L'nS- cap 7
Enfim, julho.
Nunca Harry desejou tanto a chegada do seu mês favorito do ano. Mais que nunca o jovem queria sentir o sol batendo em seu rosto, o céu extremamente azul sob sua cabeça enquanto jogava basquete na quadra do clube… E depois dos dois últimos meses loucos ele agora se preparava para morar do outro lado do mundo.
A paisagem exuberante que via da janela do quarto aquela manhã dava a ele o ânimo necessário para aproveitar um de seus últimos sábados na América. Não seria fácil deixar para trás o país que achava que tinha nascido. Mas se queria superar a dor de ter sido sequestrado por vinte anos, precisava dar às costas à vida mentirosa que vivia ali e dar uma chance aos pais verdadeiros, que o esperavam ansiosos em Londres.
Claro que tinha que continuar cuidando da Grunnings, mas faria isso remotamente, decidindo que voltaria apenas uma vez por mês ali.
Harry estava empolgado apesar de um certo frio na barriga. No andar de cima, o moreno de olhos verdes já se preparava para a viagem. As malas estavam abertas no chão, ao pé da cama.
Em oito dias, ele e o irmão começariam uma vida nova. E ele, se tudo desse certo, um relacionamento novo. A escola de Duda terminaria dali a uma semana, bem como o semestre da faculdade de Gina, que viajaria com eles pra visitar a família. Aproveitaria a viagem pra pedir Gina em namoro diante dos pais dela.
Algumas horas mais tarde naquela manhã, após enviar um festival de emails resolvendo questões da Grunnings e da nova filial inglesa, Harry desviou o olhar do computador ao ver que Duda descia as escadas.
Vendo que o irmão não parecia nada bem, decidiu que era hora de se aproximarem, aprofundarem a relação de irmãos que nunca foi muito forte. Então, com uma certa pena, ligou pra Gina pra desmarcar a saída deles. A ruiva que tanto povoava seus sonhos atendeu no segundo toque.
— Ei, Potter.
— Ei, Weasley
Ele sorriu ao ouvir a risada dela do outro lado da linha.
— Amo sua risada ruiva. Mas…
— Mas…
Harry suspirou, com pena.
— Bem, Duda tá precisando muito de um irmão. Vou ver se levo ele pra jogar basquete. Falta uma semana pra nos mudarmos e, bem, ele deve estar extremamente confuso. Então vou ficar com ele hoje, desculpe.
Gina sorriu.
— Você é um homem perfeito, Potter. Não tenho o que desculpar. Claro que deve ir dar carinho ao seu irmão, ele está num momento difícil.
—Obrigada por entender. Bem,sei que não tenho o direito de combinar isso sem o consentimento dele, mas caso meu irmão aceite você conversaria com ele?
—Com prazer. É minha profissão daqui dois anos…
— Você é um anjo. Tenho que desligar. Até!
— Até.
— Hey, cara. Não tomei café da manhã ainda. Que tal irmos tomar café na Thinking Cup?
— Vai deixar eu pedir Donnuts no café ou vai me regular?
— De modo algum. Peça o que quiser.
Duda deu de ombros.
— Tá. Beleza.
— Mas antes, se troque e coloque o uniforme de basquete. Vamos ver quem joga melhor.
Duda enrugou a testa para Harry.
— É sério isso?
— Claro. Você não fica se gabando de ser o melhor do time de basquete na escola? Vamos ver se é isso tudo mesmo e se me ganha.
Duda sorriu pela primeira vez em semanas.
— Ah, tá, é claro que ganho de você com a mão nas costas!- e subiu rindo pro quarto para se trocar.
O jovem suspirou, com pena do que havia se tornado a vida de Duda nas últimas semanas. Mesmo que James e Harry tentassem abafar o caso, uma fonte de dentro do consulado americano vazara a história escandalosa para a imprensa, e Harry teve que se refugiar com Duda na casa de Hagrid, advogado da Grunnings, por duas semanas para fugir de paparazzi e repórteres abelhudos. Eles queriam de toda forma uma entrevista com os dois primos criados como irmãos, o que só fez aumentar a revolta de Duda com os pais.
Na escola, o garoto foi humilhado, e Harry teve que ir até lá e dar uns gritos com a direção para que o garoto fosse deixado em paz pelos colegas, que apontavam pra ele nos intervalos, gritando "lá vai o filho dos sequestradores!".
Então, o semestre enfim estava para acabar, e ele poderia começar uma vida nova ao lado dos Potter, que há uma semana haviam viajado novamente para Boston pra assinar o documento de adoção definitiva de Duda.
