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História Lua de Sangue - Eu te amo e sinto muito por isso.


Escrita por: thislovato

Capítulo 33 - Eu te amo e sinto muito por isso.


O que seria da vida sem a convivência daqueles que amamos? Seria um completo vazio, eu respondo, uma vida simplória e compromissada com o cotidiano de uma sociedade pacata; sem aventuras e o saber de sentimentos inimagináveis; uma vida desconhecida em autodestruição.

Então, a mercê da sorte e do destino, duas linhas sem fundamentos para mim, eu subi três lances de escadaria e um sentimento desastroso passou a percorrer todo o meu corpo junto ao sangue. Algo estava errado e eu não saberia explicar, o meu coração estava acelerado e isso ia além do meu nervosismo. O homem, o mesmo do dia anterior, conduziu-me pelo corredor rodeando em seu pulso um maço de chaves. Logo, ele parou em frente a uma cela cuja porta estava altamente enferrujada e degradante. Eu sabia que ele estaria ali; eu sentia o seu cheiro; eu simplesmente sentia. Ao abri-la, eu corri e os meus olhos varreram o ambiente mal iluminado até me deparar com ele.  

— Charles — murmurei, sentindo inúmeras vibrações em meu corpo.

Seus olhos ergueram e seu rosto ficou paralisado. Entretanto, não me dei ao luxo de avaliar a fundo suas expressões, eu estava aliviada mesmo sabendo que há muito pior pela frente. Corro aos seus braços, nesse momento ele já se levantara, porém demorou a retribuir o abraço, nem conseguiu dizer alguma palavra.

Apenas agora eu poderia verdadeiramente dizer a dimensão da saudade que eu sentia dele, de seu abraço protetor, do seu cheiro e de seus olhos arregalados. Eu tinha todas as razões do mundo para deixá-lo, para sentir raiva, porém ele era e sempre foi o meu melhor amigo, ele foi a minha família quando me deram as costas. Eu não poderia simplesmente deixar isso para trás, jogar a toalha e seguir minha vida. De alguma maneira, no fundo, eu tinha em mente que tudo acabaria bem, que nada do que Peter planeja viria a acontecer e nós dois poderíamos viver sem mais nenhuma mentira ou temendo algo tortuoso.

— O que faz aqui? — perguntou com a voz rouca, desnorteado.

— Vim concertar as coisas — respondo-o com a voz embargada.

Pisco algumas vezes, dando um passo para trás e colocando-o em meu campo de visão. A sua face direita estava inchada e arroxeada, ainda contava com o rastro de sangue seco. Ele aparentava estar mais magro e pálido. Não via aquele sorriso sorrateiro em seu rosto e nem seus olhos arregalados a espreita de tudo.

— O que fizeram com você? — questionei, passando minhas mãos em seu rosto, porém ele fez uma careta com o toque — Está doendo? Por que está doendo?

Antes que eu pudesse pegar sua dor, ele tomou minhas mãos fazendo-me olhar em seus olhos.

— O que foi? O que você tem? Por que está assim?

Como eu admiro seu amor por esse garoto, Demetria. — Ouço palmas ecoarem no local.

Em resposta à aproximação de Peter, Charles jogou o meu corpo atrás de si, deixando-o como um escudo.

— O que você fez com ele? — pergunto como a voz carregada de ódio.  

Charles estava diferente, eu não sentia vibração em suas veias, eu não sentia o que sempre senti ao seu lado.  

— Algumas surpresas — Deu de ombros. —, não quero que ninguém estrague o nosso dia. A minha vitória.

Peter entrou no pequeno ambiente onde estávamos e cruzou seus braços. O sorriso em seu rosto mostrou o quanto estava adorando aquela situação e já estava ansioso para o próximo passo.

— Ele está fraco, apenas isso. Charles não pode se transformar ou ter benefícios do processo, pelo menos, nas próximas 8 horas. Eu tenho outra surpresa para você, minha cara. Acompanhe-me?

