História Love lives on next door | Dofia - 047

Sofia 

Dove havia acordado extremamente empolgada aquela manhã, tanto que arriscou-se na cozinha e me fez morder a língua pois realmente fez um café da manhã mais que aceitável, eu não estava entendendo nada, mas estava adorando vê-la tão bem humorada, com sorrisos largos e fáceis, ela realmente me fez levantar da cama com o coração aquecido. 

Depois de comermos e organizarmos a cozinha, a loira foi tomar banho enquanto eu tratava de arrumar o quarto e a sala que bagunçamos, e já tinha tudo pronto quando a mulher saiu do banheiro 

– Sofia! 

– O que foi?! 

– Porque você ainda não está arrumada mulher? 

– Porque você invadiu o meu banheiro e esqueceu de sair de lá? 

– E porque não se juntou a mim? — Dove veio em minha direção e o cheiro de seu hidratante inundou minhas narinas, céus ela cheirava tão bem! 

– Porque aí mesmo nos atrasaremos? 

– Hm — ela sentou-se em meu colo e rodeou meu pescoço com os braços — então a senhorita pode agora, por gentileza, ir tomar um banho e se trocar? Eu preciso que você revise sua mala, pra ver se te falta algo, já fiz nossos check-ins mas precisamos chegar lá no horário, quer dizer, eu não sei com quem falar para agilizar nosso embarque — ela fez bico, sem resistir deixei um selinho demorado em seus lábios 

– Está mesmo empolgada com isso não é?

– Em passar uns dias com você na minha cidade favorita no mundo? Puf — ela dramatizou, fingindo não se importar e eu ri — que carinha é essa? Estou achando você muito quieta 

– Ah, não é nada! 

– Amor, me fala — sempre que ela me chamava dessa forma, eu me derretia um pouco mais por ela 

– Estava falando com Sabrina a pouco, ela está meio chateada de não termos tido tempo de nos ver ainda 

– Mas você está trabalhando como nunca, e eu soube que ela também está num projeto, não tá?

– Está, com a Netflix, e por isso mesmo ela está chateada

– Eu não quero saber, poderia até te emprestar um dia ou dois... quem eu quero enganar? Não vou te emprestar coisíssima nenhuma — ela interrompeu minha risada com um beijo lento e sem segundas intenções — anda, vai se arrumar! E não fique chateada pela Sabs, nós damos um jeito de marcar algo depois okay?

– Okay... — dei de ombros e ela saiu de cima de mim 

Sem mais enrolar, afinal, já estávamos mesmo perto do horário que Dove avisou do voo, e eu não suportava atrasos. Tomei um bom banho e saí do banheiro apenas num conjunto de lingerie preto

– Que Deus tenha piedade dos meus pensamentos — olhei em direção a cama e Dove me encarava descaradamente com luxúria 

– Pare com isso mulher! — quase corri pro closet para me livrar de seu olhar — você já viu como está o tempo por lá? Será que precisaremos de casacos? 

– Ahn, eu não vi na verdade mas Paris e casacos são sinônimos amor — ouvi sua voz de longe 

– Tá bom então! 

Eu me vesti de forma mais casual possível, assim como Dove. Não queríamos chamar atenção, então fizemos o possível para passar despercebidas, não demorei com a maquiagem e em menos de uma hora já tinha tudo pronto. 

– Vamos checar sua mala? — ela perguntou quando terminou de retocar o batom 

– Quem arrumou, você ou Paulina ?

– Paulina 

– Então não preciso checar 

– Ei! Então quer dizer que se tivesse sido eu você precisaria?

– Dovey, você é péssima com malas, não acha melhor checarmos a sua? 

– Que palhaçada! Claro que não — ela revirou os olhos — de qualquer forma, Paulina me ajudou com ela — admitiu encolhendo os ombros e eu não consegui não rir 

– Então realmente não precisamos checar 

– Você superestima a Paulina !

– Não superestimo, ela é mesmo perfeita — novamente a loira revirou os olhos, pegou suas chaves, minhas coisas  e saiu do apartamento, rindo eu chequei se estava tudo em ordem antes de trancar tudo e sair atrás da mulher.

Fomos entre provocações e risadas até o estacionamento, Dove tinha duas grandes malas, e duas mochilas no carro, a ajudei a tirar tudo e fomos de Uber até o aeroporto. 

