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História Love Affair. - O passado vem à tona.


Escrita por: girltude

Notas do Autor


Como prometido, voltei hoje. Viram só, eu nem sou tão ruim assim! Boa leitura!

Capítulo 27 - O passado vem à tona.


Reagan

Bessie me ignora a viagem inteira, não olha pra mim, não me dirige a palavra e muito menos encosta em mim. Qualquer mínimo deslize que faça nossos corpos se encostarem, ela faz questão de se afastar rapidamente, como se eu fosse portadora de uma doença altamente contagiosa e que ela precisa manter distância. Isso está começando a me estressar. Por que às vezes ela precisa ser assim, tão infantil e tão marrenta, e mesmo estando mal, não aceita os meus cuidados? Ela insiste que Kevin deve levá-la direto para sua casa, mas eu preciso que ela venha comigo até a minha, preciso cuidar dela e não posso deixá-la sozinha em um momento como esse porque ela não tem ninguém que lhe ajude, ela só tem a mim. Ou não? Esqueço por um momento que uma mulher salvou a sua vida, mas não consigo parar de me perguntar quem é essa pessoa misteriosa. E por que infernos a Bessie estava com outra? Será que estavam em um programa ou coisa do tipo? Não sei porque ainda penso nisso se eu já sei qual é a resposta.

Ela dorme com outros, é isso o que faz para ganhar a vida, e é isso o que estava fazendo ontem enquanto eu, trouxa, estava sofrendo por ela, preocupada com o seu sumiço repentino e porque ela estava me ignorando. Por um momento cheguei a pensar que Bessie poderia estar com ciúmes do beijo que eu dei em Carter, mas não, ela estava com outra e eu ainda me disponho a cuidar dela mesmo sabendo disso. Chega a ser irônico, sabe? Esse tal de amor é mesmo irônico, pra não dizer ridículo, porque ao mesmo tempo em que você pode odiar uma pessoa, você também é capaz de amá-lo tanto ao ponto de passar por cima da sua dignidade ou do que lhe resta dela. E logo eu, que tantas vezes disse para mim mesma que nunca mais me apaixonaria por alguém, me encontro agora em uma posição não muito diferente da que me fez pensar dessa forma.

Meu ex-namorado não era nenhum viciado em drogas, mas tinha um sério problema com elas, porque sempre que estava chateado, corria para usar. Sem contar o tanto de chifres que ele colocou em minha testa todos os dias. Pablo me traía o tempo inteiro e eu sabia disso, mas sempre preferi fazer de conta que não via, achava que uma hora ele ia acordar e se dar conta de que eu era a mulher ideal para sua vida, mas não. Eu não era a namorada que ele queria, porque eu não usava drogas, não o acompanhava em baladas e festinhas com os seus amigos traficantes e, principalmente, eu não me entregaria para ele até o casamento. É, eu sou mesmo uma idiota, mas é isso o que o tal do amor faz com a gente, nos torna idiotas.

— Vamos fazer uma pausa pra comer, estou morto de fome — Kev diz, olhando para mim pelo retrovisor.

— Ah não, Kevin! — exclamo. — Não faz nem uma hora que pegamos a estrada e você já quer parar pra comer?

— Não tenho culpa se você me tirou de casa às quatro da manhã para vir em outra cidade buscar sua donzela, agora tem uma fera dentro de mim que precisa ser alimentada — brinca.

Estacionamos em frente a uma lanchonete de beira de estrada. Entrando no local, não há nada que me surpreende, é exatamente como qualquer outra. Sentamos em uma mesa vazia e um garçom muito risonho se aproxima de nós, para anotar nossos pedidos. Bessie está muito distante, totalmente absorta em seus pensamentos, e fita o nada à sua frente, se negando a pedir alguma coisa.

— Você precisa comer... — insisto, mas ela nega com a cabeça. — Bessie, por favor, pede alguma coisa. Qualquer coisa.

— Que tal um suco de laranja? — o garçom sugere, passando sua língua nojenta por sobre os lábios. A maneira como ele olha para Bessie é clara o suficiente para demonstrar quais são suas verdadeiras intenções para com ela e não me parecem nada boas. — É rico em vitamina C.

— Traz um suco pra ela — Kev empurra o cardápio contra o garçom, que o pega e sai para a cozinha. — Espero que a comida daqui seja boa, não posso pegar a estrada de novo com o estômago vazio.

Bessie olha diretamente para mim e me sinto estranha. Qual é a dela? Por que está me evitando e me olhando desse jeito? Não fiz nada para merecer isso, preciso dar um fim nesse clima o quanto antes.

— Não quis comer nada, mas está me comendo com os olhos.

