Posteriormente ao acontecimento da livraria, Felix azucrinava Jisung como ninguém para que ligasse, ou apenas conversasse com Minho, porém, mal sabia ele que Han já havia desconsiderado totalmente o fato de contatá-lo por celular, já que "não saberia como começar uma conversa simples sem parecer um completo imbecil" (pensamento esse que fazia parte de mais uma das paranoias de sua cabeça), e por mais que afirmasse convincentemente de que não estava interessado no atendente, tinha uma pulguinha atrás da orelha o dizendo para retornar a livraria e o procurar.
Han sabia ignorar aquela pulga como ninguém, mas talvez tivesse que ceder essa vez.
Semanas se passavam e mesmo assim, Felix junto de sua “pulguinha amiga” o amolavam incessantemente todos os dias quando estavam juntos. Entretanto, Han continuava fingindo que não se importava com o australiano, ou que não ficava aborrecido com isso, já que ele sabia que Felix não pararia com a “tortura” enquanto não conseguisse o quê quer, e além de conhecê-lo muito bem, Jisung era a pessoa mais teimosa da face da terra, então os dois “se anulavam” nessa briga de falar com Minho ou não falar. Felix apenas queria que seu amigo saísse daquele apartamento miúdo em que passava a maior parte do tempo fechado, e aproveitasse o quê à vida lhe proporcionara, e que talvez, assumisse que estava errado em afirmar que não havia amor após as páginas de livros. Na verdade, o Lee ansiava por que ele assumisse isso fazia muito tempo.
— Vamos lá Han, pare de ser teimoso e escute seu amigo! Você sabe que eu nunca faria algo para te prejudicar, não é? — O loiro falou deduzindo que após essa pergunta, Han concordaria com ele, mas fora surpreendido com o contrário.
— Mentiroso! Lembra-se da vez em que você vendeu minhas histórias em quadrinho do Watchmen?
— Fala sério, isso faz um tempão!
— Não para mim senhor Lee Yongbok! Doeu, sabia?! — O platinado disse dramaticamente e dando ênfase no verdadeiro nome do amigo, pois sabia que isso o deixava muito bravo, colocando as duas mãos no coração e fazendo uma expressão de dor, pronto para voltar a falar novamente, mas sendo atrapalhado por Felix irritadiço.
— Pare de ser infantil e mudar de assunto toda vez que digo “Minho”, ou algo relacionado a ele! — Repreendeu e logo após, fez uma cara feia. Uma cara que Jisung conhecia muito bem.
— Certo, eu não vou mudar de assunto.
— Ótimo, então...
— Enfim, depois conversamos mais Felix. É que agora eu realmente preciso trabalhar, já que ao contrário de você, não sou rico e...
— Está vendo?! Você descartou mais uma vez tudo que eu disse, já que está obviamente mudando de assunto e me expulsando da sua casa!
Jisung bufou em tom de cansaço e levou o Lee para fora de sua porta. (Na verdade, Han praticamente o arrastou até lá).
O quê Han havia dito a Felix não era de toda mentira, contada apenas para mudar de assunto e fazer com que Felix parasse de pegar no seu pé por hoje, pois de fato precisava trabalhar — Han Jisung era um ilustrador, não muito famoso, mas sempre tinha trabalhos para serem executados, inclusive artes para capas de livros.
Por mais que tentasse se concentrar, ficava olhando para o post-it chamativo, que ficava colado numa parte escondida da parede cinza de seu quarto — que apenas fazia com que a cor do papel se contrastasse e acabasse por chamar seus olhos —, enquanto fantasiava possíveis diálogos com o de lábios engraçadinhos, logo se pondo a dar leves tapinhas em suas bochechas fartas para tentar afastar os pensamentos indesejados de sua cabeça.
Nenhum progresso ocorrera desde então.
Decidido a conseguir trabalhar, foi até a cozinha e pegou uma xícara de café, achando que talvez isso resolvesse sua falta de concentração, passando a cuspir todo o líquido de volta para a xícara após o colocar na boca.
Fizera uma nota mental de nunca deixar Lee Felix fazer seu café novamente.
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Dado por vencido se jogou no sofá velho e confortável de sua sala, desatando a contemplar a imagem de fora da janela. Vários carros passavam pela rua, que geralmente costumava a não ser muito movimentada por ser sábado e as pessoas preferirem se aventurar nos centros comerciais da cidade (nos finais de semana, aqueles centros eram o caos, então Jisung nem passava por perto).
Han se perguntava se seria tão ruim assim trocar palavras — “ou saliva” diria Felix se estivesse lendo seus pensamentos — com Lee Minho. Essa questão era uma das que lhe dava uma agonia sem fim por não saber a resposta.
Na cabeça de Jisung, era como se fosse um grande livro de suspense, mas sem o caso criminal, ou algo do tipo, mas que deveria ser solucionada rapidamente, para que assim, pudesse se satisfazer e ficar mais calmo.
Porém, como começaria uma conversa com ele?
Após pensar, pensar e pensar, acabou por se relembrar de Felix o explicando o quê deveria fazer para se aproximar e conversar com as pessoas, quando sua mãe resolveu o matricular num acampamento de verão quando era pequeno, na tentativa de fazer com que o filho tímido se aproximasse de outros garotos de sua idade, e assim, fazer novas amizades.
Pegou o papel e fez uma lista de tudo que se relembrou e colocou em ordem, para assim, as seguir com mais facilidade.
Num pequeno nervosismo, se arrumou mais que o normal, porém, fazendo o possível para não passar a impressão de que estava arrumado somente para aquilo. Han nunca daria esse gostinho ao “atendente ignorante”.
Pegou seu celular, carteira, calçou seus sapatos, fechou a porta e a trancou, pronto para sair de casa.
