— Migo, você precisa sair dessa. - Jean estava em casa novamente, mesmo com a presença dele eu não estava nem um pouco animado. Minha disposição era zero de fazer o que quer que fosse. Acho que estava em abstinência, o nome dela era: Orochinho.
— Eu sinto que eu fudi com tudo, Jean. Tem o quê? Uns três meses que a gente parou de se falar. E eu não superei. - falei enquanto revia nossos vídeos juntos. Naquele fatídico fim de semana que nos pegamos, tudo mudou. Ele não me mandou mais mensagens, ligou ou qualquer outra comunicação que fosse. Isso me destruiu por dentro. Eu achei que de qualquer forma ainda seríamos amigos. E não foi bem o que aconteceu.
— Luba, cai na real. Foi uma mísera ficada. O boy era hétero. O que você achou que ia acontecer? Bola pra frente, migo. Sabe o que você precisa agora? - Jean segurava meu rosto como se quisesse me bater.
— Anti-depressivos? - fui soturno ao responder.
— O melhor remédio pra esquecer macho são outros machos! Você precisa sair. Se distrair. Olha aqui, fiquei sabendo que a Youtube Fanfest desse ano vai ser num puta Resort de São Paulo. O que acha da gente ir?
— Eu não dou a mínima pra esses eventos que reúne Youtubers, você sabe muito bem disso. - exceto por alguns poucos amigos, o youtube tinha uma comunidade tóxica e competitiva, eu não gostava de me envolver nisso.
— E se a gente chamasse nosso grupinho. A Gabbie, o Guaxinim, o Calango. Não ia ser divertido? Tem um tempo que a gente não se reune, hein? - Jean falou dando palminhas excitadas, pude vê-lo mandando mensagens no seu whatsapp.
— Jean o que tá fazendo? Eu não disse que concordei com a ideia. - eu conhecia o Jean muito bem e sabia que ele já devia estar tramando isso com todo mundo antes mesmo de me consultar.
—Amigo, o pessoal todo falou que vai. Não dá pra traz. Vamos??? Garanto que vai ser supimpa. - Jean agora pulava no sofá da minha sala, dando gritinhos histéricos.
—Tá bom, eu vou. Só não fica forçando a barra e me apresentando gente como você sempre faz. Eu tô bem sozinho. - Jean costumava dar uma de cupido me empurrando seus contatinhos em comum, quase nunca dava em algo.
— Que isso, Luba. Tu me conhece. Prometo ficar na minha. - e eu bem sabia que ele estava com os dois dedos cruzados nas suas costas.
...
Evento de youtube era uma merda. Por que será que eu tinha aceitado ir com o Fred e o Rataque naquele troço? Eu não sei. Segundo eles, com a onda de vídeos meus que vinham sendo desmonetizados eu precisava me enturmar com os chefões da plataforma pra que eles se compadecessem e aí eles estudariam meu caso. E a oportunidade perfeita seria ali, nessa tal de Youtube Fanfest. Um evento que integrava fãs e youtubers, que acontecia todos os anos.
— No pior das hipóteses, que você não consiga falar com nenhum deles. Você pelo menos pega alguma gatinha. - Fred adorava dar em cima das novinhas, eu não era nenhum galã, mas sabia que eu não era tão desesperado como ele.
— Vai se fuder vai, Fred. Você não aguenta ver um rabo de saia que já vai atrás. - o cara mandava beijinhos pra meninas na porta do salão de eventos. - Nem parece que já tá casado e com filho. Quieta esse facho.
— O sortudo aqui é você, Pedro. Que tá solteiro. Vai me dizer que vai sair daqui no zero à zero. - Rataque me deu uma cutucada, enquanto via garotinhas gritando meu nome na muvuca. Mesmo tendo terminado com a Carol, não tinha pegado ninguém nesses últimos meses. Estava numa fase de auto-conhecimento. Eles não entederiam.
