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História Love on Wheels (Bakudeku) - Cinco


Escrita por: beachvibes

Notas do Autor


Vamos de começar a maratoninha!?

AVISO: Esse capítulo contém a descrição de um ataque de ansiedade e diversos outros gatilhos para pessoas sensíveis, por favor, tomem cuidado.

Teremos capítulos bem longos a partir de agora e eu realmente espero que vocês gostem disso!

Desculpem qualquer erro e boa leitura! xoxo

Capítulo 5 - Cinco


 

Bakugou Katsuki


 

- Onde diabos vocês estavam? - questionei, já cansado de esperar, vendo meus únicos três amigos chegarem afobados. Inclusive Denki que ofegava de forma preocupante.


   Eu estava sentado no topo da porra da pista há quase uma hora. Meu dia foi um toleto de merda gigantesco e fedido e tudo o que eu queria era ver meus amigos e distrair minha cabeça, mas esses fodidos literalmente me fizeram esperar por uma maldita hora. Beleza que o Kirishima só visualizou minha mensagem há quinze minutos mas foda-se, já estou aqui há muito mais tempo!
 

- Foi mal, brô. Estamos aqui agora! - Eijirou se prontificou, fazendo esforço para subir até onde eu estava.


   Estendi minha mão para ajudá-lo.
 

- O que houve com a sua mão? - Sero questionou preocupado ao ver a tala ali.

- Torci meu dedo.

- Nossa... Quando? - Kaminari questionou, ainda ofegante.

- Ontem. - suspirei, cansado de lembrar de como foi a ida ao hospital e todas as broncas que tive de escutar de ambos meus pais pela falta de cuidado e irresponsabilidade - Mas que se foda, onde vocês estavam?

- Por aí. - Sero quem respondeu, logo subindo também com a ajuda de Kirishima - Tá doendo muito?


   O encarei desconfiado... Logo semicerrei meus olhos ーjá naturalmente apertadosー não apenas para Hanta, mas para seus dois cúmplices também. Fala sério, nos conhecíamos há anos! Eu sabia que havia algo de errado. Estavam batendo nessa tecla do meu dedo vezes seguidas demais, sem me dar chances de fala, sendo que em situações normais eles apenas zoariam e deixariam para lá. Essa técnica de permanecer em um assunto aleatório e insistir nisso, é exatamente a técnica que eles sempre usam quando fazem algo de errado e não querem conversar sobre.

   Sim, eu conhecia meus amigos bem o suficiente para saber que estavam desconversando, sem falar que sou inteligente para caralho, então não fiquei de enrolação.
 

- O que estão escondendo de mim?

- O quê? - Sero pareceu chocado.

- Para de teatro, desembucha logo.

- Nã-não estamos escondendo n-nada! - Kaminari gaguejou, só confirmando mais a minha teoria.


   Encarei meu amigo ruivo, sabendo que ele tinha a língua ridiculamente solta, sem falar que ia contra seus princípios mentir, afinal, ser um mentiroso não é nada másculo. Observei com atenção suas feições. A pele branca estava meio corada, a pequena cicatriz em seu olho se destacava sempre que ele se avermelhava dessa forma. Os olhos tão vermelhos quanto os meus procuravam encarar qualquer coisa que não fosse a minha cara e seus dentes pontudos mordiscavam de leve o lábio inferior. Tinha cara de quem havia sido pego no flagra.
 

- Estávamos com o Midoriya. - confessou, parecendo culpado.


   E então eu me senti estranho, mas não sei se sou capaz de descrever exatamente como foi que me senti. Um pouco de indigestão, talvez? Sei lá porra, era um mal estar, mas ao mesmo tempo uma adrenalina esquisita começou a correr por meu corpo, me deixando acelerado.
 

- Fomos ao roller dance. - completou em tom de voz baixo.


