Hoseok estava tendo um dia bastante feliz quando recebeu a ligação de Dawon. Ela estava no trabalho, então ele logo soube que tinha algo de errado, pois sua irmã nunca ligava em plantão.
O ruivo então fitou Yoongi e o moreno também percebeu algo de estranho, então somente ficou distraindo Yeonjun enquanto Jung ia ao quarto atender o telefonema.
— Alô? Dawon?
— Hobi, você está sentando?
Ele se sentou na cama.
— Agora estou. O que houve? Você nunca me liga do plantão…
Ela suspirou pesado.
— Nosso pai estava aqui…
— Ai, minha divindade, ele foi te aporrinhar no trabalho? É sério isso? Esse homem não tem noção das coisas.
— Hobi…
— Não! Ele tem que entender, Dawon! Isso é um abuso, vamos pedir uma ordem de restrição…
— Hoseok, ele morreu.
O silêncio que se fez parecia ecoar na mente de Hoseok. Ele morreu. Ele morreu. Claro que entendia o significado daquelas palavras, mas de alguma maneira não fazia sentido.
— P-parece que ele estava com câncer no pâncreas… Acho que aquele dia… ele estava querendo nosso perdão… e-eu o mandei e-embora…
O ruivo olhou para a parede do quarto de Yoongi, fitando o quadro colorido que tinha ali, havia sido um dos amigos que Min fizera no abrigo de idosos que lhe pintara. Jung amava aquele quadro, mas nunca entendera bem o conceito por trás das pinceladas, agora no silêncio, com o coração apertado, pareceu fazer sentindo. A pintura representava a desolação.
— Hobi?
— Ele… morreu? Nosso pai… morreu?
— S-sim… H-Hobi… Você pode vir? Eu não quero… não quero fazer isso sozinha.
Hoseok pigarreou.
— Yeonjun? Eu… Ah, vou deixá-lo com Yoon… É… — Hoseok puxou o ar com força. — É quase Natal. Ele morreu... perto do Natal.
— Hobi…
— O-okay. Eu… vou aí. É… Tchau…
Ele não ouviu a despedida da irmã, somente desligou o celular, voltando a fitar o quadro. Ele deveria chorar agora? Então, por que somente sentia um vazio enorme dentro do seu peito? Como se algo tivesse sido arrancado de dentro dele e nada sobrara?
— Baby, está tudo bem?
O mais novo fitou o namorado e depois voltou a encarar a pintura.
— Seok? — Yoongi entrou de vez no quarto, fechando a porta atrás de si e indo para perto da cama. — O que aconteceu?
— Meu pai morreu.
Era isso. Três palavras simples, mas que significavam muitas coisas. Seu pai havia morrido e ele não sentia nada dentro de si.
Yoongi pensou em dizer várias coisas e até perguntar o famoso “O que aconteceu? Você tem certeza?”, mas o olhar de Hoseok estava perdido como nunca antes tinha presenciado, então somente se sentou ao lado do namorado, buscando sua mão e juntando com a sua. Silenciosamente, dizendo que estava ali por ele.
— Dawon quer que eu vá até o hospital…
O mais velho concordou com a cabeça.
— Okay, eu vou pegar a minha bolsa…
— Não — Hoseok disse seriamente. — Eu preciso fazer isso sozinho, com ela… — Ele engoliu a seco. — Mas eu preciso da sua ajuda.
— Qualquer coisa, amor.
— Você pode cuidar de Yeonjun? Sei que faríamos isso juntos, mas está muito em cima para chamar uma babá.
O moreno interrompeu o outro com um aperto de leve nos dedos do ruivo.
— Está tudo bem, eu irei cuidar dele — garantiu o professor. — Seok…
— Não — falou o ruivo, fitando o quadro. — Não fale. Eu não quero que você sinta muito quando nem eu sinto.
O professor então não falou, mas no fundo sabia que o namorado ainda não tinha processado toda a informação, que ainda olhava para a situação de forma prática.
— Eu estou aqui por você — Yoongi disse. — Eu sempre estarei aqui.
Hoseok levantou os lábios, mas não chegou a sorrir e então Yoongi se moveu até beijar a testa do namorado com carinho.
— Eu estarei a um telefonema de distância, okay? — afirmou o mais velho. — Vai dar tudo certo, amor.
O ruivo somente concordou com a cabeça, mas Yoongi conseguia ver além daquilo. Min sabia que seu namorado estava arrasado, mesmo que não tivesse processado o que tinha ocorrido. Hoseok havia perdido o pai e quando adolescente, uma mãe. De família, somente lhe restava Dawon e claro, Yeonjun, mas o professor esperava que o mais novo soubesse que ele também estaria ali, que ele seria a sua família.
— Vou preparar uma bolsa para você e vou deixar a chave do meu carro contigo. O seu está lá no apartamento de Dawon e seria demorado para ir buscar — Yoongi dizia tudo de forma prática, pois sabia que Hoseok precisava daquela segurança em momentos em que se sentia perdido. — Vou colocar uns sanduíches, você coma, okay? Eu… vou para a cozinha agora. Pegue aquele meu casaco quente que você gosta, está frio lá fora.
Hoseok não pareceu escutar muita coisa.
— O Natal é daqui duas semanas — ele murmurou, ainda fitando o quadro. — Eu vejo árvores e enfeites de Natal para todo lado agora. Ele… sempre gostou do Natal.
Yoongi largou a bolsa que tinha na mão e fico parado na frente do namorado.
— Quer conversar sobre isso?
— Yeonjun nunca vai conhecer o avô. Não sei bem o que me sinto em relação a isso.
— Seok.
A voz de Yoongi foi séria e ruivo o fitou, pensando que mesmo estando sentado, o namorado não parecia tão alto daquela posição. Mas, ainda assim, seu coração se sentiu seguro de alguma forma, como se soubesse que aquele homem iria protegê-lo contra qualquer coisa.
— Eu não quero conversar — Hoseok disse, desviando o olhar para o chão. — Só estava comentando.
— Você tem certeza?
— Tenho — respondeu o ruivo. — Obrigado.
