História Love Hate Love - Quase

Jimin caminhou apressadamente pelas ruas de Seul por uns quinze minutos quando finalmente conseguira encontrar um táxi que o tirou das ruas sem grandes edifícios e casas simples do subúrbio e o levou para um bairro nobre da cidade, onde morava com seus pais e Gayo sua irmã mais nova. No conforto dos bancos devidamente encouraçados do carro, Jimin refletiu sobre a noite passada, soltando um sorrisinho involuntário ao lembrar-se do sorriso de Yoongi, se arrependo piamente por não ter consigo naquele momento sua câmera fotográfica para que eternizasse o sorriso do mais velho em uma foto. Chegava a ser ridículo como Jimin encontrava-se tão prematuramente envolvido pelo garoto cuja pele lembrava a açúcar refinada, tudo nele era singular, e por mais que Yoongi o tivesse tratado mais mal do que bem fazendo com que qualquer um que tenha um pouco de senso concluir que se apaixonar por Yoongi é com certeza um erro dos grandes, mas algo dentro de Jimin o dizia que por ele valia a pena errar e que erros podem ser bem mais gostosos do que acertos, no entanto... no entanto as chances de conseguir um coração fudido eram bem maiores, mas Jimin preferiu ignorar a segunda parte da observação.

Após mais ou menos uma hora e trinta minutos dentro daquele táxi contando os motivos para se deixar levar pelos sentimentos que começava a nutrir por Yoongi, e também os motivos para não seguir em frente com essa paixonite aguda, o menino Park finalmente chegara em casa, fitando com grande pesar bonita faixada antes de entrar e enfrentar seus pais que apesar de tranquilizados por Yoongi, não estavam menos possessos por conta da irresponsabilidade do filho. Os pais de Jimin não eram nenhum tipo de milionários, mas o trabalho árduo do pai do garoto como diretor financeiro em um banco particular proporcionava a família um bom rendimento mensal, dando assim a oportunidade de gozar de uma vida agradável e com certos mimos vez ou outra, mas ao contrário dos indiferentes pais do centro da cidade, os responsáveis por Jimin eram bastante ativos em sua vida, dando amor e carinho, e aquela típica bronca quando necessário, mas o problema com broncas é que elas podem atrapalhar seus plano de conquistar o seu crush vulgo Min Yoongi.

— Sua atitude não tem o menor cabimento Park Jimin! Você deixou esta casa dizendo que iria sair com uns colegas de escola, que por sinal eu não sei quer o nome, e me aparece aqui no outro dia quase as cinco da tarde, se o seu objetivo era quase me matar do coração você conseguiu cumpri-lo com primor. — Ladrou a mãe de Jimin, enquanto caminhava de um lado para o outro para a sala expondo todo o seu nervosismo.

— Eu sei que deveria ter ligado para avisar que dormiria na casa de um amigo, sinto muito por isso. — Disse Jimin, abaixando a cabeça em total respeito a seus pais que haviam passado a noite toda em claro preocupados consigo.

— Amigo? Meu filho você é novo na cidade, consequentemente não conhece direito esses garotos a quem precocemente já chama de amigos, por favor Jimin não seja leviano. Sabia que se mudar para a capital talvez não fosse uma boa ideia, criar os filhos em cidades muito grandes é terrível. — Inferiu o senhor Park, sentando-se pesadamente no sofá consumido por sua frustração de ter sido obrigado pelo seu chefe a mudar-se de cidade.

— Eu sei que talvez seja cedo para chamá-los de amigos, mas eles poderiam simplesmente ter me abandonado bêbado na rua, mas não o fizeram, acho que posso confiar neles um pouquinho certo? — Sim Jimin disse bêbado, e não os pais de Jimin não iriam surtar por conta disso, eles viviam no século vinte e um e tinham total capacidade de entender que os jovens de hoje em dia não são mais como vinte, trinta anos atrás; eram liberais e por conta disso exigiam responsabilidade do filho, justo não?

— Pelo menos isso né, além disso o garoto que atendeu seu celular e nos tranquilizou me pareceu ter bastante juízo. — Julgou a mãe de Jimin, ficando um pouco menos brava.

— Já que é assim traga-o até aqui em casa algum dia, eu quero olhar para a cara desse seu bom amigo acolhedor, só assim poderei dizer-lhe se aprovo ou não esta amizade. — Trazer Yoongi até aqui? Jimin mal podia esperar por esse dia, estava louco só com a possibilidade de poder escapar de seus pais por alguns minutos apenas para arrastar Yoongi até o seu quarto e lhe dar vários beijos e amassos em cima de sua cama.

— Meu filho por que está fazendo uma cara suspeita enquanto morde os lábios? — Questionou a sempre observadora mãe de Jimin.

