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História Love Thing - Irmãos Gêmeos


Escrita por: itsgretha

Notas do Autor


Eu chorei escrevendo. <br /> <br />Aproveitando para pedir para quem ainda não viu, conferir a collab que estou fazendo com a Nathalia! A fic se chama The Sky is a Neighborhood e está aqui no meu perfil! <br /> <br />Besitos ^^

Capítulo 50 - Irmãos Gêmeos


Fanfic / Fanfiction Love Thing - Irmãos Gêmeos

Ela leu a carta outra vez. E depois mais uma. Na quarta, seus olhos arregalados correram para as folhas anexadas, buscando assimilar cada palavra escrita por Travis com os dados apresentados em dois testes de DNA, a certidão de nascimento dele, com a data e o nome do hospital grifados, alguns registros médicos e mais o acordo que ambas as famílias realizaram à época, tudo registrado em papeis de cunho oficial e pelo que Nicole pode perceber, com nomes e registros de advogados, testemunhas e até um juiz.

Sua cabeça ficou zonza, ainda mais com a lembrança que emergiu em sua mente, algo que ela nunca soube dizer se fora realidade ou um sonho infantil: lembrou-se de estar num lugar cheio de pessoas altas, muitas vestidas de branco e quando se deu conta, seu sangue estava saindo por um caninho, caindo em uma bolsa... E depois, ela também se recordava de sua saliva ser colocada em potinhos, mas estava tão mais preocupada em jogar basquete com a nova bola que seu pai tinha lhe comprado, que mal deu atenção para a seriedade da situação.

- Eu tinha cinco anos... – a ruiva disse baixinho, deixando os papeis caírem em seu colo e colocando as mãos em suas têmporas, em uma falha tentativa de buscar mais recordações daqueles pontos em especifico, mas nada mais lhe vinha em mente além de algumas conversas entre seus pais. Todavia, ambos sempre conversavam, então Nicole nunca iria imaginar que os teores de alguns assuntos eram mais sérios do que ela pensava.

As palavras do menino iam e vinham, era como se Nicole pudesse ouvi-lo falar. "Você é minha irmã. Desculpe não ter dito antes. Não odeie seus pais. Estarei pronto para uma conversa. Travis...".

Travis Miller era seu irmão.

- Meu Deus...

As palavras foram ditas por Nathan, que havia pego a carta e corria os olhos pela escrita. Sarah, que lia o conteúdo ao lado do namorado, arregalava os olhos a cada palavra lida, até chegar o momento em que colocou as mãos na boca em espanto. Os dois olharam perplexos para Nicole, que permanecia estática, sem saber como deveria reagir a tamanha notícia.

- Passa isso para cá! – Victor se manifestou, se levantando e pegando a carta das mãos de Nathan. Fez-se silêncio enquanto o rapaz lia e este soltou um palavrão ao ler a palavra chave de tudo aquilo – Não é possível!

- Não é mesmo! – Sarah concordou, mas a loira não sabia no que acreditar – Mas isso não pode ser uma piada, seria de mal gosto.

- Seria uma piada de extremo mal gosto e eu sei do que estou falando – Nathan pegou novamente a papelada – Mas... Não... A pessoa tem que ser muito boa no que faz para forjar algo desse nível. Esses laboratórios são referência aqui no Canadá!

- Nicole, por favor, diga alguma coisa... – pediu Victor, olhando para a amiga.

A mulher levantou os olhos para os três, não fazendo a mínima ideia do que falar, ou como sua expressão estava. Ela sentia-se esquisita, como se estivesse vazia... Como se toda sua vida fosse uma mentira agora. Como poderiam ter escondido aquilo dela?

- É verdade...

Os quatro olharam para Waverly, que assim como Nicole, estava pálida e respirando profundamente para controlar suas ações. A dançarina passou a mão tremula pelo rosto e encarou a ruiva, sentindo o peso do pouco que sabia cair em seus ombros de uma vez só.

- Você sabia? – Nicole lhe perguntou com a voz pesada e ligeiramente embargada.

- Me desculpa, Nicole...

- Meu Deus, Wave... – Sarah falou com a voz baixa.

- Por que você não me falou nada, Waverly? – A voz de Nic se elevou, causando um mal-estar na outra.

- Não cabia a mim falar! – Waverly procurou responder no mesmo tom – Não era minha responsabilidade!

- Desde quando você sabe? – A ruiva se levantou, colocando as mãos na cintura e seu corpo se movimentando com ansiedade.

Waverly respirou fundo e se também levantou enquanto respondia.

- Desde o Baile do Colégio. – todos os presentes arregalaram os olhos – Todos nós vimos que o Travis não estava bem e enquanto nós dançávamos aquela música depois que fomos escolhidos Rei e Rainha, eu acabei perguntando o que estava acontecendo! – Sua voz ficou exasperada com o desabafo que fazia – Que culpa eu tenho? Eu nunca na vida ia imaginar que se tratava disso! – Ela apontou para a carta que ele escrevera, ainda nas mãos de Victor – E depois que nos encontramos na noite da fogueira, ele confirmou tudo... – sua respiração estava um pouco mais aliviada e focou seu olhar em Nicole, que lhe encarava de volta com um ar decepcionado – Travis me pediu segredo, ainda mais que... – Ela riu de nervoso – Ainda mais que o escritório que cuidou de tudo é o mesmo em que minha mãe trabalha.

- O quê? – Nicole colocou as mãos na cabeça, achando tudo aquilo inacreditável demais.

- É o mesmo logo que está nos papéis – Waverly apontou – E quando o Sr. Miller faleceu e minha mãe foi colocada na força tarefa para organizar todas as papeladas que envolviam a família, bem, agora eu sei que ela descobriu tudo, mas manteve total sigilo, é claro. E eu não poderia contar a ela que sabia, então nada mais me restava a não ser ficar quieta, torcendo para que um dia você ficasse sabendo, Nicole...

- Sua torcida não foi nas melhores, não é. – o modo frio com o qual Nicole falou fez todos se remexerem incomodados.