Não havia muita emoção na voz de Hoseok e Yoongi acreditou que o namorado precisava daquele momento sozinho, então somente saiu do quarto silenciosamente, indo para a cozinha separar os sanduíches que tinha feito para comerem mais tarde. Yeonjun ainda estava na sala, brincando com legos.
O moreno então focou em terminar a tarefa, logo deixando tudo em uma sacola antes de voltar para o quarto, encontrando Hoseok terminando de colocar o casaco que ele tinha dito antes, então o namorado estava ouvindo, era uma boa coisa.
— Eu já separei os sanduíches.
— Okay, obrigado.
Outra vez, Hoseok tentou sorrir, mas não conseguiu realmente. Era até uma visão estranha para Yoongi tal coisa, mas o ruivo não precisava que lhe apontassem tal comportamento naquele momento. Min deixou aquele pensamento para um outro momento e então foi até a sua própria bolsa que estava jogada na poltrona e em seguida foi até o namorado.
— É o meu cartão de crédito. Você pode usar para o que precisar — disse o moreno, colocando o cartão na mão do namorado. — E antes que você negue, eu não me importo. Veja como um empréstimo e quando puder, você me paga.
Hoseok fitou o namorado e não pode deixar de pensar como ele falou tudo rapidamente para que não houvesse tempo para negar. O ruivo não pensou em nada além de beijar o professor e foi isso o que fez. Yoongi ficou surpreso, mas em poucos segundos levou a mão às costas do estudante, deixando que o momento os envolvesse.
— Obrigado, amor — o ruivo murmurou, deixando seus dedos afagarem a bochecha do mais velho. — Eu te amo.
— Eu te amo mais — afirmou o moreno. — Fique bem, okay? E me ligue para qualquer coisa.
— Eu vou…
— Sabe a senha do cartão, não é?
O ruivo deu outro sorriso.
— A data do meu aniversário.
Yoongi concordou com a cabeça, não conseguindo evitar de dar um sorrisinho.
Após aquilo, Hoseok não quis conversar mais muita coisa, somente abraçou Yeonjun e disse que teria um assunto importante para resolver e que Yoongi iria cuidar dele. O garoto pareceu perceber que havia algo de errado, mas somente concordou com o tio.
Poucos minutos depois, Yoongi voltou a sentar ao lado de Yeonjun, ajudando-o com o lego e pedindo a divindade que Hoseok e Dawon ficassem bem naquele momento difícil.
***
Jungkook estava rindo de algum meme que Jimin o mandara quando o nome de Kangdae surgiu na tela do seu telefone. Ele estranhou, mas logo atendeu a ligação, fazendo um afago na cabeça de Taehyung para acordá-lo com delicadeza, calculando que o pai queria falar com Kim e não com ele.
— Pai?
— Kookie… Onde você está?
— No apartamento, com Tae. Quer falar com ele? Tae estava exausto depois… — Jungkook parou de falar, pigarreando. — Depois que jantamos.
Houve um silêncio constrangedor e Jungkook quis se socar por ter falado demais. Claro que ficou óbvio o que tinham feito.
— Desculpa, pai… Eu n-
— Kookie, esquece isso — interrompeu o político. — Eu tenho algo para te falar, mas você tem que escutar com atenção, okay? É importante.
O moreno engoliu a seco, percebendo Taehyung se mexer no seu colo e levantar a cabeça na sua direção, com os olhos praticamente fechados, como se procurasse algo, até encontrar o rosto de Jungkook e então sorrir. Jeon devolveu o gesto.
— Eu estou ouvindo.
— O presidente Choi está internado.
— O… o quê?
— O fígado dele está parando… N-não há muito o que se possa fazer por ele agora, está com metástase. Ele pediu para te ver. Eu não queria ligar, mas… Não é a minha decisão para tomar, é sua, então… Se você quiser vê-lo… — Kangdae pigarreou. — Mas tudo bem se você não quiser, Kookie. Não é sua obrigação, meu filho.
O loiro não demorou para perceber a ruga no meio da testa do namorado e o olhar assustado, então mesmo sonolento, se moveu até ficar sentado, fitando o outro para tentar entender o que estava ocorrendo.
— Mas… não vai ter impressa? Eu vou poder entrar?
— Estamos mantendo a informação em sigilo, mas não vamos conseguir por mais muito tempo.
O moreno concordou com a cabeça, mesmo que o pai não o estivesse o vendo daquela forma.
— Eu… vou vê-lo. Hm… dependendo do tempo do Uber, devo chegar em uns vinte, trinta minutos.
— Filho, eu mando Taekwoon. Não se preocupe.
— Ah, claro, claro…
— Eu vou estar aqui com você o tempo todo, ‘tá bom?
Jungkook sorriu.
— Está bem, pai. Então... hm… te vejo daqui a pouco.
Houve mais alguma despedida e então Jungkook desligou, fitando Taehyung que ainda estava com o rosto amassado, mas agora com preocupação, pois mesmo não ouvindo a conversa, sabia que algo tinha acontecido.
— O presidente… está no hospital — disse o rapaz, pigarreando. — Era o seu pai… É… Hm… eu vou visitá-lo, ele quer me ver.
— Esse homem… — Taehyung estava irritado, pois toda vez que o presidente Choi aparecia Jungkook terminava triste e ele odiava cada segundo daquilo. — Vamos trocar de roupa…
— Tae, você não precisa ir… Eu posso ir sozinho e depois eu volto rápido, eu prometo.
O loiro sacudiu a cabeça negativamente, tomando o colo do outro até seus lábios estarem juntos em um beijo calmo e cheio de carinho.
— Eu vou, okay? Quero estar lá para segurar sua mão, baby.
O mais novo concordou com a cabeça, dando um fraco sorriso. Somente em saber que o namorado iria junto, já se sentia mais confiante. Não sabia bem o que faria naquele hospital, provavelmente ouviria alguma meia dúzia de palavras amarguradas do homem e então depois iria colocar uma pedra naquele assunto. Não era ruim a ponto de desejar a morte de ninguém, contudo não queria mais saber de uma pessoa não queria saber dele.