Para a nossa sorte, não era a loucura de LA, então não chamamos atenção e provavelmente não vazaria nada, ainda assim, Dove comportou-se e manteve-se a uma distância segura de mim.

– Fique aqui, eu vou despachar as malas okay? –– ouvi Dove dizer quando me aproximei dela com dois copos de suco, Starbucks era uma parada obrigatória da loira sempre, e eu havia aproveitado o pouco movimento para tentar mimá-la um pouco 

– Que? Vou com você, como pretende levar tudo sozinha? –– perguntei lhe entregando seu copo, depois de um bom gole ela apontou para trás de si sobre seu ombro

– Chamei ajuda –– logo um rapaz com um carrinho se aproximou de nós e rapidamente colocou nossa bagagem empilhada, esperando apenas o comando de Dove –– eu já volto –– a mulher piscou e saiu, sendo seguida pelo homem.

Sentei-me próximo ao nosso portão de embarque, não faltava muito para ser liberado, enquanto esperava Dove voltar, fiquei dando uma olhada superficial em minhas redes sociais, era engraçado que ainda havia pessoas insistindo na história de Mevie, e dizendo que as revelações de Dove eram muito suspeitas para as cores do single ser só coincidência. Compartilhei alguns posts e saí rapidamente quando perceberam que eu estava online e começaram a lotar as minhas redes. Depois de mandar algumas mensagens para os  meninos, Sabrina, e Paulina, ativei o modo avião do celular, a última coisa que eu queria era algo que me tirasse o foco daquela viagem, meu estômago revirava de empolgação por finalmente passar um tempo a sós com Dove sem preocupações, e eu não estava me contendo. 

– Ei, acho que já podemos embarcar –– Dove aproximou-se 

– Mas ainda não começou o embarque, eu estou de olho –– apontei para a tela 

– Mike tinha razão, é só falar com as pessoas certas...

– O que foi que você fez Dove?

– Nada! Só fui reconhecida e enquanto puxavam meu saco eu tratei de me informar, não resistem a minha carinha de bebê –– se fazendo de inocente, ela me arrancou uma risada 

– Okay, vamos lá então.

Nós caminhamos juntas, porém sem nenhum contato, e uma moça nos auxiliou depois de conversar brevemente com Dove. A loira caminhava um pouco a minha frente, carregando nossas mochilas e tagarelando empolgada sobre os nossos primeiros destinos quando desembarcasse-mos, eu não conseguia conter o sorriso ao vê-la tão leve.

– Ai finalmente! –– disse fechando o bagageiro acima das nossas poltronas, ficando na ponta dos pés para isso o que me fez rir –– do que está rindo?

– Do quão pequena você é! Quer dizer, o avião nem é alto e você precisa ficar na ponta dos pés

– Ei! Porque eu estava empurrando a mochila lá pra trás okay? Pare de rir de mim Sofia! Argh –– eu não conseguia parar, ela ficava adorável quando irritada por alguém zoar a sua altura –– meu tamanho não era um problema ontem a noite! –– arregalei os olhos e olhei em volta, não éramos as únicas com privilégio de embarcar antes, aparentemente, haviam mais algumas pessoas ali mas Dove não havia falado alto o bastante para chamar atenção de ninguém

– Senta logo Dovey, eu quero dormir no seu colo 

– Está querendo me dobrar por acaso? Porque se foi o caso conseguiu –– rindo, ela sentou-se ao meu lado –– está cansada? –– assenti –– está ficando fraca Carson!

– Sério Chloe? –– revirei os olhos 

– Desde quando chumbo trocado doi?

– Só, cala a boca 

– Calo, vem aqui –– eu sabia o que ela faria, e pela primeira vez não me importei com o risco de sermos pegas, deixei que ela se aproximasse e cortei o resto da distância, unindo nossos lábios num beijo lento, mas intenso. 

Não foi um beijo rápido, nós apenas nos afastamos quando o ar nos faltou, e quando Dove abriu os olhos, o momento exato em que sua pupila dilatou me deixou completamente arrepiada, nenhuma de nós falou nada, não era preciso. 

Dove fechou a janela e buscou algum filme para vermos, e dividindo o fone, nenhuma de nós realmente prestava atenção, meus olhos estavam grudados em nossas mãos entrelaçadas, o encaixe parecia perfeito, certo. 

