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História Love Jokes - Capítulo IV - Se perdendo em um sábado


Escrita por: Bojack-senpai

Notas do Autor


Capítulo atualizado(03/10/2022)! Uau! Capítulo 4! Obrigado por estarem acompanhando esta história até aqui, espero que estejam gostando! Hoje temos algo mais familiar, é verdade; nada de consultório ou Arkham, apenas família, mas, ainda assim... Tirem as crianças da sala!

Capítulo 5 - Capítulo IV - Se perdendo em um sábado


  Era tarde quando chegara em casa naquela noite, as luzes estavam completamente apagadas, o que fez com que percebesse o quanto havia passado do seu horário naquele dia. Com certeza o seu noivo já estaria dormindo havia algum tempo.

  Estacionando o seu carro, um Citröen C3, próximo à calçada de sua casa, adiantou-se em pegar seus objetos, documentos e bolsa no banco de trás. Teria de entrar de fininho, para não acordar o noivo e acabar gerando algum desentendimento.

  Com tudo em mãos, guardara a chave do carro em sua bolsa e abrira a porta do carro com um cuidado e silêncio desnecessário, mas, já precavida de forma irracional, como parte de sua tentativa do mais completo silêncio até o quarto. Era claro que o som da porta não o acordaria, talvez nem sequer fosse escutado no quarto, mas, o peso em sua consciência e o medo de ser flagrada tão tarde, fazia com que qualquer barulho parecesse uma ameaça. Era como se fosse uma adolescente voltando escondida de uma festa, torcendo para que a mãe não houvesse percebido seu retorno mais tardio do que o combinado, torcendo para que a vigilante mãe não acordasse.

  Com passos rápidos até a porta de casa, enquanto buscava a chave correta dentre muitas naquele aglomerado do molho de chaves, apenas conseguia pensar no quanto gostaria que seu noivo não acordasse. “Por favor, continue deitado. Por favor!” Ela pensava enquanto girava a chave na fechadura da porta e empurrava a maçaneta.

  Dentro de casa, abrindo a porta com total cuidado, como um espião em território inimigo, vira que não havia ninguém naquela parte da casa. Tudo estava completamente apagado. Sentiu-se aliviada, agora apenas tinha de percorrer metade da casa em silêncio até o quarto. “Perfeito. Ele não está aqui.” Ela fechou a porta com leveza, girando novamente a chave, porém, agora na direção contrária.

  Caminhou até a bancada na cozinha, pôs sua bolsa bege ali mesmo e retirando o salto negro que usava, sentiu seus pés gritarem de alívio. Antes de subir teria de matar sua fome em silêncio, um homicídio rápido e sem pistas sonoras. A geladeira infelizmente, não ajudou com esta ideia.

  Ao abrir a geladeira, um pequeno apito foi emitido. Um mecanismo de aviso, onde alertava que a temperatura interna estava sendo modificada para se manter estável, de forma a melhor conservar os alimentos já que o ar quente do mundo exterior viria a entrar no recipiente cujo antes selado e sem mudança térmica. Sentiu que o mundo desabaria naquele instante. “Merda! Ele acordou?” Ela se perguntava nervosa.

  Nenhum som além daquele apito alto que havia durado apenas um único segundo. Tudo estava calmo. Aparentemente não havia nem possibilidade de Robert ter escutado aquilo. Sentindo que estava mais calma, pegou alguns poucos ingredientes para fazer um sanduíche expresso. Sua fome era o único risco real de acordar seu noivo.

  Os talheres emitiam som ao se tocarem, mas, nada desastroso. Estava segura, por hora. Após feito sua fraca janta, adiantou-se até a escadaria de madeira e torcera para que os degraus não viessem a ranger. Com passos leves e cuidadosos, subiu um por um dos vinte degraus até o segundo andar.

  Decidiu então que não iria direto para o quarto, afinal, estava suja, suada e ainda teria de tomar banho antes de se deitar. Concluiu então que a melhor alternativa seria tomar banho no banheiro do final do corredor, ao invés do seu banheiro pessoal. O barulho que faria na suíte poderia facilmente acordar o Robert, e não era isto o que ela queria afinal.

  Andou até o banheiro e ao entrar trancou a porta rapidamente. Estava começando a se sentir uma fugitiva em sua própria casa. “Eu não fiz nada de errado, por que todo este cuidado? Eu estava trabalhando, ora essa!” Pensou consigo mesma, percebendo o quão ridícula estava sendo. “Se ele perguntar, eu vou responder a verdade, é claro!”.

  Olhou-se no espelho por um segundo e por algum motivo, achou que havia algo de estranho. Ali ficou por alguns segundos, buscando qualquer imperfeição incomum, mas, nada encontrou. Soltando seus loiros cabelos do coque apertado, sentiu-se livre de certa forma. Quinzel havia decidido usar o seu coque executivo no trabalho e jamais mudara o penteado enquanto em serviço desde então.

  Esta ideia sobre o coque nascera anos atrás, quando durante o estágio que fazia em Arkham, notou que a forma como anteriormente prendia seu cabelo, de alguma forma, deixava os pacientes masculinos a qual ficara responsável, excitados. Por graças a este sentimento de euforia que causava, tornava-se difícil, senão, por vezes, impossível receber o respeito que merecia e necessitava para o tratamento. Tornava uma conversação comum, embaraçosa.

  Olhando-se no espelho uma última vez, sentiu-se tentada a prender os belíssimos cabelos dourados, como fazia antigamente, apenas como uma recordação do quanto gostava e o quão bonita realmente ficava. Impediu-se. Por algum motivo, a qual nem mesmo ela entendia ao certo, desistiu de fazê-lo no instante em que começara a mexer em seus fios.

  Mudando os pensamentos que preenchiam sua mente naquele momento, começara a desabotoar a camisa social azul a qual vestia, em seguida, sem retirá-la, percebera que seu sutiã negro sobre a pele branca era de extrema sensualidade. Desnecessário em local de trabalho, mas, então por que o havia vestido? “Eu não pensei, só vesti. Foi isto. Ando distraída, pensativa desde que comecei o tratamento do Coringa.” Concluiu como resposta justificativa ao que percebera.

  Por fim, retirou todo o resto de peças de roupa que vestia e abrindo a porta do Box sentiu um vento frio tocar e envolver a sua pele sensível. Seu corpo arrepiou-se completamente e não pôde evitar tremer o lábio naquele momento. Correu para ligar o chuveiro e sentir a água quente cair sobre a pele arrepiada, fornecendo-lhe um prazer e alívio caloroso.