Os dois então se moveram para fora da cama e logo foram se arrumar para saírem. A noite já passava da metade e estavam cansados, mas era melhor terminar com as coisas de uma vez.
Não demorou para Taekwoon chegar e eles seguiram de mãos dadas o carro, em um silêncio acolhedor. Taehyung sabia que o namorado precisava daquele tempo para pensar, então daria isso a ele.
— Oi… tudo bem com vocês? — Taekwoon questionou, já acelerando o carro.
— Está sim — Taehyung respondeu, com um sorriso. — Como vão as coisas com Ravi?
Taehyung manteve a conversa calma com o segurança e Jungkook somente apoiou a cabeça no vidro da janela, vendo as ruas de Seul passarem como vultos iluminados. Ele somente queria acabar logo com isso, pelo menos era o que repetia para si.
***
Eles entraram pela porta traseira, com Taekwoon os acompanhando e indicando o caminho. Aos poucos, Jungkook pode ver a movimentação diferente, vários homens de terno servindo de segurança e por um momento imaginou o que aconteceria se Choi morresse. Kangdae iria assumir? Parecia estranho de certa forma.
— Kookie, Tae!
A voz do primeiro-ministro tirou Jungkook dos seus pensamentos e eles somente se aproximaram do homem de uma vez. Deixando-se ser abraçado com força.
— Isso é um absurdo! Eu que sou o filho! — Taehyung fingiu reclamar, tentando tirar um sorriso do namorado e conseguindo, mesmo que fraco. — Ei, pai... espero que não tenha problema eu ter vindo?
— Claro que não, meu filho — murmurou Kangdae, beijando o topo da cabeça de Taehyung. — Kookie precisa de você.
Jungkook sorriu de novo. Ele se sentia acolhido ali, com aquelas pessoas. Era bom ter essa percepção.
— É ele o garoto que meu pai quer ver?
O rapaz olhou para o homem parado atrás de Kangdae, mas não fez nada além de o fitar. Ele o conhecia da televisão, era um dos filhos do presidente.
— E-eu me chamo Jeon Jungkook… — O moreno se apresentou, fazendo uma reverência que não foi correspondida. O homem continuou o encarando com certa desconfiança.
— Choi Minho… Eu não pensei que meu pai tinha um gosto por garotos mais jovens também… Por mulheres eu já sabia…
— Olha aqui! — Taehyung começou, dando alguns passos na direção do homem, mas sendo impedido de continuar pelo pai e o namorado. — Respeita o meu namorado!
— Tae… — Jungkook o puxou com cuidado, sentindo as bochechas queimarem, tanto pelo rompante do loiro quanto pelo o que o homem pensara. — Está tudo bem, fica calmo.
O homem voltou a fitar Jungkook, como se repensasse a sua primeira impressão, mas o olhar de desconfiança ainda no rosto. Jeon acabou desviando os olhos, envergonhado de saber que aquele era o seu meio-irmão e o Choi já pensava o pior dele.
— Minho, não diga coisas das quais possa vir se arrepender depois — Kangdae proferiu, colocando uma das mãos no ombro do Choi, dando leves batidinhas. — Vamos, Jungkook. O presidente já deve estar pronto para a sua visita.
Minho somente contraiu a mandíbula e seguiu para o outro lado, fingindo não se importar com Jungkook. Taehyung logo cruzou os braços, pronto para brigar com o homem outra vez.
Jungkook resolveu esquecer a questão naquele momento e somente acompanhou Kangdae até o quarto. Era área de terapia intensiva, então ele teve que lavar as mãos e recebera uma máscara para proteção do paciente. Tal coisa deixou o moreno nervoso.
— Você quer que eu entre com você?
— N-não, mas…. Hm…
— Eu vou ficar aqui. Não vou sair daqui — Kangdae garantiu, entendendo que o mais novo queria, mesmo sem ele conseguir terminar a frase.
O rapaz somente concordou com a cabeça e entrou de uma vez. Queria acabar logo com aquilo tudo, tirar o peso que estava no coração.
O barulho do aparelho que mostrava os batimentos cardíacos foi a primeira coisa que Jungkook ouviu e depois a respiração pesada do homem, mas ele estava com os olhos abertos, como se o esperasse por todo aquele tempo.
— Filho…
Jeon fincou as unhas na palma da mão. Aquele homem não tinha o direito de o chamar de filho.
— Você realmente veio… — o homem proferiu, mas ele não parecia surpreso, ou feliz em vê-lo, mas interessado. — Espera ganhar algo de mim quando eu morrer?
Jungkook quase se virou e saiu ali mesmo. Havia realmente saído da sua cama, com o seu namorado maravilhoso para escutar aquilo? Céus, deveria ter feito algo de ruim na vida passada dele, era a única explicação.
— Eu por acaso pedi algo antes? Por que eu iria querer agora? — disparou o rapaz, sem muita educação. — Olha, eu vim aqui porque o senhor Kim pediu, mas pelo visto o senhor está muito bem para ofensas, então estou indo embora. Apesar de tudo, desejo uma boa recuperação para o senhor.
— Espera… Eu preciso dizer uma coisa.
O moreno suspirou pesado, cruzando os braços.
— O que é?
— Aproxime-se por favor?
Jeon estalou a língua, mas se aproximou, não deixando de pensar em como imaginou que o homem estivesse pior de alguma maneira. Mas, mesmo parecendo pálido, ele ainda tinha a língua afiada.
— O que o senhor quer? — Jungkook não estava mais a fim de estar ali e isso era óbvio. — Está tarde e amanhã eu tinha combinado com o meu irmão de sairmos para comprar presentes de Natal.
O outro deu um sorriso fraco.
— Você não fica bem tentando ser rude. Soa falso.
Jeon suspirou pesado. Era a verdade. Ele não queria realmente ser rude com alguém doente, principalmente aquele alguém sendo seu pai biológico.