- Calma, Nic... – Nathan se aproximou da amiga e tentou pegar em suas mãos, mas esta se afastou – Ninguém aqui tem culpa de nada, okay?

- Se Travis tivesse autorizado, com toda certeza Waverly teria dito – Sarah defendeu sua amiga, se aproximando de Waves e lhe apertando os ombros, para lhe passar algum conforto – Se fosse ao contrário, você teria falado, Nicole?

- Claro que eu teria! – A ruiva explodiu – Ainda mais se a pessoa envolvida fosse alguém que eu amasse! Eu nunca teria te deixado no escuro!

- Não me venha falar de amor, Nicole! Não agora! – Waverly replicou com dureza – Se for assim, como seus pais se encaixam em toda essa história? Você deveria estar confrontando eles e não a mim! Eles foram os primeiros a esconder de você.

Foi como se um novo balde de agua fria tivesse caído em Nicole. Ela abriu um pouco a boca no intuito de rebater, mas nada saiu por seus lábios. Waverly estava certa, os primeiros a esconder foram aqueles que lhe criaram e lhe ensinaram que sempre deveria ser honesta para com os outros. Mas o que pensar agora, quando os que amava acima de tudo, não fizeram o mesmo para com ela?

O ambiente ficou sem som algum e o ar pesou. Todos puderam sentir. A fotógrafa sentia que seu interior estava uma tremenda bagunça, uma mistura de decepção e traição, com uma raiva que crescia dentro de si que ela não sabia de onde vinha. E junto a tudo isso, a ânsia crescente em querer entender o motivo de não ter sabido antes. Ela precisava de uma explicação, qualquer uma.

- Eu só... – a ruiva bufou, enganchando as mãos na nuca e jogando sua cabeça para trás. Seus olhos se fecharam, numa vã tentativa de fazer tudo sumir – Eu só queria saber o porquê...

- Nic, lembre-se que a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento... – Victor comentou com cautela.

- O quê? Eu não estou com raiva, Victor!

- Seu tom de voz e seus modos dizem o contrário... – Waverly quem respondeu.

A dançarina não tirava os olhos da outra. O momento era delicado, e ela, mesmo tendo total ciência de que não tinha culpa de nada, e agora que as cartas estavam sobre a mesa, sentia-se um pouco responsável pelo fato de ter mantido aquele segredo e não o ter compartilhado com a outra. O pensamento de que caso tivesse contado algo antes poderia ter deixado tudo mais ameno rondou sua mente, mas qual o momento certo para se revelar algo como aquilo, com tantas pessoas envolvidas? E outra, cabia mesmo a Waverly ser a pessoa a contar tudo?

- Eu preciso ficar sozinha. – Nicole disse por fim, voltando a se sentar no sofá e sem encarar os amigos.

- Tem certeza? – Nathan falou com cuidado e recebendo um aceno da outra, olhou para Waverly e Victor – Vocês, hm, querem uma carona para Toronto?

- Por favor – Victor respondeu – Mas minhas coisas estão no apartamento de Nicole, então... – o rapaz olhou indeciso para a amiga.

- Eu te passo a chave e você deixa com o sindico – Nicole falou sem emoção na voz.

- Certo.

A ruiva se levantou e foi até o hall de entrada, pegando seu pequeno molho de chaves e retirando a que pertencia a sua nova morada.

- Vou ligar para o porteiro e dizer que você está a caminho – Ela entregou o pequeno objeto para Victor, que o colocou no bolso e logo começou a recolher seus poucos pertences que trouxera. Pela visão lateral, Nicole notou que os outros estavam fazendo o mesmo.

Sentiu-se culpada pelos seus modos, mas naquele instante não conseguira mais ser uma boa anfitriã. Precisava ficar sozinha e mais do que tudo, precisava localizar seus pais. Mas antes, pegou seu celular e foi até a agenda, encontrando o número da portaria do prédio. Avisou ao responsável que poderia liberar a entrada para seus amigos e ao desligar, esperou que eles não ficassem chateados com ela.

- Se cuida, Nicole... – a voz de Sarah a alcançou e ela pode sentir a loira afagar seu braço – Se precisar de qualquer coisa, nos ligue.

Ela fez que sim com a cabeça e sentiu Nathan lhe dar um beijo ao lado da cabeça. Ela se segurou para que as lágrimas não caírem. Retribuiu o tchau tímido de Victor e logo a porta da frente se fechou.

Entretanto, ela não estava sozinha.

- Por que você ficou? – Sua voz quase não saiu ao olhar para Waverly.

- Você realmente achou que eu ia te deixar sozinha? Ainda mais agora?

O nó que se formava na garganta de Nicole apertou e incapaz de desfaze-lo, a mulher deixou que a sensação do pranto tomasse conta do seu corpo. A respiração não se completava, ao mesmo tempo que gotas grossas de lágrimas escorriam por seu rosto. Odiou sentir tudo aquilo, ainda mais na presença de Waverly, que se aproximou e pegou suas mãos, falando com uma voz adocicada.

- Respira...

- Eu não consigo...

- Consegue sim. Você me ajudou a conseguir ontem à noite, deixa eu fazer o mesmo por você...

O sinal positivo que Nicole fez com a cabeça foi quase imperceptível, e no instante seguinte, ela pôde sentir a mão de Waverly pousar em seu peito, do mesmo modo que ela havia feito com a outra na noite anterior. Juntas, elas respiraram fundo, soltando o ar suavemente, mesmo que fosse difícil nas primeiras vezes.

Minutos depois, o barulho que a fotógrafa sentia em sua mente foi diminuindo. Talvez demorasse para sumir por completo, mas agora ela seria capaz de raciocinar. Ao abrir os olhos, encontrou os esverdeados da dançarina, que agora acariciava seu rosto e ficando na ponta dos pés, depositou um suave beijo entre as bochechas e os lábios da ruiva, que suspirou e encarou tal ato como o bálsamo que necessitava.

- Melhor? – Indagou Waves, se afastando.