Dessa vez, ambos atarefados, não puderam ficar mais que um dia nos EUA, dizendo que esperavam os filhos na casa deles na semana seguinte.
— Pronto!- Duda disse descendo as escadas animado, tirando o irmão de seus devaneios.
Harry também já estava adequadamente vestido para jogar, então apenas abriu a porta para saírem e entrou no carro com Duda, jogando a pesada bola de basquete no banco de trás.
Colocou o cinto de segurança, observando o irmão fazer o mesmo sem reclamar, e foram tomar café.
— Hmmm- Duda disse daí alguns minutos quando estavam comendo- Céus, muito bom. Vou sentir falta disso lá…
— Talvez- Harry parou de tomar o café preto para olhar Duda. Mas tem muita coisa interessante na alimentação deles, pelo que vi, apesar de que não vi muita coisa.
— Já vou avisando que não tomo chá…
Harry riu.
— James e Lilian são bem tranquilos com isso. Tenho certeza que vão te deixar a vontade pra comer o que gosta e ir se adaptando aos poucos.
— Vamos mesmo morar com eles?
— Sim.
— Você poderia sei lá, alugar um apê perto, e eu morar com você…
— Não, Duda. Quero me aproximar dos dois, conhecê-los melhor, me sentir filho deles. E você tem que ficar quieto na casa deles. A assistente social certamente vai fazer visitas nos primeiros meses.
Duda bufou e deu de ombros.
— Tá, que seja. Mas e se os filhos deles não gostarem de mim?
— Eles vão. Foram super simpáticos comigo quando fui lá. E olha que nem sabem ainda que somos irmãos.
— Até hoje?
Harry fez que sim com a cabeça enquanto mastigava um waffle.
— Eles vão contar quando nós dois desembarcarmos do avião. Uma reunião de família nos aguarda.
Duda corou.
— É estranho, não acha… do nada termos outra família.
— Acho- disse suspirando fundo e tomando agora um copo de suco de laranja.
— Como consegue dormir sabendo que foi sequestrado? Eu não durmo direito há semanas, pensando com raiva na mentirada toda que contaram pra nós…
Harry olhou com pesar para o irmão, e considerou a pergunta.
— Acho que só durmo porque Gina tem me ajudado a entender o que aconteceu.
— Aquela ruiva que chegou com você aquele dia?
— Sim. Ela é estudante de psicologia.
— E sua namorada.- não era uma pergunta, o que fez Harry corar.
— Ainda não. Vou pedir ela em namoro semana que vem, quando estiver na frente dos pais dela.
— Coragem…
— Sabe Duda, não tem vontade de conversar com alguém sobre o que aconteceu? Alguém que não conheça você, que não vá te julgar…
— Tenho. Mas quem garante que não vai sair pedindo pra sua namoradinha me falar o que disser a ela?- o garoto respondeu já entendendo onde Harry queria chegar.
— Olha Duda. Podemos não ser os irmãos mais próximos do mundo, mas no fundo você sabe que eu te amo, e que você me ama. E é claro que eu me preocupo com seu bem estar. Mas de modo algum eu vou invadir a sua privacidade pedindo a Gina pra me contar a conversa de vocês. E não precisa ser ela, se te faz sentir mais seguro. Mas você precisa conversar com alguém sobre isso. Um psiquiatra talvez...
— Não, melhor que seja ela então. Espero que ela não quebre o sigilo.
— Não vai. Embora ainda seja estudante Gina leva a profissão dela muito a sério.
— Tá. Beleza. Mas vamos acabar de tomar esse café logo que quero acabar com você na quadra de basquete, Sr engomadinho.
— Hey, não estou engomadinho hoje- disse divertido, apontando para o uniforme de basquete que usava.
Os dois terminaram a refeição de forma descontraída e seguiram para o clube, discutindo sobre times de basquete melhores e piores.
Desceram do carro no estacionamento do clube, o sol de fim de primavera estalando sob suas cabeças.
— Bora lá jogar!
E por quase duas horas jogaram, um driblando o outro, um se surpreendendo com as cestas do outro. Ao fim, quando o sol se fazia insuportável, já nem se lembravam mais do placar, mas não importava. Estavam sendo irmãos pela primeira vez. Não havia competição, apenas diversão.
Os dois se jogaram nos bancos vazios da quadra, sorrindo, pegando a toalha nas respectivas mochilas pra se secarem.
— Eu nem sabia que você já tinha segurado uma bola de basquete, Harry.
— Eu disse.