— Sua mãe… O acidente… Era apenas para dar um susto. Ela entrou em contato, me ameaçando para pedir pensão…
Jungkook arregalou os olhos. Ele não esperava por aquilo, na verdade, nem pensava mais naquela situação. Toda a sua vida somente quis saber quem era seu pai, mas nunca imaginou que tinha algo a mais no acidente da mãe.
— O que você está falando?!
Naquele momento, Jungkook quis que Kangdae estivesse ali. O homem iria o abraçar, pois pareceu ser tudo o que precisava para não desabar.
— Sua mãe estava passando por dificuldades para cuidar de você e tinha separado do marido… pelo menos foi isso o que ela me disse quando ligou. Nós marcamos um lugar, mas entenda, eu tinha acabado de me tornar deputado, eu não podia ter um escândalo, pois iria perder tudo… Minha carreira e minha esposa.
Jeon sentiu o coração acelerar e quis vomitar, mas se forçou a respirar fundo, a terminar de ouvir o que agora já parecia claro na sua mente.
— O carro a acertou com muita força… Mas era só um susto, eu n-não pensei…
— Você não pensou que deixaria uma família inteira sofrer por que não queria pagar uma mísera pensão?! Dinheiro que nunca o faria falta! Você a matou! Você matou a minha mãe por ganância! — Jungkook respirou fundo, pois não queria continuar gritando dentro de um quarto de hospital. Céus, ele iria desmaiar ou vomitar. Seu corpo não parecia reagir bem ao ápice de estresse.
— Eu estou pagando pelos meus pecados, Jungkook. Eu vou morrer.
É pouco. Jeon quis retrucar. Era pouco ele simplesmente morrer quando fizera tanto mal a sua família, principalmente quando o homem vivera toda a vida bem, com dinheiro, com a sua família completa. Já Namjoon e ele tiveram que crescer sem a mãe.
— Eu precisava desabafar e te pedir perdão por isso.
Não havia arrependimento, não havia nada na voz do homem.
— N-não… — Jungkook negou com a cabeça, dando um passo para trás. — Você não vai ter o meu perdão. Você não está arrependido do que fez, está? — questionou, encarando o homem por entre as lágrimas. Choi apenas o encarou de volta, nenhuma emoção em sua face pálida. — Eu não vou desejar mal ao senhor, mas eu não quero que me procure outra vez. O senhor quer ver sofrimento até mesmo no leito de morte e eu não estou aqui para satisfazer seus desejos cruéis. Tenha uma partida pacífica, senhor Choi.
Jungkook então se virou e percebeu que precisou de todas as suas forças para sair do quarto sem desabar, mas assim que fechou a porta atrás de si, sentiu suas pernas falharem. Mas, antes que fosse ao chão, Kangdae estava o abraçando, com o olhar cheio de preocupação. Perceber tal coisa, fez o rapaz o deixar as lágrimas correrem pelos seus olhos, pois aquele homem ali não era nada seu e mesmo assim o tratava com mais carinho do que a pessoa com mesmo DNA o tratava.
— Filho? Kookie? Shh… está tudo bem… Eu estou aqui.
— F-foi ele… Ele a matou… — Jungkook chorou ainda mais contando o que ouvira do homem. — Ele matou a minha mãe.
Kangdae arregalou os olhos, fitando o rapaz enquanto o segurava pelos olhos.
— O que você disse?!
— Ele falou que e-ela pediu pensão, e-então ele a atropelou p-para assustar, m-mas e-ela morreu. E-eu o o-odeio, pai. E-eu q-quero ir e-embora.
— Tudo bem, querido. Vamos embora… Calma, vai ficar tudo bem…
Kangdae afirmou, abraçando o mais novo e dando a ele um tempo para se acalmar antes de o puxar para sair dali e encontrar Taehyung no saguão.
— O que o que aquele homem horrível disse?! — o loiro proferiu, assim que encontrou o outro molhado de lágrimas de Jungkook.
Jeon somente negou com a cabeça. Ele sentia que iria vomitar se dissesse tudo outra vez, então somente deixou que Taehyung o abraçasse, vendo o olhar de Choi Minho novamente nele. O rapaz desviou o rosto outra vez, não queria conversa, não queria mais ficar naquele lugar.
Mas, como se o universo não desse descanso a Jungkook, Minho se aproximou antes que saíssem dali. Jeon apertou a mão do namorado, como se pedisse ajuda em silêncio. O loiro se virou e quando viu Choi, já se colocou na frente do mais novo.
— Ele não está afim de ouvir suas bobagens.
— Taehyung, eu te conheço desde que você está nas fraldas. Tenha mais respeito.
— Não quando você quer ofender o meu namorado.
A mente de Jungkook doía. Ele queria sair dali, mas Taekwoon tinha seguido para a outra área, provavelmente ajeitando as coisas para a saída deles.
— Eu não vou o ofender — Minho continuou a falar. — Garoto, você é meu irmão, não é? É tão óbvio, eu deveria ter percebido antes.
— Minho. Vocês podem ter essa conversa uma outra hora. Jungkook não está em condições — Kangdae interviu e o homem pareceu compreender, balançando a cabeça.
— Tudo bem… Me desculpa. Se você quiser… Kangdae tem meu contato. Eu não irei impor minha presença se isso for causar mal. Me desculpe outra vez.
Jungkook somente sacudiu a cabeça positivamente. Ele não tinha forças para mais nada no momento. Minho entendeu que o rapaz estava abalado e somente se virou, voltando para o canto que antes estava sentado.
— Ele é um bom rapaz — Kangdae disse, com a mão no ombro de Jungkook. — Não é igual ao pai.
— Vamos voltar para casa, amor? — Taehyung ofereceu, deslizando os dedos pelos cabelos de Jungkook, para em seguida usar os polegares para enxugar as lágrimas do namorado.
— Não, vocês vão lá para casa — disse Kangdae, gesticulando quando viu Taekwoon. — É mais seguro por agora. A notícia vai vazar a qualquer momento e podem descobrir algo, nunca se sabe… Vai ser melhor assim.
Taehyung não discutiu e Jungkook menos ainda, somente segurando com força na mão do namorado e seguindo em direção a Taekwoon junto com os outros dois.