   Pisquei devagar, tentando assimilar a frase com calma. Percebi que não era a primeira vez que eu fazia isso hoje e também percebi que essa paciência toda não me pertencia. Acho que eu escutei muitas coisas inacreditáveis nas últimas vinte e quatro horas e não surtei. Será que finalmente havia chego a hora de surtar? Pelo que eu to sentindo, desconfio que sim.
 

- Vocês estavam aonde? - repeti a pergunta pausadamente, sem acreditar no que havia escutado.

- Você sumiu o dia todo! - Sero se defendeu antes de qualquer um dos outros dois responderem - Onde é que você estava?


   Trinquei meus dentes, irritado. Sero, dentre todos os três, era o único que as vezes me confrontava pra valer e é óbvio que isso me deixa puto. Principalmente por saber que ele estava consideravelmente certo a maioria das vezes.
 

- Não é da porra da sua conta!

- Sou seu amigo! - rebateu indignado - Te mandamos mensagens o dia todo! Só encontramos o Izuku a tarde, porque não falou conosco?


   Não sei se as pessoas que estão me fazendo sentir coisas novas ou se eu que estou desenvolvendo ainda mais a minha, já natural, burrice emocional, mas eu não consigo ーpra variarー dizer como eu me sinto. Puto? Furioso? Triste? Indignado? Frustrado? Traído? Com uma puta inveja? Acho que é uma mistura boa disso tudo.

   Enquanto eu estava tendo o pior dia da minha vida ーaté agoraー esses filhos da puta estavam na porra do roller dance do qual esses hipócritas sempre falaram mal? Se divertindo pra caralho? Sem mim? Tudo o que eu fiz foi sentir pânico por sair da porra da escola em que todos estudamos juntos, pânico por não tê-los mais por perto, pânico por não poder mais andar de skate com eles e o que eu ganho é isso?
 

- "Izuku"? Saiu com ele durante uma tarde e já são melhores amigos? - debochei. Eu precisava debochar.


   Sim, eu fiz questão de mostrar meu desagrado! E não, definitivamente não é ciúmes! De ninguém.
 

- Ah, Bakugou, fala sério! - Hanta riu sem humor - É sério que é nisso que vai focar? Você só tá escondendo onde tava!

- EU TAVA VISITANDO A PORRA DA ESCOLA NOVA! - berrei puto das calças, atraindo mais atenção que o desejado e vendo os três a minha frente arregalarem seus olhos drasticamente - Feliz? - debochei mais uma vez.


   Eles não pareciam felizes. E eu creio que eu também não parecia feliz, quer dizer, pelo menos eu não me sentia feliz.

   Acho que graças ao silêncio longo que fizemos, as pessoas ao redor pararam de prestar atenção em nós e logo tudo pareceu voltar ao normal, mas nós quatro continuamos em um silêncio mortal. O único som? As rodas de skate e risadas dos figurantes à nossa volta.
 

- Ma-mas você disse que ia demorar... - Kaminari foi o primeiro a gaguejar algo.

- Eu tava errado. - rosnei, revirando meus olhos.


   Quer dizer, isso estava bem óbvio, pra quê me fazer falar em voz alta?
 

- Por que não nos contou antes? - Kirishima pareceu indignado.

- Por que eu não sabia, né, ô caralho!

- Para onde você tá indo? - fiquei em silêncio diante da pergunta de Hanta, que não falava mais em tom agressivo e sim preocupado - Digo, qual escola?


   Trinquei os dentes de novo. Não podia falar, não queria falar. Ia contra tudo o que eu acreditava. Só por que eles foram num roller dance não significa que eles entenderiam, não é? Eu teria que explicar o porquê de estar indo pra uma porra de escola de patinação e não é só porquê eles saíram com o Midoriya uma vez que se tornaram magicamente tolerantes. Nem eu era tolerante. Inclusive, ainda estava muito puto com essa história de roller dance. Eu estava muito puto com tudo!
 

- Não interessa. - me coloquei de pé.


