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História LoveSick - Capítulo 6 - Carpe Diem


Escrita por: YukoTsu

Notas do Autor


Demorar uma semana para postar pra vir com um capítulo quase todo focado no Taro? Sim, pois é. Mas eu precisava, assim como precisei daquele capítulo de transição onde Budo e Ayano se aproximaram. Quero que vocês entendam bem o ponto de vista de cada personagem aqui, cada detalhe vai ser crucial no futuro, então prestem atenção.
Foi bem massante de escrever e eu não estava muito animada, mas espero que gostem. Ao menos pude colocar duas das minhas filosofias de vida prediletas aqui. Só o Budo mesmo para me fazer pesquisar algo sobre Bruce Lee, e sinceramente eu adorei!! O cara é muito badass, não é atoa que Budo se inspira nele.

Capítulo 7 - Capítulo 6 - Carpe Diem


Três dias haviam se passado desde que Taro começou a praticar no Clube de Teatro com Kizana e os outros membros. Os dias passaram num piscar de olhos, esteve tão ocupado que mal viu o tempo passar. Ele mal teve tempo para seu livro novo, teve de reler Romeu e Julieta dos pés a cabeça. Taro era extremamente perfeccionista e queria se sair o melhor possível, e toda essa “auto pressão” que estava colocando em si mesmo estava lhe deixando ansioso. Quando menos percebeu, suas unhas já estavam minúsculas. Havia roído todas.

No horário de almoço, estava comendo em seu bento ao mesmo tempo em que relia a sua fala com Kizana – A então Julieta. Apesar do cansaço, aquilo estava lhe sendo realmente útil. Mal se lembrava do acontecimento trágico da outra semana, muito menos do problema com Osana. Enfim, havia encontrado algo com o que se distrair, entrar para um clube realmente não foi uma ideia ruim. O vento estava atrapalhando a leitura, assim como a estranha sombra que tampava o sol a sua frente.

- Senpai, faz mal ler enquanto come. – Aquela voz feminina era completamente reconhecível. Ao erguer o rosto, viu a figura de Kizana na sua frente. A garota de cabelos roxos e cabelos cacheados nas pontas se sentou ao lado dele, cruzando as pernas. Todos os movimentos da garota eram finos e com classe, como se tivesse sido educada para agir como uma rainha. – Não acha que está se desgastando dessa forma?

- Talvez eu esteja, não sei... – Ele coçava a nuca, suspirando enquanto colocava os papéis no colo. – Eu só não quero estragar tudo na minha primeira apresentação. Quero dizer, todos vocês são ótimos e já tem experiência...

- Haha, obrigada por reconhecer isso. – Se senpai fosse mais observador a ponto de reconhecer quando alguém esconde algo, poderia facilmente afirmar que a garota havia ficado com vergonha devido ao elogio dele. Se não fosse a maquiagem, seria facilmente vista corando. – Mas não se gaste tanto com isso, você já sabe as falas. Se ficar se preocupando tanto com isso, irá travar na hora.

Taro contraiu o rosto, comprimindo os lábios como se tivesse experimentado algo amargo. Era visível o seu desconforto.

- Sim, mas é que... Não é como se eu tivesse outra coisa para fazer. – Ele havia se lembrado de todos os problemas dos dias anteriores, e de todas as alternativas que havia tentado seguir para se distrair. Nenhuma delas adiantou. – Eu briguei com minha melhor amiga e... Teve aquela coisa dias depois. Esse teatro tem sido a minha fuga.

- É muito bonito que você use a arte como fuga para a realidade, senpai... Isso não é para qualquer pessoa. – A voz da garota estava mansa e suave, bem dócil. Diferente do tom arrogante e irônico que costuma ter. Se estivessem em um desenho, certamente iriam aparecer corações em seus olhos. Quando Taro notou aquela mudança de comportamento nela, Kizana tentou se recompor. – D-Digo... Não há nada de errado em focar no teatro, mas se você só fizer isso, poderá ficar até mesmo doente.

O rapaz engoliu em seco, ele sabia que Kizana estava certa. É um defeito péssimo dele: focar somente em uma coisa, se esquecendo de todo o resto e até de si mesmo. Se conseguir chegar à vida adulta dessa forma, Taro será daqueles que trabalham horas a fio sem descansar.