  Enquanto ensaboava seu corpo delicado, e via as gotículas transparentes de água quente escorrer por entre suas belas curvas, não percebera o pensamento incomum e parasítico que havia se formado devagar em sua mente. “Será que ele me acha atraente?” o pensamento fora interrompido como um escudo bloqueando uma flecha potente, atirada com maestria e velocidade por um atirador que não podia ser visto. “Será que o Robert ainda me acha atraente? É isto que quero saber, óbvio!” ela corrigia seus próprios pensamentos como se corrigisse uma fala vergonhosamente inapropriada, até perceber que era apenas um pensamento e não tinha o porquê de ficar tão nervosa sobre isto.

  Inspirou e expirou profundamente em busca de um controle que já não sentia mais. Tirando a espuma do corpo, sentiu que ainda estava presa ao trabalho e não estava cansada para dormir. Era tarde, sabia. Mas como muito já acontecia, não sentia sono. Cada dia, um após o outro, desde que havia se tornado a psiquiatra do Coringa há duas semanas, não dormia tão cedo quanto fazia anteriormente.

  Suas atividades noturnas antes de pegar no sono eram como uma rotina prazerosa, onde recapitulava tudo o que havia conversado com o infame palhaço do crime de Gotham e aprendido com ele. Anotava tudo assim que chegava em casa, em um caderno especial que havia comprado justamente para isto. Robert não parecia feliz com as últimas atitudes de sua noiva. Ele não reclamava, apenas pedia para ela tomar cuidado e descansar mais. Ela agradecia a preocupação, mas, nada mudava.

  Estranhamente, em meio a todos estes pensamentos, enquanto desligava o chuveiro, percebeu que a quantidade de vezes em que praticava sexo com seu futuro marido, havia diminuído. Perguntava-se se ele sentia falta, e se o seu aparente mal humor atualmente se dava devido a isto. Talvez devesse recompensá-lo qualquer dia. Afinal, Robert sempre fora tão amável, inclusive na cama.

  Após se secar com uma toalha qualquer que havia pego na caixa de toalhas reservada para eventuais visitantes, caminhou ainda nua e molhada até o seu quarto. Lá algo que não esperava lhe fez sentir um arrepio virar seus órgãos ao contrário. Seus olhos arregalados tornaram-se confusos após o susto. “Cadê ele?” Pensou ao ver que o seu noivo, Robert, não estava na cama como imaginado. “Ele me viu? Ou não está em casa?” A preocupação era como uma pequena chama que queimava rapidamente as folhas secas.

  Sem vestir roupa alguma, descera os degraus correndo em busca do telefone. Tinha de saber onde ele poderia estar e se estava tudo bem. Era incomum Robert passar do seu horário, pegar rotas incomuns ou quaisquer outras ações fora de uma linha comum. Não demorara nada até estar no andar de baixo perto da bancada aonde encontraria o telefone preso ao gancho.

  Ainda molhada, aos pingos, agarrou o telefone da bancada arrancando-lhe rapidamente do gancho. Seus dedos percorreram velozmente as teclas numeradas, digitando freneticamente em uma sequência memorizada o número de celular de Robert. Sentia seu coração acelerar. Poderia ter acontecido qualquer coisa, sabia disso. Torcia pelo menor dos males. “Por favor, tenha ido comprar vinho!” ela repetia internamente para si mesma, repetidas vezes.

  Robert era um homem simples com manias singulares que poderiam facilmente taxá-lo de esnobe. Uma destas manias, era a de que quando nervoso ou preocupado, ele saía para comprar vinho. O mais velho que encontrasse, de preferência. Toda vez que fazia retornava para a casa com a garrafa, sentava na poltrona da sala e bebia algumas taças até se sentir tonto e ir para a cama. Era como um rito para que pudesse se acalmar e dormir.

  A ligação finalmente fora completada e o som alto que surgira repentinamente atrás dela, quase fez com que seu coração saísse pela boca, mais uma vez. Um toque de celular! O celular dele! Engoliu em seco e decidiu se aproximar para pegá-lo.

  O celular estava numa pequena mesa perto de uma das poltronas cinzas que ficava de costas para a bancada da cozinha. Andou com calma até próximo à mesa de vidro onde o celular estava, sentia algo estranho que mal podia explicar. Naquela altura começara a se questionar se o seu noivo teria saído sem o celular, ou o esquecido.

  Ao se aproximar da poltrona ao lado da mesa de vidro, pôde ouvir um som diferente do som emitido pela chamada telefônica, cujo já havia parado. Era como uma respiração intensa e pesada. Naquele momento ela percebeu que não estava sozinha em casa como pensara há um minuto. Estava pálida de medo.

  Quando finalmente chegou a poltrona, pronta para atacar quem quer que ali estivesse, se realmente houvesse alguém, viu-se surpreendida pelo o que encontrara. Robert estava completamente adormecido na poltrona, esticado de forma completamente relaxada e inconsciente! Embora seu corpo ainda tremesse naquele instante, podia claramente enxergar o que havia acontecido.

  Robert segurava entre os braços, uma garrafa completamente fazia do vinho Chateauneuf Du Pape; um incrível e extremamente saboroso vinho francês, o qual talvez tanto Quinzel quanto Robert poderiam concordar se tratar de um dos melhores que já haviam provado. Robert o abraçava com força e carinho, como se abraçasse sua noiva.

— Então você estava aqui o tempo todo? – Quinzel pôde perceber o quão perto chegou de acordá-lo diversas vezes, embora soubesse que depois de toda uma garrafa daquele vinho, não acordaria tão facilmente.

  Quinzel pensou se deveria tentar acordar e ajudar o pobre homem a subir até o quarto, mas, decidiu deixá-lo como estava. Até que ele ficava atraente deitado daquela forma, completamente embriagado. Pensava no quanto tinha de sorte por ter sido capaz de fisgar um homem como o Robert.

  Tendo crescido em um lar extremamente abusivo e até mesmo nocivo à sua vida, Quinzel imaginava os homens do mundo real diferentes dos contos de fada e filmes românticos; os imaginava como monstros grosseiros, aberrações cruéis e pervertidas. Seu pensamento apenas mudara no final de sua adolescência, quando conhecera Robert na faculdade. Não foi amor à primeira vista, mas, depois de tanto resistir, finalmente tiveram sua primeira noite juntos no quarto universitário de Robert, cujo havia pago os colegas para passarem a noite fora.

  Naquela época, Robert recebia uma pensão gordurosa de seu pai, Donald Winsdown; um milionário da alta sociedade de Gotham. Para Robert, dinheiro era o que não faltava. Seu pai havia pago a melhor faculdade para ele, comprado o melhor carro e até mesmo, o que Robert sempre lembrava o quanto detestava: seguranças quando tinha de ir em alguns bairros por motivos estudantis. Era um maldito riquinho, mas, com o tempo, Quinzel o conhecera e vira que não era como os outros, mimado, egocêntrico ou qualquer coisa do tipo, pelo contrário, era humilde, gentil e sempre estava disposto a ajudar quem precisasse.