   Eu achei que o ideal seria tê-los por perto, mas a real é que só estão me dando mais dor de cabeça e agora eu só quero ir embora. Peguei meu skate com a mão que eu não tinha o costume de usar, torcendo para isso não me atrapalhar muito.
 

- Bakugou, não faz assim, cara... - Kirishima falou tentando mediar a situação.

- Nos vemos qualquer dia.

- Então não vai mais andar de skate conosco? - já Kaminari parecia choroso, ele sempre foi muito emocional mesmo - É isso?

- Essa nova escola vai ocupar muito do meu tempo. - falei uma meia verdade. Não queria dizer simplesmente que é um colégio interno, seria humilhante - É... Integral. - amenizei a verdade.

- Integral? E não tem como você matar aula? - Sero pareceu suplicante.

- Meus pais tão gastando uma grana fodida nessa merda, Hanta. - revirei meus olhos - Vou estar sendo vigiado.


   E sinceramente eu nunca nem gostei de matar aula em primeiro lugar. Só fazia isso por eles e é claro que eu faria de novo, mas vai ser impossível agora e eu to cansado de arriscar minha bunda, principalmente depois de escutar que eles estavam se divertindo enquanto eu estava na merda! Ok que não é culpa deles, mas se foda, não dá para pensar racionalmente agora.
 

- Vamos poder nos ver no Wheels? - a voz de Kaminari soou baixa e eu reprimi a vontade de suspirar que senti.


   Ok, essa merda toda estava começando a soar como um adeus e eu não estava gostando nada disso.
 

- É óbvio que vamos nos ver no Wheels, seus panacas! - revirei meus olhos mais uma vez, mas diferente do dia a dia, eles não sorriram - Que caras de bunda são essas? Vão chorar?

- Como pode estar lidando com isso tão de boa? - Sero falou pra baixo.


   Eu quis bater nele, mas não o fiz, apenas não consegui evitar de soltar o rosnado que saiu de minha garganta. Eu estava lidando com isso "de boa"? Que filho da puta, sério!

   De repente senti uma raiva intensa. Raiva desses três idiotas, raiva do maldito Midoriya, raiva da Academia Blade de merda, raiva dos meus pais, raiva do skate, raiva de todas essas sensações ruins que tenho sentido, raiva de mim mesmo, mas, principalmente, raiva dos patins. Midoriya? Anda de patins! Minha mãe? Patins. A porra da Academia? Patins!

   Patins, patins, patins! Céus, como eu odeio essa merda!
 

- Ora, quando não estiver comigo, pode simplesmente ir pro roller dance já que vocês são patinadores fru-frus agora.

- Cara, não diz isso! - Kirishima pareceu chateado.

- Ah, vai se foder! - praguejei já sem paciência - Quer saber? Que bom que vocês estão fazendo amigos.


   Já com o skate em mãos o joguei da pista e desci logo em seguida, recebendo o olhar indignado dos três que, agora, estavam acima de mim.
 

- Então é isso? - Kaminari questionou indignado - Vai simplesmente embora de novo?


   E o que diabos ele quer que eu faça? Rosnei, mas não tive oportunidade de falar.
 

- Pretende fazer o que? - o maldito de cabelos pretos questionou também - Aparecer três dias depois com a mão engessada dizendo que tá saindo da cidade?


   Ri debochado. Ele tá tirando uma com a minha cara?
 

- Por que não nos diz onde é a droga da escola? - Sero continuou, bem indignado - Por que não nos diz onde é a sua casa? Somos seus amigos, podemos ir te visitar!


   E eu sabia que eles eram meus amigos, eu também era amigo deles, mas eu não podia simplesmente pagar para ver. Não podia simplesmente confiar e depois me ver sem eles por perto, então fiz o que achei ser melhor: Agir como sempre agi.
 

- Vai se foder, Hanta. - mandei mais uma vez e dei as costas.