- Se você quiser... Eu posso te ajudar a se distrair. – Kizana sugeriu, tentando evitar contato visual com o senpai. Taro ergueu as sobrancelhas, um tanto surpreso.

- Uh, sério? Como? – Assim que a garota ia responder, o sinal da escola tocou anunciando o fim do horário de almoço. Por algum motivo, Kizana suspirou aliviada.

- Falaremos disso depois, certo? Se cuide, senpai... Carpe Diem.

 Ela se levantou e foi embora, deixando suas palavras no ar. Taro permaneceu olhando-a ir embora, pensativo. Era costume da garota soltar algumas palavras francesas ou latinas durante a conversa, ostentando o seu vocabulário robusto. Mas dessa vez, algo lhe tocou profundamente.

Carpe Diem. Fazia tempo que o garoto havia escutado sobre a expressão, anos para falar a verdade. O ensino médio havia o consumido de tal forma que Taro havia esquecido algo tão crucial, um ensinamento que lhe foi dado desde muito novo.

Carpe Diem

-x-

Quando Ayano decidiu entrar para o Clube de Artes Marciais, Budo pensou que seria só mais uma aprendiza.  Mais uma com quem desfrutaria de uma simples amizade. E de fato era isso que deveria ter acontecido. E era isso que Ayano ainda pensava – Isso, é claro, era o que ele acha. Apenas um mestre e uma aluna que acabam conversando durante o tempo no colégio. Budo não iria imaginar que essa maldita aluna nova não iria sair de sua cabeça por nada.

Ayano, Ayano, Ayano, Ayano. Sempre que o garoto ficava no ócio, sem nada para fazer, a cena em que ela chorava em seus braços pela morte da amiga enquanto ele a acolhia vinha em mente. Quando não era isso, era ela dormindo em seus braços vestindo nada mais que uma camiseta larga e velha. Nada parecido havia acontecido com ele antes, e se pudesse ele reviveria cada momento. Há quanto tempo eles se conhecem? Três semanas? Um mês?

Budo andava muito distraído nos últimos tempos, coisa que até os outros membros do clube haviam percebido. Ele precisava remediar aquilo de alguma forma, antes que a situação só piore. Budo ainda estava traumatizado devido a última tentativa de se aproximar a uma garota, e estava se odiando por ter medo de isso acontecer novamente. Mesmo assim, ele é orgulhoso demais para admitir uma coisa dessas assim para ela. Budo não sabia o que fazer.

Uma proposta de uma aula particular não ajudava nem um pouco na situação também.  Devido aos eventos dos clubes na escola, eles mal tiveram tempo para praticarem como o costume, sem um público imenso em volta.  Ayano alegava que havia se acostumado aos exercícios e precisava praticar nem que seja um pouco.

- Obrigada por dedicar um pouco do seu tempo a mim, sensei. – Ela dizia enquanto saía do provador, já com as roupas brancas e a testeira com o símbolo das artes marciais. – Já podemos começar.

- Eu poderia dedicar todo o meu tempo livre a você... – Ele soltou a frase quase que num sussurro.

- Hã? O que você disse? Eu não ouvi...

- N-não foi nada... Bem, vamos começar – Budo desconversou. A yandere achou estranho, mas preferiu ignorar.

O treino inteiro foi focado em ataque, visto que a garota era rápida e ágil para a autodefesa. Ela ainda precisava aprimorar sua força. Todo golpe que ela tentava desferir em Budo falhava, o garoto tinha reflexos rápidos demais e a imobilizava com uma naturalidade imensa. Ela tentava lhe acertar na cabeça e ela acabava no chão. Ela tentava derrubá-lo pela perna e era ela quem acabava caindo. Tentava atacar seu estômago, sua traqueia, seu diafragma. Sempre ela acabava imobilizada no chão, pressionada contra a parede, ou nocauteada. A certa altura, a yandere já estava ofegante. Enquanto Budo mal suava.

- Você está tensa, Ayano-san. – Budo comentava, ainda a pressionando contra a parede e observando seus braços tremendo. Ele a soltou, deixando que a garota virasse de frente para ele. – É por isso que não está indo bem.

