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História Louvor, Honra e Glória - Dias Natalinos


Escrita por: requintte

Notas do Autor


Galerinha, esse capítulo está grande, enorme, explodindo, colossal, imenso, etc. Então sugiro q pra nao ficar cansativo, dividam para ler em duas partes, separa um lancinho pra ir comendo junto, deixa pra outro dia, aaaa não sei <3
Mas eu fiz com muito carinho, sim!!


Detalhe importante, , esse cap está cheio de referencias pro resto da estória, então estejam atentos!!
Feliz Natal <3

Capítulo 10 - Dias Natalinos


 

 

25 DE DEZEMBRO DE 2001.

 

─ Você é forte. ─ fala o pai espalhando o sabonete por todo o corpinho da criança.

Ele continua o banho calmamente sentindo o sangue acumulado nos nós dos dedos, aos poucos se esvaindo junto com a água.

─ Você é um líder.

Sorri cansado ao ver o filho se balançar na água e molhar todo o banheiro. Taejo amava o seu menininho bagunceiro.

─ Você é um guerreiro. ─ abre a embalagem de xampu.

─ Pai isso tem cheiro de doce! ─ Jooheon fala assustado ─ Isso é pro meu cabelo? ─ pede num palavreado embolado de uma criança.

─ Uhum. ─ abre a embalagem e espalha calmamente o líquido pela cabeça de Jooheon.

Taejo liga mais uma vez o chuveiro e enxagua todo o corpinho delicado do filho. Enrola a criança numa toalha felpuda e passa a secá-lo.

─ Você é um campeão!

Abre o guarda-roupa e pega algumas peças quentes para vestir o filho.

─ Jooheon ─ chama o menino enquanto terminava de vesti-lo ─, quem é você?

─ Eu? ─ pergunta confuso ─ Quem eu sou?

─ Você não sabe quem você é?

─ Isso é errado?

─ É muito errado. ─ sorri abotoando o casaco da criança ─ Se você não souber quem você é, eles vão dizer quem você é. ─ se abaixa para pôr a meia ─ E aí meu amigo, é onde o perigo mora!

─ Eu sou forte?

─ E...?

─ Eu sou o Jooheon. ─ responde a primeira coisa que lhe vem à cabeça.

─ Isso eu sei moleque.

─ Líder? ─ cita as coisas que o pai tinha dito durante o banho ─ Guerreiro.

Falta um.

─ Eu sou um campeão! ─ berra correndo para os braços de Taejo.

 

 

24 DE DEZEMBRO DE 2003.

 

─ Pai, o que você está fazendo?

─ Conferindo armamento.

─ Mas isso machuca as pessoas.

─ Moleque eu vou te dizer uma coisa agora e você vai dar um jeito de decorar ─ se agacha na frente de Jooheon ─, existem outros modos de machucar as pessoas.

Ele volta a empacotar o equipamento calmamente, e depositando algumas coisas dentro da mochila.

─ Quem é você?

─ Lee Jooheon. ─ fala automaticamente ─ Forte, líder, guerreiro e campeão. Por que eu tenho que ficar repetindo isso?

─ Porquê de tanto repetir, uma hora, se torna verdade. Você constrói quem você é ─ sorri sem mostrar os dentes ─, decora isso também.

Observa o pai fechar a mochila e subir as escadas. Segue ele até o térreo, e se vê tentado em fazer uma simples pergunta.

─ Pai, eu não tenho mãe?

─ A sua mãe é uma semiautomática. ─ fala abrindo um dos armários e retirando um calibre 38 lá de dentro.

─ Você vai sair?

─ Vou. ─ o olhar de Jooheon se entristece ─ Mas prometo voltar antes da ceia. Ainda não escureceu, vá brincar com o Hyunwoo até eu voltar.

Jooheon nunca entendia o motivo do pai sempre usar preto. Uma vez, Hyunwoo lhe disse que os caras maus daquele bairro usavam vermelho. Seu pai nunca saia de casa desarmado e sempre voltava machucado, ou sujo de sangue.

Porém não possuía nenhuma única peça vermelha no armário. Tinha preto, somente preto.

Viu o Chevrolet Opala de Lee Taejo sumir e pega a bicicleta. A neve tinha derretido, mas o asfalto permanecia molhado, teriam que ser cuidadosos.

Pedala até o outro lado da rua e chama Hyunwoo para brincar. Espera por alguns segundos até Hyunwoo sair pela garagem montando uma bicicleta vermelha.

Aquele era o seu hyung favorito. Passaram o resto da tarde desbravando os bairros da redondeza. Ele era apenas três anos mais velho, mas, às vezes, pareciam dez.

No ano passado ─ 2002 ─ Donghyun, o pai de Hyunwoo veio a falecer. Até mesmo Jooheon percebeu que o amigo amadureceu mais do que seria considerado saudável naquela época.

Viram juntos o pôr do sol no meio da ponte sobre o Rio Holang-i que dividia Desdre de Goyang. Ou os pobres dos ricos, como Hyunwoo preferiu dizer. Jooheon não entendia o que aquilo significava, mas quando visualizou as casas luxuosas do outro lado do rio, soube que era ali onde gostaria de morar um dia.

─ Quem chegar por último no Fritz, é a mulher do padre. ─ Jooheon grita antes de recolher a bicicleta preta do chão e pedalar o mais rápido possível.

Hyunwoo o acompanha sem levar aquilo realmente a sério, e então pedalam de volta a Ravelle. Tinha uma avenida que ia do extremo norte de Laus, até o extremo sul da cidade. Era uma via expressa, um tanto perigosa para duas crianças. Mas eles não se importavam.

Seguiram na ponte a todo o vapor e caíram na Avenida. Depois de alguns minutos, já era noite e só então chegaram em Ravelle, precisavam apenas entrar na Saída 06A. Hyunwoo, por ser mais velho, sinalizou para Jooheon que deveriam entrar na próxima rua.

Quando fizeram a curva, no término do asfalto, Jooheon acaba derrapando em algumas pedras. Caiu de lado, escorregando pelo desnível e ralando todo o lado esquerdo do corpo. Pelo susto, começou a chorar quase instantaneamente.

─ Calma Honey nem é tão grave assim.

─ Machucados são bons, meu pai disse.

─ Como assim, são bons? Eles doem! ─ ajuda o pequeno a se levantar. ─ Tem muito sangue saindo do seu joelho, temos que limpar isso logo.

