Lyra sempre soube que os ventos de Aethoria falavam. Enquanto a maioria dos habitantes do Reino do Ar considerava isso uma velha superstição, para ela, era uma verdade inegável. Ela se perdia nos sussurros das brisas que dançavam entre as torres altas e sinuosas de sua cidade, Alacirya, construída sobre as nuvens que flutuavam acima do mundo.
Numa tarde clara, com a lua de Aethoria tingida de um azul pálido, anunciando o início do mês do Ar, Lyra estava no topo da Torre dos Ventos, um lugar reservado para aqueles que podiam ouvir e interpretar os caprichos do vento. Ela fechou os olhos, deixando o vento trançar seu cabelo cor de fogo enquanto sussurrava para ela sobre mudanças, uma jornada e um encontro iminente que iria transformar sua vida.
-Lyra!. A voz de sua mestra, Aerin, cortou o sereno sussurrar do vento. -Pare de sonhar acordada. Há trabalho a ser feito.
Lyra se virou, seus olhos castanhos brilhando com um misto de desapontamento e entusiasmo. -Os ventos falam de mudanças, mestra,. ela disse, ansiosa.
Aerin, uma mulher magra com cabelos prateados que flutuavam ao redor de sua cabeça como uma auréola de névoa, caminhou até ela. -Eles sempre falam, Lyra. Mas nem todos os sussurros devem ser ouvidos. Ela estendeu um rolo de pergaminho. -Esta mensagem chegou do Templo Central. Você foi escolhida para representar nosso reino na cerimônia dos cristais.
O coração de Lyra disparou. A cerimônia dos cristais era uma lenda viva, um evento que ocorria apenas uma vez a cada geração, quando um eclipse cobria Aethoria com sua sombra. Ela leu o pergaminho com mãos trêmulas, cada palavra gravando-se em seu coração como uma promessa de aventura.
-Por que eu?. perguntou ela, mais para si mesma do que para Aerin.
-Porque você ouve o que outros ignoram,. disse Aerin, colocando a mão no ombro de Lyra. -Mas tome cuidado. Ouvir demais pode levar ao perigo.
Empacotando o essencial em uma mochila de couro, Lyra preparou-se para a viagem aos Altos Pilares de Aethoria, o ponto sagrado onde os quatro reinos se encontravam. Ela partiu ao amanhecer do dia seguinte, acompanhada apenas pelo vento.
Enquanto atravessava as nuvens e descia para as terras mais baixas, a paisagem mudava. As leves brumas do Reino do Ar deram lugar aos vastos e verdejantes campos do Reino da Terra, onde as montanhas se erguiam como guardiãs de um mundo antigo e misterioso.
Cada passo a aproximava mais do coração de Aethoria, e cada respiração trazia aromas terrenos misturados com a fragrância fresca do orvalho matinal. A viagem era longa, e os dias se misturavam, mas a curiosidade de Lyra e o chamado de sua missão a mantinham em movimento.
Foi aqui, no limiar entre os reinos, sob a sombra crescente do eclipse, que ela o viu pela primeira vez. Caelum, o guerreiro da Terra, estava parado ao lado de um imenso cristal verde que pulsava com uma luz interna. Seu olhar era tão penetrante quanto a terra que ele jurou proteger, e quando seus olhos encontraram os de Lyra, uma nova faísca de magia sussurrou pelo ar, uma magia que não pertencia ao vento, mas ao destino.
Lyra sabia, naquele momento, que sua vida estava prestes a mudar para sempre. E os ventos, sempre tão sábios, sussurraram em acordo.
Aquele primeiro encontro foi tenso, com olhares cautelosos e palavras medidas. -Você é Lyra do Ar,. disse Caelum com uma voz que ressoava como a terra após a chuva, profunda e firme.
-E você é Caelum da Terra,. respondeu ela, tentando esconder a admiração que sentia pela robustez e calma emanadas dele. -Parece que compartilharemos a jornada até os Altos Pilares.
-Parece,. concordou ele, não totalmente satisfeito com a ideia. -Devemos nos apressar. O caminho é longo e o tempo é curto.
Assim, com os pés firmemente plantados na terra e as cabeças frequentemente nas nuvens, eles partiram juntos. A jornada que se seguiu os levaria através de vales sombrios, sobre montanhas escarpadas, e através de florestas antigas onde a luz mal tocava o chão.
Conforme caminhavam, Lyra aprendia mais sobre Caelum—sua fidelidade inabalável ao seu povo, seu respeito pela terra e a seriedade com que ele encarava seus deveres. Por sua vez, Caelum descobria a leveza de Lyra, sua habilidade de encontrar beleza nas coisas mais simples e a maneira como ela parecia entender o vento.
Em um acampamento à noite, enquanto observavam as estrelas emergirem no céu tingido pela luz do eclipse, Lyra perguntou, -Você acredita em destino, Caelum?.
Ele olhou para ela, seus olhos refletindo as estrelas. -Eu acredito em dever e escolha. Mas talvez, em noites como esta, eu possa acreditar em algo mais.
Naquela noite, sob o manto estrelado, o vento sussurrava não apenas para Lyra, mas para ambos, entrelaçando seus destinos com cada folha que tocava e cada sombra que movia. Aethoria estava mudando, e eles também.
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