— Não posso pegar fãs. É anti-ético. Além do que... Tô de boa na seca. - Entramos na casa de shows. Estava lotado. Tinha fãs que conseguiram ingressos vips dum lado, organizadores do outro. A maioria dos youtubers mais badalados também estavam lá. Pude acenar pro Castanhari. O Christian Figueiredo com a mulher dele, a Zoe, num canto. Camila Loures conversava com a Vih Tube sobre alguma collab. Lucas Lira e Cocielo pareciam entretidos bebendo. E então, me deparei com ele. O Luba estava lá. Vestido num traje chamativo, algo como se um unicórnio tivesse transado com a Barbie. Gay demais até pra ele. Tava maneiro até, admito. Vê-lo me deixou ligeiramente desconfortável. Não tinhamos trocado uma palavra sequer desde... Enfim, nosso lance há alguns meses. Bruno e Fred não sabiam de nada. Eu não tinha dito isso pra ninguém. E eu preferia que fosse assim. Alguém apontou pra mim no grupo do Luba e finalmente ele olhou pra onde eu estava. Meu coração deu um pulo dentro do peito. Ele parecia espantado e ao mesmo tempo contente e nervoso. Qual não foi minha surpresa, quando ele começou a andar em nossa direção.
— Vou cumprimentar o Luba ali, os caras. Volto já. - Não tinha mesmo como evitar aquela conversa. Então lá fui eu.
...
— Luba, não é o Orochinho logo ali atrás? - Guaxinim apontou em meio a multidão de youtubers e lá estava ele. Acompanhado de dois de seus amigos que eu não conhecia bem. Tava tão bonitinho de roupa social. Acho que ele devia tá querendo causar uma boa impressão. Apesar que todos já conheciam sua boca suja e falta de modos no canal dele. O que era, por incrível que pareça, um dos fatores que me faziam ser atraído por ele. Achava uma graça a sua expontaneidade e seu jeito rasgado de falar. Este era o charme do Tio Orochi.
— Eu vou lá falar com ele. - eu mal pronunciei a sentença e Jean soltou:
— Lucas, você tem certeza? Eu não faria isso se fosse você. Ele tá te evitando todo esse tempo. Acho que isso é claramente um sinal de que ele prefere ficar na dele, não acha?
— Deixa o Lucas, Jean. Se ele quer quebrar a cara logo no começo da festa é escolha dele. - Gabbie intervira com seu jeito ácido de falar. - Talvez assim ele se manca de uma vez.
— Gente, calem a boca. Eu preciso disso. - falei e fui caminhando lentamente pelo salão de encontro à ele.
— E aí? Como você tá? - Orochinho falou extendendo os braços para um aperto de mão.
— Bem, na medida do possível. E você? - apertei sua mão, tentando esconder minha excitação ao falar com ele de novo, sabia que não ia conseguir disfarçar por muito tempo.
— O canal vai meio mal. Youtube cismou de tirar a monetização de mais de 50% dos meus vídeos. Eu não consigo conter os palavrões. - eu queria rir, era bem a cara dele isso. Orochi tinha até uma estampa de camisas zuando a desmonetização dos seus vídeos. Outra coisa que eu gostava nele. Ele sabia rir de si mesmo.
— E deixa eu advinhar... Veio aqui pra tentar mudar um pouco sua imagem de encrenqueiro? - Orochi era como eu, um anti-social de carteirinha. Ele não iria até ali pela diversão e sim, por necessidade.
— Bingo! Você é mesmo esperto. Bem, meus amigos tão me esperando. A gente se esbarra. - antes que ele se virasse pra sair, eu puxei seu braço pedindo mais uns segundos.
— Orochi, eu queria te perguntar uma coisa. Você e a Carol... - minha voz diminuiu agora. Tinha visto os boatos, mas queria ter certeza.
— Sim, eu e ela terminamos. Era isso que você queria ouvir? - ele olhou nos meus olhos, seu semblante era impassível.
— Sinto muito, espero que não tenha sido por que eu... - Eu me sentia culpado. Há três meses que eu martelava isso na cabeça. Eu queria poder ter a oportunidade de pedir desculpas, de consertar o que eu de alguma forma, tinha começado.
— Luba, eu tenho que voltar. O Rataque e o Fred são um porre, detestam que eu... - ele queria encerrar a conversa, não queria prolongar o assunto. Eu tinha entendido.
— Tudo bem. Tomara que dê tudo certo pra ti e pro seu canal. Até mais. - me despedi dele e dei meia volta. Com um nó entalado na garganta, em saber que ele estava nitidamente me evitando.
...
Não muito longe dali, sentado entre os convidados, existia uma figura que olhava atentamente pra Luba e Orochi e tinha achado aquela interação um tanto quanto, suspeita.
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