─ Machucados só marcam por fora, vai ficar a marquinha para sempre, mostrando que não posso fazer isso de novo ─ fala encarando a própria perna ─, arrependimento também é bom.

─ Eu não gosto do seu pai.

 

 

24 DE DEZEMBRO DE 2006.

 

Estava frio e escuro em Laus. A neve estava acumulando na Rua dos Moleiros de forma que Taejo teve que deixar o Opala 69 estacionado no meio da Avenida de acesso. Como todos os anos, a prefeitura tinha simplesmente esquecido de enviar o serviço de remoção de neve para os bairros mais carentes.

Continuou seu caminho pelas calçadas ─ a rua estava intransitável ─ e invade a casa número 137 sem cerimônia.

As luzes da cozinha e sala estavam apagadas, exceto a árvore de Natal no corredor. Jooheon deveria estar no porão, terminando suas atividades. Taejo ficaria fora por três dias, completando um serviço em uma das cidades praianas.

Normalmente, Jooheon ficava na casa de Hyunwoo durante as viagens do pai. Assim que o garoto Son fosse morar com os Yang, Jooheon teria que se virar sozinho, finalmente.

Deixou um dos casacos em cima do sofá e desceu rapidamente as escadas. Encontrando o único filho terminando uma das voltas dos intermináveis nós.

─ Pensei que tinha me esquecido aqui. ─ Jooheon fala irônico, sem virar a cabeça ─ Vamos ter ceia esse ano?

─ Eu disse que voltaria até o Natal. ─ termina de descer os últimos degraus ─ Sem ceia, vamos fazer algo mais divertido ainda! ─ ele retira uma das luvas sob o olhar julgador do filho ─ Mas, primeiro, vamos ver esses nós.

Conferiu primeiro todas as emendas nas cordas estendidas como um varal. Depois todas as voltas e amarrações. Juntos somavam mais de dez nós complexos e simples. Ficou decepcionado por Jooheon não ter terminado todos os vinte e cinco que tinha passado.

─ Estou orgulhoso.

─ Mas eu não fiz tudo.

─ Mas o que fez, ficou perfeito. ─ diz se abaixando para ficar do tamanho do menino ─ Garoto, você tem oito anos, conheço escoteiros adultos que não finalizariam nem esse nó de borboleta.

─ Verdade? Eu só tentei fazer tudo certo, se eu terminasse e todos ficassem frouxos, não teria valido a pena.

─ Moleque quantos anos você tem? ─ Jooheon estava prestes a responder oito quando é calado ─ Era só uma expressão, enfim, você é bom em chorar?

─ É o que me dizem na escola.

─ Consegue fazer isso bem alto? Por bastante tempo?

─ Acho que sim, por que? ─ pergunta interessado ─ Vamos sair? Mas pai é véspera de Natal.

─ E?

─ Você sempre desaparece na véspera de Natal, e volta mais machucado que o normal. ─ diz antes de pensar um pouquinho ─ Eu vou junto? ─ Taejo concorda com a cabeça ─ Eu vou descobrir quem bate em você! ─ quando o pai pensa em retrucar, o menino sai correndo escada acima, gritando de felicidade.

Taejo obriga o Jooheon a colocar outros dois casacos e um cachecol antes de saírem na noite fria. Pega Jooheon no colo e corre quebrando o gelo com os pés até chegarem no Opala 69, onde amarra a criança com o cinto de segurança.

─ Moleque, já esteve em Goyang?

─ Não. ─ responde seco, odiava usar o cinto de segurança ─ Aquelas casas enormes ficam lá né pai. As pessoas que podem gastar o quanto quiserem moram lá também né pai.

─ E o que você acha disso?

Errado! ─ fala vendo a neve voltar a cair ─ Algumas crianças da minha escola não têm nem dinheiro para comprar o uniforme e aquelas crianças tem dinheiro o suficiente para comprar presentes para todas as crianças de Ravelle, né pai.

─ Jooheon ─ o pai nunca o chamava pelo nome, estavam falando sério ─, essa cidade é horrível, uns possuem coisas demais, e outros se contentam com as sobras. Nem todos vão ter um bom Natal esse ano, Papai Noel não existe, você sabe disso.

─ Não faz sentido né pai. ─ Taejo estava começando a se irritar com aquele “né pai” ─ Um velho gordo correndo por chaminés. Nem tem chaminé lá em casa.

─ Por isso esse ano vai ser diferente ─ eles chegam a ponte que dividia os bairros ─, nós vamos pegar alguns presentes das crianças de Goyang e distribuir para as crianças de Ravelle.

─ Eu vou ser o Duende e você o Papai Noel? ─ fala berrando mais uma vez ─ Isso vai ser incrível!

─ Não pode contar para ninguém, isso é uma ordem moleque!

─ É errado?

─ É crime, não pode contar para ninguém mesmo. É isso que eu faço todos os Natais, tento transformar pelo menos um pouquinho, o Natal das pessoas em algo especial.

─ Por que é crime?

─ Eu não sei garoto, não sei mesmo.

Conseguiu dirigir tranquilamente pelas ruas daquele bairro. Ao que tudo indica, a prefeitura jogava sal no gelo constantemente naquela área da cidade. A Rua dos Moleiros estava acumulando neve há mais de uma semana. Se ninguém removesse, as coisas começariam a se complicar.

Estaciona o carro rente ao meio fio de alguma rua larga e espaçosa. A neve caia com menos intensidade, então explica o plano para Jooheon quantas vezes fossem necessárias até o menino entender. Ainda temeroso, deixa o moleque umas três quadras da casa que iriam invadir.

Jooheon seguiu o resto o caminho sozinho, ainda pensando numa forma de conseguir lacrimejar. Quando já estava próximo da propriedade Park, tropeçou em uma pedra. Seu pé estava congelado, qualquer lugar que batesse doía, sentiu os olhos se enxerem de lágrimas. Aproveitou a deixa e começou a chorar, isto é, berrar o mais alto o possível até atrair os guardas da casa.

O primeiro guarda a ver o menino, foi correndo saber o que tinha acontecido. Quando Jooheon passou a berrar o mais alto ainda, outros três seguranças se aproximaram ─ o plano estava dando certo.

Continuou gritando cada vez mais desesperadamente, até ser conduzido para a cabine de segurança. Seu pai tinha acertado em cheio, eram seis no total, vigiavam a noite inteira e deixavam os portões apenas encostados, sem trava.