— Senhor, a notícia vazou — disse o segurança.
— Calculei quando o celular começou a vibrar como louco. — O primeiro ministro suspirou pesado. — Crianças, eu vou ter que ficar. Não posso sair nesse momento, mas Taek leva vocês, okay? Qualquer coisa, vocês me liguem, ‘tá legal?
Kangdae não queria deixar Jungkook naquele momento, mas era o seu trabalho ficar, falar com a imprensa e todas as outras burocracias que toda aquela situação demandaria. Era ruim, mas fazia parte, principalmente com o presidente no estado que estava. Kim não mentiria, ele não sentia pena alguma do homem, contudo para nação, tinha que parecer abalado e um bom amigo. Se ao menos eles soubessem dos bastidores…
— Tudo bem, papai. Eu cuido dele.
O casal então seguiu Taekwoon, que abriu caminho e os levou por uma saída reservada, na lateral do prédio. Jungkook estava fitando o chão, deixando que o namorado fosse aquele que realmente o carregava para o carro. Então, consequentemente, ele acabou esbarrando em uma pessoa.
— Kookie?
O rapaz levantou o olhar e não deixou se surpreender ao encontrar Hoseok o fitando.
— Jungkook, vamos… Oh, Hoseok-hyung. — Taehyung sorriu quadrado, logo levando o braço à cintura de Jungkook, de forma protetora. Jung observou o movimento e pensou por um momento se os mais novos percebiam aquilo ou já era natural para os dois. — O que faz aqui?
— Meu pai morreu — disse o ruivo, de uma vez. — Vocês?
As palavras de Hoseok não tiveram muita emoção e os dois ficaram um pouco surpresos, mas nada falaram sobre o assunto.
— O meu pai… o biológico… está morrendo — Jungkook explicou, pigarreando. — Mas… não importa mais — disse o rapaz.
O ruivo concordou com a cabeça, aproximando-se do mais novo e lhe beijando a testa de uma vez.
— Vai dar tudo certo, Kookie.
— Você fumou — disparou Jungkook, franzindo o nariz. — Hyung, você prometeu a Joon que não ia mais fumar.
Hoseok estalou a língua.
— Só hoje, Kookie. Me dê esse desconto.
O mais novo abriu e fechou a boca, concordando com a cabeça. O dia não deveria estar bom para Hoseok.
— Tudo bem, hyung. Mas toma cuidado, okay?
— Vou tomar, meu bebê — Hoseok sorriu, fitando o loiro. — Cuida bem dele, Tae.
— Eu vou cuidar, hyung. Mas agora a gente tem que ir…
O mais velho concordou.
— Tudo bem, eu também tenho que entrar mesmo…
— Fique bem, hyung — murmurou o moreno.
— Você também, Kookie. Fique bem.
Jungkook viu Hoseok tentar sorrir para em seguida entrar no prédio e mesmo triste quis fazer algo pelo amigo, por aquele que considerava o seu irmão, mas a oportunidade tinha passado e estava muito exausto para pensar em algo a mais. Assim, seguiu Taehyung para o carro e deixou seus olhos fecharem. Somente queria esquecer de tudo.
—
O carro chegou rapidamente à mansão e Jungkook cumprimentou a mãe de Taehyung quando esta os recebeu, mas somente sentiu que conseguiu focar em algo quando deitou na cama do antigo quarto do namorado e fitou o teto. Aquela noite era real. Extremamente real.
— Baby, você quer conversar ou ir direto dormir?
Jungkook quase disse que precisava tomar banho e mudar de roupa, mas então se lembrou que tinha feito aquelas coisas assim que chegara ali. Onde estava com a cabeça? Por que seus pensamentos não faziam sentido algum?
— Dormir — ele disse de uma vez. Talvez fosse melhor assim, certo?
— Okay, amor — Taehyung disse, desligando a luz e voltando rapidamente para a cama, enfiando-se por debaixo do cobertor em seguida. — Boa noite, Kookie.
O loiro então deixou um beijo na testa do namorado e se abraçou a ele, esperando que aquele gesto ajudasse ao outro de alguma maneira.
E ajudou, por vários minutos, mas Jungkook começou a pensar novamente no ocorrido e o cansaço não foi o suficiente para deixá-lo dormir. Assim, fitou fitando o teto, pensando em tudo aquilo, mas não tinha explicação além da ganância, de um homem cheio de poder, arrancando-lhe sua mãe logo depois de ele nascer. Agora, ficava contente por não ter sido criado pelo Choi, era melhor dessa maneira.
Jungkook suspirou pesado, virando na direção de Taehyung e o observando com os olhos fechados, já parecendo dormir, ele sorriu fracamente para a cena.
— Tae?
O loiro abriu os olhos no mesmo instante, como se estivesse atento para qualquer movimentação.
— Sim, amor?
— Você quer transar?
A fala fez o loiro arregalar os olhos e então negar com a cabeça em seguida.
— Amor…
— Tudo bem, eu só vou dormir então…
Jeon tentou se virar, mas o loiro o parou, segurando-o no lugar.
— Kookie, vamos conversar.
— Não, eu só… não queria pensar sobre isso, mas foi idiota, me desculpe.
Taehyung suspirou pesado.
— Baby, se fosse algo que você quisesse, eu faria, mas no fundo você não quer e sabe disso — afirmou o mais novo. — Então, vamos conversar. Colocar para fora vai te ajudar. Quando que não ajudou?
O rapaz então se lembrou de quando acreditou que Taehyung era o seu irmão e como esconder aquilo o adoeceu. O namorado tinha razão. Na verdade, era difícil alguma vez que não estivesse certo.
— Aquele homem… disse que matou a minha mãe para não pagar pensão.
Ele disse de uma vez e pareceu que ficou mais fácil. Claro que doía, muito, mas de alguma maneira não era mais um segredo, não iria o corroer por dentro.
— Ele realmente te chamou lá para falar essa barbaridade?