Ela também me olhava, podia sentir seu olhar sob mim e não me importava, um pequeno sorriso as vezes até pintava no canto dos meus lábios, nós ficamos curtindo a companhia uma da outra por longos instantes. Depois da decolagem, soltamos nossos cintos e inclinamos as poltronas, eu me acomodei nos braços de Dove depois da mulher acomodar-se em seu lugar, arrumando o apoio em seu pescoço, não sei em que momento do voo os papéis se inverteram e eu passei a acomodar a mulher em meus braços.

Dove

Acho que nem eu, nem Sofia, tínhamos noção do quão cansadas estávamos, mas dormimos boa parte do voo, as poucas horas que passamos acordadas estávamos comendo ou conversando alguma besteira antes de nos acomodarmos uma na outra e cair no sono novamente. Estávamos perto da aterrissagem, eu já tinha despertado a um tempo e apenas observava o perfil adormecido de Sofia, e suspirando pesado por ter que acordá-la. 

– Sofi... Sofi amor, estamos chegando, você precisa do cinto 

– Hm... cinco minutos 

– Em cinco minutos estaremos no chão amor — ri 

– Ai que saco! Não me olhe com diversão Dovey!

– Você dormiu o voo quase todo amor!

– Não dormi nada — ela arrumou a postura, a poltrona e os cabelos — quando você dormiu eu passei um bom tempo acordada 

– É? Fazendo o que? 

– Te olhando dormir ... — ela fez bico e eu me desmontei inteira 

– Droga, porque você é tão adorável assim hein? 

– Pra quebrar as suas pernas — ela beijou meu rosto e afivelou o cinto, a aterrissagem realmente estava perto.

Alguns minutos depois, Sofia e eu desembarcamos e fomos direto até as esteiras de bagagens, quando recuperamos nossas malas, rapidamente consegui um carrinho para empilhá-las nele, caminhamos conversando enquanto eu dava uma rápida olhada nas minhas mensagens até a saída do aeroporto

– Não vamos de Uber até o hotel? — Sofia perguntou quando me viu tomar outra direção 

– Não vamos não, tenho outros planos e acho que vai gostar 

– Não vai me dizer? 

– Não! Só, bem, vamos pegar um carro primeiro, relaxa e aproveita! Você fica aqui e cuida das malas, eu volto logo 

– O que... mas Dov- ... — peguei-a de surpresa deixando um selinho rápido sob seus lábios e aproveitei de seu choque para pegar minha mochila e me afastar.

A locadora de carros ficava literalmente ao lado do aeroporto, e como eu já tinha resolvido boa parte dos trâmites por celular, não demorei muito lá, apenas o tempo de me identificar, fazer o pagamento e esperar trazerem o carro que escolhi, dirigi até onde havia deixado a morena, vendo seu queixo cair ao admitir o 124 Spider preto

– Gostou? — perguntei rindo ao ver sua expressão ainda abobalhada 

– Ahn, é um belo carro!

– Te faz querer trocar aquela bmw não faz? — desci e caminhei até ela para ajudá-la com as malas 

– Ah não faz não, deixa meu carro em paz! 

– Pois eu estou pensando seriamente em adotar uma belezinha igual a essa! Enfim, vamos logo! É um pouco longe — falei quando entramos no carro 

– Longe? Tem mil hotéis aqui por perto Dove 

– Já disse pra você confiar e relaxar, anda, coloca uma música aí ... 

– Você está aprontando alguma! 

– Que? Claro que não! 

Tratei de distrair Sofia para que ele esquecesse essa ideia de que eu estava aprontando, mas bastou que chegássemos no chalé para que ela ficasse novamente desconfiada, a proprietária tratou comigo muito rapidamente, mostrou todo o imóvel e nos deixou a sós.

– Se você não falar alguma coisa eu vou ficar realmente preocupada — falei cercando a cintura da mulher com os braços — não gostou do lugar? É que aqui é tão mais discreto e aconchegante, eu pensei que teríamos mais privacidade baby, mas se você quiser podemos ficar num hotel, conheço um no centro de Paris que... — fui interrompida por seus lábios 

– Dove esse lugar é incrível, tudo isso é incrível, eu só... estou surpresa 

– O que? Acha que eu não posso ser romântica? 

– Não disse isso amor... 

– Venha, vamos arrumar as coisas, quero te levar num lugar 

Nós subimos com as malas até o quarto que ficava no primeiro andar, aproveitei a distração de Sofia para esconder as joias que estavam em minha mala, no meio de minhas roupas no closet.