  Deixando-o dormir naquela poltrona cinzenta, Quinzel voltou aliviada para a escada em direção ao quarto. O dia seguinte era final de semana, e embora houvesse combinado com Robert, de que iriam visitar os pais dele, não era necessário acordar demasiadamente cedo.

  Estava cansada, mas, não o suficiente para que viesse a deitar e apagar sem ficar ao menos trinta minutos perdida na insônia dos pensamentos cobertos de cogitações sobre se estava sendo capaz de seguir perfeitamente na linha de tratamento dos seus pacientes e desenvoltura de seus estudos.

  Já no quarto, sentada na cama, pegou o seu caderno de anotações sobre o Coringa, que guardava dentro do criado-mudo ao lado da cama. Após rapidamente ler novamente tudo o que havia anotado naquele caderno, continuou as anotações de sua terapia. As anotações consistiam em padrões de comportamento, falas e citações interessantes, histórias contadas e uma série de anotações pessoais sobre o palhaço do crime.

  Suas anotações pessoais que escrevia sobre o Coringa, era em sua maioria o que havia sentido em relação ao que fora dito por ele e o que aquilo a lembrava, porém, podia-se encontrar elogios ao sorriso, olhar e até mesmo forma de falar e se movimentar daquele homem insano. Era estranho e nada profissional anotar tais elogios, podendo ser motivo de não apenas demissão, como de possível término de relacionamento com Robert, caso o mesmo tentasse ler suas anotações.

  Para a feliz sorte de Harleen F. Quinzel, Robert respeitava fortemente o espaço pessoal de sua noiva, ainda mais quando voltado a seus pacientes. “Informações sobre o tratamento de um paciente, deve-se manter estrito a psiquiatra responsável e ele mesmo.” Dizia Robert a respeito da privacidade profissional de Quinzel. Não discutiam o trabalho comumente, para não gerar ilusões de realidade.

  Perdendo-se em anotações profissionais e pessoais, Quinzel não demorara muito para adormecer quase sem perceber. Seu corpo estava pesado e cansado, havia sido um dia agradavelmente produtivo e estava satisfeita com seu tratamento, com o Coringa e com Howard. Suas pesquisas sobre a psique paranoica e sua perdição na sociedade, assim como seu estudo sobre a insanidade traumática da criminalidade, caminhavam de forma perfeita e em breve poderiam render frutos reais.

  Na manhã seguinte, ao acordar e encontrar a si mesma coberta em sua cama, diferente da forma desarrumada que havia adormecido na noite anterior, viu-se nervosa ao não encontrar o seu caderno de anotações em cima da cama aonde havia deixado.

  Seus olhos ainda neblinados pelo sono, junto ao pequeno problema de visão, vasculhavam rapidamente todo o espaço daquela retangular e macia estrutura. Um nó se formara em sua garganta. Sentia como se estivesse prestes a ser enforcada por algum crime a qual cometera.

  Sabia ela que se Robert por algum acaso viesse a ler suas anotações pessoais do Coringa, embora sem maldade aparente ou consciente, ele poderia interpretar errado e até mesmo se aborrecer, senão pior. Abriu rapidamente o criado-mudo e sem saber se o que via era positivo ou negativo, encontrara o caderno guardado. “Não lembro de guardá-lo... Droga, Robert!” Quinzel se levantara rapidamente da cama e vestira um roupão que guardava num cabide dentro do armário branco de seu quarto.

  O roupão branco com tecido de Veludo Unique era capaz de acentuar ainda mais suas belas curvas, tornando-a uma armadilha extremamente sensual, a qual dificilmente um homem poderia se irritar. Era o que ela esperava. Apressou-se em busca do seu noivo.

  Após descer a escadaria de madeira, encontrou Robert fritando alguns ovos para um omelete matutino. O cheiro quente do café que estava sendo feito naquele momento era delicioso e ótimo para despertar do sono que a possuía. Aproximou-se devagar até bancada e então sentou-se no banco próximo a mesma, o qual emitiu um som desagradável que alertara Robert de sua presença.

— Bom dia, doce mel. – Disse ele de forma completamente amável, o que surpreendera Quinzel que esperava uma conversa séria e expressão fechada.

— Bom dia, amor. – Ela respondeu ainda achando tudo aquilo estranho, digno de desconfiança. “Ele não leu?” Se questionou.

— Quer uns ovos? – Ele sorria. Seu sorriso caloroso era claramente uma tentativa de omitir algo, ela percebera. Sentiu-se tensa.

— Aconteceu alguma coisa? – Quinzel o olhava com sua habilidade analítica sobre o comportamento humano, o que deixava Robert bastante desconfortável, e embora ela tentasse, não podia evitar. Era natural para ela.

— Não, querida. Nada demais. – Ele tentava com todas as forças não abrir a boca a respeito do que quer que fosse.

— É sobre algo que escrevi no meu caderno de anotações? – Ela sabia que era arriscado, mas, tinha de perguntar.

— Caderno de anotações? Não querida, já disse que não tenho vontade e nem vou ler suas anotações. Ao menos, claro, que seja necessário. – Ele a olhou desconfiado por um segundo e perguntou. – É necessário?

— Claro que não. – Quinzel tentava se controlar, quando na verdade estava tremendo, nervosa com a possibilidade já desmentida. – Então o que é?

— Estava trabalhando ontem? – Ele deu seu “check” com certa hesitação.

— Claro, Robert. Que ideia! Aonde mais eu estaria? – “Por que estou tão nervosa? ” Percebera que havia respondido rápido demais.

— Tem certeza, Harleen? Parece nervosa... – Sua expressão estava cada vez mais desconfiada, e seu tom de voz igualmente. Era como uma faca que se aproximava devagar do peito da inocente Quinzel.

— Claro, Robert! Eu só fico nervosa com essas suas suspeitas bobas! – Seu tom manteve-se alto em uma tentativa de encenação.

— Entendi. Tudo bem então, não é nada. Só estava preocupado. – Retornando aos ovos que fritava com uma expressão mais aliviada, desculpou-se. – Desculpe, querida.

— Está tudo bem. – Ela respondeu. – E sim, quero dois ovos.

— Dois ovos saindo! – Robert cozinhava com maestria; gastronomia era um dos muitos cursos que seu pai havia pago quando era mais jovem.

  O resto daquela manhã havia se desenrolado de forma comum e harmônica após o susto inicial. O belo casal conversava calma e divertidamente, Quinzel zombava como uma criança brincalhona de Robert e sua garrafa de vinho, a qual dormira abraçado. Por sua vez, Robert brincava com Quinzel contando-lhe o como a encontrou babando e completamente nua esparramada na cama.