A cabine ficou pequena, com os seis homens mais o menino chorão. Lhe perguntaram o que tinha acontecido e o menino chora mais ainda, balbuciando algo parecido com “meu pai” e “sozinho”.

Os guardas estavam começando a entrar em desespero. Meia hora se passou, e a campainha da casa foi tocada. Era Taejo, que tinha prometido vir buscar Jooheon.

─ Com licença, vocês viram o meu filho? ─ fala retirando o cachecol do rosto ─ É um menininho de oito anos, pequenino e bochechudo, estávamos voltando do Auto de Natal, ele viu alguma coisa na rua e saiu correndo.

─ PAAAAI! ─ Jooheon berra, o que parecia ser um dos seus talentos.

─ É esse? ─ brinca um dos seguranças ─ Que bom que o senhor apareceu, já íamos chamar a polícia.

Taejo pega Jooheon pela mão, e os dois caminham até os fundos da casa, onde o carro estava estacionado. A casa dos Chae ocupava um quarteirão inteiro e era uma das mais desprotegidas. Enquanto Jooheon abria o berreiro, Taejo tinha entrado pela porta dos fundos e recolhido todos os presentes que o tempo lhe permitiu.

─ Tudo isso? ─ Jooheon deixa o queixo cair ao olhar para os bancos de trás do Opala.

─ Sim e eu nem peguei tudo ─ ri ligando o carro ─, tem mais no porta malas. ─ Jooheon arregalou mais ainda os olhos ─ Coloca a máscara, nós vamos entregar nas Igrejas de Miluneun e Desdre.

─ Por que a máscara?

─ Porque se reconhecerem a gente, eu vou para a cadeia, e você para um reformatório. Bem-vindo ao mundo do crime filhão.

 

 

24 DE DEZEMBRO DE 2007.

 

─ Jooheon? ─ chama abrindo a porta da casa ─ Moleque onde você se meteu? ─ pergunta olhando no porão ─ Jooheon?

─ Eu ‘tava dormindo. ─ o menino aparece no corredor, com os olhos mais fechados que o normal ─ Realmente precisa chegar gritando desse jeito? Grita só uma vez, meus ouvidos ainda estão ótimos.

─ Temos que abrir os presentes.

─ Mas acabou de escurecer, nós combinamos que a gente ia roubar aquela árvore grande de Natal em Gaehwa essa madrugada. ─ fala fazendo bico ─ E só depois que a gente voltasse, a gente ia abrir os presentes.

─ Aconteceram alguns problemas. ─ fala pensando numa maneira de explicar tudo aquilo para Jooheon ─ Acontece que o pai não foi tão cuidadoso com alguns corpos. Lembra do que eu te ensinei? Como nós nos livramos de um problema?

─ Morte. Porque cadáveres não falam.

─ E qual a melhor forma de se livrar de um cadáver?

─ Você corta alguma parte do corpo para ter uma garantia ─ tenta se lembrar do resto ─ E depois queima, porque as cinzas não possuem impressão digital.

─ Digamos que o seu pai cometeu esses dois erros. Não sei quem vem me buscar primeiro, a polícia, ou os rosinhas.

─ Mas eles não podem entrar aqui né pai ─ fala se lembrando de como funcionava a política da gangues ─, moramos no território dos vermelhinhos. ─ justifica ─ Mas pai, e o nosso Natal?

─ Moleque eu tenho que fugir antes que eu morra. Se eu sobreviver, te levo para fazer algum serviço comigo durante o ano. ─ Jooheon ainda estava chateado ─ E pegamos a maldita Árvore de Natal no próximo Natal, está com fome? Eu trouxe lámen.

Ambos se sentam à mesa e passam a comer em silêncio.

─ Pai, por que você me ensina como matar as pessoas? Eu conheço o corpo humano de cabo a rabo. Sei como torturar uma pessoa por meses sem matar, sei como causar uma morte rápida, além dos jogos psicológicos. E eu tenho apenas nove anos. Por que?

─ Porque é o máximo que eu posso fazer como seu pai. Te ensinar tudo o que eu sei e como fazer isso sem ser descoberto. Te falar como sobreviver no mundo real sem ser morto por eles. ─ Jooheon levanta o olhar para encarar o pai ─ É como uma arte de família, seu avô também trabalhava com isso, acredito que o avô do seu avô também.

─ Eu não sabia.

─ Cabe a você decidir se vai me seguir ou não. Vamos abrir os presentes.

Jooheon termina de comer em silêncio. Era a primeira vez que o pai comentava sobre a família sem que o menino tivesse feito o questionamento. Conseguia claramente enxergar uma linha do tempo.

Bom, a outra família Lee, aquela que fazia parte das Tradicionais, trabalhava com tecidos desde o descobrimento do algodão. Repassar as próximas gerações era quase uma tradição.

─ Vamos ver o que você comprou para mim. ─ fala Taejo abrindo a grande caixa colorida ─ É um suéter?

─ É um conjunto, o suéter, as luvas, o gorro e o cachecol ─ Jooheon fala apontando para as coisas dentro da caixa ─, falei para a tia fazer tudo preto porque é a sua cor favorita.

Taejo faz uma careta ao ouvir que preto era a sua cor favorita e começa a vestir o suéter. Na altura do peito, linha horizontais vermelhas e rosas se cruzavam, formando uma estampa inusitada. As cores eram uma metáfora.

─ Encomendei com a mãe de um amigo meu, ela faz tudo com tricô ─ comenta vendo o casaco servir certinho ─, tudo mesmo. Eu ia pagar com o dinheiro que o senhor me deu mas no final ela esqueceu de cobrar e eu fiz questão de não lembrar ela.

─ Estou criando um monstro.

─ Pedi pra tia recortar os dedos porque o pai usa muitas armas de fogo. ─ ignora o comentário do pai ─ E aí? Gostou?

─ Nada mal moleque. ─ diz tirando o casaco ─ Agora abre o meu presente. São duas armas não letais para defesa pessoal. ─ Jooheon abre a embalagem laranja primeiro, curioso ─ A arma de pressão que você pediu de aniversário, mas eu não comprei pois você ainda não sabia usar.

