas costelas, atravessando seu corpo e causando uma perfuração. — Aguenta firme, eu vou ligar para o Samu, bombeiro, qualquer coisa que possa te ajudar! — falou nervoso, levando as mãos trêmulas até o bolso do casaco que usava, tirando o celular de dentro e tentando discar corretamente o número do socorro. — Aguenta firme, por favor! — O Kim parecia alheio ao que acontecia, mantendo apenas os olhos abertos, sem conseguir fazer nada e nem se mexer. Pressionou firme a mão sobre a ferida, retirando o cachecol e colocando sobre o abdome do mais velho. — Não ouse me deixar agora, seu desgraçado! — Lágrimas grossas de medo e desespero começaram a descer pelo seu rosto, embaçando sua vista e só dificultando mais ainda a situação.
(...)
Sehun estava sentado no banco de cimento da praça. Em sua mão apenas o celular e na outra segurava a corrente de Vivi. Estava estático, olhando para o nada, o rosto frio por conta do vento gélido que soprava na capital coreana. Sentiu que alguém sentou ao seu lado, e com movimentos lentos olhou para a pessoa, vendo Jongdae sorrir gentilmente para ele.
— Não se culpe pelo que aconteceu. Não foi sua culpa aquela troca de tiros, foi só o lugar errado na hora errada, e como diria Kai, apenas uma falta de sorte diária.
— Eu não deveria ter feito ele ir para lá. As últimas palavras que eu disse para ele foram 'pra ficar longe de mim. Eu não acredito que eu disse isso.
— Não precisa ficar assim. Ele sabia que você o amava, todo mundo fica com raiva e acaba falando o que não queria.
— Eu fui um idiota.
— Não foi não. Olha, eu vou te dizer uma coisa e não quero que você fique triste por isso, tá bom? — O platinado balançou a cabeça confirmando. — Ele falou para mim que assim que a liberdade provisória dele saísse, ela ia te contar tudo e te pedir em casamento caso você não desse um pé na bunda dele.
— Ele disse isso? — indagou com a voz embargada, Jongdae apenas balançou a cabeça, confirmando. — Meu Deus… — Colocou a mão sobre a boca, sorrindo em seguida, deixando com que uma lágrima escorresse pelo canto dos seu olhos. Sentiu os braços do Kim rodearem seu corpo, puxando-lhe para um abraço apertado.
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