- O beijo ajudou...

Mesmo em meio ao caos que sentia dentro do peito, Nic não perderia a chance de brincar. Sua voz soou mais leve, e isso deixou Waverly mais tranquila, apesar das bochechas rosadas. Não era sua intenção ter dado aquele beijo, mas não conseguiu se segurar.

- Nic, me perdoa... – Waverly soltou sem aviso – Eu não podia contar. Eu não sabia todos os detalhes, não do modo que Travis escreveu na carta, isso eu posso te garantir – sua voz foi firme e seus olhos não saiam do da outra – Ele apenas me disse no baile: "Nicole é a minha irmã, por favor, não conte nada. "

A ruiva fechou os olhos e respirou fundo outra vez, absorvendo as palavras da outra, que prosseguiu.

- E depois que estávamos no Murray Street Park, ele confirmou, e disse que descobriria mais sobre. E agora eu não sei exatamente sobre o que ele estava se referido, pois no envelope estão várias evidências que comprovam o parentesco...

Nicole ficou em silêncio e refletiu a respeito do que Waverly lhe contou. Ela caminhou até a sala, pegou a carta que Travis havia escrito dez anos antes e a leu novamente. Em seguida, olhou todos os registros anexados. Seus olhos focaram as datas de nascimento e ela riu com os horários.

- Eu sou quinze minutos mais velha... – ela parou alguns segundos antes continuar seu pensamento – Ele soube antes do baile, por isso anexou os documentos... Mas por que não me contou? – Nicole não sossegaria enquanto não descobrisse.

- Olha, eu não quero que pense que estou escolhendo lados, é uma situação muito complicada, mas o que você realmente teria feito se estivesse no lugar do Travis? Ele disse na carta que não te contou porque tinha medo da sua reação e depois disse que se sentia um covarde por não ter dito todas as vezes em que teve a chance... – um novo suspiro escapou de ambas – E se no fundo, ele não pudesse contar?

- O que quer dizer?

- E se as investigações sobre a morte do pai dele trouxeram à tona coisas que não poderiam ser ditas? – Waverly arriscou, se aproximando com os braços cruzados – Eu lembro que minha mãe ficou muito atolada de trabalho na época, mas como era sigiloso e Travis me pediu segredo, e logo eu acabei indo pra Laines... – ela deixou a frase morrer, não querendo comentar muito sobre aquele evento em específico.

- Ele escrevendo que não poderia me contar por medo pode ter sido um blefe? – Uma ruguinha se formou entre as sobrancelhas de Nicole.

- A única pessoa que pode responder isso é o Travis. E a carta na cápsula pode ter sido um jeito dele desabafar...

- E ele saberia que em dez anos eu a leria. – Nicole concluiu.

- Talvez sim, talvez não... Se bem que ele trabalha no colégio, né. – Waverly afirmou, e gesticulou com a mão – Talvez ele tenha visto a lista das pessoas que confirmaram presença, e se isso for correto, ele sabe que você foi até lá.

- Mas eu poderia não ter ido. E nada disso estaria acontecendo.

- Mas você foi. E agora sabe.

- Então ele está me esperando...

- Provavelmente.

Engolindo em seco, Nicole maneou a cabeça positivamente, avaliando suas opções, que basicamente consistiam em pegar o carro e ir atrás de Travis ou ligar para os seus pais primeiro. Por algum motivo, ficou nervosa com ambas as possibilidades e seu coração disparou. Como bater na porta da casa de Travis e encará-lo? Como encarar os próprios pais, que esconderam o assunto durante anos? Será que Travis falou com eles nesse espaço de tempo? Será que tinham uma relação e ela não sabia? As perguntas explodiam igual fogos de artificio em sua mente e provavelmente seus olhos transpareceram isso, pois a voz de Waverly a trouxe de volta.

- Vamos com calma, okay?

Ela concordou e pegou o celular, que mal notou ter colocado nos bolsos de seu jeans.

- Eu preciso falar com meus pais... – Decidida, acessou a lista de contatos, buscando os números deles.

- Sim... – Waverly assentiu e sentou-se no braço do sofá, observando a outra caminhar inquieta pela sala.

Nicole primeiro tentou contatar o número de sua mãe e depois de seu pai, mas ambos não atenderam e a ligação ia diretamente para a caixa postal. Isso deixou a mulher mais ansiosa.

- Eles não atendem! – Bufou em frustração.

- Eles devem estar dentro do cinema, talvez? – Arriscou Waves. – Você disse que eles iam ao cinema...

- Eu vou até lá!

- Como se fossem deixar você entrar numa sala de cinema assim, Nic.

- É uma emergência! – Sua voz mostrou exasperação.

- A não ser que você chegue com a polícia, não é uma emergência. – A ruiva abriu a boca para contra argumentar, mas sua voz não saiu – E você sabe que eu estou certa.

- E o que eu faço, então?

- Vamos até a casa do Travis, oras! – Waverly levantou as palmas da mão para cima, sinalizando o óbvio.

- Certo. Espera, vamos? Você vai comigo?

- É claro que eu vou com você, bobinha. – A dançarina maneou a cabeça, esboçando um sorriso – E outra, você está muito nervosa, não está em condições de dirigir.

- Você sabe dirigir? – A surpresa apareceu no rosto da ruiva, mas ela se recordava que a dançaria sabia.

- Dez anos, Nicole. Existe muitas coisas que você não sabe mais sobre mim.

A afirmação deixou Nicole sem palavras e apenas com um aceno, ela concordou com a outra. A verdade contida naquela frase carregava um peso, e a ruiva reconheceu que precisava conhecer novamente a mulher que as vezes chamava de Grace apenas para provoca-la.

Sem trocar palavras, as duas fecharam as janelas e portas que haviam aberto nas horas em que estiveram ali com os amigos, assim como desligaram os equipamentos eletrônicos que usaram. Waverly pegou seus pertences e Nicole fez o mesmo, e ao saírem pela porta da frente, a garota estendeu a mão para a ruiva, pedindo as chaves do veículo.