─ Essa é daquelas que não machuca gente, mas pode matar animais pequenos né pai ─ abre a caixa de papelão se surpreendendo ─ Airsoft, gostei. Posso treinar nos alvos lá em baixo? ─ ele manuseia o brinquedo vendo que funcionava igual arma de fogo, tinha um gatilho, mas as balas eram de chumbinho.

─ Pode, mas arruma a bagunça depois. Na outra caixa tem uma arminha de choque, essa é perigosa, ainda estou receoso quanto a colocar nas suas mãos.

─ Pai eu já tenho nove anos, sou quase um adulto.

─ Não tem nem barba na cara ainda moleque. ─ os dois riem ─ Essa Taser mata humanos.

─ Que legal!

─ Legal nada. ─ toma o brinquedo da mão do filho ─ Um disparo, vai paralisar o indivíduo. O choque impede a comunicação entre o cérebro e os músculos da pessoa. ─ explica de forma que Jooheon entendesse ─ Quando disparado mais de três dardos, dependendo a condição física da pessoa, causa uma parada cardíaca.

─ Massa!

─ Qualquer uma das armas, evite os pontos vitais. ─ o menino concorda com a cabeça ─ Em algumas pessoas, pode causar danos permanentes. Lee Jooheon eu não estou brincando.

─ Eu também não estou brincando, elas parecem muito legais! ─ recebe um tapa na orelha pela ousadia ─ Porque você pode e eu não?

─ Quando foi que você se tornou tão brincalhão?

─ Isso soou um pouco hicocrita.

─ Um pouco o que?

Hicocrita! ─ repete e Taejo cai na gargalhada ─ Hipócrita, é assim? ─ o homem concorda com a cabeça ainda rindo alto ─ Pai o que são aquelas luzes azuis e vermelhas se aproximando?

No mesmo instante, Taejo para de rir e guarda as duas arminhas de Jooheon de volta na embalagem e as coloca embaixo da Árvore de Natal. Mesmo não-letais aqueles brinquedos eram apenas para uso de policiais e estabelecimentos autorizados.

O barulho das sirenes aos poucos foi se aproximando da Rua dos Moleiros. Dois carros de polícia rapidamente estacionam na frente do número 137.

─ Pai, eu não quero ficar sozinho.

─ Jooheon de quem você é filho?

─ Do meu pai. ─ responde, já com os dois olhos cheios de lágrimas.

─ E o que você é?

─ Eu sou forte. ─ fala dentre um soluço.

─ Lembra de tudo o que eu te disse, e você vai ser um campeão.

─ Lee Taejo, eu sou o Oficial Kim da Polícia metropolitana de Laus. Você está preso pelo assassinato do estudante Kim Jonghyun. ─ a porta é arrombada e o menino se esconde no corredor escuro ─ O senhor tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo o que você disser poderá e deverá ser usado contra ti no tribunal. Você tem direito a um advogado e a um telefonema. ─ Taejo sorri calmamente para o corredor escuro ─ Entendido?

Jooheon saiu do seu esconderijo apenas quando o barulho das sirenes já ecoava longe. Levou as duas arminhas novas para o porão e as guardou ao lado da .38 do pai. Não sabia direito do que se tratava o emprego do mais velho, porém tinha medo.

Medo de não ter companhia, medo de ficar sozinho, medo de ser abandonado.

Sentou-se perto de um dos alvos e recomeça a chorar. As lágrimas corriam grossas pela face da criança bochechuda sem soltar som algum. Chorou por medo do pai não voltar para casa nunca mais, chorou por não conhecer ninguém para o ajudar, chorou por não ter uma família para acolhê-lo.

Acabou dormindo ali mesmo, no porão da casa 137 da Rua dos Moleiros. Depois de algumas horas, um homem de meia idade entrou pela porta da frente utilizando uma das inúmeras chaves presentes em seu molho com chaveiro de estrela. Entrou na casa como se fosse sua e pegou a criança de nove anos ainda dormindo no colo e a colocou deitada no banco traseiro do Opala 69.

O desconhecido solta um longo suspiro antes de retirar o mesmo molho do bolso e ligar o carro e sair dirigindo na direção do Centro de Ravelle.

Quando Jooheon acordou, o dia de Natal já tinha amanhecido. Estava devidamente coberto com um cobertor quente, deitado sobre uma superfície macia num lugar que não conhecia. Se sentou rapidamente no colchão no chão já calculando qual seria a rota mais rápida para fugir dali.

─ Calma menininho ─ escuta uma voz levemente rouca ─, sou amigo do seu pai. Ele me pediu para cuidar de você por um tempinho.

Jooheon coça os olhos e tenta focalizar. Tinha um homem tomando algo numa xícara, parado a sua frente. Se vestia inteiramente de preto e estava com os pés calçando apenas uma meia branca. Analisou-o de todos os ângulos e teve certeza que que nunca o tinha visto.

─ Um gato comeu a sua língua? ─ pergunta em meio a um gole ─ Estranho, Taejo sempre comentava que você era um rapazinho falante, eu devo ter esquecido de alguma coisa. ─ Você já comeu hoje? ─ a pergunta faz um clique na memória de Jooheon ─ Eu estou sem comer desde ontem à noite, devo ter comido algo que fez mal ao meu estômago.

─ Quem é você? ─ estranha.

Ele havia citado a que tinha estabelecido com o pai há dois anos atrás, para casos emergenciais. Repetido palavra por palavra, a mesma frase, repetiu até a jogada de mão e o sorriso no final. Chegava a ser assustador.

─ Cho Baekah, mas algumas pessoas me chamam de Corvo. ─ fala e Jooheon começa a simpatizar com o homem ─ Parece que Taejo te treinou muito bem.

─ Corvo? Que nome feio, parece aqueles animais que comem os cadáveres. ─ o homem ri ─ É amigo do meu pai né? Vou te chamar de Tio, Corvo é horrível.

─ Onde eu aperto para desligar você?

─ Desculpa, eu só fiquei feliz, pensei que eu fosse ficar sozinho para sempre. Como conhece o meu pai?

─ Longa história.

─ E que lugar é esse? ─ pergunta animado ─ Por que tem um ringue de luta lá atrás?

─ Esse aqui é o QG da Iniciativa Dimas ─ explica se abaixando para encarar Jooheon ─, tem um ringue lá atrás porque aqui nos preparamos para a guerra. Você vai ficar aqui comigo até o Taejo-ah voltar. ─ explica e o menino se entristece novamente ─ Jooheon, quer aprender lutar muay thai?