— Já conversamos Peter, deixe-a. Eu posso fazer...

— Eu já tomei minha decisão — indaguei, interrompendo-o.

— Veja por você mesmo, Charles — Peter apontou para mim. — Lembre-se que foi você quem causou toda a dor dela. Você deu continuidade para isso.

Percebi a forma como Charles tentava controlar sua raiva, o seu peito subia e descia rapidamente e suas veias exaltaram-se em seu pescoço.

— Não foi assim — rosnou ele. — Não irei deixar que isso aconteça. Não da forma como planeja.

Peter sorriu torto e, diante a raiva do mais jovem, ele avançou. Todavia, Peter, por ser mais forte e ter reflexos melhores, acabou o empurrando contra a parede, fazendo-o cair sem nenhum preparo no chão frio. Antes que eu pudesse ajuda-lo, Peter segurou o meu braço, aproximando o seu corpo do meu, e este segurou minhas bochechas forçando-me olhar para o Charles que tentava se levantar do chão. Então, o mesmo homem que me direcionou até aquele lugar, entrou e distribuiu chutes na região abdominal do Charles, machucando-o.

— Por que está fazendo isso? — questionei aos gritos. — Pare! Eu faço o que quiser, apenas pare de machuca-lo.

O homem, portanto, cessou os chutes e Charles cuspiu uma quantidade generosa de sangue, grunhido no chão e sem forças para se levantar.

— Está na hora de nos divertimos um pouco e, quem sabe, recompensar esses 21 anos que estive longe de sua vida, minha cara.

Peter empurrou-me ao homem, como um brinquedo indesejável, e este segurou meus braços para trás, algemando-os, porém não com aço, algo que parecia ser mais forte e dificultava, ainda, a passagem do sangue nas extremidades. Por mais que eu relutasse era em vão e ele continuava a me arrastar como se eu fosse um cachorro não adestrado que aprenderia na marra a obedecer.  

— Tudo vai ficar bem, Charles. Eu prometo. Eu prometo.

No fundo, era o que eu acreditava ou no que eu queria acreditar.

Ele está aqui — murmurou ele, antes que o Peter fechasse a porta oxidada.

— Você pode não me conhecer, mas eu te conheço muito bem — indagou em um tom melodioso.

Peter passou a seguir pelo corredor à esquerda e eu, forçada, seguia seus passos. Afastando, assim, cada vez mais, da cela do Charles.

— Eu sei que a dor física não irá lhe afetar, por isso eu tenho outros métodos — completou ele.

— Isso tudo é para que você consiga a droga do seu poder? Por que não acabou com tudo isso antes? Por que não acabou com tudo isso quando soube que tinha uma filha? — eu gritava as palavras com fúria, sentindo-as rasgar a garganta seca enquanto eu me relutava e debatia praticamente comigo mesma.

Peter seguiu em frente com um sorriso largo. Logo, ele parou em frente a um portão com grades, o seu interior, para mim, era desconhecido visto que a escuridão era predominante.

— Já ouviu falar que a pressa é inimiga da perfeição? Eu gosto de brincar um pouco e você já conhece alguns dos meus jogos. Na verdade, você sempre gostou de jogos ou estou enganado? — provocou ele, abrindo a porta e contemplando o minha reação quando acendeu o interruptor.

Isso era o que Charles queria dizer com “ele está aqui”. Wilmer está aqui.

— Pensei que isso fosse um assunto entre você, Charles e eu —disse entre meus dentes.

— Agora somos quatro. Gosto de números pares — cantarolou.  

Eu não sabia o que deveria sentir, se eu deveria sentir algo. Tudo era uma bagunça. O homem empurrou-me para dentro do local e eu logo senti o frio penetrar meus ossos, porém a temperatura estava agradável. Essa sensação representava o meu medo.