Ela bufa e vira o rosto para não me deixar ver o sorriso brincalhão que se forma em seus lábios, contra a sua vontade.

— E você adoraria que eu te comesse de outra maneira — revida atrevida. — Não sei o que você está fazendo aqui, Reagan, o que deu em você? Sua namoradinha Carter sabe que você está aqui comigo? Porque se não souber, estou certeza de que ela vai odiar quando descobrir.

Kev tamborila a ponta de seus dedos sobre a mesa, fazendo nós duas pararmos com nossa discussão. Ele passa a mão no cabelo de um jeito sexy, despertando olhares de algumas mulheres do local. Kevin é muito discreto, do tipo que passa despercebido e ninguém é capaz de olhar para ele e julgar. Não que para ser gay tenha que ter uma personalidade ou um tipo pré-definido, mas é notório o quanto ele é diferente.

— Por que vocês duas não param de discutir e fazem as pazes logo? — sua voz é rígida. — Não aguento mais essa historinha — e olhando para Bessie, continua: — Ela beijou a Carter, ok, mas foi só isso. Para com esse ciúme bobo e pelo menos agradece a Reagan por ela largar tudo e vir buscar você.

— Vai se foder, Kevin! — exclama a marrenta. — Não venha com o seu discurso pacifista para cima de mim. Você não é a Nadia e nunca vai ser, então por favor, para de querer agir como se fosse.

— Bessie... — chamo a atenção quando todo mundo ao redor começa a olhar em nossa direção — Se você está assim por conta daquele beijo que eu dei na Carter...

Ela respira fundo e cerra o maxilar, me dando a confirmação que preciso, mas continuo:

— Se está assim pelo beijo, sinto muito, mas não vou pedir desculpas — ela olha para mim incrédula. — Você transa com metade da cidade e eu tenho que pedir desculpas a cada vez que eu der um beijo em alguém que não for você?

— Isso significa que vai continuar beijando, Reagan? — questiona com raiva.

— Você tem a sua liberdade e eu tenho a minha — respondo sincera. — Você faz o que bem entende da sua vida e eu acho que tenho o mesmo direito. Isso não é um namoro, eu paguei por você! — as palavras praticamente saltam da minha boca.

Bessie abaixa a cabeça, parece magoada com o que eu acabei de dizer. Seus olhos marejam, mas ela balança a cabeça para afastar as lágrimas quando o garçom chega com nossos pedidos e nos serve discretamente. Quando ele sai, ela dá um breve gole em seu suco de laranja e pigarreia.

— Como todo mundo faz: paga, usa e vai embora — seu tom de voz é baixo e rouco, magoado — Você pagou por mim assim como todos os outros, porque no final, você é exatamente igual a todos eles.

Nossas respostas uma para a outra são como facas sendo atiradas de ambos os lados, facas afiadas e prontas para causar um estrago enorme. E o pior nisso tudo é que, além de cortar, essas facas estão ferindo bem fundo. Eu não quero estar segurando a faca, esperando Bessie apontar a dela para mim para que eu possa revidar e me defender, então estou erguendo a minha bandeirinha branca da paz, esperando ela perceber que estou totalmente entregue à ela, sem armas e sem defesas.

Depois de matar nossa fome, seguimos nosso caminho ao som de uma das cantoras preferidas de Bessie e Kevin, Lana Del Rey. A melancolia da música transmite uma tristeza que me faz sentir falta de momentos que eu nunca vivi. A morena ao meu lado pousa a cabeça no banco do carro e, de olhos fechados, aprecia a melodia que lhe parece tão reconfortante. Lágrimas escorrem pelos seus olhos e eu sinto uma vontade enorme de estender a mão para secá-las, mas sei que Bessie não vai permitir.

Kevin canta baixinho. Sua voz passa quase despercebida ao volume mediano em que a música preenche o carro. Eu apenas fico olhando pela janela o movimento da estrada, é tudo vazio e cercado de árvores, dando um tom sombrio e sinuoso ao local.

Depois de quase duas horas de viagem, finalmente chegamos em Eugene. Passamos em frente ao colégio e, na praça que fica em frente à ele, vemos Meredith com uma garota que eu nunca vi antes, mas tanto Kev quanto Bessie parecem conhecer, pois ela resmunga alguma coisa que não consigo ouvir, mas ele faz questão de parar o carro para cumprimentá-la.

— Olha só quem voltou de Paris — diz empolgado. — A gêmea quase siamesa da maior patricinha que eu respeito. — Kev sorri e a garota desconhecida se aproxima do carro para lhe dar um beijo no rosto — Querida, viajar lhe fez muito bem.