   Antes de eu conseguir sair de perto, ainda pude o escutar jogar seu skate com força no chão e falar bem alto e irritado:
 

- Parece que você tá só tentando se afastar da gente e achou a oportunidade PERFEITA, SABIA DISSO?


   Mas eu não respondi, na verdade, fingi que nem escutei, apenas continuei meu caminho. Subi no meu skate e acelerei em direção à minha casa... Pelo menos até perceber que eu não tinha uma casa.

   Eu não me sentia em casa.

   Parei por um momento, só para me sentar no meio-fio da calçada de uma rua qualquer, com a lua já brilhando no céu que começava a se tornar escuro. Estava me sentindo mal. Tentei respirar fundo, mas não consegui e automaticamente entrei em pânico. Estava sufocando.

   Levei a mão com a tala ao peito, apertando a camisa como podia, sentindo uma dor, um aperto, um incômodo infernal e, também, um medo gigantesco tomar conta de mim enquanto meu coração acelerava. Meus olhos se encheram de lágrimas inevitáveis e eu briguei comigo mesmo mentalmente por isso, mas não conseguia evitar e nem entendia o que estava acontecendo. Foi só quando a primeira lágrima escorreu que eu comecei a suar frio e me tornar ridiculamente sem ar.

   Ao tentar inspirar, mesmo que minimamente, eu fazia um som esquisito, como um porco e isso rasgava meus ouvidos naquela rua silenciosa. Eu não sei o que estava acontecendo, não entendia, mas acho que vou morrer, eu precisava de ajuda! Com a mão livre tentei buscar meu celular e então concluí mais uma coisa: Eu não tenho ninguém para pedir ajuda. Minha mão já tremia antes, mas quando percebi que estava sozinho, ela começou a tremer mais, muito mais.

   Eu estava sozinho.

   Sozinho.

   Tentei respirar fundo, mas não conseguia e senti mais medo ainda ao concluir que eu ia morrer sem ar. Meu corpo pesou e eu não sabia se era porque não havia mais oxigênio no meu sangue ou se meu cérebro havia perdido o controle de vez, mas eu caí, mesmo sentado. Tudo o que consegui fazer enquanto tremia e chorava como um idiota no chão da rua foi gritar.

   Sim, eu gritei, um grito sem nenhum som específico e entre um choro estúpido, mas foi a única forma de encontrar ajuda. Qualquer ajuda. E quando a taquicardia se intensificou, escutei barulho de passos apressados.
 

- Ei, você 'tá bem?


   Eu não conseguia parar de tremer para sinalizar nada, muito menos respirar para conseguir responder. A pessoa se manteve afastada por uns dois segundos, até eu tentar buscar por ar de novo e ela, provavelmente, concluir que eu estava literalmente sufocando.

   Não consegui ver quem era, meus olhos estavam embaçados demais e eu tinha outras prioridades, como tentar sobreviver a morte certa, mas essa pessoa tocou em mim. Nem passou a possibilidade desse ser humano fazer alguma maldade comigo ou, talvez até mesmo, se aproveitar de mim e ele poderia! Eu estava totalmente indefeso com meu celular e carteira fora dos bolsos, provavelmente expostos no chão, mas, mesmo não sendo religioso, acredito que algumas coisas acontecem da forma que acontecem por motivos específicos.
 

- Bakugou? - a voz questionou de novo, surpresa.


   Logo eu estava sentado, mesmo que não fosse por ter controle sobre meu corpo e sim por causa da pessoa. Eu ainda estava sem conseguir respirar, sequer me mexer, mas o indivíduo se sentou no chão comigo e me deu apoio. Em situações normais eu me afastaria, ainda mais por ser reconhecido, mas não é como se eu tivesse muitas opções. Eu não conseguia me mexer.
 

- Você tá tremendo... - constatou o óbvio - E suando!