O local era diferente do restante do prédio, as paredes estavam desgastadas, marcadas com garras e os tijolos à mostra.  Era um espaço oval e contemplava com uma escada, também enferrujada, à esquerda. Wilmer, por sua vez, estava com seus pulsos algemados, com correntes nitidamente pesadas, na vertical e os seus pés mal tocavam o chão. A sua blusa foi arrancada do corpo e havia sangue escorrendo do seu rosto até o seu abdômen.

— Wilmer — gritei diversas vezes o seu nome, me debatendo — Solte-me, seu idiota. Solte Wilmer.

— Sabe qual o seu ponto fraco, Demetria? — indagou Peter descendo os curtos degraus. — Sua compaixão por aqueles que ama. Você não é insensível como sempre se julgou, nunca foi.

— Solte ele, por favor. Ele não tem nada com isso — implorei. — Wilmer!

Eu me debatia de todas as formas, a ponto de perder o equilíbrio de minhas pernas diversas vezes.

— Como você consegue amar as pessoas que mais te traíram na vida? — perguntou ele. — Como você consegue, Demetria?

— Pare com seus jogos Peter. Solte-o, por favor — As lágrimas já escorriam pelo meu rosto e eu não estava com nenhuma paciência para as brincadeiras do Peter.

— Eu nem comecei — cantarolou ele com um sorriso perverso. — Agora me responda! Como você consegue?

— Você nunca entenderia, sabe por quê? Por que você não sabe amar alguém.

— Se amar alguém significa que não iriei sofrer pelas mentiras dela. Eu considero isso um dom.

Peter aproximou-se do Wilmer e este ergueu levemente sua cabeça. Os seus olhos se fixaram por alguns segundos no Peter e logo ele olhou para mim. Por mais incrível que possa parecer, seus olhos não transmitiam medo, continuavam intensos e cintilantes.

Não era para ele estar aqui. Não era.

— Mas se você é feliz vivendo com eles, agradeça a mim. Afinal Charles apenas se aproximou de você por minha causa, e, bem, Valderrama só continuou com você, também, por minha causa. — disse colocando sua mão para trás e logo concluiu: — Na verdade, você me deve muitas coisas, Demetria.

— Você é doente, solte-o — gritei, porém todas as vezes que eu relutava era apenas uma tentativa falha e, em resposta, eu sentia as garras do homem entrando em minha pele e rasgando-a como se fosse canivete. — Você é doente, Peter. Eu não te devo nada! Nada!

— Tem certeza? — indagou arqueando uma das sobrancelhas e, em seguida, virando-se para Wilmer. — Isso — Apontou para a região da qual o Wilmer foi atingido — ficou muito feio, ainda está um pouco arroxeado. Sabe uma coisa intrigante sobre nós dois? — Virou-se novamente para mim, erguendo seus olhos. — Conseguimos compartilhar poderes, pensamentos e, até mesmo, emoções. Você nunca soube explorar nossa ligação, mas eu certamente sim. E sabe a dor que você suportou quando retirou a dele? Ela foi dividida para mim. Sabe o poder que você usou para cura-lo? Foi meu poder! Tudo você me deve. Até as pessoas que você ama.

Então, de uma forma súbita, eu vi as garras do Peter penetrarem na região onde ele foi baleado, arrancando-o um grunhido alto e ensurdecedor misto a um urro. Parecia que ele estava devolvendo a dor, porém sua intensidade era pior, visto que o projetil foi um processo gradativo e, agora, ele a recebia com todo fervor.

— Pare, por favor. Pare Peter. Ele não vai aguentar. Pare.

— Assuma! — vociferou ele.

Peter colocou uma de suas mãos no ombro do Wilmer e, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, introduziu mais a fundo suas garras.

— Assuma Demetria — ordenou em um rosnado grave.

— Eu te devo tudo Peter. Tudo! — berrei entre lágrimas. — Eu te devo a minha vida e a droga de todos os benefícios que eu tive por causa do seu poder. Agora pare, por favor. Apenas pare.