Ayano suspirou, frustrada e cansada. Estava assim desde o dia em que viu o seu senpai com Kizana. Aquele repolho roxo simplesmente não desgruda dele, e só de lembrar em vê-los praticando numa história de amor trágica faz o estômago da yandere revirar. A cena do balcão, onde após se declararem um para o outro, Romeu e Julieta se beijam de forma apaixonada. Tudo que Ayano queria era esquecer que aquela cena existe, e que o seu senpai estava praticando essa parte com aquele embuste.

Ela, é claro, não contou a Budo o motivo de estar assim. Ele não precisava saber, e só estragaria seus planos caso soubesse de alguma coisa. Budo também não fez questão de saber, aquilo não importava. Ele só queria vê-la bem. Ayano precisava de Budo para ter algo em que se apoiar no meio dessa história toda.

- Ei, você se lembra do que eu disse na última palestra? – Budo perguntou, cruzando os braços e a olhando com ternura.

- Ahn... “seja como a água”? – Ela respondeu, quase como uma pergunta, tentando se lembrar exatamente do que se tratava. Budo assentiu, sorrindo.

- Sim, vocês sempre me acham bobo e idiota por levar “esse tipo de coisa” a sério demais. Mas tudo o que aprendemos com as artes marciais devem ser levados como uma maneira de vida, Ayano-san. – Budo estava com os olhos brilhando e um sorriso no rosto, assim como sempre ficava quando falava sobre artes marciais. – Não deixe que os problemas moldem quem você é e como você age, seja como a água.

“Esvazie sua mente, não tenha forma,

seja maleável, como a água.

Se você coloca água numa xícara, ela se torna a xícara.

Se a coloca numa garrafa, ela se torna a garrafa.

 Se a coloca num bule, ela se torna o bule.

 A água pode fluir suavemente, ou pode destruir…

 seja como a água, Ayano-san.”

- Não se pode pegar a água, muito menos socá-la, certo? Se você tentar me bater... – Ele pausou, desviando de um soco que a yandere tentou acertar. – Não irá conseguir. A água sempre contorna o seu obstáculo, e permanece fluindo até o seu destino...

Num ato que ele mesmo considerou como rebeldia, Budo segurou delicadamente o queixo da garota enquanto a olhava e falava de maneira suave. Por um minuto, Ayano pensou que ele ia beijá-la. Já que estavam bem próximos um do outro. Talvez seja o que Budo realmente queria fazer, mas ele acabou desistindo da ideia. Não podia, não agora. Ele certamente iria se arrepender de não ter feito isso mais tarde, mas não é como se ele já não estivesse acostumado com arrependimentos.

- Bom... Você quer continuar? – Ele perguntou, mas o sinal da escola tocou, anunciando o término do horário escolar. Ambos riram da situação.

- Continuamos amanhã, certo? Obrigada pelas suas palavras, sensei. – A yandere respondeu, indo colocar uniforme escolar a ir para casa. Budo teve que fazer muito esforço para não invadir aquele trocador de roupa e beijá-la como nunca, ele suspirou ao imaginar como seria.

Mas aquela tinha sido uma aula bem útil.

 Com toda a certeza Ayano tentaria ser como a água, que limpa todo o sangue derramado em seu caminho e o leva embora.

-x-

Após um banho demorado e quente, Taro foi procurar alguma roupa para se vestir. Ao abrir uma das gavetas, deu por falta de uma de suas cuecas favoritas. Listrada com azul e branca, bem confortável. Mas ele se lembrava que antes de sair de casa ela estava guardada ali, que estranho.

- Onii-chaan! – De repente, sua irmã mais nova, Hanako, invade o seu quarto. Desesperada, ela pula em cima dele, derrubando ambos no chão e ficando por cima do irmão mais velho. – E-Eu ouvi um barulho no meu quarto! Um barulho! Tem algum intruso aqui!