- Tem certeza? Eu consigo dirigir.

- Está com medo? – Waverly falou em tom de desafio, pedindo a chave outra vez.

- Não. – E cedendo, entregou o objeto para a outra, que destravou o carro e foi até o lado do motorista. – E talvez você tenha que arrumar o banco.

- Jura? – Waverly ironizou ao entrar e fechar a porta. De fato, as pernas da garota estavam bem longe dos pedais – Para que essas pernas tão grandes, Nicole? – Brincou enquanto arrumava o assento.

- Pelo menos eu não tenho problemas em alcançar as prateleiras mais altas. – A ruiva riu ao colocar o sinto, sabendo que a outra estava falando aquilo para lhe deixar mais calma.

- Achei ofensivo - Waves fingiu uma cara feia ao colocar o cinto e a chave no contato.

- Não se preocupe, eu pego o que você não alcançar.

Waverly sorriu à guisa de uma resposta verbal e deu a partida. Apesar de fazer muito tempo que não circulava por aquelas ruas, foi como se todas as memórias voltassem a sua mente e ela reconheceu cada rua por qual passava quando adolescente, acertando as direções para o local desejado.

- Hum, você sabe onde o Travis está morando agora? – A pergunta de Nicole foi pertinente, pois ela definitivamente não fazia ideia de onde poderia encontrar o garoto.

- Não. É por isso que estamos indo até a antiga casa dele. – Waves respondeu sem tirar os olhos do caminho.

A ruiva crispou os lábios, apenas lhe observando. Dirigir era uma coisa tão corriqueira para ela que estar na posição de passageira lhe era esquisito, não estava acostumada. Mas ela não iria negar que observar a dançarina no banco do motorista estava sendo satisfatório, entretanto, no momento que falou, foi algo completamente diferente de seus pensamentos.

- Eu, hm, eu realmente não ia saber o endereço da antiga casa do Travis – confessou.

- Você nunca esteve lá, não é? – A outra lhe olhou rapidamente.

- Não. Não faria nem ideia por onde começar... Se eu estivesse sozinha, teria ido até o colégio.

- Se é que lhe informariam, né? – Waverly comentou ao virar uma esquina – Se bem que a velha Garner não negaria a informação. Se você estivesse disposta a contar tudo.

- Você acha que ela sabe? – Por um lapso de segundo, Nicole se perguntou se a velha mestra saberia de todo o contexto envolvendo ela e o rapaz, e seu estomago embrulhou com a possibilidade de ela saber.

- Se ela sabe, a mulher é um túmulo ambulante!

- E com uma pele maravilhosa. Eu a vi de longe lá no colégio. – Explicou.

- Sim?? – Waverly riu e foi acompanhada – Capaz que eu entre em contato com ela para descobrir o que ela usa, porque olha...

- Você está ótima, Waverly, não precisa de nada disso.

- Você é suspeita para falar, Nicole.

- E por qual motivo eu seria suspeita?

Todavia, não obteria resposta, uma vez que o veículo parou em frente a uma residência de cor suave, cujas janelas que davam para a sua estavam todas fechadas. Nicole olhou para a casa com o coração disparado, não fazendo ideia se estava ou não prestes a saber de toda a verdade. Um carro estava parado na garagem, o que poderia significar que haviam pessoas por perto. Ela olhou para Waverly e respirou fundo.

- É aqui? – Ela sabia que sim, mas talvez estivesse adiando o momento.

- Sim. A última vez que estive aqui, estava cheio de policiais... – a recordação atingiu Waverly e ela balançou a cabeça.

- Foi no dia que... – vendo que a dançarina confirmava, Nicole compreendeu – Será que a mãe dele ainda mora aqui?

- Iremos descobrir já, já...

- Qual o nome dela?

- Odette.

- Deus, eu definitivamente não sei nada sobre o Travis. – Nicole colocou as mãos no rosto e apoiou a cabeça no banco.

- E nunca foi sua obrigação saber coisa alguma do Travis, Nic. – Waverly procurou manter a voz suave, e apoiou a mão direita no joelho da ruiva – Vocês nunca foram próximos e aos seus olhos, ele carregava o estereótipo de atleta idiota.

- Ele realmente foi idiota algumas vezes.

- Foi sim – elas riram – E ele sabe que foi. Tanto que foi mudando quando te conheceu. Ou finalmente mostrando que não era nada parecido com o modo que o pintavam. E eu me incluo nessa parte. – Completou mais para si.

- Sim. Eu acho que se não fosse por você, Waverly Grace, muito do que aconteceu seria completamente diferente...

- Seria mesmo. E você estaria sozinha, agora.

Seus olhos se encontraram e ali elas permaneceram por alguns segundos, como se tentassem ler uma a outra, o que era quase impossível. Quase. Nicole respirou fundo e apertou a mão da garota ainda pousada em seu joelho, sentindo-se grata por ela estar ali.

- Obrigada por ter vindo. – Disse por fim.

- Era o mínimo que eu poderia fazer, afinal de contas, eu sabia. Mais uma vez, me desculpe.

- Tá tudo bem, eu acho... – Nicole ainda sentiu a omissão doer, mesmo que em menor intensidade.

- Okay... – Waves tinha consciência de que agora deveria aguardar os desfechos dessa história, que não poderia pressionar Nicole, de modo algum, para conseguir seu real perdão pelo que tinha feito, mesmo que, analisando o todo, não tivesse culpa de nada. – Preparada?

- Não. – A ruiva admitiu – Vamos.

As duas saíram do veículo ao mesmo tempo. Waverly acionou a trava automática, e juntas seguiram pelo caminho de entrada até a porta principal. Nicole sentia o ar ficar pesado em seus pulmões e seu coração disparando não ajudava em nada, e fazendo o impossível para manter uma calma inexistente, a garota levou a mão tremula para tocar a campainha.

Mas a porta se abriu de modo abrupto antes que ela apertasse o botão.

- Nicole?

- Travis? – As duas mulheres falaram juntas.

- Waves?