— Ele disse que queria confessar, que estava arrependido, mas não tinha um pingo de arrependimento, Tae. Não tinha nada. — Jungkook respirou fundo, virando-se outra vez para fitar o teto. — Eu queria esquecer que ele disse isso. A vida toda achei que tinha sido um acidente, nunca nem pensei em outra possibilidade. Agora, ele vai morrer e terei que carregar isso na minha mente, saber que minha mãe nunca teve justiça por seu assassinato.
Era uma fala forte e Taehyung não fez muito além de segurar na mão do namorado, por baixo das cobertas. O que poderia falar? então, iria mostrar o seu suporte naquele momento difícil?
— Eu sinto muito, Jungkook. Ninguém deveria passar por isso. Esse homem é um monstro, mas eu fico feliz que você teve um pai maravilhoso sua vida inteira, que não precisou conviver com aquele merda. — Taehyung respirou fundo. — Sei que você queria ter vivido com a sua mãe, ter o amor e carinho dela, mas… o universo te deu o seu pai e ele foi e ainda é perfeito. Não estou falando que você não deva ter raiva ou mágoa, pois eu ficaria, mas… eu não quero que você acredite que tem culpa de alguma coisa.
Jungkook fitou o namorado alarmado. Era isso. Era essa a palavra que descrevia o sentimento dentro do seu peito: culpa. Ele estava se sentindo culpado.
— É isso, não é? — Taehyung questionou em tom baixo, afagando a bochecha do namorado. — Você acha que se não tivesse nascido, sua mãe estaria viva, né? Mas não pense essas coisas, ela fez as escolhas delas, Kookie. E você está aqui por isso e eu agradeço muito por ter te conhecido e ter sido escolhido pelo seu coração, mas por favor, não sinta culpa por ter nascido. Sua mãe não gostaria disso.
O moreno sentiu as lágrimas tomando seus olhos mais uma vez e somente abraçou Taehyung cm força.
— Sei que não é o ideal, mas ele está morrendo. Não tem mais volta disso e então você nunca mais precisará o ver ou ouvir. Choi foi um homem horrível, mas agora você estará livre dele de uma vez por todas.
Jungkook concordou com a cabeça, mas não deixou de abraçar Taehyung. Ele se sentia em casa nos braços do namorado.
— Tae?
— Sim, Kookie?
— Mesmo com tudo o que ele me disse, em nenhum momento eu senti vontade de furtar algo. Eu fiquei mal e quase vomitei, mas eu não tive o impulso — afirmou o rapaz, afastando-se do outro para fitá-lo, ambos ainda deitados na cama. — O tratamento e as reuniões são importantes, mas Namjoon, você e meus amigos também me ajudaram demais. E-eu quero agradecer por você ficar do meu lado, de não desistir de mim mesmo quando eu tinha desistido de mim mesmo.
As palavras fizeram os olhos de Taehyung se encherem d'água e então ele beijou o namorado. E os dois ficaram daquela maneira, sem mais palavras, somente com seus corpos juntos e a certeza de que mesmo que tudo ficasse ruim, sempre teriam a força um do outro para continuarem. Era uma boa percepção para se ter.
***
Hoseok consolou a irmã por horas. Ele perdeu a noção de quanto tempo tinha passado, mas em um momento, Dawon se mexeu, secou as lágrimas e disse que estava bem. O ruivo quis discutir, mas sua irmã era forte e teimosa, ela não choraria mais, pelo menos não na sua frente.
— Hobi, você… não chorou.
O ruivo se levantou de uma vez do banquinho em que estavam sentados, coçando o nariz por um momento.
— Está bastante frio, melhor irmos para casa.
— Hobi…
— Eu não tenho pelo o que chorar, já chorei anos quando ele nos abandonou. Já gastei todas as minhas lágrimas quando era um menino assustado, segurando a sua mão porque nosso pai, que deveria cuidar da gente, nos deixou.
Dawon concordou com a cabeça, mesmo sabendo que o irmão estava guardando tudo dentro dele. Sua esperança é que aos poucos a casca fosse se quebrando e eventualmente, ele viesse a chorar. Assim, não insistiu mais no assunto.
— Então, vamos para casa. Está tarde.
O caminho para o apartamento de Yoongi foi silencioso, o único som dos dedos de Dawon respondendo mensagens de pessoas preocupadas, mas Hoseok não prestou muita atenção, somente se concentrou em chegar logo no destino.
— Eu vou levar Yeonjun para casa — disse Dawon quando chegaram no destino. — Mas você deveria ficar. Yoongi deve estar preocupado.
— Claro — afirmou o ruivo. — Mas você leva o meu carro, Uber essa hora é perigoso.
Ela concordou, buscando a mão do irmão e dando um beijo na palma antes que ele se movesse para longe.
— Você pode me ligar qualquer hora — a mais velha disse. — Sabe disso, não é?
— Claro que sei, noona.
Hoseok sorriu, mas não chegou aos olhos.
— Tem problema se eu não subir? — perguntou, vendo o irmão negar com a cabeça. — Então, eu vou ficar por aqui, esperando…
O ruivo então saiu do carro sem pensar muito, somente seguindo para o apartamento de uma vez, cumprimentando o porteiro pelo caminho. O homem já o conhecia de meses e o estudante não se esqueceria de como o funcionário os olhavam desconfiados de início.
— Vocês dois são bem amigos, né? — o porteiro perguntou uma vez, dois meses depois que estavam namorando.
— Namorados — Yoongi havia dito, sem perceber realmente a face do homem.
Mas Hoseok viu o rosto do porteiro ir de choque a estranheza e assim ficar por vários dias, mas até que ele mudara e agora era bastante simpático. Jung nunca saberia ao certo se aquilo era verdadeiro, se realmente eram aceitos ou se o porteiro não queria nenhuma reclamação.
O estudante sacudiu a cabeça. Por que estava pensando naquilo? Por que pensava em tudo menos no seu pai? De certo modo, estava ficando incomodado com as suas atitudes, sentia-se fora de si de alguma maneira.
— Amor…
Yoongi estava com o cabelo bagunçado e o rosto amassado por estar dormindo no sofá da sala. Hoseok sentiu o coração apertar, sabendo que o namorado estava o esperando preocupado. Pelo menos eu ainda sinto algo… De certo modo era um alívio, somente com o pai que seu cérebro parecia bloquear qualquer sentimento.