— Você apenas cresceu em conhecimento, mas, continua a mesma selvagem. – Ele brincava.

  Quinzel fingira morder o vento como uma encenação de sua “selvageria”; seu rosto branco sem maquiagem alguma e cabelos loiros completamente desgrenhados, com fios desalinhados como uma boneca antiga, da década de 60, não desfaziam em nada a sua beleza, e muito menos a paixão que Robert sentia por aquela bela mulher.

  Robert também possuía um corpo forte, atlético, com poucos pelos e uma barba malfeita. Era lindo, realmente. “Um belo homem. O meu homem.” Quinzel pensava ao observar os músculos bem definidos de Robert.

  Enquanto comia seus ovos e bacon, Quinzel olhava com certo desejo as curvas insinuadas da cintura de Robert. Aquele caminho pecaminoso que apontava para a virilha e órgãos sexuais de seu noivo era uma das qualidades físicas de Robert que mais atraíam Quinzel e a deixava excitada. “Por que começamos a transar menos?” ela pensava o quanto estava sendo tola em não dar prazer para aquele homem de corpo escultural.

— Depois... – Dizia ela entre uma mastigação e outra. – ... Vou precisar da sua ajuda lá em cima. Não estou conseguindo fazer uma coisa.

— Não está conseguindo fazer uma coisa? – Robert não havia entendido sobre o que ela falava.

— Você vai ver. Vai me ajudar? – Ela fazia uma expressão como a de um filhote que pedia carinho, da forma mais adorável.

— Claro, querida. Sabe que farei. – Ele sorria sem mostrar os dentes, mas ainda assim, era doce.

  Ela sorria para o seu noivo de forma tímida e ao mesmo tempo sedutora, mas, Robert sempre fora fraco neste jogo, dificilmente entendia as jogadas. Apenas puxou outro assunto, deixando o jogo de sedução apenas para Quinzel, sem sequer chegar perto de perceber o que ela realmente queria naquele momento.

  Após um perfeito café da manhã, e uma conversa entediante sobre política, Quinzel o chamara às pressas para o quarto do casal. Seu roupão branco quase caía com seu movimento rápido nos degraus. Com o roupão branco caindo sobre seus ombros, deixando seus seios quase que completamente amostras, aquela visão sensual de sua noiva, fora suficiente para deixar Robert excitado.

  Robert, embora desejasse imensamente sua noiva, não sabia se deveria investir ou não numa aproximação sexual sem que a mesma demonstrasse de fato que era o que queria naquele momento. Quinzel não aparentava estar com cabeça para este tipo de coisa ultimamente, por isto não tentava nada havia semanas. Sentia falta. Muita falta.

  No quarto, Quinzel empurrara Robert para dentro e então trancara a porta, apenas como forma de sensualizar, afinal, não chegaria ninguém. Com um sorriso travesso e um olhar sedutor, Quinzel deixou cair levemente seu roupão até o chão, mostrando seu corpo completamente desnudo, extremamente atraente com suas curvas perfeitas.

  Os olhos de Robert percorreram todo o corpo daquela belíssima e deliciosa mulher, e não pôde evitar salivar como um animal faminto. Seus olhos se fixaram nos belos seios fartos, com auréolas e bicos rosados de tamanho perfeito. Os bicos dos peitos de Quinzel estavam duros, excitados com a visão e desejo de Robert petrificado como um animal à espera do momento certo para atacar.

  Quinzel então se aproximara lentamente com um balançar sensual do corpo até estar de encontro ao corpo forte e sem camisa de Robert. Pondo sua testa e mãos encostadas no peitoral forte e pouco peludo de seu noivo, sentiu seu coração acelerado bater fortemente.

  Escorregou suas mãos pelos lados marcados do corpo daquele homem, até encontrar sua cintura bem definida com músculos cativantes, pondo suas mãos na abertura superior da bermuda azul que ele vestia, e lentamente escorregando-a para baixo, até poder sentir perfeitamente o membro roliço que ali era guardado.

  Sentiu seu corpo esquentar e não pôde evitar sentir sua boca encher d’água. Antes que pudesse continuar o que pretendia, Robert a puxou pelo cabelo com força e a beijou de forma erótica e ao mesmo tempo amável. Com sua mão esquerda apertou e puxou rapidamente a cintura de Quinzel até estar colada com a sua, e pudesse sentir o seu membro pulsante tocar a barriga nua de sua mulher.

— Estive com saudades. – Ele diz em meio ao beijo intenso.

— Cala a boca. – Ela ordena.

  Ela aperta suas duras e fortes nádegas, sentindo o músculo traseiro de Robert se contrair. Era delicioso, havia se esquecido. Sentia o músculo pélvico ser puxado fazendo com que o reconhecível e delicioso pênis de seu noivo batesse em seu corpo num pedido desesperado para ser abocanhado. E ela o fez, com todo gosto.

  Agachando-se devagar, beijando cada músculo abdominal de Robert, ela calmamente se direcionou até o membro forte de seu amado. Passou seus dedos pela sua estrutura grossa e coberta de veias e não se demorou a pôr todo ele na boca. Um gemido prazeroso foi-se ouvido, o que apenas deixava Quinzel ainda mais excitada.

Em movimentos repetitivos com sua mão direita, ela o tocava devagar enquanto o calor e úmidez de sua boca e língua cobriam e brincavam com o pênis grosso de Robert. Logo seria sua vez, sabia, iria sentir-se tão bem, mas, não importava naquele momento, gostava de ver aquela expressão estampada no rosto do homem com quem pretendia casar.

  O suor no corpo de Robert e também de Quinzel, apenas davam um sabor à mais para o ato, um símbolo de esforço e prazer. O gemido sensual de Robert apenas confirmava as sensações que Quinzel lhe proporcionava com sua boca. Era como ter um pirulito quente e ao mesmo tempo que duro, macio, em sua boca. O gosto era doce, e ela gostava.

  De repente ele a puxara para cima, e após um beijo rápido, à jogara na cama já desarrumada. Não demorou nada para que ele avançasse em cima dela com tudo o que tinha. Uma mulher tem suas formas delicadas e pontos erógenos precisos, além de extremamente sensíveis, ele sabia. Brinque direito com ela e será como cem mil Volts passando por todo o seu corpo. Era exatamente o que ele queria.

  Colocou-se rapidamente sobre ela, e com cuidado, de forma sensual, em meio a respirações ofegantes, chegou lentamente até sua orelha esquerda. Um pequeno toque com a ponta da língua e um breve chupão com uma leve mordiscada. Avançando até o pescoço, onde a cheirava e sentia seu aroma doce, a beijando delicada e prazerosamente. Seguindo cada vez mais para baixo, onde seus beijos e lentos lamberes agora calorosamente invadiam a área torácica, se aproximando devagar dos belos seios de sua mulher.

