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História Loucure-Se - O Pub


Escrita por: Hariken

Notas do Autor


Essa história está dedicada para todas as pessoas que já foram oprimidas ou sofreram algum tipo de preconceito na vida, seja de qualquer tipo. Adiciono ainda, que me envolvi mais do que devia enquanto escrevia/procurava referências a ponto de ficar afetada com a ignorância de algumas pessoas.
Agradecimentos especiais à @hogguk por ter participado integralmente das minhas infinitas dúvidas sobre a história, por ter opinado e me ajudado com tudo em geral.
*ainda vou adicionar a capa.

Capítulo 1 - O Pub


Ele bateu a porta do quarto com força e esfregou os cabelos negros com as mãos em um movimento rápido, se voltando a entrada do cômodo para girar a chave. As laterais dos cachos estavam bem aparadas, mas os fios caiam em camadas pelo lado esquerdo. Seus olhos estavam vidrados de uma mistura de raiva e tristeza, mas logo logo estariam com o mesmo semblante mas por outro motivo. Matteo sentou na cama bagunçada - por não tê-la arrumado de manhã - e olhou para os pulsos, decidindo que ação tomar. Ouviu o barulho de algo se quebrando no andar de baixo e logo em seguida um grito feminino agonizando com um tom choroso. O menino se levantou, foi até a porta e parou ao apoiar a cabeça na parede próxima, agarrando a maçaneta. Tentava reunir coragem para girar a chave, abrir a porta, descer as escadas e encarar o monstro da sua vida.

Lágrimas salgadas marcaram o rosto rosado de raiva do menino, o fazendo desistir da ideia e ir até a cômoda que ficava ao lado da porta. Tamborilou os dedos sobre a superfície, olhando os bonecos 3D dos seus animes preferidos, junto com um pote de camisinhas do Darth Vader e seu jogo portátil 3DS XL. Abriu a primeira gaveta, empurrou as cuecas pra trás e parou, já se arrependendo mentalmente do que estava por vir. Levantou o fundo falso e pegou um pacotinho com uma poeirinha branca mais um tubinho de caneta que estava próximo. Matteo fez um rasgo no pacotinho e o espalhou pela cômoda, colocando a espécie de canudo ao lado.

Saiu em passos largos até o banheiro enquanto tentava ignorar os barulhos da mulher gritando em desespero no térreo e abriu o armário de madeira que ficava sob a pia quadrada. Pegou uma das lâminas que guardava dentro do potinho de fio dental e voltou para o móvel das cuecas apressado. Fez o ritual no pozinho e pegou o canudo, curvando a coluna e encaixando o tubo no nariz.  Fora tudo para dentro em uma fungada. O garoto jogou os cabelos e a cabeça pra trás, passando os dedos pelos fios emaranhados. Jogou o resto da poeira branca pelo carpete e foi em direção ao espelho grudado na parede ao lado da cama. Puxou a blusa  preta para baixo, pegou um colar de pedra que estava pendurado no canto da cama e colocou no pescoço. Sentou ali próximo, amarrou os coturnos e voltou pra gaveta que ainda estava aberta.

Guardou o resto que ainda estava no saquinho e o tubo, aproveitou e jogou a lâmina no fundo falso também. Pegou outro saquinho com uma espécie de pílulas coloridas, fechou tudo, arrumou as cuecas e abriu o pote que continha as camisinhas. Pegou quantos cabiam em uma mão e fechou o pote, as distribuindo nos bolsos de trás e na carteira. Fechou os olhos e passou as mãos pelo rosto, tentando limpar as lágrimas. Bateu as mãos no jeans, tentando fazer com que suas pernas obedecessem o comando e assim foi. Abriu a porta, foi até o final do corredor e desceu as escadas de madeira, um pouco tonto já que seu coração tinha acelerado rápido devido ao nervosismo e substâncias comuns ao organismo do garoto.

Fechou os olhos ao passar pela sala, mas foi impossível não ver nada. Sua mãe estava jogada no chão desacordada com marcas vermelhas nas pernas, o nariz sangrava e o braço cortado por um pedaço de madeira da mesinha de centro que tinha se fincado no local devido ao impacto. O monstro conhecido vulgarmente como pai gritava com a mulher desacordada antes de virar sua atenção para o garoto que tentava sair pela porta despercebido.