— Dawon está esperando lá embaixo. Yeonjun está no quarto?
O mais velho concordou com a cabeça, ficando de pé de qualquer maneira e puxando o casaco contra si. Estava frio na sala, mas ele não queria que Hoseok percebesse tal coisa.
— Ele dormiu cedo, estava cansado. Queria saber o que aconteceu, mas eu não falei… Achei que vocês quisessem falar.
— Ela deve falar com ele amanhã…
O moreno concordou e somente acompanhou Hoseok até o quarto, acendendo a luz enquanto o ruivo tocava de leve na testa do sobrinho, que sem demora abriu os olhos, ainda com confusão.
— Tio…
— Sua mãe está te esperando lá embaixo. Vamos?
— Hu-hum… — O menino murmurou a concordância, esticando os bracinhos na direção do ruivo, que logo o pegou no colo delicadamente. Seu menino estava a cada dia maior, não demoraria para ficar difícil carregá-lo pelos cantos. — Tchau, Tio Yoongi.
— Tchau, pequeno. Durma bem.
— Obrigado pela torta…
A voz do menino ficou baixa, como se ele já estivesse voltando a dormir e Yoongi não resistiu a fazer um afago na cabeça da criança, pensando como já era ligado a Yeonjun da mesma maneira que era a Hyunki. Talvez tivesse nascido para ser o tio; o pensamento lhe trouxe um sorriso no rosto.
— Precisa de ajuda? — Min perguntou em tom baixo.
— Não, amor… Eu já volto, okay?
A voz de Hoseok soou mais suave e Yoongi não pode deixar de respirar fundo. Há poucos minutos, quando o ruivo entrara ali, parecia tão sério, tão diferente de como sempre era, mas agora partes do ruivo estavam aparecendo, o que o deixava mais tranquilo.
Quando se viu sozinho no apartamento, Yoongi pensou no que o namorado iria querer. Talvez comida? Um banho? Por fim, acabou optando pela segunda opção.
Yoongi então foi até o banheiro e ligou a banheira. Ela era acoplada ao chuveiro e pouco usavam, mas havia limpado há poucas horas depois que dera banho em Yeonjun, então estaria boa para o ruivo usar, além de ser mais relaxante. O moreno ainda separou um sal de banho e torceu para que tal coisa ajudasse de alguma maneira o namorado.
— Yoon?
— Banheiro, baby…
— O que está fazendo?
— Preparando um banho para você.
— Esse é o seu jeito de me dizer que eu estou fedorento, Min Yoongi? — Hoseok sorriu outra vez e Yoongi não pode deixar de ficar menos nervoso. Ele estava relativamente bem, isso era bom.
— Não, amor… Eu só quero te ajudar a relaxar um pouco. — Yoongi sorriu, ficando de pé e pegando uma toalha para secar o braço. Ele havia remexido a água para espalhar o sal de banho. — Vou esquentar a comida…
Mas, antes que o moreno saísse do banheiro, ele sentiu a mão de Hoseok o mantendo no lugar para lhe dar um beijo. Foi um pouco forte de início, mas logo ficou calmo, como um dia de domingo de manhã.
— Fica? Eu… acho que quero conversar.
O mais velho não negou o pedido do namorado, até ficou feliz por Hoseok querer conversar. Mas, como já havia tomado banho, somente pegou o mesmo banquinho que tinha usado para Yeonjun e se sentou ao lado da banheira enquanto o ruivo suspirava fundo pelo contato da água quente com a sua pele.
— Você sentado aí eu me sinto um lorde com um funcionário só para esfregar as costas.
— Você quer que eu esfregue suas costas?
O moreno questionou, mas já estava com as mãos no corpo do namorado, esfregando os ombros do mesmo em uma massagem lenta, tentando aos poucos relaxá-lo lentamente.
— Sinto-me um chefe da máfia — brincou Hoseok.
— Estou ao seu dispor, lorde.
Hoseok sorriu, mas ele não conseguia rir como fazia em todas as outras vezes. Yoongi nada comentou, apenas continuando com a massagem.
— Ele deixou herança. Para Dawon e eu… na verdade, era um seguro de vida. — Hoseok suspirou pesado. — Um milhão para cada.
— É… É bastante.
— Sim. Ele teve como nos deixar com todo esse dinheiro, mas nos deixou praticamente passar fome antes… E-eu não entendo! — O ruivo sentiu sua voz falhar e parou de falar para respirar fundo. Não queria chorar. — Yoon, foi horrível. Você não tem noção do que Dawon e eu passamos na época. Ela não queria que eu trabalhasse, mas eu tentava fazer alguns bicos escondido, pagar uma conta ou outra. A escola começou a desconfiar porque minhas notas baixaram e eu chegava com as mãos machucadas e tal… Eu quase fui parar em um orfanato.
Yoongi não fazia menção de comentar ou interromper a fala do namorado, sentia que era o momento do mais novo desabafar tudo o que quisesse.
— E Dawon, ela trabalhou tanto, além do estágio que já tinha, que sinceramente foi a nossa salvação, ela pegou trabalho de meio período em shoppings. Ela mal comia, ficou tão magra na época… E quando começou a ver meus machucados, pensou que eu tinha me envolvido com coisas erradas. Ela revistou o meu quarto chorando e eu me senti tão culpado. — Jung respirou fundo outra vez. — Ele fez isso com a gente. Nós perdemos nossa mãe e o nosso pai. Agora ele deixa dinheiro? Isso não me serve de nada, não é carinho, não foi o amparo que sempre precisamos.
— Foi o jeito que ele encontrou de reparar o mal que causou… Não estou dizendo que é a melhor maneira, ou diminuindo o estrago que ele fez…
— Eu não consigo perdoá-lo, Yoon… N-não dá!
— Está tudo bem, amor. Você vai perdoar quando conseguir. Ninguém pode julgar seus sentimentos ou a extensão das suas feridas. As pessoas costumam dizer que devemos amar nossos pais acima de tudo, mas como podemos simplesmente ignorar quando partem deles nossas maiores dores? Você não precisa perdoá-lo se não conseguir, Hobi.