   E então a pessoa se afastou minimamente, ainda me dando apoio, apenas para se posicionar diante de meus olhos. Eu não reconheci imediatamente e precisei piscar muito forte, muitas vezes para conseguir identificar algo no escuro e entre as lágrimas, mas então eu identifiquei uma cicatriz. Bem marcante por assim dizer. Era o amigo do maldito Midoriya que eu definitivamente não lembrava o nome.
 

- Olha só, está tudo bem. - o meio-a-meio disse e eu neguei com a cabeça.


   Não estava tudo bem, eu ia morrer! Eu estava morrendo! Tentei respirar fundo de novo, mas falhei miseravelmente.
 

- Bakugou, você precisa se acalmar, isso é uma crise de ansiedade! - falou, mas sua voz pareceu distante, o que me deixou mais em pânico ainda. Não queria ficar sozinho - Nada do que está acontecendo vai te fazer mal!
 

- E-e-eu v-vou morrer só-sozinho... - consegui dizer, cuspindo igual um condenado.

- Não vai morrer. - prometeu, com uma calma invejável - Eu estou aqui com você... - colocou a mão sobre meu ombro e apertou forte - Respira fundo, você só está hiperventilando.


   Quis mandar ele ir se foder e dizer que quem estava hiperventilando era a porra da mãe dele, mas tudo o que eu consegui fazer foi chorar mais alto. Ele começou a contar e respirar bem fundo e eu queria respirar daquela forma, pois minha garganta e peito já doíam, de tanto que eu forçava e não conseguia. Tentei o imitar...
 

- Três... - inspirou, me esperando o acompanhar e eu tentei, mas não sei se fui bem, expirou e eu o imitei, mesmo que meu ar não saísse pleno como o dele, mas sim, bem entrecortado - Quatro... - e repetiu, enquanto eu o seguia.


   Logo chegamos ao dez e eu ainda tremia muito e suava muito também, mas pelo menos conseguia respirar, mesmo que de forma exagerada.
 

- Muito bem! - falou tranquilo, passando a mão por minha testa, afastando minha franja molhada - Você tá indo muito bem!

- A-achei que fosse m-morrer! - falei, voltando a respirar fundo.

- Você teve uma crise de ansiedade, mas está tudo bem. - falou ainda afastando meu cabelo do rosto - O que aconteceu?


   Não queria contar, definitivamente não queria. Eu nem conheço ele! Ainda tremendo um pouco me afastei dele e me coloquei de pé, mas caí e fui segurado por ele.
 

- Você quer ir no médico? - questionou daquele jeito calmo e eu me questionei o porquê de ele ainda estar falando desse jeito.

- Não, me solta! - rosnei, tentando afastar seus braços de mim.

- Se eu te soltar você vai cair. - observou um fato, parecendo levemente confuso e eu revirei meus olhos.

- Foda-se! - me afastei dele e voltei a me sentar no chão - Muito obrigado por tudo, pode ir agora.

- Não vou te deixar sozinho. - se sentou ao meu lado e eu não soube dizer se quis bater nele ou agradecê-lo por não me deixar só, por isso fiquei parado e em silêncio, apenas normalizando minha respiração.


   E ele ficou comigo, da mesma forma, até eu me sentir pronto o suficiente para levantar e ir embora.

   Quando cheguei na casa dos meus pais, ambos estavam sorrindo enquanto conversavam na mesa da cozinha e por um momento percebi que eles pareciam felizes. Senti vontade de questionar se eles não sentiriam minha falta quando eu fosse embora, mas então percebi que não. Eles não sentiriam e eu já sabia. Mesmo aqui, eu nunca estava em casa com eles. Resolvi poupar humilhação e, sem fome, subi direto para o meu quarto.