 

 

24 DE DEZEMBRO DE 2011.

 

─ O senhor conhece o “Buffet 04Km”? ─ o homem amarrado na cadeira acena com a cabeça em confirmação ─ É um buffet que está trabalhando arduamente nesse Natal. Eles receberam uma encomenda absurda né moleque?

─ É verídico. ─ Jooheon confirma entrando no escritório arrastando o taco de beisebol no chão.

─ 350 porções de kimchi, 225 pratos de japchae, 175 porções de tteokguk e 100 de bulgogi. ─ termina lendo tudo num bloco de notas ─ Eu falei certo moleque?

─ Falou. ─ responde se aproximando da janela ─ Ei, ei tem alguém abrindo o portão.

─ O sistema de segurança dessa casa não é brincadeira ─ Taejo ri ─, com quanto o senhor gostaria de contribuir? ─ pergunta ironicamente, retirando a fita da boca do Park ─ Não podemos deixar aquelas famílias sem algo decente para comer neste Natal.

─ Eu con-concordo, exatamente por isso que deveriam parar de vagabundear e procurar um emprego! ─ ao terminar a frase recebe uma esbofeteada de Taejo.

─ Acha que estou brincando.

Jooheon sai do quarto, atravessa o corredor e entra no quarto a frente. Olha pela janela, tudo limpo nos fundos da casa, então volta para o escritório.

─ Ei, moleque, adiciona mais 30 chesters na lista e calcule o orçamento.

─ Uns 12 milhões de won paga tranquilo. ─ confirma com a cabeça, voltando ao seu posto na janela ─ Pai, tem gente entrando pelo portão da frente.

─ Quantos?

─ Contei dez.

─ Eles vão pegar os dois. ─ o Park se intromete novamente ─ Você vai preso, e o pequeno direto para o reformatório.

Com a declaração, Taejo não hesita antes de engatilhar a arma e acertar a perna direita do Park. Após alguns segundos, uma quantidade absurda de sangue passa a jorrar do local.

─ Por que todo mundo tá tentando me enfiar num reformatório? ─ Jooheon cantarola observando outros carros chegando na casa ─ Ele não está brincando, e eu acho que tá entrando mais alguns homens ─ se vira para os adultos ─, altamente armados.

─ Me passa a minha carteira ─ com as mãos levemente trêmulas, o homem abre o objeto e preenche um talão de cheque a vista, tendo a amada .38 apontada no abdômen.

Taejo revira os olhos assim que enxerga a quantidade de zeros no papel. Não tinha tempo para fazer nada, aquela merreca seria suficiente por aquela noite.

Não deveria matar uma pessoa na frente de Jooheon, mas estava sendo pago para aquilo. Excluindo o fato de que o homem havia visto o rosto de Jooheon. Cadáveres não falam e nem mandam seu filho para reformatórios. Contou até três e disparou certeiramente no coração.

─ Pai, você matou ele.

É o meu serviço. A mim foi atribuído e eu o faço. ─ recita recolhendo seus pertences ─ Pega o talão de cheque e corre moleque.

Jooheon resolveu não pensar muito no assunto, acabaria se magoando com o pai. Se ocupou em cobrir novamente o rosto com a máscara e correr escada abaixo. As roupas inteiramente negras o camuflavam com o negrume da noite.

Foi até fácil deixar a casa. Seu primeiro desafio foi no quintal, quando um brutamonte lhe encurralou e fez com que perdesse o bastão de beisebol. Se sentiu como Davi, no dia em que matou Golias. Correu o mais rápido possível pelo jardim para cansar o monstro e bolar um plano. Estava com a sua taser no bolso, não deveria ser tão difícil.

O gigante ─ como Jooheon passou a chamá-lo ─ logo o alcançou e tentou pegar o menino no colo. Obviamente, permitiu para subir no seu pescoço e tentar uma chave de perna fracassada.

Forçou com as duas pernas no pescoço do homem, o fazendo cambalear por todo o jardim. Notou que quando chutava na direita, o homem dava dois passos para a esquerda e vice-versa.

Continuou no mesmo ritmo, se balançando o máximo o possível para o monstrão perder a sua noção de direção. Quando percebeu já estavam caindo dentro da piscina. Antes de receber o impacto, a única coisa que Jooheon conseguir salvar foi a sua taser, a lançando no gramado segundos antes de cair na água quente.

Água morna. A piscina estava ligada a algum sistema estranho que evitava que a água ficasse suja ou congelasse. Nadou até a escada antes que o homem recobrasse a consciência, mas foi lento demais.

Ouviu o barulho do gatilho sendo puxado e em seguida a perna ser atingida. Pulou o mais rápido possível para fora e recolheu a arminha jogada no chão. Água era um ótimo condutor de eletricidade.

Mas Jooheon não tinha coragem de lançar um dardo na água e ver o homem morrer. Olhou para a panturrilha e agradeceu a Deus ─ se é que ele existe ─ pelo tiro ter passado de raspão.

Outros tiros foram ouvidos dentro da casa. Jooheon então correu como pode até o portão. Desde que começara a participar de alguns “serviços” com o pai, os dois possuíam uma espécie de código de como agir quando estivessem separados. Assim como a senha que tinham quando Jooheon era mais novo.

Naquela situação, Taejo estava “dando cobertura” para que o menino fugisse. Quando tentou correr novamente, sentiu a panturrilha queimar e a perna falhar. Alcançou o portão e arrastou uma perna até o Opala 69.

Estava pronto para discar o número de Baekah quando o pai apareceu na esquina, com as roupas manchadas de sangue. Pelo o que entendia, Baekah era o chefe do pai. O cara que lhe entregava a lista de pessoas na qual deveria matar. O homem era também o seu responsável secundário.

Jooheon desconfiava que fora ele quem retirou o pai da cadeia.

─ Sei que a perna tá doendo. ─ Taejo diz assim que entra no carro ─ Você nunca fica quieto por muito tempo, eu te conheço, sou seu pai lembra? ─ diz e não obtém resposta ─ Moleque, ‘cê tá bravo comigo? De onde você acha que vem o dinheiro que eu pago nossas contas?

Continuou dirigindo pelas ruas silenciosas de Laus. O carro rangia a cada curva mesmo não estando tão velho assim. Logo teria que trocar de carro, estava usando o Opala há muito tempo, a polícia desconfiaria.