— Na-nada mãe, minha cara está como sempre e a senhora sabe que tenho mania de morder os lábios. — Disse Jimin, após desesperadamente procurar por uma desculpa, afinal não diria a sua mãe que estava à beira de um colapso mental por pensar em seu “amigo acolhedor” deitado em baixo de si em sua cama.

— Bem, de qualquer forma o senhor está de castigo, uma punição leve, mas espero que sirva de lição. — Disse o pai de Jimin, retirando seus óculos pois achava que parecia mais sério sem a peça. — A partir de hoje até a próxima quarta o senhor está proibido de traçar um caminho diferente de – casa para escola, escola para casa – estamos resolvidos?

Jimin quis protestar, mas sempre teve em mente que deveria ser diferente dos adolescentes problemáticos de hoje em dia que descontavam em seus pais suas insatisfações com a vida, decidindo desde cedo ser um bom garoto que tira boas notas e ajuda nas tarefas domésticas, além disso gostava da liberdade que havia conquistado por ser um garoto que sempre se mantera longe de problemas e com certeza não estava disposto a perde-la simplesmente por contestar um castigo. Sendo assim o menino Park apenas acenou positivamente com a cabeça, tomando o rumo de seu quarto em seguida, onde tomaria um banho e reservaria mais algumas horas de seu tempo para pensar um pouco mais em Yoongi.

XXX

Na manhã de quarta-feira Jimin arrastou vagarosamente para debaixo das cobertas, assim como arrastou-se vagarosamente para a escola. Queria suplicar aos pais para que faltasse aula naquele dia pois realmente não se sentia disposto, mas sua escapada na segunda-feira que lhe rendera uma bela feita na terça, lhe tirava qualquer direito de não assistir aula no meio da semana. Porém toda sua sonolência e indisposição causada por uma noite navegando na internet conversando e assistindo coisas inúteis, ao ver Yoongi em sua habitual inércia sentado no fundo da sala, fora substituída por uma euforia desmedida e mais uma vez Jimin queria dar um tiro em sua própria cabeça por se sentir assim.

— Bom dia. — Disse o mais novo para outro, sem o usual sorriso estampado em sua cara, pois sabia que não seria retribuído.

— Péssimo dia. — Respondeu-lhe Yoongi com o semblante fechado.

— Eu tenho a impressão que todos os seus dias, são péssimos dias.

— Você tem razão, mas se tornam piores as vezes.

— Deixa eu adivinhar, o seu dia se tornou pior porque eu cheguei. — Concluiu Jimin.

— Não Jimin, o meu mundo não gira ao seu redor. Meu irmão está meio doente. — Disse Yoongi, após pigarrear um pouco por conta da quantidade de cigarros que havia fumado na madrugada de segunda para terça.

— Como assim doente? Você foi muito vago seja mais especifico. — Disse Jimin, enquanto se acomodava em sua cadeira devidamente postada ao lado de Yoongi.

— Sei lá, ele acordou com uma febre relativamente alta, eu o mediquei e estou aqui na escola com o coração na mão pensando em seu estado de saúde.

“Coração na mão” Jimin nunca pensou que um dia ouviria tais palavras de Yoongi, então concluiu que talvez, só talvez, o mais velho não fosse esse bicho de sete cabeças que muitos imaginavam que fossem, talvez essa fosse apenas uma máscara criada pelo próprio afim de se defender, e pelo visto o único que tinha a sorte de conhecer a verdadeira face de Yoongi era Jung, seu irmãozinho.

— Nossa, eu realmente espero que ele fique bem. — Disse Jimin, aproveitando-se do momento frágil de Yoongi para acarinhar- lhe a mão direita que estava estirada sobre a mesa, que como Jimin havia imaginado não retirou sua mão do carinho, apenas o ignorou como se não percebesse ou não sentisse nada. Mas Yoongi percebeu, Yoongi sentiu e então se perguntou a quanto tempo não deixava outra pessoa além de Jung tocar-lhe assim. O menino Min realmente não era de ferro, e quando Jimin encerrou o contato de Yoongi com sua pele macia, o mais velho quase pediu para que o outro não cessasse o toque... quase.

— Eu também Jimin, eu também espero que ele fique bem logo. — Disse Yoongi, encarando pela primeira vez naquele dia a bela face do mais novo.

— Bom dia vocês dois. — Disse Namjoon, que tinha ao seu lado o sempre agradável e educado Jin.

— Bom dia. — Respondeu Jimin com um sorriso, ao passo que Yoongi apenas lhes acenou com a cabeça.

— Vieram para a escola ontem? — Questionou Jin, curioso com o que havia se sucedido com Yoongi e Jimin.

— Você acha? Eu acordei meio dia graças a bela adormecida do Jimin que me espremia no canto da cama, mesmo com a mesma tendo um espaço enorme. — Protestou Yoongi, percebendo tarde demais que Taehyung e Kook escutavam a conversa atentamente.