Tomamos um banho rápido e levei Sofia a um restaurante que eu costumava ir com meu pai, eu não contava com a emoção que sentiria ao chegar lá e acabei chorando mais do que comendo, mas Sofi foi tão gentil e atenciosa que ter ido até lá realmente havia sido uma boa ideia, eu tinha excelentes memórias dali, e agora, tinha mais uma.

Passamos o dia inteiro passeando, eu não estava brincando quando disse que conhecia partes de Paris que não estavam nos itinerários dos guias turísticos, mas que eram igualmente encantadores, e pelas expressões de Sofia, eu tinha absoluta certeza que estava alcançando meu objetivo, eu ficava a beira da morte ao ver a mulher falando francês com tanta naturalidade, mas eu não pude deixar de notar que causava a mesma coisa nela. 

Até então estávamos passando despercebidas, e eu estava sempre de olho na internet para garantir isso, vendo que Sofia estava um tanto desconfiada de minhas intenções, eu apenas continuei agindo normalmente, e levei pelo menos três dias para fazer a mulher desencanar.

(...)

Acordei sentindo as mãos de Sofia passeando por minhas costas, e automaticamente um sorriso pintou em meus lábios. 

Levantei a cabeça, estando ainda na posição que me lembrava de ter adormecido, sob o peito desnudo da morena, seus olhos estavam absurdamente claros aquela manhã. Deixei alguns beijos em seu pescoço, e me acomodei melhor em seus braços 

– Está indisposta hoje? 

– Hm, um pouco — admiti 

– Quer tomar um banho? 

– Com você? — ela assentiu — vou preparar a banheira! — ouvi a sonora risada de Sofia quando sai da cama quase correndo, realmente fui organizar um bom banho para nós, mas passamos mais tempo do que eu previa dentro daquela banheira.

Quando saímos finalmente, Sofi tratou do café da manhã e passamos o dia de bobeira, só assistindo filmes, entre risos e amassos. 

– Não acredito que desperdiçamos um dia de viagem só chupando dedo na cama — Sofia reclamou

– Ei, não ficamos chupando dedo! Se bem que parando pra pensar, isso sim foi um desperdício! 

– Céus Dove! — Sofia corou quando finalmente entendeu meu comentário, quando consegui parar de rir, continuei a falar 

– Isso foi bom, já está anoitecendo, quero te levar a um lugar hoje 

– É?

– Uhum, no centro... hoje vamos realmente turistar como todo mundo que vem a Paris 

– Quer dizer que vamos até a torre Eiffel?

– Também meu amor, também! Quer saber? Não vamos perder tempo, já se organizar, fique belíssima para mim essa noite, sim? 

– Hm, tem motivo pra isso? 

– Tem, quero que toda Paris caia de joelhos por sua beleza hoje 

– Pare com isso! — sorri, ela fica sem graça com tão pouco — tá bem, vou me organizar! 

– Eu também vou, mas farei isso no outro quarto, não quero que nos atrasemos 

– Hm, que misteriosa! Estou gostando disso... 

Me surpreendi quando voltei pro quarto e encontrei Sofia terminando de arrumar o cabelo, num coque, maquiada em tons completamente nudes, vestida numa calça preta acompanhada de uma blusa de botões branca, a mulher estava simplesmente divina, e eu precisei lembrar de fechar a boca enquanto encarava nosso reflexo no espelho, eu não queria parecer presunçosa ou nada do gênero, mas que puta casal nós formávamos! 

– Você está maravilhosa! — deixei um beijo em seu pescoço 

– E o que me diz de você, huh? — eu estava num vestido branco e justo, cabelos soltos e maquiagem marcante e um par de saltos que me deixavam mais ou menos na altura dela.

– Céus, eu sou a mulher mais sortuda do mundo! 

– Hm, eu te beijaria agora, mas ia fazer um estrago nesse seu batom 

– Quer que eu me livre dele? 

– Não, você está incrível e eu posso te dar todos os beijos que eu quiser quando voltarmos 

– Então vamos, acho que você vai gostar! 

Foi difícil dirigir com cautela com a mão de Sofia em minhas coxas, ela sabia que estava mexendo com minha cabeça e por esse motivo continuou com gracinhas o caminho inteiro.