- Volta aqui garoto, nem pense em sair, eu sei que está indo abaixar as calças pro primeiro vagabundo que aparecer - O homem disse com a voz embargada e enrolada, devido aos efeitos das várias garrafas de cerveja vazias jogadas ao chão próximo do sofá. - Viadinho, eu deveria te trancar em casa pra ninguém saber que você é do mesmo sangue que eu, nojento.

Matteo ignorou os gritos e correu até a porta, tentando sair o mais rápido possível de perto daquele homem. Percebeu que o monstro tinha tentado o acertar com as garrafas de cerveja ao escutar o vidro se colidir à parede. Então se apressou, tirou as chaves do bolso e subiu na moto preta capenga que estava no quintal da casa azul. Deu partida enquanto olhava pelo retrovisor o homem gritando pela porta da casa dos horrores. Pediu a sabe lá quem pela segurança de sua mãe em pensamentos e aumentou a velocidade, aproveitando a hype no corpo.

Os acontecimentos seguintes passaram rápido demais. Parou em um pub; Pegou umas bebidas; Se enfiou em um canto na parede do estabelecimento; Deu corda pra cantada de uma menina; Deu uns amassos na loira; Fingiu estar com vontade de ir ao banheiro; Saiu.
Se encarou no pequeno espelho do banheiro que fedia, fazendo suas narinas arderem. Olhou o rosto magricela e cavado. As orbes azuis chamavam atenção no rosto comprido e másculo, apesar de ser tão magro. Cutucou as costelas enquanto estava imerso num mundo só dele, até que ouviu alguém ligar a torneira ao seu lado.

- Se divertindo, parceiro? - Matteo se virou pra um homem que aparentava ser mais velho, informação óbvia já que ele estava em um local para maiores mesmo tendo seus dezessete anos de idade.

- É, pode-se dizer isso. - Reparou no homem mais ainda: Cabelos castanhos, olhos negros como o céu daquela noite, ombros largos. Vestia uma camisa branca de manga curta e um macacão marrom que ele usava como calça já que os apoios estavam caídos pelas laterais de suas pernas

- Aposto que sim, vi aquela mulher charmosa quase te engolindo lá fora, fiquei até com uma invejinha. - O homem sorriu, estendendo a mão com a fala a seguir - A propósito, meu nome é André.

Matteo ficou meio em dúvida sobre as ações do cara e seguiu cauteloso, apertando a mão dele.

- Não sei o nome da garota, já que ela saiu me levando pro canto sem perguntar algo. Mas a loira deve estar por aí ainda, se der uma volta pelo lugar deve encontrá-la.

André fez uma expressão como se estivesse em dúvida, mas logo abriu um sorriso branco e simpático.

- Ah, desculpe! Acho que não fui claro o suficiente. Eu estava com inveja dela e não de você. - Deu uma piscadela.

O menino sentiu como se tivessem jogado uma bola de futebol americano no meio do seu tórax. Oi? Ele realmente não esperava por essa. Não por se sentir feio, mas o homem era obviamente mais bonito, com um corpo que aparentava ser bem modelado e claramente tinha um senso de moda muito bom, sem contar com a atitude segura e confiante.

- E aí, a informação chegou? - André soltou uma risadinha.

- Ah, sim. - Matteo pegou molly do bolso e abriu o pacotinho, pegando uma de coloração rosa. Quando ia colocar uma na boca, seu pulso foi parado no meio do ar.

- Aposto que te deixo mais high que essa balinha. - O menino já estava rindo da cantada inesperada quando viu que o semblante de André estava sério e se interrompeu.

- - -

Ele saiu pelo pub enquanto eu o seguia com certa distância. Ao chegarmos do lado de fora, ele se virou e mostrou sua bela constelação, já que seu sorriso mais me lembrava das estrelas. O homem parou, voltou alguns passos e pegou na minha mão pela ponta dos dedos, me levando pelo caminho oposto do qual eu tinha deixado minha motocicleta. Apenas me deixei ser puxado pela mão para seja lá onde. Não importa o que aconteça, nada pode ser pior do que o que está acontecendo na casa dos horrores com ela. Fechei os olhos, meus demônios começaram a levar minha mente para seu submundo, me mostrando sangue, ela morta, o monstro rindo, meu lar morrendo. Que lar? Meu lar já morreu quando ele nasceu.