— Então vocês dormiram na mesma cama? Que curioso, o Yoongi não deixa as pessoas nem o tocarem que dirá dividir a cama com um cara que acabou de conhecer, um grande avanço não é mesmo? — Disse Taehyung, dando tapinhas no ombro de Yoongi.

— Jin você e o Namjoon são um casal, tipo namorados? — Questionou Jimin, em uma tentativa no mínimo desastrosa de desviar a atenção que pairava sobre Yoongi após as palavras do sempre inconveniente Taehyung.

— Eu e o Namjoon? Essa é uma ideia tão ridícula, eu e ele somos apenas bons amigos. — Disse Jin, após gargalhar por longos segundos quando a pergunta de Jimin chegou aos seus ouvidos.

— É, tão ridículo. — Disse Namjoon, com um pingo de decepção aparente em seu olhar.

— Vocês não ouviram a campainha? Todos em seus lugares por obséquio. — Disse o professor de matemática em alto e bom som ao entrar na sala de aula, dispersando todos os alunos para os seus lugares, bem como Jin e Namjoon.

— O Namjoon é apaixonado pelo Jin não é? — Perguntou Jimin a Yoongi, lhe lançando um sorriso condescendente.

— É bem óbvio para todos menos para o idiota do Jin. — Disse Yoongi, concentrado na tarefa de encontrar em seu caderno bagunçado a matéria de matemática, consequentemente nem percebera o sorriso de Jimin tampouco olhou para o mesmo para responder a pergunta.

Jimin passara a manhã inteira decorando cada expressão de Yoongi, como franzia o cenho quando não entendia algum calculo explicado pelo professor, como não parava de movimentar suas pernas quando estava entediado na aula de biologia, como sempre passava a língua sobre os lábios enquanto resolvia as questões da atividade de gramática. Sua boca pequena e seus finos lábios, seu corpo magro, sua pele alva, o seu cabelo que caia delicadamente sobre sua testa, tudo se adequava perfeitamente aos pequenos fatos sobre Yoongi que provavelmente só Jimin conhecia e se sentia tão orgulhoso por isso, pois assim tinha a ideia de que por mais que Yoongi se recusasse, os dois já partilhavam algo um do outro.

— Creio que não tenha aprendido nada na aula de hoje. — Disse Yoongi, encarando Jimin enquanto o mesmo organizava seu material despreocupadamente dentro da mochila, preparando-se para ir embora assim como todos da turma.

— Por que diz isso? — Questionou Jimin.

— Você passou a aula inteira olhando para mim ao invés de prestar atenção nos assuntos explanados pelos professores. — Disse Yoongi com os braços cruzados sobre o peito, recostado relaxadamente sobre sua cadeira.

— O que eu posso fazer se você rouba toda minha atenção com sua beleza. — Disse Jimin, no intuito de desconcertar Yoongi com o seu descaramento, o que ele conseguiu pela primeira vez, pois o mais velho engoliu em seco com a investida de Jimin, realmente não esperava por isso vindo do mesmo, ato este que quase o surpreendeu...quase.

— Você tem certeza que quer tentar algo comigo? — Disse Yoongi, após soltar uma risada em escárnio, ao perceber que Jimin realmente tinha interesse em si, como já desconfiava.

— Sim, a essa altura do campeonato não tem mais volta. — Disse Jimin, apoiando o cotovelo sobre a mesa, deixando sua cabeça descansar sobre a mão erguida.

— Então muito boa sorte, você vai precisar. — Sussurrou Yoongi no ouvido de Jimin, que quase pulou da cadeira com o contato repentino.

Perto demais.

XXX

Foi somente quando chegara em casa que Jimin percebera que havia sido adicionado a um novo grupo no Kakao Talk, quando verificou os integrantes vulgo Namjoon, Taehyung, Kook, Hobi, Jin e Yoongi sentiu-se satisfeito, pois sabia que os meninos haviam realmente gostado dele, senão não teriam o colocado naquele grupo. Era a lógica dos jovens; podemos nos falar todos os dias, até mesmo sairmos juntos, mas enquanto você não fizer parte de um grupo fechado em uma rede social você ainda não faz parte daquela “tribo”. Tirando isso, o dia passou sem grandes novidades e além de algumas conversas idiotas no kakao nada de anormal aconteceu, a não ser por Yoongi não ter dado as caras no grupo, fato este que Jimin ignorou pois já cogitava a possibilidade de Yoongi não ser do tipo de cara que fica jogando palavras ao vento na internet.

