Taeyeon P.O.V.
Eu não consegui comer nada desde o dia anterior quando a mãe de Tiffany me ligou. Estava tão ansiosa que meu estômago embrulhava só de pensar em comer alguma coisa. A mãe de Tiffany me abraçou calorosamente assim que me viu. Isso fez com que a ansiedade diminuísse um pouco. Estava indo tudo muito bem até a chegada de Tiffany. E após a chegada dela, eu senti meu mundo virando de cabeça para baixo. Eu não consegui acreditar no que eu estava ouvindo. Irmã gêmea? Como isso era possível? Aos poucos fui sentindo o meu corpo ficando mole. Antes que eu pudesse sentar, perdi os sentidos.
Acordei vendo Yerim sobre mim me olhando preocupada. Ela me ajudou a sentar e me deu um copo com água. Eu não sabia exatamente por quanto tempo fiquei desacordada. Olhei ao redor percebendo que Tiffany e a mãe dela estava desaparecida. Eu estava confusa com aquela história por isso me levantei com a ajuda de Yerim e fui para sala. Encontrei Tiffany sentada no sofá com uma expressão estranha enquanto Jun caminhou em minha direção. A expressão dele não era nada agradável por isso fiquei desconfortável quando ele pediu para ter uma conversa a sós comigo.
Fomos para a biblioteca, mas pouco tempo depois Tiffany apareceu, mas Jun a dispensou rapidamente. Eu pensei que ele brigaria comigo assim que Tiffany nos deixasse sozinho, mas ele se manteve em silêncio. Me mantive em silêncio esperando que ele me dissesse o que ele queria.
- Há coisas sobre a minha família que você ainda não sabe, doutora. - Ele falou de forma enigmática quebrando o silêncio.
- O que quer dizer com isso? - Perguntei confusa.
- Você vai parar de procurar a Tiffany se encontrar a Miyoung? - A pergunta me pegou de surpresa apesar de Jun já ter falado para eu ficar longe da irmã dele. Não consegui responder.
- Minha família passou por muitas situações dolorosas. E ela não precisa de mais sofrimento. - Jun falou novamente sem deixar claro sobre o que estava falando.
- Sobre o que exatamente está falando? - Perguntei ainda mais confusa.
Jun não me respondeu, apenas se levantou e caminhou em direção a mesa. Pegou um papel e uma caneta. Anotou alguma coisa e ficou olhando para o papel por alguns minutos. Fiquei observando-o tentando compreender o que ele estava fazendo. Quando ele levantou a cabeça e me olhou sua expressão estava muito estranha. Ele dobrou o papel ao meio e voltou sentando ao meu lado.
- Eu preciso que me prometa uma coisa. - Ele falou lentamente me olhando nos olhos. Imaginei que ele fosse falar de Tiffany novamente, mas eu estava enganada.
- Prometer? Sobre o que? - Perguntei achando estranha a atitude dele. Foi então que notei que ele tinha um olhar triste naquele momento.
- Você não vai contar nada sobre o que viu ou ouviu aqui em casa. E não vai falar com ninguém sobre isso. - Ele falou apontando para o papel em sua mão.
- Não se preocupe, eu não tenho porque falar sobre os problemas familiares de outras pessoas que não seja da minha mesma. Mas o que é isso? - Perguntei ainda sem entender.
- Isso é algo que você almeja há muitos anos. - Ele falou me entregando o papel.
- Como assim? - Perguntei pegando papel abrindo-o. Havia um endereço anotado nele.
- Esse é paradeiro da minha irmã. - Ele falou e eu fiquei de pé chocada com a informação.
- O que quer dizer com o paradeiro da… - Não consegui terminar a frase.
- Significa que neste endereço encontrará informações de Miyoung. - Ele falou e eu fiquei de pé pegando a minha bolsa.
- Espera, doutora Kim. - Ele falou me segurando em meu pulso.
- Que? - Perguntei ainda em choque.
- Me prometa que não vai dizer a minha mãe e a minha irmã sobre Miyoung. - Ele falou segurando firme em meu pulso.
- Porque não quer que elas saibam? - Perguntei sem compreender.
- Não quero que elas sofram. - Ele falou me olhando com intensidade.
- Eu não entendo. - Falei tentando buscar respostas no rosto dele.