  Sua boca quente transmitia seu calor com calma e sensualidade até encontrar sem medo a área sensível da auréola direita. Quinzel acariciou seu cabelo liso e sedoso, enquanto ele passava sua língua em movimentos lentos, rotativos e prazerosos. O braço esquerdo de Robert agora segurava de forma a apertar levemente o seio esquerdo de Quinzel e realizar um cuidadoso movimento também circular, enquanto agora sua boca máscula chupava o seio direito, fazendo com que ela sentisse arrepios por todo o seu corpo. Evitar pequenos gemidos de prazer era impossível.

  Mudando seu toque labial de um seio para o outro, assim como seu toque manual, acariciou, lambeu e mordiscou os seios de sua mulher. Sua saliva sujava-a com enorme erotismo, deixando para trás um sentimento úmido e prazeroso.

  Robert estava prestes a avançar para o próximo nível, descer até as áreas mais sensíveis de uma mulher e enchê-la de prazer, mas, infelizmente o casal acabara sendo interrompido pelo toque inconveniente do telefone no andar de baixo. Quinzel pensou por alguns segundos que Robert iria ignorar a inconveniência, como achava que deveria ser feito. Mas, não o fez.

— Desculpe, Amor. Eu já volto. Deve ser a minha mãe. – Ele se levantava rapidamente em meio ao pedido de desculpas.

— Ah, não acredito... – Ela sentia-se impaciente com isto. Apertava a testa com as palmas das mãos, escorregando-as até fora do queixo, onde as juntava por fim.

— Desculpe! – Robert gritava já perto da escada.

  Quinzel sentia seu corpo esfriar e com isto, todo o tesão ir embora num piscar de olhos. “Ele podia ter ignorado... Ligado depois! Mas, que droga!” Ela cochichava para si mesma.

  Pondo-se sentada na beirada da cama, um pensamento tristonho e incomum veio à sua mente, fazendo com que inusitadamente se sentisse só. Quinzel percebera naquele momento, o quanto o relacionamento entre os dois havia se tornado distante nas últimas semanas. Aquilo começara a preocupá-la. Perguntava-se se Robert também sentia isto.

  Um nó na garganta formou-se gradualmente com seus pensamentos sobre o que agora percebia. “O que há de errado? Quando foi que ficamos tão distantes?” Ela tentava entender. Uma psiquiatra tão excepcional quanto ela se julgava, deveria ser capaz de compreender e lidar com algo assim.

  A realidade é que ultimamente Quinzel se sentia cada vez mais perdida. Não sabia ao certo com o que, mas, aquela contínua e incômoda sensação de estar usando uma máscara, não saía de sua cabeça. Era como se houvesse algo de errado em ser ela mesma.

— Bobagem. – Disse para si mesma, afastando seus pensamentos incertos.

  Levantou-se ainda completamente nua da cama onde sentava, e sentiu uma leve corrente de ar frio tocar sua pele. Como que se por conta própria, seu corpo adiantou-se até o armário em busca de algumas roupas quentes.

  Estava prestes a pegar uma camisa azul clara em seu armário, quando decidiu que talvez, com pequenos gestos, poderia retomar aos poucos a conexão que sentia estar perdendo com seu noivo. Mudou para a outra porta do armário.

 Vasculhando dentre muitas, escolheu enfim, uma camisa cinza de algodão confortável, bem maior do que o seu número ideal. A camisa cinza tinha um desenho de um antigo personagem de desenhos animados, o “Perna Longa”; Diferente do habitual coelho animado e excêntrico que vemos na animação, este por sua vez era de um estilo mais “Gangster”, com um charuto na boca entre os dedos, tatuagens com a escrita “Thug Life” nas orelhas e o símbolo do naipe de espadas na parte de trás da luva; sem falar os anéis de diamante que o coelho ostentava.  Quinzel se perguntava quando Robert teria comprado aquela camisa. Não parecia fazer o estilo dele, nem na época da faculdade.

  Por fim, pegara em seu armário uma calça comprida para manter suas pernas aquecidas. Era hora de descer e saber o que de tão importante sua sogra tinha a falar, que não poderia ter esperado até que houvessem terminado o sexo que há tanto tempo não faziam.

  Sentando-se num dos bancos em frente à bancada, assistia com uma expressão de curiosidade, seu noivo rir enquanto falava com sua mãe pelo telefone. Margot nunca se dera bem com Quinzel, sempre guardara secretamente uma mágoa jamais admitida sobre o relacionamento de Robert e sua noiva.

  Margot Wisdown sempre fora uma mãe super protetora. O irmão mais novo de Robert, Daniel, uma vez contou para o casal, que sua mãe chorara durante uma semana sem parar, dia e noite, ao receber a notícia sobre o noivado do filho mais velho com sua namorada, Quinzel.

  Quinzel costumava a definir Margot Wisdown, sua sogra, em uma única palavra: “possessiva”. A verdade era que naquele final de semana, passariam o dia na casa de Margot, e Quinzel não estava nem um pouco perto de estar animada para a situação tensa que viria com isto.

  O motivo de tal programação para o final de semana era o de que sua sogra, segundo ela própria: “não se sentia bem e precisava de alguém para cuidar do Daniel.” E claro, como um bom filho, Robert se ofereceu juntamente à sua noiva, Quinzel, para cuidar de seu irmão mais novo.

— Querida, vamos sair em uma hora. Pode ser? – Robert sabia da má relação entre as duas mulheres mais importantes da sua vida, por isto ao perguntar, sua expressão facial era a de alguém que já aguardava reclamações.

  Assentindo com a cabeça enquanto apertava os lábios e jogava os olhos para cima em um movimento rápido de impaciência e desconforto, Quinzel se sentia irritada. “Ótimo descanso. Ótimo final de semana” pensou a respeito da programação daquele sábado.

  Uma hora depois, Robert aguardava sua noiva em frente à porta de sua casa. Olhava impaciente o relógio, prevendo que passaria do horário combinado. Se havia algo a qual Robert detestava mais do que criminosos milionários que podiam simplesmente comprar sua liberdade, era a falta de compromisso com o horário.

  Com a porta ainda meio aberta, Robert olhava ansioso para dentro da casa. A escadaria de madeira era bem visível naquele ângulo, e ele esperava diminuir sua ansiedade ao ver Quinzel descendo.

— Por que a demora? – Perguntava em um tom demasiadamente audível para quem apenas perguntava para si.

  Poucos minutos depois, Quinzel descia os degraus e apressava-se até a porta onde encontraria seu noivo impaciente executando pequenas e rápidas batidas de pé. Sabia que ficaria estressado, Robert não suportava de maneira alguma que chegasse fora de um horário combinado. Era até mesmo paranoico. Quinzel fizera de propósito, não queria ir.