As minhas pernas amoleceram e logo eu cai de joelhos entre soluços. Pressiono meus olhos imaginando como isso poderia ficar pior. Tudo, então, ficou em silêncio até que uma risada aguda cortou os ares e me obrigou a abrir meus olhos novamente diante da possibilidade de ser algo desastroso.

— Muito bem, minha cara — A satisfação estava vibrante em seu tom de voz.

Naquela altura, Peter já havia cessado sua tortura com o Wilmer. Porém, a região estava ensanguentada e suas veias estavam exaltadas. A respiração do Wilmer estava descompassada e o seu peito subia e descia lentamente como se ele aproveitasse todo o oxigênio e apenas se concentrasse nisso.

— Eu estou bem — Wilmer disse com a voz carregada. — Não se preocupe.

— O que você quer de mim? — perguntei em um fio de voz.

Peter suspendeu o cenho e tombou sua cabeça.

— Você é fraca, Demetria. Se não fosse por isso, nada disso estaria acontecendo. Eu poderia rever muitas coisas, quem sabe você poderia fazer parte do bando.

Eu poderia retruca-lo, mas decidi me manter calada.

— O processo de entrar na cabeça de alguém é demorado, mesmo tendo uma ligação. Quebrei diversas barreiras até ter o caminho livre e, no final, fui recompensado. Entrar na sua cabeça e ver como você relutava para não encarar a realidade, era um dos meus momentos favoritos do dia, com certeza, deveria virar filme.

— Pare com isso Peter. Ela não merece isso! — interferiu Wilmer.

Peter, apenas, prosseguiu:

— Não vou negar que você evoluiu, nem consigo ter a minha diversão barata. Porém, você continua fraca! Continua ignorando o poder que percorre suas veias. Continua achando que tem uma vida miserável enquanto você pôde contemplar do meu poder como beneficio. Continua ao lado de pessoas que a farão sofrer e regressar.

— Acabe com isso logo, então — murmurei com os lábios secos. — Eu cansei.

Peter, portanto, encarou-me. Acontece, porém, que nada passava em minha mente, podia se assemelhar a uma folha de papel em branco umedecida e sem utilidade. No final, ele sorriu de lado e esmurrou Wilmer, fazendo o seu corpo cambalear e um grito escapar de meus lábios.

— Você fez toda a graça acabar, Demetria — indagou ele em um tom de tédio. — Agora venha acabar com isso, pois temos o outro assunto para tratar.

O homem me soltou, permitindo que o sangue voltasse a circular nos extemos. Porém, eu não conseguia andar. A minha cabeça estava a zero para turbilhões de pensamentos. Diante disso, ele segurou o meu braço praticamente me arrastando escadaria a baixo e levando-me até onde Wilmer estava. Quando ele soltou o meu braço, eu caí de joelhos.

— Levante, Demetria. — Peter segurou o meu antebraço, erguendo-me. — Mate-o e me mostre que estou enganado sobre você. Quem sabe podemos até reconsiderar a vida do seu outro amante — sussurrou. Sua voz era tão áspera para os meus ouvidos que eu sentia o sangue escapar por eles. — Mate-o.

Peter empurrou-me até o corpo do Wilmer e eu dei um passo para trás antes que pudesse atingi-lo.  

— Solte-o — ordenei e o mais incrível que pareça foi que mantive em um tom frio.

O homem, então, retirou as corretes do Wilmer e antes que ele pudesse cambalear, eu aproximo, envolvendo meus braços em seu pescoço e pressionando-o contra a parede, assim, fazendo-a de apoio.

— Vai ficar tudo bem — sussurrou ele.

— Você não deveria estar aqui — murmurei. — Não deveria, Will.

— Vamos Demetria. Mate-o. Mate-o. Mate a pessoa que mentiu para você e se aproveitou da sua pura ingenuidade transando com você. Mate a pessoa que poderia ter mudado o rumo de sua vida, porém não o fez. Mate a pessoa que te fez criar esperanças de um futuro miserável que nunca terá — instigou Peter.