E lá estava Travis. Ele não havia mudado muito, talvez estivesse alguns centímetros ainda mais alto e com mais massa muscular, mas seu rosto continuava o mesmo. Os cabelos estavam um pouco desgrenhados e a barba por fazer, mas isso devia-se mais ao estilo que ele adotou do que desleixo. Os ares de garoto, pelo menos naquele primeiro momento, não estavam presentes, mas sim uma postura de homem que agora tinha responsabilidades e não somente para com ele, mas com outros.

- Nicole – ele disse com um misto de seriedade e ansiedade, focando seus olhos na ruiva – Eu sei exatamente porque você está aqui, mas agora não é um bom momento.

- E por que não? – A voz da ruiva foi dura. Ela não ia admitir ser colocada de lado, não agora.

- O que está acontecendo, Travis? – Waverly o questionou.

O rapaz riu e isso deixou as garotas estupefatas.

- Eu sou uma piada para você?

Nicole sentiu a raiva crescer dentro do peito, e definitivamente estava pronta para brigar. Até que uma voz conhecida gritou do lado de dentro.

-TRAVIS SE VOCÊ DEMORAR MAIS UM MINUTO PARA ACHAR ESSA MERDA DESSA CHAVE DESSA MERDA DE CARRO EU JURO QUE EU TE MATO!!

- Bridget???

Nicole não acreditou em seus ouvidos e Travis saiu de frente da porta, dando espaço para Nic e Waves se aproximarem. Foi quando elas viram ninguém menos que Bridget, com os cabelos escuros presos em um coque esquisito e vestindo roupas largas de ficar em casa. Os olhos da morena se arregalaram ao ver as recém-chegadas e por um momento ninguém soube o que dizer.

- Bri... Você... – Nicole gaguejou e apontou para a amiga, mas especificamente para a grande saliência na região do abdômen. Aquilo não poderia ser real, ela pensava embasbacada.

- Sim, eu estou em trabalho de parto e sim, você vai ser tia.

A mulher perdeu fôlego, pois uma onda de dor invadiu seu corpo. Suas mãos correram para segurar a barriga de nove meses que estava ligeiramente oculta pela camiseta que usava, mas que uma vez apalpada por Bridget, ficou em plena evidência. Ela procurava respirar pausadamente, mas estava encontrando dificuldades, e ao dar mais um urro de dor, os outros pareceram despertar da paralisia que aquele encontro inusitado causou.

- Travis me diz que você achou a chave! – Waverly foi a primeira a falar, a voz elevada para ser escutada.

- Eu não sei onde está! – O rapaz passou a mão pelo rosto e cabelo – Eu juro que estava com ela poucos minutos atrás e-

- Nicole me diz que você veio de carroAAAAAAI!! – Bridget se contorceu e Nic correu para amparar a mulher, que se apoiou nela quando lhe foi oferecido um braço – Oi... – disse sem ar.

- Oi... – ela retribuiu, dando um riso fraco. – E sim, eu estou de carro.

- Graças a Deus, pois o seu irmão é um idiota! – Bridget xingou e Nicole riu mais uma vez, ao mesmo tempo que tentava limpar uma lágrima que escapava de seus olhos.

- Bridget, onde está sua mala de hospital? – Waverly se adiantou.

- No sofá. – Travis respondeu enquanto se aproximava de Bridget e Nicole – Cadê a chave?

- Com Waverly – Nicole falou.

- Waverly veio dirigindo? – O rapaz olhou para Waves, que trazia a bolsa da maternidade presa no ombro.

- Sério mesmo que vamos falar sobre as minhas capacidades na direção? – Waves cruzou os braços em desafio.

- Eu faço o que vocês quiserem depois, mas eu imploro, me levem para tirar essas crianças de dentro de mim!!! – A morena exclamou o mais alto que conseguiu enquanto caminhavam porta afora.

- Espera aí, DUAS?

Nicole travou no meio do caminho e Waverly precisou empurrá-la para conseguir fechar a porta de entrada.

- Depois, Nic, depois!

Waverly tomou a dianteira e destravou o carro, abrindo as portas do veículo e logo Bridget foi acomodada no banco traseiro. Travis pegou a chave das mãos de Waves, que não contestou, e correu para o lado do motorista, enquanto esta se acomodava ao lado dele no banco do passageiro junto com os pertences da grávida. Por sua vez, Nicole sentou-se do outro lado do banco traseiro, sentindo o carro arrancar poucos segundos depois que fechou a porta.

- Deus, Waves, suas pernas são muito curtas! – Travis reclamou do espaço, tentando se ajeitar enquanto guiava.

- Não tenho culpa da minha genética, okay! A culpa é de vocês! – Ela apontou para o rapaz e Nicole, que deixava Bridget apertar sua mão com toda força.

- Tanto que eu nem sei como eles couberam aqui dentro! AI! – A morena se referia a barriga e gemeu em seguida – Nic, esse carro está muito novo, não me diga que acabou de comprar. Não quero estragar seu carro.

- Na verdade, é alugado... – Nicole respondeu e Travis riu de nervoso – Mas não se preocupe com isso agora, tá? – Ela apertou a mão da amiga – O importante é você ficar bem.

Bridget concordou com a cabeça e fechou os olhos, voltando a respirar fundo. Nicole olhou para o banco da frente, para o rapaz que descobriu ser seu irmão, dirigindo tão rápido e que com certeza algumas multas de transito chegariam. Sua mandíbula estava rígido, o que demonstrava sua tensão, e tentando acalmá-lo com um toque no ombro, estava Waverly, com um celular em mãos.

- Travis, precisamos avisar mais alguém? – Waves indagou.

- Minha mãe e os pais da Bri – ele disse, com os olhos vidrados no transito. – Diga que estamos indo para o Hospital Infantil.

- Você tem o número deles?

- Meu celular está na bolsa, no primeiro bolso – Bridget respondeu.

Waverly fez um aceno com a cabeça e pegou o aparelho, o entregando para a morena digitar a senha, e após desbloqueado, a jovem começou sua pequena missão de avisar os avós maternos e a Sra. Miller.