— Fez um bem ainda maior para o meu closet — gaba-se e olha para o banco de trás do carro. Quando vê que é Bessie que está sentada lá, solta um gritinho que me provoca um pequeno susto. — Bessie... — mordisca o lábio inferior. — Você continua tão linda quanto o de costume.

— Drina! — Bessie cumprimenta, abrindo um olho para observá-la. Sua expressão não se altera, mas um meio sorriso brota do canto de seus lábios e é o suficiente para me fazer perceber que a marrenta ficou feliz de ver a novata, que talvez não seja tão novata assim. — Preciso concordar com Kevin, Paris te fez muito bem.

Meredith, que até então estava mais distante, se aproxima do carro e se debruça na janela do mesmo. Sua expressão preocupada me enoja, revira o meu estômago.

— Bessie, por onde andou? — questiona, intrometendo-se no meio da conversa — Por que não respondeu minhas mensagens ou atendeu as minhas ligações? Eu fiquei preocupada com você!

— Kev, será que pode adiantar? — pergunto antes que Bessie possa responder a patricinha. — Estou com um pouco de pressa.

— Claro, Reagan.

E despedindo-se das duas, dá a partida no carro.

— Se estivesse viva, Nadia ficaria enojada de saber que o melhor amigo dela agora fala com suas duas maiores inimigas — a morena comenta, despertando minha curiosidade.

— Não mais do que ficaria se soubesse que sua namorada até transa com elas duas!

E os dois riem escandalosamente, em uma espécie de piada interna entre eles. Sinto meu estômago congelar diante dessa última informação.

Minutos depois, Kevin deixa a mim e Bessie na casa de Danon. Não é uma tarefa fácil convencer ela a ficar, mas no final conseguimos. Eu quero estar por perto, quero poder cuidar dela e é isso o que eu vou fazer nas próximas horas, mesmo que ela não me queira ao seu lado. Mas de uma forma ou de outra, ela vai ter que me aturar, querendo ou não.

Com Bessie se apoiando em mim para poder caminhar melhor devido à sua fraqueza, quase caímos juntas quando ela tropeça em uma pequena pedra no caminho para a entrada da casa. Acabo rindo contra a minha vontade e ela, apesar de se esforçar muito, não consegue disfarçar o traço do sorriso no canto de sua boca. Toco a campainha. Como ainda é cedo, é provável que Danon não esteja em casa, o que é bom porque me dá tempo o suficiente para pensar em uma boa desculpa caso Hierly me dedure para ele. De qualquer maneira eu tenho que me preparar para a bronca que virá logo em seguida por ter saído escondida no meio da madrugada e por chegar em casa essa hora da manhã.

Não demora para que Hierly abra a porta, usando uma camisola de flanela e um suéter da mesma cor por cima, para se proteger do frio. Quando me vê junto com Bessie, sua expressão é de surpresa, mas logo abre passagem para que a gente entre. Na sala, Danon está sentado no sofá, apreensivo com alguma coisa, certamente com o meu desaparecimento. Bessie o cumprimenta com um sorriso forçado, mas Danon faz questão de retribuir com um aperto de mãos enquanto ajuda minha “amiga” a se sentar.

— Eu posso explicar... — começo e ele ergue suas mãos, como quem se rende, me dispensando de dar qualquer explicação. Hierly está do outro lado da sala, observando uma Bessie fraca no sofá. Seu olhar de preocupação me intriga, não se parece nenhum pouco com a mulher que disse absurdos ontem à noite. — Danon, a Bessie passou mal e eu não quis acordá-lo porque sabia que não me deixaria buscar ela no hospital...

— Reagan, depois conversamos sobre isso — seu tom de voz é sério. Olho para Hierly, que assim que nossos olhares se cruza, abaixa a cabeça. — Por agora, quero que se acalme e que mantenha a paciência, está bem?

— Com o que? — pergunto e ele fica calado, aumentando ainda mais a minha preocupação. — Danon, o que aconteceu? É a minha mãe? Aconteceu alguma coisa com ela?

— Reagan, calma. — Hierly tenta me tranquilizar. — Sua mãe está bem, ela está...

Olho para Danon, e novamente o questiono:

— O que aconteceu?

E o silêncio prevalece. Meu tio nem sequer pisca e eu sinto minhas mãos gelarem. Bessie tenta se levantar do sofá para me puxar e me tirar dali, mas logo passos são ouvidos e uma voz feminina e familiar toma conta daquele silêncio que até então estava congelando a minha alma.

— Reagan, estava te esperando — diz com sua voz doce.

Olho para trás e, quando a vejo, sinto meu coração cair aos pedaços.

— Mamãe?


Notas Finais


Até breve, crianças.


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