Não entendia a mudança que havia acontecido consigo. Talvez tivesse que parar de desconfiar no poder de convencimento de Lee Felix.
Estava a postos para começar a andar, até que num relance lembrou o quanto precisaria andar para chegar até lá, desanimando por completo. Talvez tivesse que começar a parar de ser tão sedentário assim, mas tinha certeza de que não queria acabar com toda aquela arrumação que havia feito em si, ou acabar chegando lá totalmente suado, ou até mesmo, no pior dos casos, com um odor desagradável debaixo dos braços, que faria “aquela conversa” não existir, ou faria com que ela fosse mais desagradável ainda.
Por sorte, um taxi se aproximava, fazendo com que o bochechudo de cabelos platinados sorrisse, agradecendo de coração e alma quem deixara seu dia mais fácil.
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Ainda no caminho, se perguntava se deveria estar fazendo o quê estava fazendo, já que horas atrás não queria nada com ninguém, queria apenas que Felix sumisse de sua casa e que pudesse retomar seu trabalho sem nenhuma distração.
— Está tudo bem garoto? — O homem mais velho que dirigia o taxi havia perguntado a Han, que estava fazendo uma cara sofrida por causa de seus pensamentos.
— Está tudo sim, na verdade estava só pensando. — Jisung o respondeu dando um sorriso mínimo.
O taxista voltou a fazer o quê estava fazendo, passando a cantar qualquer música que tocava na rádio.
Após mais alguns minutos, chegaram ao grande shopping. Han agradeceu e pagou o taxista, que acenou enquanto voltava ao taxi para sair de lá, logo entrando no grande estabelecimento comercial em sua frente.
Eram muitas lojas interessantes, entretanto, a única coisa que ele gostava de frequentar no shopping eram as cafeterias, que já nem ia tanto mais, por conta da preguiça.
Han tinha total ciência de que estava cada vez afundando mais e mais na sua grande preguiça, não que ele ligasse para isso.
Andou por mais algumas lojas e pessoas, enfim chegou ao seu destino final, a livraria.
Entrou pelas grandes portas de vidro e sentiu o frio gostoso proporcionado pelo ar condicionado bater em seu corpo. Seu nervosismo o consumia completamente. Não sabia se ia diretamente falar com ele ou não, então resolveu esquecer toda a lista que havia feito e fingir que procurava algum livro como quem não queria nada.
Um minuto...
Três minutos...
Seis minutos se passaram e nada de Han ir falar com Minho. Ia ficar nessa por bastante tempo, mas alguém se fez presente em seu lado direito, e o questionou se podia ajudar.
Numa esperança mutua de que fosse Minho, virou-se rapidamente, sendo surpreendido por um garoto alto de cabelos tingidos de branco sorrindo.
— Eu não acredito!
— Eu é que não acredito, que saudades Chan!
— Há quanto tempo não nos vemos? Você cresceu tanto!
— Não exagera.
— É verdade, você continua com a mesma altura de quatro anos atrás...
— Ei!
— Acalme-se, estava apenas tirando uma com a sua cara. Como vai você? E Felix?
— Eu vou bem, e Felix continua o mesmo bobão de sempre. E você?
— Eu vou bem também, e nossa... retornar a essa cidade me fez bem mesmo! Estou trabalhando aqui nos finais de semana faz pouco tempo, mas é bem cansativo. — Nós dois rimos.
Christopher Bang, mais conhecido como Bang Chan, era amigo de infância de Lee Felix e Han Jisung, mas teve de se mudar para outra cidade há quatro anos, por conta do trabalho de seus pais. Tanto Felix, quanto Bang Chan são australianos, mas Chan veio alguns anos antes de Felix para a Coréia.
— Ei, Han.
— O quê?
— Você não é de frequentar livrarias, o quê te fez vir para cá?
Jisung, só de pensar no motivo, passara de sua cor normal a um rubro que cobria todo seu rosto. Passou a fitar o chão nervoso, pensando em qualquer coisa que poderia dizer para sair dessa situação.
— Eu... livros, não achei na internet, e resolvi... sabe, livraria.
Han mal conseguiu montar uma frase inteira sem deixar tudo esquisito, fazendo com que Bang Chan desconfiasse.
— Ok. Eu não entendi nada que você falou, e você está desse jeito por um motivo. Será que... Não quer encontrar alguém aqui?
— Eu? Na-não, imagina...
— Kang Miryo?
Han balançou a cabeça negativamente.
— Kim Hyobin?
Balançou a cabeça mais uma vez ainda olhando para o chão.
— Lee... Minho?
Han não fez nada, apenas fitou mais ainda o chão.
— Então o idiota feliz que roubou o coração do “meu pitoco”. — Bang Chan disse pensativo, usando o apelido que sempre chamava Jisung desde quando eram crianças.
— Ele não roubou meu coração. Eu só queria falar com ele, pois ele me deu o troco errado.
— Como assim? Você nem usa dinheiro.
Jisung se assustou ao saber que Chan se lembrava de vários detalhes de sua vida.
— Mas daquela vez eu usei!
— Sei. — Disse num tom malicioso, fazendo Han corar mais ainda. — Se acalme, ou você vai morrer se continuar corando desse jeito.
Han murmurou um ok para o amigo, que afagou seus cabelos e disse:
— Sinto lhe informar, mas ele não trabalha aqui em finais de semana, porém, como sou um bom amigo, posso avisar que você queria falar com ele.
Os olhos do mais novo arregalaram-se e nervoso disse um não bem alto, fazendo com que Chan se assustasse com a troca repentina de tom.
Após mais conversa, despediram-se e Han voltou para casa com uma tristezinha no olhar — que certamente Christopher captou e sabia muito bem o motivo.
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