   Tomei um banho longo, para tirar todo o cansaço, frustração e suor, e me joguei na cama, parando para refletir sobre meu dia horrível. As aulas começariam já na segunda-feira, meus pais passaram o dia todo correndo atrás dos documentos necessários para a minha inscrição e o reitor disse que como o ano já se iniciou, não tínhamos tempo a perder. Meus amigos? Não sei se ainda posso chamá-los de amigos e sinceramente nem tenho coragem de pegar no meu celular e dar de cara com mensagens deles. Ou pior, a falta das mensagens deles. Já pensou se eles me bloquearam? Suspirei alto. E, é claro, Todoroki... De onde diabos ele surgiu? Será que ele mora por ali? Será que ele vai contar para alguém? Porra, espero que não, ou eu juro que acabo com a raça dele...

   Me senti frustrado. Quis chorar diante da situação totalmente humilhante, mas chorar abertamente, quando eu podia simplesmente controlar essa fraqueza era demais pra mim, então mais uma vez, eu apenas dormi.

   Quando acordei no domingo, foi meu pai quem veio me desejar um dia bom. Ele me pediu, bem gentilmente, para organizar as minhas coisas e levar tudo o que fosse necessário para a escola. Me pediu também para eu fazer da Academia minha casa, mas não me esquecer de que ali era o meu lar e eu nem consegui disfarçar o meu revirar de olhos.

   Meu domingo se passou assim, com malas, caixas e um quarto revirado. Passei o dia todo sem pegar em meu celular, escolhendo ficar concentrado demais para ligar para todas as coisas ruins que eu sentia. Só parei de fazer tudo o que tinha para fazer quando o sol já estava se pondo. Deu um total de três caixas medianas e duas malas. Meu skate eu levaria em mãos e o notebook na mochila.

   Me joguei na cama, fisicamente e mentalmente, cansado. Não me permiti descansar de verdade desde que tudo começou, há três dias atrás. As noites de sono estavam sendo horríveis, não adiantava o quanto eu dormisse, já que sempre acordava esgotado, e meu braço direito estava extremamente fatigado, já que eu estava fazendo o dobro de esforço nele desde que minha mão esquerda foi praticamente enfaixada. Sim, sou canhoto.

   Me sentei na cama, analisando o meu quarto de agora, oco. Quando vi meu armário praticamente vazio e o cômodo sem nada, senti vontade de chorar de novo, mas antes de eu sequer conseguir pensar sobre o quão chorão eu havia me tornado, escutei o grito da minha mãe soar alto lá da sala.

   Corri até o local, aliviado por ter a mente distraída com mais alguma coisa, até parar subitamente, de olhos arregalados. Minha mãe não estava mais presente ali, mas meu pai sorria para as três figuras sentadas no sofá, de costas para mim. Engoli em seco. O que eles estavam fazendo aqui?
 

- Oh, filho! - meu pai chamou a atenção, fazendo os três virarem para me encarar - Seus amigos vieram te ver.


   Eu estou sem palavras. De verdade, acho que nada se passa pela minha cabeça nesse momento. Talvez medo? Vergonha? Receio? Raiva? Porra, juro que não sei. Eu sou realmente uma porta quando o assunto é inteligência emocional.

   Eu não disse nada e nem os três. Continuaram me encarando com caras sérias, quer dizer, Kaminari parecia levemente curioso sobre a casa. Eu não sabia o que falar e nem queria falar nada, não queria falar com eles depois de ontem! Inferno, eu sabia que Kirishima desconfiava de onde eu morava, mas vir até aqui? Eu vou matar esse filho da puta!

   Meu pai suspirou diante do silêncio.
 

- Meninos, podem ir até o quarto do Katsuki conversar com ele... - disse com aquele sorriso gentil tão comum, atraindo nossa atenção - Sei que vocês têm muito o que conversar.


   E eles se curvaram, com seus skates em mãos e me acompanharam. Quando eu fechei a porta após ter os três ali, eu ainda não sabia o que dizer, mas foi estranho ver meus amigos finalmente conhecendo meu quarto, sendo que ele está nessas condições. Simplesmente não é mais meu quarto.
 