  Sorrindo como uma criança que sabia ter feito besteira, ela se aproximou devagar ao chegar perto da porta. Sendo apressada por Robert, andou rapidamente até o carro e então abrira a porta do motorista, estando prestes a pegar no volante, seu noivo mandara que saísse e fosse para o banco do carona ao lado.

— Eu dirijo, Harleen! Você só iria nos atrasar mais. Você não quer ir, e faz de tudo para prolongar o caminho até lá. – Robert estava de mal humor. Era claro.

— Tudo bem. Não precisa se estressar. – Quinzel saíra do carro para entrar pelo outro lado.

  Robert ligara o carro rapidamente, segurando o volante e passando a marcha com agressividade. Quinzel quase achava a cena hilária. Segundos depois e estavam na estrada a caminho da casa de Margot.

  Durante toda a viagem, até que finalmente chegassem à casa da mãe de Robert, haviam discutido. Não apenas sobre a demora de Quinzel em se aprontar para visitar a sogra, mas, sobre o horário a qual havia chegado na noite anterior, sobre a hora tardia a qual Quinzel tem dormido e acima de tudo, sobre ter aceito, ou ainda pior, pedido para o Diretor Arkham, a permissão para tratar o Coringa.

  Quinzel havia de certa forma, tomado o assunto sobre o tratamento do Coringa de forma pessoal. Para ela, acusá-la de inconsequência ao decidir tratar o Coringa, era o mesmo que chamá-la de inapta, era como dizer que não é capaz de lidar com alguém tão doentio. Robert aumentava o seu tom cada vez que proferia uma nova palavra ou acusação, e Quinzel não se deixava para trás nesta ridícula competição.

— O que você não entende Robert, e talvez nunca entenda, é que mesmo alguns dos mais doentios criminosos, são apenas doentes! Pessoas que sofreram traumas, ou possuem algum tipo de deficiência neurológica, e precisam de ajuda! – Quinzel apenas conseguia lembrar do que o Coringa havia contado sobre o seu pai. – Eles são como qualquer um de nós, reagindo à insultos e estresses. A diferença é que muitos deles não possuem controle, porque nunca foram ensinados, ou aprenderam desta maneira! Eles apenas se defendem!

— Eles se defendem, Harleen? Pelo amor de Deus! Psicopatas matam por prazer! Você é psiquiatra, deveria saber disso! – Ele gritava. Neste momento, mal prestava atenção na estrada a qual seguia.

— Como eu disse... Oh, senhor espertalhão... – Ela dizia com expressões fortes de deboche. -... Alguns possuem deficiências neurológicas! A patologia da psicopatia e da sociopatia, goste você ou não, é uma doença mental! Não importa se sentem prazer, ou não! 

— E você está amando tratar o palhaço, não é? Se divertindo? – Robert parecia sequer escutar.

— Você quer saber, Robert? – Quinzel estava prestes a dizer algo, quando um caminhão passou raspando em seu carro, forçando em meio à reflexos, que Robert jogasse o carro rapidamente para o acostamento, freando com toda a força que podia pôr no pedal.

  Com os corações acelerados, completamente desnorteados pelo giro rápido e lapso de quase morte, ambos seguravam firmemente de forma completamente instintiva no carro, como gatos assustados. Estiveram perto de morrer, perceberam. Tremiam.

  Ficaram ali por alguns minutos, estáticos, apenas olhando para frente. Sem dizer nenhuma palavra. Assim permaneceu mesmo depois que Robert ligou novamente o carro e voltou para a pista em direção à casa da sua mãe. Quinzel não conseguia pensar em mais nada, que se não o quão próximo havia passado de morrer.

  Por alguns bons minutos, senão a viagem inteira, Quinzel, mesmo sem dizer uma palavra, culpava Robert em seus pensamentos pelo descuido. Preferiu evitar outra briga, outra discussão, outro momento aterrorizante. Apenas calou-se.

   Ao chegar na casa de Margot, Robert foi o primeiro a sair do carro. Não trocara um mínimo olhar com Quinzel. Ela apenas ficou lá, inerte, olhando o noivo andar para dentro da casa, deixando-a para trás como se não existisse. Uma crise de choro.

  Lágrimas desceram de seus olhos e escorreram até formar pingos salgados que caíam em suas roupas. Tentou segurar o pranto, mas, era como tentar conter a imensa força de uma correnteza. Naquele momento, ela se perguntava se estava no lugar certo, se sua vida amorosa era como deveria ser. Pensou se o problema, no fim, não seria realmente ela.

  Com sua cabeça baixa, testa colada na parte de cima do antebraço, cujo se apoiava sem força em cima do porta-luvas do carro, ela soluçava ininterrupta em meio a tristes, se não desesperadas, lágrimas. Mais do que nunca, se sentia perdida. “Eu não entendo... O que está havendo conosco?” Ela pensava “Quase morremos, e ele nem sequer pergunta se eu estou bem. Eu o perdi? Quando foi que eu o perdi?” Quinzel havia começado a se culpar por todos os problemas do relacionamento.

  Um grito de desabafo, porém, completamente inaudível no mundo exterior fora do carro, junto à diversas pancadas em muitos cantos do veículo, como uma forma de extravaso emocional, antes de estar pronta para sair. “Tenho que me desculpar. Não posso perdê-lo assim... Ele é tão bom para mim!” Ela pensava em certo desespero.

  Limpou as lágrimas que borravam sua maquiagem, olhou-se no retrovisor interno. Estava devastada. A sombra que havia passado nos olhos escorria como lágrimas de tinta, completamente borradas em sua face, a base que colocara estava completamente manchada. Tinha de limpar a face. Recomeçar.

— Vamos, Harleen. – Disse ela olhando para si mesma no retrovisor. Tentava se animar. Tentava esquecer o pequeno trauma que havia vivenciado.

  Pegou um pano em sua bolsa, e com uma garrafinha de água guardada no porta-luvas, umedeceu-o. Limpou o que sobrara da maquiagem anterior, com cuidado para não formar um lamaçal por todo o seu rosto. Secou-se.

  Após repor sua maquiagem, Quinzel saíra do carro renovada; ao menos, em aparência. Caminhara em direção ao pequeno portão branco de madeira pintada que separava a calçada do quintal da senhora Margot. Havia um caminho que ligava o início do quintal até a porta da frente da casa.

 Margot morava em um bairro caro e seguro, todas as casas do local seguiam um determinado padrão. Mais parecia um condomínio. Quintal não muito grande, telhados azul-cinza, pontas triangulares, janelas brancas, aparência amadeirada, porta de entrada vermelho escuro e uma varanda pequena, porém, confortável. Era a mesma casa onde Robert havia crescido.