— Mas você nem foi do time de basquete nem nada.
— Comecei a jogar depois do colégio.
— Por quê?
Um pouco hesitante, mas resolvendo que Duda já ouvira mentiras demais, contou a verdade sobre o instituto que ajudava todo mês, e a história da negativa de Valter em ajudar a nobre causa.
— Me envergonho de ser filho deles.- Duda olhou pro chão aborrecido.
Harry passou a mão pelas costas encharcadas do garoto e deu um tapinha nas costas.
— Eu sei, é complicado. E não sei te dizer se está certo ou errado você se sentir assim, nem o que pode fazer pra melhorar. Por isso que gostaria que ouvisse a Gina. Ela é praticamente psicóloga.
— Entendi. Pode ser hoje a noite?
— Vou ligar pra ela imediatamente.- disse pegando o telefone.
— Amor, boa tarde.
— Oi, boa tarde. Como seu irmão está?
— Bem, sobre isso… teria como ouvir ele hoje a noite? Posso deixar ele aí no seu apartamento e espero lá embaixo. Depois vamos todos lá pra casa jantar- disse recebendo um aceno de aprovação de Duda.
— Às 18h?
— Pode ser às 18h Duda?- Harry perguntou ao irmão, que concordou com a cabeça.
— Pode ser, Gi. Muito obrigado por fazer isso por nós.
— Não agradeça, é meu trabalho. Além do mais nunca conversei com ele, só vi de longe aquele dia…
Harry corou se lembrando que Duda quase os pegou dando amassos no sofá da sala.
— Ok. Até de noite. Te amo.
— Também te amo.
— Bom, resolvido-Harry disse após desligar- vamos tomar uma ducha, tirar essas roupas encharcadas, e almoçar.
— Onde vamos?
— McDonalds. Já comemos rosquinhas no café da manhã mesmo, então vamos dos despedir dos EUA comendo todas as porcarias que quisermos, pois tenho a impressão que os Potter não são muito fãs de bacon, rosquinhas e sanduíches não.
Duda riu.
— Tem razão. Seria errado a Sra Potter deixar os filhos comerem junk food sendo médica…
Harry sorriu.
— Sabe de uma coisa, Harry?- Duda perguntou quando entraram no carro um tempo depois.
— Hmm- Harry desviou os olhos pra Duda por um segundo, observando o adolescente um pouco tímido.- sou todo ouvidos.
—Acho que vai ser bom ser cuidado pelos Potter. Eles parecem muito gentis.
Uma lágrima escorreu pela bochecha de Harry enquanto mantinha os olhos firmes na estrada.
— Sim. Vai ser- foi tudo que conseguiu dizer, e mesmo sem olhar pro irmão Harry soube que o garoto também chorava.
Depois do almoço, Harry levou Duda pra se despedirem de outros pontos turísticos de Boston, concluindo com uma sessão de cinema.
— Estamos atrasados pra ir na casa da sua quase namorada- Duda brincou,vendo que seu relógio marcava 18:20 ao saírem do Shopping.
— Eu vi- Harry disse emburrado. Detestava chegar atrasado.
Quase meia hora mais tarde enfim estacionou no prédio da garota. Ela atendeu a porta ao primeiro toque da campainha.
— Boa noite- Duda cumprimentou a garota meio sem jeito.
— Boa noite Duda. Pode se sentar no sofá- Gina apontou o sofá ao lado da porta.
— Até daqui a pouco, Harry.- disse dando um selinho e fechando a porta na cara dele.
— Até…- disse enquanto olhava pra porta diante dele, e dando de ombros desceu para esperar no carro. Duda ligaria pra ele quando tivessem terminado.
Quase uma hora mais tarde, quando Harry estava a ponto de sair do carro pra bater no apartamento, seu telefone tocou, avisando que já estavam descendo.
Com muita insistência, Gina aceitou ir no banco da frente, Duda atrás.
O garoto parecia um tanto mais leve depois de conversar com Gina, e embora Harry não fosse perguntar nada mais tarde quando estivesse sozinho com a ruiva, ele sabia que o garoto tinha chorado e colocado para fora todas as suas dúvidas, mágoas e anseios.
— Bem, que tal fecharmos o dia com uma pizza e alguns filmes?
— Por mim fechou.
— E você, Gina?
— Por mim ótimo também. Qualquer filme tá ótimo se for com você.
— Ih, começou cedo a melação…- Duda brincou e todos riram.
Foi uma noite leve de sábado, e Gina amanheceu ao lado de Harry.