- Você vai realmente se mudar? - Hanta falou baixinho, parecendo decepcionado ao se virar para me encarar.


   Suspirei.

   Como contar?
 

- O que estão fazendo aqui? - questionei sério, cruzando meus braços.

- Viemos nos desculpar. - Kaminari quem respondeu - Não é só porquê vai sair da escola que não somos mais amigos...


   Isso eu já imaginava, por mais que quem tenha que se desculpar seja eu.
 

- Não! Digo, o que estão fazendo, literalmente, aqui?

- Ah! - Kirishima se prontificou, com um sorriso - Eu sabia que você morava nesse bairro, então fomos perguntando para as pessoas na rua se elas conheciam você... - puxou seu celular e mostrou a foto que, aparentemente, eles estavam mostrando pros vizinhos - Claro que quando sua mãe abriu a porta foi bem óbvio ver que estávamos na casa certa. Por um momento eu até achei que você tava vestido de mulher! - concluiu impressionado com a semelhança.


   Pressionei minhas têmporas para não explodir de novo com eles. PORRA, ELES ESTAVAM MOSTRANDO MINHA FOTO PARA OS OUTROS NA RUA? Caralho, sério, eu vou matar esses panacas! Puta que pariu, quem que faz isso? Eu abri minha boca pra gritar, mas minha mãe abriu a porta irrompendo por ela com uma bandeja cheia de petiscos e suco.
 

- Está tudo bem? - questionou mais baixo que o normal, vindo dela.

- Sim, eles já estão indo embora. - rosnei irritado.

- Já? - mamãe pareceu surpresa, encarando os três a minha frente - Por quê?

- Erm... B-bem... - Kaminari não soube o que responder.

- Porque eu to dizendo que eles vão! - respondi, ganhando aquele olhar nada amigável que era bem típico dela.

- Meninos fiquem à vontade. - mamãe entrou e colocou a bandeja nos braços de Sero, que estava mais próximo - Vou trocar uma palavrinha com Katsuki, só um minuto!


   E assim, antes de eu falar algo, a maldita me puxou para fora do quarto. Pelo menos não foi pela orelha.

   Fechou a porta e ali mesmo, no corredor, se encostou na parede de frente para mim e cruzou seus braços.
 

- O que é que tá acontecendo, Katsuki? - fincou suas sobrancelhas, tão loiras quanto as minhas - Que pití é esse? Eu tava achando que era só com a gente, mas com seus amigos também? O que é que tá acontecendo, me diz...


   Queria dizer que não era da conta dela, mas sabia que tava arriscado a levar um tapão na boca perto dos meus amigos, então apenas respirei fundo.
 

- Agora você se importa?

- Do que você ta falando, porra? - pareceu irritada - Eu sempre me importei! Isso tudo é por causa da escola?


   Quis dizer que era, mas a verdade é que não era. Não mais. A escola com certeza desencadeou tudo, mas não é mais sobre isso. É sobre me sentir sozinho, desabrigado, vazio. É sobre querer sentir algo bom e perceber que não dá. É sobre não encontrar refúgio nem no skate mais, desde que corri com o idiota de patins. Eu nem me importo mais com a porra da mudança, que se foda essa merda toda, eu só quero sumir! Respirei fundo, sentindo meus olhos arderem bem na frente da minha mãe e me odiei por isso.
 

- Eles não sabem que você anda de patins... - foi a única coisa que consegui dizer, tentando fazer a minha voz sair o menos embargada possível, ganhando um olhar surpreso da minha mãe.

- Katsuki, você tá chorando? - segurou meu rosto, mas eu desviei.


   Ela segurou de novo meu queixo, a força, vendo que, sim, eu me esforçava para não deixar lágrimas caírem e então o impensável aconteceu: Ela me abraçou. Forte. Mais forte do que me abraçou todas as outras vezes na minha vida.
 

- Eles não precisam saber que eu ando de patins... - sussurrou perto do meu ouvido - Filho, está tudo bem...