Entretanto, Peter estava enganado. Isso nunca me forçaria a mata-lo. Eu simplesmente o perdoei, porque o amo. O amor representa perdão, não é mesmo? Afinal todos cometem erros, por mais absurdos que sejam. E as palavras do Peter não significaram nada para mim, absolutamente nada.

Percebi, portanto, que Wilmer não sentia medo, sua voz não demonstrava tal sentimento. Na verdade, eu sempre detestei o fato dele ser otimista completamente contrário a mim. O seu coração estava em seu ritmo natural e sua respiração pouco descompassada devido a dor. E eu pude perceber, também, que ele não estava totalmente sedado, pois ele mesmo conseguia, com nítida dificuldade, atenuar sua dor ou conseguia fingir muito bem.

Por que ele estava aqui? Do que adiantaria me questionar, não vale a pena chorar pelo leite derramado. 

— Lembra-se de quando eu disse que imagina um futuro para nós? — questiono sentindo o nó em minha garganta crescer. Ergo meus olhos até os seus e os encontro iluminados como nunca.— Eu estaria em algum emprego pacato, mas algo que eu sinta prazer e faça com que eu retorne para nossa casa feliz. Você estará administrando algo, não sei — Sorrio. — E teríamos um filho, uma exceção, aliais. Ele seria saudável e esperto, brincaria na neve e teria o narizinho sempre avermelhado por conta disso — Respiro fundo, não conseguindo manter as lágrimas que escorriam no meu rosto. — Raramente discutiríamos, pois sempre falamos primeiro o que nos incomoda antes que se torne um problema maior. E continuaríamos com as nossas provocações e as estúpidas brincadeiras entre nós e nunca perderíamos o ritmo, pois sempre acabamos com inovações e nos amando mais.

Não consigo me conter e caio em prantos em seu ombro, envolvendo meus braços nele e sentindo um aperto inimaginável no peito.

— Eu te amo e sinto muito por isso, Will. Sinto mesmo. — Respiro fundo, estalando a língua. — Eu não consigo. Eu não consigo.

As lágrimas escorriam rapidamente e uma dor enorme se alastrava em meu peito. Antes que Peter pudesse fazer algo a respeito, um som estrondoso ecoa no andar de baixo e foi inevitável não abrir um mínimo sorriso de alivio.

— O que você fez? — questionou Peter ao perceber tal emoção.

— Pensei que fosse você quem sempre está um passo a frente — disse com um mero sorriso nos lábios.

Por breves segundos, Peter pensou e, provavelmente, movido pelo impulso ele tomou o meu braço, como uma boneca qualquer de pano, e sorriu.

— Eu pensei que fosse mais esperta que isso. Acabe com ele, logo — indagou para o seu cúmplice referindo-se ao Wilmer. —Use a de prata e acerte no peito, dessa vez. Já o seu amigo terá uma morte mais dolorosa do que planejei, pois teremos que apressar as coisas aqui.

Tudo aconteceu de forma súbita que foi difícil raciocinar. Apenas permitir que meu corpo fosse puxado pelo Peter e logo encontrávamo-nos no corretor. Acontece, contudo, o que me paralisou foi o som do tiro proveniente do local onde estávamos. Depois disso, eu desliguei meus sentidos a fim de evitar mais dores.

Ele me conduzia novamente para a cela do Charles. Eu via sua fúria, sua raiva, ele iria mata-lo. Ele desejava. Quando, finalmente, Peter parou próximo, jogou o meu corpo para trás, fazendo-me bater contra a parede em que os canos são expostos e, consequentemente, meus músculos gritaram. Tudo foi tão rápido que eu não consegui acompanha-lo. Peter abriu o portão, eu me levantei de forma desajustada e quando meus olhos adentram na cela, eu vivenciei os mais dolorosos segundos de minha vida.

— Eu quero sua raiva, o meu poder.