O moreno abriu os olhos e encontrou a ruiva pensativa, olhando para o ventilador de teto.
— Um doce por seus pensamentos- Harry disse beijando o pescoço dela.
— Vai ficar sem doce…
Harry bufou e se apoiou sobre os cotovelos pra olhar no fundo dos olhos da ruiva.
— Sério isso, Weasley?
— Sério Potter. Estou pensando em coisas que não quero te contar. Não agora pelo menos.
— Ok, ruiva. Respeito seu tempo. Mas chegou o meu tempo de te contar algumas coisas sobre mim.
— Gina se sentou na cama, apoiando às costas na cabeceira.
— Sou toda ouvidos.
— Ótimo. Mas apenas dessa vez me escute não como psicóloga, e sim como a pessoa por quem me apaixonei.
Gina ameaçou abrir a boca, surpresa.
— Por favor, me escute até o fim.
A ruiva assentiu.
— Quando te contei a história do porquê quis me embebedar aquela noite, disse a você apenas que conversei com James num bar. Mas não disse o que conversei. A verdade, é que naquele momento eu abri meu coração pro homem que não sabia ser meu pai, e disse a ele que eu não tinha esperanças de amar de novo. A verdade é que, há pouco menos de um ano, minha noiva morreu num acidente de avião. Eu já tinha superado o luto, mas ainda assim disse a ele que ninguém mais me faria feliz como Cho Chang me fez. E ele me disse, que estava muito cedo pra eu me fechar para o amor, que eu abriria de novo meu coração quando encontrasse a pessoa certa, e que quando isso acontecesse não deveria me sentir culpado. Então, quando vi você naquele bar, seu sorriso provocou um verdadeiro terremoto dentro de mim. Mesmo depois de acordar, com ressaca, e arrasado com tudo aquilo que tinha escutado dos Dursley, minha mente vagava até você, até nós… nossa noite perfeita, o seu toque, o gosto do seu beijo. E no dia seguinte, quando conversei com você como paciente, e recebi uma compreensão que nunca esperava encontrar, ali eu me apaixonei. E não houve espaço pra me sentir culpado por amar de novo. O meu amor por você preencheu todo o vazio deixado por Cho, todo o medo de amar. Eu sei, meu anjo ruivo, que seu relacionamento foi possessivo, doentio, e que ainda está assustada com o que aconteceu a ele. Mas o que eu preciso dizer a você é que, quando for conhecer sua família semana que vem, quero me apresentar como seu namorado. Por favor, Gina, aceita namorar comigo?- Terminou, sem fôlego, sendo calado pelo beijo mais intenso que a ruiva já lhe dera. Gina sorria e chorava ao mesmo tempo.
— Posso entender isso como um sim?- Harry perguntou sem fôlego quando desgrudaram os lábios.
— Pode- respondeu sorrindo e enxugando os olhos, mas de repente ficou tensa.
— Harry?- olhou pro moreno que brincava com seus cabelos.
— Diga, meu amor.
— Vamos usar aliança de namorados?- perguntou numa espécie de desespero.
Harry deu de ombros.
— Você decide. Não pensei em utilizar, por quê?
— Não. Nada não. Eu também não faço questão- disse, notoriamente aliviada.
Ah se Harry soubesse o motivo da pergunta…
[...]
Uma semana mais tarde, o avião pousou no Aeroporto Internacional de Londres.
Decidindo se separarem na saída do avião pra cada um conversar com calma com a família, Harry e Gina seguiram em direções diferentes, ambos tendo já avistado as pessoas que foram buscá-los.
— Ah, meus dois garotos!- saudou James, abraçando os dois.
Em seguida, foi a vez de Lílian os abraçar.
— Bem, vamos pra casa! As crianças estão ansiosas pra vocês chegarem.
— Elas já sabem?- Harry perguntou, tenso, sentindo Duda a seu lado tenso também.
— Vão saber depois do jantar. Não se preocupem, queridos. Tenho certeza que vão ficar felizes.
E sorrindo deu um beijo na bochecha de cada um, James rindo do quanto os dois haviam ficado corados.
Enquanto isso, Gina chegava até o irmão, Ronald. De longe, viu que estava acompanhado, mas não reconheceu quem era até chegar mais perto.
Após um abraço caloroso no irmão, cumprimentou a mulher morena ao lado dele.
— Delegada Hermione!
— Gina!
E então, o queixo de Gina caiu ao ver o irmão passar o braço pela cintura da mulher, dizendo:
— Sim, é isso mesmo que está vendo. A delegada é agora minha namorada.
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