Por um milagre, as ruas de Ravelle estavam limpas. Toda a neve acumulada nas calçadas tinha desaparecido como mágica e o asfalto estava molhado ─ também tinham jogado sal. Quase chorou quando conseguiu entrar com o carro na garagem do número 137.

─ Eu vi o que fez na piscina, devia ter matado o cara, apenas um dardo da taser. Teria feito aquela água ferver, você sabe disso, não sabe? ─ para de falar assim que nota o menino dormindo no banco.

A cabeça estava presa apenas pelo cinto de segurança e um pouquinho de baba escorria pela boca. Por um lado, era fofo. Até pensou em leva-lo no colo, mas ele não era mais um bebê.

Enquanto limpava o ferimento, já dentro do quarto do menino, percebeu o quanto o tempo tinha passado. Treze anos desde aquele dia horrível na maternidade, treze anos desde que parou de se preocupar apenas consigo mesmo.

Pensou se Jooheon entraria para a faculdade, se ele encontraria alguém e lhe daria netos, se iria arrumar um emprego no exterior. Ou se iria permanecer na Rua dos Moleiros. Vivendo com o seu velho pai paranóico. Então ele acordou.

─ É só carne. ─ fala enrolando uma gaze no ferimento na perna ─ Todo mundo tem pele, se cortar sai sangue, é uma lei universal ─ Jooheon estava quase caindo no sono novamente ─, é isso que nos torna humanos, que nos faz iguais. Desde os maiores que mandam nessa cidade, até os mendigos que comem as migalhas. ─ sentira saudades daquelas lições que dava no menino ─ Se você cortar, sai sangue, são humanos, gente como a gente. Por isso, trate todos da mesma maneira.

─ Mas você não faz isso. ─ diz com uma voz embolada de sono.

─ Faça o que eu digo, não o que eu faço.

 

 

25 DE DEZEMBRO DE 2013.

 

─ Feliz Natal Hyunwoo-hyung.

─ Você realmente veio. E está sendo bem educado? ─ pergunta amarrando os sapatos ─ E me chamou de hyung? Isso é novidade.

Jooheon se aproxima do mais velho e analisa todo o local. Parecia um antigo ringue de luta abandonado. O teto ruiria a qualquer momento, as paredes tomadas pelo mofo e o chão completamente sujo.

─ Eu disse que viria. ─ fala colocando a mochila sobre uma das cadeiras ─ O que vamos fazer hoje?

─ Está animado para se movimentar... Isso tá estranho, o que você fez ontem à noite? Sexo?

Shownu retira o casaco de moletom e Jooheon torce o nariz com a lavagem vermelha da peça.

─ Assaltei um banco, foi divertido. Não faço essas coisas promíscuas, sou um rapaz puro que louva apenas ao senhor. ─ diz sério antes de também cair na gargalhada ─ Eu e meu pai fazemos coisas divertidas no Natal.

─ A família de vocês é estranha. ─ fala se encaminhando até um armário, que também estava caindo aos pedaços ─ Teve uma vez que vocês roubaram uma Árvore, eu só acreditei quando vi a notícia na televisão. ─ abre a portinha e retira duas luvas de boxe lá de dentro ─ Como conseguiram arrastar um pinheiro de 25 metros do Centro até aqui?

Hyunwoo pega as luvas vermelhas e deixa as pretas para Jooheon. Só poderia ser uma ironia. Caminha lentamente na direção do rinque e o Lee vai atrás gritando, como sempre.

─ Nós desmontamos, oras! ─ responde o óbvio ─ Ontem foi legal, eu ameacei matar uma moça. ─ Hyunwoo arregala os olhos ─ De verdade, acho que ela acreditou que eu teria coragem.

Ambos começam a desenrolar as ataduras e aos poucos cobrirem toda a superfície das mãos.

─ Sabe boxe?

─ Sei. ─ Jooheon lhe responde seriamente.

Hyunwoo não força nada. Calça as luvas e vai para um dos cantos do ringue. Jooheon veste as próprias luvas e dá alguns pulinhos. Mania estranha.

Acompanha o mais velho para o meio do ringue e os dois se encaram por instantes. Jooheon flexiona os joelhos e tenta dar o primeiro soco, Hyunwoo protege com uma mão e soca o adversário com a esquerda. Jooheon se recupera rápido e inicia uma sequência de socos rápidos, fazendo com que Hyunwoo recuasse até as cordas.

Tenta se defender de Jooheon, mas o menino era mais rápido. Tinha iniciado um sub-nocaute até ser empurrado novamente para o centro do ringue, onde recebe alguns socos no abdome.

Dá alguns passos para trás até ser pressionado contra as cordas do outro lado do ringue. Levanta as mãos em defesa antes de acertar em cheio a boca de Hyunwoo. Aproveitando os instantes em que ele permaneceria imobilizado, volta a socá-lo numa sequência absurda intercalando entre o rosto e a lateral da cabeça.

Hyunwoo levanta a mão pedindo uma pausa e Jooheon interrompe o nocaute. Fracote, ainda nem estava usando toda a sua força.

─ Quem te treina?

─ Não posso falar. ─ Jooheon fala automaticamente se referindo a Baekah.

Hyunwoo alcança uma garrafinha de água para Jooheon e ambos se sentam ali mesmo no chão do ringue. Jooheon não estava nem mesmo demonstrando sinais de cansaço, seja lá quem o treinava, a pessoa era boa.

─ Meu pai queria que eu matasse ela ─ diz ao vento ─, a moça no banco ontem. ─ específica ─ Ela viu o meu rosto, se saísse um retrato falado eu finalmente iria pro reformatório.

─ Sabe que é errado matar as pessoas né.

─ Eu já tenho uma no currículo. ─ ri, dando outro gole na garrafinha ─ Foi no verão, se eu não matasse ele, ele iria me matar. Até hoje eu não superei. ─ Hyunwoo exibia um olhar perplexo ─ Foda-se todos esses seus conceitos de ética.

─ Teu pai não te faz bem, você ainda vai acabar matando outras pessoas.

─ E você? Membro de uma gangue desde os catorze anos ─ fala sem pensar ─, acha que vai continuar mantendo esse seu discurso puro até quando?

─ Jooheon para.

─ Você sabe o que os vermelhos fazem, eles transformam a sua vida. ─ diz, se referindo ao Manifesto ─ Quando você entra nessa vida do crime, nunca mais consegue sair.