Charles estava ajoelhado de frente para mim e eu vi as garras do Peter abrindo o seu pescoço, como facas incrivelmente afiadas cortando um pedaço de carne qualquer. Então, o sangue escorria, gotejando sobre o chão e logo Peter simplesmente jogou o corpo do Charles para o lado, como se fosse um brinquedo do qual ele não quisesse mais brincar e caminhou até mim; como se eu fosse o próximo.

— Isso é o que eu quero. Eu quero esse poder — vociferou entre um rugido. Sua voz estava grave e quase animalesca.

Ele pegou em minha nuca, virando-me para o metal o qual refletiu minha imagem como espelho, mas uma imagem desfigurada e embaçada. O que ele queria que eu visse, na verdade, eram os meus olhos. Estes mudavam freneticamente e eu não conseguia controla-los. Parecia que eu estava montada em um cavalo desenfreado e eu acabei perdendo o freio de minhas mãos. Lembro-me que, pelo ditado popular, os olhos são a janela da alma, claramente a minha estava sofrendo uma profunda transformação.

— Eu sou Demi — disse com um pequeno sorriso, encostando-me à porta do quarto. — Eu sou amiga de May, sua prima.

— Ela me falou sobre você — disse o garoto, olhando-me por poucos segundos, e logo voltando a preencher a prateleira com os seus livros. — Irá ficar ai me encarando?

— May está tomando banho, já terminamos de fazer o que tínhamos de fazer. Você vai querer assistir algum filme com a gente ou vai ficar querer ficar sem aproveitar o seu último dia de férias de verão?

Ele me encarou com um dos livros na mão. Eu não sabia o que se passava em sua cabeça, mas, no final, ele sorriu e balançou sua cabeça.

— Nada de filmes de romance, por favor — disse ele.

Faço uma careta, movimentando minha cabeça negativamente.

— Não é porque sou uma garota que significa que eu goste de romance. Isso é clichê, não gosto disso. Vamos ver Star Wars, se quiser faça pipoca, aqui não é minha casa para eu poder fazer as coisas.

— Você parece muito confortável quando está aqui, como entrar no quarto e já colocar imposições.

 — Foi você, não foi? Você fez o Robson ir atrás de mim e matar Marissa, porém o seu plano não deu certo. Não era o suficiente, não é mesmo?

— Boa garota — sibilou. — A morte do Sr. White também é sua culpa. Nunca deveria ter se aproximado dele. E sabe aquele lobinho seu? Foi incrível ver a forma como você relutou para não mata-lo, mas acabou cedendo. Uma hora todos cedem.

Respiro fundo, pressionando meus olhos. O meu cérebro processou tudo rápido demais. Parecia que jogaram uma bomba e tudo ao meu redor foi devastado, todas as pessoas que amo morreram e não resta nada. Porém, havia algo dentro de mim que queria que eu lutasse e eu tomei essa como a única alternativa.

— Você está errado Peter. Sempre esteve — indaguei. — Eu não sou fraca e eu lhe devo muito por isso.

Ele soltou minha nuca e calmamente eu me virei para ele.

— Eu cansei de ser a sua marionete e das pessoas morrerem por causa disso. Se você quer tanto esse poder, acho melhor tomá-lo de uma vez.

Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, eu o chuto contra a parede e o mesmo foi surpreendido por isso. Eu não sou tão forte como ele, mas certamente ele abriu portas para que eu pudesse ter acesso a uma quantidade satisfatória de poder.

— Você brincar de luta, minha cara? — disse ele, recompondo-se. — Não posso negar um tempo para minha filha, ainda mais depois de tantos anos.