- Vai entender. Me ligue depois quando estiver pronta para conversar. Eu responderei todas as suas perguntas. Só peço que não diga nada a elas. - Ele falou me soltando.
- Ok, eu não direi. Tchau. - Falei saindo apressada. Nem mesmo esperei que ele me levasse até a porta.
Entrei no carro que eu havia alugado e digitei o endereço que Jun havia me dado. Liguei o carro colocando o cinto de segurança. Fui seguindo o caminho indicado. Eu estava em êxtase, afinal era a primeira vez que eu tinha alguma informação sobre Miyoung. Não sabia ao certo o que eu estava fazendo. Nem mesmo sabia o que faria com as informações que eu encontrasse nesse lugar. Jun era uma pessoa estranha e isso só me deixava mais intrigada. Faltando aproximadamente um quilômetro para chegar ao local, um questionamento me surgiu me obrigando a parar o carro para pensar. Porquê só agora Jun havia me dado informações sobre Miyoung? Se ele sabia o tempo todo que podia me ajudar na busca por ela, porque só agora me disse o endereço onde eu poderia encontrar informações sobre ela? Será que ele não estava me enganando para me manter longe de Tiffany? Algo me dizia que ele não estava mentindo. A intensidade com que ele falou comigo me dava a certeza de que ele sabia de alguma coisa.
Liguei o carro e continuei seguindo o caminho indicado pelo GPS. Estranhei quando entrei em uma estrada que era cercada por uma mata fechada. Senti meu corpo arrepiar me causando um certo pânico. Acelerei e continuei até chegar no final da estranha. Parei o carro assim que vi uma grande entrada decorada com flores. Li a placa que dizia St. Louis health house. Olhei ao redor verificando que o lugar parecia com uma casa de repouso. Sem saber exatamente o que fazer, caminhei em direção a entrada. Notei que após a porta havia um corredor que dava acesso a recepção. Parei e pensei por alguns minutos sobre o que perguntar. A recepcionista me olhou de onde estava e sorriu.
- Boa tarde, sou a doutora Kim Taeyeon. - Falei ao me aproximar.
- Boa tarde, doutora. O senhor Hwang avisou que a doutora nos visitaria. Vou indicar o caminho. - Ela falou sorridente, mas aquilo só me deixou mais nervosa principalmente pelo fato de Jun ter avisado sobre a minha chegada.
- Obrigada. - Agradeci mesmo não sabendo para onde ela me levaria.
- Que bom que veio, doutora. Estamos sempre abertos a novas sugestões de melhoria para os nossos pacientes. Se depois puder nos dar umas dicas, será de grande auxílio - A mulher falou animada como se já me conhecesse enquanto caminhava por entre os corredores do lugar.
- Claro. - Respondi e ela sorriu visivelmente alegre com a minha resposta.
- É por aqui. - A mulher falou entrando em um outro corredor. Notei que o lugar parecia ser uma ala hospitalar.
A mulher parou em frente a uma porta e a abriu lentamente. Pensei que tínhamos chegados a uma sala, porém parecia ser outra recepção. A recepcionista informou que a partir daquele momento uma enfermeira me auxiliaria. Ela se despediu e a enfermeira do posto de enfermagem pediu os meus documentos. Entreguei ainda sem saber onde eu estava, me perdi de tanto andar pelos corredores desconhecidos. A mulher me indicou o banheiro e me entregou um conjunto de roupas.
Como médica, eu sabia que todo aquele vestuário significava que eu entraria em algum lugar reservado e protegido. Eu visitei tantas vezes um CTI, salas de emergência, UTI e salas de cirurgia que estava acostumada a vestir aquele tipo de roupa. Mas ali sem saber por qual motivo eu deveria me vestir dessa forma, fiquei ainda mais nervosa. Me troquei rapidamente e saí do banheiro sentindo o meu coração bater acelerado. Eu estava tão ansiosa que não fiz nenhuma pergunta, apenas deixei que a enfermeira me indicasse o caminho. Passamos por duas porta até ela parar em frente a outra porta batendo de leve. Uma outra enfermeira abriu a porta permitindo a nossa entrada.
- Olá, boa tarde. Essa é a doutora Kim. Ela veio ver a irmã do senhor Hwang. - A mulher sorriu indicando que eu entrasse no quarto.