  Andou pelo caminho de pequenas pedras montadas como quebra-cabeças, até chegar à porta da frente. Decidira que não era necessário bater na porta antes de entrar ao ver pela janela da casa, Robert sentado com Daniel em seu colo, ambos conversando. Robert forçava um sorriso amigável para seu irmão, que como uma criança inocente, sem saber o que havia acontecido há não muito tempo, engolia com alegria.

— Olá, Daniel! – Disse Quinzel se agachando para falar com ele, seus braços abertos em pedido de um cumprimento caloroso.

— Tia Harleen! – Daniel animado, correra velozmente até Quinzel, se desprendendo do colo de seu irmão mais velho.

  O irmão mais novo de Robert tinha meros dez anos. Seus cabelos castanhos claros, olhos que mesclavam um verde com castanho, num chamado avelã, eram de dar inveja. Sua pele era branca e ele tinha pequenas sardas nas bochechas e nariz. Um pequeno modelo, realmente. As garotas do colégio deviam pô-lo em um pedestal!

— Tudo bem, gatinho? – Ela tocava o seu nariz, o fazendo rir.

— Tudo sim. Você está muito bonita, tia Harleen. – A verdade era que Harleen sempre fora um amor secreto de Daniel. Um amor do tipo que temos quando criança. Do tipo que sonhamos casar, mesmo sabendo ser impossível. Invejava o irmão. Amava a “tia Harleen”. Com o tempo se conformara de que ela era a namorada do seu irmão, um sonho impossível. Harleen sabia, achava adorável.

— Obrigada cavaleiro! – Ela amava aquela criança. Era como um sobrinho para ela.

— Refez a maquiagem? – Robert perguntou de forma seca.

— Sim. – Quinzel tentava sorrir para ele, mas, não era real.

— Minha mãe está lá atrás. Depois vá falar com ela. – Robert parecia que ainda estava chateado, e parecia que não iria mudar tão cedo.

— Sim, eu vou. – Ela confirmou, sentindo um nó apertar forte na garganta. Mordeu os lábios, sentindo o queixo enrugar numa tentativa de conter as lágrimas novamente.

  Robert se levantara da poltrona e fora em direção ao quarto de hóspedes. Quinzel entendera o sinal, era para que ela fosse também. “Ele quer conversar.” Sentiu seu coração acelerar ao mesmo tempo em que algo parecia apertá-lo “Ele vai terminar comigo?” Estava nervosa.

— Meu amor, eu vou guardar minha bolsa no quarto. Já volto, pode ser? – Ela dizia à Daniel.

— Tudo bem. Vou pegar carne na churrasqueira. Quer? – Ele sorria animado, queria agradá-la.

— Churrasqueira? Estão fazendo churrasco? – Agora Quinzel sabia o que Margot fazia no quintal traseiro.

— Sim! Está uma delícia! – Daniel continuava a sorrir.

— Então está certo. Mas, não pegue muito. Não queremos uma “tia Harleen gorda”. – Ela brincava com o “sobrinho”.

— Certo! – Daniel correra como um cachorro animado até a parte de trás da casa.

  Quinzel se levantara do chão onde agachava, e com passos apressados fora até a porta do quarto de hóspedes. Robert estava olhando um porta-retratos antigo que havia ali. A foto presa ao porta-retratos continha uma criança e um cachorro loiro. Robert e Luge, vinte anos atrás. Quinzel conhecia a foto.

— Tranca a porta. – Disse ele ainda olhando a foto. Sua expressão era triste, culpada até.

— Tudo bem. – Quinzel obedecera e fechara a porta atrás dela. Girou a chave, trancando a fechadura.

  Quinzel não se movimentara após virar-se para Robert, apenas. Robert colocara o porta-retratos de volta no lugar, e mantendo-se alguns segundos naquela posição, com a cabeça baixa, voltou-se enfim para sua noiva. Parecia tristonho, como se algo o consumisse; completamente diferente do falso sorriso que mostrava ao seu pequeno irmão.

— Robert... – Quinzel tentara se desculpar, mas ele a interrompeu antes.

— Olha, eu não devia ter me intrometido em seu trabalho. Desculpa. – Ela percebera, era apenas o prólogo do que ele iria falar. Estava pegando forças. – Eu também não deveria ter gritado. De verdade, me desculpa. Você chegou tarde por causa do trabalho, é claro. Eu acredito em você. Não fez nada de errado. – Ele sugou os lábios, contendo uma forte emoção, fazendo toda a força que podia para falar a única coisa que embora discordasse plenamente, sabia que deveria dar um voto de confiança. – Você é completamente capaz de cuidar de um psicopata como o Coringa, desculpe se te fiz achar que não. Eu só... – Quinzel o interrompeu.

— Fica preocupado. Eu sei. – Quinzel se aproximara de Robert e o abraçara fortemente. – Pensei que fosse te perder. Desculpa. Eu prometo que vou tentar melhorar minha briga idiota com sua mãe.

— Não precisa. Eu sei como a Dona Margot pode ser uma mulher difícil. Sei que ela não gosta de você, e isso é recíproco. Está tudo bem, de verdade! – Eles se abraçavam, segurando lágrimas que pediam para cair como cachoeiras.

— Eu te amo. – Ela disse com a voz desconcertada, completamente emotiva.

— Eu também te amo. – Ele não pôde evitar uma pequena lágrima. – Vamos tentar de novo.

— Sem causar acidentes, dessa vez. Certo? – Ela tentava acabar com a tensão que havia sido criado naquele momento. Ambos riram. Um beijo doce e ao mesmo tempo salgado por causa das lágrimas dele. Ela não iria chorar, fazia força; a verdade era que não queria refazer a maquiagem uma terceira vez.

— Desculpe. – Ele ria.

  Minutos depois, se reuniam com Margot e Daniel na parte traseira da casa. Havia um quintal um pouco maior, com um balanço e alguns brinquedos espalhados. A churrasqueira queimava carnes com cheiros e tons saborosos. Quinzel e Robert ficaram com água na boca. Era hora de comer.

— Quinzel! – Margot fingia estar animada com a presença de sua deplorável nora.

— Margot! – “Falsidade não tem limite, não é?” Quinzel pensava ao cumprimentar de forma extremamente educada sua sogra.

  Margot por sua vez, tinha cabelos loiros; pintados, claro. Olhos castanhos e ameaçadores como de uma víbora. Sua pele pouco enrugada, embora a idade, graças aos caros tratamentos que pagava, deixavam-na com uma aparência de meros quarenta anos, não mais. Margot era uma senhora magra, sempre com objetos caros por todo o corpo, mesmo que estivesse em casa e ninguém de importante viesse lhe visitar. Era uma mulher que sempre gostara de mostrar o seu poder: dinheiro.