Cadê a Molly?

Comecei a tatear os bolsos à procura do meu remédio, meio desesperado. Então me lembrei de que aquele homem por uma fração de segundo tinha me feito desistir do meu anestésico. Qualquer tipo de atração que eu tivesse sentido antes, escapou pela metade e eu me xinguei por me deixar levar pelas situações e não ter tido consciência suficiente pra tomar uma decisão.

Passamos pelo calçadão que ficava em frente à praia do pub, desfilando na noite fria como se fosse normal andar de mãos dadas com um cara do mesmo sexo. Vinte e cinco por cento da atração que eu senti por André antes voltou ao ver sua expressão despreocupada, mesmo que ele estivesse demonstrando interesse por garotos. Ele me puxou outra vez e nós sentamos num banquinho de pedra chapiscado.

- Então, estranho, qual seu nome? - André virou na minha direção, sentando sobre uma das pernas. Ao não ouvir nenhum tipo de resposta, ele suspirou. - Eu te contei o meu, certo? Nada mais justo do que você me dizer seu nome, Cinderela Misteriosa.

- Cinderela Misteriosa? - Disse, me despertando dos meus pensamentos conturbados - Que apelido horroroso. - Ri. O rosto do homem se iluminou mais ainda.

- Finalmente vi seu sorriso! E é muito bonito, você deveria usá-lo mais vezes.

- Hum… - Instintivamente fiquei com a expressão séria - Meu nome é Matteo. Matteo Gatelli.

- Prazer, Matteo. Seu nome é muito bonito, é italiano? - Confirmei com a cabeça e ele continuou falando - Eu não sou muito de sair na noite, mas estou contente que resolvi sair hoje, senão eu perderia a chance de te conhecer.

E continuava com as cantadas infames… Até que então ele virou as pernas para frente e apoiou os braços no banco, atrás, reclinando.

- A noite está bela, não é mesmo? É raro ver tantas estrelas no céu em uma cidade grande assim.

Virei minha atenção pra imensidão acima de mim e realmente tive que concordar com ele. Um sorriso furtivo e sarcástico apareceu nos meus lábios. Como o céu consegue se mostrar tão feliz quando a terra está cheia de desgraça? Mais uma vez fui despertado dos meus pensamentos com um toque. Senti uma mão na minha cintura apertando a blusa preta e meu corpo, junto com o calor corporal de André do meu lado direito. O encarei expressando desconfiança.

- Você não gosta? Se quiser posso me afastar.

Virei meu rosto na direção oposta e acabei por ouvir uma risadinha oprimida vindo dele. Depois, com sua mão livre, alcançou a minha que estava descansando apoiada nas minhas coxas e voltei a encará-lo. E então quem desviou o olhar foi ele, fingindo admirar os prédios na direita enquanto assobiava. Até que ele começou a acariciar minha mão lentamente, e voltou a me olhar nos olhos, em completo silêncio. Desta vez fui teimoso e não desviei o olhar, como se fosse uma brincadeira infantil. E ele não cedeu, continuou fixo nos meus olhos, se aproximando tão lentamente que era quase imperceptível. Quase.


Notas Finais


Se você é usuário de drogas ou qualquer vício que seja um tipo de fuga, procure ajuda profissional, não tenha vergonha. Todos nós temos problemas e temos que aprender a superá-los da melhor maneira, com ajuda ou não. E se você não usa, jamais experimente ou pense em entrar nesse estilo de vida, não é saudável e não faz bem, só piora tudo, como se fosse uma reação em cadeia. É um caminho perigoso no qual a maioria não volta, nunca mais.
Essa história foi feita no estilo the 1975. Eu comecei essa história escutando The City: https://www.youtube.com/watch?v=UuihJInaeN4
Não gosto muito do primeiro capítulo, mas espero que possam ler o próximo. @Akira_ pelo apoio em todas minhas histórias. @hogguk por ser você e estar sempre aqui. <3


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