- Faz quanto tempo que sua bolsa estourou? – Nicole perguntou, agora mal conseguindo sentir seus dedos, tamanha a força que Bridget apertava sua mão.

- Uns vinte minutos, mas as dores vieram muito mais forte que o previsto – ela respondeu, seu rosto se contorcendo e o suor começando a escorrer por seu pescoço.

Os minutos pareciam se prologar mais do que o previsto, e mesmo com Travis atravessando todos os sinais vermelhos possíveis, parecia que o hospital nunca chegaria. Mas chegou, e assim que Travis estacionou o carro na porta da emergência, saiu em disparada para procurar alguém para lhe ajudar. Waverly passou a bolsa de Bridget para Nicole e pulou para o banco do motorista, pois não poderiam ficar parados ali por muito tempo.

Retornando com um enfermeiro e uma cadeira de rodas, Travis abriu a porta do banco do passageiro e ajudou Bridget a sair. A morena sentou-se com um pouco de dificuldades, mas logo foi levada para dentro.

Antes de sair do carro, Nicole olhou para Waverly, que pelo retrovisor fez um sinal positivo com a cabeça, a encorajando.

- Eu só vou estacionar e logo eu volto – garantiu.

- Okay...

Nicole saiu e foi em direção a porta do pronto atendimento, que se abriu automaticamente com sua presença. Ela entrou e olhou ao redor, a procura de Travis. O encontrou no balcão de atendimento, local onde eram feitas as fichas para internação. Ao se aproximar, foi nítido o alivio que o rapaz sentiu ao ver Nicole.

- Ainda bem que está aqui – ele disse e pegou a mala que a outra segurava, vasculhando para encontrar a documentação de Bridget.

- Onde está a Bri? – Os olhos de Nicole voltaram a vasculhar o lugar, que estava cheio.

- Já levaram ela para dentro – Travis entregou os documentos para a atendente, que digitava rapidamente – Você vem comigo.

- Vou. – falou sem pensar.

- Está bem – Travis logo recebeu a identidade de Bridget e a guardou na mala – Vamos.

Ele colocou a mala no ombro e estava prestes a puxar Nicole pela mão, quando a ruiva outra vez paralisou no lugar.

- Espera, vamos onde? – Ficou confusa com o rumo de tudo.

- Para a sala de parto?

- Quê?! – Ela sentiu o coração pular – Não! Não, não!

- Mas você disse que entraria!

- Eu não sabia com o que estava concordando!

- Bridget me pediu para te levar!

A informação caiu como uma bomba para Nicole. Por segundos ficou apenas encarando Travis, absorvendo o pedido que lhe fora feito.

- A mãe de Bridget não vai conseguir chegar a tempo – Travis explicou rapidamente – Então ela pediu por você. Eu juro pelos nossos filhos que iremos explicar tudo depois. Por favor...

Engolindo em seco, Nicole concordou, e então os dois seguiram pelos corredores internos do hospital. Sua cabeça estava zonza, afinal, como iria saber de tudo aquilo? Muitas coisas precisavam ser assimiladas, contudo, não somente uma, mas duas crianças resolveram vir ao mundo exatamente no dia em que a fotógrafa descobriu um parentesco até então inexistente em seu mundo.

Sua família cresceu exponencialmente em menos de duas horas e ela definitivamente não estava conseguindo lidar.

Quando se deu conta, estava dentro de uma sala esterilizada na ala da maternidade. Uma enfermeira sorridente se aproximou dela, segurando um avental verde para ela vestir. Nicole não teve outra opção a não ser trajar a veste e depois prender seu cabelo. Lavou suas mãos em seguida e se equipou com touca, máscara e luvas que lhe foram entregues. Se sentiu como no seriado Grey's Anatomy, mas guardou o comentário para si.

- E você é? – Uma voz lhe questionou e Nicole viu que se tratava de outra enfermeira, que havia acabado de passar o avental para Travis, e agora anotava algo em uma prancheta.

- Nicole – falou de pronto.

- Parentesco com a nossa mamãe? – Indagou alegre, não percebendo a expressão boquiaberta da ruiva.

- Ela é minha irmã – Travis respondeu por ela e se aproximou, agora parecendo um membro da equipe de saúde. – Idênticos, não? – Ele piscou brincalhão para as enfermeiras.

- Oh! Vocês são gêmeos também? – A primeira enfermeira perguntou com um sorriso em sua voz – A genética de vocês não pulou gerações, pelo visto.

- Contanto que as crianças puxem a beleza da mãe e da tia, tudo certo por mim.

Uma nova voz, dessa vez masculina, se aproximou. O homem tinha baixa estatura, cabelos grisalhos, e pelo jaleco branco, viram que se tratava do médico plantonista. Ele sorriu e continuou.

- Sou o Doutor Reggie. Eu sei que vocês tinham preferência pela Doutora Montgomery, mas ela precisou voar urgente para os Estados Unidos.

- Não tem problema, doutor. Nós já estávamos cientes de que isso poderia acontecer. – Falou Travis.

- Estava verificando o prontuário, e a Cesária de sua esposa estava agendada para daqui quinze dias, correto?

- Exatamente. Mas eu e Bri ainda não somos casados – o rapaz explicou.

- Certo. Vocês já podem entrar e ficar com Bridget, que está sendo preparada pela equipe. Irei somente me limpar e em breve estarei com vocês.

E com mais um sorriso, o doutor saiu acompanhado de uma enfermeira, enquanto a outra abriu a porta que dava acesso a sala em que realizariam os procedimentos.

- Se os dois estivessem em posição, o parto normal poderia ser realizado no quarto – a mulher disse.

- A Doutora Montgomery nos falou a respeito, mas como eles não estavam querendo mudar de posição, ela preferiu deixar a cesariana agendada.

- Correto. Não queremos correr riscos aqui.

- Finalmente vocês estão aqui.

