Ninguém se vícia em uma substancia, as pessoas se viciam nos efeitos que ela proporciona. A necessidade incessante de escapar da realidade nos induz a ingerir elementos que futuramente poderão destruir nossa vida, mas, naquele momento, nos trarão paz. Um vício é uma busca por satisfação emocional, mas a gratificação é temporária e ilusória. Chega um momento que seu vício se torna incapaz de esconder a verdade e é nessa hora que você tem que definir o que fará com a sua vida.
– Meu nome é Lars e eu sou um viciado. – Lars se encontrava em um palco improvisado na frente da sala e estava se preparando para expor seu passado para todos que estavam presentes na terapia em grupo.
– Oi Lars. – A sala disse em coro.
– Por que diabos ele está fazendo isso? – Eu sussurrei para Kirk, que estava sentado em uma cadeira do meu lado.
– São as regras. Todo dia, todos aqueles que foram internados devido a algum vicio são obrigados a comparecer na terapia em grupo e toda terça-feira, algum dos pacientes é forçado a contar sua história. – Ele engoliu em seco ao terminar. – Eles acham que isso ajuda no nosso tratamento.
– E o que acontece se a pessoa se recusar a participar todos os dias e não contar porque acabou parando aqui? – Eu, definitivamente, não estava disposta a subir naquele palco.
– Ela acaba atrás da porta vermelha. – Ele disse sério.
Resolvi ficar calada e ouvir a história de Lars. Aparentemente, ele se descobriu gay aos 16 anos e quando foi se abrir para seus pais eles, por serem extremamente religiosos, acabaram expulsando-o de casa. O garoto foi viver nas ruas, desprotegido de todos os males do mundo. Sua salvação foi ter conhecido um jovem, que se apaixonou por ele e o acolheu. Os dois viveram uma verdadeira história de amor, mas o rapaz era um traficante e, para permanecer ao seu lado, ele acabou adentrando no mundo do crime. Depois de dois anos juntos, seu amante foi assassinado, infelizmente, ele não suportou a perda e se entregou as drogas. Um tempo depois, seus pais acabaram descobrindo o paradeiro do filho e quando viram seu estado o mandaram direto para o Saint Patrick.
Assim que Lars terminou seu relato, todos bateram palmas, havia algumas pessoas chorando, outras consolando-o e o oferecendo ajuda. Enquanto ele retornava para seu assento, as portas da sala se abriram e Dave passou por elas, chamando a atenção de todos do local.
– Lucy, já sei como você pode acabar com o império do Mustaine. – Kirk falou de repente. – Vai lá na frente e mostra para todo mundo que sua história é ainda mais assustadora que a dele.
– Ele já contou alguma vez porque veio parar aqui? – Era um bom plano.
– Não.
– Então, como eu irei saber se meu passado é mais apavorante que o dele?
– Se não for, é porque você não merece o trono. – Ele estava me subestimando?
– Como os pacientes são escolhidos para subir no palco?
– Sorteio.
– Então, como eu faço para escolherem nós dois?
– Eu não sei.
– Como você quer que esse plano de certo se eu terei que contar com a sorte? – Ele estava calmo e eu indignada.
– Dave daria um jeito. – Ele estava brincando com fogo. – Mas foi só uma sugestão, essa seria a maneira mais fácil de mostrar que você é mais ameaçadora do que ele.
– A questão é, mesmo que eu consiga manipular os sorteios. Como poderei ter certeza que a história dele é mais fraca que a minha? – Temia que o homem fosse ainda pior do que eu.
– Você não terá. Se ela for mais assustadora é porque você venceu a batalha e merece o império dele. Se não for, você terá de se contentar com, no máximo, um lugar ao seu lado. – Ele estava certo, se queria reinar, teria que merecer.
– Bom, agora gostaria que vocês despusessem as cadeiras em um círculo, por favor. – A enfermeira que estava guiando a reunião pediu com educação. – Hoje, como parte da terapia foi tomada pela história emocionante de nosso companheiro Lars, não temos tempo o suficiente para fazer um debate. Então, o que vocês acham de uma dinâmica?
– Eu gosto daquela dos nomes. – Um dos pacientes falou.
– Ótima ideia David! Para quem não se lembra, ela consiste em falar seu nome e depois uma palavra com a mesma inicial que ele e que tenha a ver com você. David, já que sugeriu, por que não começa?
– Está bem. – O homem respirou fundo antes de continuar sua fala. – David, dado.
– Por que dado querido? – A enfermeira estava confusa.
– Durante toda a minha vida, eu fui apenas mais uma peça de um jogo. – Ele não parecia triste com isso, aparentava já ter se conformado com essa realidade.
– Minha vez! – A loira que chegara de mãos dadas com Mustaine no refeitório gritou de forma estridente. – Courtney, cobiça. Porque, obviamente, todos desse lugar me querem.
– Slash, selvagem. – Um homem charmoso, de cabelos cacheados e pele morena falou e piscou para mim. Eu estava começando a gostar dessa brincadeira.
– Lars, lobo. – Ele soltou um uivo logo em seguida, fazendo todos rirem.
– Dave, destino. – Ele estava olhando para mim quando disse isso.
– Kirk, karma.
– Lucy, Lúcifer. – Todos se entreolharam espantados e um silencio tomou a sala. Até que certo alguém resolveu quebra-lo.
– Lucy, Luz. – Mustaine falou, atraindo o olhar de todos a sua volta. Então, ele se lembrava de mim. Não havia esquecido de nossa conversa. Eu estava prestes a abrir a boca para responde-lo quando um sinal tocou, indicando o fim da sessão.
– Bom, teremos que continuar nossa dinâmica depois. Estão todos liberados. – A enfermeira disse e eu me levantei imediatamente, fui a primeira a me retirar da sala.
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