Passava das duas da manhã quando Jimin recebera uma ligação que não fosse pela ocasião teria o deixado plenamente feliz, mas a notícia que recebera não fora tão agradável quanto receber uma ligação de Yoongi durante a fria madrugada. Na mesma um Yoongi desesperado argumentava ter ligado para todos os seus amigos, mas ninguém atendia pois deviam estar dormindo, então ligou para Jimin; perguntava sobre o que fazer com Jung que continha uma febre alta que não cessava nunca e que havia vomitado tudo que havia comido alguns minutos atrás, praticamente suplicou para que Jimin fosse até sua casa pois não sabia mais como lidar com aquela situação e quem era Jimin para recusar um pedido de Min Yoongi.

Jimin saiu de casa a passos leves, afim de não acordar seus pais, se sentiu realmente mal ao fechar a porta atrás de si abandonando seus progenitores crentes de que o filho dormia no quarto ao lado, mas que tipo de amigo seria Jimin se deixasse Yoongi sozinho com Jung naquele estado? Foi por esse motivo também que justificou mais um ato irresponsável: Pegar o carro do pai escondido, a fim de chegar mais rápido a casa de Yoongi. Bom se os seus pais o descobrisse pelo menos havia uma possibilidade de eles não o matarem quando tomarem conhecimento do quanto a alma do filho era bondosa, principalmente para com aqueles que Jimin estava doido para devorar o corpo desnudo.

Fez um percurso que em dias normais com o transito caótico duraria um hora e trinta minutos, em quarenta minutos, pois estava de madrugada e as ruas estavam praticamente vazias. Ao estacionar o carro em frente a casa de Yoongi, viu a figura pálida do amigo parado na varando enrolado em um casaco de lã branco, segurando uma xicara do que parecia ser chá. Travou o carro e correu até o outro, e só agora com a proximidade de seus corpos Jimin percebera que chorava.

XXX

— Bom a febre está baixando. — Disse Jimin, ao tocar as tez do pequeno garoto enrolado em vários lençóis na cama de Yoongi.

— Sim, parece que o banho gelado funcionou. — Disse Yoongi em meio a quase completa escuridão do quarto, sorrindo aliviado. — A propósito, desculpas ter te ligado e te chamado para vir aqui, é que eu estava realmente sozinho e desesperado, enquanto minha mãe deve estar bêbada jogada em algum canto da casa.

— Não tem que pedir desculpas, eu só estou te devolvendo o favor por ter cuidado de mim na terça. — Disse Jimin, levantando-se cama pondo-se de pé em frente e bem próximo a Yoongi.

— Então dessa vez sou eu quem te deve um favor, você pode me pedir quase qualquer coisa. — Disse Yoongi, sem se afastar do corpo de Jimin que ardia em vontade de se agarrar aos lábios do outro.

— Suga... eu vou te chamar de Suga a partir de agora. — Disse Jimin, após fitar o rosto de Yoongi em silêncio por alguns segundos.

— O quê? Por que? — Disse Yoongi, curioso sobre o apelido concebido a si.

— Você tem a pele branquinha e delicada como açúcar refinada. — Disse Jimin, tremendo ao sentir a respiração pesada de Yoongi vindo ao encontro de sua face.

— Tudo bem, acho que posso aceitar esse apelido. — Disse Yoongi, digo, Suga, sem tirar as orbes negras do mais baixo.

— Suga?

— Fala Jimin.

— Eu quero te beijar agora mesmo.

Suga sorriu como se ansiasse por isso à séculos assim como Jimin, o que era curioso já que os dois se conheciam a tão pouco tempo. Jimin mordeu os lábios com veemência ao ver Suga aproximar sua face da sua, não esperando até que o outro chegasse até ele, indo de encontro a boca alheia dando uma leve sugada no lábio inferior do outro, fazendo com que Suga desejasse ainda mais aquele beijo, aquele toque. Rapidamente os braços de Suga viajaram até a costa do outro o puxando lentamente para mais perto até que seus corpos estivessem colados, os dois eram incapazes de olhar para outro lugar a não ser as orbes flamegentes que guardavam em si, com os olhares carregados de desejos segredados um ao outro em uma espécie de oração. Jimin então aproximou ainda mais seu rosto da face de Yoongi, fechou os olhos e esperou pelo beijo de Suga, beijo este que quase chegou...quase.

— Yoongi? — Balbuciou Jung para total frustração de Jimin.

Suga largou o corpo do outro em uma espécie de pulo movido pelo susto que levara ao ouvir a voz do irmão, saindo de seu estado de transe ocasionado pelos lábios fartos de Jimin, prometendo a si mesmo nunca mais se deixar levar daquela forma, o problema é que agora que o menino Park sabia o estado em que poderia deixar Suga, ele não ia desistir de jeito nenhum, afinal pelo visto ter Suga para si era só uma questão de tempo, e Jimin era paciente esperaria o tempo que fosse.