Eu tenho que vingar o meu pai.

─ Vai fazer o que? Matar o Jaemin?

Talvez. ─ agora, quem fica surpreso é Hyunwoo ─ E você? Vai substituir o seu pai quando a Dinastia encontrar ele? Executar todos os nomes da maldita lista que sei lá quem manda pra ele.

─ Talvez. ─ fala automaticamente, surpreendendo Hyunwoo pela facilidade que levou o assunto.

─ Vem morar comigo, você tem quinze anos, não pode continuar sobre aquele teto.

─ Eu não sei. Meu pai é a única família que eu tenho ─ abaixa o tom da voz ─, a única coisa que me prende a esse mundo. ─ sorri fraco ─ Vou continuar na Rua dos Moleiros enquanto isso.

─ Está tomando a decisão errada.

Aish, você só manda na minha vida, tá pior que o meu pai, aliás, eu deveria começar a te chamar de Appa.

─ Chame então.

 

 

24 DE DEZEMBRO DE 2014.

 

─ Então eu desligo toda a energia da casa, penso eu que nessa hora da manhã todos estarão dormindo, então nem vão perceber a mudança. Então o pai pega os brinquedos, eu posso ficar de “guarda” para ninguém reconectar a energia.

─ É um bom plano. ─ Taejo elogia ─ Moleque, você será um bom líder.

─ Meu pai me criou para ser um líder. ─ responde guardando a planta da casa dos Lee ─ Pai, nós vamos roubar presentes de novo, igual na primeira vez, lembra?

─ Bons tempos, quando você não sabia atirar e me obedecia ─ responde em um tom falso de lamento ─, fazia aegyo de vez em quando também.

Cada um corre para um lado do porão e se armam em silêncio. Jooheon é o último a sair, apaga as luzes da casa e tranca a porta. Termina de colocar o casaco já dentro do Opala 69.

─ Pai, posso perguntar uma coisa? ─ Taejo acena com a cabeça sem deixar de prestar atenção na estrada ─ Por que o senhor mata pessoas?

─ Estava esperando por essa pergunta. ─ ri chegando a Saída 06A ─ Alguém tem que fazer o trabalho sujo. Matar é a coisa mais horrível que existe, acho que nunca te disse isso, mas matar envolve múltiplos tipos de crime. ─ Jooheon concorda ─ Há sete anos atrás, quando eu matei o Jonghyun de 27 anos, matei o Jonghyun de 30, o de 32, o de 40... É sequestro, roubo, destruição. Mas o mundo é egoísta e competitivo, alguém vai mandar e outro terá que obedecer. Não sei se você entende o ponto de vista.

Sobrevive quem está do lado certo, do lado vencedor.

─ A alternativa mais covarde que usa-se para vencer é incapacitar o outro. ─ continua seu discurso ─ É esse o meu trabalho, quando o seu avô morreu, jurei nunca mais matar ninguém ─ ri irônico ─, aí você nasceu e eu tive que colocar comida na mesa. Acabei ficando famoso e outros problemas vieram.

─ As facções criminosas. ─ Jooheon completa.

─ Não se tratava mais de colocar comida na mesa ─ troca de marcha, tinha começado a nevar, e a pista iria ficar escorregadia ─, passei a matar para sobreviver, para você viver. Te ensinei isso bem cedo, para eliminar um problema permanentemente, só com a morte.

─ Sim eu lembro.

Vai lembrar para sempre. ─ liga os faróis quando chegam na ponte entre Desdre e Goyang ─ Quando ensinamos algo quando a criança ainda está formando a consciência, fica para sempre, use com os seus filhos. ─ quem ri dessa vez é Jooheon ─ Seu avô que disse e eu respondi “nunca vou ter filhos”. ─ Taejo passa reto na Saída 03B que levava a Goyang ─ Nunca diga nunca. Tenta decorar isso, mesmo depois de grande.

Continuam naquela velocidade até a Saída 02A no bairro de São Domingos, onde iriam trocar de veículo.

─ Pai. ─ fala ouvindo o barulho do motor desligando ─ Obrigado, por tudo.

O pai sai do carro, caminha alguns metros e retira o molho de chaves com o chaveiro de estrelas do bolso. Testa pelo menos umas cinco chaves até conseguir abrir a porta e entrar no galpão.

─ A minha obrigação. ─ responde ouvindo a voz ecoar dentro do espaço vazio ─ Moleque, não vai perguntar sobre a sua mãe? Pode ser a sua última oportunidade.

─ Você teve dezesseis anos para falar e não disse nada ─ fala retirando o molho das mãos do pai ─, não vale a pena.

Agilmente, encontra as chaves da Yamaha e a retira do molho. Jooheon caminha até a única moto no local.

─ Tenta não morrer com essa moto por aí. ─ o pai responde abrindo a porta de uma das 4x4 ali dispostas. Jooheon chutaria uma Amarok, mas não tinha certeza.

─ Eu sou filho do meu pai ─ ri subindo na moto ─, não vai ser tão fácil assim me derrubar. ─ sorri antes de virar firme o acelerador.

Corta as ruas do bairro de São Domingos quase num tiro, atravessando a zona norte em instantes. Aquele galpão clandestino servia como uma garagem para os carros da ID. Aquela Yamaha YZF-R1 era na verdade um presente de Natal dado pelo próprio Baekah.

Sem dúvida, fruto de dinheiro sujo.

Em menos de cinco minutos estava na frente da casa da família Lee, a outra família Lee. O muro que circundava a casa era alto, mas da mesma maneira conseguia ver algumas luzes acesas na casa.

Deveria ter feito um Plano B.

Sem se deixar desanimar, começa a escalar a árvore. Sobe um galho a aproximadamente sete metros do chão e três metros da cerca elétrica do muro. Estava perto o suficiente, mas a altura era absurda, se caísse ali, acabaria morto, sem chance de sobrevivência.

Sente o telefone celular vibrar no bolso, deveria ser o pai avisando que já estava lhe aguardando nos fundos da casa. Não iria conferir, pois já estava se preparando para saltar.

Calculou mais uma vez o espaço e se concentrou. Contou até três e deixou o corpo cair. Suas costas passaram a milímetros do limite da cerca, um pouco preocupante. Alcançou o chão e realizou três cambalhotas para recuperar o equilíbrio.