O ruivo pensou naquelas palavras por um momento. Parte dele acreditava que precisava perdoar o pai imediatamente, afinal o homem estava morto, mas a verdade é que não conseguia, tanto que nem chorara durante todo aquele dia.
— Eu fumei.
Yoongi parou de esfregar as costas do outro por alguns segundos, mas logo voltou.
— Eu não sabia que você fumava.
— Ótimo hábito que adquiri quando adolescente — brincou o ruivo. — Mas eu parei quando Dawon ficou grávida. Mas hoje… sei lá. Eu vi um cara fumando e pedi um…
— Hm…
Hoseok soltou o ar pelo nariz.
— Acho que você não aprova.
— Você literalmente aspirar veneno para dentro do seu corpo? Não, não… Acho ótimo… — Yoongi ironizou, beliscando levemente do ombro do ruivo, que reclamou rindo do tom que o moreno utilizava. — Eu aviso logo que termino tudo se você começar a fumar.
O ruivo estalou a língua.
— É sério? Você terminaria comigo?
O moreno suspirou pesado.
— Não, mas eu iria ficar no seu ouvido o dia inteiro até você largar.
— Acho que tudo bem… — Jung deu um sorriso. — Mas eu nem gostei. Parecia diferente agora, não trazia a mesma coisa de antes. Talvez eu tenha crescido e deixado de ser um idiota.
— Isso mesmo — Yoongi concordou, rindo baixinho antes de beijar o pescoço do ruivo.
— Obrigado…
— Por?
— Por ficar comigo, por em entender e não me julgar por não chorar a morte do meu pai.
Yoongi outra vez deixou um beijo na derme do namorado.
— Eu nunca te julgaria por algo assim, amor — afirmou o mais baixo. — E eu sempre estarei ao seu lado. Você ficou comigo quando eu mais precisei e me mostrou amor quando eu já tinha desistido de amar. Nada do que eu faça será o suficiente para te agradecer.
— Pff… agora você só está tentando me fazer chorar — o ruivo proferiu, sorrindo.
— Você descobriu o meu plano maligno.
— Você é muito mau, Min Yoongi.
Os dois sorriam um para o outro, mas não falaram mais muita coisa. A água já estava ficando gelada, então Hoseok resolveu finalizar o banho. Ele já se sentia relaxado de qualquer maneira. Yoongi então o secou com cuidado, mesmo o Jung dizendo que não precisava. Mas, na hora de comer, o mais novo não quis.
— Eu comi os sanduíches que você colocou na bolsa, não estou com fome.
— Tudo bem, mas amanhã você vai tomar um café da manhã reforçado, entendeu?
— Sim, professor Min.
O moreno revirou os olhos, fingindo odiar a fala do namorado, mas a verdade é que sempre se divertia com as brincadeiras de Hoseok.
O ruivo estava cansado, então somente ficaram no sofá, Yoongi abraçando o namorado de forma protetora.
— Seok, posso perguntar uma coisa?
— Duas.
Yoongi deu um fraco sorriso.
— Vai ter o enterro tradicional?
— Não. Fizemos tudo hoje, por isso demorou. Não temos parentes e nem nada, eles fizeram questão de deixar isso claro há bastante tempo quando Dawon foi atrás de ajuda. — Hoseok pigarreou. — Ele foi cremado e jogamos as cinzas em um montinho bonito do cemitério. Compramos uma placa só para deixar por lá, se alguém quiser visitar — explicou. — Ah, eu usei seu cartão por causa do limite alto, mas eu já transferi o dinheiro para a sua conta. Esqueci de avisar…
— Não precisava fazer nada correndo, amor.
— Eu sei, eu sei, mas achei melhor… Não quis adiar nenhum processo e acabar com tudo de uma vez só.
Yoongi concordou. Hoseok e Dawon sabiam o que eram o melhor para eles. O moreno então somente deixou sua mão afagar o rosto do mais novo, dando um fraco sorriso.
— Você é muito forte, Seok. Eu tenho muito orgulho de você.
— Obrigado… — Hoseok proferiu, por não saber exatamente o que dizer. Sentia-se esquisito, quase como se sua pele não o pertencesse com tantos sentimentos confusos dentro de si. — Eu acho que vou me deitar agora…
— Tudo bem, eu vou com você.
— Não precisa, amor. Está cedo, você não costuma dormir a essa hora.
Min negou com a cabeça.
— Eu estou cansado, cuidar de uma criança é difícil — brincou, com um sorriso. — Também quero dormir.
Hoseok sabia que era mentira, mas ele não insistiu. Era bom ter alguém para dormir com ele quando se sentia daquela maneira, sem realmente saber o que seu coração queria lhe dizer.
O ruivo se deitou primeiro e após apagar as luzes, Yoongi se aconchegou a seu lado, puxando-o para que suas costas fossem de encontro ao peitoral do Min, enquanto este tinha um braço quase possessivo ao redor de sua cintura. Era bom daquela maneira, o estudante gostava quando ficavam assim.
— Boa noite, Seok. Eu te amo.
— Eu também… te amo.
Jung sorriu e então seus olhos foram no quadro de mais cedo. Estava escuro, mas ele conseguia distinguir as formas pela luz que entrava da janela. O tom roxo pintado com força, o desespero que aquelas pinceladas demonstram. Era como ele se sentia.
E então, o ruivo sentiu as lágrimas vindo aos seus olhos.
Ele chorou. Seu corpo tremendo levemente com os soluços e apenas os braços de Yoongi ao redor dele era o que o deixava com a sensação de estar fixo em algum lugar e não perdido em sua confusão de sentimentos.
— Eu estou aqui, amor. Estou com você… Eu te amo, Seok-ah…
E, naquele momento, Hoseok deixou que a explosão de sentimentos o dominasse, pois Yoongi estava ao seu lado e não importasse o que acontecesse, ele sempre teria aqueles braços para o proteger.
Era uma boa coisa no final das contas.
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