Ao ouvir a voz de Bridget, Nicole se adiantou e ficou ao lado da amiga, que já estava deitada em uma maca e com alguns aparelhos de monitoramento a sua volta. Seu braço estava estendido, para que sua pressão arterial fosse controlada, assim como um liquido era injetado em uma intravenosa.

- Olá, sou Lilian e irei auxiliar o Doutor. – Uma mulher alta falava tranquilamente – Bridget, isso aqui é para dor, está bem?

Nicole e Travis fizeram um aceno para a mulher e cada um ficou de um lado de Bridget, que os olhava com um sorriso leve.

- Oi, amor – Travis se aproximou e deixou um beijo nos lábios da morena – Está com menor dor? Será que eu posso ter um desses também?

- Cala a boca, Travis – ela disse – Não brinque com isso.

- É, péssima piada. – Ele riu – Estamos aqui, está bem? Vai ficar tudo bem.

- Eu sei que vai. – Os olhos de Bridget brilharam e foram para Nicole, que observava a cena silenciosa – Desculpe.

- Pelo o que? – Nic focou seu olhar em Bridget.

- Por não ter te procurado todos esses anos e termos perdido o contato... E agora você está aqui, no momento mais importante da minha vida! – Bridget chorou, como se sentisse culpada por algo.

- Hey, hey, não chore! – Nicole fungou – Mas se for de alegria por me ver, eu deixo – sua brincadeira fez os outros dois rirem – Eu sei que existe um motivo, e eu realmente quero saber qual é. – Seus olhos foram para Travis, que sustentou a encarada que a ruiva lhe dava – Mas agora isso pode esperar.

- Obrigada, Nicole – o tom agradecido na voz de Travis fez os olhos de Nic ficarem marejados.

A ruiva se aproximou da amiga e lhe deu um suave beijo na testa, e isso fez com que ela chorasse mais ainda. Travis se aproximou e beijou a mãe de seus filhos outra vez, limpando seu rosto.

- Seus filhos vão chorar por ver você assim, toda remelenta, e não porque estão nascendo!

- Eu já disse que você é um idiota? – Bridget riu e respirou fundo.

- Cinco vezes somente hoje.

- Comigo aqui, o número vai dobrar – Nicole interagiu e mesmo com o rosto oculto pela máscara, ela soube que Travis sorriu.

- Eu estava esperando por isso.

- Boa tarde, quase noite na verdade, a todos! – A voz do Doutor Reggie se fez presente – Bem, é um belo dia para trazer mais dois rebentos a esse mundo. Podemos começar?

***

Sentada em uma cadeira quase confortável na sala de espera, Waverly checava as mensagens em seu celular. Após estacionar o carro alugado de Nicole, a menina respirou fundo, buscando refletir sozinha a respeito de tudo o que estava acontecendo. Apesar das inúmeras novas informações em sua mente, a jovem sentiu-se orgulhosa, pois conseguiu tomar a frente em algumas situações que necessitavam de agilidade, coisa que nem Nicole e nem Travis tiveram em alguns momentos.

Nicole... A dançarina não pode deixar de sorrir ao se recordar do rosto da mulher ao ver Bridget grávida. Era uma mistura de assombro e surpresa que provavelmente gerariam boas risadas no futuro e bem, era exatamente isso que Waverly estava fazendo naquele instante.

Mas uma coisa era certa: tal situação havia desarmado Nicole de um modo inimaginável, e se ela estava pronta para cobrar respostas e bradar a plenos pulmões, seu plano foi por água abaixo assim que ouviu a palavra tia.

- Nicole Haught, a tia... E de gêmeos ainda.

Ela balançou a cabeça e respondeu as mensagens de Sarah e Victor, que haviam lhe perguntado o que tinha acontecido. Não é preciso dizer o tanto de mensagens exaltadas que eles enviaram após a revelação, e a menina tentava responder todos da melhor forma. Estava tão concentrada em sua tela que mal notou a aproximação de uma pessoa conhecida.

- Waverly?

A menina levantou os olhos e sorriu abertamente.

- Sra. Miller?

Da última vez que Waverly a vira, a mulher ainda estava profundamente abalada com todo o ocorrido, mas agora, era possível ver o quanto o tempo lhe fez bem. As duas se abraçaram apertado, e a mãe de Travis estava visivelmente feliz em vê-la.

- Obrigada por ter me avisado – a mulher mais velha falou – Vim o mais rápido que pude.

- Não foi nada, senhora Miller. – Sorriu a outra. – Foi o mínimo que pude fazer.

- Odette, por favor.

- Certo.

- Ainda bem que você estava com Travis e Bri, ou aquele garoto não teria conseguido chegar até aqui – ela suspirou aliviada.

- Ele que veio dirigindo, na verdade – contou Waves, sentando-se outra vez com Odette ao seu lado – Acho que estávamos no lugar certo, na hora certa...

- Estávamos?

- É, hm, eu não estava sozinha... – e crispando os lábios, Waverly viu que não teria motivos para não contar – Nicole estava comigo.

- Oh, entendo. – Odette encostou-se na cadeira de espera e fitou o nada por alguns segundos, antes de se virar para Waves, mas esta falou primeiro enquanto colocava o celular no bolso.

- Eu sei, Odette. E Nicole sabe.

Se pudesse arriscar, Waverly diria que a mulher ao seu lado estava com o coração disparado, assim como ela também ficou por diversas vezes aquele dia.

- Travis contou a ela?

- Tipo isso... – Waverly maneou a cabeça e coçou a nuca, lembrando-se da forma da descoberta – Mas eles ainda têm muito o que conversar.

- Todos temos e esse momento chegaria, mais cedo ou mais tarde.

As duas ficaram silenciosas e longos minutos se passaram, cada uma perdida em seus pensamentos a respeito de tudo, até que depois do que pareceu ser horas, Travis apareceu exibindo o maior sorriso do universo. Waverly e Odette se levantaram e se aproximaram do rapaz, que não estava conseguindo parar de rir. Ele já estava sem as roupas que usou no centro cirúrgico e abraçou a mãe com força.

- Eles são perfeitos, mãe!