  A mãe de Robert era na realidade uma mulher até mesmo perigosa. Muitos de seus contatos milionários, pessoas da alta sociedade de Gotham, lhes deviam favores por graças à acontecimentos do passado, ou ainda por segredos a qual sabia. Tais contatos vieram de seu falecido marido, Donald Winsdown, um antigo empresário responsável por negociações de mercadorias diversas na cidade de Gotham. Uma vez Robert contou que até mesmo Carmine Falcone, lhe devia um favor. Algo a qual após a morte de Carmine, sua filha Sofia Falcone, jurou que cumpriria sua dívida, caso um dia fosse cobrada. Margot jamais pensou que fosse precisar.

— Como você está? – Sem dar tempo para a resposta, Margot não resistiu alfinetar sua nora. – Seus cabelos estão desgrenhados, querida. Depois vá arrumar, sim?

— Obrigada, Margot. Você é um amor. – Quinzel entoava com escárnio.

— De nada, querida. Agora, carne. Quer? – Margot ignorara o deboche.

— Claro, deixa que eu pego. – A verdade era que Quinzel tinha medo de que Margot à envenenasse.

  Robert se aproximara com cautela, sabia que era um campo minado, um jogo de xadrez onde somente as mentes femininas compreendiam os movimentos traiçoeiros e ardilosos. Com um abraço carinhoso, envolvendo a cintura de Quinzel, Robert beijou sua bochecha e pediu para que pegasse uma porção de carne mal passada para ele também.

  Após pegar as carnes, Quinzel e Robert sentaram nos balanços do quintal, olhando Daniel brincar com uma bola velha de futebol, sem se quer lembrar que havia prometido levar carnes para a “tia Harleen” há poucos minutos. Ele não era bom, mas, parecia se divertir bastante com aquela brincadeira. Quinzel percebera que Daniel imaginava seus oponentes correndo para tentar apanhar sua bola, enquanto claro, ele driblava a todos!

— Touchdown! – Ele gritava alegremente.

  Após comer, Robert e Quinzel se levantaram para brincar com Daniel. Foi então que em meio à brincadeira, ao ver Margot sentar-se em uma poltrona de madeira almofadada para pegar sol, que lembrou-se do por que haviam vindo para a casa de sua traiçoeira sogra. “Ela não estava doente, ou algo assim?” Pensou.

  Preferindo não perguntar, para que talvez Robert não se sentisse ofendido, manteve-se concentrada na brincadeira. Corriam de um lado para o outro atrás da bola, fingiam não conseguir pegá-la de Daniel, e se jogavam ao chão de gramado verde, de forma completamente falsa, para tentar pegar a bola que o pequeno Daniel carregava em direção ao gol improvisado com pequenos retângulos de madeira presos ao chão, montados à pregos uns nos outros.

  À noite, Quinzel, Robert e Daniel, assistiam um dos filmes prediletos do garoto. Daniel não era do tipo de criança que gostava de desenhos ou animações, mas sim de filmes aterrorizantes, filmes que para uma criança de dez anos, poderiam ser muito mais realistas e assustadores do que realmente eram. O filme em questão era “Saw”.

  Quinzel admitia, amava os gostos de longa-metragem daquele menino. O filme “Saw” também estava dentre os melhores de sua longa lista de filmes prediletos. Assistia completamente empolgada ao filme insanamente sanguinolento. Quinzel não sentia medo, e raramente tomava susto com qualquer que fosse o filme com temática “terror”, nem mesmo sua versão mais pesada o “horror”. Seu ofício e estudo à fizera alguém com poucos medos.  

  Daniel saltava da poltrona com muitas das cenas propositalmente feitas para assustar o telespectador, agoniava-se com as cenas de tortura e morte, e sentia-se nervoso com tensão que pairava por todo o filme. Às vezes Quinzel mais o observava do que via o próprio filme. Era hilário e ao mesmo tempo instrutivo.

  Ao término do filme, Margot chamara Daniel para dormir. Estava na hora. Obediente ele se pôs a subir os degraus da casa, até seu quarto no segundo andar. Margot ainda ficou inerte na escada um tempo, observando o casal de visita a olhar de volta. Quinzel sabia que ela estava se segurando para não falar nada.

— Sem barulho. – Disse Margot por fim, antes de retornar ao seu quarto. Quinzel ficara vermelha.

  Não pretendiam nada naquela noite, mas, ao voltarem para o quarto de hóspedes, Robert não pôde deixar de notar o pijama que Quinzel usava. A família Winsdown, mantinha pijamas extras no quarto de hóspedes, para que pudesse receber a família ou visitas com maior conforto e amabilidade. Porém, para as medidas físicas de Quinzel, o pijama acabava ficando um tanto quanto curto. Para Robert, era sexy.

  Ele não pôde evitar, queria muito recompensá-la pelo fracasso daquela manhã. Acima de tudo, queria verdadeiramente pedir desculpas por toda a grosseria, estresse e por muito pouco, não ter matado os dois. Ele a amava, sabia disso. Não queria perder sua rainha do baile.

  Pouco se lembrava do sabor que tinha a sua mulher, mas, muito se lembrava de seus gostos sexuais. Agarrando-a de forma bruta, como ela gostava, continuou de onde havia parado. Ali mesmo, em pé. Retirou sua camisa de pijama de forma rápida e embora agressiva, também cuidadosa, para não machucá-la. Segurando-a pela cintura, arrancou também sua calça, enquanto ela tirava a camisa dele.

  Como sempre, uma bela visão para ambos. Podiam enfim, continuar de onde pararam. Podiam enfim, retomar o que haviam perdido. O fogo do relacionamento. Além de prazeroso, transar na casa de Margot era como insultá-la, ao menos na visão de Quinzel; e Quinzel gostava da ideia, à deixava ainda mais excitada.

  Naquela noite, Quinzel e Robert conversaram sobre assuntos que há muito não debatiam. Naquela noite, a distância que havia entre eles, se encurtou. Naquela noite, seus corpos se chocaram como há muito não acontecia. Seus sorrisos em meio à gemidos, o suor em meio a ofegantes respirações, seus olhos que nada viam, meramente sentiam, e seus músculos que de forma relaxada e prazerosa, se contraíam uns nos outros. Aquilo não era apenas sexo, era amor.

— Boa noite, querido. – Disse Quinzel ao fim daquele dia.

— Boa noite, amor. – Disse Robert ao fim daquela noite.


Notas Finais


Simples, romântico e necessário. Aqui vocês conheceram um pouco mais do Robert, noivo da Dr. Quinzel e o como o relacionamento deles está começando a ser afetado pelo trabalho da Harleen, e ainda assim, o como, pelo amor que compartilham, tentam se manter unidos. O que você acha disso? Gostou de conhecer mais sobre o Robert e a família dele? E que favor seria aquele que Sofia Falcone deve para Margot?


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