 Então dirigi no limite de velocidade permitido a fim de sair logo de perto daquela mulher, a levei primeiramente até a torre, e depois de tirarmos milhares de fotos, e caminharmos observando curiosas e fascinadas todos os arredores dali, arriscando ficar de mãos dadas e trocando carícias discretas, nós curtimos bastante o passeio. 

– Quer jantar agora? Temos reserva 

– Temos? 

– Sim, consegui marcar por celular 

Obviamente era mentira, mais cedo eu havia dito que faria algumas compras no mercado e Sofia estava cansada demais para questionar, então eu consegui fugir sem muita dificuldade e tinha falado diretamente com o dono do restaurante, era um dos mais procurados e visitados, afinal sua vista era a própria torre Eiffel. 

– Que eficiente! Então vamos, onde é?

– Ali! — apontei 

– Tá de brincadeira? — Sofia me olhou surpresa 

– Não, vamos? — estiquei o braço e Sofia enroscou o dela no meu, seguimos numa conversa animada. 

Nós fomos muito bem recepcionadas e guiadas até uma mesa que era um tanto discreta mas ficava bem próxima ao palco e a pequena pista de dança do local. 

Fizemos nossos pedidos e comemos num clima gostoso, Sofia bebericava seu vinho, seus olhos estavam presos nas luzes da torre, ela estava claramente maravilhada, e eu estava em êxtase por conseguir essa proeza.

– Se eu pedisse pra dançar comigo, aceitaria? — perguntei, tomando sua atenção de volta pra mim 

– Está falando sério? 

Levantei às mãos fazendo sinal para a banda, que imediatamente começou a tocar la vie en rose, sorri de canto quando o queixo de Sofia caiu, levantei-me e lhe estiquei a mão 

– Me dá a honra? 

Sofia ainda parecia não acreditar quando aceitou minha mão, havia mais uns três casais dançando, então ninguém prestou atenção em nós, eu guiava a dança, minha mão repousava na lombar da morena e a outra erguia a sua, em seu ouvido eu cantava verso a verso, puxando o sotaque e arrancando arrepios dela. 

Não sei em que momento nos perdemos nos olhos uma da outra, mas parecia não haver mais ninguém ali além de nós, precisei de todo meu autocontrole para não tomar seus lábios para mim naquele instante, continuei cantando para ela, na tentativa de manter-me ocupada. Troquei um rápido olhar com o pianista, assentindo. Ao final da música, apenas levei a Sofia até nossa mesa.

– Essa noite te reserva grandes coisas — falei buscando sua mão quando ela acomodou-se na cadeira, levando-a até meu rosto e deixando um beijo casto 

– Onde você... 

– Shh, é pra você ... 

Caminhei até o palco, e logo sentei-me frente ao piano, respirando fundo e fechando os olhos por breves segundos, comecei os primeiros acordes de um arranjo de Can't help falling in love, era uma das músicas favoritas de Sofia, e eu sabia que esse fato, ligado a eu estar cantando para ela, a deixaria mexida.

Cantei cada estrofe alternando o olhar entre os acordes e os belos olhos da mulher, eu sabia que provavelmente tinha atraído atenção de alguém, mas torcia para que aquilo não nos desse problemas, a expressão no rosto de Sofia estava pagando com juros o risco. 

Minha voz e a melodia daquele piano sobressaia cada som daquele lugar, eu quase parei tudo e corri pros seus braços quando a vi discretamente enxugar uma lágrima, mas terminei firme, sendo aplaudida quando me levantei, fiz uma breve saudação e voltei pra mesa