- Eu sei que sim, Travis. – Odette beijou o rosto do filho – Estou orgulhosa de você.

Travis não soube o que responder e virou o rosto para Waverly, que estendeu os braços em um claro convite.

- Parabéns, papai! – A dançarina disse enquanto abraçava o rapaz, que um dia já foi seu amor romântico – Estou muito feliz por você e pela Bridget.

- Obrigada, Waves. Por tudo. – Eles se abraçaram outra vez e Waverly precisou se segurar para não chorar. – Vamos, vocês têm que ver eles!

O rapaz guiou a mãe e amiga para dentro do elevador, e juntos subiram para a área da maternidade, cujas cores em tom pastel e fotos infantis decoravam todo o ambiente. Ao chegarem na área dos apartamentos, Travis abriu uma porta e Waverly pôde ver Bridget deitada, com uma enfermeira lhe auxiliando. Ao lado de sua cama, dois bercinhos hospitalares indicavam que os recém-nascidos estavam ali dentro, dormindo como se nada estivesse acontecendo.

- Hey... – Bridget disse um pouco fraca ao ver as recém-chegadas.

- Oh Bri, querida... – Odette deu passos largos até a morena, lhe abraçando carinhosamente – Você está bem? Como foi? Peço perdão por não ter conseguido vir mais rápido.

- Está tudo bem, Odette. Tudo correu bem – Bri tranquilizou a mulher – Dois anjos apareceram e ajudaram seu filho idiota a me trazer para cá.

- Graças aos céus! – A mais velha disse, não reparando na torcida de boca que Travis deu, e foi até os berços conhecer seus netos.

Em seguida, Waverly se aproximou, e assim como fizera com Travis, abraçou Bridget de forma carinhosa, afagando os cabelos dela.

- Meus parabéns, Bri. – Waves disse com carinho.

- Obrigada, Waverly. Vá conhece-los – a morena apontou para o berço.

O sorriso de Waverly foi grande, e quase dando pulinhos de excitação e curiosidade, ela alcançou as caminhas, no qual estavam ocupadas com dois pacotinhos enrolados em cobertores da cor azul e vermelho. Ambos tinham o cabelo em tom escuro, mas os narizes lembravam o de Travis e os lábios, os lábios definitivamente eram os de Nicole.

- Qual o nome deles? – Waverly olhou para Travis, que não sabia fazer outra coisa a não ser olhar para os pequenos.

- Brielle e Thomas.

- São lindos, Travis, a cara da Bridget! – Waverly não perderia a chance de uma provocação.

- Hey! – Travis em seguida riu – Mas puxaram o meu tamanho, olha isso! Serão jogadores, certeza!

- Amor, eles serão o que eles quiserem ser. – Bridget revirou os olhos.

- Jogadores. – Disse baixou para Waverly, piscando para ela em seguida.

- Onde está a Nicole?

Waves percebeu que a ruiva não estava ali, e agora ansiava por encontrá-la.

- Ela disse que iria pegar um café – Bridget respondeu.

- Tem uma máquina de café próximo aos elevadores – Travis informou – Eu vou com você.

- Não – Waverly o impediu – Daqui a pouco você vai, fique mais um pouco aqui com a sua mãe.

- Está bem. – Ele sorriu.

A dançarina deixou o quarto e seguiu o caminho indicado por Travis, e não demorou muito para encontrar Nicole sentada numa poltrona em uma pequena sala de espera que existia no andar. Estava sozinha, e Waves ficou aliviada por isso, pois seria bom ter privacidade.

- Hey... – ela falou ao se aproximar.

- Hey! –Nic se levantou de um salto, passando rapidamente as mãos no rosto.

- Não precisa esconder que estava chorando.

- Eu não estava. – Mentiu.

- Nicole... – Waverly deu um riso duvidoso.

- Em poucas horas eu descobri que tenho um irmão, vim parar em um hospital, assisti a um nascimento e cortei um cordão umbilical! Waverly, você tem noção disso?! – Ela riu sem fôlego.

- Você fez o quê?! – O riso de Waves fez a outra rir também.

- Brielle nasceu primeiro – ela contou empolgada, fazendo gestos com a mão – E quando dei por mim, estava segurando uma tesoura e portando o cordão! Tipo, uau! – Ela riu de novo, e limpou as lágrimas outra vez – Eu acho que Bridget disse algo como 'deixe a Nic cortar o que nascer primeiro', mas eu estava tão anestesiada que...

- Isto é incrível, Nic. – A dançarina se aproximou. – E eles são lindos.

- Eles são perfeitos, babe... – elas chegaram mais perto e Nicole passou seus braços ao redor da mais baixa. Waverly apertou o afeto, procurando dizer ali tudo aquilo que as vezes fica difícil colocar em palavras. – Eles são incríveis! E eu...

- E você? – Se afastaram ligeiramente, e outra vez Waves afagou o rosto da outra.

- Deus, eu amo eles! – Admitiu – Eu vim pronta para brigar com o Travis, mas eu não vou mais conseguir fazer mais nada, pois eu-

- Ficou totalmente rendida por seus sobrinhos. – A outra completou com um sorriso. – Parabéns, titia.

- Que ódio que eles me desarmaram antes mesmo de nascerem!

As duas riram juntas e sem aviso prévio, Nicole pousou seus lábios nos de Waverly, que apesar de ficar surpresa com o ato, retribuiu ao beijo. Poucos segundos depois, um sorriso tímido apareceu ao se afastarem e ao mesmo tempo, notaram a chegada de mais alguém ali.

- Longe de mim querer atrapalhar.

Travis segurava três cafés em suas mãos, e os colocou em uma mesinha lateral. Ele respirou fundo e olhou para Nicole.

- Eu, hm, irei deixar vocês a sós... – Waverly disse um pouco sem jeito.

- Não. – Nicole a impediu de sair.

- Fique, Waves. Foi por isso que eu trouxe três cafés. – O rapaz olhou para os próprios pés e depois voltou a olhar para as duas – Vamos conversar. 



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