   E eu não sei se era porque era minha mãe ali, sendo tão gentil, o que era tão diferente quando se trata dela, mas eu a abracei de volta e acabei deixando algumas de minhas lágrimas molharem a manga de sua blusa rosa. Ela era mais baixa que eu, então logo minha coluna reclamou e eu me afastei, secando as lágrimas e respirando fundo. Ela me encarou, séria.
 

- É por causa da escola, Katsuki? Por que só queremos o melhor para você e sabemos que é uma escola rígida, mas acredito no seu potencial, além do mais... - eu a interrompi.

- Não é só pela escola. - confessei, passando a mão pelos cabelos.

- É porque seus amigos não vão estar com você? Você terá os fins de semana livres, pode ir vê-los!


   Assenti, mas não disse nada, apenas virei de costas, pronto para dar fim àquela conversa.
 

- Katsuki, só mais uma coisa! - ela me chamou, mas eu nem me virei, apenas parei de andar - Não trate seus amigos mal...


   Estranhei o pedido vindo dela, logo dela, que os chamava de vagabundos do skate. Ela suspirou audível, logo completando:
 

- São bons meninos... - se corrigiu - São bons amigos, sempre foram e você sabe. - me virei minimamente, apenas para ver seu rosto. Ela tinha um sorriso ínfimo - Trate eles como eles merecem. Eu não gostaria que tratassem você como você estava os tratando agora pouco.


   Assenti. Ela estava certa.

   Os conhecia há tempo demais para simplesmente perder a amizade agora. Eu definitivamente precisava me desculpar.

   Entrei no quarto, torcendo para não estar com o rosto vermelho de choro, vendo Sero e Kaminari sentados sobre a minha cama comendo, enquanto Kirishima estava de pé, olhando de forma interessada para alguns poucos porta-retratos que eu escolhi deixar para trás.
 

- Foi mal... - falei assim que fechei a porta atrás de mim, ganhando o olhar dos três.

- De boa. - Sero deu de ombros.

- Não... - suspirei - Foi mal, por tudo! Por ontem e também por ser um amigo de merda.


   Sim, esse era meu jeito de pedir desculpas, mas pareceu o suficiente já que logo eles estavam sorrindo.
 

- Só meio merda... - Kaminari brincou, me obrigando a chegar perto e dar um tapão estalado em sua nuca.


   Nós quatro rimos e o vazio dentro de mim pareceu um pouquinho menor, me senti grato por isso.
 

- Vou para um colégio interno. - foi tudo o que eu disse, me jogando ao lado de Denki, ganhando olhares arregalados e bocas escancaradas.


   Após alguns longos segundos de silêncio, Sero disse que meu quarto era tão feio quanto eu e Kirishima disse que o quarto era mais bonito. Rimos e percebi que eles não perguntaram mais sobre a aparente mudança, sequer sobre a escola e eu também me senti grato por isso. Me senti grato por muitas coisas.

   Eles eram mesmo bons amigos. O vazio parecia um pouco menor com eles.
 

 


Notas Finais


O próximo capítulo sai amanhã, ou talvez ainda hoje, vamos ver...

O que vocês acharam? Estou ansiosa para saber a reação de vocês. Pra quem achou que capítulo passado tinha uma vibe boa e leve não deve estar achando a mesma coisa desse né? São tempos difíceis para o Katsuki. Que bom que Todoroki estava por perto...

X @Naokky_ escreveu uma oneshot LINDA inspirada no universo desta estória, então quem está gostando da fic, super recomendo que entre no perfil delx e leia. Mais pra frente tem um capítulo inspirado na one delx, inclusive, o link vai ser colocado no fim desse determinado capítulo. Espero que gostem muito. Particularmente, eu amei!

Uma explosão de amor, nos vemos nos comentários!

• capas de minha autoria •
• plágio é crime •
• obrigada por ter lido •


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