No quintal da casa, estava tudo silencioso, e o seu baque também não fez muito barulho. Então correu, até o disjuntor e puxou a alavanca abaixo, desligando toda a energia da casa.

Depois de alguns segundos, escuta o celular vibrar novamente. Quando checou a mensagem, sentiu todo o sangue do corpo parar de circular.

“Não vá até Goyang, não agora, recebi um alerta de que dois carros rosas estão perseguindo a Amarok. Leve Taejo de volta a São Domingos, se não fizer isso, a Dinastia vai matá-lo ainda está noite”

Recebeu essa mensagem quando estava na árvore, a nova dizia. “Jooheon, a casa está repleta de rosinhas, prossiga com o plano sozinho, vou despistar alguns. Você está armado, não está?”

Jooheon xinga em todas as línguas possíveis. Deveria ter feito o Plano B. Colocou uma máscara no rosto e começou a entrar na casa. Primeiro passou pela sala de estar e seguiu no corredor, na direção da sala íntima, onde estariam os presentes.

Quando abriu a porta, escutou o primeiro tiro, vindo da sala íntima. Quando entrou no local, viu Jaehwa amarrado numa cadeira em frente à televisão. O homem estava muito bem acordado e com uma mordaça presa a boca.

O CEO da Essenziale. Jooheon quase riu antes de sinalizar para que este permanecesse em silêncio enquanto ligava a lanterna do celular, para desfazer o nó que o prendia a cadeira.

Felizmente, era um dos que o pai tinha lhe ensinado como desmanchar. Com as mãos firmes e ágeis, desfez os nós em instantes. Ouviu passos no corredor e decretou a “Operação Natal 2014” como efetivamente cancelada.

Malditos rosinhas. A porta da sala íntima foi arrombada e dois homens inimigos entram. O traço ninja das vestes e os detalhes em rosa os denunciava. Dinastia.

─ Finge que ainda está amarrado. ─ fala no ouvido de Jaehwan.

Viu cada um deles retirar um punhal do cinto. Se levanta e espera pelo ataque, o da esquerda caminhou lentamente na sua direção. Cada passo que ele dava, Jooheon dava dois para trás.

Quando tropeçou no primeiro presente, Jooheon aproveita a quase queda para dar uma rasteira no primeiro e retirar a Glock .40 do bolso. Adoraria brincar de ninja com os homens, mas não tinha tempo para isso.

Dois tiros. Os rosinhas raramente usavam coletes a prova de balas. Apenas catorze balas na pistola, e seis mortes no currículo. É importante não se perder nas contas.

O outro homem corre na sua direção. Jooheon trava o maxilar e espera pelo baque. Sente primeiro o perfume forte do outro lhe atingir em cheio e seus braços rodeando a cintura. Cai por cima de algum brinquedo pontiagudo, devido ao peso e altura do homem, poderia ter fraturado seriamente as costas.

Rapidamente, apalpou o cinto até encontrar o punhal para apunhalá-lo pelas costas. Uma, duas, três, quatro facadas e ele estava desmaiado. Viu quando Lee Jaehwan se levantou da cadeira. Pensou que o aristocrata iria embora, porém ele se aproximou de Jooheon e ajudou a retirar o criminoso de cima de si.

─ Obrigado. ─ fala grato, se levantando do chão.

Retirou a pistola novamente do coldre da calça e disparou duas vezes contra a cabeça do rosa. Doze balas, sete mortes.

Ouve alguns tiros no quintal. Sorri mais uma vez para o Lee e deixa a Glock engatilhada. Viu de relance seu pai brigando com alguém próximo ao muro. Passa pela sala de jantar e logo que sai para o jardim, é cercado por outros homens. Trava o maxilar e sorri seco.

Soco, chute, tiro, desvia, soco, defende, soco, defende, soco, chute, desvia, chute, tiro. Onze balas, oito mortes. Outra sequência devastadora se inicia. Dois tiros, nove balas, nove mortos. Agora faltava apenas um.

Outro tiro, mas não era seu. Olhou para o gramado, seu pai estava no chão e um homem ria caminhando pelo quintal. Outros rosinhas pularam o muro e Jooheon correu na direção em que Taejo estava sem pensar duas vezes.

Destrava a Glock novamente. Um tiro para frente, outro para trás. Atingiu o coração de um, e a perna do outro. Sete balas, nove mortos. Agora estava perto o suficiente para ver que haviam atingido o estômago de Taejo.

Estômago, ponto vital importante, faz a pessoa morrer aos poucos, sentindo uma dor alucinante. Ótimo método de tortura.” Ouviu a voz do próprio pai na cabeça há alguns anos atrás.

─ Moleque, mate o desgraçado que matou o seu pai. ─ Taejo grita se engasgando no próprio sangue.

─ Se afastem, eu assumo a partir daqui. ─ o homem da Dinastia diz.

Jooheon se levanta de onde estava e encara o bandido. Ouve passos correndo atrás de si, pessoas estavam escalando e pulando os muros. Sem eletricidade, as cercas não funcionavam.

Antes que ele conseguisse engatilhar a própria arma, Jooheon o chuta, levando o homem ao chão. Inicia um nocaute, socando sem poupar os próprios punhos. Taejo tinha cuspido sangue, não sobreviveria.

─ Jooheon ─ diz com a voz fraca ─, mate o desgraçado que matou o seu pai. ─ foi a última ordem que deu ao menino.

Ele se levantou do chão e mirou no coração do desgraçado. Seis balas, dez mortos e um órfão.


Notas Finais


FIQUEM ATENTOS NESSA RELAÇÃO SHOWNU X JOOHEON, VAI SER IMPORTANTE PARA O DESENVOLVER DA HISTÓRIA!!! taejo também é um personagem que nao podemos esquecer!!!!!!!

Amiguinhos, muito obrigado mesmo por estar lendo!!! Até mesmo você que visualiza mais nunca se manifesta, eu acompanho os números, e sorrio cada vez que as visualizações aumentam!!
Essa foi a forma mais singela que eu encontrei pra alegrar o Natal de vocês!! Que alegram mais ainda a minha vida a cada dia!!! <3
FELIZ NATAL PRA TODO MUNDO!!!!! ESSE É O MELHOR PRESENTE QUE EU JA PREPAREI PRA ALGUÉM!!! (espero que esteja tão bom quanto eu imaginei ahaha)

eu tô tão soft.
Flw :)


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