O som de dentro do quarto me fez parar bruscamente. Era como o som de uma ala do CTI. Pelos meus conhecimentos, todos os aparelhos estavam ligados mesmo que eu ainda não fosse capaz de ver. A enfermeira tocou em meu ombro indicando que eu entrasse no ambiente. Entrei no quarto vendo uma mulher que tinha os cabelos soltos espalhados pelo travesseiro. A paciente estava entubada ligada a vários aparelhos que controlavam todos os sinais vitais dela. Senti minha respiração ficar cada vez mais pesada. Cada passo parecia vir carregado de um peso incomum aumentando com a aproximação. Parei apenas um metro de distância assim que vi rosto dela. Senti as minhas pernas ficarem bambas.
- Miyoung? - Perguntei confusa com o que estava vendo e fiquei mais ofegante.
- Sim, doutora. Essa é a irmã do senhor Hwang, Miyoung. Está em coma há quatro anos. - A enfermeira respondeu.
De repente eu não conseguia mais respirar. O ar foi ficando cada vez mais escasso fazendo as minhas vistas ficarem embaralhadas. A enfermeira continua falando alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir nada do que ela estava falando. A imagem da mulher deitada naquele quarto me fez querer sair correndo dali. Correr para longe, para longe da realidade. Fui ficando com as vistas pretos, com uma cegueira momentânea. O quarto rodou e eu desmaiei. Abri os olhos sentindo que alguém segurava a minha mão. Comecei a pensar sobre o pesadelo que eu tive antes de perder os sentidos. Assim que vi Jun sentado ao meu lado segurando a minha mão, eu soube que não era um pesadelo.
- Como? - Eu perguntei sem conseguir conter as lágrimas.
- Um acidente de carro. - Ele falou apertando a minha mão de leve.
- Porque não me contou antes? - Perguntei sentindo o meu coração bater acelerado no peito.
- Eu não sabia como fazer isso. Eu não sabia como contar a você sobre ela quando você ainda tinha esperanças de encontrá-la bem. - Ele respondeu abaixando a cabeça.
- Você sabia o tempo todo que eu estava procurando desesperadamente por ela. Por que me enganou? - Perguntei olhando para ele que ainda evitava me olhar.
- Há muitas coisas que não sabe. Mas o principal motivo é que eu não queria que a minha família sofresse. - Ele falou levantando a cabeça e me olhou nos olhos.
- Sofrer. Porque Tiffany não me contou sobre Miyoung? - Perguntei me sentindo traída.
- Ela não sabe. Ela não se lembra da irmã. - Ele respondeu e eu fiquei chocada ao perceber que ele não mentia.
- Que? Porque? - Perguntei confusa.
- Tiffany estava com Miyoung no momento do acidente. E perdeu a memória por causa de uma lesão. - Ele respondeu abaixando a cabeça novamente.
- Eu não entendo. Se ela perdeu a memória porque vocês não contaram a ela sobre Miyoung? - Perguntei tentando entender.
- Porque já havíamos perdido Miyoung uma vez. Não posso deixar que ela sinta essa perda novamente. - Ele explicou, mas isso não esclareceu nada.
- Ainda não entendo. - Falei sentando na cama e ele me ajudou com os travesseiros.
- Quando a minha irmã tinha 5 anos o meu pai a sequestrou, tirando-a da gente, da minha família. Um ano depois do sequestro, depois de inúmeros buscas, meu pai procurou a minha mãe dizendo que ela havia morrido por causa de uma pneumonia. Foi caos na minha casa. Foi doloroso para Tiffany perder a irmã, foi doloroso para todos nós. - Ele explicou com os olhos marejados.
- E então? - Perguntei esperando que ele me contasse o restante da história.
- E então, a minha irmã mais nova Yerim viajou de férias para o Japão e voltou dizendo que tinha visto uma jovem igual a Tiffany. Eu achei que ela estivesse mentindo, mas ela não estava. - Ele falou lentamente enquanto sua expressão foi ficando mais triste.
- E? - Disse lentamente depois dele se manter alguns minutos em silêncio.
- Eu contratei um detetive e ele encontrou a localização da minha irmã. Quando eu descobri que ela estava sendo maltratada pelo meu tio, eu a sequestrei. Minha irmã era uma pessoa assustada e com medo de tudo e de todos. Então ela fugiu de mim. Ela fugiu em um barco para Coréia do Sul. - Ele explicou lentamente.