Taro tentava acalmá-la, visto que ela sempre foi medrosa quanto a esse tipo de coisa. Isso ignorando o fato dela ter invadido o quarto enquanto ele estava escolhendo alguma roupa, estava vestindo somente uma cueca quando sua irmãzinha o derrubou e caiu em cima dele. As vezes ele tinha a impressão de que ela fazia certas coisas de propósito, mas logo se repreendia. Sua irmã recebeu uma educação excelente e era pura demais para fazer qualquer coisa com o próprio irmão visando segundas intenções.

Ele tentou convencê-la de que não tinha perigo algum, e que provavelmente o barulho que ela ouviu foi por causa do vento batendo na janela. Por mais que tivesse se acalmado, Hanako não descansou até ter a permissão dele de poder dormir junto com ele hoje a noite. Alegando que não conseguiria dormir sozinha, e que se sente mais segura na cama do irmão mais velho. Isso, é claro, vestindo uma baby-doll curta e se agarrando a ele. Mas Taro não via problema naquilo, visto que na cabeça dele Hanako ainda era uma criança pura, sem malícia. Que não tinha noção do corpo que tinha, e muito menos do quanto aquela ideia parecia errada.

Mas mesmo com todo o mimo, a pré-adolescente ainda reclamava do quanto Taro estava empenhado naquela coisa de teatro. No horário em que eles costumavam ficar juntos, agora Taro estava novamente praticando suas falas e ensaiando na frente do espelho. Ficou assim por uma meia hora, até que alguém bateu na porta de seu quarto.

- Taro, meu filho... Estou lhe atrapalhando? – Seu pai lhe perguntou, entrando no quarto aos passos lentos. Sua voz era grave e cansada, assim como seus olhos. Mesmo assim, ele se sentia orgulhoso dos filhos que tinha. Taro era a cópia idêntica de sua mãe, enquanto Hanako puxou mais ao pai. Seu pai carregava um álbum de fotos consigo e se sentou na cama do filho para conversar.

- Não, de jeito nenhum... Eu precisava de uma pausa mesmo.

- Você está se empenhando muito nisso... Se empenhando até demais, deveria aproveitar mais um pouco a sua vida. Lembra-se do que eu lhe falei uma vez?

- Carpe Diem... – Taro respondia, quase que num sussurro. Seu pai balançou a cabeça de forma lenta, assentindo.

 Ele abriu o álbum de fotos, que continha diversas fotos antigas, umas até amareladas, onde mostrava o seu pai mais novo na escola. Em algumas fotos, Taro conseguia reconhecer alguns rostos. Porque a semelhança com os filhos era muito evidente, ele pôde reconhecer quem era a mãe da Midori, pai da Kuu Dere, até mesmo a atual coordenadora da escola, Genka Kunahito, aparecia nas fotos como uma simples estudante. Mas somente quando virou a página que ele encontrou a foto de seu pai mais novo, sentado junto com sua turma e o professor. Dessa vez, Taro só conseguiu reconhecer o próprio pai.

- Está vendo todos esses alunos, Taro? Eram da minha turma... – Ele mostrava a foto para o filho, apontando para cada um deles, suspirando. – Eram todos cheios de vigor, cheios de sonhos. Mais do que preparados e ansiosos com a vida que tinham pela frente. Naquela época estavam aproveitando o máximo que podiam.

- E eles conseguiram, pai?

- Estão todos mortos. – O pai dele respondeu, deixando um silêncio cortante pairar pelo local. Ele se sentia mal ao lembrar daquilo. – Nunca conseguiram desfrutar do que a vida tinha a oferecer. Mas... Mesmo mortos, eles ainda conseguem falar, acredita? Estão falando agora mesmo. Ouça.

- Ah...?

- Carpe. – Seu pai falou, pausando. – Carpe Diem. Sabe o que significa? Colha o dia, meu filho. Colha o dia, e entenderá.

 

“Aproveite o dia, Taro. E confie o mínimo possível no amanhã.”

 

Sim, confie o mínimo no amanhã. Essa frase não poderia ser mais literal. Taro ainda não aprendeu a confiar no amanhã.

E como castigo, no dia seguinte teve de lidar com Kizana Sunobu morta em sua frente, com um punhal atravessando sua garganta. Assim como Julieta morreu. E Taro não tinha mais nada a fazer, somente gritar.


Notas Finais


E vocês ainda se consideram azarados? Olhem para a vida do Taro :P


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