Peter estava com raiva, seus olhos estavam avermelhados com o típico rachado alaranjado o que representava sua fraqueza. Ele, sem nenhuma piedade, arremessou o meu corpo para um corredor, fazendo o meu corpo deslizar pelo chão até finalmente encontrar a parede. Os sons de tiros no andar de baixo foram ouvidos e eu sabia o que isso representava. Na verdade, era um sinal de que a ligação do dia anterior para o Patrick teve algum sentido, eu só não contava que Peter tivesse mais pessoas envolvidas nisso. Diante dessa linha de raciocino, quando estive desligada, Peter aproveitou isso e me ergueu. A sua mão pressionava o meu pescoço e a outra puxava o meu couro cabeludo, assim, tombando minha cabeça para trás. O ar foi ficando rarefeito e tive uma breve lembrança de quando eu sentia essa mesma sensação em meus mais comuns surtos.

— Acha mesmo que pode me vencer, minha cara? — questionou ele. — Acha mesmo que o seu pai adotivo irá lhe livrar disso junto com o grupinho dele? Você sempre precisou de ajuda e é uma pena isso, pois eles não chegarão a tempo para te salvar.

— Sabe de uma coisa? — indaguei olhando em seus olhos. — Eu devo te agradecer. Se não fosse por você eu não teria o conhecido ou até mesmo me apaixonado pelo Wilmer. Eu não teria me tornado a pessoa que sou hoje.

A fim de me livrar de suas mãos, aproveito de sua proximidade tombando minha cabeça para frente e batendo a testa em seu rosto, mais especificamente em seu nariz, fazendo-o me soltar. Diante desses segundos, eu o empurro, sentindo meus ossos trincarem devido a força extrema, contra a parede fazendo-o atravessa-la, visto que era feita de madeira. Ao me aproximar, o vejo no chão e sua expressão confusa. Os seus olhos o entregavam e ele, de alguma forma, temia a mim.

Talvez ele verdadeiramente tenha percebido que despertou o meu pior lado.

Estendido no chão, ele ergueu uma de suas mãos para me atacar, porém eu acabo contorcendo o seu braço, assim, quebrando-o. Envolvo minhas pernas em cada lado seu, colocando minhas mãos em seu pescoço e fazendo-o perder o ar a cada segundo que se passava. Acontece, todavia, que isso não era suficiente e a partir de uma coragem surpreendente e uma força da qual nunca imaginei que teria, minha mão adentra em seu peito de modo que pudesse ter acesso ao seu coração.

— Sabe Peter, você não é o meu pai, nem nunca foi o meu Alpha. Sempre foi um monstro e morrerá como um e sem o seu estimado poder.

Os seus olhos estavam arregalados e não estavam mais vermelhos, ao contrário estavam em sua coloração natural: azul. Ele parecia perplexo e o ar escapou de seus lábios subitamente e, então, como se eu estivesse arrancando uma planta da qual sua raiz é fasciculada; o seu coração teve um encaixe perfeito na palma de minha mão e o seu sangue era apenas um complemento. Aos poucos, a vida foi se esvaindo de seus olhos e, seguindo a lei do sobrenatural, o seu poder foi transferido para mim.

Eu sentia como se ácido estivesse percorrendo minhas veias e artérias no lugar do sangue. Era agonizante e nenhuma dor poderia ser comparada a isso. Eu ainda pude ouvir o meu próprio rangido e uma sensação surreal de terror e contentamento oscilando em todo o meu corpo.

Wilmer estava certo. Eu sempre estive fadada a isso. O meu destino sempre foi traçado pelo Peter. Ele foi o autor da minha vida, ele introduziu personagens nela, ele determinou como eu deveria agir, ele decidiu quem deveria morrer. E, agora, foi morto pelo seu personagem principal, a sua favorita, aliais.

O Destino da jovem já está escrito e o escritor não teve nenhuma compaixão.


Notas Finais


olá amoras, demorei um pouco? talvez, mas aqui está! relevem os erro. Eu refiz esse praticamente umas trezentas vezes, sou um pouco perfeccionista, mas a gente segue a vida!
Enfim, de certa forma eu fechei o enredo aqui e se tratando, até mesmo, da própria sinopse! E tecnicamente esse não é o fim!
beijocas!!!


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