- Quando ela fugiu de você, ela veio até mim? - Perguntei já sabendo a resposta.
- Sim, mas, assim como eu, meu tio descobriu a localização da minha irmã em sua fazenda. Então eu a resgatei da sua casa antes que ele chegasse primeiro. - Ele explicou se levantando.
- Foram dois anos fugindo dele, protegendo e evitando que ela voltasse para ele. Ele me acusou de sequestro. Na época, meu pai estava desaparecido, e não havia como contatá-lo. O meu tio era o guardião dela e a polícia passou a me perseguir. E em um momento, ele nos encontrou e levou a minha irmã de volta para o Japão. - Ele falou e eu vi o desespero em seu olhar, em seu rosto. Eu não consegui falar nada, me sentindo confusa e mais triste.
- Não tinha como ela voltar para você, Taeyeon. - Ele falou lentamente o meu nome.
- Agora eu sei. - Falei lembrando de todos os momentos em que eu tentei não odiar Miyoung por ela ter ido embora. - Se seu tio a levou de volta, como Tiffany e Miyoung se acidentaram? - Perguntei confusa.
- Tiffany descobriu o que eu estava fazendo. E em um ato de coragem, ela foi até a casa do nosso tio resgatar a nossa irmã. Foi o caos quando eu descobri para onde ela estava indo. Tiffany atraiu Miyoung e elas fugiram de carro. Porém sofreram um acidente durante a fuga. Tiffany acabou sem memória e Miyoung… - Ele não conseguiu completar a frase.
- ... terminou daquele jeito. - Completei a frase dele sentindo as lágrimas escorrer em meu rosto.
- Agora você entende? Minha mãe e minha irmã já sentiram a perda dela. Já passaram anos acreditando que ela estava morta. E de repente por um milagre, minha irmã está viva e deveria simplesmente voltar para casa. Mas a tragédia bateu em nossa porta novamente, Taeyeon. Por isso eu nunca contei para a minha mãe que eu havia encontrado a minha irmã perdida. E sem memória, Tiffany também não pode contar a ela. Como eu posso simplesmente dizer a elas que podemos perder a minha irmã novamente? - Ele perguntou e eu não consegui responder.
- Como eu posso simplesmente deixar que elas sofram novamente? - Ele perguntou visivelmente emocionado.
- Você não pode… deixar que elas sofram novamente. - Eu disse com dificuldade.
- Você entendeu. Eu não espero que você me perdoe por mentir para você. Eu sinceramente espero que você não faça a minha mãe e minha irmã sofrerem novamente. - Jun conclui olhando em meus olhos.
- Eu não farei. - Falei me levantando da cama. Jun me apoiou e me olhou compreensivo porque ele sabia onde iria.
Fechei o soro que ainda corria em minha veia e o retirei do meu braço. Jun me olhou preocupado, mas não disse nada. Ele me deu o braço me dando apoio. Eu sentia o quanto o meu corpo estava fraco, e meus sentimentos devastados. O momento que eu achei que seria glorioso, havia chegado como uma onda gigante cheia de tristeza. Me apoiei no braço de Jun que me levou lentamente até a recepção daquela ala. Alguém nos deu as vestimentas e eu fui para o banheiro para me trocar. Jun fez o mesmo. Quando eu saí, ele me deu o braço novamente. Caminhamos juntos, lado a lado, lentamente como se isso pudesse afastar a realidade.
- Faz uma semana que eu a transferi para essa clínica. Estão cuidando bem dela aqui. - Jun falou antes de abrir a porta.
As lágrimas voltaram aos meus olhos assim que ele abriu a porta. Ele segurou em minha mão que estava apoiada em seu braço. As minhas forças haviam ido embora novamente e ele me mantia de pé. Eu sabia bem o que eu veria, mas ainda assim eu não estava preparada. Jun foi me levando para dentro do quarto. Parei e olhei para a cama vendo-a. Me afastei de Jun aproximando da cama. Segurei na mão dela enquanto as lágrimas escorriam em meu rosto. Alisei o rosto dela vendo o quanto ela havia emagrecido. Encostei a minha testa na dela como a muito tempo não fazíamos. Então chorei até as lágrimas acabarem. Jun assistia de perto mantendo a mão em meu ombro. Finalmente a minha procura havia acabado, mesmo que não fosse da maneira como eu esperei.
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