– Eu nem sei o que dizer... — Sofia disse ainda emocionada, suspirei 

– Isso é bom, porque bem, eu tenho algo pra te dizer...  — limpei a garganta — eu ensaiei tanto que agora eu sequer sei como começar! Céus, você me deixa louca — ela sorriu e tomou mais um gole de seu vinho, parecia nervosa — na verdade, quando nós estamos juntas, desse jeito, tudo no universo parece certo, tudo parece perfeito, obviamente isso não é de agora, me sinto dessa forma por ti a muito tempo — estiquei meu braço sobre a mesa, pedindo sua mão num gesto mudo, logo Sofia pousou sua mão sobre a minha e eu a agarrei — eu fico louca com seus beijos, eu amo seu corpo, quando você olha com vontade para os meus lábios eu saio de órbita, eu gostaria de acordar com seus beijos todos os dias, preciso retribuir todos os que você me dá, nos últimos dias, passear com você pela cidade foi tão.. tão natural, você me deixa febril tão fácil mulher! Se eu tô com você, tudo fica melhor, quero amanhecer sempre na tua mente e ainda mais pessoalmente, queria poder nunca sair do seu lado, sua aura é magnética pra mim, cada momento ao teu lado é único, diferente, cada noite é especial, você é especial! Eu tenho poucos arrependimentos na vida, mas definitivamente ter esperado tanto para viver isso, é o maior deles... — eu sentia as mãos de Sofia trêmulas e seus olhos estavam cheios de lágrimas — Sofi eu gostaria de gritar as quatro ventos o quão louca eu estou, ou melhor, eu sou, por você... mas estou disposta a seguir em seus termos, eu prometo que vou ser menos impulsiva, que vou pensar nas consequências das minhas decisões, prometo cuidar de você e do que temos, mas eu preciso saber — soltei sua mão para puxar meu colar pra fora de meu vestido, os olhos de Sofia acompanhavam cada movimento, busquei as caixinhas que estava em minha bolsa, abri a primeira, revelando dois anéis, finos e delicados, absolutamente iguais, com a data de hoje gravadas em seu interior — podemos usá-los ou — deixei a caixinha de lado e abri a segunda, revelando a pulseira, que também tinha a data num pequeno pingente em formato de coração — meu bem, você aceita namorar comigo? — Sofia já mordia os lábios há alguns instantes e demorou a responder, demorou o bastante para me deixar aflita 

– Dove, vem aqui ... 

– O que...?

Ao ver que eu não me mexi, Sofia levantou-se e me estendeu a mão, quando a segurei, ela simplesmente levantou-me e sem que eu esperasse, seus lábios cobriram os meus e suas mãos em minha lombar me levaram para junto de si, eu me senti nas nuvens, e não demorei para retribuir, nós cortamos o contato quando ouvimos alguns aplausos, colamos nossas testas e suspiramos 

– A gente tá fodida se isso vazar — falei rindo 

– Eu não me importo, não hoje e claro que aceito namorar você, inferno! Eu achei que fosse ter que te pedir — nós rimos e nos beijamos novamente, quando nos afastamos ela sentou-se, abaixei-me em sua frente e com um guardanapo limpei a bagunça que meu batom deixou em seu rosto, ela fez o mesmo.

Busquei a caixa da pulseira e lhe pedindo permissão, que logo foi concedida com um breve aceno, a coloquei em seu pulso direito. 

– Isso é extremamente clichê mas ... — levei sua mão até próximo ao meu pescoço e as jóias se atraíram e os pingentes se conectaram como imãs, seus olhos brilharam e eu novamente deixei beijos em suas mãos — eu te amo, te amo demais e te daria o mundo se ele fosse meu 

– Você é o meu mundo, meu amor — Sofia inclinou-se para frente, novamente me beijando sem temor algum, quando nos separamos, Sofia buscou a caixa com os anéis — qual é o seu? 

– Ahn, esse — eu ia pega-lo mas ela foi mais rápida

– Posso? — ela pediu minha mão e dessa vez os meus olhos foram que encheram-se de lágrimas, Sofia deixou o anel em meu anelar direito e deixou um beijo sobre a joia, repeti seu gesto e depois de lhe roubar um selinho, voltei para minha cadeira, novamente checando o batom, levantei o braço sinalizando para o garçom, que nos trouxe duas taças de champanhe e nos deixou em seguida, entreguei uma taça a Sofia e ergui a minha em sua direção 

– À minha belíssima namorada 

– À dona dos meus pensamentos e do meu coração 

– Eu te amo 

– Te amo 

Brindamos e eu não tomei mais que um gole, ainda estava dirigindo e não seria irresponsável 

– Nós vamos aproveitar cada segundo dessa viagem, eu não te deixarei esquecer um segundo que passe ao meu lado — Disse enquanto acariciava sua mão, não podia acreditar que ela havia decidido usar os anéis 

– Isso não seria possível nem se eu quisesse 

– Estendemos à noite? 

– Vamos pra casa, tenho outros planos 

– Que planos seriam esses, hein?

– Fazer amor com minha namorada até o dia amanhecer... — mordeu os lábios 

– Céus, só me espere cumprimentar o chef e fechar a conta 

– Volte logo, ma chère 

– Pra você? Sempre.

(...)